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TRIBUNAL SUPREMO. Câmara do Cível e Administrativo

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TRIBUNAL SUPREMO

TRIBUNAL SUPREMO. Câmara do Cível e Administrativo ACÓRDÃO

PROCESSO Nº 1140/07

Na Câmara do Cível e Administrativo do Tribunal Supremo, os Juízes Acordam, em Conferência, em nome do Povo:

JOSÉ CARLOS FONSECA TELES DE MENEZES, divorciado, de

nacionalidade portuguesa, residente habitualmente na Baía Azul em

Benguela, propôs no Tribunal Provincial de Benguela acção de

conflito de trabalho contra SEDE-SOCIEDADE DE ESTUDOS E

DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO LIMITADA, com sede na Rua Sacadura Cabral, em Benguela, pedindo ao Tribunal o seguinte: 1. A condenação da requerida no pagamento de salários que lhe são devidos, desde Novembro de 1998 a Fevereiro de 1999;

2. O pagamento de uma indemnização, nos termos do nº 1 do artº40 da Lei nº 6/81 de 24 de Agosto de 1981, em 100%, 75% e 50%, respectivamente;

3. A indemnização das despesas de alojamento, alimentação e transporte a expensas da empresa;

4. O pagamento dos bilhetes de passagem Benguela-Lisboa para o requerente e a esposa.

5. A condenação da requerida no pagamento de custas e procuradoria.

O requerente fundamenta, em síntese, que trabalhou para a

requerida, no período compreendido entre 12 de Dezembro de 1992 até Novembro de 1998, altura em que foi despedido sem aviso

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TRIBUNAL SUPREMO prévio.

Para além de ser administrador da requerida, o requerente também era sócio da mesma, com uma quota correspondente a 30%, razão pela qual não foi reduzido a escrito o contrato de trabalho, e auferia o salário correspondente a 30.000,00 (Trinta Mil) Francos

Franceses.

Designada tentativa de conciliação, (fls. 26 e 30), a mesma realizou-se em conformidade com o formalismo legal (fls. 36) não tendo, no entanto, as partes chegado a acordo quanto à matéria

controvertida.

Notificada a Requerida, (fls. 39), veio a mesma contestar a acção (fls. 40) impugnando os factos deduzidos pelo requerente, alegando que nunca foi celebrado um contrato de trabalho com o mesmo porquanto a sua qualidade de sócio gerente o impedia.

Alega ainda que o requerente nunca foi sócio da requerida mas tão- somente lhe foi passada uma procuração por um dos sócios

gerentes para, em seu nome, gerir e administrar a requerida. O afastamento do requerente deveu-se não ao facto deste reivindicar a sua quota, mas tão-somente ao facto de não ter exercido a sua função com dedicação e saber o que fez com que o mesmo se demitisse.

Conclui pedindo a improcedência do pedido do requerente e a condenação deste no pagamento da quantia equivalente a USD 5.500,00, relativos ao reembolso a que a sua má-fé tenha obrigado a requerida, incluindo os honorários do advogado.

Aos autos foi junto Réplica, (fls. 50), e Tréplica (fls. 76) onde as partes reafirmam o já alegado nos articulados anteriores.

Designada audiência preparatória (fls. 108), a mesma verificou-se em conformidade com o formalismo legal, (fls. 115), não tendo sido

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possível a conciliação entre as partes. Entretanto, a ilustre

mandatária do requerente, requerendo a palavra, esclareceu ao Tribunal que, relativamente ao pedido, já se encontrava

ultrapassada a questão dos salários uma vez que os mesmos foram já liquidados. Mas que mantém o pedido no que concerne ao

pagamento da indemnização pelo despedimento ilícito, nos termos da Lei Geral do Trabalho.

Elaborou-se despacho saneador, com especificação e questionário, (fls. 117), tendo o mesmo sido objecto de reclamação, (fls. 122 e 140), que não mereceu deferimento (fls. 124).

Inconformada com a decisão, a requerida interpôs o competente recurso de agravo, com subida imediata nos próprios autos e efeito suspensivo, (fls. 147).

Admitido o recurso, (fls. 151), e remetidos os autos ao Tribunal "ad

quem" o mesmo julgou procedente o recurso, (fls. 179).

Designada data para julgamento, (fls. 204), o mesmo verificou-se em conformidade com o formalismo legal, (fls. 230).

Procedeu-se ao julgamento da matéria de facto, (fls. 234), não tendo o mesmo sido objecto de qualquer reclamação.

O Tribunal "a quo" proferiu decisão a julgar a acção procedente e, em consequência, condenou a requerida a indemnizar o requerente na quantia equivalente a USD 957.125,00 (Novecentos e Cinquenta e Sete Mil, Cento e Vinte e Cinco Dólares Americanos), no caso do mesmo não ser reintegrado (fls. 254).

Inconformada com a decisão, a requerida interpôs o competente recurso de apelação, (fls. 262).

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O Tribunal "a quo" admitiu o recurso como de apelação, com subida

nos próprios autos e efeito suspensivo, (fls. 236).

Notificada da admissão do recurso, veio a requerida juntar as devidas alegações, com os seguintes fundamentos:

I. Que, o Juiz "a quo" ao formar a sua convicção teve

predominantemente em conta o conteúdo da intervenção do

requerente, ora apelado, no decurso do julgamento e, apenas das duas testemunhas por ele arroladas.

II. Que, não atendeu e não faz referência na sentença ao

depoimento da testemunha Cândido Manuel Marnoti da Maia Rocha,

arrolada pela Ré, ora apelante, que provou ter-se o requerente demitido.

III. Que, não ficou provado o requerente, ora apelado, ter sido despedido sem aviso prévio, no dia seguinte ao da reunião realizada em 13 de Fevereiro de 1999.

IV. Que, o requerente, ora apelado, na alínea b) da sua Petição Inicial, requereu para ser indemnizado nos termos do nº 1 do art. 40º da Lei n.º 6/81, de 24 de Agosto, em 100%, 75% e 50% com base no salário, neste caso, de 30.000 Francos Franceses à data equivalentes a USD 5.000,00 (Cinco Mil Dólares Americanos). V. Que, o Juiz "a quo" veio condenar a requerida, ora apelante, a indemnizar o requerente no montante de USD 957.125,00

(Novecentos e Cinquenta e Sete Mil, Cento e Vinte e Cinco Dólares Americanos), na base do documento de fls. 236 dos autos, dado entrada na Secretaria do Tribunal, no dia 28 de Março de 2006, pela mandatária judicial do requerente, ora apelado, porque sugerido pelo Juiz "a quo" na presença de todos os intervenientes, depois de terminada as alegações dos mandatários judiciais das partes, tal como consta na parte final de fls.233 dos autos.

VI. Que, o referido montante foi impugnado pela Ré, ora apelante, uma vez não ter qualquer fundamento.

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pedido de indemnização, nos termos do pedido no processo supra mencionado, significa dizer que a indemnização é de 100%, 75% e 50% com base no salário de 30.000 Francos Franceses, à data equivalentes a U.S.D. 5.000,00 (Cinco Mil Dólares Americanos) o que não perfaz o elevadíssimo montante de USD 957.125,00

(Novecentos e Cinquenta e Sete Mil, Cento e Vinte e Cinco Dólares Americanos), que consta da decisão recorrida.

VIII. Que, o Juiz "a quo" ao interpretar e aplicar a Lei nº 6/81, de 24 de Agosto, (Lei Geral do Trabalho) aos factos, uma vez que formou a sua convicção de o requerente, ora apelado, ter sido, em 13 de Fevereiro de 1999, despedido sem aviso prévio, deveria ter um pouco mais de prudência em verificar se o presente processo, sendo de recurso, foi ou não intentado no prazo de 15 dias,

contados a partir da data em que o requerente, ora apelado, tomou conhecimento do despedimento.

IX. Que, se na convicção do Juiz "a quo", o requerente, ora apelado,

foi despedido sem aviso prévio, no dia 14 de Fevereiro de 1999, quando foi convidado a abandonar o recinto da empresa, logo, deveria verificar que no prazo de 15 dias contados desta data, isto é, até ao dia 28 de Fevereiro de 1999, tinha de intentar a presente acção de recurso e apenas o fez no dia 15 de Março de 1999,

decorridos 15 dias do termo do prazo estabelecido no nº2 do art.63 da Lei Geral do Trabalho.

Conclui, pedindo que o Tribunal "ad quem" revogue a decisão

recorrida.

O apelado juntou contra alegações, (fls. 293).

O Tribunal "ad quem" admitiu o recurso como sendo o próprio (fls.

389v).

Remetidos os autos ao digno representante do Ministério Público, (fls. 297) o mesmo exarou promoção no sentido de se tratar de um

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TRIBUNAL SUPREMO de conflito de trabalho.

Em conclusão, pronunciou-se pela revogação da decisão recorrida com fundamento no facto de ser excessiva e sem fundamento a indemnização arbitrada.

Correram os vistos legais.

Tudo visto cumpre decidir: I - A Questão do Recurso

Sendo o âmbito e o objecto do recurso delimitados, (para além das meras razões de direito e das questões de conhecimento oficioso), pelas conclusões formuladas pela recorrente - arts.660, nº 2; 664, 684, nº 3 e 690, nº 1, todos do C.P.C., emergem como questões a apreciar e decidir, no âmbito do presente recurso, as seguintes:

1. Saber se o Tribunal "a quo", ao formar a sua convicção teve ou

não em conta toda a prova testemunhal produzida em julgamento. 2. Saber se ficou provado que o apelado foi despedido sem aviso prévio.

3. Saber se, caso se entenda que houve despedimento sem aviso prévio, a acção foi ou não intentada dentro do prazo legal.

4. Saber se a indemnização fixada pelo Tribunal "a quo" é ou não

excessiva face ao que dispõe a lei para o caso de despedimento sem aviso prévio.

II - Factos Provados

A decisão recorrida julgou provados os seguintes factos: 1. A requerida é uma empresa que tem como objecto social a captura de peixe.

2. Esta foi fundada em 1991 e tem a sede social em Benguela.

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TRIBUNAL SUPREMO Feliciaggi e Carlos Belli Belo.

4. Com base em conhecimentos e relações pessoais dos dirigentes da empresa, o requerente foi convidado a integrar a sociedade. 5. Em 1992, o requerente é integrado na empresa, assumindo o cargo de administrador.

6. Dadas as boas relações sociais e também o modo de trabalho da empresa não houve contrato de trabalho reduzido a escrito.

7. Facto não esclarecido neste processo, mas que é objecto de uma outra acção, as relações pessoais entre o requerente e o sócio

Charles terão ficado turvas depois que aquele começou por

reivindicar as quotas sociais que devidamente terão sido cedidas por si a este, por artifícios fraudulentos.

8. Daí em diante o clima entre os sócios tornou-se nublado. 9. Em consequência deste clima, em reunião realizada a 13 de

Fevereiro de 1999, numa altura em que o requerente terá tocado na questão das quotas, as relações foram de muita tensão e no dia seguinte fora convidado a abandonar o recinto da empresa. 10. Em razão dessa medida, não mais lhe foi permitido executar qualquer tarefa.

11. Até Fevereiro do respectivo ano os salários foram-lhe pagos. 12. As partes chegaram a acordo quanto às alíneas a) e d) da petição inicial.

13. O requerente não causou quaisquer prejuízos à requerida. 14. Não houve má gestão.

15. O requerente foi despedido sem aviso prévio. III - Apreciando

Vejamos as questões que se colocam no âmbito do presente recurso.

O Tribunal "a quo", ao formar a sua convicção teve ou não em

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TRIBUNAL SUPREMO

O Tribunal "a quo", a fls. 234 dos autos, procedeu ao julgamento da

matéria de facto tal como o impõe o art. 653 do C.P.C..

Atendendo que o questionário, limitado aos factos relevantes não provados, tendo havido contestação, circunscreve o âmbito da

instrução do julgamento do Tribunal colectivo e da primeira parte da discussão da causa (arts º 513, 653, nº2 e 653, n.º3/e) do C.P.C. é indispensável que o Tribunal "a quo" proceda à resposta aos

quesitos para, deste modo poder fundamentar a sua decisão. No entanto, resulta do art.º 653, nº 2, 1ª parte, que o Tribunal no julgamento da matéria de facto, relativamente aos factos provados, deve especificar os fundamentos que foram decisivos para a

convicção dos julgados. Assim, poder-se-á afirmar que a fundamentação das decisões judiciais, em geral, cumpre duas funções: a) uma, de ordem endoprocessual, que visa

essencialmente impor ao Juiz um momento de verificação e controlo crítico da lógica da decisão, permitir às partes o recurso da decisão com perfeito conhecimento da situação e ainda colocar o Tribunal de recurso em posição de exprimir, em termos mais seguros, um juízo concordante ou divergente; b) outra, de ordem

extraprocessual, já não dirigida essencialmente às partes e ao Juiz "ad quem" , que procura acima de tudo, tornar possível um controlo externo e geral sobre a fundamentação factual, lógica e jurídica da decisão (que procura, dir-se-á, por outras palavras, garantir a «transparência» do processo e da decisão) - vd. Abílio Neto in Código do Processo Civil Anotado, 14ª ed., pág. 661.

In concretu, não obstante não se ter verificado o cumprimento pontual de tal preceito, a verdade é que a decisão indica os meios de prova de forma genérica e, como tal, se deverá entender que ainda que não seja a melhor, tal fundamentação é suficiente para alicerçar a própria decisão.

Outrossim, estando ao dispor das partes a possibilidade de

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da matéria de facto, nos termos do art.653, nº 4, o facto de a apelante não o ter feito em momento próprio fez precludir a possibilidade de o fazer em sede de alegações.

Pelo exposto não nos parece que deva proceder este argumento deduzido pela apelante.

Ficou ou não provado que o apelado foi despedido sem aviso prévio?

Na decisão de fls.234 (resposta aos quesitos) consta que em resposta ao quesito 5º "resultou provado que o autor fora

despedido sem aviso prévio" e, em resposta ao quesito 8º " não resultou provado que o autor se tivesse auto demitido".

Em face de tal factualidade fáctica não poderia o Tribunal "a quo" ter decidido de forma diferente daquela que decidiu.

Ademais, tal como acima já foi referido, não tendo a apelante

reclamado desta decisão, em momento próprio, tal facto inibe-a de o fazer em sede de recurso.

Assim sendo, improcede também aqui tal argumento deduzido pela apelante.

Caso se entenda que houve despedimento sem aviso prévio, a acção foi ou não intentada dentro do prazo legal?

Nos termos do art. 42 da Lei nº 6/81 de 24 de Agosto (L.G.T.) a acção de impugnação de despedimento, com ou sem aviso prévio, deve ser intentada no prazo de 15 dias contados do dia seguinte àquele em que se verificou a notificação do despedimento e, uma vez ultrapassado o referido prazo, caduca o direito de instauração da acção.

A caducidade do direito de accionar é uma excepção peremptória, de conhecimento oficioso do Tribunal e, em termos de metodologia jurídica, deve ser uma questão de mérito a ser apreciada "a priori",

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na medida em que, caso seja julgada procedente, impossibilita o Tribunal de apreciar quaisquer outras questões que se coloquem. In concretu, estar-se-á face a uma situação de caducidade do direito de acção?

Vejamos.

Resulta da factualidade provada os seguintes factos relevantes para apreciação desta questão:

1. Em reunião realizada a 13 de Fevereiro de 1999, numa altura em que o requerente terá tocado na questão das quotas, as relações foram de muita tensão e no dia seguinte fora convidado a

abandonar o recinto da empresa.

2. Em razão dessa medida não mais lhe foi permitido executar qualquer tarefa.

3. Desde a data do conhecimento do despedimento (dia 14 de Fevereiro de 1999) até à data da interposição da acção, (dia 15 de Março de 1999), terão decorridos 28 dias.

Em face de tais factos não restam dúvidas que o requerente interpôs a acção fora do prazo previsto na lei pelo que terá caducado o direito do mesmo à acção.

Ora, em face de tal caducidade, não poderia o Tribunal "a quo" ter

apreciado a questão da ilicitude do despedimento e,

consequentemente, ter condenado nos termos em que o fez. Nestes termos assiste total razão ao recorrente, relembrando aqui que, caso tal questão não fosse de conhecimento oficioso e o

recorrente só a tivesse suscitado em sede de alegações (como foi o

caso) o Tribunal "ad quem" estaria impedido de apreciar a questão

pois tal configuraria alegação de factos novos.

Atendendo ao facto de proceder a excepção de caducidade é de todo despiciendo apreciar a última questão que se colocou no objecto do presente recurso.

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Nestes termos e fundamentos, acordam os desta Câmara em julgar procedente o presente recurso e, em

consequência, revogar a decisão recorrida julgando procedente a excepção de caducidade da acção e consequente absolvição da requerida do pedido. Sem custas.

Luanda, 27-03-2009. Joaquina do Nascimento Belchior Samuco

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