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Governo, políticas sociais e ciclo eleitoral nos estados brasileiros: o caso da Bahia Políticas de Saúde na Bahia

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Governo, políticas sociais e ciclo eleitoral nos estados brasileiros: o caso da Bahia – Políticas de Saúde na Bahia

Sara Braga de Melo Fadigas Universidade Federal da Bahia –

Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais Bolsista de mestrado – CNPq

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Governo políticas sociais e ciclo eleitoral nos estados brasileiros: o caso da Bahia – políticas de saúde na Bahia1

Sara Fadigas

O contexto pós-redemocratização brasileiro tem se constituído como um farto campo de pesquisas na Ciência Política, seja por parte de pesquisadores norte-americanos, seja por pesquisadores brasileiros. As instituições subnacionais e seu respectivo funcionamento são alguns dos objetos que mais tem entrado nessa agenda de pesquisa, entretanto, o enfoque dado a estes estudos tem variado bastante entre si. Enquanto algumas pesquisas identificam um caráter mais clientelista e patrimonialista nas dimensões da politics e

policy no nível dos estados (AMES, 1996; 2001; HAGOPIAN, 1996), outros ressaltam

a presença de uma lógica mais universalizante nestas instituições (MONTERO, 2000; TENDLER,1997).

A literatura que aponta as instituições subnacionais como dotadas de um caráter paroquial e fisiológico remetem esta responsabilidade, entre outros motivos, ao desenho federalista brasileiro que se estabeleceu com uma grande tendência a descentralização política e fiscal. Essa descentralização, por sua vez, ao reconhecer mais autonomia e aumentar os orçamentos dos níveis subnacionais, acabou por provocar um fortalecimento da máquina política estadual, proporcionando aos governadores o uso desses recursos para promoção da patronagem na montagem de coalizões eleitorais e governativas, mobilizando as lideranças locais com a distribuição de cargos e verbas. Assim, prefeitos e elite local aliados ao governo do estado assumiriam a função de cabo eleitoral, recebendo recursos como contrapartida a esta mobilização (ABRUCIO, 1998; SAMUELS, 2003).

Ademais, outro aspecto relevante e que tem sido ignorado por estes esta literatura trata-se de levar em conta modelo federativo brasileiro, que introduz a competição vertical entre os níveis do governo no provimento das políticas sociais. Assim, governo federal, estadual e municipal disputam o oferecimento de políticas similares num mesmo grupo de eleitores.

1 Este artigo é resultado da minha pesquisa PIBIC/CNPq realizada entre 2008-2009 sob orientação da Profª. Drª. Celina Souza, também coordenado pelo Prof. Dr. Alvino Sanches. A pesquisa também contou com a participação da então bolsista de mestrado Íris Gomes, da bolsista PIBIC/CNPq Priscilla Caires e da voluntária Jenifer Souza.

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Entretanto, as evidências empíricas levantadas por estas pesquisas ainda são parcas, quando não obstante, inexistentes, ocasionando assim uma lacuna na Ciência Política brasileira que dê conta de uma análise mais consistente de como se governa os estados, tendo em vista a relação entre a implementação de políticas públicas e os resultados eleitorais. Uma nova agenda se abre para as pesquisas que trabalhem a relação do caráter da heterogeneidade dos sistemas políticos e do ciclo das políticas públicas, sobretudo quanto às conexões entre a dinâmica político-eleitoral nos estados e o processo de formulação e implementação de políticas públicas, em especial as políticas de gasto social.

No caso da Bahia a possibilidade de um relevo heterogêneo nas instituições subnacionais se revela pungente na mudança ocorrida no cenário eleitoral em 2006, que cedeu um final a uma dominação oligárquica que encontrava-se estabelecida por algumas décadas, alterando, desde as eleições de 2002, o grau de competitividade eleitoral no estado. Revelando uma maior fragmentação do quadro eleitoral, além de aumentar a competição político-eleitoral baiana (BORGES, 2006).

O resultado das eleições de 2006 na Bahia surpreendeu até mesmo os eleitores mais entusiastas da candidatura de Jaques Wagner (PT) ao governo. Após os anos de dominação política do grupo comandado pelo falecido senador Antônio Carlos Magalhães (ACM) que acabou derrotado nas urnas ainda no primeiro turno eleitoral, encerrou um ciclo no Executivo estadual baiano que se iniciado no governo burocrático militar que se estendeu até o período de redemocratização do país. O domínio do grupo carlista2 no governo do Estado sofreu poucos revezes eleitorais no período pós-autoritário, com única exceção do governo oposicionista de Waldir Pires (PMDB) na eleição de 1986.

Segundo Souza (1997) e Dantas Neto (2006), na Bahia as elites que estiveram no poder durante o período militar, apoiando-o, fincaram bases capazes de desenvolver uma organização partidária de grande poder eleitoral que se consolidou, sobrevivendo à competição democrática. O poder e a influência de ACM se ampliam no período pós-democratização, conferindo-lhe força para se tornar uma liderança nacional,

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A longa presença de Antônio Carlos Magalhães (ACM) na vida política da Bahia gerou a palavra carlista para denominar seus seguidores e seu grupo político, assim como anti-carlistas seriam seus opositores políticos. O rótulo de carlista significava, nos seus primórdios, completa fidelidade de seus jovens seguidores, fazendo dos carlistas um grupo homogêneo e coeso em torno de um líder. Entretanto, carlistas e carlismo, embora tenham a mesma gênese, não são sinônimos. Carlismo é um modo de governar, de administrar, de fazer política e de escolher políticas públicas. É um modo de atuar que não se restringe ao seu líder político, mas adotado por todos os seus participantes, Souza (1997) e Dantas Neto (2004).

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repercutindo no campo estadual de maneira que ACM e seus aliados se valeram da alocação estratégica de cargos e verbas, agregando forças e submetendo grupos oposicionistas no estado e nos municípios ao seu mandonato. Assim, “(...) ao final dos anos 1990, a oposição havia sido praticamente dizimada: o grupo carlista detinha o suporte de quase 90% das 417 prefeituras do estado e 75% dos deputados na Assembléia Legislativa.” (BORGES, 2010, p.177).

A gradual derrocada do grupo carlista coincide com sua posição situacional no cenário político nacional. O auge eleitoral deste grupo combina com os oito anos de governo do presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com o qual ACM mantinha boa relação política, servindo de elo na aliança nacional PSDB-PFL. Seu declínio, iniciado com o escândalo do painel em 2001, tem sua desestabilização confirmada a partir de 2002, coincidindo com a vitória do presidente Lula (PT). O PT baiano, que ao longo da década de 90, emerge como “oposição natural” do grupo carlista, em 2002, com a vitória de Lula, ganha força regional, com expressiva votação representando perigo para o grupo carlista. Em 2006, ainda no primeiro turno, as eleições são definidas com a vitória do candidato do PT, Jaques Wagner, através de uma forte política de alianças com os partidos à esquerda PSB, PDT e PPS, também com o PMDB e ex-carlistas do PTB.

Uma vez que essa nova configuração no quadro político da Bahia se desenha, um estado com baixos índices sociais e que, segundo a literatura que advoga o caráter clientelista da política estadual, sobretudo nos estados mais pobres, crê-se que mais retornos nos investimentos de patronagem serão alcançados por parte dos governos subnacionais; surgem questionamentos a cerca de como se relacionam as dimensões da política e das políticas públicas no estado, entrecruzando-se o desempenho eleitoral dos partidos e políticos com dados referentes a implementação das políticas sociais. Assim, com o objetivo de suprir a lacuna que busca compreender os elementos presentes neste entrecruzamento, algumas questões foram perseguidas nesta pesquisa:

i. Como são implementadas políticas sociais territorialmente localizadas na esfera estadual?

ii. Qual o impacto dessas políticas públicas sobre o desempenho eleitoral do grupo político situacionista?

Para tanto, esta pesquisa estudou a implementação de uma política pública na área da saúde, elegendo para tanto um programa do governo estadual da Bahia, o programa: “Saúde Bahia: reduzindo desigualdades”, relacionando-a aos resultados eleitorais do

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grupo político situacionista na Bahia entre 2004 e 2006. Foi testada a seguinte hipótese: aqueles municípios que estivessem alinhados com o governo estadual seriam agraciados com uma maior parcela de investimento em detrimento daqueles municípios não alinhados com a base governativa do Estado. Em contrapartida, as prefeituras alinhadas com o governo retribuiriam com apoio em seus municípios aos candidatos membros da coalizão governativa estadual nas eleições ao legislativo estadual.

O programa “Saúde Bahia: reduzindo desigualdades”

O Programa “Saúde Bahia: reduzindo desigualdades”, iniciado em 2003, e com previsão de finalização em 2010, foi desenvolvido pela Secretaria Estadual da Saúde da Bahia contando com recursos do BIRD (Banco Internacional para Reconstrução e o Desenvolvimento). O objetivo do programa consistia em atender as deficiências da atenção à saúde nas áreas de maior vulnerabilidade e risco social, circunscrevendo exatamente os 86 municípios mais pobres (de menor IDHm), a fim de potencializar e aumentar a eficiência global do Sistema Único de Saúde (SUS) e cumprir as premissas legais de universalidade, integralidade e equidade no acesso aos serviços e recursos de saúde.

As fontes de recursos que financiaram o Programa dividia-se entre o Bird - 60% dos recursos - e a contrapartida de 40% do Governo do Estado da Bahia, somando um investimento de $100 milhões. As metas estabelecidas para compor o programa são as seguintes: (i) implementação de Microrregiões de Saúde no estado; (ii) condução da Política Estadual de Saúde; (iii) expansão da Atenção Básica à saúde; (iv) administração do projeto. O cumprimento das metas deveria reorganizar a assistência à saúde no estado através da implantação e fortalecimento de um nível de atenção primária universal e de qualidade, gerando por conseqüência a diminuição da busca por serviços de maior complexidade e de custos mais elevados.3

A Constituição Federal de 1988 instituiu a criação do SUS - Sistema Único de Saúde, baseada em seus critérios de descentralização e universalização da política federal da saúde, encarregando aos municípios a responsabilidade na gestão dos serviços públicos de saúde. Desde sua implementação, o SUS passou por uma série de mudanças no que

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Esta pesquisa contemplou apenas o componente III, considerando o potencial deste render os maiores retornos

eleitorais, uma vez que envolviam os recursos com obras de infra-estrutura, contratação e qualificação de pessoal em

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tange a sua jurisdição e institucionalização a fim de alcançar o objetivo de suas diretrizes, quais sejam: i) universalidade, a fim de permitir o acesso irrestrito de toda a população; ii) descentralização, viabilizar processos mais adequados de planejamento, gestão, avaliação e controle; iii) regionalização e hierarquização de serviços, facilitando mecanismos de integração e sistemas de referência; iv) integralidade, visando englobar todos os tipos de serviços voltados à promoção da saúde, prevenção de doenças, tratamento e reabilitação; e v) eqüidade, contemplando cada comunidade e pessoa de forma proporcional às suas necessidades de saúde e de acesso aos serviços.

Nesse sentido, o programa Saúde Bahia visa alcançar os objetivos designados pelo SUS através de ações do governo no intuito de: (i) melhorar o acesso dos pobres à atenção básica da saúde; (ii) reduzir desigualdades na alocação de serviços de assistência da saúde financiados com recursos públicos (iii) aumentar a eficiência e qualidade no uso dos recursos públicos. Tais metas encontram aprovação nas orientações da organização multilateral que financia o programa, o Bird – combate a pobreza, resolver problemas de governabilidade, aumentar a competitividade e promover a preservação do meio ambiente.

O Programa, dividido em quatro componentes, apenas nos interessa em uma de suas etapas, a terceira, que seria apesar de realizado nos municípios, seria operacionalizado e monitorado pela Secretaria Estadual da Saúde. As razões desta escolha justifica-se por ter sido esta a etapa que o programa mais avançou, inclusive no que diz respeito ao redirecionamento de recursos alocados inicialmente para outros objetivos, assim como por ter envolvido a expansão e fortalecimento da atenção básica à saúde através do aumento da capacidade de compra e pagamento dos municípios, adequação da rede física (obras, equipamentos), fortalecimento do Programa de Farmácia Básica com a implementação de um banco de preços pela Internet, conversão dos hospitais locais e controle ambiental. Este conjunto de ações seria realizado

A implementação do programa se guiou por critérios técnicos. Num primeiro momento, 100 municípios seriam contemplados pelo programa, nos quais ficaria a cargo destes próprios municípios a elaboração de seus projetos de implementação. Assim, os recursos seriam alocados conforme a capacidade técnica de cada município em formular seus projetos. Como muitos municípios enfrentaram dificuldades nesta etapa, apresentando projetos altamente fragilizados, o estado passou então a conceder recursos adicionais através de bolsas para que os municípios contratassem consultorias

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especializadas para elaborar estes projetos4. Esta forma de desembolso do recurso contemplou apenas os 15 primeiros municípios, sendo todos estes e demais municípios selecionados com base no menor IDH e, mais a frente no menor IGDS.5

A partir destas definições, um banco de dados contando com informações dos 86 municípios contemplados pelo programa foi montado. Além dos dados eleitorais para a primeira eleição do Legislativo pós implementação do programa em 2006 para a Câmara Federal e Assembléia Legislativa, neste primeiro direcionamento metodológico da pesquisa foram também coletados dados eleitorais das eleições municipais dos municípios contemplados pelo programa no ano de 2004. A intenção aqui era identificar os partidos dos prefeitos eleitos para os executivos municipais em 2004, bem como os três candidatos mais votados para a Câmara Federal e Assembléia Legislativa em cada município contemplado pelo programa, associando os partidos a que estes candidatos pertenciam, assim como as freqüências total e relativa de cada candidato no conjunto dos municípios. O objetivo consistiu em evidenciar os possíveis partidos ou candidatos beneficiados nas eleições legislativas.6

Entre as dificuldades encontradas neste primeiro direcionamento metodológico, inicialmente surgiu a questão dos municípios terem sido escolhidos seguindo critérios técnicos definidos pela Secretária de Saúde do Estado juntamente com a burocracia do BIRD, o que, por sua vez, coloca em xeque a hipótese de os municípios contemplados pelo programa terem assim se tornado por motivos de cunho político. Outro ponto problemático se constitui da tentativa errônea de comparação entre eleições Legislativas e Executivas, uma vez que estas seguem lógicas distintas entre si.

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Informações levantadas em conversas informais ocorridas entre o professor Alvino Sanches com uma técnica do projeto.

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O IDH, ou índice de desenvolvimento humano, é uma medida composta que engloba 3 dimensões: riqueza, educação e expectativa média de vida. O índice varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total). Na amostra dos 86 municípios, variou entre 0,521 e 0,575. Já o IGDS é um índice formulado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), calculado a partir da média geométrica do Índice de Desenvolvimento Econômico (IDE) e do Índice de Desenvolvimento Social (IDS) de cada município. O cálculo do Índice de Desenvolvimento Econômico foi elaborado a partir da aplicação da média geométrica simples entre cada um dos indicadores, quais sejam, condições locais da infra-estrutura qualificação da mão-de-obra local e renda gerada localmente, obtidos a partir das variáveis consideradas. Para o cálculo do Índice de Desenvolvimento Social, considerou-se que o nível de desenvolvimento social de um município é determinado a partir de: nível de saúde; nível de educação; oferta de serviços básicos e renda familiar. Calculou-se o Índice de Desenvolvimento Social, através da aplicação simples da média geométrica entre os índices do nível de saúde, do nível educacional, da oferta de serviços básicos e da renda familiar. Finalmente, através da aplicação da média geométrica simples entre o IDE e o IDS, calculou-se o IGDS. Na amostra, variou entre 9 e 32.

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Há certa confusão sobre o número exato de prefeituras beneficiadas pelo Programa. Em momentos, os documentos governamentais citam 80 municípios, depois 100 e finalmente, 86. Na verdade, a confusão procede, pois o Programa foi se ajustando no processo de implementação. O número final de municípios selecionados para receberem recursos que faziam parte do componente III do Programa foi 86.

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A despeito destas questões, a análise preliminar do material sistematizado não apontou tendências as quais pudessem sugerir tratamento estatístico mais refinado. Nas eleições municipais não foi verificado uma variação significativa entre partidos da base situacionista em relação às eleições anteriores, de 2000. Quanto aos deputados federais, um conjunto de candidatos bem votados foi demarcado nos municípios da amostra, entretanto estes mesmos candidatos possuíam uma votação uniforme em todas as regiões do estado, tornando ainda mais dificultosa uma co-relação entre suas votações com o programa, ou ainda evidências para descartá-la.7

Nesse contexto, um redirecionamento metodológico foi necessário. Um novo conjunto de dados foi incorporado a pesquisa, qual seja, o percentual entre os recursos orçados e os efetivamente liberados para os municípios do Programa, além do montante liberado para cada município. Dessa maneira, uma nova leitura das questões de pesquisa foi possibilitada. Estas questões foram redefinidas a partir da prioridade dada à eleição de deputados estaduais nas eleições de 2006, relacionando os votos recebidos nos municípios do programa com o percentual e montante dos recursos liberados.8 A hipótese aqui é de que prefeitos e elite local, aliados ao governador, estariam atuando como cabos eleitorais na eleição dos candidatos aliados ao legislativo estadual, conforme os trabalhos de Abrúcio (1998) e Samuels (2003), já citados. Assim, a busca por evidências que apontassem uma possível utilização eleitoral dos benefícios do Programa para a eleição de candidatos, tendo por referência a liberação dos recursos por parte da Secretaria de Saúde do Estado foi priorizada.9

Possíveis impactos do “Programa Saúde Bahia: reduzindo desigualdades” nas eleições para o legislativo estadual em 2006.

Observando a eleição nos 86 municípios do programa nas eleições de 2006 para o Legislativo Estadual possibilitou revelar o desempenho eleitoral dos cinco principais

7 Os candidatos a deputado federal ACM Neto (PFL) e Fábio Souto (PFL), este filho do governador Paulo Souto, candidato a reeleição, foram os mais votados nos municípios selecionados pelo programa.

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No caso da Bahia, já existem trabalhos demonstrando favorecimentos e perseguições a municípios situacionistas e oposicionistas ao governo estadual no sentido de liberação de recursos, principalmente recursos direcionados para programas sociais (a respeito, ver GUIMARÃES, 2003).

9 Duas considerações são importantes quanto a este aspecto. Primeiro, certamente, havia critérios técnicos para liberação dos recursos para os municípios. A hipótese, neste caso, é que tal fato não inviabilizaria que agentes políticos intercedessem junto ao executivo para tornar mais ágeis os processos. Segundo, os dados dos recursos liberados para os municípios referem-se aos anos de 2003 até início de 2007, ou seja, depois das eleições de 2006. Diante da impossibilidade de desmembrar as informações por ano, a pesquisa assume que pode haver um pequeno desvio em relação ao montante recebido pelos municípios, mas que tal fato não compromete os achados porque o maior contingente de recursos foi liberado _rubrica para pagamento de bolsas ainda no ano de 2003.

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partidos neste ano em relação aos resultados das eleições de 2002. Os dois partidos que praticamente não teve alterado o número de votos em relação a eleição anterior foram o PFL e o PL. Já o PT, PSDB e PMDB, principais partidos oposicionistas, observaram um crescimento de suas votação, conforme dados do gráfico abaixo10:

Gráfico1: votação dos partidos mais bem votados nas eleições de 2002 e 2006 nos municípios selecionados pelo Programa Saúde Bahia 1

PFL PL PT PMDB PSDB 0 50000 100000 150000 200000 250000 300000 VOTAÇÃO ANO 2002 VOTAÇÃO ANO 2006 Fonte: TSE

Apesar da limitação dos dados apresentados no gráfico anterior no sentido de indicar ou rejeitar tendências de favorecimento à base de sustentação do governo estadual, elas são suficientes para demonstrar as limitações da busca pela variável votação no partido

político ou mesmo, votação em coligações partidárias, tendo em vista o pequeno

crescimento da votação nos partidos de oposição ao governo nos municípios selecionados pelo programa.

Assim, a eleição de candidatos, não mais do partido em geral, tornou-se o alvo para encontrar indícios de uma possível co-relação com a implementação do programa. Um levantamento no banco de dados da pesquisa foi realizado com a intenção de identificar quais seriam os deputados possivelmente beneficiados, ou mesmo, se haveria um “candidato do Programa Saúde Bahia”, o que é observado no gráfico seguinte, que relaciona o percentual de votos dos candidatos mais votados dentre aqueles que figuraram como os três mais votados em cada um dos 86 municípios. O objetivo aqui foi, portanto, recuperar a constância com que os candidatos apareceram entre os três

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mais votados em cada município, demonstrando certa regularidade e coincidência com a implementação das ações.

Dessa forma, os deputados que apareceram como mais votados nos municípios faziam parte da coligação que governava o estado, sendo que dos seis primeiros, cinco pertenciam ao PFL e um ao PL, partido da base aliada. Tal resultado serviu apenas para selecionar os candidatos para um tratamento mais refinado, relacionando-os a outras duas variáveis: o percentual de recursos liberados para os municípios em relação ao previsto; e o montante dos recursos liberados.

Gráfico 2.

CANDIDATOS DEPUTADO ESTADUAL MAIS VOTADOS NOS MUNICÍPIOS DO PROGAMA 3% 6% 5% 3% 3% 6% 5%

Robério Cassio Ribeiro Nunes (PFL) 8% Gildásio Penedo Cavalcante de Albuquerque Filho (PFL) 20% Sandro de Oliveira Régis (PL) 11%

Clóvis Ferraz Meira (PFL)

11%

Luiz Barbosa de Deus (PFL)

10%

Paulo Velloso Dantas Azi (PFL)

9%

Fonte: TSE

Essa distribuição buscou relacionar a votação dos cinco candidatos que apareciam como os três mais votados em cada município, com a votação total nos municípios do programa e o total de votos válidos no estado. 11 O resultado apresentou um padrão bastante uniforme na proporção entre o total de votos que o candidato obteve, quando presente dentre os três mais votados, com a totalidade de votos em todos os municípios (X/Y), apresentando assim um padrão concentrado de votos em alguns municípios. Esta constatação sugere algum critério de seleção ou de prioridades os quais poderiam estar relacionados com a implementação do Programa Saúde Bahia, a liberação de recursos, por exemplo, ou com variáveis outras externas ao Programa. A tabela 2 evidenciou, também, a relação entre os votos recebidos nos municípios do Programa com a votação

11 O candidato Paulo Veloso Dantas Azi (PFL), embora tenha recebido votação expressiva, não consta desta relação por não aparecer com uma freqüência significativa entre aqueles que obtiveram votação nos municípios contemplados com a liberação dos recursos.

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total dos candidatos (Y/Z). tendo em vista o impacto eleitoral, a votação nos municípios selecionados pelo programa repercutiu de forma mais significativa apenas na votação do candidato Gildásio Penedo Filho (PFL), conforme mostra a tabela abaixo12

Tabela 2. Total de votos dos candidatos nos municípios nos quais figurou entre os três mais votados, nos municípios do programa e no total do estado.

Candidato* n. votos válidos nos municípios em que ficou entre

os três mais votados (X)

n. total votos válidos nos municípios do programa (Y) X/Y % n. total de votos válidos no estado (Z) Y/Z % Gildásio P. Filho (PFL) 42875 43298 99% 73774 58,6% Clóvis Ferraz (PFL) 23406 24073 97% 75907 31,7% Sandro Régis (PL) 23084 23396 98% 99962 23,4%

Luiz B.de Deus (PFL) 20266 20818 97% 59556 34,9%

Robério Nunes (PFL) 16104 16529 97% 42489 38,9%

Fonte: Autoria própria com dados coletados junto ao TSE. * Todos os cinco candidatos foram eleitos

O próximo gráfico é um gráfico de dispersão e contempla as faixas de liberação dos recursos por municípios relacionados com a freqüência dos candidatos mais votados nestes municípios. Aqui todos os municípios contemplados pelo Programa Saúde Bahia (U=86) foram distribuídos em cinco faixas definidas a partir do percentual de recursos liberados em relação aos recursos previstos. O que quer dizer que o universo foi redefinido em função das classes nas quais os municípios foram reagrupados.13 Em seguida, foi levantado o índice de freqüência dos candidatos mais votados em cada município por faixa de liberação, utilizando-se o número absoluto da freqüência de cada candidato nas faixas dividindo-o pelo número total de municípios de cada uma destas. 14 O resultado está presente no Gráfico 3.

Gráfico 3

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Dentre os cinco, apenas Luiz de Deus tem uma trajetória relacionada com a Saúde, tendo exercido vários cargos no Hospital Nair Alves de Souza na cidade de Paulo Afonso, da qual foi prefeito, além de membro do Conselho Estadual de Saúde.

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Foram definidas 5 faixas de liberação de recursos, a saber: 17├ 19; 19 ├ 39; 39 ├ 59; 59 ├ 79; 79 ├┤100% A quantidade de municípios em cada faixa foi respectivamente: 23; 4; 3; 8; 29. Dezenove municípios não receberam nenhum recurso.

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CANDIDATOS MAIS VOTADOS X FAIXAS DE LIBERAÇÃO DE RECURSOS DO PROGRAMA

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35 0,4 0 1 2 3 4 5 6 FAIXA LIBERAÇÃO ÍN D IC E F R E Q U Ê N C IA Gildásio Penedo Clóvis Ferraz Robério Nunes Sandro Régis Luiz Barbosa de Deus

Fonte: TSE

É possível expor as seguintes considerações a partir deste gráfico: (i) há uma dispersão entre os cinco candidatos nas diversas faixas de liberação, sobressaindo-se, entretanto, o candidato Robério Nunes (PFL), com um índice de dispersão maior. Logo, este candidato foi o que mais apareceu entre os três candidatos mais votados nos municípios que estão situados nas distintas faixas de liberação; com exceção da faixa 3; (ii) o gráfico aponta uma relação direta entre percentual de recursos liberados e a freqüência com que o candidato aparece entre os três mais votados nos municípios, principalemnte se considerado os intervalos de faixa 1-4, observando pequeno decréscimo da relação na faixa 4-5. Evidenciou-se, sobremaneira, que a votação destes candidatos poderia indicar alguma relação com a liberação de recursos do programa.

Na tentativa de obter uma confirmação mais segura um gráfico de dispersão com a votação total dos candidatos em todos os municípios do Programa relacionando-a ao montante dos recursos liberados foi elaborado. O objetivo deste gráfico foi buscar uma co-relação com o total de votos e não mais com a freqüência com que os candidatos aparecem entre os mais votados. Os dados não evidenciaram uma relação perfeita entre votação e recursos liberados, ou seja, maiores recursos liberados significariam mais votos. Esta relação direta apresenta-se apenas para aqueles candidatos com percentual de votação menor, mas é invertida para aqueles mais votados nos municípios que receberam os maiores recursos. O desvio importante ocorreu com o deputado Gildásio Penedo Filho, o qual recebeu expressiva votação nos municípios que apareceram nas faixas intermediárias de liberação dos recursos. A visualização dessas variações está presente no gráfico 4.

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Gráfico 4: Total de votação dos candidatos nos municípios X montante de recursos liberados

0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 45.000 50.000 R$ - R$ 2.000.000,0 0 R$ 4.000.000,0 0 R$ 6.000.000,0 0 R$ 8.000.000,0 0 R$ 10.000.000, 00 R$ 12.000.000, 00 R$ 14.000.000, 00 Fonte TSE

Apresentados a partir da esquerda, os candidatos estão dispostos na seguinte ordem: Luis de Deus (PFL), Sandro Régis (PL), Gildásio Penedo Filho (PFL) Robério Nunes (PFL) e Clóvis Ferraz (PFL).

Tomando por base a análise estatística, a análise dos dados ainda apresenta-se frágil, bem como outros dados qualitativos acrescentados a pesquisa seriam de grande valia para compreender algumas lacunas evidenciadas na pesquisa. O que os dados estatísticos trabalhados revelaram foi (i) que o PFL e os partidos coligados, principalmente o PL, foram os partidos mais votados para a eleição de deputados estaduais nos municípios beneficiados pelo programa, desempenho que apenas repetiu o que já havia acontecido na eleição anterior à formulação da política; (ii) que os deputados estaduais, os quais se apresentaram como os três mais votados nos municípios do programa e que obtiveram também as maiores votações individuais, faziam parte da base de apoio ao governo estadual; (iii) a liberação de recursos para os municípios quando co-relacionados com a votação dos candidatos não apresentou uma relação estatística perfeita, dificultando a confirmação da tese, já presente na literatura, a qual afirma o controle sobre os recursos como uma das possíveis estratégias eleitorais dos executivos estaduais; e, por fim (iv) talvez o dado mais significativo o qual não está presente nas tabelas e gráficos apresentados, demonstra que do total de recursos liberados para o programa, mais de 76% foram direcionados para os municípios nos quais os cinco candidatos apareceram sempre entre os três mais votados.

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Conclusão

Atender aos anseios desta pesquisa necessitaria a inclusão de outras contribuições teóricas e empíricas além destas trabalhadas durante a pesquisa. A riqueza da pesquisa constitui-se assim por ter possibilitado o levantamento de questões, bem como a identificação de lacunas e apontar o direcionamento de novos delineamentos do objetivo desta pesquisa.

Assim, é possível concluir que a análise dos dados não indicou uma co-relação determinante entre a implementação das ações do Programa Saúde Bahia com resultados das eleições de 2006. Os dados agregados da votação nos partidos da coalizão governista não variaram, nos municípios selecionados pelo programa, quando comparados com as eleições de 2002, assim como foi possível identificar também um leve crescimento da votação dos partidos de oposição (PT, PSDB E PMDB) na eleição de 2006, fato este que desautoriza invocar uma relação direta entre o desempenho dos partidos governistas e a implementação do Programa nos municípios. No que diz respeito à votação nos candidatos, a análise sugere uma estratégia de utilização por parte do governo estadual dos recursos alocados para implementação do componente III do Programa Saúde Bahia, e que tal estratégia pode ter contribuído para beneficiar determinados candidatos ao legislativo estadual na eleição de 2006.

Assim, a distribuição de recursos entre os municípios mais pobres revela que não pode ser apreendida somente por uma ótica fisiológica e clientelista, uma vez que a análise desta pesquisa sugere que os princípios obedecidos na alocação dos recursos nos municípios do Programa Saúde Bahia seguiram uma lógica guiada por critérios outros que não apenas estes supracitados. Confirmando sobremaneira o caráter heterogêneo que configura os sistemas políticos subnacionais compondo-se pelo uso não apenas de uma gramática exclusiva por parte das instituições do Estado, como sugere alguns estudos como, por exemplo, Edson Nunes em seu estudo sobre A Gramática Política do Brasil (1997).

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BIBLIOGRAFIA

ABRUCIO, Fernando L. Os Barões da Federação: Os Governadores e a Redemocratrização Brasileira. São Paulo, Hucitec, 1998.

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