A SIMBIOSE DA ARQUITETURA COM A ARTE É A ALMA DESTE
PROJETO DE RUY OHTAKE E DE OUTRAS CASAS EXCLUSIVAS,
COMO AS DOS COLECIONADORES FERNANDA FEITOSA E
HEITOR MARTINS, NO BRASIL, E DON E MERA RUBELL, NOS EUA
E MAIS: O OLHAR E AS INSPIRAÇÕES DE ARTISTAS, CURADORES E GALERISTAS
ESPECIAL TECIDOS
Cores e estampas intensas
marcam os lançamentos
da temporada
O MELHOR DA CRIATIVIDADE
BRASILEIRA NA SEMANA
DO DESIGN EM SÃO PAULO
D
E MO
R
A
R
M
US
EU
MI
A
MI
O CASAL RUBELL, DONO DE UMA DAS MAIS IMPORTANTES COLEÇÕES DE ARTE CONTEMPORÂNEA DO MUNDO, ABRE SUA MORADA COM EXCLUSIVIDADE PARA A CASA VOGUE TEXTO SIMON WATSON
FOTOS MAX ZAMBELLI
A piscina rodeada por palmeiras e paisagismo semitropical é a área da casa onde os proprietários descansam de sua movimentada rotina. Na pág. anterior, Don e Mera Rubell, sentados em poltronas de Le Corbusier, Pierre Jeanneret e Charlotte Perriand, posam diante de duas telas de David Ostrowski T ra du çã o: A na B an 122 CASAVOGUE.COM.BR
lar é um lugar para pensar, por isso não costumamos ter nada pendurado aqui”, diz o colecio-nador Donald Rubell na minha visita à residência que ele compartilha com a mulher, Mera, em Miami. Junto há 50 anos, o casal compôs uma das coleções de arte contemporânea mais importantes do planeta: são quase 7 mil obras de mais de 800 artistas, abrigadas em um mu-seu – The Rubell Family Collection – aberto ao público quatro dias por semana e anexo à morada. “Quando estamos aqui”, completa Mera, “gostamos de olhar um para o outro e para os nossos amigos.”
Apesar de haver uma porta de entrada propriamente dita (despretensiosa que só), o mais comum é en-trar na casa dos Rubell pela biblioteca do museu, cujas paredes de 7 m de altura são cobertas por estantes cheias de livros de arte. Em um canto, Don empurra uma porta discreta – achei que era um armário! – que dá na espaçosa e bem iluminada residência. “Para nós, é um sonho viver com a nossa arte, mas um pouco se-parados dela”, diz. “A distância nos permite enxergar as coisas com mais clareza.”
A estética é toda vidro e concreto, iluminada e aberta, com elegância minimalista, quase japonesa. As áreas de convivência, volumes arejados em perfeita escala humana, voltam-se para um terraço com pisci-na rodeado por palmeiras e paisagismo semitropical. Este é um lugar relaxado para conversas animadas com amigos, artistas e outros amantes da arte. É impressionante a disposição dos Rubell para descobrir novos nomes e compartilhar seus achados – descobertas estas que incluem Jean-Michel Basquiat, Keith Haring, Damien Hirst, Jeff Koons, Cindy Sherman, Kara Walker e Andy Warhol, apenas para citar
A sala de jantar, com cadeiras de Norman Cherner e mesa de Philippe Starck feita especialmente para o casal Rubell, é brindada com tela de John Williams. Na pág. seguinte, o living, marcado pela mesa de centro de Isamu Noguchi e pelo par de poltronas e pufes de Denis Santachiara, tem outro quadro do mesmo artista
O
Repleta de livros de arte, a biblioteca do museu The Rubell Family Collection abriga, discretamente, em um canto, uma das portas de entrada
Já no museu, uma instalação de Jason Rhoades ilumina a visão de quem passa por ali. Na pág. anterior, um obelisco de Damián Ortega domina a cena
alguns. Projetada de acordo com as especificações deles pelo arquiteto local Allan T. Shulman, do escritó-rio Shulman + Associates, a casa brinca com os conceitos de arquitetura residencial derivados da Bauhaus. “Pedimos ao Allan um espaço íntimo para conversar, socializar e cozinhar”, prossegue Mera. Enquanto fa-lamos, ela prepara um jantar de salmão grelhado e vegetais refogados, depois servido sobre uma mesa de jantar de 6 m de comprimento, desenhada especialmente para eles por Philippe Starck, em 1985.
Quando Don e Mera se conheceram, ele atuava como obstetra e já era um colecionador apaixonado. Após o casamento, os dois passaram a colecionar juntos enquanto trabalhavam com incorporação imo-biliária e, até a década de 1990, moraram em Nova York, a duas quadras do Whitney Museum. Logo se tornaram famosos não apenas como “talentosos descobridores de talentos”, mas também como anfitriões de festas imperdíveis que corriam paralelas às bienais do Whitney. A cena de arte nova-iorquina sentiu o baque quando, em 1992, a família Rubell se transferiu para Miami.
“Viemos para cá naquele primeiro momento em que a cidade começou a renascer como playground in-ternacional”, conta Mera. Ainda em 1992, para acomodar o acervo crescente, o casal comprou uma antiga sede da Agência de Proteção Antidrogas no bairro de Wynwood, que abriu ao público em 1994 – Mera se mudou em tempo integral para Miami no mesmo ano. Finalmente, em 1999, Don fechou o consultório em Nova York e rumou para o sul. A construção, de 4 mil m², foi concluída em 2003 e é, desde então, um labo-ratório íntimo para a exploração e contemplação, um lugar para leituras e discussões infinitas – o lado mais humano da enorme instituição artística logo ao lado. l
Mais exemplares da coleção Rubell espalhados pelo museu: aqui, telas e esculturas em instalação de Aaron Curry; à esq., latas de cerveja compõem instalação de Cady Noland, com estátua de Keith Haring e LA2 ao fundo; e, abaixo, sala dedicada ao trabalho de Serge Alain Nitegeka VEJA MAIS OBRAS DA COLEÇÃO DO CASAL NO TABLET 130 CASAVOGUE.COM.BR