Há certos usos consagrados na fala, e até mesmo na escrita,
que, a depender do estrato social e do nível de escolaridade do
falante, são, sem dúvida, previsíveis. Ocorrem até mesmo em
falantes que dominam a variedade padrão, pois, na verdade,
revelam tendências existentes na língua em seu processo de
mudança que não podem ser bloqueadas em nome de um
“ideal linguístico” que estaria representado pelas regras da
gramática normativa. Usos como ter por haver em construções
existenciais (tem muitos livros na estante), o do pronome objeto
na posição de sujeito (para mim fazer o trabalho), a não
concordância das passivas com se (aluga-se casas) são
indícios da existência, não de uma norma única, mas de uma
pluralidade de normas, entendida, mais uma vez, norma como
conjunto de hábitos linguísticos, sem implica- juízo de valor.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).
Considerando a reflexão trazida no texto a respeito da multiplicidade do discurso, verifica-se que
a) estudantes que não conhecem as diferenças entre língua escrita e língua falada empregam, indistintamente, usos aceitos na conversa com amigos quando vão elaborar um texto escrito.
b) falantes que dominam a variedade padrão do português do Brasil demonstram usos que confirmam a diferença entre a norma idealizada e a efetivamente praticada, mesmo por falantes mais escolarizados.
c) moradores de diversas regiões do país que enfrentam dificuldades ao se expressar na escrita revelam a constante modificação das regras de emprego de pronomes e os casos especiais de concordância.
d) pessoas que se julgam no direito de contrariar a gramática ensinada na escola gostam de apresentar usos não aceitos socialmente para esconderem seu desconhecimento da norma padrão.
e) usuários que desvendam os mistérios e sutilezas da língua portuguesa empregam formas do verbo ter quando, na verdade, deveriam usar formas do verbo haver, contrariando as regras gramaticais.
Motivadas ou não historicamente, normas prestigiadas ou
estigmatizadas pela comunidade sobrepõem-se ao longo do
território,
seja
numa
relação
de
oposição,
seja
de
complementaridade, sem, contudo, anular a interseção de usos
configuram uma norma nacional distinta da do português
europeu. Ao focalizar essa questão, que opõe não só as normas
do português de Portugal às normas do português brasileiro, mas
também as chamadas normas cultas Iocais às populares ou
vernáculas, deve-se insistir na ideia de que essas normas se
consolidam em diferentes momentos da nossa história e que só
a partir do século XVIII se pode começar a pensar na
bifurcação das variantes continentais, ora em consequência de
mudanças ocorridas no Brasil, ora em Portugal, ora, ainda, em
ambos os territórios.
CALLOU, D. Gramática, variação e normas. In: VIEIRA, S. R.; BRANDÃO, S. (orgs). Ensino de gramática: descrição e uso. São Paulo: Contexto, 2007 (adaptado).
O português do Brasil não é uma língua uniforme. A variação
linguística é um fenômeno natural, ao qual todas as línguas
estão sujeitas. Ao considerar as variedades linguísticas, o texto
mostra que as normas podem ser aprovadas ou condenadas
socialmente, chamando a atenção do leitor para a
a)
desconsideração da existência das normas populares pelos
falantes da norma culta.
b)
difusão do português de Portugal em todas as regiões do
Brasil só a partir do século XVIII.
c)
existência de usos da língua que caracterizam urna norma
nacional do Brasil, distinta da de Portugal.
d)
inexistência de normas cultas locais e populares ou
vernáculas em um determinado país.
e)
necessidade de se rejeitar a ideia de que os usos frequentes
de uma língua devem ser aceitos.
Compare os textos I e II a seguir, que tratam de aspectos ligados a
variedades da língua portuguesa no mundo e no Brasil.
Texto I
Acompanhando os navegadores, colonizadores e comerciantes portugueses
em todas as suas incríveis viagens, a partir do século XV, o português se
transformou na língua de um império. Nesse processo, entrou em contato —
forçado, o mais das vezes; amigável, em alguns casos — com as mais
diversas línguas, passando por processos de variação e de mudança
linguística. Assim, contar a história do português do Brasil é mergulhar na sua
história colonial e de país independente, já que as línguas não são
mecanismos desgarrados dos povos que as utilizam. Nesse cenário, são
muitos os aspectos da estrutura linguística que não só expressam a diferença
entre Portugal e Brasil como também definem, no Brasil, diferenças regionais e
sociais.
Texto II
Barbarismo é vício que se comete na escritura de cada uma das
partes da construção ou na pronunciação. E em nenhuma parte
da Terra se comete mais essa figura da pronunciação que nestes
reinos, por causa das muitas nações que trouxemos ao jugo do
nosso serviço. Porque bem como os Gregos e Romanos haviam
por bárbaras todas as outras nações estranhas a eles, por não
poderem formar sua linguagem, assim nós podemos dizer que as
nações de África, Guiné, Ásia, Brasil barbarizam quando querem
imitar a nossa.
Os textos abordam o contato da língua portuguesa com outras línguas e processos de variação e de mudança decorridos desse contato. Da comparação entre os textos, conclui-se que a posição de João de Barros (Texto II), em relação aos usos sociais da linguagem, revela
a) atitude crítica do autor quanto à gramática que as nações a serviço de Portugal possuíam e, ao mesmo tempo, de benevolência quanto ao conhecimento que os povos tinham de suas línguas.
b) atitude preconceituosa relativa a vícios culturais das nações sob domínio português, dado o interesse dos falantes dessas línguas em copiar a língua do império, o que implicou a falência do idioma falado em Portugal.
c) o desejo de conservar, em Portugal, as estruturas da variante padrão da língua grega — em oposição às consideradas bárbaras —, em vista da necessidade de preservação do padrão de correção dessa língua à época.
d)
adesão à concepção de língua como entidade homogênea
e invariável, e negação da ideia de que a língua portuguesa
pertence a outros povos.
e)
atitude crítica, que se estende à própria língua portuguesa,
por se tratar de sistema que não disporia de elementos
necessários para a plena inserção sociocultural de falantes
não nativos do português.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: AULA DE PORTUGUÊS
A linguagem
na ponta da língua tão fácil de falar e de entender. A linguagem
na superfície estrelada de letras, sabe lá o que quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe, e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância. Figuras de gramática, esquipáticas,
Já esqueci a língua em que comia, em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé, a língua, breve língua entrecortada do namoro com a priminha.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade. Esquecer para lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
Explorando a função emotiva da linguagem, o poeta expressa o
contraste entre marcas de variação de usos da linguagem em
a)
situações formais e informais.
b)
diferentes regiões do país.
c)
escolas literárias distintas.
d)
textos técnicos e poéticos.
Em bom português
No Brasil, as palavras envelhecem e caem como folhas secas. Não é somente pela gíria que a gente é apanhada (aliás, já não se usa mais a primeira pessoa, tanto do singular como do plural: tudo é “a gente”). A própria linguagem corrente vai-se renovando e a cada dia uma parte do léxico cai em desuso.
Minha amiga Lila, que vive descobrindo essas coisas, chamou minha atenção para os que falam assim:
— Assisti a uma fita de cinema com um artista que representa muito bem.
Os que acharam natural essa frase, cuidado! Não saberão dizer que viram um filme com um ator que trabalha bem. E irão ao banho de mar em vez de ir à praia, vestido de roupa de banho em vez de biquíni, carregando guarda-sol em vez de barraca. Comprarão um automóvel em vez de comprar um carro, pegarão um defluxo em vez de um resfriado, vão andar no passeio em vez de passear na calçada. Viajarão de trem de ferro e apresentarão sua esposa ou sua senhora em vez de apresentar sua mulher.
A língua varia no tempo, no espaço e em diferentes classes socioculturais. O texto exemplifica essa característica da língua, evidenciando que
a) o uso de palavras novas deve ser incentivado em detrimento das antigas.
b) a utilização de inovações no léxico é percebida na comparação de gerações.
c) o emprego de palavras com sentidos diferentes caracteriza diversidade geográfica.
d) a pronúncia e o vocabulário são aspectos identificadores da classe social a que pertence o falante.
e) o modo de falar específico de pessoas de diferentes faixas etárias é frequente em todas as regiões.
A velha contrabandista Stanislaw Ponte Preta
Diz que era uma velhinha que sabia andar de lambreta. Todo dia ela passava pela fronteira montada na lambreta, com um bruto saco atrás da lambreta. O pessoal da Alfândega – 1tudo malandro velho – começou a desconfiar da velhinha.
Um dia, quando ela vinha na lambreta com o saco atrás, o fiscal da Alfândega mandou ela parar. A velhinha parou e então o fiscal perguntou assim pra ela:
– Escuta aqui, vovozinha, a senhora passa por aqui todo dia, com esse saco aí atrás. Que diabo a senhora leva nesse saco?
A velhinha sorriu com os poucos dentes que lhe restavam e mais os outros, que ela adquirira no odontólogo e respondeu:
– É areia!
Aí quem sorriu foi o fiscal. Achou que não era areia nenhuma e mandou a velhinha saltar da lambreta para examinar o saco. A velhinha saltou, o fiscal esvaziou o saco e dentro só tinha areia. Muito encabulado, ordenou à velhinha que fosse em frente. Ela montou na lambreta e foi embora, com o saco de areia atrás.
Mas o fiscal ficou desconfiado ainda. Talvez a velhinha passasse um dia com areia e no outro com 2muamba, dentro daquele maldito saco. No dia seguinte, quando ela passou
na lambreta com o saco atrás, o fiscal mandou outra vez. Perguntou o que é que ela levava no saco e ela respondeu que era areia, 3uai! O fiscal examinou e era mesmo. Durante um mês seguido o fiscal interceptou a velhinha e, todas as vezes, o que ela levava no saco era areia.
Diz que foi aí que o fiscal se chateou:
– Olha, vovozinha, eu sou fiscal de alfândega com 40 anos de serviço. 4Manjo essa coisa de contrabando pra burro. Ninguém me tira da cabeça que a senhora é contrabandista. – Mas no saco só tem areia! – insistiu a velhinha. E já ia tocar a lambreta, quando o fiscal propôs:
– Eu prometo à senhora que deixo a senhora passar. Não dou parte, não apreendo, não conto nada a ninguém, mas a senhora vai me dizer: qual é o contrabando que a senhora está passando por aqui todos os dias?
– O senhor promete que não “5espaia”? – quis saber a velhinha. – Juro – respondeu o fiscal.
– É lambreta.
No texto de Stanislaw Ponte Preta, aparecem com frequência expressões da fala popular, a exemplo de “tudo malandro velho” (referência 1), “muamba” (referência 2) e “manjo...pra burro” (referência 4). Sobre esta questão, leia as afirmações que seguem.
I. Este tipo de linguagem revela, no texto, uma escrita marcada por um estilo coloquial através do uso consciente de gírias e expressões tiradas da fala informal.
II. Expressões da fala coloquial, como as usadas no texto A velha contrabandista, são próprias da crônica, que é um gênero que se utiliza de alguns recursos típicos da oralidade para dar maior dinamicidade ao texto.
III. As expressões coloquiais utilizadas no texto, na verdade, mostram uma escrita desleixada do autor que não domina o registro padrão da língua portuguesa.
IV. O emprego destes coloquialismos podem contribuir para o caráter humorístico da crônica.
Está correto o que se afirma em
a)
I e III apenas.
b)
II, III e IV apenas.
c)
I, II e IV apenas.
Vocabulário
Fulla (fula): etnia africana presente em países como Níger, Mali, Camarões, Senegal, Gana, Nigéria e Guiné.
O texto acima é um anúncio publicado no ano de 1886. Nele há algumas
diferenças com relação ao português atual, sendo um bom exemplo de
variação histórica. Tal variação pode ser constatada, principalmente,
a)
pela forma de registrar local e data: no final do texto e não no topo ou no
início dele, como nas cartas atuais.
b)
pela organização sintática, como em “quem os entregar na referida
fazenda”, que antepõe o pronome ao verbo.
c)
pela grafia de algumas palavras, como “pollegar” e “annos”, o que
comprova que a variação não se dá apenas na fala, mas também se reflete
na escrita de uma língua.
d)
pela formalidade ao descrever os escravos com o uso de expressões como
“desdentado”, “preto”, “pernas finas” etc.
e)
pela forma de fazer referência ao mês em que os escravos fugiram:
“Fugiram da fazenda da Boa Vista de Pirassununga no dia 20 do corrente...”.
No dia 21 de setembro de 2015, Sérgio Rodrigues, crítico literário, comentou que
apontar no título do filme Que horas ela volta? um erro de português “revela
visão curta sobre como a língua funciona”. E justifica:
“O título do filme, tirado da fala de um personagem, está em registro coloquial.
Que ano você nasceu? Que série você estuda? e frases do gênero são
familiares a todos os brasileiros, mesmo com alto grau de escolaridade. Será
preciso reafirmar a esta altura do século 21 que obras de arte têm liberdade
para transgressões muito maiores? Pretender que uma obra de ficção tenha o
mesmo grau de formalidade de um editorial de jornal ou relatório de firma
revela um jeito autoritário de compreender o funcionamento não só da língua,
mas da arte também.”
(Adaptado do blog Melhor Dizendo. Post completo disponível em http://www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em-que-ano-estamos-mesmo/. Acessado em: 08/06/2016.)
Entre os excertos de estudiosos da linguagem reproduzidos a seguir, assinale aquele que corrobora os comentários do post.
a) Numa sociedade estruturada de maneira complexa a linguagem de um dado grupo social reflete-o tão bem como suas outras formas de comportamento. (MATTOSO CÂMARA JR., Joaquim. História da Linguística. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1975.)
b) A linguagem exigida, especialmente nas aulas de língua portuguesa, corresponde a um modelo próprio das classes dominantes e das categorias sociais a elas vinculadas. (CAMACHO, Roberto Gomes. O sistema escolar e o ensino da língua portuguesa. Alfa, São Paulo, 29, p. 1-7, 1985.)
c) Não existe nenhuma justificativa ética, política, pedagógica ou científica para continuar condenando como erros os usos linguísticos que estão firmados no português brasileiro. (BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. São Paulo: Editorial, 2007.)
d) Aquele que aprendeu a refletir sobre a linguagem é capaz de compreender uma gramática – que nada mais é do que o resultado de uma (longa) reflexão sobre a língua. (GERALDI, João Wanderley. Linguagem e ensino: exercícios de militância e divulgação. Campinas, SP: Mercado das Letras; Associação de Leitura do Brasil, 1996.)
Da corrida de submarino à festa de aniversário no trem
Leitores fazem sugestões para o Museu das Invenções Cariocas
“Falar ‘caraca!’ a cada surpresa ou acontecimento que vemos, bons ou ruins, é invenção do carioca, como também o ‘vacilão’.”
“Cariocas inventam um vocabulário próprio”. “Dizer ‘merrmão’ e ‘é merrmo’ para um amigo pode até doer um pouco no ouvido, mas é tipicamente carioca.”
“Pedir um ‘choro’ ao garçom é invenção carioca.”
“Chamar um quase desconhecido de ‘querido’ é um carinho inventado pelo carioca para tratar bem quem ainda não se conhece direito.”
“O ‘ele é um querido’ é uma forma mais feminina de elogiar quem já é conhecido.”
Entre as sugestões apresentadas para o Museu das Invenções Cariocas, destaca-se o variado repertório linguístico empregado pelos falantes cariocas nas diferentes situações específicas de uso social.
A respeito desse repertório, a testa-se o(a)
a) desobediência à norma-padrão, requerida em ambientes urbanos.
b) inadequação linguística das expressões cariocas às situações sociais apresentadas.
c) reconhecimento da variação linguística, segundo o grau de escolaridade dos falantes.
d) identificação de usos linguísticos próprios da tradição cultural carioca.
Contam, numa anedota, que certo dia Rui Barbosa saiu às ruas da cidade e se assustou com a quantidade de erros existentes nas placas das casas comerciais e que, diante disso, resolveu instituir um prêmio em dinheiro para o comerciante que tivesse o nome de seu estabelecimento grafado corretamente. Dias depois, Rui Barbosa saiu à procura do vencedor. Satisfeito, encontrou a placa vencedora: “Alfaiataria Águia de Ouro”. No momento da entrega do prêmio, ao dizer o nome da alfaiataria, Rui Barbosa foi interrompido pelo alfaiate premiado, que disse:
– Sr. Rui, não é “águia de ouro”; é “aguia de ouro”!
O caráter político do ensino de língua portuguesa no Brasil. Disponível em: http://rosabe.sites.uol.com.br. Acesso em: 2 ago. 2012.
A variação linguística afeta o processo de produção dos sentidos no texto. No relato envolvendo Rui Barbosa, o emprego das marcas de variação objetiva
a) evidenciar a importância de marcas linguísticas valorizadoras da linguagem coloquial.
b) demonstrar incômodo com a variedade característica de pessoas pouco escolarizadas.
c) estabelecer um jogo de palavras a fim de produzir efeito de humor.
d) criticar a linguagem de pessoas originárias de fora dos centros urbanos.
A Rede Veia
Luiz Queiroga e Cel. Ludugero Eu tava com a Felomena
Ela quis se refrescar O calor tava malvado Ninguém podia aguentar Ela disse meu Lundru
Nós vamos se balançar
A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá
Começou a fazer vento com nois dois a palestrar Filomena ficou beba de tanto se balançar
Eu vi o punho da rede começar a se quebrar A rede veia comeu foi fogo
A rede tava rasgada e eu tive a impressão
Que com tanto balançado nois terminava no chão Mas Felomena me disse, meu bem vem mais pra cá A rede veia comeu foi fogo
Foi com nois dois pra lá e pra cá
Disponível em http://www.luizluagonzaga.mus.br/index.php? option=com_content&task=view&id=&&&Itemid= 103 Acessado em: 02 ago 2011.
Pescaria
Dorival Caymmi Ô canoeiro,
bota a rede,
bota a rede no mar ô canoeiro,
bota a rede no mar. Cerca o peixe,
bate o remo, puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro,
Vai ter presente pra Chiquinha ter presente pra laiá,
canoeiro, puxa a rede do mar. Cerca o peixe,
bate o remo, puxa a corda, colhe a rede, ô canoeiro,
puxa a rede do mar. Louvado seja Deus, ó meu pai.
TEXTO III A Rede
Lenine e Lula Queiroga Nenhum aquário é maior do que o mar
Mas o mar espelhado em seus olhos Maior me causa o efeito
De concha no ouvido Barulho de mar
Pipoco de onda
Ribombo de espuma e sal
Nenhuma taça me mata a sede Mas o sarrabulho me embriaga Mergulho na onda vaga
E eu caio na rede,
Não tem quem não caia E eu caio na rede,
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o feixe De raios que controla a onda cerebral do peixe Nenhuma rede é maior do que o mar
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra Nem quando ela acerta,
Nem quando ela erra
Nem quando ela envolve todo o Planeta Explode e devolve pro seu olhar
O tanto de tudo que eu tô pra te dar Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove
Se a rede é maior do que o meu amor Não tem quem me prove
Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/a-rede-1 Acessado em: 02 ago 2011.
TEXTO IV Nina
Chico Buarque
Nina diz que tem a pele cor de neve E dois olhos negros como o breu
Nina diz que, embora nova Por amores já chorou
Que nem viúva
Mas acabou, esqueceu
Nina adora viajar, mas não se atreve Num país distante como o meu
Nina diz que fez meu mapa E no céu o meu destino rapta O seu
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela Posso imaginar por dentro a casa
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara Posso até adivinhar a cara que ela faz Quando me escreve
Nina anseia por me conhecer em breve Me levar para a noite de Moscou
Sempre que esta valsa toca
Fecho os olhos, bebo alguma vodca E vou
Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br/construcao/mestre.asp?pg=nina_2011.htm Acessado em: 02 ago 2011.
Uma língua varia em função de aspectos sociais, localização geográfica e uso de diferentes registros, ligados às situações de comunicação.
Marque a alternativa que analisa corretamente a ocorrência de variação linguística nos textos.
a) O verso “Nós vamos se balançar” (Texto 1, linha 6) apresenta um exemplo da modalidade culta da língua, revelada no emprego dos pronomes.
b) No verso “A rede veia comeu foi fogo” (Texto 1, linha 7), a grafia da palavra sublinhada procura reproduzir pronúncia comum em algumas regiões do Brasil (veia por velha), que exemplifica uma variação fonética.
c) Em: “E eu caio na rede / Não tem quem não caia” (Texto III, linhas 11 – 12), o emprego do verbo ter é marca do registro culto da língua, utilizado preferencialmente na modalidade escrita.
d) Em: “Vai ter presente pra Chiquinha” (Texto II, linha 12), o nome “Chiquinha” exemplifica o uso do registro informal, utilizado, sobretudo, em documentos oficiais e sermões religiosos.
e) No verso: “Posso até adivinhar a cara que ela faz” (Texto IV, linha 16) a palavra cara exemplifica uma variação de registro linguístico predominante em situações formais.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
Todas as variedades linguísticas são estruturadas, e correspondem a sistemas e subsistemas adequados às necessidades de seus usuários. Mas o fato de estar a língua fortemente ligada à estrutura social e aos sistemas de valores da sociedade conduz a uma avaliação distinta das características das suas diversas modalidades regionais, sociais e estilísticas. A língua padrão, por exemplo, embora seja uma entre as muitas variedades de um idioma, é sempre a mais prestigiosa, porque atua como modelo, como norma, como ideal linguístico de uma comunidade. Do valor normativo decorre a sua função coercitiva sobre as outras variedades, com o que se torna uma ponderável força contrária à variação.