• Nenhum resultado encontrado

Limites do crescimento urbano: questão sócio-ambiental e intervenção urbana em São Paulo: estudo de caso

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Limites do crescimento urbano: questão sócio-ambiental e intervenção urbana em São Paulo: estudo de caso"

Copied!
174
0
0

Texto

(1)1199600053 1111111111111111111111111111111111111111. i••• ife".I ••. ~re,,~i.l.e••f•• rl•••• I•• • lIefIfh. 116de-a•• Ie.f.' e •• fe",e~ N••••. .,•••••• ela •••. Po.". deai.. Sii ••• •••••1•• - i•••• I••• - .,.,.,.. -. -. -. -. ---~ Fundação Getu~i~ VêJIrg~s E ola de AdmlHlsnçao d:~pre~ de SAIoP8ulO Biblioteca. _,. " ~ II1\\\l"l\I'llIlll\\\\\' II. '~.----. 119960005 3 ~_______ _. ----~--_.. --. ' J.

(2) II. Banca Examinadora Orientador: Prof. Dr. Ricardo Toledo Neder..

(3) m. Para meu pai (in memorian) e para minha mãe..

(4) IV. não importa quão modesto possa ser o começo Henry Thoreau.

(5) v. ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO. FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. JEOVÁ DIAS MARTINS. LIMITES DO CRESCIMENTO URBANO QUESTÃO SÓCIO-AMBIENTAL E INTERVENÇÃO URBANA EM SÃO PAULO estudo de caso. Dissertação. apresentada ao Programa de pós-graduação em Administração Pública da EAESP- Fundação. Getútlio Vargas, área de concentração Administração e Política Urbana, como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador Monográfico: Prof. Ricardo Toledo Neder. São Paulo - 1995.

(6) VI. ÍNDICE. INTRODUÇÃO. PARTE I. apresentação. 00 1. procedimentos metodológicos. 003. agradecimentos. 005. QUESTÃO SÓCIO-AMBIENTAL E INTERVENÇÃO. URBANA. CAPÍTULO 1 Crescimento Urbano em São Paulo: Gerando Hipóteses de Trabalho. 008. CAPÍTULo 2 Problemas da Intervenção Urbana: Uma Retrospectiva. O16. 2.1. Ideologia e Utopia. O18. 2.2. O Problema da Previsão. 023. CAPÍTULo 3 Intervenção Urbana em São Paulo: Uma Retrospectiva. 030. CAPÍTULo 4 São Paulo Fim de Século: A emergência-da Questão Sócio-ambíental,... 039. 4.1-0 Fim da Natureza: Degradação e Depleção dos Recursos Naturais. 041. 4.2-A Pobreza moderna. 056. 4.3-0 impacto na Administração Pública. 063. 4.4-A Sociedade Civil. 075. 4.5-Questão sócio-ambiental e Ciências Sociais. 077.

(7) VII. PARTE 11 VISÕES DA CIDADE SUSTENTÁVEL. A ZONA LESTE E O PÓLO INDUSTRIAL E ECOLÓGICO. CAPÍTULos Chegando ao Extremo Leste. 082. CAPÍTULo 6 Inventando Organizações. 090. CAPÍTULO 7. o Pólo. Industrial e Ecológico. 095. CAPÍTULOS Considerações Finais. 129. BmLIOGRAFIA. 134. ANEXOS. 143.

(8) VIII. ÍNDICE DE MAPAS l-Pontos Críticos de inundação. 043. 2-Área de Risco de Deslizamento em Favelas. 045. 3-Qualidade do Ar 1 - S02.. 046. 4-Qualidade do Ar 2 - Material Particulado. 047. 5-Abastecimento de Água. 049. ô-Coleta de Esgotos. 050. 7-Áreas Verdes Públicas. 051. 8-Loteamentos Irregulares. 054. 9-Qualidade das Águas. 057. lO-Principais Problemas Ambientais. 066. l l-Propostas de Zonas Especiais de Preservação. 067. 12-Caracteristicas de Ocupação da Apa do Carmo. 104. 13-Principais Problemas Ambientais da Apa do Carmo. 105. 14-Zoneamento Ambiental da Apa Parque e Fazenda do Carmo. 106. I5-Localização do Pólo Industrial. 144.

(9) IX. ÍNDICE DE GRÁFICOS. Destinação Final do Lixo - Cidade de São Paulo. 52. Taxa de Desemprego - Cidade de São Paulo. 59. AR- ltaquera - População. 85. AR - Itaqüeía. Faixa de renda em Salário Mínimo. 85. AR - Itaquera - Local de Trabalho por Sexo. 86.

(10) x. MARTINS, J. D. Limites do crescimento urbano. Questão Sócio-ambiental e Intervenção Urbana em São Paulo. (Dissertação de Mestrado) São Paulo, EAESP- FGV, 1995.. RESUMO: É possível coexistência cooperativa entre crescimento urbano e proteção ambiental? Partindo dessa indagação o estudo busca apreender e explicitar maneiras de pensar e agir,. ações e intenções de atores sociais e. institucionais diversos envolvidos em processos de intervenção urbana em São Paulo. A análise privilegia os contextos emergentes neste final de século na cidade (1983 - 1993): a emergência da questão sócio-ambiental (a pobreza moderna e o fim da natureza) e da transição democrática (ampliação do espaço público e busca da cidadania). Aborda a introdução da idéia de Desenvolvimento Sustentado como base teórica das intervenções no espaço urbano, discute as mutações da questão urbana e o florescimento de políticas públicas sócio-ambientais no espaço urbano em São Paulo. A base empírica do estudo assenta-se na Região Administrativa de Itaquera, enfocando o caso do Pólo Industrial e Ecológico de Itaquera. O argumento central é que a percepção que atores diversos tem das mutações no espaço urbano e nas questões públicas os influenciam na elaboração de instrumentos de intervenção e gestão da cidade, a partir de critérios de desenvolvimento econômico e proteção ambiental.. Palavras Chaves: Cidade de São Paulo, Crescimento Urbano, Administração Municipal, Meio ambiente, Questão Sócio-ambiental, Desenvolvimento Sustentado, Infra-estrutura Urbana, Políticas Públicas Urbanas, Intervenção Urbana..

(11) INTRODUÇÃO. APRESENTAÇÃO. t1í1 s práticas de. inJ objeto. produção do espaço urbano em São Paulo tem sido. de inúmeros estudos ao longo das últimas décadas. Mais. recentemente, as relações entre cidade e meio ambiente se tomaram objeto de investigação de várias disciplinas como a geografia, a economia, a sociologia, a história e ainda alguns esforços interdisciplinares proporcionando ampla cobertura dos aspectos mais relevantes da problemática urbana. Neste estudo, partimos da indagação sobre se é possível coexistência cooperativa entre. crescimento. urbano. e. proteção ambiental enfocando. precisamente a cidade de São Paulo no intrigante contexto deste final de século.. o capítulo. inicial da dissertação recupera os termos do debate sobre o. crescimento urbano em São Paulo ao longo das últimas décadas, delineando os contornos do debate atual e gerando hipóteses de trabalho. O capítulo 02 discute a formação da cidade industrial nos primórdios do século XIX e algumas propostas de intervenção subjacentes a elas, enfatizando problemas relevantes associados à intervenção urbana. O capítulo 03 envereda pelo mesmo tipo de reflexão tendo como objeto a cidade de São Paulo. Apresentando uma retrospectiva das questões públicas e das intervenções urbanas na cidade, discutiremos a evolução da idéia de intervenção urbana e seu desenvolvimento em termos de articulação. poder.

(12) 2. público/poder privado e suas implicações coma. crise sócio-ambiental.. Destacaremos ainda as lutas sociais no sentido da busca da cidadania no contexto da consolidação democrática, indo ao encontro do intrigante cenário deste final de século na cidade. No capítulo seguinte (04), focalizaremos o contexto de emergência da questão sócio-ambiental em São Paulo com ênfase no período 1983-93. A pobreza moderna, o fim da natureza, e o nascimento de políticas l'ºbliES_~__ s~c:~o__ ambientais; o aparecimento de órgãos específicos e de consubstanciando. pessoal técnico. uma efetiva divisão do trabalho interna ao poder estatal. municipal, e ainda a movimentaçãoda sociedade civil e da comunidade científica em tomo da questão são os temas desenvolvidos no capítulo. A segunda parte do estudo (capítulos 5,6 e 7)envolve o estudo de caso e o trabalho de campo. Abordaremos o caso do Pólo Industrial e Ecológico da Zona Leste, dentro do contexto apresentado anteriormente. A. introdução de. instrumentos inovadores de intervenção e gestão da cidade, a mudança nas bases técnicas e na concepção teórica das intervenções urbanas, sobretudo a introdução da idéia de desenvolvimento sustentado, são o foco das discussões. Finalmente, no capítulo 8 recuperamos as hipóteses iniciais de trabalho a fim de realizar um "balanço da pesquisa"..

(13) 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. A ampla e variada bibliografia disponível sobre a cidade de São Paulo foi por si um estímulo ao exercício interdisciplinar que, com o decorrer dos trabalhos se tomou obrigatório para o aclaramento de relações existentes entre determinados atores e processos. Mas tal exercício não deve ser confundido com qualquer tentativa de uma possível síntese das visões parciais, o que foge às nossas pretensões. O esforço se direcionou no sentido de relacionar os fatos da biografia individual e da trajetória dos grupos, com os fenômenos mais amplos situados no domínio dos movimentos históricos. A partir da definição de uma cronologia de atividades,. bem como do. caráter qualitativo dessas atividades, podemos identificar os seguintes momentos na trajetória desta pesquisa:. FASE 1- Procedemos ao levantamento, o mais vasto possível, de documentação referente ao tema a partir de livros, arquivos públicos e de imprensa. Realizamos um intenso trabalho exploratório em órgãos públicos como Secretaria Municipal de Planejamento, Secretarias Estadual e Municipal do Meio Ambiente, Secretaria Municipal da Administração, além de pesquisas em Instituições de Ensino e Pesquisa e em Bancos de Dados. As dificuldades encontradas derivaram do fato de que os dados a serem coletados encontravamse dispersos em inúmeras repartições e arquivos. Dai a necessidade de se ir juntando os fragmentos a fim de montar um todo coerente. .FASE 2- Percorremos a região espacial objeto da pesquisa a fim de extrair informações representativas dos fenômenos estudados, a partir do contato direto com a população, autoridades, militantes e demais atores e processos que dissessem respeito ao tema. A ênfase recaiu sobre a Região Administrativa de Itaquera no extremo leste da cidade incluindo os distritos de Itaquera, Cidade Líder, José Bonifácio e Parque do Carmo. O contato direto com militantes de movimentos sociais e ambientalistas da região, parlamentares, administradores públicos e o chamado homem comum (moradores anônimos da área), dissiparam idéias inconsistentes e trouxeram novos elementos da problemática..

(14) 4. FASE 3- Nos dedicamos ao aprofundamento do caso O Pólo Industrial e Ecológico da Zona Leste. Aqui buscou-se o refinamento do instrumental de pesquisa e coleta de informações lançando-se mão de recursos como a entrevista não dirigida e a observação participante, sempre levando em conta as dificuldades encontradas no próprio trabalho de campo. A análise da atividade periodística dos atores ( comumente chamada de imprensa de bairro) revelou-se relevante fonte de informação para a pesquisa. Nesta fase, que durou aproximadamente de outubro de 1993 a março de 1995, transferi-me para a região espacial da pesquisa criando uma base logística a fim de que fosse possível o trabalho intensivo de observação direta. Contei para isso, com a compreensão e a ajuda de moradores da região que muitas vezes forneceram recursos materiais e humanos necessários ao trabalho de pesquisa. FASE 4- Procedemos à análise sistemática das informações levantadas, suas ligações e interdepeilôêilciãS, medianie os conhecimentos obtidos das várias disciplinas. FASE 5- É, por assim dizer, o ponto de chegada da pesquisa: a redação final desta-moncgrafia--Devodizer que as fases acima não seguiram períodos estanques, mas muitas vezes realizadas de forma simultânea. As escolhas metodológicas aqui efetuadas responderam quase sempre a duas exigências. A primeira compreendeu a necessidade de fazer justiça à riqueza que cada elemento pudesse trazer em termos de avanços na discussão das contradições urbana observadas na cidade. A segunda, referiu-se à intenção do autor de não esgotar o trabalho em si mesmo, mas utilizá-lo como uma abertura para pesquisas ulteriores. Este posicionamento, de natureza estratégica, levou-me a não efetuar, demasiados cortes e simplificações no objeto. As demais preocupações metodológicas presentes no trabalho serão esclarecidas quando se fizerem necessárias..

(15) 5. AGRADECIMENTOS Meus melhores agradecimentos ao Professor Ricardo Neder a quem devo a orientação monográfica da pesquisa. O acompanhamento paciente e tolerante mas também rigoroso e exigente de todas as fases do trabalho tomaram possível esta caminhada por entre as armadilhas do pensamento. Ao Professor Celso Daniel coube a orientação acadêmica que resultou em diálogos profícuos dentro e fora da sala de aula.. A Professora Regina Pacheco e o Professor José Carlos Barbieri estiveram presentes à banca de qualificação da proposta de dissertação apontando inconsistências e sugerindo caminhos para a pesquisa. Os funcionários da EAESP-FGV, especialmente os da biblioteca muito contribuíram para o acesso ao material bibliográfico e aos demais recursos necessários ao andamento dos trabalhos. Os funcionários dos órgãos públicos visitados souberam, em meio às próprias dificuldades, compreender as necessidades do meu trabalho de pesquisa.. Aos amigos de Itaquera, especialmente ao Geraldo e à Isolda, o registro e a gratidão pelo apoio recebido durante algumas fases do trabalho. Ao Gilson NunesVitório da Atria pela abertura de arquivos da entidade. Os colegas de mestrado Adolfo, Kaiser, Antonio Carlos, Dilze e Tarsila compartilharam diferentes momentos da trajetória deste estudo trazendo, cada um a seu modo, estímulos que tomaram mais ameno e prazeiroso o percurso. A CAPES financiou o programa de mestrado junto à Fundação Getúlio Vargas provendo os recursos financeiros indispensáveis à execução do projeto..

(16) 6. Glauber e Joana, sempre presentes na motivação e na ajuda. Falhas e omissões são de minha total responsabilidade..

(17) 7. PRIMEIRA PARTE. QUESTÃO SÓCIO-AMBIENTAL E INTERVENCÃO URBANA.

(18) 8. CAPíTULO 1 CRESCIMENTO URBANO EM SÃO PAULO: GERANDO HIPÓTESES DE TRABALHO. fri'. possível coexistência cooperativa entre crescimento urbano e proteção. 6ambiental?. Partindo dessa indagação o estudo busca explicitar ações e. intenções de atores diversos envolvidos em processos de intervenção urbana em São Paulo, no contexto de emérgência da questão sócio-ambiental e da transição democrática. Entende-se por intervenção urbana a produção de infra-estrutura urbana, serviços públicos urbanos e equipamentos sociais. Assim definida, compreende uma ampla gama de atividades como produção de sistema viário e arruamentos, serviço de iluminação, de saneamento básico (abastecimento de água, tratamento de esgotos domiciliares, hospitalares e industriais), saneamento ambiental (coleta, transformação. e disposição final de resíduos sólidos, controle da. poluição e proteção de mananciais) bem como drenagem urbana e controle de enchente. 1 Os equipamentos sociais incluem creches, maternidades, bibliotecas, centros culturais, parques e jardins. Genericamente, serão chamados de infraestruturas. A noção de infra-estrutura adquire portanto, um sentido amplo e não apenas o sentido muito usual entre nós, que toma a expressão infra-estrutura como sinônimo de obras viárias. Considera-se que a produção e o uso de infraestruturas deriva de formas de articulação entre o poder público e o poder I Souza, Edgar Bastos de. Sugestões para uma nova política de saneamento básico urbano. in Para a Década de 90. Prioridades e Perspectivas de Políticas Públicas. Vol 3, pp. 275-290..

(19) 9. privado; expressam um complexo de relações, que se modificam e se reiteram de acordo com o momento histórico, mediante a dinâmica dos interesses em jogo, consoante à visão ou falta de visão de governantes, planejadores, trabalhadores, empresários, enfim, de atores sociais e institucionais diversos. "As infraestruturas e os serviços urbanos servem simultaneamente a uma grande variedade de processos sociais de produção, de circulação, de consumo, e para todos os grupos sociais."2 A expressão Intervenção Urbana pode ainda ser entendida como a mobilização de recursos públicos (finanças, autoridade). com a finalidade de. implementar o crescimento urbano, compreendendo um conjunto de instrumentos de intervenção e gestão no sentido de encorajar, controlar ou complementar o desenvolvimento da cidade.3. o. estudo discute de que modo as políticas públicas urbanas e os. instrumentosde intervenção e gestão da cidade, são impactados pelas dinâmicas emergentes no espaço urbano, quais sejam: a dinâmica sócio-ambiental e a dinâmica da transição democrática. Chamamos modo de intervenção urbana às maneiras de pensar e agir, às ações e intenções, às ocupações e preocupações de atores diversos envolvidos em processos de intervenção urbana, denotadas em uma base técnica, uma cultura política e. um aparato institucional. que se desdobram em diferentes. instrumentos de intervenção e gestão do espaço urbano.. 2 Coing, Henri. Serviços Urbanos: Velho ou Novo Tema. in Espaço e Debates, n. 23( 86 -95) . Ver ainda, para uma conceituação de infra-estrutura: Infra-estrutura para o desenvolvimento. Relatório sobre o desenvolvimento mundial. Banco Mundial. FGV. 1994. Branscomb, Lewis M. Information Infrastructure for the 1990s: A Public Perspective. in Building Iníormatíon Infrastructure. McGraw-Hill, 1993 New York. 3 Bowman, Ano O. M & Pagano, Micbael A City Intervention. Ao analysis of the Public Capital Mobilization Process. in Urban Affairs Quarterly, Vol27 No. 3, Março 1992. pp.(356-374)..

(20) 10. CRISE SÓCIO-AMBIENTAL. No presente, inúmeras cidades, em particular as megacidades do terceiro mundo, a despeito do considerável. esforço dispendido no enfrentamento de seus. problemas, seguem sem um instrumental adequado, capaz de reverter a dinâmica perversa a que estão submetidas parcelas crescentes da populaçâo.. Para alguns, essa dinâmica perversa pode mesmo pôr em risco o recente avanço do processo democrático verificado nesses países. A peculiar combinação de mudanças profundas com a permanência de estruturas arcaicas, bem como a ". sobreposição de dinâmicas mundiais regionais e locais, engendram um conjunto de novas variáveis, impondo desafio à pesquisa acadêmica.. A condição deteriorando conquistas. urbana. o ambiente da. vida. verificada. na chamada. e as relações. urbana:. relações ....As comodidades. o repensar da questão. formação. cedem lugar. metrópoles trágicas, a vida pode se constitui um risco.. Basta que caminhemos. urbana num constante. 4. sociais cultural. periferia. do mundo. e ameaçam e política,. vem. as principais. diversidade. nas. à violência, espoliação e miséria. Nas. transformar em um castigo e, certamente,. alguns quarteirões em São Paulo. Que tomemos. um ônibus em qualquer direção. O fenômeno mais visível a quem se disponha observar a cidade é, quase sempre, a manifestação da nova pobreza urbana: a pobreza moderna. Gestada no ventre do tradicional modo de crescimento urbano da cidade (a segregação sócio-espacial cuja sofisticação atual atinge a forma das catracas eletrônicas,. dos cartões magnéticos, do controle remoto e das portas. giratórias) a pobreza moderna se manifesta de formaineqttfvoca· com as imagens da "prosperidade" e do "desenvolvimento".. contrastando. Um olhar mais atento. 4 A questão urbana é tratada, entre outras, nas seguintes obras: Castells, M - A questão urbana- Paz e Terra, 1983. LoJ1cine, Jean - O estado capitalista e a questão urbana, Martins Fontes - SP-1981. Saunders, Peter - Social Theory and the Urban Questíon, Holms & Meyer publishers, INC- NY - 1986. Velho,o.G. (Org) O fenômeno Urbano - Zahar - RJ 1%7. Santos, Milton - Ensaio sobre urbanização Latino Americana, Hucitec- SP 1982. Almeida, Fernando L. (org) A questão urbana na América Latina..

(21) 11. revela o colapso do sistema de proteção social e dos serviços públicos. A reestruturação industrial traz em seu bojo a desconcentração a automação e a informatização tendo como consequência a perda de postos de trabalho e a ampliação do desemprego que, a esta altura, atinge os médios e altos níveis da hierarquia industrial. A explosão do sub-emprego, da sub-moradia, dos sem-terra, dos sem-teto, convivem com o avanço do progresso técnico e com o aperfeiçoamento dos meios produtivos. A degradação do ambiente natural, a violência urbana e os mecanismos espoliativos sentidos no cotidiano de cada um, evidenciam um quadro onde a destituição de direitos sociais se soma à secular privação material. Os problemas ambientais não se resumem aos danos causados. à atmosfera e ao sistema hídrico, mas se transmuta num mal estar que advém da ausência da cidadania e da urbanidade e implicado num desreconhecimento do outro enquantq.~ul~~!º._~~._ªª~ir'ações legítimas. O aparecimento do homem descartável, inaproveitável, não reciclável, o homem-resíduo que perambula pelas ruas da cidade, o "horneless"é uma face visível do problema.. o. debate não é novo. Desde o início dos anos 80, as pesquisas e a bibliografia disponíveis, diziam de um espaço urbano fortemente marcado por um modo de intervenção excludente e negador de direitos. Onde o poder político é assegurado mediante a prática do baixo clientelismo que barganha o voto do pobre segregado por alguma infra-estrutura básica como água, luz e asfalto. Onde as carências materiais e a denegação de direitos implicados no modo de crescimento urbano, são exploradas com vistas à conquista e manutenção do mando político. Note-se que, para o pobre, este modelo de crescimento urbano aparecia - e aparece- como uma possibilidade de melhoria de vida e não como um mecanismo de espoliação, enquanto que para alguns urbanistas as intervenções são percebidas como realizações profissionais e "melhoramentos para a cidade". No entanto, para além da aparência e do já dado, os estudos mostraram um modo de intervenção alojado numa trama social na qual a igualdade preconizada nas leis é desfeita e o outro (o pobre carente) desconhecido como sujeito de direitos legítimos. No lugar do cidadão, titular de prerrogativas, elabora-se a figura do pobre-carente, necessitado e desprotegido. Nesse cenário surge um poder público despojado de dimensão ética. Travestido de Estado justiceiro é, em verdade, muito mais um garantidor de privilégios do.

(22) 12. que um garantidor de direitos". Ao longo da década, esses estudos desnudaram um modo de intervenção que não logra transpor os valores arcaicos da cultura política autoritária, sendo incapaz de estabelecer o princípio republicano da separação entre rés pública e rés privata. Onde a degradação sócio-ambiental subjacente ao modo de crescimento, a questão do justo e do injusto, da cidadania e da urbanidade não é colocada, cedendo lugar às questões relativas à circulação de automóveis. Onde os custos sociais e ambientais subjacentes ao modo de intervenção são extemalizados para a sociedade e os ganhos, internalizados por grupõs restritos:.6.··- ---- -. Diante desse quadro, tomava-se imperativo, tanto para a pesquisa urbana quanto para a administração pública, captar e explicitar modos alternativos de intervenção urbana, na medida em que estes representassem práticas inovadoras no campo da concepção técnica, e da cultura política e organizacional. A explicitação dessas experiências representavam contribuição para o aclaramento de questões teóricas, no campo da pesquisa urbana, mas também para a construção de instrumentos de intervenção urbana que pudessem se contrapor à grave dinâmica da crise sócioambiental. Sobretudo, se afigurava importante proceder a avaliação desses instrumentos, verificar em que medida eram eles adequados a uma superação dos limites institucionais, legais e sociais desenvolvimento sustentado em meio urbano.7. ao. O alargamento do espaço público democrático e as lutas sociais tomavam possível abordagens alternativas e diferentes modelos de compreensão e intervenção urbana, Preconizavam a transparência administrativa, a dimensão ética, e, sobretudo, a preservação e recuperação ambiental. Para muitos, a cidade passava a ser percebida como espaço de representação e negociação de 5 Sobre isso ver Telles, Vera da Silva. "A Cidadania Inexistente. Incivilidade e Pobreza. Tese de Doutoramento. FFLCH USP 1993. 6 Esses e outros aspectos da problemática urbana são abordados em Caldeira, Tereza P. A Política dos Outros. O Cotidiano dos Moradores da Periferia e o que Pensam do Poder e dos Poderosos. São Paulo, Brasiliense; Chaui, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da Cultura Popular no Brasil. São Paulo. Brasiliense. 1987. (2a. edição); Rolnik, Raquel. Cada Um no Seu Lugar. São Paulo, Início da Industrialização: Geografia do Poder. Dissertação de Mestrado. FAU-USP. 1981. Osello, Marcos Antonio. Planejamento Urbano em São Paulo (1889-1961): Introdução ao Estudo dos Planos e Realizações. São Paulo, FGV.1983. 7 Neder, Ricardo T. Limites Político-institucionais ao Desenvolvimento Sustentável no Brasil. in Hogan Daniel 1. e Vieira, Paulo Freire (orgs) Dilemas Socioambientais e Desenvolvimento Sustentável. pp.37-70. Editora Unicamp. 1992..

(23) 13. interesses, cuja dinâmica apontava para a consolidação. de. um espaço público,. palco da experiência de uma multiplicidade de atores sociais e institucionais com reivindicações diversas.. Para Vera Telles a situação atual conforma". os termos. de uma experiência inédita na história brasileira, em que a -cidadania -é- buscada como luta e conquista. e a reivindicação. de direitos. interpela. a sociedade. enquanto exigência de uma negociação possível, aberta ao reconhecimento interesses e das razões que dão plausibilidade mais digno, ..... por uma sociedade sociabilidade." 8. às aspirações. mais civilizada. dos. por um trabalho. nas suas. formas. de. Diante dos contextos emergentes, surge então a necessidade de proceder à. análise. das ações e intenções do poder público e do poder privado. no. processo de intervenção urbana em sua dimensão ética e técnica, procurando estabelecer as medidas dos danos e benefícios que os mesmos possam causar à comunidade, ao patrimônio público e ao meio ambiente, isto é, captar e expiicitar os impactos sociais e ambientais da produção do espaço urbano. Intentar uma avaliação crítica das ações e intenções de governantes, administradores. públicos. e comunidade no processo de intervenção urbana e os modos de participação de indivíduos e grupos na formulação dos objetivos comuns a serem perseguidos pela sociedade.. Tais dimensões recentes trazem inúmeras indagações e desdobramentos tanto para a pesquisa urbana como para a administração pública. Para a pesquisa urbana, trata-se de avaliar o grau de ruptura que os contextos. emergentes. impõem aos paradigmas e aos pressupostos metodológicos correntes, no sentido de. captar. ecossistema. as complexas natural.. interdisciplinares. ligações. É Necessário. a fim de tomar. existentes ainda. entre. crescimento. o estabelecimento. possível a transposição. urbano de. e. relações. para a linguagem. acadêmica das mutações do mundo real. Por seu turno, à administração se impõe a tarefa de introduzir meios inovadores de intervenção. pública. e gestão da. cidade, isto é, implementar novas políticas públicas, a fim de fazer frente aos desafios. colocados. pelas mutações das questões públicas. A emergência. da. questão sócio-ambiental e o aprofundamento do processo democrático colocam o intervenção urbana como um dos problemas centrais. 8. Telles, Vera da Silva. Op. Cit..

(24) 14. o. presente trabalho pode ser visto como um desdobramento dessa discussão, travada em inúmeras oportunidades no âmbito da academia anos espaços públicos que iam sendo conquistados ao longo da década em meio ao estimulante contexto de abertura política do país.. HIPÓTESES. As considerações precedentes nos levaram então ao exame das seguintes hipóteses: i) a emergência da questão sócio-ambienta/ no espaço urbano influencia atores diversos na elaboração de instrumentos inovadores de intervenção. e gestão da cidade. Cabe portanto, avaliar as mudanças e. persistências de valores e atitudes nas práticas de produção do espaço urbano ou seja, no modo de intervenção urbana verificado na cidade. Oportuno dizer que o modo de intervenção urbana, isto é, as maneiras como se produz infra-estruturas, pode contribuir para a solução ou para o agravamento dos problemas ambientais; pode impulsionar o desenvolvimento econômico em bases sustentáveis ou aniquilar os recursos financeiros e naturais de uma cidade; pode promover a expansão da. cidadania ou consolidar a. segregação e exclusão social, pode contribuir para a consolidação da cultura política democrática ou para a continuidade do patrimonialismo, do prebendalismo e do clientelismo, característicos da relação público/privado entre nós. Esse nível de problemas requer de nossa parte um esforço no sentido de aclarar como e em que medida instrumentos de ·intsrlsnção e gestão da cidade incorporam os custos.

(25) 15. sociais e ambientais das intervenções no espaço urbano, e em que medida esses custos são negligenciados pelos diversos atores envolvidos nesses processos.. Dessa perspectiva, mais duas hipóteses devem ser consideradas: i) o crescimento urbano e o combate a pobreza são percebidos como formas de proteção ambiental. De fato, a produção de infra-estrutura e o crescimento. das cidades eram, até recentemente,. vistos como causadores. de. impactos ambientais nocivos. Há, no entanto, evidências de que a geração de empregos. industriais e a produção de infra-estrutura. (ou seja, o crescimento. urbano) são percebidos como importantes aliados no combate a pobreza preservação. ambiental. Cresce a consciência. e na. de que não haverá preservação. ambiental alguma se persistirem os níveis de pobreza e destituição verificados na cidade. O ambiente construído, e até mesmo o crescimento de uma megacidade como São Paulo, são vistos como partes da solução da pobreza e da degradação ambiental, não obstante acarretarem outros problemas.. ii) as novas práticas de produção do espaço tem repercussões ao nível do desenho institucional e da cultura política. Confirmadas as hipóteses precedentes, estamos diante de modos de intervenção urbana que modificam sensivelmente. o. arcabouço. o. institucional. e a cultura política da cidade.. aparecimento de uma divisão do trabalho interna. Cabe aqui verificar. à administração municipal bem. como a introdução de novos instrumentos de intervenção e gestão do espaço urbano associados. à problemática sócio-ambiental.. Isto posto, o problema que persiste não é parar ou não parar a cidade, mas introduzir instrumentos de intervenção e gestão da cidade capazes de fornecer e conservar mais e mais a infra-estrutura urbana e a qualidade ambiental ..

(26) 17. intervenções saneadoras e higienistas. A base técnica deste tipo de intervenção é desenvolvida pela medicina sanitária e empreendida por médicos sanitaristas, engenheiros e filantropos. As técnicas médicas, até então aplicadas ao corpo individual, passam a ser aplicadas ao corpo social.. Em seguida, nasce a. concepção da cidade industrial como lugar de formação das classes sociais, ( burguesia e proletariado) e palco da luta de classes, do desenvolvimento da história. Para Marx e Engels, a cidade é apenas o aspecto particular de um problema mais geral - a luta de classes - e sua forma futura está ligada ao advento da sociedade sem classes, ou seja, do comunismo... A idéia de intervenção urbana nos remete à primeira metade do século XIX quando as profundas transformações decorrentes da formação da cidade industrial já se fazem sentir em toda a sua intensidade. A explosão demográfica, as doenças infecto-contagiosas associadas à pobreza e à promiscuidade assumem dimensões quantitativas assustadoras e passam a ser percebidas como problemas até então desconhecidos, uma situação nova, que tem de ser enfrentada com meios igualmente inovadores. A intervenção. urbana surge como um meio reparador, um curativo aplicado a. posteriori , atrasada em relação aos acontecimentos que deveria prever e controlar. De qualquer modo, os desequilíbrios da cidade industrial passam a ser percebidos, tanto pela teoria política quanto pela opinião pública, como obstáculos que podiam e deviam ser removidos e não como uma fatalidade inevitável.9 As primeiras. tentativas no sentido de corrigir os males da sociedade. industrial polarizavam-se em dois casos extremos: ou se preconizava a necessidade de um novo começo, a partir de modelos teóricos de cidade, às quais se buscava construir na prática; ou se propunha resolver os problemas 9. Benevolo, Leonardo. Origens da Urbanística Moderna, Editorial presença, Lisboa - 1987..

(27) 18. singulares e localizados (intervenções cirúrgicas).10 Em ambos os casos, a cidade industrial é percebida como um espaço que, se transformado, se tornará o meio ideal para se formar homens saudáveis, moralmente corretos e trabalhadores: os bons cidadãos. No primeiro caso encontram-se os chamados utópicos, dentre os quais Owsn, Saint-Simon, Fourier e. Cabet. Ao imaginar cidades ideais e buscar. construí-Ias na prática, os utópicos preconizaram futuros alternativos e vincularam as práticas urbanísticas ao protesto ideológico, realizando uma forte ligação entre intervenção urbana e instância política. Ao segundo caso pertencem os especialistas, os funcionários, os filantropos que introduzem na cidade novos regulamentos de higiene, novas instalações, novos meios técnicos e jurídicos, dando início ao que conhecemos como Legislação Urbanística. Ao se desvincular do processo político, esta corrente não logra contudo alcançar uma neutralidade ideológica, mas vinculam-se, por sua vez, a matizes ideológicas conservadoras emergentes como o bonapartismo em França e o imperialismo bismarckiano na Alemanha, daí o caráter subalterno das principais experiências urbanísticas posteriores a 1948.11. 2.1 - IDEOLOGIA E UTOPIA. Não é nosso propósito discutir ou desenvolver os conceitos de ideologia e utopia. Bastará dizer que, no sentido aqui empregado, Ideologia significa maneiras de pensar e agir, ações e intenções com vistas à manutenção da ordem IOBenevol0, Leonardo. Origens da Urbanística Moderna.Editorial Presença, Lisboa-1987. 11 Benévolo, Leonardo. Origens da Ubanística Moderna. Editorial Presença. Lisboa, 1987..

(28) 19. social existente. Um dos problemas cruciais no enfrentamento da questão sócioambiental é que "o presente é um lugar relativamente confortável para os que atingiram postos de liderança nas empresas ou dentro da principal corrente política...muitos daqueles que detêm o poder de efetuar as mudanças necessárias não se mostram motivados a alterar o status quo que lhes conferiu esse poder?" . Utopia significa maneiras de pensar e agir, ações e intenções com vistas a mudanças na ordem social existente.. 13. Como observa Habermas, a fusão do. pensamento utópico com o pensamento histórico, o influxo de energias utópicas na consciência da história "caracteriza o espírito da época que marca a esfera pública política dos povos mademos desde os dias da Revolução Francesa".14. Nenhum urbanista ou planejador urbano gosta de se sentir um instrumento a serviço do sistema de opressão. Gostam de apresentar o plano de intervenção urbana. como formas de. melhoramentos sociais, como instrumentos de. desenvolvimento e progresso. Porém, se examinarmos algumas intervenções do passado, ainda que não sejam as de Albert speers", muitas vezes, ideologias",. sob o manto da neutralidade da. muitos deles. se filiaram a correntes. movimentos urbanísticos opressores.. iremos verificar que,. técnica, da. "morte das. políticas conservadoras e. A justificativa dessas intervenções. geralmente inclui o argumento de que a atividade urbanística é apolítica, tratandose apenas de intervenções técnicas para a melhoria das condições urbanas.. 12 Schmidheiny, Stephan. Mudando o Rumo. Uma Perspectiva Global sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente. Editora FGV. RJ, 1992. 13 Ambos os conceitos podem ser vistos em Mannheim, Karl - Ideologia e Utopia, Zabar Editores - Rio de Janeiro - 1967. Marx, Karl- Ideologia Alemã. Geertz, C. A Interpretação das Culturas. Zabar, Rio de Janeiro, 1978. Aron, R O Ópio dos Intelectuais. Brasília, UnB, 1980. BelI, D. O fim da ideologia. Brasília, UnB,1981. 14 Habermas, Juergen. A Nova Intransparência. Novos Estudos Cebrap, 18(103-115). Setembro-1987. 15 "vendi minha alma como Fausto, para poder construir algo grande", declarou o arquiteto pessoal de Adolfo Hitler. Rev. TIME, 12 septiembre, 1969, pág. 40. Citado em Goodman, Robert. Despues de los urbanistas que?Hermann Blume Ediciones. - Madri, 1977..

(29) 20. o. chamado embelezamento estratégico do Barão de Haussmann para. Paris tem sido citado como exemplo dessa urbanística opressora. Chamando a si mesmo de "artista da demolição", Haussmann serviu a um regime autocrático, que temia as ruas estreitas onde a classe operária podia fazer barricadas, num tempo em que não havia carros blindados e gases lacrimogeneos, os meios eficazes de hoje para dispersão de manifestações. "A verdadeira finalidade das obras de Haussmann era tomar a cidade segura em caso de guerra civil. Ele queria tornar impossível Que no futuro se levantassem barricadas em Paris...Haussmann quer impedí-Ias de duas maneiras: a largura das avenidas deveria tomar impossível erguer barricadas e novas avenidas deveriam estabelecer um caminho mais curto entre as casernas e os bairros operários". 16. A "segurança" da cidade, porém, nunca é absoluta. A massa, o povo, pode ser simultaneamente reacionário e transformador. A recusa ou a aceitação de novos padrões Quase elementos. nunca aparece na sua dimensão histórica, mas como. do jogo cotidiano. Contudo, está fora de dúvida que os valores. vigentes tendem a permanecer dado a familiaridade. e segurança que. proporcionam aos atores. "A relação com os valores e a vida social, a relação com a morte e o sexo, a atitude para com o trabalho, a habitação e o vestuário, numa palavra, tudo Que concerne à arte de viver ou aos modos de vida é extraordinariamente invariável".(Maffesoli, 84).. Essa permanência, porém, ao mesmo tempo em que é uma segurança, é uma aceitação do trágico e do non-sense que pontuam o tempo vivido. O tempo. J6 Benjamim. Walter. Paris, capital do século XIX. in Coleção Grandes Cientistas Sociais. Vol. 50. pp 42. Editora Ática, SP, 1985. ..

(30) 21. vivido acaba sempre por colocar o problema da morte que, por si, determina de forma inexorável os limites do indivíduo. É nessa multiplicidade de significados aqui colocados que~ aparece como destino. Um destino. V!çjél C()ti(ji~nª_. que é aceito, recusado, reproduzido. elou. reinventado pelos atores durante a dramaturgia social, no escoamento da vida de cada um. A pluralidade de significados faz com que a vida cotidiana se apresente, embora como coisa dada, rica de imensas possibilidades. banalidade, é potencialmente. " A cidade, em sua. rica em aventuras produzidas por suas inumeráveis. ruas e lugares diversos, ...através do jogo da diferença, pode provocar situações, encontros, e momentos particularmente. As intervenções alternativos,. urbanas. intensos".. como. 17. elaboração. e construção. de futuros. nos remete a um conjunto de autores os quais Marx e Engels. denominavam "socialistas utópicos" e que F. Choay classifica de pré-urbanismo propresststa ." .As idéias de Robert Owen, por exemplo, são emblemáticas a esse respeito. Ao tomar contato, industrial,. desde a infância, com a miséria do proletariado. Owen pôs em prática uma série de reformas sociais em uma fábrica de. sua propriedade. em New Lanark.. diminuição da jornada de trabalho, equipamentos. sociais e os edifícios. Entre outras. planejou o habitat,. Owen. adotou a. o local de trabalho, os. públicos, com vistas. abrangente da máquina e das possibilidades obras, Owen descreve. medidas,. a uma exploração. da revolução industrial. Em suas. o que seriam os estabelecimentos. ideais, a cidade do. futuro, "higiênico, ordenado e criador: pequenas comunidades semi-rurais, de 500 a 3000 indivíduos,- federadas. entre si"." Em Geral, subjacente à filantropia. Maffesoli, Michel. A Conquista do Presente. Editora Rocco, RJ. 1984. Choay. Françoise. O Urbanismo. Editora Perspectiva, São Paulo, 1979. Ver Também Wilson., Edmund Rumo à Estação Finlandia, Cia das Letras, São Paulo, 1989. 19 Choay, Françoise. Op. Cit 17. 18.

(31) 22. piedosa, encontram-se nos utópicos fórmulas totalitárias para o equacionamento dos problemas da cidade industrial. O pensamento. utópico opera no sentido. da construção. de um futuro. imaginado e uma maneira de chegar até ele. O futuro imaginado é tomado como base crítica pela qual avalia-se o presente.( Holston -1993 ) Acontece. que o presente. é governado. muito. mais pelas. condições. herdadas do passado, pelo cotidiano, do que pelo futuro imaginado. Como mostra Braudel, o cotidiano é, antes de tudo, um passado multissecular que desagua no presente. Uma inércia obscura que, sem que o saibamos, nos condiciona a vida. "Gestos. herdados,. confusamente· acumulados;. ·infinitamente. repetidos. para. chegarem até nós, ajudam-nos a viver, aprisionam-nos, decidem por nós ao longo de toda a nossa existência"." A cotidianidade se traduz por normas de atuação fora da consciência clara dos homens. No jogo cotidiano, os. homens são muito menos atores do que. agidos, a vida cotidiana é muito mais suportada do que moldada. A vida cotidiana está mergulhada num oceano de águas muito antigas, sem idade, onde se sucedem as mortes, os nascimentos, as doenças, os fracassos, os êxitos. O cotidiano é o reservatório da história. A realidade da vida cotidiana está organizada. em tomo do aqui (do corpo) e do agora (do presente). experimentados. em diferentes graus de aproximação. e distância,. temporalmente.. A realidade da vida cotidiana é compartilhada. que são. espacial. e. com os outros. homens. Apresenta-se, portanto, como um mundo intersubjetivo, e é tão real para o sujeito como para o outro. Há uma contínua correspondência partilhados. 20. em comum. Esse conhecimento. compartilhado. Braudel, Femand - A dinâmica do capitalismo - teorema 1985 -Lisboa.. de significados. se expressa. numa.

(32) 23. atitude de consciência do senso comum. Se refere a um mundo que é comum aos demais atores.21. 2.2 - O PROBLEMA DA PREVISÃO. o problema da previsão nos. interessa particularmente, pois a emergência. da questão sócio-ambiental em São Paulo (ver capo 3) decorre em larga medida da tomada de consciência da questão ambiental a nível global que, por sua vez, está fortemente associada às previsões do Clube de Roma segundo as quais estaríamos nos aproximando perigosamente dos limites de crescimento das atuais civilizações industriais. "Se as atuais tendências de crescimento da população mundial -industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais - continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial." 22 A idéia de desenvolvimento sustentável, "de garantir que ele atenda às necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas,,23remete, inevitavelmente ao problema da previsão. Por um lado, não dispomos de meios para conhecer os projetos específicos das gerações futuras, por outro, não é preciso grande capacidade de previsão para saber que as gerações futuras necessitarão de ar, água e alimento. Tal formulação afeta substancialmente o campo de visão do planejador, sobretudo quando nos defrontamos com o quadro de pobreza material, institucional e cultural do chamado terceiro mundo. "Para os países pobres, mais que nunca, a Berger, Peter & Luckmann, Thomaz. A Construção Social da Realidade. Vozes, Petr6polis,1985. Meadows, Donella; Meadows, Dennis; Randers, J.; Behrens m, W. Limites do Crescimento. Editora Perspectiva, São Paulo, 1973. 23 Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum, 2a. edição. FGV, 1991, RJ. 21. 22.

(33) 24. alternativa se coloca em termos de projetos de civilizações originais ou de nãodesenvolvimento, não mais parecendo possível nem, sobretudo, desejável a repetição do caminho percorrido pelos países lnoustrielízedos''.". O que se. coloca, em definitivo, é a incorporação dos custos sociais e ambientais aos processos de intervenção urbana, quer para as gerações presentes quer para as futuras.. Por outro lado, as consequências não intencionais de ações intencionais, ou seja a falha de previsão, é um problema dos mais agudos e não pode ser negligenciado na elaboração de possíveis. futuros alternativos. O plano de. avenidas de Prestes Maia, que se comprazia do seu grande grau de previsão, inaugura um modo de intervenção urbana que levará a um alto grau de comprometimento do sítio natural da cidade. Também neste caso encontra-se a espetacular intervenção do planejamento modernista em Brasília. Esta previa o aparecimento de uma ordem social coletivista e igualitária, inspirada na concepção urbanística que lhe dera origem. "No estudo de caso de Brasília, fica demonstrado que a arquiterura e o urbanismo modernistas não apenas falharam, mas que também fortaleceram,-muitas vezes, aquilo que pretendiam desafiar".2S Como sabemos, a ocupação da cidade veio repor a ordem social prevalente: a elite dirigente que desfruta dos benefícios do "progresso" e as. classes. subalternas, "inferiores", situadas como a parte maldita nos desacertos da modernidade. Evidentemente, as falhas de previsão só são percebidas a posteriori, quando se manifestam como um anedótico acaso (do qual não se tem exemplos). Saehs, Ignacy. Ecodesenvolvimento, Crescer sem Destruir. Editora Vértice, 1986. Holston, James. A Cidade Modernista Uma Crítica de Brasília e Sua Utopia Cias das Letras. São Paulo _ 1993.. 24 25.

(34) 25. ou como uma tragédia (da qual Cubatão permanece como uma lembrança perturbadora). Mesmo a afirmação muito comum de que "a ciência sempre descobre solução para os problemas" tem se mostrado uma previsão desastrosa. Primeiro por que a ciência nem sempre descobre soluções a tempo de evitar consequências graves de certos fenômenos. Segundo, por que, muitas vezes, as descobertas científicas potencializam os efeitos destrutivos da ação humana. Não será esse o caso da energia nuclear? Um outro ponto a ser considerado é o caráter de incerteza inerente ao contexto de transição democrática. Aqui, dois aspectos devem ser mencionados. O primeiro diz respeito às incertezas quanto aos resultados do jogo democrático, onde a precocapação wm-a-CEfrteza nos resultados do jogo político dever ser abandonada porquanto represente um traço da mentalidade autoritária. O segundo refere-se ao processo histórico que. acompanha. os países recém-. saídos de regimes autoritários e aponta para a própria possibilidade de constituição de um regime democrático nesses países.26. Na verdade, essas diferentes dimensões (ideologia, utopia e previsão) raramente podem ser avaliadas em seu estado puro, servindo, neste estudo, apenas como tipologias para se analisar intervenções urbanas. O que se observa frequentemente é uma combinação, deliberada ou não, desses elementos.. Tais são os problemas inerentes a qualquer modo de intervenção urbana, e aos instrumentos de intervenção e gestão das cidades, não sendo possível negligencia-los na avaliação que se venha a fazer desses instrumentos.. 26. Weffort, Francisco C. "Incertezas da Transição na América Latina" in Revista Lua Nova. Março 89. no.. 16. pp.( 5-45).CEDEC.. SP..

(35) 26. o que fica como indagação é se a tensão existente entre estes diferentes níveis de problemas, pode, a partir da explicitação de conflitos de interesses entre atores diversos, evoluir de uma situação de conflito a qualquer custo ou de conciliação obrigatória, para uma situação de cooperação, negociada nos termos de instrumentos de intervenção e de. gestão da cidade, com vistas ao. enfrentamento da grave questão de algumas cidades no presente: a questão sócio-ambiental. A resposta que muitos atores sociais e institucionais tem dado a essa indagação é a introdução do conceito de Desenvolvimento Sustentado. Ao preconizar a harmonização entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, a noção de desenvolvimento sustentado granjeou um consenso poucas vezes visto na história das idéias. A ausência de um um enredo, um meio, um caminho pré determinado para se atingir o desenvolvimento sustentado, faz com que cada corrente (ideológica ou utópica) eleja predileções em termos de ações e intenções na transição para a sociedade sustentável. Para E. Viola e H. L. Leis as versões existentes podem ser classificadas em tiês categorias: estatista, comunitária e de mercado, de acordo com o lugar sócio-institucional predominante na condução da transição. O enfoque estatista, dizem os autores, considera que qualidade ambiental é essencialmente um bem público que só pode ser resguardada pela intervenção normativa, reguladora e promotora do Estado. Está associado a emergência de políticas e agências ambientais na Europa Ocidental e disseminado pelo mundo. O enfoque comunitário considera que as associações comunitárias devem ter um papel predominante na transição para a sociedade sustentável, subordinando o Estado e o mercado na alocação de recursos. Valoriza as possibilidades de avanços em nível local e regional acompanhando a mudança de valores da população. A crença na equidade social.

(36) 27. e nas transformações revolucionárias lhe dá um caráter utopista. Por fim, o enfoque de mercado afirma que a apropriação privada dos recursos naturais e a expansão dos consumidores verdes são suficientes para se chegar a uma sociedade sustentável. Neste enfoque, os mecanismos estatais reguladores e. a. a atuação educativa das ONGs estariam subordinadas à lógica de mercado. 27. o conceito de desenvolvimento sustentado apresenta-se. como um ponto. de equilíbrio entre as propostas de crescimento zero e aquelas de crescimento a qualquer custo. Desse modo, rejeita tanto as previsões catastróficas sobre o colapso das bases materiais do crescimento, quanto o crescimento econômico tradicional que não leva em conta a variável ecossistema. Mais que isso, coloca o desenvolvimento como condição necessária ao bem estar das gerações presentes e futuras. Nos países do terceiro mundo a noção de desenvolvimento sustentável se depara com o seu principal desafio: a eliminação da pobreza." A ausência de indicadores de sustentabilidade é a principal dificuldade para se avaliar os diferentes enfoques. Não obstante os esforços da chamada economia do meio ambiente, também aqui comparecem visões proféticas e assertivas determinísticas que pretendem dar validade científica às crenças e valores específicos de cada grupo. Os atores parecem estar muito mais "governados" pelos modos como viveram no passado do que peia idéía-qaEn~res mesmo fazem da sociedade sustentável. Ou, como diz Braudel, são muito mais agidos do que atores. Deixam transparecer a recusa em abandonar o modo como estão acostumados a viver, apesar de almejarem a sociedade sustentável. Assim. 21 Viola, E. J; Leis, HectorR A Evolução das Políticas Ambientais no Brasil, 1971-1991: Do Bissetorialismo Preservacionista para o Multissetorialismo Orientado para o Desenvolvimento Sustentável. in Hogan, Daniel 1. e Vieira, Paulo F. Dilemas Socioambientais e Desenvolvimento Sustentável. Editora da Unicamp.1992 28 Tietemberg, Tom. Ernvironment and Natural Resource Economics. Harper Collins Publishers. 1992.NY. Cap. XXI - Growth, Poverty and the Environment. pp-(566-598)..

(37) 28. tem sido as propostas de taxas de poluição, onde um certo tipo de mentalidade de nossa época compra o "direito" de poluir e degradar.. Quais seriam então os valores próprios do ambientalismo? Quais as práticas condizentes com uma perspectiva de desenvolvimento sustentado? Em geral, são crenças, valores e normas de conduta que se confrontam com os das sociedades industriais contemporâneas e conformariam um novo paradigma, uma revolução silenciosa baseada em maneiras de pensar e agir pós-materialistas.. Uma relação não exaustiva incluiria os seguintes pontos essenciais da perspectiva ambientalista: 1) Minimização dos impactos negativos da atividade humana sobre os ecossistemas. 2) estabelecimento de padrões sustentáveis de uso dos recursos, 3) minimização dos impactos negativos sobre a saúde humana e 4) maximização da diversidade ecológica.29 Ainda. na. perspectiva. de. Paehlke, a. possibilidade. dos. valores. ambientalistas assumirem papel importante dependerá essencialmente da capacidade que o ambientalismo tenha de se articular com os demais valores importantes de nosso tempo. Pela ordem justiça social (equidade), prosperidade economica, segurança nacional e democracia. O ambientalismo intersecciona a justiça social na medida em que suas ações gerem oportunidade de empregos, oportunidades de consumo, e relativos impactos na saúde. Atividades econômicas ligadas à reciclagem e à recuperação ambiental podem ser aliadas do desenvolvimento econômico. A redução de conflitos militares, por sua vez podem gerar recursos para o investimento em proteção ambiental. Finalmente, a superação da. visão de que os problemas ecológicos são mais facilmente. Paehlke, Robert C. Environment Values and Democracy: The Challenge ofthe Next Century. in Vig. Norman 1. and Kraft, Michael E. Environmental Policy in the 19905. Congressioual Quarterly Inc. Washington D.C. 1990. pp. 349-367.. 29.

(38) 29. resolvidos em regimes autoritários do que em sociedades democráticas, toma o clima propicio para a mobilização social e económica em direção a padrões sustentáveis..

(39) 30. CAPíTULO 3 INTERVENÇÃO URBANA EM SÃO PAULO: UMA RETROSPECTIVA.. rwodemos. llv. afirmar que a idéia de intervenção urbana em São Paulo teve. origem durante a transição da cidade agrária, escravocrata,. para a. cidade industrial de trabalho assalariado. Mais do que qualquer outro objetivo, os interventores. de então tinham em mente o embelezamento e a higienização . da. cidade, a partir do mimetismo em relação às técnicas urbanísticas já consagradas no continente europeu. O ajardinamento da Praça da República - antigo Largo do Curros - por Antonio Prado, teve inspiração nos jardills parisienses. Intervenções mais agudas. - ao estilo. Haussmam. - ainda não tinham lugar. "porque. a. propriedade privada era intocável" (Moreira - 1991). A criação de alguns serviços públicos como a iluminação a gás e o transporte de bonde também pertencem a essa fase ( primeira república), onde a nobreza do café, juntamente com a nova classe endinheirada. pelos novos negócios associados à cidade industrial, cria. uma cidade mimética, buscando reproduzir padrões urbanísticos já consagrados na. europa." No entanto, o que se processa naquele momento, é a constituição de uma. nova ordem social, a transição industrial de trabalho assalariado.. da cidade agrária escravocrata. para a cidade. Como mostra Rolnik, nesta nova ordem. os. limites e fronteiras entre os grupos sociais são clara e rigidamente definidos. Há uma redefinição. dos lugares por onde cada um pode ou não circular.. 30 Moreira, lvani. Evolução das Perspectivas de Planejamento Urbano. Eaesp/FGV. Dissertação de Mestrado. 1991.. Isto.

(40) 31. significa que, subjacente ao modo de intervenção urbana que preconiza o embelezamento e o saneamento,. encontra-se a Origem da segregação. sócioespacial na cidade." A atuação da. Polícia Sanitária ( criada na última. década do século XIX) denota que o chamado poder urbano utilizou-se amplamente da vigilância e da punição a fim de estabelecer. uma hierarquia. espacial no tocante ao acesso a serviços públicos, equipamentos sociais e infraestrutura urbana. São produtos desse modo de intervenção não apenas a Avenida Paulista ou o Bairro de Higienópolis, mas também os cortiços e as vilas operárias insalubres do início do século. Neste modo de intervenção urbana sempre foi muito peculiar um certo sincronismo entre a produção de infra~strutura pública e os negócios privados das elites locais. Os empreendimentos da Cia. City diz muito a esse respeito. Concebida de conformidade aos padrões urbanísticos preconizados por Ebenezer Howard, a ocupação da Cidade Jardim coincidiu com a execução do Plano de Avenidas, iniciado com a construção da Av. 9 de Julho, a primeira avenida radial da cidade. Ligava o Jardim América ao centro de negócios. O projeto de marketing do empreendimento "privado", enfatizava a construção da avenida e a possibilidade de locomoçãovia transporte individual até o centro de negócios. Em razão da opção pelo transporte individual, o Parque Anhangabaú - um importante equipamento social projetado pelo arquiteto francês Bouvard - seria transformado em estacionamento. O Parque D. Pedro li, projetado sobre a antiga Várzea do Carmo nos moldes do parisiense "Bois de Vincennes",. também sucumbiu ao. sistema viário. Delineava-se desse modo a ocupação indiscriminada do sítio urbano pelo automóvel, o que mais tarde elevaria a poluição atmosférica a níveis alarmantes. Tomando para si as funções legislativas da cidade, a Cia City 31 Rolnik, Raquel. São Paulo, início da industrialização: Lutas Sociais e a Cidade. Paz e Terra - RI 1988.. o espaço e a política. in Kowarick, Lúcio. (org) As.

(41) 33. Públicas, onde fez carreira, como a frente do executivo Municipal. Como se sabe, a Prestes Maia coube a tarefa de enfrentar a questão da circulação urbana num contexto de explosão da cidade industrial, e consequente demanda por infraestrutura urbana. Abre-se a era do. urbanismo protagonizado pela figura do. tocador de obras, pelas empreiteiras de obras públicas e pela figura do pobrecarente da periferia interligados pelo instituto do favor e da promessa e pelo tantas vezes analisado clientelismo. A opção pelo transporte individual e pelas grandes obras viárias como solução para o crescimento urbano da cidade, de eficácia relativa, engendra sérios comprometimentos do ponto de vista socioambiental. A ocupação indiscriminada dos fundos de vale pelo sistema viário redundou, no curto prazo, na destruição de importantes equipamentos sociais como Parques e Jardins (Caso do Anhangabaú e Parque D. Pedro já citados). No longo prazo, redundou em inúmeros pontos de enchentes e de engarrafamentos acelerando o comprometimentoda qualidade ambiental da cidade. Não é exagero, portanto, afirmar que o modo de intervenção urbana estilo "tocador de obras", em que pese o enorme esforço dispendido no enfrentamento da questão viária, resultou e resulta num reforço da segregação sócio-espacial e num comprometimentodo sítio natural e histórico-cultural da cidade.. É também um modo de intervenção extremamente ancorada na cultura política autoritária, onde a participação de setores mais amplos da sociedade civil e política na tomada de decisão e na escolha de caminhos e objetivos comuns é vista com desconfiança. Tome-se como exemplo as declarações do Prefeito Prestes Maia sobre suas intervenções na cidade:. "Este acérvo de concretas realizações comprova dum. modo. insofismável,. no. campo. do.

(42) 34. municipalismo, administrativo. a. excelência. do. regime. e das diretrizes implantadas pelo. Presidente VBf!1BS, pois. nao se conceberia no. regime das disputas demagógicas, dos embaraços fonnalfsticos. o problema. e da incerteza financeiran•34. é que, no dizer de Marilena Chauí, a cultura política autoritária. é incapaz de concretizar sequer os princípios do liberalismo e do republicanismo. "Indistinção. entre o público e o privado, incapacidade. para tolerar o princípio. formal e abstrato da igualdade perante a lei, combate da classe dominante às idéias. gerais contidas na Declaração. dos Direitos do Homem e do Cidadão,. repressão às formas de luta e de organização sociais e populares, discriminação racial, sexual e de c/asse, a sociedade brasileira, sob a aparência de fluidez ( pois as categorias sociológicas, válidas para a descrição das sociedades européias e norte-americana,. não parecem alcançar a realidade social brasileira), estrutura-se. de modo fortemente hierárquico, e, nela, não só o Estado aparece como fundador do próprio corpo social, mas as relações sociais se efetuam sob a forma da tutela e do favor üamais do direito) e a legalidade se constitui como círculo fatal do arbítrio (dos dominantes) à transgressão (dos dominados) e, desta ao arbítrio (dos dominantes)." É notável o fato de que; em períodos de abertura democrática, quando se amenizam. as restrições. e os mecanismos. repressivos;. emergem. variadas formas de participação social e protesto político das classes populares. Maia, F. Prestes. Os Melhoramentos de São Paulo. Prefeitura Municipal de São Paulo. citado em Osello83. pp 133. 35 Chauí, Marilena. Conformismo e Resistência. Aspectos da Cultura Popular no Brasil. Editora Brasiliense. SP,1986. 34.

(43) 35. 36. No entanto, estas formas de participsçãose_diluemeseperdem. nos caminhos. da cooptação e da repressão, nas promessas de uma democracia populista onde a figura do pobre-carente é ainda sobreposta à do cidadão. Nesse contexto. a produção de infra-estruturas se dá nos termos do escambo de algum melhoramento básico pelo voto do "pobre carente" distorcendo os mecanismos formais da representação. A própria sobrevivência do político populista passa a ancorar-se nas carências e na insuficiência dos bens de cidadania necessários à sobrevivência na metrópole. O chamado tocador de obras, escudado por uma suposta competência técnica, sobrevive da capacidade que tem em articular interesses privados, - sobretudo de empreiteiras de obras públicas - e da promessa de que, se eleito, levará água, a infra-estrutura básica aos longínquos bairros da periferia e às favelas onde vive o pobre-carente, transformará a cidade num canteiro de obras, dará continuidade às obras, licitará as obras. A prática institucionalizada do superfaturamento, da "caixinha", conotada na expressão "rouba mas faz" é outra dimensão integrante do modo de intervenção urbana, não podendo ser considerado mero voluntarismo ou desvio de caráter de indivíduos. A promiscuidade na relação poder público/poder privado na produção de infraestruturas chegou a tal paroxismo que levou à introdução de um capítulo de crimes na lei de licitação de obras públicas (ou seria ilicitação de obras públicas?), provocando indignação na apeop - Associação Paulista de Empresários de Obras Públicas.. 36 Moisés, 1. A Protesto UIbano e Política: O quebra-quebra de 1947. in Cidade, Povo e Poder, Coleção CEDECI Paz e Terra. Vol..5 pp. 50-64, RJ. 1982..

Referências

Documentos relacionados

Após a devida análise, discussão e apresentação dos votos dos respectivos Conselheiros relatores, foram aprovados pelo Plenário, por unanimidade, os relatos proferidos em

Certificateless e Autoridade Mal Intencionada Acordo de Chave sem Certificado e Modelo de Seguran¸ ca Proposta de Protocolo.. Acordo de Chave Seguro contra Autoridade Mal

ESTUDO SOCIOAMBIENTAL DOS NAUFRÁGIOS DA PLATAFORMA CONTINENTAL DE PERNAMBUCO – BRASIL: Contribuição para a Formulação de Políticas Ambientais e Manejo de Recifes Artificiais

Caso o calculador seja usado para redes com um número de nós menor que 5, basta usar o valor 5 nesse campo e usar como atraso total o valor do campo Atraso por nó multiplicado

(2015) quando, ao analisarem os fatores determinantes da transparência pública ativa nos estados brasileiros, constataram que, embora sob uma mesma subordinação

Este modelo apresentado pelo IPCC, portanto, é indicado apenas para estimativas anuais de geração de biogás, não sendo eficiente e preciso para previsões como a

vários termos têm sido utilizados para designá-lo: neoplasia epitelial papilar, neoplasia cística papilar, neoplasia epitelial papilar e sólida, tumor acinar cístico e

Um dos lados possui profundidade para que o líquido do queijo não escorra e o outro lado, para servir queijos em geral. A tampa evita que os odores do queijo sejam liberados