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Os impressos de Joaquim José da Silva Maia como instrumentos na formação de opiniões públicas ( )

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Os impressos de Joaquim José da Silva Maia como instrumentos na formação de

opiniões públicas (1821-1830)

Christiane Peres Pereira*

A partir da análise de alguns jornais áulicos do Rio de Janeiro, identifiquei o redator Joaquim José da Silva Maia como um publicista que tem sua importância pautada nas suas experiências enquanto tal. Este publicista já foi objeto de análise de historiadora Maria Beatriz Nizza da Silva, na obra Semanário Cívico, Bahia, 1821-1823, em que recupera as discussões políticas travadas pelo jornal de mesmo nome, publicado pelo redator durante o processo de independência. Outro trabalho sobre as publicações de Silva Maia é o da professora Consuelo Pondé de Sena, A imprensa reacionária na Independência: Sentinella Bahiense1, no qual a autora analisa o jornal publicado pelo redator na Bahia no ano de 1822, que dá nome a seu livro. Não há na historiografia um trabalho sobre a atuação de Joaquim José da Silva Maia, no que tange à sua participação pública no Rio de Janeiro, no Porto e na Bahia. Um publicista áulico, que utilizou a imprensa para persuadir o público leitor e ouvinte2, dado o alcance dos jornais em todas as camadas da sociedade nos limites cronológicos em que atuou.

Tendo como ponto de partida os quatro jornais publicados pelo redator, o Semanário Cívico (1821-1823) e o Sentinella Baihense (1822), na Bahia, o Imparcial, em Portugal, e O Brasileiro Imparcial, no Rio de Janeiro (1830), me proponho a analisar a participação política de Joaquim José da Silva Maia nestes três momentos e nos três espaços distintos. O objetivo deste artigo é identificar nas publicações deste redator sua contribuição nas diversas esferas em que atuou, pensando suas propostas políticas e a pretensão de formar opiniões.

*

Aluna de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Bolsista Capes.

1

SENA, Consuelo Pondé de. A imprensa reacionária na Independência: Sentinella Bahiense. Salvador: Centro de Estudos Baianos da Universidade Federal da Bahia, 1983.

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Silva Maia na Bahia, no Porto e no Rio de Janeiro: os jornais em discussão

Contudo não quero dizer que um redator não deva falar do governo, quando este cometa algum ato inconsiderado, porque em um governo livre é um serviço que se faz ao mesmo governo, mas que qualquer advertência seja feita com respeito e acatamento que é devido.3

As ideias constitucionais já circulavam pela Bahia, quando Silva Maia iniciou a publicação do Semanário Cívico. O negociante, segundo Maria Beatriz Nizza da Silva, se estabeleceu na vila de Cachoeira em 1796, e foi para a cidade apenas em 18024. Casou-se, teve filhos e em 1811 se matriculou na Real Junta do Comércio do Rio de Janeiro5. A primeira edição do Semanário Cívico data de 1° de março de 1821 e o último número saiu em 19 de junho de 1823. Este periódico tinha por objetivo “instruir o povo e dirigir-lhe a opinião para os verdadeiros princípios constitucionais”, mas também “desmascarar a impostura” e “fazer calar a calúnia” sobre os cidadãos honrados (SILVA, 2008, p. 18). Concomitante à publicação do Semanário Cívico, Silva Maia se dedicou a redigir um outro jornal, o Sentinella Bahiense, que saiu à luz em 21 de junho de 1821, com o objetivo de defender os interesses lusos naquela província. Segundo Consuelo Pondé de Sena, o redator está indignado com os caminhos que tinham levado os propósitos dos constitucionalistas do ano anterior e com a decisão de d. Pedro de convocar uma Assembleia Legislativa e Constituinte no Brasil. Segundo Maria Beatriz N. da Silva, o Sentinella fora criado para tratar diretamente dos acontecimentos do Rio de Janeiro. E foi o que fez, mostrando as “hostilidades contra as decisões favoráveis aos interesses brasileiros, que vinham sendo adotadas por d. Pedro” (SENA, 1983, p. 14). O Semanário, por sua vez, começa a fazer críticas às decisões de d. Pedro alegando ser ele jovem, inexperiente e fortemente manipulado. Essas críticas só vão ser

3

Semanário Cívico, n° 5, 1821.

4

SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Semanário Cívico: Bahia, 1821-1823. Salvador: EDUFBA, 2008.

5

A matrícula na Junta do Comércio não foi encontrada no acervo de Requisição de Matrículas do Arquivo Nacional. Dentre os documentos dos anos de 1810, 1811 e 1812 não consta a requisição de Joaquim José da Silva Maia.

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veiculadas pelos jornais de Silva Maia em princípios de julho de 1822, quando se acirram as dissensões entre o Recôncavo e Salvador, dada a inflexibilidade das tropas portuguesas, lideradas por Madeira de Melo, na oposição à regência de d. Pedro.

A publicação do Sentinella Bahiense é efêmera, termina em 7 de outubro de 1822, com apenas quinze números, enquanto que o jornal Semanário Cívico segue até meados de 1823. O redator para de publicar o Semanário pouco antes de seguir com as tropas portuguesas para o Maranhão no início de julho, quando as tropas já não mais resistiam à falta de mantimentos. Madeira de Melo já havia feito uma proclamação aos habitantes informando que talvez fosse necessário abandonar Salvador, em função da incerteza da entrada de mantimentos. Do Maranhão, Silva Maia segue para Portugal, se instala no Porto e três anos mais tarde, inicia uma nova publicação, o Imparcial.

O jornal Imparcial foi publicado nos anos de 1826, 1827 e 1828, e teve um total aproximado de 120 números. Redigido pela Typografia de Viuva Alvarez Ribeiro e Filho, no Porto, o periódico circulou de 18 de julho de 1826 até o dia 12 de janeiro de 1828. O primeiro número de que se tem exemplar na Biblioteca Municipal do Porto é o 16, de 9 de setembro de 1826. A epígrafe do jornal é: Longe de servir a este ou áquelle partido, fallando-lhe a lingoagem das paixões, fallarei a todos a linguagem da razão. (PROSPECTO).

Com a morte de d. João VI, o trono português, seguindo a ordem dinástica, era por direito de d. Pedro. Entretanto, o primogênito da família Real havia assumido o império brasileiro e, desse modo, não podia assumir o trono luso, nem mesmo reunir os dois reinos novamente. Sendo assim, dá a Portugal uma Constituição baseada na brasileira, porém adaptada à realidade portuguesa, e a regência assume sua irmã, d. Isabel Maria. A Constituição outorgada em 24 de abril de 1826 tinha elementos para agradar tanto aos realistas, como aos liberais, os dois principais “partidos” políticos de Portugal. Afirmava a autoridade política do rei, investido agora pelo Poder Moderador, dividia os poderes em Executivo, Legislativo e Judicial e garantia o direito de igualdade perante a lei aos indivíduos. Entretanto, a carta não agradou a todos, acirrando a divisão dos dois “partidos”, que àquela altura se dividiam diante da autoridade de d. Pedro, imposta pela Carta.

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Em meio a conturbada configuração política de Portugal, Silva Maia publicou o Imparcial procurando dar respaldo as atitudes de d. Pedro, como legítimo herdeiro perante a opinião pública do Porto. Sua publicação seguiu até início de 1828, quando foi preso em março, acusado de revolucionário pelos miguelistas, grupo que defendia d. Miguel para assumir o trono luso. Passou pela Inglaterra e pela Holanda, onde obteve apoio dos seus respectivos consulados e retornou ao Brasil em 1829, iniciando sua próxima publicação a 2 de janeiro de 1830, O Brasileiro Imparcial.

A 2 de janeiro de 1830, Joaquim José da Silva Maia iniciava a publicação d’O Brasileiro Imparcial no Rio de Janeiro. Anunciado no Jornal do Comércio, a 22 de dezembro de 1829, o periódico lança seu prospecto de abertura indicando o seu perfil e os interesses que moveriam a publicação a partir do ano seguinte. O que de imediato coloca é a necessidade de se estabelecer a opinião pública, que estaria “flutuante no meio dos embates dos diversos partidos”, e portanto, deveria ser formada “por meio dos Periodicos imparciaes que estejão ao alcance de todo o mundo”. E O Brasileiro Imparcial seria este periódico, que, sem se vincular a nenhum partido ou facção, promoveria a união dos interesses do povo brasileiro com os do governo e combateria as doutrinas subversivas. Além disso, ainda se propõe a publicar notícias estrangeiras e a “expender nossas idéas sobre o commercio, e economia política”6.

O jornal, que circulou duas vezes por semana, às terças-feiras e aos sábados com algumas variações, teve um total de 104 edições com quatro páginas cada, e foram publicadas pela Tipografia do Diario, na rua d’Ajuda n° 115. Sua epígrafe é exatamente a mesma que Silva Maia utilizou no Imparcial do Porto. A publicação deste periódico teve como objetivo principal acalmar os ânimos e produzir sustentáculos para o governo de d. Pedro I.

Os quatro periódicos redigidos por Silva Maia se dedicaram a defender os governos vigentes e os princípios constitucionais. Em todos os jornais o redator foi unânime em prestar solidariedade ao soberano, principalmente por que foram publicados em momentos de crise de legitimidade e confiança dos seus governos. Digo governos, porque Silva Maia em seus dois

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primeiros jornais, só reconhece como soberano o rei d. João VI e como plenas as decisões das Cortes de Lisboa. Enquanto que, no Porto e no Rio de Janeiro, dadas as resoluções políticas entre Brasil e Portugal, a separação e o reconhecimento da Independência em 1825, o redator passa a defender e exaltar o governo de d. Pedro I, até sua Abdicação em 1831.

No Semanário Cívico afirma ser necessária a instrução do povo, e dirigir-lhes a opinião (SILVA, 2008, p. 18) . Esta assertiva é repetida nas outras três publicações, onde é reiterada pelo redator quando é atacado pela oposição. Segue a esta “missão” o direcionamento da opinião pública, que em cada período é destacada como “o voto da maioria da classe pensante de huma nação: he esta classe que dirige as outras, que pugna pelos seus interesses, e que de algum modo obra e pensa por ellas, como seus naturaes procuradores;(O Brasileiro Imparcial, n.º1, 02/01/1830). A classe que dirigia a nação e que era sua procuradora natural devia se responsabilizar pela formação da opinião, e nela não se incluía os muitos redatores subversivos, da oposição, diversas vezes chamados de “incorrigíveis” pelo redator no Imparcial.

No Brasileiro Imparcial, ainda que seu título lhe imputasse uma postura um tanto quanto imparcial, é possível observar em toda a publicação o esforço de doutrinar os brasileiros, mostrar-lhes o caminho da razão, como mesmo diz em sua epígrafe. Na edição n° 29, acrescenta: “Se a nossa franca lingoagem offender a alguns homens poderozos, não temos receios de dizer-lhe, que desempenhamos literalmente a nossa Epygrafe”. Esta argumentação, bem comum aos jornais da época, faz parte da retórica que os publicistas lançavam mão para entrar nesse espaço público de debates. Apesar de não cumprirem a promessa de serem imparciais, faziam uso repetidamente deste termo para positivamente influírem na formação da opinião pública7. Esta, segundo O Brasileiro Imparcial, precisava ser pautada pelos verdadeiros princípios constitucionais, e não pela indiscrição, leviandade ou pelo espírito de partido dos redatores.

7

A repetição de argumentos e a intenção de formar uma opinião são características comuns aos jornais da época, que fazem uso da retórica em seus escritos para persuadir o público. Ver, CARVALHO, José Murilo de. História Intelectual no Brasil: a retórica como chave de leitura, in: Topoi: revista de história, nº 1. Rio de Janeiro: 7 Letras, setembro de 2000.

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O que mais chama atenção nas suas publicações é o esforço do redator de se firmar perante a opinião pública como um grande representante dos princípios constitucionais, e é o que vai marcar sua atuação na Bahia nos anos de 1821 a 1823. Tanto o Semanário Cívico, quanto o Sentinella Bahiense defenderam veementemente as Cortes de Lisboa na decisão de darem uma Constituição para o Brasil. No entanto, será essa mesma tentativa que será criticada e “esquecida” pelo redator ao defender as Constituições do Brasil (1824) e de Portugal (1826), ambas outorgadas por d. Pedro I poucos anos depois.

Fontes

-O Brasileiro Imparcial, 2/1 a 28/12/1830. Biblioteca Nacional. -O Imparcial, Biblioteca Nacional de Portugal.

Bibliografia

• SENA, Consuelo Pondé de. A imprensa reacionária na Independência: Sentinella Bahiense. Salvador: Centro de Estudos Baianos da UFBA, 1983

• SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Semanário Cívico: Bahia, 1821-1823. Salvador: EDUFBA, 2008.

Referências

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