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Potencial de cultivo da jabuticabeira no Paraná 1

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Academic year: 2021

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Potencial de cultivo da jabuticabeira no Paraná1

Moeses Andrigo Danner2 A jabuticabeira é endêmica do Brasil, embora há alguns relatos de ocorrência no Paraguai e Argentina, mas de forma bem restrita, então pode-se dizer que é exclusiva do Brasil. Inclusive algum tempo atrás ouvi um político (deputado), falar na câmara, peguei uma parte do discurso dele, ele falou assim: “Esse tipo de corrupção é igual jabuticaba, só dá no Brasil”, Gostei dessa alusão para utilizar depois nas aulas e palestras.

Tem nove espécies de jabuticabeira no Brasil, seis delas são consideradas extintas na natureza e foram classificadas de exemplares que estão apenas em algumas coleções de centros de pesquisa. Mas três delas são aquelas que se destacam mais e que tem cultivo mais amplo e ainda são encontradas na natureza, em fragmentos florestais que são: a Plinia truncifolia, Plinia cauliflora e Plinia jaboticaba. O gênero Plinia esta sendo utilizado nos artigos mais recentes, antigamente a jabuticabeira pertencia ao gênero Myrciaria. Nos artigos das universidades de São Paulo e Minas Gerais, eu vejo que eles tem uma restrição de utilizar o nome do gênero Plinia e ainda utilizam mais o Myrciariai. Mas, pelas informações dos estudiosos da família Myrtaceae, o gênero Plinia parece ser o mais adequado para a classificação botânica das jabuticabeiras, então a partir de alguns anos atrás eu passei a utilizar o gênero Plinia, mas se vocês virem Myrciaria cauliflora ou Plinia cauliflora, estes dois nomes representam a mesma espécie (sinonímia botânica).

A jabuticabeira tem um potencial muito grande, os frutos são muito utilizados para o consumo in natura. Isso remete principalmente ao problema de alta perecibilidade: as jabuticabas tem que chegar no mercado e ir do mercado ao consumidor de forma muito rápida, em um ou dois dias seria o ideal, principalmente se não houver resfriamento e embalagem com filme plástico. Também é necessário investir muito mais na agroindústria, transformação das frutas em geleias, vinho, licor, doces, sorvetes, picolés e produtos cosméticos. Ela é muito utilizada como planta ornamental, então se diz que a jabuticabeira é uma planta de quintal ou de fundo de quintal, muito em função de ter a beleza ornamental e ao mesmo tempo dar frutos. O porte e o aspecto da planta mesmo antes dela florescer e frutificar é embelezador, então uma grande parte das casas na cidade hoje tem a jabuticabeira no jardim, sendo este um grande potencial de comercialização da jabuticabeira.

Outro potencial também seria a exploração da jabuticabeira para turismo rural, que hoje um dos maiores exemplos está nas propriedades do município de Hidrolândia, em Góias. Há muitas jabuticabas plantadas a 60-80 anos atrás, eles se utilizam nessas propriedades do “pague e colha”, você paga um ingresso e pode ficar durante todo o dia no pomar na sombra das jabuticabeiras e fazendo o consumo dos frutos. E um potencial muito grande que não é explorado seria o da casca da jabuticaba, onde está a elevada presença de compostos antioxidantes, dos grupo dos flavonoides, principalmente as antocianinas. Nós medimos de 36 jabuticabeiras nativas em 5 locais de ocorrência na região Sudoeste do Paraná, nós verificamos que algumas plantas tinham em média de

1 Palestra proferida no II Simpósio Paranaense de Fruticultura, no dia 27 de novembro de 2014, em Ponta

Grossa, Paraná. Áudio gravado e texto transcrito por Nilva Mariléia Alves.

2 Dr., professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Câmpus Dois Vizinhos.

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360 miligramas em cada 100 g de casca e outras até 1420 miligramas em 100 gramas de casca, muito superior a casca da uva ou do próprio mirtilo, originário dos Estados Unidos e que se dá muita ênfase ao potencial antioxidante. Qual é o problema? É que nós não costumamos comer a casca da jabuticaba, é um rejeito que se joga fora. Nós fizemos um folder para divulgar que o consumidor faça esse consumo, coma a casca enquanto esta comendo o fruto in natura da jabuticaba. Então é possível você comer a casca daquelas frutas que estão mais pretas, ou seja, mais maduras, porque ela é sim adstringente, devido ao tanino presente na casca. Portanto, quanto mais madura menos tanino, ou seja, menos adstringente. Além disso, você pode comer uma casca e na sequência comer somente a polpa de outro fruto para tirar o amargor da boca. Recomenda-se comer de 5 a 10 cascas, em função das antocianinas que combatem radicais livres.

No Sudoeste do Paraná nós mapeamos e contamos as jabuticabeiras de 14 fragmentos florestais ainda existentes, principalmente em propriedades particulares. Estes fragmentos florestais são considerados como área de Reserva Legal, portanto de certa forma, estão protegidos. Estas plantas dão frutos e o pessoal comercializa na beira de rodovias, tem uma importância econômica também muito grande. Nós medimos as jabuticabeiras adultas que tem de 12 a 21 metros de altura, então por isso o perigo de cair durante o período da colheita. Essas plantas já perderam a capacidade de produzir no tronco próximo ao solo, em função dos danos de as pessoas subirem nelas, ou por uma condição de idade das plantas, essas plantas certamente são centenárias ou até bicentenárias. O crescimento é muito lento, ela tem altura de quase 20 metros, então as plantas devem ser proporcionalmente de idade avançada. Dentro da mata, essas plantas tem alguns agrupamentos em um local, fica uma parte do mato sem ter jabuticabeiras e volta a ter outro agrupamento um pouco distante do primeiro, que por isso parece ter organização por famílias, ou seja, agrupamentos com alto nível de parentesco, em relação aos demais agrupamentos. Inclusive nós estamos estudando com marcadores moleculares pra ver essa estruturação genética dentro desses locais. Isso também pode ser um efeito do plantio delas, plantio esse que pode ter sido exercido por animais ou por grupos humanos, os indígenas que antigamente habitavam a região Sudoeste do Paraná.

A jabuticabeira está presente na formação florestal da região Sudoeste do Paraná, que é a floresta com Araucária. Neste slide vocês veem uma imagem disso: uma jabuticabeira que cresceu entrelaçada a uma araucária de grande porte. Esta outra foto mostra jabuticabeiras da mata no município de Vitorino-PR. Nessas plantas adultas é necessário subir aproximadamente 5 a 8 metros de altura para colher os frutos. Esses frutos são colhidos, principalmente por famílias carentes, pessoas que são subempregadas nas cidades e que durante a época de maturação da jabuticaba, durante 30 a 40 dias, no mês de outubro, eles tem essa fonte de renda importante socialmente para essas famílias. Normalmente são as mesmas famílias que fazem a coleta e comercialização do pinhão na beira das rodovias regionais.

Iniciando a segunda parte da apresentação, um histórico das pesquisas com jabuticabeira na UTFPR. Elas iniciaram no ano de 2001 com o professor Idemir Citadin, com o projeto de pesquisa denominado "Coleta, caracterização, conservação e uso de fruteiras nativas do bioma floresta com araucária", realizando-se estudos de várias frutíferas nativas nas matas da região, mas principalmente com ênfase na jabuticabeira, em função do potencial da espécie e da observação de que a jabuticabeira estava presente em maior número de indivíduos. Esse projeto se fortaleceu no ano de 2004, porque eu entrei como bolsista de iniciação científica (é brincadeira), mas ele recebeu financiamento do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e

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Tecnológico), então isso possibilitou a compra de equipamentos importantes para a realização de análises. Neste período que eu iniciei minha participação nos trabalhos deste projeto e continuo até atualmente.

Vou apresentar agora alguns artigos que nós publicamos, com os principais resultados dessas pesquisas com jabuticabeira. O primeiro deles foi com a propagação da espécie através da técnica de mergulhia aérea (também conhecida como alporquia). Até atualmente a alporquia é a técnica de maior sucesso para a propagação da jabuticabeira, porque ainda não se chegou a um protocolo eficiente com grande enraizamento por estaquia. Nesse trabalho publicado em 2006 nós verificamos até 100% de enraizamento, principalmente se utilizando da concentração de AIB (ácido indolbutírico) de 4000 mg L-1 em todas as épocas testadas (agosto, outubro, dezembro e maio). Especialmente quando a alporquia é realizada em maio, esta concentração difere das outras duas concentrações que foram utilizadas (zero ou 6000 mg L-1). E quando se realiza a alporquia no mês de dezembro é até dispensável a utilização do AIB, pois os três tratamentos não diferiram entre si. Então se vocês forem recomendar para alguma pessoa que queira fazer alporquia de jabuticabeira, mas que não tem acesso a compra do AIB, é possível recomendar que ele faça a alporquia no mês de dezembro, ou melhor ainda, observar a fenologia da árvore, pois no caso do nosso trabalho, no mês de dezembro já tinha passado toda a frutificação da planta e ela estava retomando o ciclo de crescimento vegetativo, observado pelas folhas vermelhas nas pontas dos ramos, que é uma característica das brotações novas de jabuticabeira. Isto deve ser porque nesse estágio, a concentração de auxinas endógenas nos ramos era suficiente para permitir o enraizamento elevado, mesmo sem aplicação de AIB exógeno (testemunha, concentração zero).

Seguindo com a pesquisa de alporquia, neste slide vocês podem ver as fotos do processo de alporquia, onde se faz o anelamento de um ramo, que é a retirada da casca, na qual está o floema, impedindo o fluxo descendente de seiva. No anelamento nós colocamos o fitorregulador (AIB) embebido em algodão pra fixar bem e favorecer a permanência deste na região do anelamento. Depois o ramo é embalado com um plástico transparente, amarrado na extremidade inferior, coloca-se o substrato umedecido dentro do plástico, até cobrir totalmente abaixo e acima da região anelada e a embalagem é amarrada também na extremidade superior. Após seis meses da alporquia, nós observávamos as raízes, de coloração avermelhada, externamente ao substrato. Por isso é útil o plástico ser transparente, para visualizar as raízes e saber o momento de retirar o ramo da planta matriz. Nesta foto está um alporque enraizado, depois do desligamento da planta matriz, em que nós fizemos a lavagem do substrato para avaliar a quantidade de raízes. Mas, para fazer o plantio o substrato deve ser mantido ao redor das raízes e eu recomendo primeiramente fazer o plantio em vasos grandes, manter em estufa com irrigação (de preferência com nebulização) pra que essas raízes se desenvolvam mais, porque elas são muito tenras e sensíveis a quebra. Depois de 1 a 2 anos, pode-se plantar essa muda de alporquia no local definitivo. Nós fizemos isso em algumas dessas mudas e a partir do quinto ano do plantio elas começaram a florescer e produzir frutos. Lembrando que o alporque é um clone da planta matriz, neste caso uma planta nativa da região Sudoeste do Paraná, e que quando é feita a produção de mudas dessas plantas por sementes, a planta gerada demora até 15 a 20 anos para produzir frutos.

Esse artigo foi publicado em 2010, reunindo um experimento de enxertia e outro experimento de alporquia de jabuticabeira. Nós fizemos a enxertia de três espécies (Plinia cauliflora, P. trunciflora e P. jaboticaba), com ramos coletados de árvores localizadas na cidade de Itapejara do Oeste, e enxertamos sobre o porta-enxerto oriundo

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de sementes da espécie nativa das matas da região, que é a Plinia cauliflora, ou seja, o mesmo porta enxertos para as três espécies. A enxertia interespecífica foi eficiente nesse caso, nós tivemos taxa de brotação de 51 a 73%, não diferindo significativamente entre as três espécies na enxertia realizada no mês de maio. Isto demonstra que a enxertia interespecífica é viável, pelo menos inicialmente, pois tem que verificar depois se não há incompatibilidade tardia. A única diferença significativa na brotação entre as espécies ocorreu na enxertia realizada em agosto, na qual a espécie Plinia jaboticaba teve brotação muito baixa (15%). Porquê? Provavelmente porque esta era a única espécie que tinha frutos, na época de coleta dos ramos para enxertia, frutos esses que eram drenos fortes para todos os hormônios e carboidratos produzidos na planta, e em função disso os ramos não tinham condições para tornar a enxertia eficiente. No experimento de alporquia, nós testamos a largura de anelamento e o diâmetro do ramo a ser feito o alporque. Para a largura de anelamento não houve diferença significativa, porém o diâmetro do ramo para ser feito o alporque sim. Ramos de maior diâmetro (de 2 a 2,5 cm) são ideais para se fazer a alporquia, porque o enraizamento é superior aos ramos de 1,0 a 1,5 cm.

Outro trabalho que foi publicado, foi o do diagnóstico ecogeográfico e a caracterização dos locais de ocorrência da jabuticabeira na região Sudoeste do Paraná. Nós avaliamos características de solo nos 14 locais, medimos a altitude, a área, o número de plantas, a densidade, a altura e o diâmetro das plantas adultas. Nós contamos 4036 plantas adultas de jabuticabeira, em 202 hectares de fragmentos florestais, com número de 55 até 1400 plantas e a média de altitude foi de 577 até 989 metros, nesses 14 locais. A média da altura das plantas variou de 12,5 até 19,3 metros, algumas plantas tinham mais que 20 metros de altura.

Outro trabalho que nós fizemos foi para tentar identificar o modo de reprodução da jabuticabeira, saber se ela é autógama, alógama ou de sistema misto de reprodução, conhecimento que é muito importante para se fazer manejo de pomares e também o melhoramento genético da espécie. Nós fizemos ramos sem ensacamento e ramos com ensacamento, com tecido voal que evita a entrada de insetos e com tecido TNT, para evitar a entrada de insetos e também passagem de pólen pelo vento. O que ocorreu? Das três espécies de jabuticabeira, apenas as plantas da espécie Plinia cauliflora não frutificaram quando os ramos foram ensacados. Isso poderia demonstrar que essa espécie é preferencialmente autógama, mas isso pode ser também uma condição da morfologia floral. Então, no ano seguinte nós medimos a morfologia floral e percebemos que para P. cauliflora a distância entre o estigma e as anteras era maior do que nas outras duas espécies (P. trunciflora e P. jaboticaba). Isto parece impedir a autopolinização sem a interferência de insetos. Então há a necessidade de que os insetos façam o contato do pólen das anteras com o estigma, para aumentar a frutificação dessa planta. Possivelmente, em função de os insetos visitarem várias flores de mais de uma planta ao mesmo tempo, deve haver formação de sementes por polinização cruzada. Isso nos faz crer que essa espécie deve conter mistura de sementes de cruzamento e de autofecundação, ou seja, é de sistema misto de reprodução. Para confirmar a taxa de autofecundação e de polinização cruzada nós estamos fazendo um trabalho com alunos de mestrado e doutorado da UTFPR, Câmpus Pato Branco, através da aplicação de marcadores moleculares em jabuticabeiras nativas. Este slide mostra a floração de uma jabuticabeira. Este tipo de floração é comum nas espécies da família Myrtaceae, denominada floração do tipo “Big Bang”, porque quase todas as flores abrem ao mesmo tempo. Isto é uma estratégia de plantas autógamas para atrair os insetos que são responsáveis pela polinização. Abelhas são os principais insetos polinizadores. Em um

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artigo de outros autores publicado em 2004, verificou-se que 98% dos insetos visitantes de jabuticabeiras eram abelhas da espécie Apis melifera.

Neste slide há um artigo que nós fizemos, visando aumentar a conservação de sementes. Um problema enfrentado é que a jabuticabeira tem sementes recalcitrantes e isso impede uma conservação eficiente das sementes para você trocar, por exemplo, material genético via sementes entre pesquisadores de locais distantes. Nós observamos em um experimento feito em 2007, que após apenas 10 dias armazenadas em temperatura ambiente ou mesmo a 6 °C ou 12 °C, as sementes perdiam totalmente a viabilidade. Isso é um indicativo de que a sementes não toleram dessecação, a perda da umidade no interior da semente. Para tentar resolver esse problema nós testamos o uso de embalagem das sementes e mantendo elas embebidas em líquido. O que aumentou a conservação das sementes foi a embalagem a vácuo com as sementes embebidas em água e principalmente em tampão fosfato pH 7,0. Essas sementes após 65 dias mantinham metade da viabilidade, ou seja, metade das sementes germinavam. Esse período de 65 dias é suficiente, acredito eu, para trocar material genético via sementes entre locais distintos.

Nós também fizemos a mensuração de caracteres de frutos, folhas e flores, para a diferenciação das três espécies de jabuticabeira. Uma das principais diferenças que nós observamos foi o tamanho do pedúnculo do fruto. Se observou que a Plinia trunciflora tem o pedúnculo maior (6,5 a 9,7 mm), não é à toa que ela é chamada de jabuticaba de cabinho, enquanto a P. jaboticaba tem o pedúnculo de tamanho intermediário (4,3 mm) e a Plinia cauliflora tem o pedúnculo quase grudada ao tronco (2,8 mm). Nós observamos nas plantas das três espécies, todas localizadas na mesma propriedade no município de Itapejara do Oeste-PR, que tendo plantas das três espécies é possível ter uma frutificação de até 45 dias (teste de dois anos: 2007 e 2008). Se utilizar poda, adubação e principalmente irrigação, nós podemos estender este período de frutificação por 60 ou até 90 dias, aumentando a produção de jabuticaba.

E na terceira parte da palestra vou falar sobre o potencial econômico da espécie. De forma geral, nós damos pouco aproveitamento comercial para as frutas nativas do Sul do Brasil. Como exemplo, o mirtilo é nativo da América do Norte, e está sendo muito difundido em todo o mundo, inclusive aqui no Brasil. A jabuticabeira já é testada em cultivos na Flórida, Estados Unidos, desde a década de 1970. Neste artigo do slide, publicado em 2006, tem informações sobre estes cultivos de jabuticabeira na Flórida, informações sobre tolerância a geadas, está escrito que as plantas que estão lá toleraram temperaturas de até -4 °C e em temperaturas de -7 °C elas passaram a ter danos nos ramos. Nesse artigo é mencionado também que a jabuticabeira tem um potencial muito grande de cultivo na Florida, porque o clima deste estado americano é similar ao clima subtropical úmido do sul do Brasil e também porque há muitos brasileiros, os quais conhecem a jabuticaba e, inicialmente, seriam os consumidores para vender os frutos. Depois, com a divulgação poderia se estender o consumo para o resto da população estadunidense.

Estes artigos demonstram pesquisas realizadas na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no quais foi testado o efeito da farinha da casca de jabuticaba, a qual foi seca e moída. Essa farinha foi ministrada para ratos contendo células cancerígenas (leucemia e câncer de próstata) e o resultado foi de redução de 50% dessas células cancerígenas nos ratos que foram alimentados com a farinha da casca de jabuticaba. Além disso, reduziu também de 40 a 60% do colesterol e diabetes de ratos obesos. Além de reduzir o colesterol ruim (LDL) a farinha da casca da jabuticaba aumentou o colesterol bom (HDL). Isto se deve ao efeito das antocianinas presentes em grande quantidade na casca da jabuticaba, as quais combatem os radicais livres.

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Eu trouxe aqui alguns dados de produção de jabuticaba, mas não há informações estatísticas precisas desta produção no Brasil. Estima-se que há aproximadamente 60 mil jabuticabeiras em produção no Brasil, especialmente em Goiás e São Paulo, juntando os municípios de Hidrolândia em Goiás e Casa Branca em São Paulo contabiliza-se mais de 40 mil jabuticabeiras em produção. A produtividade média por planta adulta é de 100 kg, é um planta extremamente produtiva, essa uma vez que a produção é de aproximadamente seis milhões de kilos anualmente no Brasil. Desta quantidade, 40% são comercializadas no Ceagesp de São Paulo e nas Ceasa's de Minas Gerais, Goiás e Paraná. Neste slide tem as estatísticas do Ceagesp, do volume de comercialização e preço da jabuticaba comercializada de 2002 até 2013. A média de comercialização é de 2 mil toneladas anuais (ou 2 milhões de kilos). Todos os meses há comercialização, porém 60 a 70% do volume comercializado é em setembro, outubro e novembro, em que a safra da jabuticaba se concentra. Desse volume de 2 milhões de kg, 4 produtores do município de Casa Branca-SP comercializam 83%, os quais tem 5, 10, 15 e 20 mil plantas em produção, plantadas pelos pais ou avós da família que administra as propriedades atualmente. Agora vejam a evolução do preço, o qual era R$ 2,63 em 2003 e passou para R$ 16,45 de preço médio anual em 2013. Lembrando que isto é preço no atacado. Quem compra no ceagesp são os feirantes e donos de supermercados, os quais revendem as jabuticabas por um preço ainda maior, nas quitandas, nas ruas, nas feiras e nos mercados. A embalagem das jabuticabas no Ceagesp são principalmente caixas de papelão contendo 6 kg de jabuticabas. Neste slide são apresentadas as estatísticas de comercialização de jabuticaba nas Ceasa's em 2013. No Rio Grande do Sul é bem incipiente, a menor quantidade comercializada, visto também possuir menor número de jabuticabeiras. O Paraná e Minas Gerais se equivalem na comercialização na Ceasa, aproximadamente 70 toneladas anuais. No Paraná 87% das jabuticabas são comercializadas na Ceasa de Curitiba e 13% na de Londrina, essas duas unidades que comercializam 100% da jabuticaba que se tem informações estatísticas.

Uma outra forma de exploração econômica da jabuticaba, são as festas da jabuticaba, que tem em algumas cidades onde se concentra a produção. Sabará, em Minas Gerais, por exemplo, tem o mais famoso Festival da jabuticaba que já esta na 31a edição. Essa festa é organizada pela prefeitura, em conjunto com uma associação de 31 mulheres da cidade que fazem produtos derivados da jabuticaba (licores, vinhos, geleias e molhos). Entre 10 e 15 mil pessoas visitam a cidade no período do festival e uma pesquisa feita através desse artigo no slide, demonstrou que 95% dessas pessoas eram turistas que estavam lá apenas em função do festival, se tornando uma fonte de renda para a cidade, com o turismo gastronômico.

Esse aqui é um pomar que possui aproximadamente 2 mil jabuticabeiras em produção, no município de Hidrolândia-GO, essa reportagem é do Jornal Popular, aqui tem o destaque para o agricultor, que começou o plantio quando tinha 22 anos em 1980 com 500 jabuticabeiras. Há 4 anos atrás ele voltou para a propriedade para se dedicar a produção, porque ele trabalhava na cidade, a partir do momento que a maioria das jabuticabeiras entraram em produção. O agricultor menciona que a alta produtividade esta nos detalhe do manejo, ele faz poda de abertura da planta, adubação e irrigação, que aumentam a produtividade. Ele inclusive antecipa a produção de uma parte das plantas usando a irrigação. Ele tem a comercialização garantida, em Brasília e Goiânia, ele vende o fruto in natura.

E o principal destaque, também em Hidrolândia-GO, é a fazenda com o maior número de jabuticabeiras, 31 mil plantas no total e 21 mil em produção, até o ano passado. Inclusive, essa propriedade já apareceu mais de uma vez em reportagens do Globo Rural e Jornal Hoje, na Tv Globo, e também na Tv Record. Aproximadamente 15

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mil pessoas visitam a propriedade anualmente, principalmente nos meses de setembro, outubro e novembro, na safra da jabuticaba. Eles podem fazer degustação de jabuticabas nas plantas, pagando ingresso de R$ 25,00 por pessoa adulta e R$ 12,5 por criança, e podem ficar o dia inteiro fazendo piquenique na sombra das jabuticabeiras e comendo os frutos. Além disso, pode levar para a casa, pagando R$ 5,00 o kg de jabuticaba. Essa fazenda também tem uma vinícola, que faz vinho de jabuticaba (claro que o termo vinho é uma licença poética, uma vez que este somente pode ser produzido a partir da uva). São produzidas 100 mil garrafas de vinho de jabuticaba anualmente, toda jabuticaba oriunda da safra da própria fazenda, que tem 105 hectares de jabuticabeiras plantadas, em 110 hectares do total da propriedade. É produzido vinho tinto, que é feito da fermentação da casca, o vinho dourado, que é a fermentação da mistura da casca com a polpa, e vinho branco com fermentação somente da polpa. São três tipos de vinhos, licores e geleias. Os licores e geleias são exportados, principalmente, para os Estados Unidos. O vinho para Estados Unidos e Europa. Então, praticamente todos os produtos derivados de jabuticaba da propriedade são para exportação. As primeiras jabuticabeiras foram plantadas em 1947, pelo pai dos 11 irmãos que administram atualmente a fazenda, mais de 50 pessoas da família trabalham na produção e mais 20 funcionários que eles contratam na época de colheita. Tem também um restaurante que possui um mirante que fica direcionado para o pomar de jabuticabeiras, o que gera mais uma fonte de renda na propriedade. A produção anual é de 2 mil toneladas de jabuticaba nessa propriedade, igual a toda a quantidade comercializada no Ceagesp. Esta é o maior caso de sucesso da exploração comercial da jabuticabeira. Em tom de brincadeira o dono da fazenda faz o desafio: “Se alguém conseguir comer uma jabuticaba por planta leva minha fazenda”.

Agora vou apresentar alguns desafios para fortalecer e aumentar a comercialização da jabuticaba. A produção e comercialização de jabuticaba é muito concentrada. Por exemplo, no Ceagesp são comercializadas nos meses de setembro, outubro e uma parte de novembro, de 60 a 70% do volume total anual. Por isso, teria que buscar técnicas de manejo para distribuir a produção em outros meses do ano, tais como: plantar mais de uma espécie, genótipo ou variedade no pomar; fazer poda, adubação e irrigação em épocas diferentes dividindo o pomar em partes distintas; testar a aplicação de produtos que estimulam a floração, tais como os inibidores de giberelina. Outro problema é que a jabuticaba é muito perecível. Sem resfriamento ou sem embalagem a fruta dura 1 ou dois dias, pois fermenta rapidamente. Para aumentar a vida de prateleira, teríamos que viabilizar a utilização da cadeia do frio. A temperatura ideal para conservação da jabuticaba é próximo de 12 °C, que é temperatura superior às demais frutas. Por isso, teria que utilizar uma cadeia do frio própria para a jabuticaba. Com este resfriamento as jabuticabas duram até uma semana, se o resfriamento fosse conjugado com embalagem plástica (atmosfera modificada), é possível estender por até 12 a 15 dias a conservação. Isso viabilizaria a exportação do fruto in natura para locais próximos, especialmente países da América Latina. Para viabilizar a exportação para os Estados Unidos e para a Europa, os derivados da jabuticaba são mais adequados do que fruto in natura. No Sudoeste do Paraná, município de Clevelândia, um produtor vendeu 12 toneladas de jabuticaba, de uma propriedade com pouco mais de 900 jabuticabeiras nativas. Nesta, há um comprador das jabuticabas que transportava os frutos para Santa Catarina em um caminhão refrigerado (frigorífico). Isso é o ideal para a conservação das jabuticabas, fazer o resfriamento logo após a colheita e ainda no transporte.

Uma das variedades de jabuticabeira que apresenta grande potencial e que pode ser explorada imediatamente é a jabuticabeira "híbrida". Não se sabe exatamente sua origem e se é realmente um híbrido natural ou de hibridação dirigida. A informação que

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tenho é que foi uma planta selecionada por um agricultor de São Paulo, ainda na década de 1920. Atualmente, praticamente todos os viveiristas tem mudas de jabuticabeira "híbrida" para comercializar, normalmente mudas em vasos grandes, com custo mínimo de R$ 50,00, e as de maior porte, algumas até já com flores e/ou frutos, custando R$ 100,00 a R$ 150,00. As características desta variedade que a tornam com muito potencial é que mesmo no plantio a partir de sementes, a produção inicia após 3 a 5 anos, enquanto a produção de mudas das jabuticabeiras nativas demoram mais de 10 anos. Além disso, a "híbrida" gera de 3 a 5 frutificações durante o ano, inclusive se observa flores, frutos verdes e frutos maduros ao mesmo tempo na planta. O porte também é reduzido, então serve para quintais urbanos, e em pomares comerciais permite maior densidade de plantas por área. Se for utilizar em pomar comercial já poderíamos recomendar esse tipo de planta, embora o preço da muda é muito alto, então tem essa restrição, mas o agricultor poderia produzir mudas enxertadas, ou até mesmo de sementes.

Desde 2001, com o projeto criado pelo professor Idemir Citadin na UTFPR, Câmpus Pato Branco, foram realizadas importantes pesquisas com esta frutífera nativa de grande potencial de uso econômico no Paraná. A continuidade das pesquisas estão sendo realizadas principalmente na UTFPR, Câmpus Dois Vizinhos, em conjunto pelo professor Américo, que está trabalhando também com outras fruteiras nativas, e por mim. A partir de 2013 iniciei projeto financiado pelo CNPq, para verificar aspectos de genética de populações da jabuticabeira em ambiente florestal na região Sudoeste do Paraná. Nós estamos com os mestrandos e doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Agronomia, da UTFPR, Câmpus Pato Branco, fazendo executando esse projeto visando estimar o fluxo gênico por pólen e sementes, a diversidade genética intra- e interpopulacional, a estrutura genética espacial e o sistema de reprodução de jabuticabeira em fragmentos florestais. Outro trabalho que estamos realizando é estudar a comercialização da jabuticabeira, fazendo a aplicação de questionários às pessoas que fazem a comercialização da jabuticaba no Sudoeste do Paraná, visando verificar: Como se faz esse comércio? Para onde vai o fruto? Como se colhe? Quem colhe? Quem vende? Qual o lucro obtido? Quais os principais animais que são vistos na mata? Quais as principais plantas arbóreas? Esse questionário foi aplicado em 2013 e 2014 e pretende-se dar continuidade nos próximos anos para tentar captar a importância socioeconômica que a jabuticabeira tem na região. Ainda dentro desse projeto, nós fizemos um folder e entregamos às pessoas entrevistadas, o qual serve de divulgação das pesquisas, contendo informações nutricionais da jabuticaba, indicação para consumir a casca que tem elevado teor de antocianinas, recomendações de plantio e produção de mudas e receitas de bolo, geleia e licor de jabuticaba. Este folder deve ser entregue aos consumidores da jabuticaba.

Esta é uma imagem do banco de germoplasma de jabuticabeiras que foi implantado em 2009 na UTFPR, Câmpus Dois Vizinhos. Durante o trabalho do meu mestrado, nós coletamos sementes de jabuticabeiras em cinco locais na região Sudoeste do Paraná. Foram produzidas as mudas e elas foram plantadas pela equipe do professor Américo. Esse banco de germoplasma tem cerca de 120 genótipos, ainda é pequeno, mas já é um passo inicial para fomentarmos a seleção de genótipos promissores.

Como resultados esperados de todas essas pesquisas estão fomentar o cultivo de pomares comerciais de jabuticabeira, especialmente na região Sudoeste do Paraná, em função do potencial que tem. O Paraná possui dois climas principais, na metade sul é mais frio e na metade norte é mais quente. Isto permite a produção das espécies de jabuticabeira que toleram o frio na parte sul, a Plinia cauliflora (nativa no Sudoeste do Paraná) e P. trunciflora (que ocorre na região de Ponta Grossa, onde é mais frio), e a

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Plinia jaboticaba que poderia ser cultivada no norte do estado. Então nós temos uma condição climática que proporciona viabilizar esse cultivo e comercialização da fruta, já que tem mercado. Isso consequentemente conduziria ao que é chamado pela FAO de "Conservação pelo Uso" ou "Conservação on farm", na qual o agricultor faz o plantio tendo interesse econômico da jabuticaba e, em consequência, as plantas estariam conservadas dentro da propriedade. Esta é uma forma mais efetiva e barata de conservação do que os bancos de germoplasma, os quais também são importantes, mas que custam caro e tem a dificuldade de manutenção. Lembrando que eu fiz esta palestra para falar do potencial de cultivo da jabuticabeira do Paraná, então a jabuticabeira tem um potencial muito grande e pouco explorado, muito menos do que é em Goiás, São Paulo e Minas Gerais, por exemplo.

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