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Academic year: 2019

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Texto

(1)

A Transcendˆ

encia do N´

umero

π

Anselmo A. de A. Oliveira

Uziel P. da Silva

Edson Agustini

Faculdade de Matem´atica - Famat

Universidade Federal de Uberlˆandia -Ufu

Uberlˆandia - MG

Abril de

2005

Resumo

Este trabalho apresenta uma prova da transcendˆencia do n´umero π, baseada na demonstra¸c˜ao de R. Moritz (Annals of Mathematics, vol. 2, 1901, pp.57-59), seguindo as altera¸c˜oes propostas por D. G. de Figueiredo em [2]. Al´em de um pe-queno apanhado hist´orico sobre o n´umeroπe a teoria dos n´umeros alg´ebricos e tran-scendentes, introduzimos duas se¸c˜oes: uma sobre a “Desigualdade do Valor M´edio para Fun¸c˜oes de Uma Vari´avel Complexa“ e outra sobre “Polinˆomios Sim´etricos”. Com elas, pretendemos esbo¸car defini¸c˜oes e resultados pertinentes e necess´arios `a compreens˜ao da demonstra¸c˜ao supracitada.

Palavras-chave: umeros transcendentes, n´umeros alg´ebricos, n´umeros

irra-cionais, n´umeros construt´ıveis, n´umero π, desigualdade do valor m´edio, polinˆomios

sim´etricos.

1

Um Pouco da Hist´

oria do N´

umero

π

O n´umero mais famoso da hist´oria, π, representa a raz˜ao constante entre o per´ımetro de um c´ırculo e o seu diˆametro. A hist´oria do n´umero π tem in´ıcio cerca de 4000 anos atr´as, sendo que a existˆencia de uma rela¸c˜ao constante entre “a circunferˆencia e o seu diˆametro” era conhecida por muitas das civiliza¸c˜oes antigas.

Das placas de Sus˜a (placas de argila dos babilˆonios), vemos que estes adotavam uma aproxima¸c˜ao grosseira para o valor de π que ´e deduzido como 3 + 1

8, ou seja, 3,125.Nos papiros eg´ıpcios escritos antes de 1700 a.C., a ´area de um c´ırculo ´e igual `a de um quadrado com 8

9 de diˆametro, e o papiro de Ahmes (cerca de 1600 a.C.) d´a `a rela¸c˜ao existente entre a circunferˆencia e o seu diˆametro o valor 3,16.Isto evidencia que a medi¸c˜ao da circunferˆencia tinha erro menor do que 1%.

anselmoangelo@yahoo.com.br. Orientando do Programa Institucional de Inicia¸c˜ao Cient´ıfica e Mon-itoria da Faculdade de Matem´atica (PROMAT) de set/03 a jul/04.

uzielpaulo@yahoo.com.br. Orientando do Programa Institucional de Inicia¸c˜ao Cient´ıfica e Monitoria da Faculdade de Matem´atica (PROMAT) de set/03 a jul/04

(2)

Ao descrever a constru¸c˜ao do templo de Salom˜ao, aproximadamente em 950 a.C., o velho testamento b´ıblico traz em II Crˆonicas 4:2 uma aproxima¸c˜ao hebraica para o n´umero

π: “Fez o tanque de metal fundido, redondo, medindo quatro metros e meio de diˆametro e dois metros e vinte e cinco cent´ımetros de altura. Era preciso um fio de treze metros e meio para medir a sua circunferˆencia.”, do que conclu´ımos queπ seria igual a 3.

Assim, muitas civiliza¸c˜oes antigas observaram atrav´es de medi¸c˜oes que a raz˜ao do c´ırculo ´e a mesma para c´ırculos de diferentes tamanhos. No entanto, foram os gregos que conseguiram compreender e explicar a l´ogica desta rela¸c˜ao, que adv´em das propriedades de figuras semelhantes. Os gregos antigos compreendiam que n´umeros como π e √2 s˜ao diferentes dos n´umeros inteiros e dos n´umeros racionais utilizados em suas matem´aticas e, mesmo tendo conseguido provar a irracionalidade de √2, o mesmo n˜ao ocorreu para o

π.

Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.) conseguiu melhorar a aproxima¸c˜ao dada ao n´umeroπ,aproximando a circunferˆencia por pol´ıgonos regulares de 12, 24, 48 e 96 lados e descobrindo as seguintes limita¸c˜oes paraπ: 310

71 < π <3 1

7,isto ´e, 3,14085< π <3,142857. Recentemente, descobriu-se que em 480 d.C., Tsu Chung-Chi (430-501 d.C.) chegou `a conclus˜ao de que o valor de π oscilaria entre 3,1415926 e 3,1415927, uma aproxima¸c˜ao impressionante para a ´epoca. Por volta de 499 d.C., um tratado indiano sobre matem´atica e astronomia, intitulado “˜aryabhata”, indica 3,1416 como um valor aproximado deπ,que ´e uma aproxima¸c˜ao com 3 casas decimais corretas.

Mais tarde, aproxima¸c˜oes melhores deπpuderam ser encontradas utilizando pol´ıgonos com mais lados do que aqueles utilizados por Arquimedes. Um c´alculo chinˆes chega a usar um pol´ıgono com mais de 3000 lados e apresenta π com 5 casas decimais. Os chineses tamb´em aproximaram π pelo racional 355

113, que difere de π menos de 0,0000003. Essa mesma aproxima¸c˜ao foi redescoberta no s´eculo XVI pelo engenheiro alem˜ao Ariaan Anthoniszoon. No mesmo s´eculo, outro alem˜ao, Adrien van Rooman, usou o m´etodo de Arquimedes com um pol´ıgono de 230 lados para obter 15 casas decimais para π.

O Renascimento Europeu causou muitos efeitos sobre a matem´atica, entre eles a ne-cessidade de se encontrar f´ormulas, o que n˜ao foi diferente para o π. Descobriu-se, ent˜ao, a defini¸c˜ao n˜ao geom´etrica de π e a representa¸c˜ao deste por s´eries infinitas. Um dos primeiros foi Fran¸cois Vi`ete que, em 1592, descobriu a f´ormula:

π = 1

r 1 2

s 1 2 +

1 2

r 1 2

v u u t1

2+ 1 2

s 1 2+

1 2

r 1 2

v u u u t 1 2 +

1 2

v u u t1

2+ 1 2

s 1 2 +

1 2

r 1 2...

Tamb´em John Wallis (1616-1703) com a f´ormula:

π= 2 µ

2 1 2 3 4 3

4 5 6 5 6 7...

(3)

e William Brouncker, em 1658, com a fra¸c˜ao cont´ınua infinita:

π = 4 1

1 + 1

2

2 + 3

2

2 + 5

2

2 + 7 2

2 +...

Uma f´ormula atribu´ıda a Leibniz (1646-1716) e a James Gregory (1638-1675) ´e:

π = 4 µ

1 1 −

1 3+

1 5−

1 7+

1 9−...

.

O mesmo Gregory propˆos tamb´em a seguinte f´ormula, que converge mais rapidamente:

π

6 = 1

3 µ

1 1 3.3+

1 5.3.3 −

1

7.3.3.3 +... ¶

.

John Machin, em 1706, criou uma varia¸c˜ao da s´erie de Gregory; com um aumento significativo da convergˆencia, ele conseguiu calcular π com 100 casas decimais. Esta f´ormula ´e dada por:

π

4 = 4 arctan 1

5 −arctan 1 239.

Uma propriedade relacionada `a natureza de π foi demonstrada, em 1761, por Johann Heinrich Lambert: π´e um n´umero irracional.

Em 1873, o inglˆes William Shanks usou a f´ormula de Machin para calcular (manual-mente e durante quinze anos!) as 707 primeiras casas decimais de π, das quais s´o 527 estavam corretas.

A populariza¸c˜ao da letra grega π para representar a raz˜ao entre o comprimento da circunferˆencia e seu diˆamentro se deve a Leonhard Euler, que passou a empreg´a-la a partir de 1736, muito embora alguns matem´aticos a tenham utilizado antes.

O S´eculo XX foi marcado pela introdu¸c˜ao do uso de computadores e algoritmos com-putacionais que tˆem possibilitado encontrar um n´umero cada vez maior de casas decimais do n´umero π. Em 1949, pela primeira vez, um computador foi usado para calcular π

at´e `as 200 casas decimais. Em 1961, conseguiu-se atrav´es de computa¸c˜ao a aproxima¸c˜ao de π at´e 100.265 casas decimais, mais tarde em 1967 aproximou-se at´e `as 500.000 casas decimais.

Recentemente, David Bailey, Peter Borwein e Simon Plouffe contabilizaram 10 bilh˜oes de casas decimais para o π, usando uma f´ormula que d´a cada casa decimal do π individ-ualmente para cada n escolhido. Atualmente, o recorde ´e de 1.241.000.000.000 (mais de um trilh˜ao!) casas decimais de π, calculadas por Yasumana Kanada, da Universidade de Tokio em 2002. Em 11/9/2000 foi calculada pelo projeto Pihex a 1.000.000.000.000.000a. (quatrilhon´esima!) casa bin´aria de π (que, na base bin´aria, ´e 0).1

(4)

2

Introdu¸

ao

Nosso objetivo com o presente trabalho ´e demonstrar que o n´umeroπ ´e transcendente. Um n´umero complexo que pode ser expresso como raiz de uma equa¸c˜ao polinomial com coeficientes inteiros ´e chamado de n´umero alg´ebrico. Os complexos n˜ao alg´ebricos s˜ao chamados de n´umeros transcendentes.

Conforme comentado em [5], a quest˜ao de saber se um dado n´umero ´e transcendente ou alg´ebrico ´e, em geral, dif´ıcil, tendo aparecido como o s´etimo problema na famosa lista dos vinte e trˆes problemas de David Hibert, citados em palestra no Segundo Congresso Internacional de Matem´atica, em 1900, realizado em Paris na Fran¸ca.

Podemos firmar a semente da teoria dos n´umeros transcendentes na Gr´ecia antiga com os trˆes famosos problemas gregos de constru¸c˜ao com r´egua e compasso: a quadratura de um c´ırculo, a trisec¸c˜ao de um ˆangulo e a duplica¸c˜ao de um cubo. O estudo desses problemas recai na constru¸c˜ao (com r´egua sem escala e compasso) de um segmento com certa medida que n˜ao ´e “construt´ıvel” a partir de um segmento dado como unidade. Temos a´ı a teoria dos N´umeros Construt´ıveis que, hoje sabemos, s˜ao todos n´umeros alg´ebricos (no entanto, nem todo n´umero alg´ebrico ´e construt´ıvel [6]).

Em 1844, Joseph Liouville exibiu uma classe de n´umeros que demonstrou serem tran-scendentes e, trinta anos ap´os, uma prova da existˆencia de n´umeros transcendentes sem exibir um n´umero transcendente sequer foi feita Georg Cantor. A primeira demonstra¸c˜ao de que π ´e transcendente foi dada por Ferdinand Lindemann, em 1882, comprovando a impossibilidade da quadratura do c´ırculo, que depende da constru¸c˜ao de um segmento de comprimento π a partir da unidade.

Em 1934, Aleksander Gelfond demonstrou que n´umeros complexos da formaab,sendo

aum n´umero alg´ebrico diferente de 0 e 1 ebum alg´ebrico n˜ao racional, s˜ao todos transcen-dentes, constituindo um avan¸co significativo na teoria desses n´umeros. Assim, o n´umero 2√2, citado na lista dos problemas de Hilbert, ´e transcendente.

Neste trabalho, esbo¸camos uma prova da transcendˆencia do n´umero π, baseada na demonstra¸c˜ao de R. Moritz (Annals of Mathematics, vol. 2, 1901, pp.57-59), seguindo as altera¸c˜oes propostas por D. G. de Figueiredo em [2]. Para tanto, iniciamos o trabalho com duas se¸c˜oes de pr´e-requisitos que julgamos necess´arias ao bom entendimento do trabalho.

3

Desigualdade do Valor M´

edio para Fun¸

oes de Uma

Vari´

avel Complexa

Para demonstrarmos a transcendˆencia de π, precisaremos de um resultado relacionado `as fun¸c˜oes de uma vari´avel complexa chamado deDesigualdade do Valor M´edio. Para tanto, consideremos as seguintes defini¸c˜oes:

Uma fun¸c˜ao de uma vari´avel complexa f : C−→C tem derivada no ponto z C, se existir o limite:

f′(z) = lim z0→0

f(z+z0)−f(z)

z0

,

sendo z0 ∈C. Chamaremosf′(z) de derivada def em z.

(5)

Sejaf(z) =u(x, y) +iv(x, y) com z =x+iy,ou seja, u(x, y) ´e a parte real ev(x, y) a imagin´aria de f(z).

Supondo quef(z) seja anal´ıtica emC,vamos calcularf(z) considerando valores reais para z0, isto ´e, z0 =h.Assim, z+z0 = (x+h) +iy e, conseq¨uentemente,

f(z+z0) = u(x+h, y) +iv(x+h, y).

Da´ı:

f′(z) = lim z0→0

f(z+z0)−f(z)

z0

= lim h→0

u(x+h, y) +iv(x+h, y)u(x, y)iv(x, y)

h

= lim h0

u(x+h, y)u(x, y)

h +ihlim0

v(x+h, y)v(x, y)

h

= ∂u

∂x(x, y) +i ∂v

∂x(x, y). (1)

Calculando f′(z) usando valores imagin´arios puros para z

0, isto ´e,z0 =ik, temos:

f′(z) = lim ik0

u(x, y+k)u(x, y)

ik +iiklim0

v(x, y+k)v(x, y)

ik .

Mas ik0 =k0 e (i)−1 =i,ent˜ao:

f′(z) = ilim k→0

u(x, y+k)u(x, y)

k + limk→0

v(x, y+k)v(x, y)

k

=i∂u

∂y(x, y) + ∂v

∂y (x, y). (2)

Identificando (1) e (2) encontramos as Equa¸c˜oes de Cauchy-Riemann:

∂u

∂x(x, y) = ∂v ∂y(x, y) ∂u

∂y (x, y) =− ∂v ∂x(x, y)

para qualquer z =x+iy em C.

O teorema abaixo estabelece uma esp´ecie de “desigualdade do valor m´edio” para fun¸c˜oes de uma vari´avel complexa, uma vez que o Teorema do Valor M´edio n˜ao ´e ver-dadeiro neste caso. Um fato curioso envolvendo uma demonstra¸c˜ao da transcendˆencia de

π devida a Moritz (Annals of Mathematics, vol. 2 (1901), pp. 57-59) ´e o fato deste ter usado oTeorema do Valor M´edio para caso complexo.

Teorema 3.1 (Desigualdade do Valor M´edio) Seja f : C−→C uma fun¸c˜ao anal´ıtica e

sejam z1, z2 ∈C. Ent˜ao,

|f(z2)−f(z1)| ≤2|z2−z1|sup{|f′(z1+λ(z2−z1))|: 0≤λ≤1},

(6)

Demonstra¸c˜ao

Sejam u(x, y) e v(x, y) as partes real e imagin´aria de f(z) e z0 = x0 +iy0. Assim,

f(z0) =u(x0, y0) +iv(x0, y0) e, particularmente,f(0) = u(0,0) +iv(0,0). Da´ı,

f(z0)−f(0) =u(x0, y0)−u(0,0) +i(v(x0, y0)−v(0,0)) (3) Definamos as fun¸c˜oes ϕ:RR eψ :RR de modo que:

ϕ(λ) =u(λx0, λy0)

ψ(λ) =v(λx0, λy0).

Pelo Teorema do Valor M´edio, temos:

½

ϕ(1)ϕ(0) =ϕ′(λ

1) para algum 0< λ1 <1

ψ(1)ψ(0) =ψ′(λ

2) para algum 0< λ2 <1 (4)

Com o aux´ılio de (4) e calculando as derivadas das fun¸c˜oes compostasϕ eψ,podemos escrever:

u(x0, y0)−u(0,0) =ϕ(1)−ϕ(0) =ϕ′(λ1) =

∂u

∂x(λ1x0, λ1y0)x0+ ∂u

∂y(λ1x0, λ1y0)y0

v(x0, y0)−v(0,0) =ψ(1)−ψ(0) =ψ′(λ2) =

∂v

∂x(λ2x0, λ2y0)x0 + ∂v

∂y(λ2x0, λ2y0)y0

que substitu´ıdas em (3) fornecem

f(z0)−f(0) =

∂u

∂x(λ1x0, λ1y0)x0+ ∂u

∂y(λ1x0, λ1y0)y0

+i

·

∂v

∂x(λ2x0, λ2y0)x0 + ∂v

∂y(λ2x0, λ2y0)y0

¸

.

Usando a desigualdade|z| ≤ |x|+|y|,sendo |x|e|y|os valores absolutos da parte real e imagin´aria de z =x+iy, temos:

|f(z0)−f(0)| ≤ ¯ ¯ ¯ ¯

∂u

∂x(λ1x0, λ1y0)x0+ ∂u

∂y (λ1x0, λ1y0)y0

¯ ¯ ¯ ¯

+ ¯ ¯ ¯ ¯

∂v

∂x(λ2x0, λ2y0)x0+ ∂v

∂y (λ2x0, λ2y0)y0

¯ ¯ ¯ ¯

.

Usando a Desigualdade de Cauchy-Schwarz:

|h(a1, a2),(b1, b2)i| ≤ |(a1, a2)|.|(b1, b2)| ⇒ |a1b1+a2b2| ≤ q

a21+a22

q

b21+b22,

obtemos:

|f(z0)−f(0)| ≤ s

µ

∂u

∂x(λ1x0, λ1y0)

¶2 +

µ

∂u

∂y (λ1x0, λ1y0)

¶2q

x2 0+y02

+ s

µ

∂v

∂x(λ2x0, λ2y0)

¶2 +

µ

∂v

∂y (λ2x0, λ2y0)

¶2q

x2

(7)

Observemos que de (1) temos f′(z) = ∂u

∂x(x, y) +i ∂v

∂x(x, y) e, utilizando as Equa¸c˜oes

de Cauchy-Riemann, temos:

f′(z) = ∂u

∂x(x, y)−i ∂u ∂y (x, y)

f′(z) = ∂v

∂x(x, y) +i ∂v ∂y(x, y)

Aplicando a primeira equa¸c˜ao ao ponto z = λ1z0, a segunda ao ponto z = λ2z0 e, posteriormente, calculando o m´odulo dessas fun¸c˜oes complexas, temos:

|f′(λ1z0)|= s

µ

∂u

∂x(λ1x0, λ1y0)

¶2 +

µ

∂u

∂y (λ1x0, λ1y0)

¶2

|f′(λ

2z0)|= s

µ

∂v

∂x(λ2x0, λ2y0)

¶2 +

µ

∂v

∂y(λ2x0, λ2y0)

¶2

Como |z0|= p

x2

0+y02, retornando a (5):

|f(z0)−f(0)| ≤ |f′(λ1z0)| |z0|+|f′(λ2z0)| |z0|. Mas,

|f′(λ

1z0)| ≤sup{|f′(λz0)|: 0≤λ≤1}

|f′(λ

2z0)| ≤sup{|f′(λz0)|: 0≤λ≤1} (pois 0< λ1, λ2 <0).

Da´ı,

|f(z0)−f(0)| ≤2|z0|sup{|f′(λz0)|: 0≤λ≤1}.

Aplicando o resultado acima `a fun¸c˜ao g(z) = f(z+z1) e ao ponto z0 = z2 −z1, conclu´ımos que

|f(z2)−f(z1)| ≤2|z2−z1|sup{|f′(z1+λ(z2−z1))|: 0≤λ≤1},

o que conclui a demonstra¸c˜ao. ¤

4

Polinˆ

omios Sim´

etricos

Na prova da transcendˆencia de π tamb´em necessitaremos de dois resultados envolvendo polinˆomios sim´etricos.

Um polinˆomio P(t1, t2, ..., tn) ; t1, ..., tn ∈ C ´e chamado sim´etrico se para todas as permuta¸c˜oes σ :{1, ..., n} → {1, ..., n} (que s˜ao as n! bije¸c˜oes de{1, ..., n} em {1, ..., n}), temos:

P (t1, t2, ..., tn) =P ¡

tσ(1), tσ(2), ..., tσ(n) ¢

.

Seja P(x) = (xt1) (x−t2)...(x−tn), sendo t1, t2, ..., tn ∈ C as ra´ızes de P (x). Podemos escrever P (x) da seguinte forma:

(8)

da qual segue, pelas Rela¸c˜oes de Girard, que:

s1 = n P

j=1

tj

s2 =P i<j

titj

s3 = P i<j<k

titjtk

...

sn=t1t2...tn

Os polinˆomioss1, s2, ..., sns˜ao chamadospolinˆomios sim´etricos elementaresemt1, t2, ..., tn.

O grau de um monˆomio atk1

1 ...tknn em t1, ..., tn ´e definido como sendo o valor n P

i=1

ki.

O grau de um polinˆomio em t1, ..., tn ´e definido como sendo o m´aximo dos graus dos monˆomios que o comp˜oe.

O peso de um monˆonio atk1

1 ...tknn ´e definido como sendo o valor n P

i=1

iki. O peso de um

polinˆomio em t1, ..., tn ´e definido como sendo o m´aximo dos pesos dos monˆomios que o comp˜oe.

Baseados nas defini¸c˜oes acima, temos as seguintes proposi¸c˜oes:

Proposi¸c˜ao 4.1 Seja P (t1, ..., tn) um polinˆomio sim´etrico de grau d, com coeficientes

inteiros. Ent˜ao, existe um polinˆomio G(s1, ..., sn) de peso menor ou igual a d com

co-eficientes inteiros, sendo s1, ..., sn os polinˆomios sim´etricos elementares em t1, ..., tn, tal

que:

P (t1, ..., tn) =G(s1, ..., sn).

Demonstra¸c˜ao

(Por indu¸c˜ao em n): Para n = 1, o teorema ´e ´obvio, pois nesse caso s1 = t1. Supon-hamos, agora, que o teorema seja v´alido para polinˆomios em t1, ..., tn1. Representemos por s1, ..., sn−1 os polinˆomios sim´etricos elementares em t1, ..., tn−1:

s1 = n1

P

j=1

tj

s2 =P i<j

titj; 1≤i < j ≤n−1

s3 = P i<j<k

titjtk; 1≤i < j < k ≤n−1 ...

sn1 =t1...tn1

(9)

f(t1, ..., tn) um polinˆomio de grau d. Pela hip´otese de indu¸c˜ao, existe um polinˆomio de peso menor ou igual a d, g1(s1, ..., sn−1), tal que

f(t1, ..., tn−1,0) =g1(s1, ..., sn−1) (6)

Assim, g1(s1, ..., sn1) ´e um polinˆomio emt1, ..., tn, cujo grau ´e menor ou igual a d.E´ f´acil de ver que g1(s1, ..., sn−1) ´e um polinˆomio sim´etrico emt1, ..., tn. Logo,

f1(t1, ..., tn) =f(t1, ..., tn)−g1(s1, ..., sn−1) (7)

´e um polinˆomio sim´etrico emt1, ..., tn. Provaremos agora quef1(t1, ..., tn) ´e da forma (8), com f2 de grau menor qued, para ent˜ao usarmos a hip´otese de indu¸c˜ao.

Se fizermos tn = 0 em (7), obtemos, em virtude de (6), que

f(t1, ..., tn1,0) = 0.

Conseq¨uentemente,tn ´e um fator comum emf1(t1, ..., tn). Do fato que f1(t1, ..., tn) ´e sim´etrico emt1, ..., tn,segue-se quetj,para todoj = 1, ..., n,´e fator comum def1(t1, ..., tn). Logo,

f1(t1, ..., tn) = snf2(t1, ..., tn) (8)

e da´ı segue que o grau de f2 ´e menor ou igual a d −n < d. Aplicando a hip´otese de indu¸c˜ao, temos que existe um polinˆomiog2(s1, ..., sn) de peso menor ou igua a d−n, tal que

f2(t1, ..., tn) =g2(s1, ..., sn). (9)

Finalmente, de (7), (8) e (9) obtemos

f(t1, ..., tn) =sng2(s1, ..., sn) +g1(s1, ..., sn−1),

o que mostra que f(t1, ..., tn) ´e igual a um polinˆomio sim´etrico em s1, ..., sn:

g(s1, ..., sn) =sng2(s1, ..., sn) +g1(s1, ..., sn−1).

O peso de g(s1, ..., sn) ´e menor ou igual a d o que conclui a demonstra¸c˜ao. ¤

Proposi¸c˜ao 4.2 Sejam α1, ..., αj n´umeros alg´ebricos, tais que os polinˆomios sim´etricos

elementares

s1 = n P

j=1

αj

s2 = P i<j

αiαj; 1≤i < j ≤n

...

sn =α1...αn

sejam n´umeros racionais. Considere agora os

µ

n

2 ¶

n´umeros alg´ebricos

βij =αi+αj, 1≤i < j ≤n.

Ent˜ao os polinˆomios sim´etricos elementares associados aos βij ′s s˜ao tamb´em n´umeros

(10)

Demonstra¸c˜ao

Seja σ uma permuta¸c˜ao dos inteiros 1, ..., n. Dado um polinˆomio f(t1, ...tn), a ele associamos um outro polinˆomio, que representamos por fσ(t

1, ...tn),assim definido:

fσ(t1, ...tn) = f ¡

tσ(1), ..., tσ(n) ¢

(10)

Em virtude da Proposi¸c˜ao 4.1, basta provar que os polinˆomios sim´etricos elementares nos βij ′s s˜ao polinˆomios sim´etricos nos αj ′s. Seja pois σ uma permuta¸c˜ao dos inteiros 1, ..., n. A express˜ao (10) define uma fun¸c˜ao do conjunto dos polinˆomios nele pr´oprio, fun¸c˜ao esta associada a σ. Vamos representar essa fun¸c˜ao tamb´em pela letra σ. Assim, por 10 temos:

σ(αj) =ασ(j) ; j = 1, .., n.

Se tivermos um polinˆomio qualquer em α1, ..., αn com coeficientes racionais, segue-se de que a a¸c˜ao de σ sobre ele ´e

σ¡Pak1...knα

k1

1 ...αknn ¢

=P

ak1...kn[σ(α1)]

k1

...[σ(αn)]kn

,

sendo os somat´orios tomados sobre todos os inteirosk1, ..., kn ≥0,e tais quek1+...+kn≤

m, sendo m o grau do polinˆomio. A seguir, observemos que σ induz uma permuta¸c˜aoσ′ dos βij ′s assim definida:

σ′(βij) = σ(αi+αj) def

= σ(αi) +σ(αj).

Logo:

σ′(β

ij) =σ(βij).

Para verificar que o primeiro polinˆomio sim´etrico elementar S1 dos βij ′s ´e sim´etrico nos α′s, devemos provar queσ(S

1) =S1. Vejamos:

σ(S1) =Pσ(βij) = Pσ′(βij) =σ′(S1) =S1,

onde utilizamos, na ´ultima igualdade que S1 ´e sim´etrico nos βij ′s. Para os demais polinˆomios sim´etricos elementares, S2, ..., Sn, procedemos de modo an´alogo ao que se fez

em acima. E isso completa a demonstra¸c˜ao. ¤

A Proposi¸c˜ao 4.2 pode ser facilmente generalizada para µ

n j

, j = 3, ..., n n´umeros

alg´ebricos:

βk1,...,kj =αk1 +...+αkj; 1≤k1 < ... < kj ≤n.

Como conseq¨uˆencia, podemos enunciar o seguinte corol´ario:

Corol´ario 4.1 Se os α′s da generaliza¸c˜ao da Proposi¸c˜ao 4.2, para j = 3, ..., n, s˜ao as

ra´ızes de um polinˆomio de grau n com coeficientes racionais, ent˜ao os β′s s˜ao ra´ızes de

um polinˆomio de grau

µ

n j

(11)

5

Prova da Transcendˆ

encia de

π

Os dois lemas abaixo s˜ao extra´ıdos da prova da transcendˆencia do n´umero e em [5] e usaremo-os na prova da transcendˆencia de π.

Lema 5.1 Seja a fun¸c˜aoF (x) =P(x)+P′(x)+...+P(r)(x) ;em queP(x)´e um polinˆomio

de grau r e P(r)(x) representa a derivada de ordem r de P (x). Ent˜ao,

d dx

¡

e−xF(x)¢

=e−xP(x).

Demonstra¸c˜ao:

Temos e−xF (x) = e−xP (x) +e−xP(x) +...+e−xP(r)(x). Ent˜ao,

d dx

¡

e−xF(x)¢

=e−xP (x) +e−xP′(x)e−xP′(x) +e−xP′′(x)e−xP′′(x) +...

+e−xP(r)(x)

−e−xP(r)(x) +e−xP(r+1)(x),

ou seja,

d dx

¡

e−xF(x)¢

=e−xP(x),

como quer´ıamos. ¤

Lema 5.2 Seja Q(x) = r P

j=0

ajxj um polinˆomio com coeficientes inteiros e seja p < r um

inteiro positivo. Ent˜ao: (i) Q(i)(x) = Pr

j=i

j! (ji)!ajx

j−i, ir.

(ii) 1

(p1)!Q

(i)(x), pi,´e um polinˆomio com coeficientes inteiros divis´ıveis por p.

Demonstra¸c˜ao:

Temos que Q(x) = r P

j=0

ajxj =a0+a1x+...+arxr.

Ent˜ao,

Q(1)(x) = a1+ 2a2x+...+rarxr−1

Q(2)(x) = 2a2 + 6a3x+...+r(r−1)arxr−2

Q(3)(x) = 6a3 + 24a4x+...+r(r−1)(r−2)arxr−3 = 3!

0!a3+ 4!

1!a4x+...+

r! (r3)!arx

r−3

...

Logo, Q(i)(x) = i! 0!ai+

(i+ 1)!

1! ai+1x+

(i+ 2)! 2! ai+2x

2+...+ r! (ri)!arx

r−i, ou seja,

Q(i)(x) = r P

j=i

j! (j i)!ajx

ji, i

(12)

e isso prova a primeira parte.

Quanto `a segunda parte, observemos que os coeficientes de 1 (p1)!Q

(i)(x) ser˜ao da

forma j! (j1)!

1

(p1)!aj,onde aj ´e inteiro. Temos pi, p fixo e j =i, ..., r.

No 1o coeficiente, temosj =i e, conseq¨uentemente,

j! 0!

1 (p1)! =

j(j1)...p(p1)!

(p1)! =j(j−1)...p. No 2o coeficiente, temosj =i+ 1,portanto,

j! 1!

1 (p1)! =

j(j1)...p(p1)!

(p1)! =j(j−1)...p. No 3o coeficiente, temosj =i+ 2,portanto,

j! 2!

1 (p1)! =

j(j1)...p(p1)! 2.1.(p1)! =

j(j1)...p

2 .

Observemos que o numerador tem j(p1) = j p+ 1 fatores. Como i+ 2 p+ 2,

temosj p+ 2,ou seja, jp2, o que implicajp+ 13.Assim, podemos concluir que o numerador ter´a pelo menos 3 fatores.

No 4o coeficiente, temosj =i+ 3,portanto,

j! 3!

1 (p1)! =

j(j1)...p(p1)! 3.2.1.(p1)! =

j(j1)...p

3!

e, nesse caso, o numerador ter´a pelo menos 4 fatores. Generalizando, teremos para j =i+k, k N,

j!

k! 1 (p1)! =

j(j1)...p(p1)!

k!(p1)! =

j(j1)...p k! ,

sendo que o numerador tem pelo menos k+ 1 fatores, ou seja,

j p+ 1 k+ 1

jk+ 1 p+ 1.

Dessa forma,

j!

k! 1 (p1)! =

j(j1)...(jk+ 1) (jk)...p k!

= j(j−1)...(j−k+ 1)

k!

(jk)!

(jk)!(j−k)...p

= j!

k!(jk)!(j −k)...p =

µ

j k

(13)

sendo µ

j k

um n´umero binomial, o que implica µ

j k

∈Z,ou seja, µ

j k

(j k)...pZ e,

portanto, j!

k! 1

(p1)! ∈Ze ´e divis´ıvel porp.Dessa forma, os coeficientes de 1 (p1)!Q

(i)(x)

s˜ao n´umeros inteiros divis´ıveis por p. ¤

Teorema 5.1 O n´umero π ´e transcendente.

Demonstra¸c˜ao

Suponhamos que π ´e um n´umero alg´ebrico. Ent˜ao, iπ tamb´em ´e alg´ebrico (produto de alg´ebricos). Logo, iπ ´e raiz de uma equa¸c˜ao polinomial

P1(x) = 0 (11)

com coeficientes inteiros.

Sejam α1 =iπ, α2, ..., αn as n ra´ızes de (11). Como eiπ =−1, segue-se que n

Q

j=1

(1 +eαj) = 0. (12)

Desenvolvendo o produt´orio (12), obtemos uma express˜ao da forma “1+ somat´orio de exponenciais” cujos expoentes s˜ao:

[1] α1, α2, ..., αn;

[2] αi+αj, para todo i < j;

[3] αi+αj+αk, para todoi < j < k; ...

[n]α1+...+αn.

Em [1] temos µ

n

1 ¶

=ntermos, em [2] temos µ

n

2 ¶

termos, em [3] temos µ

n

3 ¶

termos,...,

em [n] temos µ

n n

= 1 termos.

O fato de α1, ..., αn satisfazerem uma equa¸c˜ao polinomial com coeficientes inteiros (P1(x) = 0) implica que:

(a) Pelo Corol´ario 4.1, os n´umeros de [2] satisfazem uma equa¸c˜ao polinomial de grau µ

n

2 ¶

, com coeficientes inteiros:

P2(x) = 0.

(b) Pelo Corol´ario 4.1, os n´umeros de [3] satisfazem uma equa¸c˜ao polinomial de grau µ

n

3 ¶

, com coeficientes inteiros:

P3(x) = 0.

E assim sucessivamente.

Desse modo, os n´umeros [1], ...,[n] satisfazem a equa¸c˜ao polinomial:

(14)

com coeficientes inteiros cujo grau ´en+ µ n 2 ¶ +...+ µ n n ¶ = 2n

−1.

(Obs.: Esta ´ultima igualdade segue do fato de que:

(a+b)n = µ

n

0 ¶

an+ µ

n

1 ¶

an−1b+ µ

n

2 ¶

an−2b2+...+ µ

n n1

abn−1+ µ

n n

bn.

Para a=b= 1, temos:

(2)n= µ n 0 ¶ + µ n 1 ¶ + µ n 2 ¶ +...+ µ n n1

¶ + µ n n ¶ ,

como quer´ıamos.)

Considerando a possibilidade de alguns dos n´umeros em [1], ...,[n] serem nulos, vamos supor que m deles s˜ao diferentes de zero, representando-os por β1, ..., βm (isto significa que m2n1).

Simplificando (13) de modo que encontremos uma equa¸c˜ao de grau mcujas ra´ızes s˜ao

β1, ..., βm, temos:

R(x) =cxm+cm−1xm−1 +...+c1x+c0 = 0, (14)

sendo ci ∈Z.

Agora, efetuamos o produto de (12) e obtemos

k+eβ1

+...+eβm = 0, (15)

sendo k N.

Consideremos o polinˆomio

P (x) = c s

(p1)!x

p1(R(x))p

, (16)

sendos=mp1 epum n´umero primo grande a ser escolhido posteriormente. Observemos que o grau de P ´er= (p1) +pm=s+p.

Seja:

F (x) =P (x) +P′(x) +...+P(r)(x).

Desta forma, devido ao Lema 5.1:

d dx

¡

e−xF(x)¢

=e−xP(x). (17)

Ao aplicarmos o Teorema 3.1 `a fun¸c˜aof(z) = e−zF (z) e tomandoz

2 =βj, j = 1, ..., m e z1 = 0, obtemos:

|f(βj)f(0)| ≤2|βj|sup{|f′(λ(βj))|: 0≤λ≤1}.

Usando (17):

¯

¯e−βjF (βj)−F (0) ¯

¯≤2|βj|sup ©¯

¯e−λβjP (λβj) ¯

¯: 0≤λ≤1 ª

. (18)

Definemos

εj = 2|βj|sup ©¯

¯e(1−λ)βjP(λβj) ¯

¯: 0≤λ ≤1 ª

(15)

Ent˜ao, de (18) temos:

¯

¯F (βj)−eβjF (0) ¯ ¯≤εj.

Observemos que desta inequa¸c˜ao, para cada j = 1, ..., m,temos:

    

   

¯

¯F (β1)−eβ1F (0) ¯ ¯≤ε1 ¯

¯F (β2)−eβ2F (0) ¯ ¯≤ε2 ...

¯

¯F (βm)−eβmF (0) ¯ ¯≤εm

(20)

E como de (15) temos k = m P

j=1

eβj,do somat´orio de (20) obtemos

¯ ¯ ¯ ¯ ¯

kF (0) + m P

j=1

F(βj) ¯ ¯ ¯ ¯ ¯

m P

j=1

εj (21)

Agora vamos mostrar que o lado esquerdo de (21) ´e um inteiro n˜ao nulo, e que o lado direito, para algum p primo grande, ´e menor que 1; gerando, assim, uma contradi¸c˜ao.

Observemos que P (x) = c s

(p1)!x

p−1(R(x))p

conforme definido em (16) ´e da forma

P (x) = c s

(p1)! ¡

cp0xp−1+bxp +...¢

= c

s

(p1)!H(x). (22)

Temos:

P(i)(0) = 0, para i < p1.

Neste caso em qualquer derivada de ordem i, o polinˆomioH(i)(x) apresentar´a potˆencias dex em todos os termos do seu somat´orio. Da´ı, H(i)(0) = 0.

Temos ainda:

P(p−1)(0) =cscp0,

pois a derivada de ordem (p1) de H(x) ser´a H(p−1)(x) = cp

0(p−1)! +bp!x+... Como R(βj) = 0, j = 1, ..., m,ent˜ao:

P(i)(βj) = 0, i < p, (23)

pois, R(x) ´e fator comum nestas derivadas.

Observando que o polinˆomio Q(x) = (p1)!P(x) possui grau maior que p e coefi-cientes inteiros, pelo Lema 5.2 os coeficoefi-cientes de 1

(p1)!Q

(i)(x) = P(i)(x), para i p, s˜ao inteiros divis´ıveis por p.

Observemos tamb´em que todos os termos de P(x) s˜ao m´ultiplos de cs. Ent˜ao:

Todos os coeficientes de P(i)(x), ip, s˜ao inteiros divis´ıveis por pcs. (24)

Portanto,

(16)

pois

F(x) = P(x) +P′(x) +...+P(p2)(x) +P(p1)(x) +P(p)(x) +...+P(r)(x)=(22)

F (0) = 0 + 0 +...+ 0 +cscp0+P(p)(0) +...+P(r)(0) =(24)

F (0) =cscp0 +pcsk0,

sendo k0 ∈Z.

Observemos que:

F (βj) =P (βj) +P′(βj) +...+P(r)(βj) (23)

= P(p)(βj) +...+P(r)(βj).

Conseq¨uentemente:

m P

j=1

F(βj) = m P

j=1 P

ip

P(i)(βj) = P

ip m P

j=1

P(i)(βj). (25)

Por um momento vamos considerar a express˜ao:

m P

j=1

P(i)(βj), (26)

para cada i fixado, com pis+p.

Por (24), o polinˆomio P(i)(x) tem coeficientes inteiros divis´ıveis por pcs. Como P (x) tem grau s+p, ent˜ao P(i)(x) tem grau s+pis, poispi.

Portanto, podemos escrever (26) da seguinte forma:

m P

j=1

P(i)(βj) =pcsT (β1, ..., βm), (27)

sendo T (β1, .., βm) um polinˆomio nos βj ′s de grau menor ou igual a s.

Desta forma, para cada i, temos que m P

j=1

P(i)(βj) ´e um polinˆomio sim´etrico nos β j ′s

com coeficientes inteiros, poisT (β1, .., βm) assim o ´e.

Pela Proposi¸c˜ao 4.1, existe um polinˆomioG(σ1, ..., σn) de peso menor ou igual ascom coeficientes inteiros, sendo σ1, ..., σnos polinˆomios sim´etricos elementares emβ1, .., βm,de modo que:

T(β1, ..., βn) =G(σ1, ..., σn). (28)

Pela defini¸c˜ao de polinˆomios sim´etricos elementares, temos que:

       

      

σ1 = m P

j=1

βj

σ2 =P i<j

βiβj

...

σn=β1β2...βm

(17)

Como β1, β2, ..., βm s˜ao ra´ızes de P(x) = cxm+cm1xm−1+...+c0 segue-se que:                 

−cmc−1 = m P

j=1

βj

cm−2

c =

P

i<j

βiβj

...

(1)m c0

c =β1β2...βm

. (30)

Igualando os sistemas (29) e (30) temos:

            

σ1 =−

cm−1

c σ2 =

cm−1

c ... σm = (−1)

mc0

c

. (31)

Portanto, de (27), (28) e (31), temos que a express˜ao (26) ´e um inteiro divis´ıvel porp

e, consequentemente, (25) ser´a dado por

m P

j=1

F (βj) = pk1,

sendo k1 ∈Z.

Tomando o lado esquerdo de (21) temos

¯ ¯ ¯ ¯ ¯

kF(0) + m P

j=1

F (βj) ¯ ¯ ¯ ¯ ¯

=|k(cscp0+pcsk0) +pk1|

=|p(csk0k+k1) +kcscp0|

=|pK+kcscp0|, (32)

sendo K =csk0k+k1.

A partir de agora consideremos o n´umero primo p maior que k, ce c0. Logo, o inteiro (32) n˜ao ´e divis´ıvel porp(poisp6 |kcscp

0 ep|pK ⇒p6 | |pK+kcsc p

0|) e, consequentemente, ´e diferente de zero.

Vamos calcular uma estimativa para o termo no lado direito de (21), isto ´e, m P

j=1

εj.

Seja:

M = max{|β1|, ..,|βm|}. Como:

εj (19)

= 2|βj|sup ©¯

¯e(1−λ)βjP (λβj) ¯

¯: 0≤λ≤1 ª

,

temos:

εj ≤2Msup ©¯

¯e(1−λ)MP (λβj) ¯

¯: 0≤λ ≤1 ª

εj ≤2M eMsup ½¯

¯ ¯ ¯

cs

(p1)!(λM) p−1

(R(λβj))p ¯ ¯ ¯ ¯

: 0λ1 ¾

εj ≤2M eM |

c|s

(p1)!M

p−1sup

(18)

Seja:

N = max{|R(z)|:|z|< M}.

Da´ı:

εj ≤2M eM |

c|s

(p1)!M p1Np

e, comos =mp1, temos:

εj ≤2M N eM |c|

m1 (M N|c| m

)p−1 (p1)! e

lim

p→∞2M N e M

|c|m−1 (M N|c|

m )p−1

(p1)! = 2M N e M

|c|m−1 lim p→∞

(M N|c|m)p−1 (p1)! = 2M N eM|c|m−1.0

= 0,

pois o fatorial majora qualquer exponencial, isto ´e, lim n→∞

An

n! = 0 para qualquerA >0. Logo, para algum p suficientemente grande, podemos fazer εj <

1

m+ 1,da´ı temos m

P

j=1

εj ≤

m

m+ 1 <1. (33)

Lembremos que (21) ´e : ¯ ¯ ¯ ¯ ¯

kF(0) + m P

j=1

F(βj) ¯ ¯ ¯ ¯ ¯

m P

j=1

εj.

Mostramos, portanto, que o lado esquerdo ´e um inteiro n˜ao divis´ıvel porp; Conseq¨ uen-temente, n˜ao nulo e de (33), temos que o lado direito ´e menor que 1. Uma contradi¸c˜ao que surge do fato de supormos que π ´e alg´ebrico. Logo,π n˜ao pode ser alg´ebrico, isto ´e,

π ´e transcendente.

Referˆ

encias

[1] Davis, H. T´opicos de Hist´oria da Matem´atica para Uso em Sala de Aula. Com-puta¸c˜ao. Trad. Bras. v. 2, S˜ao Paulo, SP: Atual, 1992.

[2] Figueiredo, D. G. N´umeros Irracionais e Transcendentes. Rio de Janeiro: So-ciedade Brasileira de Matem´atica (SBM). Col. Fund. da Matem´atica Elementar, 1985.

[3] Gundlach, B. H. T´opicos de Hist´oria da Matem´atica para Uso em Sala de Aula. N´umeros e Numerais. Trad. Bras. v.1, S˜ao Paulo, SP: Atual, 1992.

[4] Niven, I. N´umeros: Racionais e Irracionais. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matem´atica (SBM). Cole¸c˜ao Fundamentos da Matem´atica Elementar, 1984.

[5] Oliveira, A. A., Silva, U. P & Agustini E. “A Transcendˆencia do N´umero e”.

FAMAT em Revista, N´umero 03. Setembro de 2004. (www.famat.ufu.br)

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