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Emerson Viana Braga e Vera Pacheco

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Academic year: 2021

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ESTUDO DA DURAÇÃO SILÁBICA DE BLENDS: UMA ANÁLISE ACÚSTICA

COMPARATIVA COM AS PALAVRAS PRIMITIVAS1

Emerson Viana BRAGA2

Vera PACHECO3

Resumo

De acordo com Massini-Cagliari (1992), para análise acústica do acento primário, a duração é o parâmetro de maior relevância na marcação do acento tônico. Buscando investigar a marcação de acento em blends, fenômeno morfológico que se caracteriza pela junção de uma base à outra, como em safagato (safado + gato); propomos investigar a duração relativa das sílabas de blends com vistas a avaliar a realização, ou não, do acento primário desse processo. Nossa pergunta é se os blends possuem, acusticamente, uma sílaba mais longa como ocorrem em palavras primitivas. Nossa hipótese é de que os blends possuem duas sílabas com durações sem diferença significativa, evidenciando dois acentos. Procedemos a gravação de blends por 3 sujeitos e, para fins de comparação, procedemos também a gravação de palavras primitivas. Mensuramos a duração relativa de todas as sílabas que compõem os blends e as palavras primitivas. Os resultados mostram que os blends não possuem, acusticamente, duração silábica como de uma palavra primitiva.

Palavras-chave: Acento; Duração relativa; Blends; Palavras primitivas.

INTRODUÇÃO

A criatividade linguística é um bom mecanismo para a formação dos mais diferentes processos de palavras. Dentre as diversas possibilidades de formação, o blend é um desses processos de criação de palavras. Esse é um típico fenômeno morfológico que se caracteriza pela junção e/ou sobreposição de duas bases, resultando numa terceira palavra, como em namorido (namorado + marido).

1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB/Brasil).

2 Doutorando em Linguística do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin/UESB) e bolsista FAPESB. E-mail: emevibra@hotmail.com

3 Doutora em Linguística pela UNICAMP e professora do Programa de Pós-Graduação em Linguística (PPGLin/UESB). E-mail: vera.pacheco@gmail.com

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Segundo Andrade (2008), nos blends, há uma fusão de duas palavras no nível fonético com um acento apenas. A partir desse argumento, propomos, neste artigo, investigar a marcação do acento em palavras formadas por blends por meio da duração relativa das sílabas, pois nossa pergunta é se palavras formadas por esse processo possuem, acusticamente, uma sílaba mais longa. Nossa hipótese, diferentemente do que defende a autora, é de que os blends tendem a ter duas sílabas mais longas, evidenciando a presença de duas sílabas tônicas. Assim, procederemos a comparação da duração relativa dos blends com palavras primitivas, como macaco, por exemplo, uma vez que elas portam acento primário.

UMA BREVE DISCUSSÃO SOBRE OS BLENDS

Como apresentamos, anteriormente, o blend é um processo morfológico que tem como característica a junção de duas bases, a exemplo de chafé (chá + café). Por isso, o fenômeno morfológico se aproxima dos processos de formação de palavras por composição, justaposição e aglutinação. No entanto, Gonçalves (2019) argumenta que diferentemente do que ocorre com esses últimos, em que todos os segmentos das bases são mantidos no nível fonético (guarda-chuva, girassol), os blends não apresentam uma linearidade em sua formação, devido à não concatenatividade no processo da criação da palavra, como pode ser observado em (1)

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BASE 1 BASE 2 PROCESSO DA QUEBRA BLEND

(a) Namorado Marido Namoradomarido Namorido

(b) Português Espanhol Portuguêsespanhol Portunhol

(c) Boa Macumba Boamacumba Boacumba

Como é possível observar nos exemplos em (1), há supressão de, pelo menos, uma das sílabas de uma das bases. Braga (2019) afirma que a supressão de sílaba é uma das principais características dos blends. Além disso, tende haver um balanceamento de sílabas das bases formadoras na palavra formada (BRAGA; PACHECO, 2018). Portanto, fica evidente que, embora haja proximidade entre os processos de composição e o fenômeno morfológico, o que os difere é o fato de, em blends não mantem uma linearidade em sua formação, há uma quebra ocasionada pela supressão de sílaba(s) em uma ou em ambas as bases (maravilinda – maravilhosa + linda), enquanto os processos

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de composição sejam processos concatenativos, justamente, por não haver uma quebra e manter todos os segmentos no nível fonético, como em amor-perfeito.

Outra importante característica sobre a criação dos blends é o fato de eles estabelecerem uma divisão sob três aspectos. Nas palavras de Gonçalves (2016), o processo apresenta uma tipologia tripartida. O autor define essas tipologias em interposição lexical (ou entranhamento), combinação truncada e reanálise, conforme os exemplos dispostos em (1).

Em (1a), namorido, temos um exemplo de interposição lexical, uma vez que as duas bases se uniram compartilhando material fônico entre si. Desse modo, “a principal característica do cruzamento formado por meio da interposição lexical é a relação de semelhança entre as palavras-base” (SILVA, 2019, p. 21). Outros exemplos dessa tipologia, também, são mendigata (mendiga + gata), novelha (novela + velha).

O exemplo em (1b), portunhol, é considerado como combinação truncada em que não há, necessariamente, compartilhamento de material fônico, quando comparada com a interposição lexical. Para Gonçalves (2016), é a tipologia que mais se aproxima do processo de composição, no entanto, a distinção é ocasionada, justamente, pela supressão de sílaba no processo da junção entre as bases. Chocotone (chocolate + panetone), selemengo (seleção + flamengo) são mais alguns exemplos de combinação truncada.

A terceira tipologia é a reanálise (ou substituição sublexical, doravante SSL), observado acima em (1c) boacumba (boa + macumba). Diferentemente do que ocorre com as duas tipologias anteriores, nessa ocorre uma sequência fonológica de palavras em que uma parte é substituída, morfologicamente, por outra devido à semelhança que elas apresentam no nível fônico e, por vezes, semântico. Grosso modo, “uma sequência de segmentos de uma determinada palavra é reinterpretada e promovida à condição de morfema e, logo em seguida, substituída” (SILVA, 2019, p. 24). Bebemorar (beber + comemorar), fratria (fraterno + pátria), também, fazem parte dessa tipologia.

Essas informações são importantes para compreender, de modo geral, o processo de criação dos blends. É importante frisar, também, o fato de como o acento, no processo, é descrito na literatura. Andrade (2008, p. 17) defende que “quando duas palavras, pertencentes ou não a mesma classe gramatical, se fundem num todo fonético, com um único acento, à semelhança de um composto formado por aglutinação”. Nesse sentido, fica evidente que, para a autora, o blend seleciona apenas o acento primário.

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Para Silva (2019, p. 19), “mesmo que seja originado por meio de duas palavras, o CV4 constitui apenas uma e, portanto, porta apenas um acento primário”.

Neste artigo propomos realizar uma investigação experimental para avaliar a duração relativa das sílabas dos blends no intuito de compreender como ocorre a marcação acentual desse processo.

MÉTODOS E ANÁLISES

DELINEAMENTO DO EXPERIMENTO

Este estudo apresenta o resultado de um experimento piloto que desenvolvemos como forma de buscar uma metodologia adequada para investigar as nuances que envolvem ritmo e acento no processo de criação do blend. Para tanto, diante do que a literatura tem apresentado sobre seu padrão acentual, segundo a qual os blends só possuem um acento e, por isso, possuem apenas o acento primário, fizemos um estudo de comparação entre o fenômeno com palavras primitivas, que sabidamente possuem um único acento.

A priori, coletamos as palavras em gramáticas, redes sociais e em situações comunicativas diversas. Para este experimento, selecionamos apenas palavras primitivas e blends que fossem dissílabas (bolo, chafé) e trissílabas (macaco, sacolé). Para a primeira parte da pesquisa, convidamos 3 sujeitos do sexo masculino para fazer a gravação em cabine acústica audiométrica num laboratório de Fonética e Fonologia. Essas palavras foram colocadas em uma frase veículo como forma de homogeneizar o ambiente fonético. A frase utilizada foi disse_____ para ele.

Para a realização das gravações foi utilizado um MACbook e um microfone profissional, afastado 15 centímetros da boca do sujeito. Foram feitas 3 repetições com cada sujeito. Em seguida, realizamos análise acústica, por meio do Software PRAAT (BOERSMA, P.; WEENINK, 2002). O parâmetro acústico analisado neste trabalho foi a duração, pois, de acordo como Massini-Cagliari (1992), este é o parâmetro de maior relevância na marcação do acento tônico. Mais especificamente, a nossa análise pautou-se na duração relativa de palavras primitivas e palavras formadas por blends, obtida pela duração da sílaba/duração total da palavra * 100.

Na segunda parte da pesquisa, mensuramos a duração relativa de todas as sílabas que compõem os blends e as palavras primitivas, para em seguida, fazer análise

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estatística para verificar se havia ou não diferença significativa entre essas sílabas. A análise estatística foi feita com o teste Anova – um critério, porque permite avaliar o nível de variância. O nível de significância adotado foi de 0,05. Consideramos diferença significativa quando o valor de P era menor ou igual a 0,05 e como diferença não significativa quando o valor de P era maior que 0,05. Para análise da proporcionalidade entre sílabas, adotamos um cálculo de divisão entre a sílaba tônica e a(s) átona(s).

ANÁLISE DE VARIÂNCIA E DA PROPORCIONALIDADE ENTRE SÍLABAS TÔNICAS E ÁTONAS: EM BUSCA DA TONICIDADE DOS BLENDS

Já apresentamos, anteriormente, que, para análise das sílabas dos blends e de palavras primitivas, foi obtida a duração relativa de suas sílabas. Esse parâmetro foi escolhido, justamente, por ser o principal correlato acústico de maior relevância na caracterização do acento (MASSINI-CAGIARI, 1992). Feita a análise da duração relativa, propomos uma investigação por meio da comparação entre blends e palavras primitivas, analisando a relação de proporcionalidade entre tônicas e átona(s). Primeiramente, investigamos se havia diferença significativa entre as sílabas tônicas e átonas. Os resultados dessa análise são apresentados nas tabelas 1 e 2 a partir do valor de P.

Tabela 1: Média da duração relativa das duas sílabas (S1 e S2) de palavras dissílabas

primitivas. OBS: s = significativo para p ≤ 0,05 e ns = não significativo para p ≥ 0,05 Fonte: Elaboração própria.

Tabela 2: Média da duração relativa das três sílabas (S1, S2 e S3) de palavras trissílabas

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Como podemos verificar a partir dos valores de P dispostos nas tabelas 1 e 2, a sílaba tônica dos dissílabos e trissílabos tendem a ter maior duração relativa significativa do que as átonas, exceto na produção do sujeito 2 na palavra bolo, cujo p= 0,08.

No que tange à proporcionalidade entre as sílabas, na palavra bolo o sujeito 1

apresenta uma diferença expressiva5 no valor de porcentagem, 74%, em relação ao

sujeito 2, 14%, e ao sujeito 3, 36%. Apesar disso, a relação de proporcionalidade, entre tônica e átona, nesta palavra, é de 14% a 74%. Em feto, a proporção variou de 101% a 81%. Diante dos dados apresentados nas tabelas 1 e 2, verificamos que a sílaba tônica em palavras primitivas é, no mínimo, 50% maior que a sílaba átona.

As palavras trissílabas corroboram para hipótese, considerando, obviamente, a relação entre tônica e pré-tônica e tônica e átona final para a palavra macaco, bem como a relação entre tônica e pós-tônica medial e final para a palavra médico. A variação entre tônica e átona final, em ambas as palavras, apresentou uma relação de proporcionalidade acima dos 50%: de 4%a 77% em macaco e de 9 a 64% em médico.

Quando procedemos essa mesma análise nos blends dissílabos e trissílabos obtemos os resultados como dispostos nas tabelas 3 e 4.

Tabela 3: Média da duração relativa das duas sílabas (S1 e S2) de blends dissílabos.

Fonte: Elaboração própria.

5 É importante salientar que adotamos, neste trabalho, o termo “expressividade” para se referir às sílabas que apresentam porcentagens acima 50% o termo “discreta” para as sílabas que ficaram abaixo desse valor. Todavia, salientamos que não foi criada uma escala para adotar tais termos. Eles só foram adotados, aqui, para fazer as primeiras inferências sobre questões de acento dos blends.

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Tabela 4: Média da duração relativa das três sílabas (S1, S2 e S3) do blend trissílabo.

Fonte: Elaboração própria.

À semelhança do que verificamos para a duração relativa das palavras primitivas, nas produções dos blends pelos sujeitos investigados há uma tendência de se ter diferença significativa entre as durações relativas médias de sílabas tônicas e átonas, sendo as tônicas as maiores. Só atestamos exceção para o sujeito 1, em chafé e sujeito 2 em matel.

Ao analisarmos as durações relativas médias das sílabas do blend trissílabo

sacolé, é possível verificar que há, nesse caso, uma relação de duração inesperada entre

a sílaba tônica e átona, na sílaba tônica [lɛ] tende a ser menor que a átona inicial. Esse

dado é uma evidência importante para a hipótese de que os blends podem ter mais de uma sílaba longa.

Por meio das tabelas 3 e 4, ainda, observamos que a expressividade, em termos de porcentagem, nos blends, não parece ser tão latente, como o é em palavras primitivas, pois nos blendas a duração relativa média da sílaba tônica não chegou em nenhum a ser caso maior 50% que a da átona. Desse modo, a sílaba tônica do fenômeno parece ser mais discreta. Um forte indício para que isso esteja ocorrendo, seja o fato de que as marcas acentuais das bases que originaram os blends, também, sejam mantidas nos blends.

Em matel, por exemplo, era esperado, respaldados a partir do argumento de Bisol (2002) de que o acento, no português, é sensível ao peso da sílaba final, que a sílaba tônica [tɛw] fosse um pouco mais expressiva, dada a sua estrutura silábica ser formada com coda, e por isso ser uma sílaba pesada. Mas não foi o que aconteceu. Ao que parece, então, a primeira sílaba [ma] traz, consigo, marcas do acento da palavra de onde foi oriunda (mato), em que era a tônica.

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CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES E PROPOSTA FUTURAS

Nosso intuito, com este trabalho, foi propor uma análise da duração relativa de

blends em comparação a palavras primitivas para atestar se, nesse processo, ocorrem

apenas um acento, como defendem alguns teóricos, ou dois.

Os dados mostram que, as palavras primitivas, assim como os blends tendem a apresentar diferença significativa entre as durações relativas médias de sílabas tônicas e átonas. No entanto, o produto do blends, aqui avaliados, não possuem, acusticamente, a mesma relação da duração silábica entre sílabas tônicas e átonas que a observada na relação entre sílabas tônicas e átonas de palavra primitiva. Foi possível observar que no fenômeno há uma menor proporcionalidade de duração relativa entre sílabas tônicas e átonas, o que tende a ser a ocorrência de um acento secundário.

Os resultados, aqui, apresentados não estabeleceram um padrão acentual para os

blends. Entendemos a necessidade de um trabalho ainda mais robusto para chegar a

conclusões mais incisivas. Por isso, testaremos o mesmo teste com outras formações de palavras, tais como derivação e composição.

Além disso, pretendemos categorizar os blends em suas tipologias (interposição, combinação truncada e reanálise), pois a ocorrência do acento parece ter um comportamento diferente em cada uma delas.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, K. E. Uma análise otimalista unificada para mesclas lexicais do Português do Brasil. Dissertação de Mestrado – Rio de Janeiro, UFRJ: 2008.

BISOL, L. O acento, mais uma vez. Letras & Letras, Uberlândia, MG, Julho 2002. 103-110.

BRAGA, E. V. Haplologia à luz da Teoria da Otimidade e à luz da Percepção do falante nativo. Dissertação de Mestrado. Vitória da Conquista, UESB: 2019.

BRAGA, E. V.; PACHECO, V. Balanceamento do número de sílabas e Haplologia atuando no processo do portmanteau. ID ONLINE. Revista de Psicologia, Jaboatão dos Guararapes, PE, 2018. 1108-1120.

GONÇALVES, C. A. Atuais tendências em formações de palavras. São Paulo: Contexto, 2016.

GONÇALVES, C. A. Morfologia. 1ª. ed. São Paulo: Parábola, 2019.

MASSINI-CAGLIARI, G. Sobre o lugar o acento de palavra em uma teoria fonológica. Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, 1992. 121-136.

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SILVA, V. B. D. O cruzamento vocabular formado por antropônimos: análise Morfológica e Fonológica. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro, UFRJ: 2019.

Referências

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