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ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DA BACIA DO RIO PARNAÍBA: UM FOCO NOS CERRADOS DO SUL DO PIAUÍ E MARANHÃO

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Academic year: 2021

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ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO DA BACIA DO RIO PARNAÍBA: UM FOCO NOS CERRADOS DO SUL DO PIAUÍ E MARANHÃO

Ivete Oliveira Rodrigues1, Rogério Botelho de Mattos1 e Rosangela Garrido Machado Botelho1 e Adma Hamam de Figueiredo1 (coordenadora) (1 IBGE, Av. República do Chile, 500, 15º andar, 20.031-170, Rio de janeiro, RJ. e-mail: ivete.rodrigues@ibge.gov.br)

Termos para indexação:

Cerrados; sul do Piauí e Maranhão; dinâmica da população; imigração sulista; população local.

Introdução

Este estudo integra o Zoneamento Ecológico-Econômico da Bacia do Rio Parnaíba, elaborado por um consórcio de empresas governamentais, entre elas o IBGE, e que tinha por objetivo subsidiar a formulação de políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades na região de cerrados do sul do Piauí e do Maranhão e também para a ativação das potencialidades naturais visando ao desenvolvimento sustentável desse espaço regional cuja dinâmica territorial e, especificamente, a dinâmica demográfica, revela, a um só tempo, não só as formas pretéritas de apropriação dos recursos naturais pela sociedade, como, principalmente, as tendências recentes que identificam uma nova realidade socioambiental nessa sub-região.

Oriunda de forças transformadoras comprometidas com a expansão da agroindústria da soja por sulistas que operam, simultaneamente, em diferentes escalas geográficas, a área dos cerrados do sul do Piauí e Maranhão adquire, contemporaneamente, uma identidade regional que subverte fluxos e articulações socioeconômicas tradicionais e coloca em xeque, além das formas históricas de uso desse território e de reprodução de sua sociedade, até mesmo, a integridade política além das feições culturais construídas ao longo da história dos Estados do Piauí e Maranhão.

Com efeito, a inserção da região dos cerrados num circuito econômico mundializado tende a acirrar a diferenciação socioespacial aí existente, o que vai requerer, mais que nunca, uma ação

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pública ativa, sobretudo na oferta de elementos de competitividade sistêmica como educação e infra-estrutura de acessibilidade, para evitar a fragmentação territorial interna e externa a essa região e/ou a consolidação de uma realidade onde ilhas de dinamismo convivam com numerosas sub-regiões marcadas pela estagnação, pobreza, retrocesso e até isolamento (Araújo, 2000).

O estudo pretende, portanto, tratar a questão ambiental mais além de sua visão convencional enquanto manejo dos recursos naturais, favorecendo uma concepção multidimensional, na qual o ambiente, a demografia, a economia, a sociedade, a cultura e as instituições interagem sobre o território modificando-o continuamente.

A análise regional: os resultados e uma discussão

Revelando as formas mais gerais de apropriação e uso do território, a dinâmica territorial constitui dimensão central na análise socioeconômica do Macrozoneamento da bacia hidrográfica do Parnaíba. Isso ocorre porque ela reproduz a um só tempo a evolução histórica que moldou o espaço geográfico dessa bacia, como constitui elemento ativo na produção das formas contemporâneas que moldam as relações sociedade-natureza reveladas no território de modo articulado.

Com efeito, na análise da dinâmica territorial e demográfica do Macrozoneamento da bacia hidrográfica do Parnaíba é preciso substituir a dicotomia intrínseca à idéia de “pressão antrópica” pela introdução de uma percepção abrangente e interligada da ação humana sobre a natureza, transmitida pelas formas politicamente articuladas de apropriação e uso do território. Cabe lembrar, nesse sentido, que a visão territorial pressupõe, a priori, que as formas de apropriação e uso da terra são respostas a processos originados na dimensão humana.

A ocorrência de áreas com altos níveis de erosão e, portanto, fortemente impactadas pela ação humana em sub-espaços da bacia do Parnaíba revela que a baixa densidade demográfica longe de estar estreitamente associada à conservação ambiental remete a análise da dinâmica territorial a um entendimento integrado e, portanto, mais complexo, das formas de apropriação e uso do território onde ocorrem as relações sociedade-natureza.

A localização predominantemente ribeirinha dos centros urbanos, formando uma rede urbana do tipo linear, aliada à ocupação tradicional dos brejos à margem dos rios pela pequena produção familiar ainda constituem os elementos estruturantes que explicam a persistência, na atualidade, de indicadores de fraca densidade demográfica nas áreas de “terras altas” das

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chapadas e de índices mais elevados de concentração da população nos “brejos” ao longo dos rios.

Desse modo, os locais onde havia presença de água, seja de um rio perene ou mesmo de um riacho, passam a ser a principal referência para a população regional, como lugar de (re)produção de seus meios de vida e de morada. Essas áreas, sobretudo, as da vazante, continuam ainda com intenso aproveitamento pela população que aí desenvolvem várias atividades tais como o cultivo agrícola realizado predominantemente em pequenas roças; a criação de gado bovino; a fabricação de telhas e tijolos, com os solos hidromórficos; a coleta de frutos plantados ou naturais (manga, goiaba, buriti, etc.); a extração de água para beber por meio de cacimbas, etc.(Alves, 2001).

Para a população local, a organização do seu espaço de morada e de produção, obedece, desse modo, em grande medida, às condições oferecidas pela natureza, bem como, à maneira pela qual foi conduzido o processo de ocupação e de povoamento daquele Estado, baseado na atividade pastoril e na pequena produção camponesa. Nesse sentido, cada domínio natural será aproveitado por aquela população de acordo com suas características específicas.

Outro recorte socioambiental corresponde ao domínio das terras altas e é denominado, pela população local, de “gerais” ou “chapadas”. Esse domínio caracteriza-se por extensos platôs planos com menor presença de cursos d’água, onde o uso da terra dominante constitui as pastagens naturais, além da extração de madeira, de frutos silvestres, mel além da caça ainda praticada. Tal domínio, ao contrário do que ocorre na vazante, até há pouco tempo, não apresentava cercamentos revelando, desse modo, além da fraca densidade da ocupação, a precariedade existente na regularização fundiária dada a baixa pressão existente, até então, sobre os recursos naturais a começar pela terra, cuja utilização era feita, em grande parte, de forma comunitária. Entretanto, são essas áreas as que despertam atualmente maior interesse de grupos capitalizados, originados, em grande parte do sul do país, que chegam à região, diretamente ou através de cooperativa, para implantar a lavoura comercial de grãos, principalmente, da soja (Alves, 2001)

Com efeito, os cerrados do sul do Piauí e Maranhão têm se convertido em atividades agropecuárias ou mesmo sendo apropriadas enquanto reserva de valor. Nesse contexto, as terras aí localizadas apresentaram, nos últimos anos, uma valorização crescente, em razão da grande procura observada. É a partir da chegada dos novos grupos que se instalam nesse domínio que se define uma oposição crescente entre as formas de uso da população nativa e aquelas associadas

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ao migrante sulista (gaúchos e paranaenses) que para ali se dirigiu diretamente ou através de etapas migratórias que incluem o Mato Grosso.

No domínio das terras altas, a substituição da pecuária extensiva pela expansão da lavoura mecanizada da soja deve reafirmar, contemporaneamente, a persistência de baixos índices de densidade demográfica notadamente nas áreas de cerrado no alto curso dos rios Parnaíba e de seus principais afluentes, Gurguéia e Balsas, embora agora associado a novas manifestações da dinâmica socioespacial decorrentes da instalação de novos grupos sociais que impõem formas modernizadas de ocupação e uso daquele espaço.

Além da baixa densidade demográfica, a grande extensão superficial desses municípios constitui, também, uma outra dimensão reveladora do caráter de fronteira agropecuária e de extensividade das atividades econômicas ainda prevalecentes nessa região. Tal quadro, contudo, tende a se reverter muito rapidamente dado o acelerado processo de mudança na base técnica da produção que vem acompanhando a introdução da lavoura mecanizada de grãos, em especial, a da soja.

Nesse contexto, a expansão do cultivo da soja na região tende a tornar intensivo o uso da terra através do emprego de máquinas e equipamentos, com impacto direto sobre os recursos naturais, notadamente solo e vegetação. Tal expansão deverá, contudo, manter o baixo padrão de ocupação humana, dada a maciça mecanização e o baixo emprego de mão-de-obra que caracteriza a lavoura modernizada de grãos no país e, em especial, nas áreas de cerrados da região Centro Oeste, do Estado do Tocantins e, mais recentemente, da porção ocidental da região Nordeste, aí incluído o sul do Piauí e do Maranhão além do noroeste baiano.

Em termos da dinâmica socioeconômica no curto prazo é de se prever a ampliação do processo de segregação socioespacial no sentido da ampliação das desigualdades sociais simultaneamente ao movimento de adensamento das populações tradicionais nos “baixões”, com o abandono das áreas de uso comum, situadas nos chapadões, por elas utilizadas ao longo da história.

Conclusões

O estudo identificou alguns cenários norteadores de possíveis ações governamentais futuras, entre encontra-se a síntese do processo de mudança entre a dinâmica territorial e

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demográfica dos cerrados do sul piauiense e maranhense e o crescimento na participação relativa dos migrantes sulistas.

Com efeito, nas áreas de fronteira, como as do sudoeste piauiense, é de se esperar um cenário para os próximos anos de uma nova realidade regional, marcada pelo choque de rotinas, costumes, tradições e convenções portadoras de novas instituições formais e informais que tornam mais instáveis o frágil ambiente institucional preexistente na região.

Tal mudança longe de se restringir à intensificação da diversidade sóciocultural irá, necessariamente, repercutir na ampliação das desigualdades socioespaciais como nas formas de apropriação e uso do território aí incluídas a presença de novos atores sociais, novas instituições e novas formas de distribuição da população pela tendência à ampliação do grau de urbanização conforme processo observado em áreas que já experimentaram expansão semelhante da fronteira agrícola induzida pelo complexo agroindustrial da soja tendo o migrante sulista, individualmente ou por meio de cooperativas, como seu protagonista central.

Além da ampliação de uma nova composição etnico-cultural, a introdução de novas atividades nessa região, como em outras áreas nordestinas que vêem apresentando novas atividades econômicas, tem contribuído tanto para a absorção de uma população que potencialmente migraria, quanto para incentivar fluxos migratórios de retorno, oriundos principalmente do Sudeste, em especial de São Paulo e do Rio de Janeiro, onde a crise econômica dos anos 80 foi mais acentuada agravando o crescente quadro de desemprego verificado em praticamente todo o país.

Outra tendência verificada diz respeito à manutenção de baixas densidades da população rural associada, agora, à intensificação do processo de modernização da agricultura e não mais ao uso extensivo de áreas comuns (“fundos dominiais”) praticamente sem valor de mercado, como no passado.

Com efeito, a expansão da produção de grãos, em especial, a da soja, pressupõe a difusão de um pacote tecnológico fortemente apoiado na difusão de máquinas, equipamentos e insumos industriais que dispensa o uso intensivo da mão-de-obra ao mesmo tempo que promove a expansão simultânea de redes e fluxos interregionais articulados a um complexo agroindustrial construído em escala nacional e mundial.

No nível regional, e com influência direta na configuração política e econômica do território, não há como desconhecer o papel logístico que irão desempenhar, no curto e médio

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prazos, os centros urbanos na conexão de diferentes modais de transporte ao atuar como nós de adensamento não só das vias convencionais de acesso como das redes de telecomunicação e informação.

Com efeito, a tendência ao crescimento do grau de urbanização irá, necessariamente, atribuir a centros regionais, como Balsas, no Maranhão e a centros locais, como Uruçuí, Bom Jesus e Correntes, no Piauí, a condição de núcleos de apoio à unidade regional.

No caso do Piauí, o reforço à centralidade dessas cidades constitui um elemento chave para a manutenção da própria integridade política deste Estado cujo controle territorial de sua distante capital (Teresina) sobre o sul do Estado constitui um desafio, na atualidade, principalmente devido à crescente articulação dos cerrados do sul piauiense às forças de expansão da agropecuária modernizada provenientes do Centro-Oeste brasileiro.

Com efeito, as cidades vistas como sedes de múltiplos fluxos e redes que garantem a circulação e a integração regional, através de seus serviços, constituem, seguramente, os principais agentes funcionais de ordenamento e, portanto, de planejamento político do uso do território, por elas passando a manutenção da unidade territorial e, portanto, política, do Estado do Piauí.

As tendências verificadas na dinâmica territorial da Bacia do Parnaíba como um todo e do Estado do Piauí, em particular, sugerem, portanto, a adoção de políticas públicas que levem em conta diversas escalas de ação sobre o território nelas incluindo uma visão estratégica que permita projetar a atuação pública dentro do jogo geopolítico nacional e, principalmente, internacional que interage, na contemporaneidade, alterando, de forma dinâmica, a posição relativa e a influência dos diferentes lugares, regiões e cidades no interior do território nacional.

Referências:

ALVES, V. E. L. Modernização agropecuária, ruptura e permanência do modo de vida

camponês nos cerrados do sul do Piauí. São Paulo, 2001.

ARAÚJO, T. B. Ensaios sobre o desenvolvimento brasileiro: heranças e urgências. Rio de Janeiro: Revan/Fase, 2000.

Referências

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