• Nenhum resultado encontrado

Poder Judiciário Vigésima Sexta Câmara Cível/Consumidor

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Poder Judiciário Vigésima Sexta Câmara Cível/Consumidor"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

Secretaria da Vigésima Sexta Câmara Cível/Consumidor Beco da Música, 175, 3º andar – Sala 322– Lâmina IV

APELAÇÃO CÍVEL Nº: 0189282-26.2012.8.19.0004

APELANTE 01: SOCIEDADE EDUCACIONAL SÃO PAIO DE MENEZES LTDA

APELANTE 02: PEDRO RODRIGUES CLEVELARES

REP/S/GENITORES DANIELE DA

CONCEIÇÃO RODRIGUES E RAPHAEL

XAVIER CLEVELARES (RECURSO

ADESIVO) APELADOS: OS MESMOS

RELATOR: DES. ARTHUR NARCISO

APELAÇÃO CÍVEL. SENTENÇA QUE

CONDENOU A REQUERIDA AO PAGAMENTO DE VERBA COMPENSATÓRIA POR DANOS MORAIS NO VALOR DE R$ 15.000,00 (QUINZE MIL REAIS). NEGA-SE PROVIMENTO AOS APELOS DAS PARTES. O ponto crucial da questão reside em analisar a responsabilidade do Estabelecimento Educacional nos fatos narrados, e, se das circunstâncias relacionadas decorre seu dever de indenizar pelos danos causados. Inicialmente, convém afastar a alegada ilegitimidade passiva suscitada pela Reclamada, considerando a parceria entre a Instituição de Ensino Ré e a escolinha de futebol frequentada pelo Autor, cuja atividade, além de ser oferecida e praticada dentro de suas dependências, é ministrada por professor vinculado. O Autor pleiteou a condenação da Suplicada ao pagamento de verba compensatória por danos morais, em razão de suposto "bullying" ocorrido no interior da escola, durante aula extracurricular. Afirmou que um dos colegas colocou saco plástico em sua cabeça, "apertando-o no pescoço

na frente de todos os alunos". Consignou que,

(2)

mediante súplicas de outro colega, o suposto aluno agressor soltou as mãos do seu pescoço. A Ré sustenta, em suas razões, tratar-se de estória arquitetada com nítido intuito de obter compensação indevida às custas do Poder Judiciário, haja vista inexistir qualquer comprovação do alegado. Todavia, tal argumento não merece prosperar. Em análise do conjunto probatório, não pairam dúvidas acerca da veracidade dos fatos narrados, e, mencione-se, de extrema gravidade. Observe-se, do relato da própria Reclamada, informações que corroboram a agressão vivenciada pelo Autor e a omissão da Instituição de Ensino. É cediço que o bullying escolar mal resolvido pode deixar marcas para o resto da vida. No caso em comento, a vítima, menino de 7 anos de idade à época do fato (Index 34), foi submetida a acompanhamento com psicólogo, que prestou declaração de que o menor estava sob seus cuidados profissionais após sofrer exposição a situação traumática (Indexes 51 e 56). Há de se ponderar acerca do comportamento da Requerida que demonstrou despreparo para lidar com a delicada questão vivenciada pelo aluno. Note-se que não há relato de qualquer comunicação aos pais do aluno agressor acerca do fato ocorrido, lhes oportunizando, por vez, a adoção de medidas educativas em prol do filho envolvido. A responsabilidade da Ré é objetiva, conforme disposto no artigo 14 do CDC, por se inserir no risco do empreendimento. Destarte, presente o dever de compensar o Autor pelos danos suportados. Considerando os critérios punitivo-pedagógicos que embasam a compensação por danos morais, assim como a repercussão dos fatos narrados, conclui-se que o valor fixado em

(3)

R$ 15.000,00 (quinze mil reais) se coaduna com os parâmetros supramencionados, não havendo que se falar em majoração ou redução do

quantum. Ademais, não sendo manifestamente

desarrazoado o valor arbitrado e não

demonstrada objetivamente sua exasperação ou exiguidade, deve a decisão do Juízo a quo ser prestigiada, conforme Súmula nº 343, deste Egrégio Tribunal de Justiça.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos das Apelações Cíveis entre as partes sobreditas, ACORDAM os Desembargadores da Vigésima Sexta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento aos apelos das partes, nos termos do voto do Desembargador Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de ação indenizatória, sob o rito ordinário, ajuizada por Pedro Rodrigues Clevelares representado por seus genitores, Daniele da Conceição Rodrigues e Raphael Xavier Clevelares, em face de Sociedade Educacional São Paio de Menezes Ltda.

Aduziu o Autor, aos 7 (sete) anos de idade à época dos fatos, ser aluno da Instituição Ré e que, durante atividade extracurricular, enquanto o professor de futebol atendia ao celular, foi

(4)

chamado por colega para a arquibancada do estabelecimento educacional.

Narrou que, próximo ao bebedouro, após abaixar para amarrar o cadarço do pisante, foi interpelado pelo aluno de nome Nicolas Rafael, que mandou que levantasse a cabeça.

Acresceu que em seguida, o aludido estudante retirou saco plástico do bolso e enfiou em sua cabeça, apertando-o no pescoço na frente de outros colegas, os quais presenciaram a cena inertes.

Asseverou que, após começar a se debater, gritar e chorar muito, o colega Hiago gritou para que Nicolas Rafael o soltasse, e que somente na terceira vez Nicolas Rafael soltou as mãos do pescoço do Autor.

Consignou que somente após esses acontecimentos o professor retornou para a quadra, convocando os alunos para o início da atividade, não tomando conhecimento do ocorrido.

Ressaltou que, no dia seguinte, ao iniciar a rotina natural da família, entrou em pânico, chorando e muito nervoso, começou a gritar dizendo que não iria mais à escola.

Afirmou que sua mãe, ao tomar conhecimento dos fatos, compareceu à direção da escola, sendo informada pela secretária que a responsabilidade do episódio era do professor Fernando, não sendo atendida pela coordenadora educacional.

Ponderou que, em razão de a Reclamada não ter adotado qualquer providência, seus genitores recorreram ao Conselho Tutelar de São Gonçalo.

(5)

Ao conselheiro Juarez, a Requerida informou acerca da impossibilidade de identificar o aluno, autor do fato.

Assim, ajuizou a demanda, requerendo, ao final, a condenação da Demandada ao pagamento de verba compensatória pelos danos morais suportados, no patamar de R$ 38.000,00 (trinta e oito mil reais).

Agravo retido interposto pela Suplicada (Index 125), sem posterior pedido de apreciação ao Tribunal ad quem.

O Ministério Público com atribuição perante o r. Juízo a quo se manifestou pela procedência do pedido (Index 169).

A sentença, proferida pelo r. Juízo de Direito da 6ª Vara Cível da Comarca de São Gonçalo (Index 173), julgou procedente, em parte, o pedido, nos seguintes termos:

“[...]

Posta a questão nestes termos, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE O PEDIDO para condenar a ré a pagar a quantia de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a título de danos morais, verba corrigida monetariamente a contar da sentença e acrescido de juros legais da citação. Em consequência, JULGO EXTINTO O PROCESSO, na forma do art. 269, inciso I, do CPC. ”

Apelação da Demandada, pugnando pela improcedência do pedido, com condenação do Demandante em litigância de má fé, ou redução do quantum (Index 180).

Para isso, sustentou, em suas razões, que tudo não passou de estória arquitetada com nítido intuito de obter compensação indevida às custas do Poder Judiciário, haja vista inexistir qualquer comprovação do alegado.

(6)

Recurso adesivo do Autor, pugnando pela majoração da verba compensatória (Index 199).

As partes ofertaram contrarrazões (Index 194 e 205).

A ilustre Procuradora de Justiça opinou pelo desprovimento dos apelos (Index 224).

É o relatório.

VOTO

Os recursos devem ser conhecidos porquanto tempestivos e adequados à impugnação pretendida.

No caso sob análise, cumpre assinalar que a relação existente entre os litigantes é de caráter consumerista, devendo, pois, a controvérsia ser dirimida sob as diretrizes estabelecidas no Código de Proteção e de Defesa do Consumidor.

A controvérsia reside em analisar a responsabilidade da Instituição de Ensino nos fatos narrados, e se das circunstâncias relacionadas decorre seu dever de compensar os danos causados.

Inicialmente, convém afastar a alegada ilegitimidade passiva suscitada pela Reclamada, considerando a parceria entre a Ré e a “escolinha de futebol” frequentada pelo Autor, cuja atividade, além de ser oferecida e praticada dentro de suas dependências, é ministrada por professor vinculado.

O Autor pleiteou a condenação da Ré ao pagamento de verba compensatória por danos morais, em razão de "bullying" ocorrido no interior da escola, durante aula extracurricular.

(7)

Afirmou que um dos colegas colocou saco plástico na cabeça do Demandante "apertando-o no pescoço na frente de todos os

colegas".

Consignou que, após começar a gritar e a se debater, bem como mediante súplicas de outro colega, o aluno agressor soltou as mãos do seu pescoço.

A Ré sustenta, em suas razões, tratar-se de estória arquitetada com intuito de obter compensação indevida às custas do Poder Judiciário, haja vista inexistir qualquer comprovação do alegado.

Todavia, tal argumento não merece prosperar.

Em análise do conjunto probatório, não pairam dúvidas acerca da veracidade dos fatos narrados, e, mencione-se, de extrema gravidade.

Observe-se, do relato da própria Ré, informações que corroboram a agressão vivenciada pelo Autor e a omissão da Instituição de Ensino.

Importa transcrever alguns trechos da peça de bloqueio ofertada pela Sociedade Educacional:

“A fim de solucionar definitivamente o caso, o professor Fernando suspendeu sua aula por alguns minutos e, após longo diálogo com os pais do Autor, afirmou que aplicaria uma punição ao aluno Nicolas, caso confirmado o fato. Após conversar com o aluno Nicolas o professor Fernando entendeu por bem realizar uma atividade sócio-educativa (apresentação de uma redação), bem como uma suspensão do treino. ” (Index 162) ”

“Ora, Excelência, é insofismável e de compreensão mediana que os fatos relatados não passaram de uma

(8)

brincadeira - de mau gosto, diga-se de passagem -, que ocorrera com diversos alunos e não apenas com o Autor, o que, por si só, seria suficiente para descaracterizar o bullying.

“As coordenadoras, pacientemente, explicaram que, muito embora o professor Fernando também fizesse parte do corpo docente da Ré, o fato havia ocorrido em atividade extracurricular ministrada por terceira pessoa, ao qual o professor, neste caso, subordina-se, motivo pelo qual não poderiam tomar nenhuma atitude punitiva, senão uma intermediação para a solução do conflito. ” (Index 161) “Acreditando que os pais do Autor haviam percebido que, ainda que o fato realmente tivesse ocorrido, não passava de brincadeira de criança, a Ré surpreendeu-se com a solicitação, do Conselho Tutelar, de um "Relatório Detalhado". (Index 162)

É cediço que o bullying escolar pode deixar marcas para o resto da vida.

No caso em comento, a vítima é menino que contava com sete anos de idade à época do fato (Index 34).

Segundo a pesquisadora Cleo Fante, ex-presidente do Centro Multidisciplinar de Estudos e Orientação sobre o Bullying Escolar (Cemeobes), em entrevista à revista Veja, a curto e longo prazo, o

bullying interfere na autoestima, na concentração, na motivação para os

estudos, no rendimento escolar e nos males psicossomáticos da vítima (diarreia, febre, vômito, dor de estômago e de cabeça).

A longo prazo, a vítima pode desenvolver transtornos de ansiedade e de alimentação (bulimia, anorexia, bruxismo, alergias, depressão e ideias suicidas).

(9)

Alguns têm resiliência, o poder de resistir e superar situações

difíceis, mas outros penam

(http://veja.abril.com.br/especiais_online/bullying/ping.shtml).

In casu, a vítima foi submetida a acompanhamento com

psicólogo, que prestou declaração de que o menor estava sob seus cuidados profissionais após sofrer exposição à situação traumática (Indexes 51 e 56).

Há de se ponderar acerca do comportamento da Ré, que demonstrou despreparo para lidar com a delicada questão vivenciada pelo aluno.

Observe-se que não há relato de qualquer comunicação aos pais do aluno agressor acerca do fato ocorrido, lhes oportunizando, por vez, a adoção de medidas educativas em prol do filho envolvido.

A responsabilidade da Ré é objetiva, conforme disposto no artigo 14 do CDC, por se inserir no risco do empreendimento.

Destarte, presente o dever de compensar o Autor pelos danos suportados.

Considerando os critérios punitivo-pedagógicos que embasam a compensação por danos morais, assim como a repercussão dos fatos narrados, conclui-se que o valor fixado em R$ 15.000,00 (quinze mil reais) se coaduna com os parâmetros supramencionados, não havendo que se falar em majoração ou redução do quantum.

Ademais, não sendo manifestamente desarrazoado o valor arbitrado e não demonstrada objetivamente sua exasperação ou

(10)

exiguidade, deve a decisão do Juízo a quo ser prestigiada, conforme Súmula nº 343, deste Egrégio Tribunal de Justiça:

"A verba indenizatória do dano moral somente será modificada se não atendidos pela sentença os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade na fixação do valor da condenação."

Referência: Processo Administrativo nº. 0013830 09.2015.8.19.0000 Julgamento em 14/09/2015 - Relator: Desembargadora Ana Maria Pereira de Oliveira. Votação por maioria”.

Ante o exposto, considerando as razões tecidas, o voto é no sentido de negar provimento aos apelos das partes.

Rio de Janeiro, na data da assinatura digital.

Arthur Narciso de Oliveira Neto

Referências

Documentos relacionados

142. Para auxiliar na análise da modelagem das centrais de geração na base de dados foram utilizados os CUST celebrados pelas centrais de geração, o “Relatório

No caso em comento deve o Demandado responder por eventuais danos causados aos frequentadores, não podendo ser alegado caso fortuito ou força maior ou fato de

Zíper metálico grosso com trava automática (com acabamento retardante a chamas) – Cursor: material Zamac / Cadarço: 100% poliéster / Cremalheira: material Tombac ou Latão - 6

Em couro bovino nobuk hidrofugado , de espessura de 20/22 linhas (2,0 a 2,2 mm), com resistência à penetração de água de no mínimo 120 minutos e resistência mínima à tração de

Refletimos que na escola regular há espaço para a constituição do desenvolvimento da linguagem narrativa em alunos com necessidades educacionais especiais.. Os elementos que

“APELAÇÃO CÍVEL. PRETENSÃO DE EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE JUNTADA DO.. CONDENAÇÃO DO EMBARGADO AO PAGAMENTO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS, DIANTE

Pensando nesse exemplo pelo viés das teorias da comunicação, além das teorias já citadas, como a de Castells e as teorias da Persuasão e dos Usos e das Gratificações, que tratam

A abordagem desta temática nasceu principalmente da necessidade de buscar conhecimentos que compreendessem a opinião de ambos os lados (ensinante e aprendente)