O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DE PEDAGOGIA: ANÁLISE DE UM PROJETO PEDAGÓGICO DE CURSO
OLIVEIRA, Natália Cristina de. (UEM) RAMPAZZO, Sandra Regina dos Reis. (UENP)
RESUMO: A importância deste estudo justifica-se em analisar o desenvolvimento do Estágio Curricular Supervisionado (ECS) na licenciatura em Pedagogia, em exemplo na Universidade Estadual do Norte do Paraná. Muito embora seja amplamente discutido, ainda manifesta as dificuldades do discente em trabalhar com a dicotomia da teoria e prática. O problema da compreensão do acadêmico nos trabalhos com esta questão implica no comprometimento de seu processo de aprendizagem, bem como na sua futura (e atual) postura profissional. Nossa preocupação deu-se devido à existência de lacunas nitidamente existentes sobre quais são as dificuldades dos discentes em trabalhar com a dicotomia entre a teoria e a prática e qual a real importância dessa ligação. Assim, aspira-se discutir sobre como é tratado o ECS por estes estudantes, e quais as medidas devem ser tomadas para alterar a visão fragmentada que muitas vezes estes têm sobre este tipo de formação. Foi realizada uma pesquisa junto aos estudantes que responderam questões, contribuindo com a discussão. Constatou-se que o estágio é condição fundamental à formação acadêmica, pois, os próprios estudantes afirmam esta questão, tendo plena clareza da essência deste processo, sendo articulado à ação educativa. A prática deve ser pensada e repensada cotidianamente, assim obteremos formações fundamentalmente debatidas e concepções educacionais bem elaboradas. O Estágio é umas das condições fundamentais à ação educativa que articula a relação entre teoria e prática determinando a construção da postura profissional. A participação da equipe docente no desenvolvimento da prática de ensino assegura uma formação consciente e favorável à apropriação de conteúdos, dando sentido à ciência da práxis educacional.
Palavras-chave: Formação de Professores. Ensino Superior. Estágio Supervisionado.
INTRODUÇÃO
As práticas pedagógicas necessitam estar em consonância com a atividade docente, pois são significativas à medida que tornam o conhecimento como algo ensinado/aprendido, sendo intencional e dialético. Para tanto, tal temática, embora ampla e continuamente debatida, ainda inquieta pesquisadores e até mesmo os estudantes envolvidos no universo educacional.
O Estágio Curricular Supervisionado (ECS) é desenvolvido em cumprimento à legislação vigente e tem regulamentação específica, neste caso do Curso em Licenciatura Plena em Pedagogia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Cornélio Procópio (UENP-CCP). A preocupação com o tema proposto emergiu
de estudos sobre a questão, bem como da reflexão de seu desenvolvimento. Assim, na maior parte deste, os acadêmicos sentem-se como meros cumpridores de carga horária. Destarte, destacamos a necessidade de maior discussão, haja vista que esta atividade tem se remetido a mera observação, regência e similares, violando a legítima e necessária proposta teórico-prática, desconsiderando a análise e contextualização do real significado da prática pedagógica.
O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES
O Estágio Supervisionado no Ensino Superior é um desafio. Desenvolvido nos últimos anos do curso, muitas vezes encontra-se sem vínculo com as atividades cursadas nos semestres anteriores, o que o transforma em uma expectativa de última chance para solucionar todas as dúvidas acumuladas (KENSKI, 2010). Ser obrigatório não assegura que ele seja devidamente explorado. Historicamente, o Estágio tem-se caracterizado como o elemento curricular responsável por assegurar a unidade teoria e prática.
[...] por estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao campo futuro de trabalho [...] por isso costuma-se denominá-lo „a parte mais prática‟ do curso, em contraposição às demais disciplinas consideradas como a „parte mais teórica‟ (PIMENTA, 2006. p.21).
E se o estágio passou a ser o responsável por assegurar tal unidade, não tem cumprido seu papel, já que seu desenvolvimento tem-se efetivado de forma burocrática, um mero cumprimento de carga horária no futuro lócus de atuação do acadêmico, sem contribuir para a reflexão dos desafios docentes, bem como da escola da contemporaneidade. A questão central é a de aumentar a prática em detrimento da teoria, ou vice-versa; o problema consiste em adotar uma forma inovadora de produzir o conhecimento dentro dos cursos.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.9394/96, em seu artigo 82, aborda sobre o estágio de forma genérica, “Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal sobre a matéria” (BRASIL, 1996). A legislação que o caput do citado artigo refere-se é a Lei 11.788/08 que, em seu artigo 1º, apregoa “Estágio é o ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos” (BRASIL, 2008). Assim, ao caracterizar-se como ato
educativo, deve constituir-se como prática social, baseando-se nos princípios da educação nacional, efetivar-se como processo educativo e formativo de cidadãos.
No que tange ao ECS na formação de professores, o reconhecemos como fundamental, pois direciona os apontamentos dos então profissionais, como agentes direcionadores de seus alunos, por sua vez agentes construtores da esfera social, já que “o homem e seu mundo, pois, são uma entidade dialética, unitária e indissolúvel” (PIMENTA, 2006, p. 85).
APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Realizamos a análise do Projeto Pedagógico do Curso (PPC) de Pedagogia, destacando os aspectos no que tange ao ECS, para evidenciar quais as preocupações da instituição para com os estudantes no que diz respeito a esta temática. O curso tem como objetivo formar o pedagogo para atuar no ensino, na organização e gestão de sistemas unidades e projetos educacionais e na produção e difusão do conhecimento, em diversas áreas da educação, tendo a docência como base de sua formação.
O PPC apresenta três “disciplinas” de estágio que fundamentam a realização deste nas instâncias escolares e não escolares e suas respectivas ementas, a saber: Estágio Supervisionado na Gestão Escolar (72 horas em sala de aula e 140 horas em diferentes instâncias escolares e não-escolares– 3º ano); Estágio Supervisionado na Educação Infantil (72 horas em sala de aula e 130 horas em instâncias escolares que ofertam tal etapa – 3º ano) e Estágio Supervisionado nos anos iniciais do Ensino Fundamental (72 horas e 130 horas em escolas que ofertam tal etapa – 4º ano).
O PPC traz também um Regulamento do Estágio organizando as questões pertinentes. Evidenciamos que o projeto é comprometido com a formação humana e emancipatória do indivíduo, abordando o ECS como uma etapa indispensável da formação acadêmica. Todavia, para além dos registros, sua implementação apresenta algumas dificuldades.
No que se refere à coleta de dados empíricos, foram colaboradores 25 (vinte e cinco) acadêmicos do 4º (quarto/último ano) do curso da IES em questão. O instrumento de coleta dos dados foi um questionário, composto por questões objetivas e dissertativas.
Inicialmente questionamos de que maneira os estudantes compreendiam o ECS na graduação. Obtivemos como respostas: 75% (setenta e cinco por cento) declararam esta ser uma etapa fundamental à garantia no desenvolvimento de sua prática
pedagógica, enquanto 25% (vinte e cinco por cento) afirmaram que tais experiências serviram apenas para suas vidas pessoal e social.
Evidenciamos que a maior parte dos estudantes garante que, mais do que auxiliar nos campos particulares, as disciplinas de estágio orientam para o desenvolvimento da prática pedagógica. Ainda em relação a este questionamento, trouxemos um recorte da Lei n.11.788, “Estágio é o ato educativo escolar supervisionado”. A partir deste fragmento indagamos se durante a graduação estes percebem as disciplinas como fator determinante para sua formação: 96% (noventa e seis por cento) responderam que „SIM‟, as disciplinas são fatores determinantes, enquanto 4% discordaram.
Analisando o PPC observamos que as disciplinas de Estágio são realizadas apenas nos dois últimos anos da graduação. Desta forma, realizamos um questionamento solicitando que apontassem as dificuldades decorrentes deste contexto e se julgavam importante que os Estágios Supervisionados iniciassem juntamente com o curso. Noventa e dois por cento afirmaram que seria muito importante que os estágios iniciassem desde o princípio da carreira acadêmica, pois da forma como se apresenta fica difícil relacionar o que se estuda com a prática nas instituições lócus.
Nas questões dissertativas, questionamos como os alunos consideravam o procedimento da prática docente frente às expectativas do universo educacional na IES, bem como, quais são as medidas que o curso de Pedagogia toma em relação à contextualização dos conteúdos na Formação de Professores. Os acadêmicos demonstraram ter expectativas do universo educacional como “redentora” dos problemas sociais, já que a maior parte dos envolvidos apontou que a concepção quanto ao curso de Pedagogia é de uma relação conteúdo-realidade, sendo assim capaz de ser voltado à transformação.
Os acadêmicos esperam poder encontrar na prática do estágio respostas recorrentes a todos os seus questionamentos, o que sabemos ser improvável. O curso de formação de professores está conseguindo trazer a prática da docência para o curso de Pedagogia, não se restringindo a uma só vertente do ensino, mas ainda assim temos as dificuldades da burocratização do Estágio, que nas suas demasiadas exigências legais, acaba por perder-se na obtenção de sua dimensão mais importante: a teórico/prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Evidenciamos que na maior parte do desenvolvimento de estágios ofertados e solicitados pela IES, com frequência os acadêmicos sentem-se confusos, assim também,
as instituições lócus de estágio, que os recebem. Desta forma, destacamos a necessidade de maior instrução, pois esta prática se remeterá a mera observação, regência e similares, violando a legítima e necessária proposta secundarizando a análise e contextualização do real significado da prática pedagógica.
Além disso, o Estágio Curricular Supervisionado é indispensável à formação acadêmica e humana. Os discentes têm, como previsto, dificuldades para lidar com as disciplinas devido à dedicação ao nível teórico e prático que esta exige. Porém, compreendem a necessidade em ter tais disciplinas em suas grades curriculares, contribuindo com o processo de aprendizagem e o desenvolvimento de suas posturas profissionais. As disciplinas de ECS, possibilitam a intervenção e a modificação da prática docente, implementando a constituição da postura, sobretudo profissional, no curso de formação de professores.
Este processo, portanto, exigirá comprometimento da IES e sua equipe docente, desempenhando um papel de valorizações destes acadêmicos a fim de que esta prática rompa as barreiras teóricas do ensino-aprendizagem, tecendo mecanismos que favoreçam e auxiliem nas atitudes necessárias para o exercício profissional em auxílio à práxis docente. Assim, proporcionaremos experiências humanas e políticas, inserindo-os definitivamente ao íntimo da prática, constituindo um Projeto Pedagógico que proporcione o estágio como pesquisa e garantia de um trabalho docente efetivo.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei nº. 11.788, de 25 DE setembro de 2008. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11788.htm. Acesso em: 28/06/2012.
_______. Lei nº. 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Fixa as Diretrizes e Bases da
Educação Nacional. Disponível em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm>. Acesso em: 02/02/2012.
KENSKI. Vani Moreira. A vivência escolar dos estagiários e a Prática de Pesquisa em Estágios Supervisionados. 2010. In: PICONEZ, Stela C. Bertholo. (coord.). A Prática de Ensino e o Estágio Supervisionado. 22. ed. Campinas: Papirus, 2010.
PARANÁ. Projeto Pedagógico de Curso de Pedagogia (PPC) – Universidade Estadual do Norte do Paraná – Campus Cornélio Procópio. 2012. Disponível em sítio da instituição: www.faficp.br.
PIMENTA. Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores: Unidade Teoria e Prática? 7. ed. São Paulo: Cortez, 2006.
