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29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul

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Academic year: 2021

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MEMÓRIA, HISTÓRIA E CRENÇA – ORGANIZAÇÃO DOS REGISTROS AUDIOVISUAIS DO NÚCLEO DE EDUCAÇÃO PATRIMONIAL E MEMÓRIA

(NEP/UFSM) Área temática: Comunicação

André Luis Ramos Soares (Coordenador da Ação de Extensão) André Luis Ramos Soares1, Manuela Ilha Silva2 Palavras-chave: audiovisual, entrevista, patrimônio, cultural

Resumo

O presente trabalho aborda as diretrizes de atuação na organização e edição de registros digitais (imagens) do levantamento patrimonial, cultural e religioso realizado pelo Núcleo de Educação Patrimonial e Memória (NEP/UFSM) em Santo Amaro do Sul. Desde 2006, o núcleo desenvolve ações na localidade, em parceira com o Centro de Ensino e Pesquisa Arqueológicas (CEPA/UNISC). Além da produção do audiovisual, busca-se fomentar a discussão acerca do pertencimento e identificação que os grupos sociais estabelecem com o registro de seu patrimônio.

Introdução

A Extensão Universitária é o palco onde a prática acadêmica encontra espaços de sociabilidade e de exercício de cidadania para além do espaço universitário. Através de tal encontro, fomenta-se novas posturas dentro do espaço social, assim como é possível promover novas experiências entre os agentes envolvidos. Este trabalho é uma experiência que transcende a prática in loco da extensão universitária – o objetivo é organizar os registros audiovisuais das atividades desenvolvidas em Arqueologia e Educação Patrimonial na vila de Santo Amaro do Sul (município de General Câmara/RS) desde 2006. Também busca-se eternizar os registros culturais, históricos e identitários exibidos em tais imagens, transformando em produto audiovisual capaz de promover a comunidade e sua história.

A possibilidade de organização dos registros audiovisuais das atividades promovidas em uma parceria entre a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc/RS) e Universidade Federal de Santa Maria (UFSM/RS) em Santo Amaro do Sul surge em 2011, a fim de obter um produto organizado por eixos temáticos e capaz de promover as ações lá empreendidas. A comunidade também ganha através desta ação, visto que o produto torna-se um elemento que retorna à localidade e ratifica/formaliza tais experiências. As ideias-chave que nortearão a produção do material audiovisual versam sobre a realidade cultural, histórica e patrimonial da comunidade – histórias e “causos” locais, festividades religiosas (Santo Amaro, Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora do Rosário), pesca no Rio Jacuí e

1 Doutor em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo

(MAE-USP). Professor Adjunto do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS). Coordenador do Núcleo de Educação Patrimonial e Memória (NEP/UFSM). E-mail: alrsoaressan@gmail.com

2 Bacharel em Comunicação – Jornalismo (UFSM) e estudante do curso de Arquitetura e Urbanismo

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impactos locais, artesanato local e as ações em Arqueologia e Educação Patrimonial desenvolvidas na localidade.

O produto audiovisual divide-se em pequenos vídeos que, em sua totalidade, ratificam a dimensão social do presente trabalho. O sentido de apropriação, para além do produto em si, é mote para a concepção deste retrato cultural, social, histórico e patrimonial.

Metodologia

O presente trabalho desenvolve-se como fechamento de um processo anteriormente desenvolvido pelo Núcleo de Patrimônio Histórico e Memória da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no que toca ao registro de imagens e depoimentos. O trabalho surge após a restauração do prédio da Igreja Matriz de Santo Amaro do Sul, promovido pelo Núcleo de Memória de Venâncio Aires (NUCVA). Assim, em contato com o Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA), da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), “o prédio da Igreja foi alvo de pesquisas e salvamento arqueológico em seu interior” (LINHARES, GIRARDI, SOARES, 2009, p. 1).

O NEP, em parceira com o CEPA, desenvolveu atividades de Educação Patrimonial na localidade de Santo Amaro do Sul. A comunidade, de 687 habitantes, é distrito do município de General Câmara, e possui quatorze prédios históricos tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). A atuação do NEP em Santo Amaro do Sul iniciou em 2006, e desde então, o núcleo desenvolve projetos de levantamento do patrimônio material e imaterial da localidade, registrando as manifestações culturais, artísticas e religiosas.

Anteriormente, foram levantados os patrimônios materiais e imateriais do distrito de Santo Amaro do Sul, assim como as festividades locais (com destaque para os traços da colonização açoriana). Entrevistas com os moradores da localidade e o registro magnético (fitas) e digital (fotografias e vídeos) foram produzidos e hoje encontram-se em processo de edição.

A produção do produto transcende a questão organizacional do registro, e tange a sensação de pertencimento e a construção identitária do sujeito e do grupo social, visto que a organização da identidade é processo relacional, marcado simbólica e socialmente e ligado diretamente a outras identidades. Então, pensar a identidade como um ponto fixo dentro do discurso social, resultante do equilíbrio entre práticas e posicionamentos subjetivos, é considerar seu caráter relacional (Woodward, 2009, p.14). Para a autora (p.17), “a representação inclui as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os significados são produzidos, posicionando-nos como sujeito”.

A Festa de Santo Amaro é expressão do patrimônio imaterial da comunidade de Santo Amaro do Sul, junto com 1outras festividades religiosas. Tais celebrações são exemplo de eixo temático que será explorado no conjunto do produto audiovisual.

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A conexão dos entes da comunidade entre si e com seu patrimônio histórico, cultural e religioso é relacional, e mostra o sentido de apropriação destes sentidos. É possível construir-se como sujeito (indivíduo ou coletivo) dentro de um espaço social onde se é atuante ou, ao menos, não se é indiferente. Ao identificar como sujeito, a pessoa pode relacionar-se com os demais, reconhecendo-os também como sujeitos, o que denota atenção específica ao outro. A alteridade é ponto crucial neste momento – através dela, o sujeito reconhece a si mesmo e ao outro, inseridos no contexto social. Segundo Silva, “a presença do outro se encontra nos cruzamentos dos limites da linha do ‘eu’, no sentido de nos vermos presentes no ‘outro’, e do ‘outro’ em ‘nós’, através de influências voluntárias ou involuntárias dessas interações simbólicas da alteridade” (2009, p. 48).

A base metodológica do trabalho é a entrevista, que pode ser conceituada por Medina como “técnica de interação social, de interpenetração interpretativa, quebrando assim isolamentos grupais, individuais, sociais; [...] serve à pluralização de vozes e à distribuição democrática da informação” (2000, p.8). Ao buscar informações sobre o tema, no qual o entrevistado possui bagagem informativa, a entrevista pode ser definida como “Entrevista Conceitual”, segundo classificações de Edgar Morin (apud MEDINA, 2000, p. 16). Neste formato, a entrevista busca ser esclarecedora, e o entrevistador ratifica seu papel como intermediador, buscando

conceitos para construir seu trabalho. Ele, o entrevistador, não é um especialista, e

por isto busca sujeitos que o possam auxiliam nesta tarefa de coleta e registro de informações.

A Igreja Matriz de Santo Amaro passou por reformas promovidas pelo Núcleo de Memória de Venâncio Aires (NUCVA), iniciando, assim, a atuação do Núcleo de Educação Patrimonial e Memória (NEP/UFSM) e do Centro de Ensino e Pesquisas Arqueológicas (CEPA/Unisc) na localidade.

Figura 2: Igreja Matriz de Santo Amaro

O presente trabalho, então, vem para concluir o levantamento feito anteriormente. Sua organização metodológica localiza-se no instante da pós-produção de materiais audiovisuais. A decupagem do material produzido é o primeiro momento da

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produção dos vídeos, que seguem os eixos temáticos elencados nas pesquisas feitas na localidade. A partir de tal momento, é possível construir os roteiros e criar as conexões entre os pequenos vídeos que, em conjunto, formam um registro audiovisual e expressão simbólica do patrimônio cultural, material e imaterial de Santo Amaro do Sul.

Conclusões

As relações da comunidade com seus elementos culturais, patrimoniais, religiosos e históricos cristalizam-se no produto audiovisual aqui debatido. A comunidade consegue se “ver” no produto que é expressão dos valores simbólicos e culturais deste determinado grupo social. Acena-se a questão de pertença e relação de memória coletiva, que ratifica valores e significados.

Os sujeitos compartilham com os demais entes sociais elementos que são formativos de sua cultura e patrimônio. A relação entre estas significações e as construções de uma comunidade aponta, especialmente, para a memória coletiva e valores intangíveis que, embora inacessíveis fisicamente, podem ser expressos de forma material.

Assim, para Donini, patrimônios que são imateriais, valores e significações “não podem expressar-se por si mesmos, mas podem ‘encarnar-se’ através de manifestações e signos tangíveis, como imagens, livros, pinturas, poemas e outras formas culturais de expressão” (2006, p. 12). Os valores simbólicos atribuídos para objetos decorrem da importância dada pela memória coletiva (Camargo, 2002, p. 30-31). No caso do produto audiovisual, o conteúdo apresentado é expressão da própria memória comunitária, através de seus significados, sentidos, representações, crenças e registros.

Também a relação de pertencimento se intensifica através formas de intermédio, como no caso do produto em questão. Assim, conforme Brumman, a “[...] cultura não requer proximidade física ou um tipo específico de sociabilidade direta, apenas interação social, mesmo que mediada pelos meios de comunicação [...] mesmo ver, ouvir ou ler uns aos outros pode ser o suficiente” (apud PELEGRINI; FUNARI, 2008, p. 18). A organização do material produzido em conjunto unificado de informações gera referência e empodera tal comunidade para buscar a promoção de sua bagagem cultural e, especialmente conectada com a atuação do NEP e do CEPA, seu patrimônio material e imaterial.

Deste modo, é possível ver que o empoderamento proposto coaduna com a proposta de Peruzzo (2006, p.10), quando a autora afirma que os entes sociais são capazes de participar ativamente das decisões e ações de sua comunidade. A comunidade identifica-se, em processo teorizado por Hall (2009, p. 106) como algo que resulta “[...] do reconhecimento de alguma origem comum, ou de características que são partilhadas com outros grupos ou pessoas, ou ainda a partir de um mesmo ideal”. A articulação alcançada através desta relação de identificação é o que conecta os sujeitos em um ente coletivo, comunitário e relacional.

O resultado é um processo individual, onde o sujeito torna-se consciente de si e de seu lugar dentro do grupo social. Tal processo opera através da diferença, envolvendo trabalhos discursivos (cabendo aqui o exemplo do produto audiovisual em questão), a delimitação e a marcação de fronteiras, que são simbólicas e criam/ampliam/rompem limites.

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Da promoção do produto audiovisual, estima-se que ele desenvolva a reflexão e a tomada de consciência da realidade atual dentro do grupo social, assim como conhecimento dos desejos e aspirações daquela comunidade quanto ao futuro. Referências

CAMARGO, Haroldo Leitão. Patrimônio Histórico e Cultural. São Paulo: Aleph, 2002.

DONINI, Antonio. Patrimonio, Identidad y Globalización. In: La Dimensión Social del Patrimonio: Memoria/Identidad; Itinerarios/Rutas; Paisaje Cultural; Participación/Turismo; Educación. Buenos Aires: Centro Internacional para la Conservación del Patrimonio, 2006.

HALL, Stuart. Quem Precisa da Identidade? In: SILVA, T. T. (Org.); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença – A Perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópolis/RJ: Vozes, 2009.

LINHARES, Aline Martins; GIRARDI, Felipe; SOARES, André Luiz Ramos Soares. Petrimônio e Memória na Vila de Santo Amaro, Distrito de General Câmara/RS. In: Anais do IV Congresso Internacional de História. Maringá/PR: UEM, 2009.

MEDINA, Cremilda. Entrevista – O Diálogo Possível, 4ª Edição. São Paulo: Ática, 2000.

PELEGRINI, Sandra; FUNARI, Pedro Paulo. O que é Patrimônio Cultural Imaterial. São Paulo: Brasiliense, 2008.

PERUZZO, Cicilia Maria Krohling. Revisitando os Conceitos de Comunicação Popular, Alternativa e Comunitária. In: Anais do XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Brasília/DF: UNB, 2006.

SILVA, Sérgio Luiz Pereira da. Sociedade da Diferença: Formações Identitárias, Esfera Pública e Democracia na Sociedade Global. Rio de Janeiro/RJ: FAPERJ, 2009.

WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença: uma Introdução Teórica e Conceitual. In: SILVA, T. T. (Org.); HALL, Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e Diferença – A Perspectiva dos Estudos Culturais. Petrópilis/RJ: Vozes, 2009.

Referências

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