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30/09/2020

Número: 0600024-39.2020.6.17.0149

Classe: AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL

Órgão julgador: 149ª ZONA ELEITORAL DE RECIFE PE

Última distribuição : 30/09/2020

Valor da causa: R$ 0,00

Assuntos: Abuso - De Poder Político/Autoridade

Segredo de justiça? NÃO

Justiça gratuita? NÃO

Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM

Justiça Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

Partes Procurador/Terceiro vinculado

MARCELO CAVALCANTI DE SOUSA TENORIO (REPRESENTANTE)

MARIO BANDEIRA GUIMARAES NETO (ADVOGADO) DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO (ADVOGADO) MARIA STEPHANY DOS SANTOS (ADVOGADO) THIAGO DE MEDEIROS LIRA (REPRESENTANTE) MARIO BANDEIRA GUIMARAES NETO (ADVOGADO)

DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO (ADVOGADO) MARIA STEPHANY DOS SANTOS (ADVOGADO) KARLA FERNANDA FALCAO RODRIGUES DE FRAGA

(REPRESENTANTE)

MARIO BANDEIRA GUIMARAES NETO (ADVOGADO) DELMIRO DANTAS CAMPOS NETO (ADVOGADO) MARIA STEPHANY DOS SANTOS (ADVOGADO) GERALDO JULIO DE MELLO FILHO (INVESTIGADO)

BERNARDO JUAREZ D ALMEIDA (INVESTIGADO) ELEICAO 2020 JOAO HENRIQUE DE ANDRADE LIMA CAMPOS PREFEITO (INVESTIGADO)

ISABELLA MENEZES DE ROLDAO FIORENZANO (INVESTIGADO)

PROMOTOR ELEITORAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO (FISCAL DA LEI) Documentos Id. Data da Assinatura Documento Tipo 10960 141

30/09/2020 18:27 AIJE - SEDUC JOÃO (1) Petição Inicial Anexa

10956 347

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) ELEITORAL DE UMA DAS COMPETENTES ZONAS ELEITORAIS DO RECIFE, ESTADO DE PERNAMBUCO, A QUEM COUBER POR DISTRIBUIÇÃO.

A COLIGAÇÃO MUDANÇA JÁ (PODEMOS e CIDADANIA), devidamente qualificada junto à Justiça Eleitoral, através dos seus advogados in fine assinados (instrumento procuratório depositado em todos os cartórios eleitorais da capital), e os candidatos THIAGO DE MEDEIROS LIRA, solteiro, administrador, inscrito no CPF: 062.096.044-20, RG: 6.101.479, residindo na Rua Corretor José Pedro da Silva, 681, Janga, Paulista e KARLA FERNANDA FALCÃO RODRIGUES DE FRAGA, CPF 086.455.724-86, RG 8.208.997, Rua da Aurora, 999, Santo Amaro, Recife - PE. CEP: 50040-090, cujo instrumento procuratório será posteriormente apresentado, vem, à presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL COM PEDIDO LIMINAR, com respaldo no art. 22, da LC 64/90, em desfavor do Senhor GERALDO JÚLIO DE MELO FILHO, brasileiro, casado, administrador, portador da Carteira de Identidade n. 3.339.887 SDS/PE e CPF/MF n. 756.252.294-49, Prefeito do Recife/PE, com endereço profissional na Avenida Cais do Apolo, n. 925, Bairro do Recife, Recife/PE; do Senhor BERNARDO JUAREZ D’ ALMEIDA, brasileiro, servidor público, portador da cédula de identidade nº. 4.024.445 SSP/PE e inscrito no CPF sob o nº. 857.537.854-68, no exercício do cargo público de Secretário de Educação da Prefeitura do Recife/PE, com endereço no edifício sede da Prefeitura, bem como, em desfavor dos candidatos a Prefeito e Vice-Prefeita do Recife/PE, JOÃO HENRIQUE DE ANDRADE LIMA CAMPOS, brasileiro, solteiro, candidato a Prefeito do Recife, inscrito no CNPJ n. 38.576.727/0001-94, com endereço na Rua Luiz da Mota Silveira, n. 121, Dois Irmãos Recife/PE, CEP 52.171-021 e ISABELLA MENESES DE ROLDÃO FIOREZANO, brasileira, casada, advogada, inscrita no CPF/MF nº 882.717.494-04 e no RG nº 3.882.273 SDS/PE, ambos residentes e domiciliados à Rua Bianor de Medeiros, nº. 65, Apto. 401, Poço da Panela, Recife-PE, CEP: 52.061-120, ambos da COLIGAÇÃO FRENTE POPULAR DO RECIFE (PSB, PDT, PV, MDB, AVANTE, PROS, PP, PC do B, REDE SUSTENTABILIDADE e SOLIDARIEDADE), formada para o pleito majoritário de 2020, pelos fatos e fundamentos adiante aduzidos.

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1. DA LEGITIMIDADE, CABIMENTO E TEMPESTIVIDADE:

Ab initio, façamos análise do dispositivo que torna legítima e cabível a presente

demanda (art. 22, da LC 64/90). Vejamos:

Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Ministério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização indevida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político, obedecido o seguinte rito: (...)

Logo, Excelência, vê-se que, à luz do dispositivo acima colacionado, a legitimidade é perfeitamente delineada, em razão da documentação já arquivada nesta exordial, inconteste que a parte autora atende aos requisitos exigidos pela norma. De igual modo, no que tange ao cabimento, este petitório se encontra adequado e necessário, posto que as razões fático-jurídicas que serão discutidas em sucessão permitem a judicialização dos atos abusivos praticados pelos Investigados em benefício de suas candidaturas e partidos políticos, culminando no pedido de abertura de investigação judicial para apuração dos fatos expostos.

A ação investigatória eleitoral busca alcançar a verdade formal, quod non est in

actis non est in mundo, portanto, segue, subsidiariamente e supletivamente, o Código de

Processo Civil. No que tange à tempestividade, esta se mostra devidamente respeitada, já que a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral é uníssona no sentido de que a ação de investigação judicial pode ser ajuizada até a data da diplomação dos candidatos eleitos e no atual momento sequer ocorreu a votação.1

Deve, pois, ser plenamente recebida e processada a presente demanda, sob pena de se vilipendiar o ordenamento jurídico vigente, em especial o dispositivo retro transcrito.

2. DO BREVE ESCORÇO FÁTICO:

A Prefeitura do Recife, através da Secretaria de Educação (Seduc), com objetivo de fomentar a educação e promover a igualdade entre os estudantes em toda a sua rede de ensino, criou o programa “Escola do Futuro em Casa”. Trata-se de projeto pedagógico com objetivo de beneficiar os 12.500 alunos de Anos Finais (6º ao 9º ano), informações coletadas no sítio eletrônico http://www2.recife.pe.gov.br/noticias/05/06/2020/com-programa-escola-do-futuro-em-casa-prefeitura-do-recife-promove-igualdade-no.

Consoante informado pela própria Prefeitura do Recife, a execução do projeto se dá com três interações diárias dos alunos com os professores, com intervalo de 30 minutos

1 Agravo regimental no recurso especial. Captação ilícita de sufrágio. Possibilidade de ajuizamento de ação de investigação

judicial eleitoral até a data da diplomação. Coligação. Legitimidade. Precedentes. Manutenção da decisão atacada. Agravo regimental ao qual se nega provimento. AGR-RESPE nº 35721 de 19.08.10, Rel. Min. Cármen Lúcia Antunes Rocha).

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entre elas, sendo quatro interações diárias no caso das escolas em tempo integral, com o mesmo intervalo de tempo. A aprendizagem é avaliada pela Atividade Semanal Digital, o livro didático de atividades, além da avaliação que cada professor fará em sala de aula. Cinge-se, inclusive, mencionar que tais atividades são indubitavelmente custeadas com o erário público tendo, assim, a educação um caráter preciso na formação do cidadão Recifense.

Chama atenção por óbvio e de logo que a pandemia do covid-19 na medida que exigiu da rede pública e particular de ensino brasileira uma nova readequação para a continuidade das suas atividades, trouxe dentro desse necessário amadurecimento ao novo normal e a obrigatória interação dos alunos com seus familiares e/ou apoiadores residenciais. Fato público, notório e sentido por toda a sociedade brasileira.

Assim, observamos que a Prefeitura do Recife, afora a interação aluno-professor, vem disponibilizando material didático para que o aluno possa acompanhar as aulas e realizar as atividades de aprendizado nas suas residências, o que o faz através do link https://educ.rec.br/escoladofuturoemcasa/.

Pois bem. Eis que de bela e necessária iniciativa surge a mesquinha e horrenda atuação político-partidária no seio da educação das crianças e jovens do ensino público do Recife.

Há um interesse latente da gestão socialista (PSB) na Prefeitura do Recife de incutir em seus alunos, professores, pais e todos que tenham acesso às cartilhas, manuais e apostilas digitais a mensagem de atrelar o exercício do sufrágio universal (voto) à necessária indicação do seu candidato, qual seja, o João Campos.

Nessa ação, em especial, o conteúdo exposto no Plano de Estudo, válido para a 15ª semana, do 6º ano, apresenta material teórico e questões avaliativas relacionadas às disciplinas de Artes, Ciências, Educação Física, Geografia, História, Inglês, Matemática e Língua Portuguesa, consoante atesta e assevera o link https://educ.rec.br/escoladofuturoemcasa/wp-content/uploads/2020/06/Plano-de-Estudo-6%C2%BA-ano-15a-semana-FINALIZADO.pdf.,

em anexo à presente exordial e

disponibilizado no link eletrônico acima, o material tido como estudo

pedagógico merece destaque, principalmente, o conteúdo posto às folhas 11,

especificamente no tópico “Atividade Semanal Digital”, que contém charge

retratando/simulando uma campanha eleitoral, com um carro em destaque nas

cores vermelha e amarela, conhecidas e utilizadas pela sigla do PSB, com os

seguintes dizeres: “Vote João”. Sinalizando o candidato, ora investigado.

A Secretaria de Educação e a Prefeitura do Recife com nítido propósito de desequilibrar o certame das eleições 2020 na cidade, violaram preceitos éticos, morais, buscando de forma dissimulada influenciar o eleitorado recifense, seus alunos e familiares. Na parte avaliativa do mesmo tópico, a questão indaga ao aluno acerca do período vivido,

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fornecendo as seguintes hipóteses de resposta: a) carnaval; b) campanha eleitoral; c) campeonato de futebol; d) festas juninas. Ou seja, não há como afastar a respectiva atividade encaminhada aos alunos do atual pleito de 2020, senão vejamos:

A imagem retrata, claramente, a época eleitoral. Atente-se às várias menções ao termo “vote”, bem como destaque-se o carro amarelo em que consta os dizeres “Vote João”. E não há o que falar em mera coincidência com o nome do candidato do PSB, ora Investigado, eis que sua pré-candidatura é conhecida há anos, antecipada por seu partido desde sempre.

A Secretaria de Educação, órgão público, apresentou charge em nítido favorecimento ao candidato à prefeito da cidade, João Campos, integrante do partido e do grupo político que governa a Prefeitura do Recife. Ou seja, mesmo sabendo da impossibilidade de utilizar a máquina pública em favor de qualquer tipo de candidatura, seja no intuito da reeleição, seja para beneficiar outro candidato, os investigados se valeram da pandemia do

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covid-19 e, através das aulas on-line ministradas para os alunos da rede pública, utilizaram material propagandístico para fomentar a futura candidatura de João Campos, ora investigado.

Repita-se, não há o que falar em coincidência, muito menos que o nome João é comum e afeto ao linguajar da educação da cidade, eis que não tiveram qualquer cuidado ou interesse em disfarçar o verdadeiro objetivo – qual seja angariar votos a partir do uso da máquina pública, afinal, até as cores e os dizeres retratados na charge nos direcionam ao Partido Socialista Brasileiro.

A Justiça Eleitoral não pode dar guarida a expedientes desta natureza, a pandemia do covid-19 revolucionou a sociedade em geral e, principalmente, o método do ensino brasileiro, portanto, não pode a máquina pública servir de meio para fomentar e beneficiar candidaturas, ou seja, a Prefeitura do Recife revolucionou a forma de incutir os seus destinatários a partir de material pedagógico com nítida propaganda antecipada de seu candidato.

Não bastasse o pedido expresso de voto para “João”, o material foi disponibilizado para a semana 15 do Plano de Estudos, ou seja, foi entregue aos alunos há mais ou menos 40 dias, isto é amplamente constatável no sítio eletrônico, o qual atesta as datas de sua veiculação.

O material tido como pedagógico e educativo encontra-se online e ao dispor da rede escolar municipal e sem qualquer óbice para o acesso irrestrito por parte da sociedade. Não há qualquer acanhamento ao pedido explícito e extemporâneo de voto para “João”, através de material escolar e institucional cujo alcance é impensável, isso partindo da precária informação de que os alunos do sexto ano somam quase 3.500 (três mil e quinhentos) alunos.

Inegável ainda asseverar que os alunos dedicados ao sexto ano escolar, sobretudo em tempos de pandemia, precisam do auxílio dos pais para o devido e correto aprendizado da matéria. O auxílio faz-se necessário não apenas no caráter pedagógico, mas, também, no caráter tecnológico, já que nem todas as crianças, principalmente da rede pública de ensino, dispõem de intimidade no manuseio de aparato tecnológico.

Ao vincular a participação dos pais/tutores no aprendizado dos alunos, o material pedagógico é disponibilizado para uma elevada quantidade de eleitores do Município. Se considerarmos que apenas dois eleitores ajudam cada criança do 6º ano, temos uma situação em que aproximadamente 7.000 (sete mil) eleitores foram expostos à charge do “Vote João”.

Evidencia-se, assim, que o material pedagógico disponibilizado aos alunos da rede municipal de ensino os dizeres “Vote João”, com as cores do partido político do atual Prefeito do Recife e do candidato às eleições 2020, induz, claramente, o eleitorado a votar no candidato apoiado pelo grupo político que o Prefeito do Recife integra.

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3. DO MÉRITO:

3.1. DO ABUSO DO PODER POLÍTICO:

É de suma importância detalhar que apenas os agentes públicos (servidores em geral) podem cometer esta prática abusiva eleitoral, haja vista que o agente se valerá de seu cargo para beneficiar a sua candidatura (ou de terceiro) durante o pleito eleitoral.2 Celso Antônio Bandeira de Mello explica, de maneira didática, quem pode ser considerado como agente público, in verbis:

Agentes políticos são os titulares de cargos estruturais à organização política do País, ou seja, ocupantes dos que integram o arcabouço constitucional do Estado, o esquema fundamental do Poder. Daí que se constituem nos formadores da vontade superior do Estado. São agentes políticos apenas o presidente da República, os Governadores, Prefeitos e respectivos vices, os auxiliares imediatos dos Chefes do Executivo, isto é, Ministros e Secretários das diversas Pastas, bem como os Senadores, Deputados federais e estaduais e Vereadores. O vínculo que tais agentes entretêm com o Estado não é de natureza profissional, mas de natureza política. Exercem um múnus público[...]

A Relação jurídica que os vincula ao Estado é de natureza institucional, estatutária. Seus direitos e deveres não advêm de contrato travado com o Poder Público, mas descendem diretamente da Constituição e das leis. Donde, são por elas modificáveis, sem que caiba procedente oposição às alterações supervenientes, sub colorde que vigoravam condições diversas ao tempo das

respectivas investiduras.3

Em uma apertada análise, a doutrina classifica como sendo agentes políticos: o Presidente da República, o Senador, o Governador, o Deputado Estadual, Federal e Distrital, o Prefeito, o Juiz, o Ministro, os representantes diplomáticos, os Conselheiros e Ministros do tribunal de contas. Caldas descreve que os titulares se valem de seus cargos eletivos no intuito de obter vantagem na disputa eleitoral.4 Agra, corroborando com esse entendimento, conclama que: “o abuso do poder político ocorre nas situações em que o detentor do poder,

valendo-se de sua posição privilegiada em órgãos estatais, tenta influenciar o eleitor, em detrimento da liberdade de voto”.5

Não há um rol taxativo (numerus clausus) que descreva quais tipos de condutas serão consideradas como abuso de poder político (paira um subjetivismo – conceito jurídico aberto). O Tribunal Superior Eleitoral ao analisar o RE nº 83.302, sob a relatoria do Ministro João Otávio Noronha, reverberou o seguinte entendimento:

2O eleitoralista Djalma Pinto explica: “O processo eleitoral compreende todos os atos necessários à formação da representação

popular. Esses atos vão da constituição do colégio eleitoral à diplomação dos eleitos ou, se existirem ações para sua desconstituição, a decisão cassando ou não o mandato.” (PINTO, Djalma. Direito Eleitoral: improbidade administrativa e responsabilidade fiscal. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2010. p. 205).

3 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 21. ed. São Paulo: Malheiros, 2006. p. 274.

4CALDAS, Felipe Ferreira Lima Lins. Abuso de poder, igualdade e eleição: o Direito Eleitoral em perspectiva. Belo Horizonte: Del

Rey, 2016. p. 126-127.

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[...] Ação de investigação judicial eleitoral. Abuso de poder político. Não configuração. [...] 1. Consoante a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, o abuso do poder político caracteriza-se quando determinado agente público, valendo-caracteriza-se de sua condição funcional e em manifesto desvio de finalidade, compromete a igualdade da disputa eleitoral e a legitimidade do pleito em

benefício de sua candidatura ou de terceiros. Precedentes. [...]6

O Município do Recife vem sendo governando pelo Partido Socialista Brasileiro – PSB há 08 (oito) anos, duas gestões. Diante da impossibilidade da segunda reeleição por parte do atual prefeito, a legenda lançou o nome de João Campos, atual Deputado Federal pela mesma legenda do Prefeito do Recife. Ocorre que, mesmo sabendo da impossibilidade de utilizar a máquina pública em favor de qualquer tipo de candidatura, seja no intuito da reeleição, seja para beneficiar outro candidato, os investigados se valeram da pandemia do covid-19 e, através das aulas on-line ministradas para os alunos da rede pública, utilizaram material propagandístico para fomentar a futura candidatura de João Campos, ora investigado.

O que torna ainda mais grave é que a propaganda utilizada no material educativo ainda se utiliza das cores do partido – PSB, senão vejamos o comparativo:

6 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Agravo Regimental no Recurso Especial Eleitoral nº 83302. Relator: Min. João Otávio de

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Imagem utilizada pela Secretaria de Educação da Prefeitura do Recife em um dos seus portfólios tidos como pedagógicos e direcionados aos alunos do sexto ano:

Ou seja, resta clarividente o uso da máquina pública e o investimento do erário da cidade do Recife para confeccionar material propagandístico em favor da candidatura de João Campos e, ainda, utilizando-se da estrutura do polo educacional da cidade para angariar votos dos familiares, tutores, orientadores e simpatizantes dos alunos da rede de ensino municipal.

Nunca é demais repetir que os investigados estão se utilizando da máquina pública para fins de propagação da candidatura de João Campos. No caso, o abuso político é o gênero e a conduta perpetrada pelos investigados a espécie (conduta vedada). Portanto, a conduta narrada merece o rechaço desta justiça especializada, pois os investigados encontram-se malferindo regras basilares e, notadamente, a higidez e a lisura do pleito eleitoral de 2020.

3.2. DA PROPAGANDA INSTITUCIONAL EM PERÍODO ELEITORAL. DO ABUSO DE PODER:

Compreende-se que o gestor público não pode se valer do uso da máquina pública para fins pessoais, ou seja, quem exerce o poder não o faz em nome próprio.7 A realização de conduta vedada atinge de forma atroz a paridade de armas entre os candidatos, e a sua subsunção se perfaz a partir da adequação típica material e da relevância ou relevância mínima.

7CLÈVE, Clemerson Merlin; SCHIER, Paulo Ricardo; RECK, Melina Breckenfeld. Vedação de propaganda institucional em período

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Propaganda institucional é o modo de divulgação, de forma honesta e verídica, da transparência da gestão estatal. José Jairo Gomes8, nesse sentir, dispõe que “deve ostentar

caráter educativo, informativo e de orientação social. Ademais, há mister seja custeada com recursos públicos e autorizada por agente estatal”. Segundo Igor Pinheiro, na prática, a

propaganda institucional tem sido desvirtuada no período eleitoral e tem servido, notadamente, como valioso instrumento de divulgação pessoal do gestor de plantão ou de seus aliados políticos, maculando, inequivocamente, o pleito eleitoral.9

A legislação eleitoral, no tocante a propaganda institucional, traz três tipos de vedação: a) a vedação de seu uso nos três meses que antecedem o pleito; b) veda os gastos em montante superior aos limites do primeiro semestre eleitoral e; c) regulamenta a forma de veiculação da mídia.

Dispõe no art. 73, inc. VI, alínea b, da Lei nº 9.504/97, que é conduta vedada ao agente público, nos três meses anteriores ao pleito eleitoral, autorizar este tipo de publicidade, salvo caso grave e urgente, vejamos:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

(...)

VI - nos três meses que antecedem o pleito: (...)

b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

Destaque-se que, para a caracterização do ilícito, a publicidade institucional não precisa ter caráter eleitoreiro, tampouco é relevante a sua forma de veiculação, bastando ser realizada dentro do período vedado, conforme precedente abaixo destacado:

“Basta à veiculação de propaganda institucional nos três meses anteriores ao pleito para

que se configure a conduta vedada no art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/97, independentemente de a autorização ter sido concedida ou não nesse período (TSE - AG: 4365 SP, Relator: Min.

ELLEN GRACIE NORTHFLEET, Data de Julgamento: 16/12/2003, Data de Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 1, Data 13/02/2004, Página 94 RJTSE - Revista de Jurisprudência do TSE, Volume 15, Tomo 1, Página 109)”

No caso ora denunciado, a publicação institucional em período vedado está sendo veiculada através de diversas publicações de material educacional destinado a milhares

8GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 13ªed. São Paulo: Atlas, 2017, p.782

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de alunos da rede escolar municipal, confeccionado com dinheiro público e utilizando-se, inclusive, do uso de símbolo do governo municipal, senão vejamos:

Observa-se, inclusive, que a referida propaganda institucional objurgada não traz qualquer tipo de informação contra o coronavírus ou mesmo dados essenciais para fins de controle social, mas, sim e em contraponto, denota o caráter de divulgação pessoal, em clarividente favorecimento à campanha do atual candidato João Campos. Estamos diante de um PEDIDO EXPLÍCITO DE VOTOS PARA O CANDIDATO JOÃO, coincidindo até mesmo as cores do partido político do candidato, vermelha e amarela, constante de material pedagógico fornecido a milhares de alunos da rede municipal de ensino.

Some-se a isso que, segundo o portal da transparência da respectiva edilidade pública, a propaganda, ora contestada, está sendo custeada através de recursos públicos. Logo, estar-se-ia utilizando da estrutura da máquina pública para a veiculação de propagação institucional em benefício e favorecimento da candidatura do Sr. João Campos.

Destarte, o que importa, no presente caso, para fins de subsunção da conduta à norma é a data em foi realizada a sua veiculação. A propaganda, in casu, foi realizada em menos de três meses do pleito eleitoral do Município do Recife, sendo veiculada através de sistema educacional custeado a partir de fonte financeira pública, mesmo que sem intenção de beneficiar determinada candidatura. O TSE já se manifestou no sentido de conhecer o caráter ilegal da propaganda institucional em benefício e enaltecimento do respectivo gestor:

“(...)Nessa linha de compreensão, este Tribunal já se manifestou no sentido de que é “vedada

a veiculação de publicidade institucional nos três meses que antecedem o pleito, independentemente de haver em seu conteúdo caráter informativo, educativo ou de

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orientação social”[...](TSE - AI: 49130201661900000027 NOVA IGUAÇU - RJ, Relator: Min. Edson

Fachin, Data de Julgamento: 01/07/2020, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 156, Data 06/08/2020)

“Basta à veiculação da propaganda institucional nos três meses anteriores ao pleito,

independentemente de a autorização ter sido concedida ou não nesse período” (TSE M- REsp

nº 25.096/MG328385/GO – DJe 3-3-2016, p.101);

E mais:

RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2010. DEPUTADO ESTADUAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). ART. 22 DA LC 64/90. USO INDEVIDO DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL. CONFIGURAÇÃO. POTENCIALIDADE LESIVA. INAPLICABILIDADE DA LC 135/2010. PARCIAL PROVIMENTO.

1. A representação por propaganda eleitoral antecipada e a AIJE constituem ações autônomas, com causas de pedir e sanções próprias. Assim, a procedência ou improcedência de uma não é oponível à outra. 2. Fatos anteriores ao registro de candidatura podem configurar uso indevido dos meios de comunicação social, visto que compete à Justiça Eleitoral zelar pela lisura das eleições. Precedentes.

3. O uso indevido dos meios de comunicação caracteriza-se, na espécie, pela veiculação de nove edições do Jornal Correio do Vale, no período de março a julho de 2010, nos formatos impresso e eletrônico, com propaganda eleitoral negativa e graves ofensas pessoais a Sebastião Pereira Nascimento e Carlos Eduardo Vilela, candidatos aos cargos de deputados estadual e federal nas Eleições 2010, em benefício do recorrido - único editor da publicação e candidato a deputado estadual no referido pleito.

4. Na espécie, a potencialidade lesiva da conduta evidencia-se pelas graves e reiteradas ofensas veiculadas no Jornal Correio do Vale contra os autores da AIJE, pelo crescente número de exemplares distribuídos gratuitamente à medida que o período eleitoral se aproximava e pelo extenso período de divulgação da publicação (5 meses).

5. A procedência da AIJE enseja a inelegibilidade para as eleições que forem realizadas nos 3 (três) anos subsequentes ao pleito em que ocorreu o ato abusivo, nos termos da redação originária do art. 22, XIV, da LC 64/90.

6. Recurso ordinário parcialmente provido.

(Recurso Ordinário nº 938324, Acórdão de 31/05/2011, Relator(a) Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 01/08/2011, Página 231/232 )

De mais a mais, os investigados fizeram uso do sistema educacional custeado pelo erário público e aproveitando-se da pandemia do novo COVID-19, para fazer promoção pessoal de candidatura de filiado à legenda do PSB, não tendo as referidas publicações conteúdo exclusivamente informativo e de orientação, o que é vedado não somente neste crítico momento vivenciado, mas, sim, sempre:

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ELEITORAL. CONDUTAS VEDADAS A AGENTES PÚBLICOS. PUBLICIDADE INSTITUCIONAL. ART. 73, VI, b, e VII, DA LEI Nº 9.504/97. PANDEMIA DO NOVO CORONAVÍRUS. GRAVE E URGENTE NECESSIDADE PÚBLICA. POSSIBILIDADE EXCEPCIONALIDADE PRESENTE. LIMITES LEGAIS DOS GASTOS COM PUBLICIDADE INSTITUCIONAL ESPECÍFICA. PUBLICIDADE RESTRITA AO COMBATE À PANDEMIA, SEM PROMOÇÃO PESSOAL DO AGENTE PÚBLICO. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. 1. Dispõe o art. 73, inc. VI, b, da Lei 9.504/97, a vedação quanto à realização de publicidade institucional por órgão municipal, nos três meses que antecedem as eleições, salvo se reconhecida pela Justiça Eleitoral grave

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e urgente necessidade pública que autorize a continuidade da propagada pela edilidade, durante o período compreendido na coibição legal. 2. Hipótese em que, em razão da pandemia da COVID-19, se faz presente à ressalva legal da continuidade da publicidade institucional no período vedado, desde que restrita. ao combate e prevenção à enfermidade que assola o país, por uma questão de saúde pública. 3. "A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos" (art.37, §1º, CF/1988). 4. O limite financeiro para gastos com propaganda institucional, no primeiro semestre de ano eleitoral, rege-se por critério objetivo, previsto no art. 73, VII, da Lei 9.504/97, no qual não se observa qualquer ressalva legal assentada àquele parâmetro, não cabendo, pois, ao Poder Judiciário criar hipótese de exceção não prescrita pelo legislador. 5. A propaganda deve ser realizada exclusivamente para fins de orientação e informação da população sobre a COVID19, servindo a autorização da Justiça Eleitoral apenas para afastar a questão do limite temporal de proibição de veiculação da propaganda institucional 03 meses antes do pleito (ou seja, permitindo que seja realizada mesmo entre os meses de julho e a data das eleições), previsto no artigo 73, inciso VI, "b", da Lei nº 9.504/97, respeitando-se, em todo caso, as diretrizes do artigo 37, §1º da CF, assim como a impossibilidade de o Município não extrapolar as despesas efetuadas dentro dos limites impostos pelo inciso VII, ao art. 73 do mesmo diploma legislativo. 6. Recurso não provido.

(TRE-SE - RE: 060010792 ITAPORANGA D'AJUDA - SE, Relator: RAYMUNDO ALMEIDA NETO, Data de Julgamento: 05/08/2020, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 142, Data 10/08/2020, Página 17/18) inteiro teor no pen drive.

Cristalino que tais condutas acima mencionadas caracterizam abuso de poder político, que na esfera eleitoral “compreende-se o mau uso de direito, situação ou posição jurídica com vistas a se exercer indevida e ilegítima influência em dada eleição”10. Os agentes públicos devem guardar obediência aos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, esculpidos no art. 37, da CF/88, não devendo a máquina pública ser colocada a serviço das candidaturas no pleito eleitoral, o que desvirtua a ação estatal.

Diante dos fatos apresentados, verifica-se claro o desequilíbrio do pleito causado em favor do candidato João Campos, PSB 40, ferindo o sufrágio universal e a livre escolha do voto, uma vez que houve a utilização da máquina pública em favor de sua candidatura, conforme se depreende das provas colacionadas à presente ação eleitoral. Portanto, ante a verificação clara e evidente do abuso de poder político, a partir do cometimento de conduta vedada pelos investigados, cabe, assim, a aplicação das sanções do inciso XIV da do art. 22 da LC 64/90.

4. DA GRAVIDADE DA CONDUTA DOS INVESTIGADOS:

O eleitoralista Alvim sustenta que “o abuso político pode ser conceituado como

toda ação ou omissão perpetrada por agente público, num contexto eleitoral, em desrespeito a comando jurídico normativo, idônea a, por sua gravidade, ofender a normalidade e/ou a legitimidade das eleições, em benefício ou detrimento de uma determinada candidatura”.11

10GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 13ªed. São Paulo: Atlas, 2017, p.321

(14)

Até meados de 2010, antes do advento da LC 135/2010 – Lei da Ficha Limpa –, averiguava-se se a conduta abusiva possuía, ou não, potencialidade12 de interferir na legitimidade e normalidade com esteio de influir, diretamente, no resultado das eleições como, por exemplo, no RO n. 781/RO - DJ 18/11/2005, em que restou consignado que “para

a configuração do ilícito previsto no Art. 22 da LC n. 64/90, é necessário aferir se o fato tem potencialidade ou probabilidade de influir no equilíbrio da disputa, independentemente da vitória eleitoral do autor ou do beneficiário da conduta lesiva”. Nessa perspectiva,

sentenciavam os Tribunais Regionais: “Não-comprovação de potencialidade lesiva suficiente

para caracterizar os ilícitos capitulados no art. 22 da LC n. 64/90. Não-configuração de abuso de poder econômico e político, e de uso indevido do poder de autoridade [...] Recurso a que se nega provimento”.13

Contudo, houve uma virada jurisprudencial positiva (com base na legalidade), após o advento da ficha limpa, e agora se busca analisar a gravidade das circunstâncias que o caracterizam.14 A propaganda institucional com fins eleitorais, atestadas e devidamente provadas – com imagens em anexo a este petitório, comprovam a gravidade da conduta perpetrada pelos investigados, os quais estão concorrendo ao pleito eleitoral de 2020 da capital do Estado de Pernambuco Recife/PE, utilizando-se da máquina pública para fins de obtenção de vantagem e desequilibrar o pleito eleitoral. A aferição da gravidade, para fins da caracterização do abuso de poder, deve levar em conta as circunstâncias do fato em si, não se prendendo a eventuais implicações no pleito, muito embora tais implicações, quando existentes, reforcem a natureza grave do ato.15

12 O étimo da palavra potencialidade vem do latim potens e quer dizer aquele que tem o poder. Partindo desse pressuposto o

processo eleitoral visava coibir qualquer tipo de abuso de poder que tinha como fim precípuo macular a igualdade e, principalmente, o equilíbrio das eleições, pois afastava àquele que usava a máquina pública (abuso político) ou àquele que utilizava de recursos financeiros (abuso econômico) ou mesmo que se beneficiava indevidamente dos meios de comunicação para conquistar votos.

13 BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral (MG). Recurso Eleitoral nº 237/2005 MG. DJEMG - Diário da Justiça Eletrônico do TRE-MG,

p. 102, 25 mar. 2005.

14"Eleições 2010. [...]. Uso indevido dos meios de comunicação social. Inelegibilidade. Incidência. LC nº 135/2010. 1. Em AIJE foi

julgado procedente o pedido para cassar o diploma do primeiro Recorrente e decretar sua inelegibilidade. No período de disputa eleitoral, quando apenas era permitida propaganda eleitoral gratuita em rádio e TV, foram concedidas entrevistas pelo candidato e por terceiro em seu benefício e veiculada campanha promovida pela TV Serra Azul. 2. É desnecessário, em AIJE, atribuir ao réu a prática de uma conduta ilegal, sendo suficiente o mero benefício eleitoral angariado com o ato abusivo e a demonstração da gravidade da conduta. Precedente. 3. Na compreensão desta Corte fica afastado o pleito de majoração da sanção de inelegibilidade de três para oito anos, considerada decisão do Supremo Tribunal Federal. [...]" (BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Recurso Ordinário nº 406492 MT. Relator: Min. Laurita Vaz. DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 31, p. 97-98, 13 fev. 2014). RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL. PRELIMINARES. REJEITADAS. ABUSO DE PODER POLÍTICO E ECONÔMICO. COR DE CAMPANHA. USO DE BEM PÚBLICO. CONDUTAS VEDADAS. GRAVIDADE DAS CIRCUNSTÂNCIAS. DESEQUILÍBRIO NO PLEITO. AUSÊNCIA DE PROVA ROBUSTA. 1. Para a configuração de abuso de poder político, os requisitos previstos na legislação de regência devem ser comprovados a partir de elementos probatórios incontestes. 2. A utilização predominante de cores em propaganda em prédios públicos, que lembrem as usadas em campanha eleitoral, são insuficientes para demonstrar potencialidade lesiva a caracterizar a propaganda subliminar. 3. Para o reconhecimento da relevância jurídico-eleitoral do ato abusivo é necessária demonstração da gravidade das circunstâncias que o caracterizam (Lei Complementar nº 135, de 2010, que acrescentou o inciso XVI ao artigo 22 da LC nº 64, de 1990); 4. As provas carreadas não servem para se constatar abuso de poder político ou econômico consistentes na distribuição de materiais proibidos ou outras condutas vedadas, por ocasião das eleições municipais do ano de 2012.

(BRASIL. Tribunal Regional Eleitoral (PE). Recurso Eleitoral nº 16080 PE. Relator: Frederico José Matos de Carvalho. DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 089, p. 3-4, 16 maio 2014).

15TSE, Recurso Especial Eleitoral nº 19847, Relator Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, DJE Data

(15)

Assim, na medida em que resta demonstrada a gravidade da conduta dos investigados em relação a paridade do pleito, bem como diante da grande utilização da máquina pública com a finalidade político-eleitoral, há nitidamente um grande potencial que tais condutas alterem o resultado da eleição, ante a gravidade das circunstâncias que o caracterizam. Portanto, cabe a esta Justiça Especializada reconhecer e rechaçar tais condutas em prol da legitimidade e lisura do pleito eleitoral de 2020, no Município do Recife/PE.

5. DA MEDIDA DE URGÊNCIA:

5.1. DA TUTELA CAUTELAR INIBITÓRIA. DA PROIBIÇÃO DE REPETIÇÃO DE CONDUTA SEMELHANTE – ART. 497, CPC. DA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA NO PROCESSO ELEITORAL (ART. 15, CPC):

A tutela inibitória no âmbito da Justiça Eleitoral adveio da demanda por técnicas processuais que permitam a garantia da efetividade dos direitos dos cidadãos, que se consubstancia, também, na prevenção de ilícitos. Pode-se dizer que a tutela inibitória pode ser conceituada como um provimento jurisdicional que visa impedir a prática, a continuação, ou a repetição de um ato ilícito (ou antijurídico), possibilitando de forma definitiva, por meio de cognição exauriente, a fruição in natura do direito pelo autor da ação - de acordo com o direito substancial previsto no ordenamento jurídico.16

In casu, observa-se que os investigados estão se valendo de sistema operacional

do setor da educação municipal para difundir propaganda institucional em favorecimento da candidatura de João Campos no pleito de 2020, utilizando-se, assim, da máquina pública em benefício de determinado candidato. Há, portanto, uma conduta a ser afastada, com base no art. 497, CPC, o qual possui aplicação subsidiária no processo eleitoral, conforme se extrai do art. 15, CPC, sob pena de multa e do reconhecimento da reincidência, já que a sua manutenção ensejará em nítido desequilíbrio na paridade de armas na eleição de 2020.

Insta mencionar, inclusive, que, desde a vigência do Código de Processo Civil, a Justiça Eleitoral já reconheceu a possibilidade de utilização desta tutela inibitória com fins, notadamente, de obstar a prática e continuação de ilícitos que visam prejudicar a lisura, higidez e equilíbrio do pleito. O Tribunal Superior Eleitoral já assentou a viabilidade de sua utilização no âmbito do processo eleitoral, senão vejamos o excerto abaixo:

Eleições 2018. Ação cautelar. 1. Pedido de efeito suspensivo a recurso especial. 2. Representação por conduta vedada. 3. Pendência do exercício do juízo de admissibilidade do apelo nobre na origem. 4. Excepcionalidade verificada. Precedente. 5. Tutela inibitória confirmada pelo

acórdão regional, consistente na proibição de mencionar programa social regularmente em curso durante a campanha eleitoral. (TSE - AC: 06013962720186000000 Cuiabá/MT, Relator: Min. Geraldo Og Niceas Marques Fernandes, Data de Julgamento: 01/10/2018, Data de Publicação: PSESS - Mural eletrônico - 01/10/2018) Roberto Requião de Mello e Silva, Cleusa

Rosane Ribas Ferreira e a Coligação Paraná com Governo interpuseram agravo em recurso especial (fls. 405-418) em face do acórdão do Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (fls. 226-236)

16 FARIA, Daniela Lopes de; PINTO, Edson Antônio Sousa Pontes. A tutela inibitória e os seus fundamentos no novo Código de

(16)

que manteve a sentença (fls. 183-192) que julgou procedente representação por afronta ao art. 45, II, da Lei das Eleicoes e ao art 242 do Código Eleitoral, a fim de condená-los - de forma solidária - ao pagamento de multa pecuniária no valor de R$ 150.000,00, ante o descumprimento de tutela inibitória liminarmente deferida. [...] Ademais, até então, a disputa entre os candidatos Beto Richa e Roberto Requíão estava acirrada e polarizada, merecendo ser coibidais com rigor pelo Poder Judiciário as propagandas e atitudes contrárias à legislação eleitoral. (TSE - AI: 33202020146160000 Curitiba/PR 110082015, Relator: Min. Henrique Neves Da Silva, Data de Julgamento: 03/08/2015, Data de Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico - 17/08/2015 - Página 19 - 23)

No mesmo sentido, o TRE/PE já impôs pena de multa e culminou inelegibilidade a candidato que descumpriu determinação de tutela inibitória:

ELEIÇÕES 2016. RECURSOS ELEITORAIS. AIJES. PRELIMINARES AFASTADAS. ABUSO DE

PODER ECONÔMICO. CONFIGURAÇÃO. INELEGIBILIDADES DECRETADAS. IMPOSIÇÃO DE MULTA. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. Reconheceu-se que o conjunto das práticas orquestradas, direta ou indiretamente, pelos então candidatos, ora recorrentes, com auxílio de terceiros também recorrentes, foram aptas a ocasionar injusto desequilíbrio ao pleito municipal de 2016, no Município de Lagoa dos Gatos, em prejuízo à livre vontade dos eleitores atingidos. 2. Recursos manejados pelos candidatos responsáveis não providos. 3.

Recursos interpostos pelos agentes auxiliares parcialmente providos, para afastar apenas a imposição das inelegibilidades, mantendo-se as multas individuais. (TRE-PE - RE: 18961 LAGOA DOS GATOS - PE, Relator: JÚLIO ALCINO DE OLIVEIRA NETO, Data de Julgamento: 04/09/2017, Data de Publicação: DJE - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 197, Data 08/09/2017, Página 12) Trechos da decisão: Há decisão do juízo concedendo tutela de urgência (inibitória), para

que os então candidatos, ora recorrentes, abstenham-se de realizar novos showmícios e eventos assemelhados.

As imagens em anexo configuram, por si só, abuso político oriundo do poder hierárquico do atual gestor municipal, a partir do uso de instrumento fomentado pelo erário público, com fins precípuos de beneficiar a candidatura do candidato João Campos – PSB 40, distribuindo material propagandístico para centenas de alunos da rede escolar municipal.17

Assim, visando afastar o desequilíbrio atinente ao pleito eleitoral, com a utilização da máquina em benefício da candidatura de filiado ao partido do Prefeito do Recife, requer que seja concedida a medida de urgência inibitória visando que os investigados se abstenham de utilizar a máquina pública em favor das respectivas candidaturas, em respeito à isonomia e à higidez do pleito, impedindo-se a repetição do abuso do poder político ora noticiado.

5.2. DA TUTELA LIMINAR. DA SUSPENSÃO/BLOQUEIO DAS PUBLICAÇÕES:

A Justiça Eleitoral possui competência para requisitar aos gestores informações relativas aos gastos havidos com a publicidade institucional, senão vejamos

(17)

entendimento espraiado no âmbito do Tribunal Superior Eleitoral:

“1. A Justiça Eleitoral tem competência para requisitar ao Presidente da República informações quanto aos gastos com publicidade (inciso XVIII do art. 23 do Código Eleitoral e inciso VII do art. 73 da Lei nº 9.504/97); 2. Partidos políticos, como protagonistas centrais do processo eleitoral, têm legitimidade para pleitear a requisição de tais informações à Justiça Eleitoral;

3. O Presidente da República, chefe do Poder Executivo e exercente da direção superior da Administração Pública Federal, é responsável pela prestação das informações do gênero”. (TSE - PETIÇÃO nº 1880, Decisão de 29/06/2006, Relator(a) Min. CARLOS AUGUSTO AYRES DE FREITAS BRITTO, Publicação: DJ - Diário de justiça, Data 28/08/2006)

Pois bem, a concessão da medida in limine litis requer o preenchimento conjunto dos requisitos da probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo (art. 300, caput do Código de Processo Civil):

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la. § 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

O perigo de dano, no presente caso, evidencia-se, tendo em vista que, de regra, qualquer lapso temporal poderá causar prejuízo considerável e desequilíbrio no pleito.

No caso em análise há, ainda, o risco de resultado útil do processo, tendo em vista a forte influência causada através das condutas dos investigados com o uso da máquina pública em favor de suas candidaturas. A probabilidade do direito é demonstrada pelo inconteste uso da máquina pública em favor da candidatura de João Campos, em total desarmonia com as regras eleitorais e, notadamente, equilíbrio e higidez que deve pairar no pleito eleitoral de 2020.

(18)

Requer-se, portanto, a concessão liminar da tutela de urgência solicitada, para que os agentes públicos investigados (Prefeito e Secretário de Educação do Recife) informem, em prazo que V.Exa. entender razoável todas as despesas empenhadas, liquidadas e pagas a título de publicidade institucional no portal (sítio eletrônico) “Escola do Futuro em Casa” desenvolvido com a finalidade de manter em curso as atividades de educação do ensino público do município desde a suspensão das atividades escolares presenciais em meados de março de 2020 e via de consequência seja interrompida a publicação do material supostamente educativo, qual seja, Plano de Estudo, válido para a 15ª semana, do 6º ano - https://educ.rec.br/escoladofuturoemcasa/wp-content/uploads/2020/06/Plano-de-Estudo-6%C2%BA-ano-15a-semana-FINALIZADO.pdf.

6. DOS REQUERIMENTOS FINAIS:

Por fim, a parte autora, com lastro no bom direito trazido nesta peça, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, pedir e requerer seja:

a) Cautelarmente, em razão da manifesta contrariedade aos preceitos legais, que seja deferido o pedido no sentido de inibir os investigados de se utilizarem da máquina pública com fins eleitoreiros, em desalinho ao equilíbrio que deve pairar no pleito eleitoral, e inaudita altera parte, a antecipação dos efeitos da tutela de urgência delineado, evitando prejuízos graves e de incerta reparação

(19)

às eleições 2020 do Recife, sob pena dos crimes de desobediência de ordem judicial, bem como da aplicação de multa diária por descumprimento, com sugestão que seja fixada no valor de R$1.000,00 (mil reais) até 50.000,00 (cinquenta mil reais), dobrando-se a cada reincidência;

b) Determinada a notificação dos investigados, para, querendo, no prazo de 05 (cinco) dias, apresentarem suas defesas;

c) Determinada a intimação do Douto Representante do Ministério Público Eleitoral;

d) Que ao final, por força do entendimento posto no inciso XIV, do art. 22, da Lei Complementar nº 64/1990, seja declarada a inelegibilidade dos investigados para as eleições presentes e as que se realizarem nos 08 (oito) anos subsequentes, bem como a cassação do registro ou diploma dos candidatos a Prefeito e Vice-Prefeita indicados;

e) Ante as irregularidades cometidas, sejam condenados os agentes públicos investigados (Prefeito e Secretário de Educação do Recife) ao pagamento da multa prevista no art. 73, §4º da Lei 9.504/97, no valor de cinco a cem mil UFIRs, ante o cometimento de conduta nitidamente vedada;

Além das provas já apontadas, protesta pela produção de provas por todos os meios admitidos em direito.

Nestes Termos, Pede deferimento.

Recife, 30 de setembro de 2020.

DELMIRO CAMPOS MARIA STEPHANY DOS SANTOS OAB|PE 23.101 OAB|PE 36.379

MARIO BANDEIRA GUIMARÃES NETO OAB|PE 26.926

ROL DE TESTEMUNHAS:

1. Gilberto Sabino dos Santos Junior - CPF: 037.712.414-13, RG: 6.001.097, Endereço: Av. Gov. Carlos de Lima Cavalcanti. Número: 4730, Rio Doce – Olinda - CEP: 53040-000; 2. Alzira Maria Nunes, Técnica de Desenvolvimento Social, inscrita no CPF:

(20)

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