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Caminhando com Deus sob o sol: Eclesiastite, limão e limonada

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Academic year: 2021

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Caminhando com Deus sob o sol:

Eclesiastite, limão e limonada

(a) Um experimento com uma vida luxuosa (2.1-11)

[1] Disse comigo: vamos! Eu te provarei com a alegria; goza, pois, a felicidade; mas também isso era vaidade. [2] Do riso disse: é loucura; e da alegria: de que serve?

[3] Resolvi no meu coração dar-me ao vinho, regendo-me, contudo, pela sabedoria, e entregar-me à loucura, até ver o que entregar-melhor seria que fizessem os filhos dos hoentregar-mens debaixo do céu, durante os poucos dias da sua vida.

[4] Empreendi grandes obras; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. [5] Fiz jardins e pomares para mim e nestes plantei árvores frutíferas de toda espécie. [6] Fiz para mim açudes, para regar com eles o bosque em que reverdeciam as árvores. [7] Comprei servos e servas e tive servos nascidos em casa; também possuí bois e ovelhas, mais do que possuíram todos os que antes de mim viveram em Jerusalém.

[8] Amontoei também para mim prata e ouro e tesouros de reis e de províncias; provi-me de cantores e cantoras e das delícias dos filhos dos homens: mulheres e mulheres.

[9] Engrandeci-me e sobrepujei a todos os que viveram antes de mim em Jerusalém; perseverou também comigo a minha sabedoria.

[10] Tudo quanto desejaram os meus olhos não lhes neguei, nem privei o coração de alegria alguma, pois eu me alegrava com todas as minhas fadigas, e isso era a recompensa de todas elas.

[11] Considerei todas as obras que fizeram as minhas mãos, como também o trabalho que eu, com fadigas, havia feito; e eis que tudo era vaidade e correr atrás do vento, e nenhum proveito havia debaixo do sol.

(b) Uma avaliação da sabedoria da insensatez (2.12-17)

[12] Então, passei a considerar a sabedoria, e a loucura, e a estultícia. Que fará o homem que seguir ao rei? O mesmo que outros já fizeram. [13] Então, vi que a sabedoria é mais proveitosa do que a estultícia, quanto a luz traz mais proveito do que as trevas. [14] Os olhos do sábio estão na sua cabeça, mas o estulto anda em trevas; contudo, entendi que o mesmo lhes sucede a ambos. [15] Pelo que disse eu comigo: como acontece ao estulto, assim me sucede a mim; por que, pois, busquei eu mais a sabedoria? Então, disse a mim mesmo que também isso era vaidade. [16] Pois, tanto do sábio como do estulto, a memória não durará para sempre; pois, passados alguns dias, tudo cai no esquecimento. Ah! Morre o sábio, e da mesma sorte, o estulto! [17] Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento.

(c) O problema da herança (2.18-26)

[18] Também aborreci todo o meu trabalho, com que me afadiguei debaixo do sol, visto que o seu ganho eu havia de deixar a quem viesse depois de mim. [19] E quem pode dizer se será sábio ou estulto? Contudo, ele terá domínio sobre todo o ganho das minhas fadigas e sabedoria debaixo do sol; também isto é vaidade. [20] Então, me empenhei por que o coração se desesperasse de todo trabalho com que me afadigara debaixo do sol. [21] Porque há homem cujo trabalho é feito com sabedoria, ciência e destreza; contudo, deixará o seu ganho como porção a quem por ele não se esforçou; também isto é vaidade e grande mal. [22] Pois que tem o homem de todo o seu trabalho e da fadiga do seu coração, em que ele anda trabalhando

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debaixo do sol? [23] Porque todos os seus dias são dores, e o seu trabalho, desgosto; até de noite não descansa o seu coração; também isto é vaidade.

[24] Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, [25] pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? [26] Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.

Eclesiastes 2.1–26.

Sermão pregado na IPB Rio Preto em 14/10/2012, às 19h30.

Introdução

1 Não seria errado dizer que, de certo modo, o livro de Eclesiastes exibe a placa

Despreocupados joviais, deprimam-se!” Isso é assim porque esta obra é um golpe

fatal na idolatria das coisas.

1.1 Uma martelada depois da outra, este livro demole todas as nossas falsas

esperanças. É desfeito o mundo colorido da Fantasia, em que tudo parecia

iluminado, alegre e despreocupado.

1.2 É pulverizado o Santuário do Orgulho, ricamente adornado com os troféus de

nosso desempenho.

1.3 Sabe aquela pessoa de riso fácil, que enxergava a vida como um sonho

açucarado recheado com doce de leite? Ela deixou de rir para as paredes

depois que leu e compreendeu Eclesiastes.

2 A mensagem de Eclesiastes é seca: Tudo é vaidade; nada produz ganho e a

trabalheira da vida equivale a querer segurar o vento com as mãos.

2.1 Isso vem sendo dito desde Eclesiastes 1.2; foi alinhavado na introdução, até 1.18, e agora é apresentado com maestria neste capítulo 2.

2.2 Aqui nós somos apresentados ao triplo vazio da vida debaixo do sol:

2.2.1 O vazio de possuir e desfrutar (Ec 2.1-11). 2.2.2 O vazio de conhecer (Ec 2.12-17).

2.2.3 O vazio de trabalhar (Ec 2.18-26).

2.2.4 Tudo isso emoldurado pela figura sombria da morte (Ec 2.16, 18, 21).

2.3 Como eu afirmei no sermão anterior, isso é destacado não para nos esmagar,

mas para nos despertar para nossa necessidade de Deus.

2.3.1 Em Mateus 5.4 Jesus afirmou que aqueles que choram são

bem-aventurados.

2.3.2 Em Lucas 6.25 ele ensinou: “Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque

vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de

(3)

2.3.3 Então, toda conversão é precedida deste choro, deste desencanto com as coisas presentes; desta constatação de que as coisas deste mundo não possuem valor absoluto e eterno.

2.3.4 É quando notamos o modo como perdemos tempo; a forma como

nos entregamos a estas coisas, como as idolatramos colocando-as no

centro da vida, no lugar que pertence somente a Deus. Então assumimos

a gravidade do Eclesiastes, nos arrependemos e choramos.

3 Nesta noite nós admitimos que, até aqui, o livro de Eclesiastes oferece um prato

cheio para os naturalmente deprimidos e fanáticos. Daí o título esquisito deste

sermão: Eclesiastite, Limão e Limonada. Deixe-me explicar isso melhor.

3.1 Alguns de nós se inclinam à depressão. Por natureza, achamos a vida toda

cansativa e ruim. As pessoas à nossa volta tentam nos motivar e se esforçam para que acolhamos as promessas da Palavra de Deus. Mas nós não nos animamos, pelo contrário, nós nos recolhemos porque somos naturalmente dados ao negativismo e pessimismo.

3.2 Outros se inclinam ao fanatismo.

3.2.1 Entendem que o mundo é absolutamente mau e concluem que é preciso afastar-se dele.

3.2.2 Devotam-se à religião isolados em um convento, mosteiro, ou mesmo entre as fileiras de uma igreja evangélica.

3.2.3 Confundem Deus com religiosidade rigorista e individualista e, na maioria dos casos, entendem que, uma vez que nada presta nesta vida, Deus destruirá tudo o que existe e nada será aproveitado.

3.3 Então estas pessoas — deprimidas e fanáticas — leem o Eclesiastes. E quanto mais elas leem, pior ficam. Ao invés de serem alimentadas e edificadas

com esta Palavra de Deus, elas pegam uma doença que eu chamo de Eclesiastite.

3.3.1 Alguém diz a elas: “Que lindo pôr do sol!” E elas respondem: “O sol que está se pondo hoje já se pôs ontem; tudo se repete; é tudo canseira”. 3.3.2 Um irmão compartilha: “Louvado seja Deus, comprei minha casa!” e elas

retrucam: “Você vai morrer e outra pessoa vai usufruir o que você conquistou; tudo é vaidade”.

3.3.3 A mocidade divulga: “Próximo sábado, passeio à Cachoeira de Cristal; todos devem trazer um refrigerante e carne”. O fanaticão remói:

“Mundanos! Só pensam em farrear quando deviam estar evangelizando, porque tudo deste mundo passa, tudo é vaidade; nada presta e esta cachoeira vai virar vapor no Dia do Juízo”.

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3.3.4 Entenderam? Desfrutar da mensagem correta do Eclesiastes é bom e necessário, mas a eclesiastite impede a pessoa de enxergar a vida sob o ponto de vista de Deus; ela retira da vida todo prazer e a

transforma em legalismo, ou seja, a eclesiastite é muitíssimo danosa.

Dito isto, podemos afirmar que este capítulo de Eclesiastes nos convida a duas coisas:

I Reconhecer que há coisas boas debaixo do sol

[24] Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho.

1 A Palavra de Deus nos convida a reconhecer que há coisas boas debaixo do sol.

1.1 Como foi dito no sermão anterior, tanto a realização humana, quanto a

exploração filosófica, bem como a exploração dos sentidos “debaixo do sol” não trazem satisfação última, definitiva e permanente.

1.2 Eclesiastes 2.1-26 repete isso com determinação. O “experimento com uma

vida luxuosa (2.1-11)”, a “avaliação da sabedoria e da insensatez (2.12-17)” e a

apresentação do “problema da herança (2.18-26)”,1 ratificam que tudo “é

vaidade e correr atrás do vento”.

1.3 O autor deste livro não se negou prazer algum (v. 4-10); no entanto, ao invés

disso produzir ganho, gerou apenas aborrecimento:

[17] Por isso, passei a odiar a vida. Tudo o que se pode concluir é que o que acontece na terra não faz o mínimo sentido. É tudo inútil — é nadar contra a maré. [18-19]Odiei tudo o que realizei e até o que acumulei. Não posso levar nada mesmo — terei de deixar tudo para os que vierem depois de mim. Não importa quem sejam eles, ficarão com tudo que ganhei com o meu tão sofrido trabalho. Isso não faz o mínimo sentido!2

2 No entanto, a passagem contém duas novidades.

2.1 A primeira dela é a menção da morte (v. 16, 18, 21). Eu falarei mais sobre isso

em um próximo sermão em Eclesiastes, se Deus permitir.

2.2 A segunda novidade — que será destacada nesta noite — é a menção do

desfrute correto da vida, no v. 24: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho”.

2.2.1 O Eclesiastes contém sete declarações sobre a bondade de desfrutar

corretamente da vida. Esta é a primeira delas.

2.2.2 As outras estão em 3.12-13, 22; 5.18-20; 8.15; 9.7-10 e 11.8-10.

                                                                                                               

1 Estes subtítulos e proposta estrutural são encontrados em GREIDANUS, Sidney. Preaching Christ from

Ecclesiastes: Foundations for Expository Sermons. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company,

2010, p. 22; e-book Kindle; posição 307 de 5268; e, com poucas modificações, em WRIGHT, Addison G. Eclesiastes (Coélet). In: BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph. A.; MURPHY, Roland E. (Ed.). Novo

Comentário Bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, 2007, p. 968.

2

PETERSON, Eugene H. A Mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Vida, 2011, p. 907. Grifo nosso.

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2.3 Dito de outro modo, este capítulo de Eclesiastes aborda não apenas a questão do trabalho, mas também a questão do prazer.3 A vida não contém

apenas coisas ruins; ela contém também coisas boas.

2.3.1 Vivemos debaixo do sol que queima, mas o sol também torna possível a

vida e, como diz o hino 62, “aquece a pobre gente fria”. Ademais, o sol produz luz e esta “traz mais proveito do que as trevas” (v. 13).

2.3.2 Sim, a vida debaixo do sol é dura, mas contém coisas boas. O fato de

elas serem passageiras e jamais devermos considerá-las ídolos, não elimina a bondade destas coisas em si mesmas. Por isso, como afirma um servo de Deus:

Eclesiastes é a melhor notícia para os homens modernos perplexos. É o livro para os homens que querem viver de novo agora. É o livro do homem que trabalha: ele responde a seu aborrecimento com a rotina sem alegria de comer, beber e ganhar um salário.4

2.4 Notemos um detalhe importante na Bíblia Almeida Revista e Atualizada (ARA):

fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. [...]” (v. 24).

2.4.1 A English Standard Version (ESV) e a Nova Versão Internacional (NVI)

trazem “encontrar prazer em sua labuta [ou em seu trabalho]” e a Nova

Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) simplifica: “A melhor coisa que

alguém pode fazer é [...] se divertir”.

2.4.2 Todas estas traduções tentam captar o sentido do vocábulo hebraico

original האָ ָר, raah, novamente repetido em Eclesiastes (cf. “atentei” em

1.14, e “experiência” em 1.16).

2.4.2.1 Como eu já disse antes, esta palavra aparece nos v.

precedentes significando ver, examinar, inspecionar ou considerar.5

2.4.2.2 Agora, o detalhe do detalhe: Trata-se de uma visão humana

inspirada em uma visão de Deus; האָ ָר, raah, é a palavra

encontrada muitas vezes no início de Gênesis: “E viu Deus que

isso era bom” (Gn 1.12, cf. Gn 1.4, 10, 18, 21, 25, 31).

2.4.2.3 Eis a pegadinha da existência: Precisamos ser capacitados

para enxergar as coisas do ponto de vista do Criador. Como

disse Haddon Robinson, “eu entendo a realidade unicamente se

                                                                                                               

3 De acordo com Fox, o autor de Eclesiastes reflete sobre os ganhos de uma vida trabalhosa, especialmente, a possibilidade de desfrutar prazer dela. Ele faz isso alternando uma avaliação negativa e outra positiva da existência. Cf. FOX, M. V. Qohelet and His Contradictions. Decatur, GA: The Almond Press, 1989, p. 5. 4 KAISER, W. C., Jr. Ecclesiastes: Total Life. Chicago, IL: Moody Press, 1979, p. 8. (Everyman’s Bible Commentary). Grifos nossos.

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tenho apreciação por quem ele é e o que deseja para sua criação e de sua criação”.6

2.4.3 A ideia aqui é muito semelhante ao que os pais costumam dizer a seus

filhos, ou os amigos uns aos outros: “seja feliz” ou “divirta-se”. De certo

modo, isso implica em um esforço consciente — olhar para vida com

óculos dotados de lentes capazes de distinguir coisas boas.

3 Resumindo, a vida é azeda como limão, mas temos de nos esforçar para

espremê-la ao ponto de produzir limonada.

3.1 Não há qualquer desculpa para nos habituarmos à insalubridade do pântano da melancolia.

3.1.1 Não precisamos habitar indefinidamente no quarto escuro da depressão.

A vida debaixo do sol é desértica e o limão é azedo; mas a limonada pode ser tanto refrescante quanto doce.

3.1.2 Isso exige uma forma de olhar diferente — האָ ָר, raah — “fazer que”

(ARA); buscar até “encontrar” (ESV) ou “se divertir”.

3.2 Isso parece fácil para alguns, mas, como eu disse, outros são propensos à melancolia ou religiosidade que ama o rigor e a penitência. O fato é que, para alguns de nós, é difícil alegrar-se considerando as circunstâncias de nosso passado ou presente. Alguns de nossos fardos são muito pesados.

Em suma, o Eclesiastes não é um livro de autoajuda — ele vai muito além de qualquer

chamado à alegria ingênua. Além disso, seu primeiro convite só pode ser entendido

e praticado à luz do restante da passagem. Mais do que constatar que há coisas boas debaixo do sol, temos ainda de...

II Reconhecer Deus debaixo do sol

[24] Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. No entanto, vi também que isto vem da mão de Deus, [25] pois, separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se? [26] Porque Deus dá sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada; mas ao pecador dá trabalho, para que ele ajunte e amontoe, a fim de dar àquele que agrada a Deus. Também isto é vaidade e correr atrás do vento.

1 Temos de reconhecer Deus debaixo do sol. Estes v. 24-26 revelam quatro verdades:

1.1 Primeira; Deus é a fonte da “sabedoria”, do “conhecimento” e do “prazer”: “isto

vem da mão de Deus” (v. 24b).

1.1.1 Deus se revela como esta fonte de boa provisão.

1.1.2 Pela boca de Isaías ele oferece: “Ah! Todos vós, os que tendes sede,

vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro — um convite

                                                                                                               

6

ROBINSON, Haddon. As Convicções da Pregação Bíblica. In: ROBINSON, Haddon; LARSON, Craig B. (Org.).

(7)

gracioso —, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” (Is 55.1).

1.2 Contemplemos uma segunda verdade. Não conseguimos desfrutar

apropriadamente da vida afastados de Deus: “separado deste, quem pode comer ou quem pode alegrar-se?” (v. 25).

1.2.1 Conclusão: Buscar “sabedoria”, “conhecimento” e “prazer” à parte ou

fora de Deus é tolice.

1.2.2 O profeta Jeremias colocou isso assim: “Porque dois males cometeu o

meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram

cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.13).

1.2.3 Esta é a descrição exata da humanidade desde a queda. Infeliz porque

está longe de Deus e mergulhando cada vez mais no vazio, porque insiste em buscar felicidade fora de Deus.

1.3 Mas há aqui uma terceira verdade. O Senhor é fonte soberana: “Deus dá

sabedoria, conhecimento e prazer ao homem que lhe agrada” (v. 26).

1.3.1 Diferente dos livros de autoajuda, que ensinam que “sabedoria”,

“conhecimento” e “prazer” estão disponíveis a quem quiser, o Eclesiastes

afirma que Deus é quem distribui estes dons a quem ele quer.

1.3.2 Ele faz isso na graça comum, concedendo sustento e capacidades

diversas a não crentes, e na redenção ou graça especial, outorgando

Cristo aos eleitos.

1.4 Por fim, a quarta verdade. Eclesiastes nos apresenta não um Criador distante,

mas tanto um Deus Criador Soberano quanto presente, disponível e atuante.

1.4.1 Os gregos cunharam uma expressão que foi vertida para o Latim, Deus ex

machina, significando a solução inesperada e improvável de um problema.

1.4.2 Para muitas pessoas hoje, Deus é uma hipótese descartável ou

solução improvável.

1.4.2.1 Para o Eclesiastes, porém, Deus é a única solução para o

dilema humano.

1.4.2.2 Ele é, de fato, a única possibilidade de cura para a nossa

deficiência visual — o único que nos capacita a enxergar a vida

com realismo, constatando aquilo que existe de ruim, e ao

mesmo tempo positivamente, verificando que ele concede

coisas boas aos homens.

2 Resumindo, o reconhecimento de Deus como fonte soberana e graciosa do que

existe é que faz com que a vida azeda como limão se torne refrescante e doce como limonada.

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2.1 A Bíblia chama tal reconhecimento de gratidão.

A posse de bênçãos e de “bens” da vida é um dom de Deus. Todas as coisas boas devem ser recebidas e entendidas como vindo da mão de Deus para que possam ser utilizadas de forma adequada e com alegria.7

2.2 Eclesiastes 2 termina convidando-nos a reconhecer Deus por detrás da

sabedoria, conhecimento e prazer.

2.2.1 Somos chamados a encher nossa mente com meditação santa, que

discerne nas coisas presentes — ainda que imperfeitas, fragmentadas e

até dolorosas — a boa mão de Deus.

2.2.2 É a isso que nos exorta o hino 63, “As Muitas Bênçãos”, do Hinário Novo

Cântico:

Conta as bênçãos, dize quantas são, recebidas da divina mão!

Vem dizê-las, todas de uma vez, e verás, surpreso, quanto Deus já fez!

Dito isto, podemos concluir.

Concluindo...

1 Para desfrutar não apenas da mensagem de Eclesiastes, mas também de qualquer

outro livro bíblico, precisamos da iluminação do Espírito Santo que produz

equilíbrio.

1.1 Você encontrará pregadores e mestres que leem a Bíblia com os óculos da Teologia da Prosperidade, da Confissão Positiva ou da autoajuda disfarçada com

roupagem religiosa. Eles pintarão um universo cor-de-rosa, que conspira para

o nosso sucesso e cuja única chave é a nossa autodeterminação e fé.

1.2 Você ouvirá outros apregoando que tudo neste mundo material é ruim; nada

presta. Sendo assim, a chave para a satisfação espiritual é negar tudo o que

existe, fazer voto de pobreza, castigar o corpo físico com jejuns e

penitências ou assumir uma religiosidade rançosa, triste e separatista ao

ponto de alienar o fiel da família e da cultura.

1.3 Todos estes são falsos profetas, manipuladores, interesseiros e destinados à

perdição. Fuja deles.

1.4 Você ainda conhecerá crentes verdadeiros e fiéis, mas que são propensos à

melancolia, e que não conseguem encontrar motivo para a alegria.

1.5 O livro de Eclesiastes fornece alimento espiritual necessário a todos nós. Uma

dieta saborosa e equilibrada. Nada de eclesiastite, mas realismo que nos faz desfrutar de sabedoria, conhecimento e prazer conscientes da boa mão de Deus guiando nosso destino.

 

                                                                                                               

7 KAISER, op. cit., p. 44. Grifo nosso.

(9)

2 Ao escrever, o autor de Eclesiastes se move em duas direções.

2.1 Ele mostra um primeiro fato, verdadeiramente deprimente; o ponto de vista do ser humano “debaixo do sol” circundado por realidades duras.

2.2 Depois, revela o Deus generoso que nos supre com graça — o Deus bondoso

que nos abençoa.

2.3 Este segundo movimento do autor, como eu tenho repetido algumas vezes, aponta para a vida que podemos desfrutar quando estamos em Cristo. 2.3.1 Se Eclesiastes 2.1-26 descreve as experiências de Salomão, o

Novo Testamento revela Jesus, aquele que é maior do que

Salomão (Mt 12.42).

2.3.2 Mais do que um realizador, Cristo é o Criador e Sustentador do

universo (Cl 1.17).

2.3.3 Mais do que um Pregador que busca e ensina sabedoria, Cristo é a

Sabedoria personificada (Pv 8.1-36).

2.3.4 Se Salomão buscou encontrar sentido nos prazeres, Cristo é o único que

nos dá acesso ao Paraíso, às delícias perpétuas do Novo Éden (Lc

23.43; cf. Sl 16.11).

2.3.5 O fato é que somente Cristo cura nossa cegueira espiritual,

liberando-nos para ver a beleza da providência por detrás dos fatos cotidialiberando-nos

(Mt 6.25-30). Somente reconciliados com Deus por meio de Cristo

podemos enxergar Deus como bondoso Pai Celestial que supre nossas mais profundas necessidades, e responder a isso com ações de graças e adoração (Mt 6.31-34; 26.27, 30).

2.4 Sim, percebemos em Eclesiastes um tom aparentemente pessimista, mas

também uma essência otimista e um convite à fé em Cristo que nos livra de

perturbações e nos ajuda a caminhar. Como bem afirmou Jonathan Edwards:

O amor a Deus dispõe os homens a verem sua mão em todas as coisas, tê-lo como governador do mundo e diretor da providência e reconhecerem sua disposição em tudo que acontece. E o fato da mão de Deus estar [...] preocupada com tudo que acontece conosco [...] deve nos levar, em grande parte, à não pensarmos nas coisas como provenientes dos homens, mas sim respeitá-las como provenientes de Deus — decretadas por seu amor e sua sabedoria, ainda que sua fonte imediata seja a malícia ou o descuido de outro homem. E se de fato considerarmos e sentirmos que são

provenientes da mão de Deus, então estaremos pacificamente dispostos a recebermos e nos submetermos a elas, e a aceitarmos que as maiores ofensas recebidas dos homens são justificada e até generosamente ordenadas por Deus, e

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assim nos mantermos distantes de quaisquer perturbações ou tumultos da mente causados por elas.8

2.5 Dito de outro modo, se caminhamos com Deus por fé, podemos “comer, beber

e fazer que [nossa] alma goze o bem do seu trabalho” (v. 24). O limão se torna

limonada e vivemos com gratidão, para glória de Deus. Vamos orar.

                                                                                                               

8 EDWARDS, Jonathan. Charity and Its Fruits. Banner of Truth, 1978, p. 79, apud TIMMIS, Steve; CHESTER, Tim. Igreja Total: Repensando Radicalmente Nossa Apresentação do Evangelho na Comunidade. Niterói: Tempo de Colheita, 2011, p. 128. Grifo nosso.

Referências

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