INVESTIMENTO EXTERNO DIRETO: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES SOBRE A INTERNACIONALIZAÇÃO NO
BRASIL
Germano Kawey Ferracin Hamada germano_7@hotmail.com Aluno do curso de Geografia junto a UNICENTRO – Guarapuava – PR. Participante do Programa de Iniciação Científica (ICV-UNICENTRO). Bolsista do Programa de Educação Tutorial – PET – Geografia, Membro do Grupo de Estudos da Dinâmica Econômica – GEDE. Profª. Drª. Sandra Lúcia Videira Góis slvideira@yahoo.com.br
Professora do Departamento de Geografia junto a UNICENTRO – Guarapuava - PR. Líder do Grupo de Estudos da Dinâmica Econômica – GEDE.
RESUMO
O trabalho busca analisar o Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil, a partir de processos de transações, ou seja, fusões e aquisições sendo elas nacionais ou internacionais. A questão da evolução das dinâmicas incorporativa cada vez mais se encontra presente no contexto social/econômico, dentro disso buscamos apresentar análises que apresentem esse processo evolutivo que muitos de nós, apenas temos idéia do que seja não conhecendo suas concepções perante o processo globalizatório mundial.
Palavras-chave: Capital estrangeiro; IED; neoliberalismo; Brasil INTRODUÇÃO
O processo global de fluxos de capital por via das empresas transnacionais vem sendo englobado pelo processo de globalização que cada vez mais se encontra atuante na sociedade atual. Entende-se por globalização “como a intensificação das relações sociais em escala mundial, que ligam localidades distantes de tal maneira que acontecimentos locais são modelados por eventos ocorrendo a muitas milhas de distancia e vice-versa” Giddens (apud Videira, 1991, p.69). Dentro do processo de evolução da globalização fatores determinantes podem ser apresentados, Videira (2009, p.60-61) os apresenta como:
As inovações da microeletrônica, da informática e das telecomunicações que possibilitaram o encurtamento dos horizontes; uma parafernália enorme que envolve computadores, softwares, satélites espaciais, aparelhos de telefonia celular e videotexto, centrais e cabos telefônicos de fibras óticas, entre outras. Destaca-se, também, o
[...] constante processo de aperfeiçoamento tecnológico, que a informática associada aos meios de telecomunicações vem possibilitar, ao homem, não só usufruir de maior capacidade de informação que pode ser processada, como também de uma velocidade cada vez mais rápida, chegando à instantaneidade. (VIDEIRA, 2009, p. 67).
acabou gerando uma grande expansão do mercado mundial, em vários países subdesenvolvidos. A busca por novos ares e mão-de-obra barata fez com que gerasse uma evolução do capitalismo estrangeiro ao redor do mundo. Inserindo no Brasil com maior intensidade a partir da década de 1990.
O aumento dos Investimentos Estrangeiro Direto (IED) originou-se pelo número de privatizações geradas por políticas neoliberais, inserindo neste processo uma acentuada desnacionalização da economia, como aponta Gonçalves (1999), porém a presença de IED no Brasil já podia ser percebida no inicio do século XX, onde Videira (2009, p.104) baseada em Gonçalves (1999) destaca que, “a partir de 1850, empresas estrangeiras já dispunham de monopólios em certos segmentos da economia brasileira, como ferrovias, companhias de gás e transporte urbano”, diante disso, a evolução do capital externo no Brasil na forma de IED foi se acentuando com o passar dos tempos.
Videira (2009, p.105) aponta que:
[...] acentuou-se o fluxo de IED para o país, embora em meados de 1930 houvera uma certa restrição do capital estrangeiro no Brasil em alguns setores, como mineração, petróleo e energia elétrica, por razões de segurança nacional. Entre duas guerras, a presença de capital externo no país era significativa.
A presença de países como Inglaterra e EUA são significativas no sentido de apropriação de áreas de serviços. Dentro do processo econômico do Brasil, o seu desenvolvimento veio a partir de investimentos estrangeiros. Não tão rapidamente, o processo de IED veio evoluindo gradativamente de acordo com os investimentos que eram dados decorrentes de economias que já estavam muito a frente do Brasil, como o caso dos EUA e Inglaterra, na questão da formação da economia nacional.
Partindo do contexto evolutivo do IED no Brasil um fator notável é a questão de que os setores que eram mais direcionados para o investimento estrangeiro, eram os setores que necessitavam de maior tecnologia.
Nesse contexto:
Uma reestruturação mais significativa nas empresas estrangeiras passa a acontecer a partir da década de 1990; a insistente crise iniciada na década anterior, paralelamente à abertura da economia nacional, contribui para o processo de reestruturação industrial que envolve toda a remodelação dos parques industriais e também das formas organizacionais, a eliminação de linhas de produção é agora substituída por produtos já importados; os processos de fusões e aquisições são cada vez mais presentes. (VIDEIRA, 2009, p. 109).
No seguimento de privatizações, fusões e aquisições mostram que a degradação da economia brasileira foi muito intensa, ocasionando um processo de desnacionalização do capital. O aumento do IED e da diversificação da origem dos capitais é o que pretendemos apresentar na seguinte pesquisa, buscando identificar: a evolução do montante deste tipo de investimento no Brasil, a partir da década de 1990; a origem destes capitais , setores para onde se direcionam, contribuindo para as discussões dessa internacionalização da economia brasileira para a ciência geográfica.
MATERIAIS E MÉTODOS
O seguinte trabalho teve como fatores proporcionadores de informações, à leitura bibliográfica, que por ela buscamos subsídios para a interpretação correta do objeto de estudo, o mesmo que está sendo realizada, é apenas um pequeno recorte de uma complexa área de estudos. Posteriormente, a pesquisa se direcionou ao levantamento de dados, junto do site do Banco Central (informações sobre Censo de Capitais Estrangeiros), KPMG (empresa de consultoria), revista Exame e Carta Capital, acarretando assim na aquisição dos dados e informações necessárias para a formulação da redação final da pesquisa desenvolvida.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante do processo global de expansão do capital, questões como fusões e aquisições são cada vez mais colocadas em enfoque em gestões econômicas e processos que procuram o entendimento da evolução dos Investimentos Estrangeiro Direto (IED). A busca por serviços e regiões com fortes incentivos a inserção do capital estrangeiro no país, fazem com que ocorra incessantemente a evolução e desenvolvimento do capital, num processo expansivo sem limites. Dentro do processo de fusões e aquisições Gonçalves (2003, p.32) aponta que:
A maior instabilidade sistêmica da economia internacional, associada ao volume extraordinário de recursos comandado pelas empresas transnacionais e pelos bancos internacionais, tem provocado um processo de fusões e aquisições.
Sendo que:
Esse processo responde à necessidade permanente de reestruturação produtiva (devido às rápidas mudanças nas condições de competitividade), de diversificação de risco (para proteger da maior turbulência dos mercados) e de acesso a tecnologia (frente aos custos da inovação e a variabilidade dos ciclos dos produtos). Em conseqüência, há forte estímulo à centralização do capital em escala global. Isto é, um número cada vez menor de grandes
Em concordância com o processo estruturante, podemos perceber que a estruturação do processo produtivo se dá para uma maior competitividade no mercado, que cada dia mais se encontra em vários processos de mudança, devido aos fluxos e redes que se interligam, fazendo com que a cada vez mais ocorra fatos como esse. No Brasil o processo de fusões e aquisições se inicia em maior volume no inicio dos anos de 1990 e tem seu ápice entre 1992-1994 (Gonçalves, 1999), porém o processo de fusões e aquisições não é em sua maioria feita por empresas nacionais, acarretando num processo de “desnacionalização” do capital, Videira (2009, p.119) apresenta que “Entre 1995-1997 as empresas estrangeiras envolveram-se em 154 fusões e aquisições, enquanto as empresas nacionais, apenas em 103”, diante disso o processo de inclusão das empresas internacionais cada vez mais se multiplica.
Dentro do processo, o número de transações em diferentes setores cada vez mais se acentua. Em 1995 o número de transações chega a 212 no total geral (KPMG, dados gerais do ano), setores como o de alimentos, bebidas e fumo, instituições financeiras, elétrico e eletrônico e produtos químicos e petroquímicos, são os com maiores números de transações, a tabela 1 apresenta as porcentagens e número de transações contidas em cada uma:
Tabela 1. Apresentação de setores e quantidade de transações no ano de 1995.
Setores Quantidade de transações Porcentagem
Alimentos, bebidas e fumo 24 11,3%
Instituições financeiras 20 9,4% Elétrico e eletrônico 14 6,6% Produtos químicos e petroquímicos 13 6,1% Outros 15 7%
Pode-se notar uma pequena porcentagem de áreas para o onde o fluxo de IED se direciona em 1995, um fato importante é que no período de 1994-98 esse fluxo representou cerca de 50% das operações realizadas, porém o avanço do fluxo de IED a partir de 1995 é relevante na história nacional Videira (2009, p.114) aponta que:
[...] o inusitado está atrelado, além do montante, ao fato do enfraquecimento dos blocos de capitais nacionais em oposição à crescente importância dos grupos estrangeiros, isso não quer dizer que os grupos nacionais perderam seus postos de mando, mas, sim, que o número destes grupos diminuíram dada a crescente concentração do capital e também a associação destes grupos ao capital estrangeiro [...]
Decorrente disso o número de transações cada vez mais aumenta e diferentes setores, passam a ser envolvidos nesse complexo processo de estruturação econômica/industrial. Passando para meados ano 200 o fluxo anual de transações já chega a 353, cerca de 60% a mais do que no ano de 1995, diferentes setores como tecnologia da informação, telecomunicações incluem-se como áreas de maiores transações anual (KPMG, dados gerais do ano). Decorrente dos dados discutidos, a representação na tabela 2 das porcentagens e número de transações ocorridas no diferentes setores no ano de 2000:
Tabela 2. Apresentação de setores e quantidade de transações no ano de 2000.
Setores Quantidade de transações Porcentagem
Tecnologia de informação 57 16,1%
Alimentos, bebidas e fumo 36 10,1%
Petróleo 28 7,9%
Telecomunicações 26 7,3%
Outros 19 5,3%
Fonte: KPMG 2005, dados organizados por Hamada, 2009. Nota-se um forte aumento na quantidade de transações ocorridas no ano de 2000, a exemplo disso temos a empresa Usina Cresciumal S.A. que alienou 100% do seu capital para Coimbra (Comércio e Indústria Brasileiras Coimbra S.A) e também o banco da Alemanha que adquiriu o controle societário da Pintex (Painéis e Cartazes LTDA.), ambas em setembro de 2000, porém os exemplos citados são ilustrativos nesse sentido. Muito disso se dá por causa do aumento da concorrência e aumento da demanda Gonçalves (2003, p. 76, grifo nosso) coloca que:
As recentes ondas de fusões e aquisições têm refletido não somente os problemas de ajuste sistêmico nos países centrais (insuficiência de demanda), mas também o acirramento da concorrência. A ET [empresa transnacional] tornou-se o principal agente de realização do processo de concentração e centralização do capital em escala global.
Partindo para 2008 o número de transações já alcança 663 no total, onde setores como educação e mercado imobiliário já despontam como “novas” receptoras de capital exterior, tudo isso se da por política e acordos assinados com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para a maior recepção de verba vindo do seguinte órgão supranacional, mas se focar apenas nos investimentos do FMI na área educacional pode ser um equivoco grosso modo de que, cada vez mais setores e setores são alavancados por diferentes fatores, sejam eles políticos ou econômicos. Diante da presença de fusões e incorporações a tabela 3 mostra dados recentes do número de transações ocorridas no ano de 2008:
Tabela 2. Apresentação de setores e quantidade de transações no ano de 2008.
Setores Quantidade de transações Porcentagem
Tecnologia de informação 73 11%
Alimentos, bebidas e fumo 54 8,1%
Educação 53 7,9%
Imobiliário 41 6,1%
Outros 92 13,8%
Fonte: KPMG 2009, dados organizados por Hamada, 2009. Partindo do contexto geral de transações ocorridas ao decorrer da década de 1990 até 2009, nota-se que apesar de nem sempre estar à frente em número de transações o setor de alimentos, bebidas e fumo se encontra em primeiro lugar, referentes ao primeiro trimestre seguido por tecnologia de informação que evoluiu gradativamente do início de 2000 até 2008, em seu número de transações, isso se da pelo avanço tecnológico cada vez mais presente.
Dinâmicas como essas apresentadas, ilustram de forma representativa o processo de internacionalização e “desnacionalização” da economia nacional, gerando assim cada vez mais discussões sobre tal processo.
ANÁLISE TERRITORIAL DAS TRANSAÇÕES NO PRIMEIRO TRIMESTRE DE 2002 Á 2008
No início do ano de 2002 a distribuição geográfica das transações estava quase que completamente uniforme, pendendo para a região do estado de São Paulo, que é, e sempre foi o maior pólo econômico industrial do país com índice de 56,5% do número de transações,
isso, se da por decorrência de maior infra-estrutura e incentivos a entrada do capital estrangeiro na região, além de que, existe um maior número empresas já instaladas no estado, estados como Rio Grande do Sul, Amazonas encontram-se com índices de transações abaixo dos 5% como apresenta o gráfico 1 a seguir:
Gráfico 1. Distribuição geográfica das transações em 2002.
FONTE: KPMG, organizado por Hamada, 2009. Um fato notável que vai evoluindo de forma gradativa ao passar dos anos é o aparecimento de estados como o Paraná, Goiás, Pernambuco nos índices de transações ocorridas, mesmo que com pouca expressividade perante os outros estados presentes no contexto, de maior número de transações ocorridas no período do primeiro trimestre de 2005, dentro do processo de entrada do capital nos estados entram fatores como as incorporações, que são de acordo com Kretzer (apud Videira, 1997) “negociações entre empresas de porte diferente (grande e pequena), sendo que a maior determinará sua identidade” (2009, p. 120). O gráfico 2 demonstra a parcela da distribuição geográfica por estados no ano de 2005:
FONTE: KPMG, organizado por Hamada, 2009. O gráfico 2 apresentado, apresenta o aparecimento de estados como Ceará e Distrito Federal, como exemplos, de que o processo de apropriação do mercado e serviços, se torna propicio para evoluções nos investimentos, brevemente irá se perceber que estados como Paraná e Santa Catarina apresentam índices maiores que os apresentados em 2005. O Paraná com cerca de 2,3% de aumento e Santa Catarina com 5,5%, quase que triplicando seu valor em 2008, muito disso se dá por decorrência da maior apropriação de bens de serviços gerados por incentivos fiscais ou por apropriação de matéria prima, porém “vale ressaltar, também, que os investimentos na área industrial têm cedido lugar aos serviços, principalmente telecomunicações, comércio varejista, energia e área financeira” (VIDEIRA, 2009, p.111).
Referindo-se ao ano de 2008, o gráfico 3apresenta alguns dos avanços nas dinâmicas do território:
FONTE: KPMG, organizado por Hamada, 2009. São Paulo, desde o ano de 2002, sempre foi superior aos outros estados na questão de transações, porém pode-se notar que mesmo sendo hegemônico o poder do estado paulista vem diminuindo gradativamente, pois a ploriferação dos bens de serviço nos demais estados, e oportunidades criadas por decorrência da incessante procura de novos mercados e novas formas de expandi-lo, geram a concorrência entre as empresas e a maior busca por empresas que colocam seu capital nas mãos de majoritários com sede de lucros.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A questão da internacionalização e evolução do mercado industrial financeiro no Brasil é um fator que cada vez mais tende a evoluir. Apresentar a evolução dos investimentos e seus setores apenas demonstra uma pequena parcela do que significa a aplicação e atuação do mercado estrangeiro na economia brasileira, que atualmente está se demonstrando capaz de interagir com seus meios e produção e mercados especificos.
A dificuldade por dados e o pouco tempo de pesquisa, proporcionou para que algumas concepções fossem deixadas de lado, porém a questão da análise regional e suas interações no processo de transações ocorridas no Brasil puderam ser notadas no seguinte trabalho, que buscou de forma sintética apresentar a análise temporal dos processos
REFERÊNCIAS
GONÇALVES, Reinaldo. Globalização e desnacionalização. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
GONÇALVES, Reinaldo, POMAR, Valter. O Brasil endividado: como nossa divida
aumentou mais de 100 bilhões de dólares nos anos 90. São Paulo: Fundação Perseu
Abramo, 2001. 47p.
____. O nó econômico. In; SADER, Emir (org) Os porquês da desordem mundial – mestres explicam a globalização. Rio de Janeiro: Record, 2003.
VIDEIRA, S.L. Globalização financeira: um olhar geográfico sobre a rede dos bancos
estrangeiros no Brasil. Guarapuava: Unicentro, 2009. 344 p.: il.
Outras fontes:
Disponível em: http://www.kpmg.com.br/publicacoes_fas.asp?ft=5&fx=16 acessado em 15 de agosto de 2009.