ALIENAÇÃO PARENTAL
Novas perspectivas de abordagem e intervenção
Elsa de Mattos
Psicóloga e Professora de Psicologia da UFBA
4º Seminário da Associação Brasileira de Mulheres da Carreira Jurídica ESA – Agosto 2016
Alienação Parental (AP) corresponde a um fenômeno complexo e
multicausal, que ainda encontra fortes resistências científicas a sua
aceitação tal como proposto pelo autor, Richard Gardner, na década de
1980.
A Lei Brasileira: Alienação Parental como um “ato de interferência na
formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida
por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou
adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie
genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de
vínculos com este” – ou seja coloca o foco no ato praticado por um adulto.
Concepção inicial da AP: Richard Gardner - psiquiatra e
psicoterapeuta de crianças em 1980
A Lei Brasileira foi elaborada com base na concepção de Gardner
– desconsiderando os avanços científicos na literatura da área.
Críticas à concepção inicial :
No Brasil
No Exterior
Entre as críticas mais relevantes estão:
Patologização do comportamento tanto dos genitores quanto da
criança;
Criminalização da conduta de um dos genitores, enquanto o outro é
visto como vítima;
Ênfase muito grande sobre o comportamento do genitor alienador –
desconsiderando os comportamentos da criança/adolescente
Novas perspectivas em relação a fenômeno da AP consideram que:
Não se pode perder de vista a dinâmica relacional e multicausal do processo vivenciado pela família.
Foco na DINÂMICA FAMILIAR:
Genitores engajados em uma separação ou divórcio
altamente conflitivo (divórcio destrutivo);
Tendência à triangulação dos filhos;
Filhos alinhados com um dos genitores (vínculo simbiótico);
Filhos apresentam resistência ou rejeição à convivência com um dos genitores de forma desproporcional em relação à experiência anterior da criança/adolescente com aquele genitor na família.
Não existe consenso entre os psicólogos quanto às técnicas e procedimentos de diagnóstico e intervenção em relação ao fenômeno da AP.
O diagnóstico da AP demanda uma análise do caso a fim de diferenciar:
ESTRANHAMENTO X ALIENAÇÃO PARENTAL
ESTRANHAMENTO: a criança/adolescente apresenta rejeição justificada do genitor,
considerada como um comportamento adaptativo desenvolvido pela criança para lidar com situações difíceis vivenciadas com o genitor rejeitado (violência, abuso e negligência).
ALIENAÇÃO PARENTAL: a criança/adolescente passa a rejeitar o genitor sem justificativa aparente, de forma desproporcional às experiências anteriores com o genitor rejeitado, possivelmente por influência dos adultos.
A avaliação da presença de comportamentos alienadores ou de estratégias alienadoras por parte de um dos genitores é fundamental no processo – mas não é
suficiente para determinar o diagnóstico da AP.
Avaliação do comportamentos do genitor alienador – algumas dimensões relevantes para serem investigadas pelo profissional de psicologia:
Difamação do(a) genitor(a)
Interferência no tempo de convivência do(a) genitor(a) com a criança Limitação de contato telefônico entre o(a) genitor(a) e a criança
Limitação de acesso a informações sobre a criança
Criação e situações nas quais a criança é levada a escolher entre estar com um ou outro genitor
Leva em conta as seguintes dimensões:
Experiência ou conhecimento em relação aos conflitos dos
pais: vivenciou algum conflito (Qual/Quais? Como se sente em
relação ao que ocorreu?);
Natureza dos vínculos afetivos com ambos os genitores.
Motivos que apresenta para não querer conviver com o
genitor;
Comportamento/interação
com
ambos
os
genitores
(observação de interações).
Leve: a criança apresenta resistência ao contato com o genitor-alvo,
mas uma vez que se encontra ao seu lado, a relação flui com
descontração.
Moderado: a criança resiste fortemente ao contato com o genitor-alvo
e mantem uma oposição persistente quando encontra-se com o
genitor. Mas aceita encontrar-se com ele.
Severo: a criança apresenta recusa persistente de contato com o
genitor-alvo, rejeição direta e comportamento de fuga e evitação,
difamação do genitor através de reprodução de falas de adultos,
pseudo-maturidade, justificativas frívolas para não conviver com o
genitor alienado, justificativas baseadas em experiências que não
vivenciou (foram vivenciadas ou narradas por outras pessoas).
No Brasil há um desconhecimento geral sobre as modalidades de intervenção em casos de alienação parental, inclusive no âmbito do próprio judiciário.
Em outros países já foram criados alguns modelos de intervenção que vêm apresentando resultados.
As intervenções envolvendo ludoterapia conjunta de genitores alienados com seus filhos são mais indicadas em casos de alienação leve e moderada e podem ser orientadas por diversas abordagens.
Principais objetivos:
melhorar o relacionamento do(a) genitor(a) com a criança,
restabelecer a confiança mútua,
ajudar a criança a desenvolver uma visão mais equilibrada de ambos os genitores
desenvolver habilidades de reflexão crítica (em pré-adolescentes ou adolescentes).