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PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES SOBRE AS POSSÍVEIS CAUSAS DE UMA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

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Academic year: 2021

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PERCEPÇÕES DE ADOLESCENTES SOBRE AS POSSÍVEIS

CAUSAS DE UMA GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA

Daniele Souza Minervino da Silvai Andréa Silene Alves Ferreira Meloii

Eixo Temático: 14. Educação, Sexualidade e Direitos Humanos RESUMO

Sabendo que a gravidez na adolescência é um problema de ordem social buscou-se conhecer as percepções de estudantes adolescentes sobre as possíveis causas de uma gravidez na adolescência. A pesquisa foi realizada em uma escola estadual no interior da Bahia no ano de 2010, tendo uma metodologia qualitativa descritiva. Participaram desta pesquisa 40 adolescentes que identificaram a falta de orientação e dialogo familiar, associado com a falta de prevenção por irresponsabilidade como principais fatores para uma maternidade na adolescência. Percebeu-se que os jovens já compreendem essa temática como uma questão social, mas muito deve ser feito para esclarecê-los. Dessa forma esperamos que este estudo possa servir como subsidio para promover espaços de discussão no ambiente escolar.

Palavras-Chave: Adolescência, sexualidade, gravidez

ABSTRACT

Knowing that teenage pregnancy is a problem of social order, this work aimed to investigate the perceptions of adolescent students on the possible causes of teenage pregnancy. The survey was conducted in a state school in Bahia in 2010, with a descriptive qualitative methodology. Forty teenagers participated in this research that identified the lack of family guidance and dialogue, coupled with the lack of prevention by irresponsibility as main factors for teenage motherhood. It was noticed that young people already understand this issue as a social issue, but a lot must be done to clarify them. So we hope this study can serve as a subsidy to promoteopportunities for discussion within the school environment.

Key-words: Adolescence, sexuality, pregnancy

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INTRODUÇÃO

A adolescência é uma fase de transição entre a infância e a fase adulta que se caracteriza por muitas mudanças não só físicas, mas também psicológicas; é nessa fase que o adolescente começa a definir-se, a fazer suas escolhas e a definir limites e possibilidades em sua vida.

Biologicamente a adolescência é desencadeada pela liberação de hormônios sexuais no eixo hipotálamo-hipofisário-gonodal que impulsiona o desenvolvimento dos órgãos genitais, o que resulta psicologicamente numa explosão de novos anseios, desejos, medos, insegurança e vontade de experimentar (PEREIRA et al, 2007).

Diferente da infância esse é o momento de buscar uma identidade diferente de seus pais e por isso ocorre o desprendimento familiar e a busca do convívio com indivíduos da mesma faixa etária que vivenciam as mesmas transformações. Dessa forma a turma passa ter uma grande valorização em detrimento da familiar trazendo grande impacto para os pais que se sentem trocados.

É também na adolescência que ocorre a maturação sexual favorecendo o início da prática sexual, que é culturalmente diferenciada de acordo com o gênero. Embora não com a mesma intensidade de décadas anteriores, a prática sexual masculina ainda é estimulada desde cedo entre os jovens, associada a uma prova de sua masculinidade enquanto a feminina é mal vista se não ocorrer dentro de vínculos matrimoniais (TORRES, 2005).

O conflito social, físico e emocional que o adolescente já sofria por estar ‘adolescendo’, é aumentado com o desafio de uma gravidez. A gestação na adolescência é de modo geral, enfrentada com dificuldade, tendo em vista que a gravidez nessas condições significa uma rápida passagem da situação de ser filha para ser mãe.

A menarca e o início da prática sexual vêm ocorrendo cada vez mais precocemente, e associado a essa antecipação, tem-se observado o aumento dos índices de gravidez na adolescência, pois muitos jovens ainda não possuem uma devida maturidade para racionalizar as responsabilidades implicadas no ato sexual.

Segundo Duarte (1998), a primeira relação sexual ocorre de forma inesperada, decorrente da excitação do momento, dessa forma geralmente não é

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planejada, ocorrendo de forma impulsiva, sem a utilização de meios preventivos, e aumentando os riscos de uma gravidez na adolescência.

No Brasil, o índice de nascidos vivos registrados no ano de 2006 foi de 2.944.928 indivíduos, sendo que 21,5% eram de mães adolescentes. Na Bahia tivemos 220.187 nascidos vivos, sendo 24,3% de mães adolescentes (IBGE, 2007).

Tem-se observado que este elevado índice de gravidez e maternidade na adolescência está associado a diversos fatores, como a ocorrência da menarca e início da vida sexual cada vez mais cedo, a falta de informações seguras sobre sexualidade, e também por um desejo de encontrar na maternidade as formas de suprir as carências.

Outro fator que contribui para uma gravidez na adolescência são a cultura e o contexto social ao qual o indivíduo está submetido. As atitudes e comportamentos relativos à sexualidade relacionam-se diretamente à cultura do indivíduo, que varia com o local, época e circunstância (SANTOS, DAMIANI, MORETTI, 2001). Dessa forma observa-se também que em muitos casos a gravidez na adolescência é desejada, contrastando com a antiga visão de que a gravidez nesta faixa etária é indesejada.

Diante de uma gravidez na adolescência muitas jovens que não dispõem do apoio familiar nem do parceiro acabam optando pelo aborto, fato que tem crescido muito entre as adolescentes, podendo ocasionar, em muitos casos, a morte materna.

A elevada freqüência de abandono escolar é outro problema que está associado à gravidez na adolescência. Este abandono tem sido atribuído a diversos fatores, como a vergonha das jovens em ter que enfrentar os colegas e professores que criticam a sua postura e o seu “estado”. Quando essa gestação acontece com uma adolescente de classe social baixa, é quase inevitável que a mãe e/ ou o pai da criança abram mão da escola na busca por emprego, que também se torna muito difícil, tendo em vista a má qualificação profissional e a baixa escolaridade.

Por constatar que a gravidez na adolescência é uma problemática de ordem social, este artigo buscou conhecer as percepções de adolescentes sobre as possíveis causas de uma gravidez na adolescência, acreditando que estes dados servirão de subsídios para trabalhos posteriores, buscando contribuir para a discussão e enfrentamento da situação.

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METODOLOGIA

Este é um estudo qualitativo descritivo que segundo Triviños (2009) é utilizado para descrever com fatos e fenômenos a realidade de uma comunidade que se quer conhecer. Partindo destas colocações e sabendo que o estudo qualitativo descritivo é considerado adequado para o entendimento de um fenômeno de natureza social, acreditamos que esta metodologia seja a mais adequada para estudos relativos à sexualidade humana.

Richardson (1989) afirma que os estudos qualitativos possibilitam a descrição, a análise e a classificação de processos dinâmicos vividos por comunidades, além de contribuírem na compreensão do comportamento das pessoas.

A pesquisa foi realizada em uma escola pública da rede estadual de ensino em um município do interior da Bahia, tendo como participantes 40 estudantes adolescentes do ensino médio matriculados no ano de 2010.

Para o levantamento dos dados foi utilizado um questionário com perguntas objetivas de múltiplas escolhas, que segundo Richardson (1989) são destinadas a obter informações sócio-demográficas, e também perguntas subjetivas que são destinadas a obter informações sobre o tema pesquisado.

Segundo Lakatos (2005), a técnica do questionário consiste em se utilizar de uma série de perguntas que devem ser respondidas sem a influência do pesquisador. O questionário não apresentou identificação pessoal do estudante, apenas idade e sexo, visando resguardar as identidades dos/as participantes.

Por se tratar de pesquisa com seres humanos, esta foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos. O termo de consentimento livre e esclarecido foi enviado previamente aos responsáveis pelos estudantes, informando do que se tratava a pesquisa, para que concordassem ou não com a participação dos/as filhos/as. Mesmo de posse do consentimento dos responsáveis, foi facultada aos jovens a participação na pesquisa.

A análise do material foi realizada por meio da sistematização das respostas dos participantes, identificando e classificando as categorias mais significativas

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através do método da análise do conteúdo, incluindo suas percepções sobre as causas da gravidez na adolescência. Nesta análise dos questionários buscou-se as principais mensagens emitidas pelos participantes, assim como as convergências e divergências dos participantes, no sentido de proporcionar um melhor entendimento sobre o tema, utilizando-se da literatura científica já produzida.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dentre os 40 participantes da pesquisa, 20% eram do sexo masculino e 80% do sexo feminino, sendo que todos os participantes eram solteiros. A média de idade para ambos os sexos foi de 16 anos.

A partir dos dados coletados buscou-se compreender o que pensam os adolescentes sobre as possíveis causas de uma gravidez na adolescência.

As possíveis causas relatadas pelos adolescentes entrevistados estão de acordo com as percepções sobre a problemática, sendo considerado a falta de orientação e diálogo familiar, juntamente com a falta de prevenção associada à irresponsabilidade, como as principais razões para a maternidade na adolescência. Pesquisas feitas por outros autores como Santos, Damiani e Moretti (2001) corroboram estes resultados.

A falta de diálogo familiar é percebida pelos jovens como um dos fatores responsáveis pela maternidade na adolescência.

A gravidez na adolescência pode ser causada por falta de informações, de diálogo na família e etc. (ENTREVISTADA Nº19)

Santos, Damiani e Moretti (2001) consideram que a informação tem que começar em casa, tendo em vista que é a família que constrói a base para o processo educativo.

Embora estejamos na era da globalização onde as informações são altamente difundidas, muitos pais por vergonha ou medo de incentivarem a prática sexual, acabam por não dialogarem com seus filhos sobre sexualidade, deixando espaço para que sejam orientados por amigos ou através de outras fontes que podem não

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fornecer as informações corretas e necessárias para o desenvolvimento de uma prática sexual saudável e segura.

Sayão (1997) ressalta que deve haver uma parceria entre a escola e a família para melhor orientar os estudantes, acreditando que a escolar deve exercer uma orientação sexual complementar a exercida pela família.

Embora alguns jovens sejam orientados, muitos ainda não racionalizam as conseqüências decorrentes dos seus atos e acabam se deparando com uma gravidez muitas vezes não planejada. Segundo Santos, Damiani e Moretti (2001), é após o nascimento da criança que os pais adolescentes vão perceber a responsabilidade advinda do nascimento de um filho, e assim vão ter que abandonar os brinquedos para tomar conta de uma criança frágil e indefesa.

As falas desses jovens evidenciam essa observação:

A falta da responsabilidade, pois a camisinha está ai pra todos usar e além de prevenir a gravidez, previne de doenças também. (ENTREVISTADA Nº11)

Hoje em dia engravida quem quer porque tem várias maneiras de não engravidar, mas as mulheres não pensam e querem ter relações sem os métodos que evita uma gravidez. (ENTREVISTADO Nº 26)

A não utilização de métodos de prevenção está muito mais relacionada à ansiedade e ao desejo de experimentação do que a uma atitude irresponsável, pois este é um momento em que jovens descobrem um novo modo de sentir prazer e se limitam a vivenciar este sentimento, não levando em consideração que novas experiências requerem novas atitudes.

Outra possível causa apresentada por alguns estudantes, sendo que em menor freqüência, foi a tentativa de “segurar” o namorado, sendo esta uma situação já relatada nos estudos de Araújo, Morés e Antunes (2001), e Santos, Damiani e Moretti (2001).

Algumas mulheres acham que podem segurar o namorado ou o marido e acabam engravidando tão cedo. (ENTREVISTADA Nº08)

Na tentativa desesperada de manter um relacionamento, de obter afeto e segurança no envolvimento a dois, muitas adolescentes acabam optando por uma gravidez, acreditando que este é o único meio de manter o seu relacionamento. Neste caso a

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gravidez é desejada, contrastando a antiga visão de que maternidade na adolescência é sempre indesejada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar de nos encontramos em uma época em que as fontes de informação são altamente difundidas entre os jovens, os adolescentes dessa pesquisa mostram que compreendem a questão da gravidez na adolescência como decorrente da falta de orientação familiar; irresponsabilidade associado à falta de prevenção; tentativa de segurar o namorado.

Embora mostrarem-se informados sobre alguns aspectos ligados à sexualidade, os jovens ainda não racionalizam as conseqüências decorrentes dos seus atos e acabam se deparando com situações não planejadas, e as atitudes, muitas vezes impensadas, podem gerar conseqüências para toda a vida.

A forma como eles lidam com a gravidez na adolescência demonstra que eles compreendem as responsabilidades advindas dessa situação, desde quando a consideram um “ato de irresponsabilidade”, mas a falta de prevenção está muito mais associado a ansiedade, ao desejo de vivenciar novas formas de sentir prazer, do que a um ato de irresponsabilidade.

Acreditamos que este trabalho servirá de base para proporcionar o desenvolvimento de espaços de discussões sobre sexualidade no ambiente escolar, a partir das próprias percepções de estudantes adolescentes sobre a temática.

Os jovens vêem a escola como um local onde podem tirar suas dúvidas e responderem as questões que seus familiares não souberam responder, possibilitando assim um melhor esclarecimento dos jovens, visando assim não só uma diminuição nas maternidades na adolescência, mas também que estes vivenciem sua sexualidade de forma prazerosa e consciente.

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, Vanize M.; MÓRES, Andréa; ANTUNES, Helenise S. Os dizeres das adolescentes sobre a gravidez precoce: desafios para a escola. Revista Educação, v. 26, n. 01, 2001. Disponível em: <http://coralx.ufsm.br/revce /2001/01/a5htm> Acesso em 03 nov. 2008.

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DUARTE, Albertina. Gravidez na adolescência: ai como eu sofri por te amar. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1998.

IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem da População 2007. Disponível em

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/contagem2007/contagem_final/t abela1_2_16.pdf> Acesso em 17 dez. 2009.

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de A. Metodologia do trabalho científico. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2005

PEREIRA, José Leonídio et al. Sexualidade na Adolescência no Novo Milênio. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, Pró-Reitoria de Extensão, 2007.

RICHARDSON, Roberto J. et al. Pesquisa social: métodos e técnicas. 2.ed. São Paulo: Atlas, 1989.

SANTOS, Ana Flávia dos; DAMIANI, Fernanda E.; MORETTI, Eleonor. Gravidez na adolescência e educação sexual: percepções e contribuições de alunas do ensino médio. Revista Brasileira de Sexualidade Humana, v. 12. n. 02, p. 197-208. 2001. SAYÃO, Rosely. Saber sexo? Os problemas da informação sexual e o papel da escola. In: AQUINO, Júlio Groppa (Org.). Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 2 ed. São Paulo: Summus, 1997. p. 97-105.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2009.

TORRES, Taluana L. A.; MOREIRA, Maria de Fátima S. Gravidez na adolescência e processos educativos: sexualidade, sentimento e projetos de vida. In: Simpósio Internacional do Adolescente. São Paulo, 2005.

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Graduanda em Ciências Biológicas, Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Sexualidade, Universidade

Estadual de Feira de Santana. danysminervino@yahoo.com.br

ii

Bióloga. Mestre em Saúde Coletiva. Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre Sexualidade, Universidade

Estadual de Feira de Santana. deasilene@yahoo.com.br

Referências

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