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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NOVA LIMA/MG CURADORIA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

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1 1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE NOVA LIMA/MG

CURADORIA DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE

R E C O M E N D A Ç Ã O Nº /2010

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, por

meio dos Promotores de Justiça ao final assinados, no exercício de suas atribuições de defesa do meio ambiente e patrimônio cultural, com fundamento nos arts. 127, caput, e 129, incisos II e III, da Constituição Federal; art. 119, caput, e 120, incisos II e III da Constituição Estadual; art. 67, inc. VI, da Lei Complementar Estadual n° 34/1994 (Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de Minas Gerais), bem como nos arts. 27, IV, c/c 80 da Lei 8.625/93 e art. 6º, XX da LC 75/93;

CONSIDERANDO que a empresa Odebrecht Realizações Imobiliárias

formalizou o processo de licenciamento ambiental nº 11289/2009 para o empreendimento “Vistas do Vale”, consistente em condomínio residencial multifamiliar composto por seis edifícios, sendo quatro com 18 pavimentos e dois com 19 pavimentos, totalizando 516 unidades habitacionais com ocupação estimada de 2000 moradores e funcionários;

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CONSIDERANDO que os limites das áreas geográficas que podem ser

interferidas pelo projeto do empreendimento “Vistas do Vale”, denominadas Áreas de Influência do empreendimento, foram definidas pela equipe responsável pela execução do estudo a partir das informações disponíveis sobre o empreendimento e sobre as características do ambiente onde ele estará inserido;

CONSIDERANDO que a área prevista para implantação do

empreendimento “Vistas do Vale” está inserida nas APEs Barreiro, Mutuca, Cercadinho e Fechos;

CONSIDERANDO a proximidade entre a área prevista para o

empreendimento “Vistas do Vale” e o Parque Estadual da Serra do Rola Moça e Estação Ecológica de Fechos;

CONSIDERANDO que o Plano de Manejo do Parque Estadual da Serra

do Rola Moça estabelece normas de uso da Zona de Amortecimento da Unidade de Conservação para redução das pressões em seu entorno, dentre as quais se destaca a necessidade de compatibilidade entre os empreendimentos propostos e os objetivos do Parque;

CONSIDERANDO que o “Parque Estadual Serra do Rola-Moça”,

Unidade de Conservação de Proteção Integral criada em setembro de 1994, através do Decreto n. 36.071, ocupa uma área de 3.944 hectares em terras situadas na confluência das Serras do Curral, Moeda e Três Irmãos, protegendo os mananciais de abastecimento Rola-Moça, Taboões, Bálsamo, Catarina, Barreiro e Mutuca, declarados pelo Governo Estadual como Áreas de Proteção Especial (APE) na região metropolitana de Belo Horizonte;

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CONSIDERANDO que o Parque Estadual é uma categoria de Unidade

de Conservação de proteção integral que se destaca pela grande beleza cênica e relevância ecológica;

CONSIDERANDO que o alto grau de diversidade biológica faz com que

a área seja dotada de uma riqueza natural peculiar, que sofre pressões tanto pela exploração mineral quanto pela implantação ao seu redor de muitos empreendimentos imobiliários, resultando daí a importância de se garantir a conservação desses recursos;

CONSIDERANDO que a área onde se pretende implantar o

empreendimento “Vistas do Vale” foi classificada com de importância extrema para conservação de aves, alta para conservação de mamíferos, especial para a conservação de répteis e anfíbios e extrema a especial para conservação da flora;

CONSIDERANDO que, por suas características, o empreendimento

“Vistas do Vale” é potencialmente causador de impactos significativos, não mitigáveis e não assimiláveis pelo meio ambiente, especialmente paisagísticos e sobre avifauna e entomofauna;

CONSIDERANDO que o licenciamento de empreendimentos que

possam impactar direta ou indiretamente Unidades de Conservação de Proteção Integral deve ser fundamentado em estudos minuciosos nos casos de significativo impacto ambiental;

CONSIDERANDO que o ordenamento jurídico brasileiro, por força do

princípio da prevenção, exige a elaboração de estudo prévio de impacto ao meio ambiente para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental (art. 225, § 1º, IV da CF/88; arts. 9º, III e IV, 10,

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4 instrumento são: a) a prevenção de danos ambientais; b) a transparência administrativa quanto aos efeitos ambientais de um determinado projeto; c) a consulta aos interessados; e d) propiciar decisões administrativas informadas e motivadas1;

CONSIDERANDO que um dos requisitos à análise de viabilidade

ambiental é o anúncio público da intenção de se realizar o projeto;

CONSIDERANDO que a definição sobre a modalidade de estudo

ambiental a ser exigido no caso concreto ocorrerá em observância à natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento, podendo ser estabelecidos procedimentos simplificados para as atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental (arts. 1º, III; 11 e 12 da Res. Conama 237/97);

CONSIDERANDO que no caso do “Vistas do Vale” o órgão licenciador

municipal entendeu pela exigência de EIA/RIMA, modalidade de estudo ambiental da maior complexidade, em razão dos impactos potenciais do empreendimento;

CONSIDERANDO que a Resolução CONAMA nº 09, de 03 de

dezembro de 1987 prevê, em seu art. 2º, § 1º, que o Órgão de Meio Ambiente, a partir da data do recebimento do RIMA, fixará em edital e anunciará pela imprensa local a abertura do prazo que será no mínimo de 45 dias para solicitação de audiência pública.

CONSIDERANDO que a Deliberação Normativa COPAM nº 12, de 13

de dezembro de 1994 prevê, em seu art. 3º, § 1º, que a Secretaria Executiva do COPAM, a partir da data do recebimento do EIA e RIMA, fixará em edital e anunciará pela imprensa a abertura do prazo para solicitação de Audiência Pública, que será de no mínimo 45 (quarenta e cinco) dias.

1 BENJAMIN, Antônio Herman V.. Os princípios do estudo de impacto ambiental como limites da discricionariedade

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CONSIDERANDO que apesar da elaboração de EIA/RIMA no caso do

empreendimento “Vistas do Vale” não foi aberto prazo de 45 dias para solicitação de realização de audiência pública, o que limitou a possibilidade de conhecimento e manifestações da sociedade quanto ao empreendimento;

CONSIDERANDO que o CODEMA de Nova Lima, por meio da

Secretaria Municipal de Meio Ambiente, não realizou de ofício audiências públicas referentes ao empreendimento “Vistas do Vale”;

CONSIDERANDO que a Resolução CONAMA nº 09, de 03 de

dezembro de 1987 prevê, em seu art. 2º, que o órgão de meio ambiente competente promoverá audiências públicas sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos;

CONSIDERANDO que o Plano Diretor de Nova Lima estabelece, em

seu art. 121, que o “Poder Executivo dará publicidade na imprensa local e regional de ampla circulação e em outros meios de comunicação de massa aos documentos integrantes dos estudos e respectivos relatórios urbanísticos e ambientais mencionados nesta lei, os quais deverão ficar à disposição da população para consulta, por qualquer interessado, no órgão municipal competente”;

CONSIDERANDO que o mesmo artigo do Plano Diretor prevê que o

“órgão público responsável pelo exame dos Relatórios de Impacto Ambiental - RIMA e de Vizinhança - RIV deverá realizar audiência pública, antes da decisão sobre o projeto, devendo os moradores da região afetada serem previamente cientificados”;

CONSIDERANDO que, nos termos do art. 249 do Plano Diretor de

Nova Lima o “Poder Executivo promoverá as audiências públicas referentes a empreendimentos ou atividades públicas ou privadas em fase de projeto, de

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6 implantação, suscetíveis de significativo impacto urbanístico ou ambiental com efeitos potencialmente negativos sobre a vizinhança no seu entorno, o meio ambiente natural ou construído, o conforto ou a segurança da população, para os quais sejam exigidos estudos e relatórios de impacto ambiental e de vizinhança nos termos que forem especificados em lei municipal”;

CONSIDERANDO que as intervenções realizadas em audiência pública

serão registradas por escrito e gravadas para acesso e divulgação públicos, e deverão constar no processo.

CONSIDERANDO que no caso do empreendimento “Vistas do Vale”

não foi possível constatar o cumprimento dos dispositivos citados, já que não há no processo de licenciamento qualquer publicação na imprensa local e regional de ampla circulação ou ata de audiência pública sobre o projeto;

CONSIDERANDO que apesar da ausência de publicação de abertura de

prazo houve requerimento formal de realização de audiência pública subscrito pela Associações Comunitárias dos Condomínios Bosque do Jambreiro, Vale do Sereno, Ouro Velho, Veredas das Gerais, Jardins de Petrópolis, Residencial Sul, Ipê da Serra e Ipê, datado de 30 de novembro de 2010 e apresentado na própria reunião do Codema, o qual não foi atendido;

CONSIDERANDO que o pedido de realização de audiência pública foi

colocado em votação pelo Presidente do Colegiado, tendo sido negado pela maioria dos conselheiros presentes, o que constitui procedimento irregular, já que uma vez solicitada não compete ao órgão ambiental deferir ou não sua realização;

CONSIDERANDO que foi publicado no periódico “Nova Lima Times”,

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7 apresentação do empreendimento, sendo a publicação do mesmo dia da referida apresentação, 02 de dezembro de 2010;

CONSIDERANDO que a referida apresentação não substitui ou supre

audiências públicas, por não seguir formalidades mínimas e prazos previstos na legislação vigente;

CONSIDERANDO que a publicidade é princípio constitucional expresso

(art. 37, caput da CF) e como tal deve estar presente em todas as atividades administrativas, mormente no licenciamento ambiental, que requer a efetiva participação democrática de toda sociedade envolvida;

CONSIDERANDO que o Município, ao exercer sua competência para

realização do licenciamento ambiental, sujeita-se às mesmas normas gerais emanadas da União, conforme já decidiu a jurisprudência:

CONSTITUCIONAL. MEIO AMBIENTE. ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL. EIA. CF art. 225, § 1º, IV. Cabe ao Poder Público exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo de impacto ambiental, a que se dará publicidade. Considerando-se a importância do EIA como poderoso instrumento preventivo ao dano ecológico e a consagração, pelo constituinte, da preservação do meio ambiente como valor e princípio, conclui-se que a competência conferida ao Município para legislar em relação a esse valor só será legítima se, no exercício dessa prerrogativa, esse ente estabelecer normas capazes de aperfeiçoar a proteção à ecologia, nunca, de flexibilizá-la ou abrandá-la.

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8 (STF AgRg no RE 396.541-7 – RS – Rel. Min. Carlos Veloso. J. 14.06.2005.

CONSIDERANDO que a Resolução CONAMA nº 09, de 03 de

dezembro de 1987 dispõe em seu art. 2º, § 2º que no caso de haver solicitação de audiência pública e na hipótese do Órgão Estadual não realizá-la, a licença concedida não terá validade;

CONSIDERANDO que é atribuição do Ministério Público Estadual

expedir Recomendações, visando à melhoria dos serviços públicos e de relevância pública, bem como ao respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover (art. 32, incs. I, alínea “a”, e IV, da Lei Estadual n. 7.669/82, art. 27, parágrafo único, inciso IV, da Lei 8.625/93 e inc. XX do art. 6º da Lei Complementar n.º 75, de 20 de maio de 1993, combinado com o art. 80 da Lei Federal n. 8.626/93);

CONSIDERANDO, por fim, que a recomendação é um importante

instrumento de que dispõe o Ministério Público para ver respeitado o ordenamento jurídico sem que haja a necessidade da judicialização de eventuais conflitos, alertando seus destinatários sobre a existência de normas vigentes e da necessidade de seu estrito cumprimento, sob pena de responsabilização nas esferas competentes.

RESOLVE:

RECOMENDAR à Presidente do Conselho Municipal de Meio

Ambiente de Nova Lima, Sra. Cátia Romilde Gusso, que cumpra a legislação ambiental vigente, especialmente a Resolução CONAMA nº 09, de 03 de dezembro de

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9 1987, a Deliberação Normativa COPAM nº 12, de 13 de dezembro de 1994 e o Plano Diretor de Nova Lima, promovendo a imediata suspensão do processo de licenciamento ambiental do empreendimento “Vistas do Vale” para a realização de Audiência Pública dentro das formalidades e prazos legais pertinentes.

REQUISITA-SE, no prazo de 02 (dois) dias, o encaminhamento de informações aos órgãos subscritores da presente acerca das providências adotadas em face desta recomendação ou das razões para o seu não acatamento.

Belo Horizonte/MG, 13 de dezembro de 2010.

Andressa de Oliveira Lanchotti

Promotora de Justiça de Nova Lima Promotoria Metropolitana de Habitação e

Urbanismo

Carlos Eduardo Ferreira Pinto

Promotor de Justiça

Coordenador das Promotorias de Defesa do Meio Ambiente da Bacia dos Rios das

Velhas e Paraopeba

Ilma. Sra. Cátia Romilde Gusso

Referências

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