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COMERCIANTES OU TRAFICANTES? ANÁLISE SOBRE A UTILIZAÇÃO DO TERMO TRÁFICO PARA TRATAR DO COMÉRCIO INTERPROVINCIAL DE ESCRAVOS NO SEGUNDO REINADO.

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COMERCIANTES OU TRAFICANTES? ANÁLISE SOBRE A UTILIZAÇÃO

DO TERMO “TRÁFICO” PARA TRATAR DO COMÉRCIO

INTERPROVINCIAL DE ESCRAVOS NO SEGUNDO REINADO.

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Luana Teixeira2

Esse artigo visa refletir acerca da utilização dos termos “tráfico” e “comércio” para tratar da venda de escravos desde Alagoas para outras províncias do Império nas últimas décadas da escravidão. Para tanto, inicio apresentando brevemente algumas características desse negócio. Em um segundo momento, analiso o tratamento coevo dado aos eventos, para, a seguir, observar como foram incorporados pela historiografia. Ao fim, retomo a indagação do título para expor a opção que guiou a escrita de minha tese de doutorado sobre o assunto.3

O comércio interno de longa distância de escravos, ainda que tenha existido concomitantemente ao trato atlântico, ascendeu na medida em que aquele foi sendo reprimido, e conheceu seu ápice quando, no início dos anos 1850, cessaram as entradas de escravos estrangeiros no Brasil. Por algum tempo estiverem diretamente relacionados, visto que em diversas ocasiões o comércio interno serviu à distribuição de africanos escravizados introduzidos ilegalmente no Brasil. No entanto, por três décadas (anos 1850, 60 e 70) o comércio interprovincial operou de forma independente e desvinculada do tráfico atlântico. Apesar de possuírem traços gerais que os aproximavam, pois tratavam-se do comércio de gente envolvendo longos trânsitos, suas dinâmicas

1 Texto apresentado no 8º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Porto Alegre (UFRGS), de 24 a 27 de

maio de 2017. Anais completos do evento disponíveis em http://www.escravidaoeliberdade.com.br/

2 Doutora em História. Atualmente realiza estágio pós-doutoral na Universidade Federal de Santa Catarina, no âmbito

do projeto “Afrodescendentes na região Sul: biografias, trajetórias associativas e familiares”.

3 O artigo é um desdobramento do projeto de doutorado realizado entre 2012-2016 junto ao programa de Pós-Graduação

em História da Universidade Federal de Pernambuco e financiado pela Capes. O argumento foi desenvolvido anteriormente, de modo bastante sintético, na introdução da tese. TEIXEIRA, Luana. Comércio interprovincial de

escravos em Alagoas no Segundo Reinado. Tese (Doutorado em História), Universidade Federal de Pernambuco,

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de funcionamento, seus agentes e as pessoas que estavam sendo comerciadas possuíam características bastante diferentes.

Em Alagoas os principais agentes do negócio interprovincial de cativos eram os comerciantes de cabotagem das principais praças da província – Penedo e Maceió – que, somados a parceiros das cidades com as quais mantinham negócio, especialmente Recife, Salvador e Rio de Janeiro, tratavam de comprar e vender escravos do mesmo modo como faziam com produtos como açúcar, algodão, solas e óleos. Os escravos comprados no interior e nas cidades eram remetidos aos destinos – principalmente a Corte – em embarcações fretadas e também nos vapores regulares de transporte de carga e passageiros. Em nenhum caso analisado os navios eram exclusivos para o carregamento de cativos, mesmo quando levavam mais de uma centena. Por exemplo, o vapor

Bahia, de quase 1.500 toneladas, que chegou ao Rio de Janeiro levando 91 passageiros livres (entre

eles três “criados”, 19 recrutas, 13 praças, cinco cadetes e um desertor), seis escravos acompanhando seus senhores e 170 escravos a entregar.4 A nave, que procedia dos Portos do Norte,

embarcou cerca de 10 cativos em Alagoas.5 Ao que tudo indica, em cada porto que os vapores

regulares de navegação no Império atracavam eram embarcados escravos, majoritariamente em pequenos ou médios grupos, agenciados por inúmeros comerciantes.6 Na Corte seriam entregues a

parceiros comerciais que os encaminhariam a outros intermediários ou aos compradores finais. Apesar de identificar alguns casos em que chegavam ao destino um número expressivo de escravos, em Alagoas a regra geral era o embarque de pequenos grupos de cativos, sendo que entre 1850 e 1880 não se passava um mês sem que algum escravo fosse exportado por Penedo e/ou Maceió.

Com o correr dos anos houve significativas mudanças nos modos de operar este comércio, mas ao longo de todo o período pode-se observar a concomitância da atuação de negociantes de Alagoas e do Rio de Janeiro como promotores da compra de escravos na província. Em Maceió,

4 O maior grupo de escravos encontrado em um só navio foi aquele transportado pelo Paquete Nacional Pernambuco

que chegou no dia 20 de junho de 1877 à Corte levando 54 passageiros livres (sendo seis praças e dois africanos livres), uma escrava acompanhando os senhores e 241 escravos a entregar. HEMEROTECA DIGITAL. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, ano 52, n. 337, sabbado, 06.12.1873, p. 1; Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, ano 56, n. 171, quinta-feira, 21.06.1877, p. 1.

5 ARQUIVO PÚBLICO DE ALAGOAS. Caixa 5.518. Secretaria de Polícia de Alagoas. Livro de Registro de

Passaportes, Maceió, 1870-1877.

6 Embarcações de carga também eram utilizadas no transporte de escravos, mas nesses casos, os grupos costumavam ser

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destacou-se o português Joaquim da Cunha Meirelles, que trabalhou nos negócios de cabotagem ao longo das três décadas. Em Penedo, nos anos 1870, foi outro português, José Maria Gonçalves Pereira, quem financiou a compra e exportação de centenas de escravos. Nos anos 1850, teve relevo a atuação do, igualmente luso, Custódio Francisco da Cruz Guimarães e, nos anos 1870, de seu compatriota Evaristo Teixeira Pinto Gomes, ambos negociantes da praça do Rio de Janeiro. Para comprar escravos em Alagoas (e em outras províncias que atuavam) por vezes viajavam eles próprios, mas também costumavam mandar representantes ou atuar através de agentes locais. A predominância – mas não exclusividade – de portugueses no comércio interprovincial de escravos estava ligada a sua forte presença nos negócios de cabotagem. No caso de Meirelles e Pereira, sabe-se que eram nascidos na década de 1830, o que torna improvável que em algum momento de suas vidas tivessem se envolvido diretamente no tráfico Atlântico. De modo geral, excetuando um ou outro caso, tratava-se de uma geração de negociantes que passaram a operar no comércio em uma nova conjuntura, caracterizada pelo fortalecimento do mercado interno propiciado pela estabilidade política advinda a partir do Segundo Reinado e os desdobramentos da Segunda Revolução Industrial no Império. Ao seguir sua atuação, é possível perceber que se tratavam de capitalistas envolvidos em inúmeros negócios como comércio nacional e internacional de toda sorte de produtos, arrematação de impostos e serviços públicos, empreendimentos fabris, mercado financeiro e imobiliário. Escravos era apenas um setor explorado.

O perfil dos escravos envolvidos no comércio interprovincial também tinha suas especificidades. Em análise sobre os escravos exportados pelo Porto de Maceió, entre 1842 e 1882, foi possível perceber que se tratavam majoritariamente de cativos brasileiros. Outra característica é serem pessoas muito novas, sendo que mais da metade dos escravos exportados desde o Porto de Maceió não alcançavam 22 anos. Dado igualmente importante é a observação de certo equilíbrio entre os sexos, pois, 56% dos escravos exportados foram homens e 44% mulheres. Chegou mesmo a haver momentos em que as mulheres superaram os homens entre aqueles que saíram forçadamente de Alagoas para serem vendidos alhures. É também destacável que a absoluta maioria dos escravos que saíram de Maceió tinham como destino declarado o Porto do Rio de Janeiro.7

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Ainda que tenha havido tentativas de proibir o comércio interprovincial de cativos, especialmente o projeto de lei de Maurício Wanderley apresentado à câmara em 1854, ele operou quase até o fim da escravidão na legalidade.8 No entanto, o comércio interno desenvolveu-se em

uma conjuntura de décadas de combate ao contrabando transatlântico de escravos e tornou-se, efetivamente, um negócio muito lucrativo quando aquele finalmente começou a estancar. É no cerne desse processo que se encontra a explicação para o uso e o desuso do conceito “tráfico” no tratamento do comércio interno de escravos.

Em artigo que trata sobre a etimologia do termo “tráfico”, José Bezerra Neto demonstra como, antes da proibição do comércio internacional, o conceito designava uma atividade legal de transporte, compra e venda de mercadorias e foi empregado frequentemente aos negócios de escravos. No entanto, após as primeiras medidas de repressão a este comércio no início do século XIX, especialmente, após a proibição da importação de cativos em todo território nacional em 1831 – e os mais de vinte anos de combate ao contrabando de africanos que a sucederam – o termo foi se desviando semanticamente, incorporando ao seu sentido original a ideia de ilegalidade. “Tráfico” passou cada vez mais a ter seu sentido circunscrito ao contrabando internacional de escravos. Assim

a mudança de sentido em termos negativos da palavra Tráfico tem uma história que remete à luta contra o comércio atlântico de escravos africanos e a sua extinção no Brasil, em meados do século XIX. Conceituação negativa de tráfico assim construída inclusive pela historiografia, a partir das leituras das obras e documentos do século XIX. Leituras essas que perdiam de vista, no entanto, a ausência de um sentido único para determinar o significado de tráfico contido nas fontes.9

Como demonstra o autor, ainda que progressivamente o termo associasse a ideia de ilícito, os dicionários, até fins do século XIX, mantinham corrente a perspectiva mais ampla de comércio, o que torna perfeitamente viável a utilização das expressões “tráfico interprovincial/interno de escravos” assim como foi e é utilizado pela historiografia. No entanto, como afirma Neto, essa foi uma postura conservadora dos dicionários, pois no uso cotidiano do termo o sentido estava já

8 Mudanças tributárias nas principais províncias compradoras – Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais – encerraram

os circuitos mais lucrativos dos negócios na virada de 1880 para 1881. As referidas leis aumentaram para 1,5 e dois contos o imposto que deveria ser pago para averbação de matrícula de escravos provenientes de outras províncias. Apenas em 1885, com a Lei dos Sexagenários, a transferência de escravos entre províncias simultânea à troca de senhor foi efetivamente proibida. Uma abordagem historiográfica sobre o comércio interprovincial pode ser encontrada em: MOTTA, José Flavio. Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico interno de cativos na expansão cafeeira paulista. São Paulo: Alameda, 2012.

9 NETO, José Maia Bezerra. Uma história do tráfico em verbetes: etimologia e história conceitual do tráfico a partir dos

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tomado pelo ilícito. Esse processo de mudança semântica do termo “tráfico” e seu uso corriqueiro restrito a negócios ilegais é percebido ao analisar as fontes sobre o comércio interprovincial. Nestas, o uso de “tráfico” para tratar dos negócios internos de escravos após 1850 foi, além de rara, ligada estritamente aos sentidos negativos atribuídos ao negócio atlântico de escravos ao longo dos anos de contrabando e respectiva repressão.

O conjunto de fontes utilizadas para a pesquisa da tese de doutorado envolveram documentos que abarcavam a década de 1840 a 1880 e incluíram: falas e relatórios de Presidentes de Província, ofícios da Secretaria de Polícia, ofícios da Tesouraria e do Tesouro, ofícios de autoridades diversas ao Presidente da Província, processos judiciais, documentos cartoriais (em todos os casos, principalmente, mas não somente, de Alagoas), jornais, relatórios ministeriais, fontes impressas, legislação, atas legislativas e relatórios estatísticos.10 Desde o principio da

pesquisa atentei para a ocorrência dos termos que denominavam o fenômeno estudado, o comércio interprovincial de escravos. Conclui que o uso do termo “tráfico” para nomeá-lo foi raro – tendo sido identificado em apenas em três documentos – e quando foi constatado, relacionava-se à uma retórica que visava equiparar o comércio interprovincial ao contrabando internacional de africanos.

A primeira referência é encontrada no Philantropo, periódico da Corte. Em edição de abril de 1852, bastante conhecida na historiografia, há a denúncia:

MAIS TRÁFEGO! Ao Exm. Sr. Euzébio de Queiroz Coutinho Mattoso da Câmara, nos dirigimos agora. Não é a primeira vez que fazemos notar que <<escravos a entregar>> nos vêm diariamente do Norte, constituindo um <<tráfico interno>> por cabotagem tão escandaloso como o outro da África. É mister providências, Exm. Sr. Euzébio! [...] O que é isso, Exm. Sr. Euzébio?! Que tráfico de cabotagem é esse?!! [...] De sorte que, somente ontem entraram no porto do Rio de Janeiro 163 escravos homens escravos. São “cento e sessenta e três escravos!!!.... Será mister que nesse negócio venham os ingleses intrometer-se, e dizer depois que <<obrigaram>> V. Ex. a reprimir o <<tráfico interno?!>>11

10 TEIXEIRA, op. cit., 2016.

11 HEMEROTECA DIGITAL. O Philantropo. Rio de Janeiro, ano 4, n. 133, Sexta-feira, 16.04.1852, p. 4. Grifos no

original. Os documentos de época tiveram a ortografia atualizada, mantendo-se a pontuação original. Note-se que, embora esteja citado “homens escravos”, tendo como referência a pesquisa de Hebert Klein que analisa os desembarques de escravos no mesmo porto alguns meses depois dos fatos relatados n’O Philantropo, tratavam-se de homens e mulheres escravas, na proporção de 67% e 33% respectivamente. Ver: KLEIN, Herbert. The internal slave trade in nineteenth century Brazil: a study of slave importations into Rio de Janeiro in 1852. Hispanic American

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Observa-se que nas páginas do Philantropo o termo “tráfico interno” é utilizado com o objetivo de construir uma analogia entre o comércio interno e o tráfico internacional, imprimindo-o grafado inclusive. 12 É evidente o uso depreciativo do termo “tráfico” para tratar do comércio

interno, podendo-se também concluir que ele não era corriqueiro e que havia por parte do escritor da nota a intenção de gravar a expressão na memória do leitor. Deve-se notar que se trata de um periódico da Corte de notório posicionamento anti-tráfico quem imprimiu a expressão, buscando criticar o comércio interprovincial nos mesmos termos que fazia com o atlântico em um momento que o fechamento definitivo do contrabando estava em processo.

Dois anos depois, em outra fonte também bastante explorada pela historiografia, o deputado José Maurício Wanderley propôs um projeto para proibir o comércio interprovincial de escravos no Império. Nos debates anotados nas atas da Câmara, pode-se encontrar os seguintes trechos:

Há nada mais aflitivo do que este tráfico que se faz de escravos a todos os instantes como de bestas? Não é isto altamente imoral?13

Note-se que esse resultado não é devido exclusivamente às necessidades econômicas, é também devido a uma forte associação e à combinação de novos traficantes quase iguais aos que negociavam para África [...] Essa nova indústria, essa nova especulação, essa nova traficância de carne humana que anda explorando todas as vilas, todo o centro da província para comprar escravos e transportá-los para os novos valongos da corte [...].

Todas as consequências desse tráfico tão bárbaro, tão inumano, e direi ainda mais bárbaro mais inumano do

que era o tráfico da costa da África.14

Nesta fonte - que possui cerca de 20 páginas - são registradas as falas feitas durante um debate de ideias. Nele a ocorrência do temo “tráfico” para tratar do comércio interno apenas foi feita por um dos lados envolvidos: o que queria aprovar o projeto de proibi-lo. Os opositores ao projeto chamaram o objeto em discussão de “comércio”. O próprio título da pauta é “Comércio e transporte de escravos”. De fato, as citações acima são de autoria exclusiva do próprio Maurício

12 Há nesta matéria alusão ao caso do Piratinim ocorrido cerca de um ano antes e que causou forte agitação entre os

políticos nacionais dada a intervenção britânica em um navio nacional de cabotagem. Sobre o assunto, ver: BETHELL, Leslie. A abolição do tráfico escravo no Brasil: a Grã-Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807-1869. Rio de Janeiro: Ed. Expressão e Cultura, 1976, Cap. 12; MAMIGONIAN, Beatriz Galotti. To Be a Liberated African in

Brazil: Labour and Citizenship in the Nineteenth Century, University of Waterloo, Canada, 2002, Cap. 6; PARRON,

Tâmis Peixoto. A política da escravidão no Império do Brasil, 1826-1865. Dissertação (Mestrado em História Social), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009, Cap. 4.

13 BRAZIL, Império do. Anais da Câmara os Deputados, Seção de 25.08.1854. Fala de Araújo Lima, p. 275. Grifos

meus

14 BRAZIL, Império do. Anais da Câmara os Deputados, Seção de 01.09.1854. Falas de José Maurício Wanderley, p.

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Wanderley (futuro Barão do Cotegipe) e de Araújo Lima, que assumiu a defesa do projeto na ausência daquele. Essas ocorrências evidenciam o que já havia sido observado no Philantropo: o uso do termo “tráfico” utilizado como um artifício de retórica para criticar o comércio de escravos por cabotagem. E também reforça o que foi dito sobre o uso não difundido de “tráfico” para se referir ao mesmo, pois aqueles que queriam nomear o evento afastando-o de conotações pejorativas usavam outros termos.

A terceira e última ocorrência registrada distancia-se do início dos anos 1850, quando a questão do comércio interprovincial e do tráfico atlântico ainda estavam muito relacionadas devido a concorrência simultânea dos dois eventos. Trata-se do manifesto intitulado “Aos lavradores do Brazil”, publicado em meados dos anos 1870 nas páginas de vários jornais do Império.15 Narrando

os insucessos da lavoura, comenta o autor: "entretanto o sul do Império ia recebendo, com ânsia desesperada de quem se debate por escapar do naufrágio, os escravos, que um vergonhoso tráfico importava das províncias". Passadas duas décadas, o termo tráfico para designar o comércio interprovincial continuava acompanhado de adjetivações negativas e sendo empregado de modo a criticar o comércio interno.

Deve-se notar que as três fontes citadas teriam sido produzidas no centro do Império.16 Em

Alagoas, foco da pesquisa e local de produção da maioria dos documentos pesquisados, não encontrei quem denominasse “tráfico” ao comércio interprovincial de escravos.17 Na província, era

comum ser referido como “comércio”, “negócio” ou “exportação”. Parece bastante coerente afirmar que é mais fácil fazer a analogia entre tráfico transatlântico e comércio interprovincial desde um ponto de vista de onde, em ambos os casos, chegavam os escravos, principalmente a Corte, que via desembarcar dezenas de escravos em um único dia e raramente cativos que ali viviam entravam nas naves com o sentido inverso. Em portos exportadores, como Maceió e Penedo, a analogia não fazia tanto sentido.

15 O texto foi publicado 1876 pela Typographia de G. Leuzinger & Filhos no Rio de Janeiro e teve divulgação nacional.

Há um volume no acervo da Biblioteca Nacional constando a autoria de J. W. Lay. A versão utilizada nessa análise está em: IHGAL. Jornal do Penedo, Penedo, anno VI, n. 43, sexta-feira, 10.11.1876.

16 Apenas da última não tenho informações pormenorizadas, mas aparentemente também mantinha essa característica. 17 Não se pode deixar de aventar que no cotidiano, especialmente entre a comunidade escrava, a nomeação de “tráfico”

para aquele movimento que afetava diretamente suas vidas pudesse ser utilizada, mas ainda que assim o fosse, manteria a mesma fórmula observada nas fontes acima tratadas.

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No entanto, apesar de não serem constantes nas fontes, o termo “tráfico interprovincial de escravos” consolidou-se na historiografia. Por exemplo, na bibliografia utilizada em minha pesquisa encontrei 15 títulos (entre livros, teses, dissertações e artigos) que apontam diretamente para o tema do comércio interprovincial de escravos, sendo que 12 nomeiam “tráfico” interprovincial ou interno e três utilizam o termo “comércio” de escravos.18 Apenas o artigo de Richard Graham “Nos

tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no Brasil”, utiliza estritamente a expressão “comércio interprovincial de escravos”. Cabe destacar que, nesse caso, trata-se de uma tradução do original em inglês “Another middle passage: the internal slave trade in Brazil”.19

A tradução de textos de brasilianistas, poderia se propor, estaria no cerne da explicação sobre a ampla difusão do termo “tráfico” para tratar do comércio interno. Uma pesquisa realizada por um especialista da área certamente traria elementos mais consistentes para debater assunto, mas ainda assim arrisco-me a continuar o raciocínio. No artigo de Graham observa-se que o termo

18 Que usam tráfico: ARAÚJO, Thiago Leitão de. A persistência da escravidão: população, economia e o tráfico

interprovincial (Província de São Pedro, segunda metade do século XIX) In: XAVIER, Regina Célia Lima (org.)

Escravidão e liberdade: temas, problemas e perspectivas de análise. São Paulo: Alameda, 2012, p. 229-254;

BARBOSA, Josué Humberto. Um êxodo esquecido: o porto do Recife e o tráfico interprovincial de escravos no Brasil: 1840-1871. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal do Paraná, Coritiba, 1995; FLAUSINO, Camila Carolina. Negócios da escravidão: tráfico interno e escravos em Mariana, 1850-1886. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2006; MOTTA, José Flavio. Escravos daqui, dali e de

mais além: o tráfico interno de cativos na expansão cafeeira paulista. São Paulo: Alameda, 2012; PENA, Eduardo

Spiller. Burlas à lei e revolta escrava no tráfico interno do Brasil Meridional, século XIX. In: LARA, Silvia Hunold; Mendonça, Joseli Maria Nunes. Direitos e justiças no Brasil: ensaios de história social. Campinas: Editora da Unicamp, 2006; PIRES, Maria de Fátima Novaes. Fios da vida: tráfico interprovincial e alforrias nos Sertoins de Sima - BA (1860-1920). São Paulo: Annablume, 2009; ROSSINI, Gabriel Almeida Antunes. Apreciações acerca do tráfico interno de escravos no oeste da Província de São Paulo (Rio Claro, 1861-1869). Revista História Econômica & História de

Empresas, v. 16, p. 301-341, 2013; SCHEFFER, Rafael da Cunha. Tráfico interprovincial e comerciantes de escravos em Desterro, 1849-1888. Dissertação (Mestrado em História), Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis,

2006; SILVA, Ricardo Tadeu Caíres. A participação da Bahia no tráfico interprovincial de escravos (1851-1881). In:

Anais 3º Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional. Florianópolis, 2007; SOBRINHO, José Hilário

Ferreira. “Catirina, minha Nêga tão querendo te vendê....”, escravidão, tráfico e negócios no Ceará do século XIX (1850-1881). Fortaleza: Governo do Estado de Ceará/Secretaria de Cultura, 2012; VARGAS, Jonas Moreira. Das charqueadas para os cafezais? O tráfico interprovincial de escravos envolvendo as charqueadas de Pelotas (RS) entre as décadas de 1850 e 1880. In: XAVIER, Regina Célia Lima (org.) Escravidão e liberdade: temas, problemas e perspectivas de análise. São Paulo: Alameda, 2012, p. 275-302; VASCONCELOS, Albertina Lima. Tráfico interno, liberdade e cotidiano de escravos no Rio Grande do Sul. In: Anais do II Encontro Escravidão e Liberdade no Brasil Meridional, Porto Alegre, 2005. Que usam comércio: GRAHAM, Richard. Nos tumbeiros mais uma vez? O comércio interprovincial de escravos no Brasil. Afro-Ásia, 27, p.121-160, 2002; NEVES, Erivaldo. Sampauleiros traficantes: comércio de escravos do Alto Sertão da Bahia para o oeste cafeeiro paulista. Afro-Ásia, n. 24, 2000; SCHEFFER, Rafael da Cunha. Comércio de escravos do sul para o sudeste, 1850-1888: economias microregionais, redes de negociantes e experiência cativa. Tese (Doutorado em História), Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.

19 GRAHAM, Richard. Another middle passage: the internal slave trade in Brazil. JOHNSON, Walter. The chattel

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“trade” foi traduzido simultaneamente para “comércio”, como foi o caso do título, como também para “tráfico”, como no primeiro parágrafo onde: “what did the slave trade mean for the human

beings who were traded?” aparece traduzido por “o que o tráfico significou para os seres humanos

que foram traficados?”.20 No entanto, talvez mais profícuo que discutir os limites linguísticos da

pertinência da tradução de “trade” para “tráfico” – justificável, de fato – é perceber que o campo da historiografia brasileira admitiu sua viabilidade na medida em que esse era corrente nos trabalhos sobre o tema. Por outro lado, procedendo-se a uma rápida análise das obras em inglês publicadas na década de 1970 percebe-se que o uso de “traffic” foi frequente naquelas preocupadas com o processo de decadência da escravidão no Brasil como em Galloway e Robert Conrad; mas raro ou inexistente nas que trataram especificamente de analisar o funcionamento e os impactos do comércio de escravos, como em Robert Slenes e Hebert Klein – priorizando estes os termos “trade”, “importation/exportation” e “migration”, por exemplo.21

Atentar para a obra de Robert Conrad, “The destruction of brazilian slavery”, pode trazer alguns elementos para refletir sobre a questão. Publicada em inglês em 1872 e traduzida no Brasil na segunda metade daquela década, possui um capítulo exclusivo dedicado ao tema nomeado: “The

inter-provincial slave trade” que é seguido logo abaixo por um subtítulo “The internal traffic”.

Traduzidos como “Comércio de escravos interprovincial” e “O tráfico interno”.22 A opção de

Conrad pelo termo possivelmente tenha sofrido influência da ampla utilização que fez de “O Philantropo” como fonte, sendo que já no início do capítulo, ele faz referência à edição de 16 de abril de 1852, na qual seus editores denunciavam o <<tráfico interno>> tão escandaloso como aquele da África. Uma página adiante cita outra analogia do Philantropo que em 30 de abril daquele ano chamava o Maranhão de “nova Costa da África”. A repetição de analogias no periódico para condenar o comércio interno evidencia novamente o quanto a nomeação de “tráfico” teve o

20 O artigo foi traduzido por Waldemir Zamparoni, revisado pelo próprio Graham e publicado antes do original em

inglês.

21 CONRAD, Robert. The destruction of Brazilian Slavery, 1850-1888. Los Angeles; London: University of California

Press, 1872; GALLOWAY, J.H. The Last Years of Slavery on the Sugar Plantations of Northeastern Brazil. The

Hispanic American Historical Review, vol. 51, n. 4, p. 586-605, nov., 1971; KLEIN, op. cit., 1971; SLENES, Robert W.

A.. The demography and economics of brazilian slavery: 1850-1888. Ph.D. (Modern History), Stanford University, Stanford, 1976. A expressão mais comum para tratar do evento do comércio interno, especialmente aquele de longas distâncias, nos Estados Unidos é “domestic slave trade”.

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explícito fim de dar a aparência de infame a um negócio que, apesar da oposição, era legal. Conrad também utilizou o debate parlamentar de 1854 como fonte e ao que tudo indica, o autor, cuja pesquisa estava muito mais concentrada no tráfico atlântico que no comércio interprovincial, teria incorporado o termo “tráfico” interno destes dois documentos. Cabe notar que a análise comparativa entre os dois fenômenos é, de certo modo, o cerne do argumento do capítulo. Conrad tinha interesse em reforçar a semelhança entre os fenômenos e as fontes o permitiram fazê-lo. Soma-se a estes dados relacionados às fontes o fato de que, entre suas referências bibliográficas, havia uma obra que já havia consolidado a expressão em um subtítulo de seção.

Trata-se de “Da senzala a colônia”, de 1966. No livro, fruto de sua tese, Emília Viotti da Costa nomeia o capítulo V como “Decadência do sistema escravista” e logo as seguir a seção “Restrições ao tráfico interprovincial”.23 Assim como em Conrad, seus objetivos estão relacionados

a entender o processo de desagregação do sistema escravista e a abordagem sobre o comércio interno insere-se nessa perspectiva. No entanto, a análise dos autores sobre o impacto deste comércio traça caminhos bastante diferentes, assim como não coincidem muitas das fontes utilizadas.24 Emília Viotti não cita o Philantropo, tampouco o debate de 1854. Mas ambos os autores

trazem em sua bibliografia vários títulos das obras de um autor que, apesar da importância que teve nos anos 1960-1970, foi esquecido pela historiografia nos períodos subsequentes: Antônio Evaristo de Moraes

O renomado advogado, especialmente, em “A campanha abolicionista (1879-1888)”, de 1924, utilizou mais de uma vez a expressão “tráfico interprovincial de escravos”, embora, quando transcreveu trechos de uma fonte, nela foi referido o “comércio e transporte de escravos”.25

Considerando que Evaristo de Moraes narra eventos dos quais participou e conhecia os

23 COSTA, Emilia Viotti. Da senzala à colônia. 3ª Ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1989. Segundo a autora, no

prefácio, as edições subsequentes mantiveram o texto da primeira edição de 1966.

24 Em Costa, uma consequência do comércio teria sido atrasar a “transição” para a mão-de-obra livre na medida em que

pode prolongar o fornecimento de mão de obra escrava na produção cafeicultora. Por outro lado, a análise de Conrad propõe que o comércio interprovincial teria acelerado o processo de desagregação da escravidão na medida em que as elites do Nordeste, ao venderem seus escravos, foram perdendo o interesse político na manutenção da instituição.

25 Não pude cotejar a primeira edição de 1924, utilizando a segunda edição de 1986 para a análise. A fonte a qual faz

referência é um projeto de Antônio Moreira Barros, deputado de São Paulo que encaminhou projeto para proibir o comércio interprovincial no fim dos anos 1870, ver: MORAES. Antônio Evaristo. A campanha abolicionista

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protagonistas, pode-se propor que aqueles que participaram da campanha abolicionista continuaram, nos anos 1880, a chamar o comércio interno de “tráfico”. Teria sido, possivelmente, da experiência de nomeação da militância abolicionista que Evaristo de Moraes incorporou o termo “tráfico interprovincial” a sua narrativa histórica.26 Embora seja uma hipótese incipiente, é possível que a

obra de Evaristo de Moraes tenha sido fundamental para que um termo que, conforme pude apurar em minha pesquisa, pouco aparece em fontes documentais, acabasse sendo adotado de forma tão disseminada na historiografia. Os trabalhos de Emília Viotti da Costa e Robert Conrad teriam sido, por seu turno, os responsáveis pela ampla disseminação dele, mesmo depois da obra de Evaristo ter entrado em desuso entre os estudiosos das últimas décadas da escravidão no Brasil.

É possível, portanto, propor que o uso do termo “tráfico interprovincial de escravos” foi limitado no século XIX, restringindo-se a determinados grupos e locais. Apesar disso, foi generalizado pela historiografia, seja por que as obras que abordaram o tema utilizaram fontes provenientes, justamente, desses setores da sociedade e regiões do Império, seja por não se tratarem de pesquisas que problematizassem especificamente o tema. Quando isto foi feito, na década de 1970, através da tese de Robert Slenes e do artigo de Herbert Klein, trataram-se de pesquisas publicadas em inglês, o que fez com que, ainda que não incorporassem a expressão “interprovincial

slave traffic”, não alteraram o cenário, visto a possibilidade de tradução de “trade” como “tráfico”.

No entanto, a pesquisa sobre Alagoas aponta para o fato de que o termo não teria sido corrente na província, e, certamente, inusual em documentos oficiais. Um delegado, um administrador dos impostos de exportação ou um presidente de província não se referiam ao “tráfico interprovincial”. A questão fica ainda mais evidente quando se constata a completa ausência da nomeação de “traficantes” àqueles responsáveis pelos negócios. Quem negociava escravos era comerciante ou negociante, ou ainda, exportador. Raramente o próprio epíteto “comerciante de escravos” aparecia, não apenas devido a progressiva articulação da opinião pública contra a escravidão, mas, principalmente, porque essas pessoas não eram comerciantes exclusivos de escravos. Joaquim da Cunha Meirelles, José Maria Gonçalves Pereira, Evaristo Gomes e Custódio Guimarães eram capitalistas. Como argumentei no início, ainda que seja viável que se trate

26 Sobre o autor, sua participação no abolicionismo e o contexto de escrita de sua obra, ver: MENDONÇA, Joseli Maria

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comércio interno como “tráfico”, não encontro qualquer base documental para chamar esses homens de “traficantes”. Se “tráfico” teve um evidente sentido pejorativo e uma aplicação restrita, pode-se afirmar que nem todos concordariam com sua utilização na época. Por outro lado, parece evidente que os homens e mulheres da época reconheciam que a compra e venda de escravos entre as províncias do império era um comércio impulsionado e financiado por comerciantes ou negociantes, até especuladores; mas não por traficantes.27 Estes eram parte de uma história que

estava ficando para trás, no caso dos anos 1850, ou que já havia ficado no caso dos subsequentes. Os resultados da pesquisa sobre o comércio interprovincial de escravos demonstraram que se tratou de um evento histórico único. Apesar de haver uma relação evidente com o tráfico atlântico, teve características próprias e, em muitos sentidos, bastante diferentes daquele. Nomear, assim como fizeram os homens do século XIX, o comércio interno de “tráfico” para aproximá-lo das relações comerciais que o antecederam não contribui para a análise de suas especificidades. E ainda, deve-se observar, as obras que de alguma forma teriam consolidado e difundido o uso da expressão não eram estudos específico sobre o tema. Nelas, o comércio foi tratado quase como resíduo do tráfico, uma forma encontrada por cafeicultores desejosos por mão-de-obra escrava de continuar o fornecimento desses trabalhadores. No entanto, o comércio interprovincial de escravos não foi simplesmente como uma etapa final do tráfico de escravos no Brasil. Suas relações com a escravidão, com a sociedade, com a cultura e com a economia são mais complexas e profundas. Desenvolver o conhecimento sobre seu funcionamento, dinâmicas, causas e consequências requer também nomeá-lo do modo mais apropriado à análise.

Há ainda a questão local. Não encontrei um só documento produzido em Alagoas que utilizasse o termo. Certamente a analogia entre tráfico atlântico e comércio interno não fazia muito sentido em uma província que exportou cerca de nove mil pessoas nesse processo. Os portos de Alagoas viam dezenas de grupos de escravos serem vendidos e praticamente não importavam. Esse movimento muito pouco se assemelhava ao contrabando atlântico que desembarcou nas praias da província milhares de africanos até 1851. Ou seja, o uso do termo tráfico nos anos 1850-1880, além

27 Note-se que na única referência nesses termos aos comerciantes internos, citada acima no contexto do debate de 1854,

Maurício Wanderley trata dos novos traficantes buscando inculcar na prática coeva a nomeação anterior, o que, aparentemente não teve tanto sucesso quanto no caso do termo “tráfico”.

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de restrito socialmente, estava circunscrito a determinadas regiões, provavelmente apenas naquelas compradoras de escravos.

Desse modo, o termo “tráfico” nomeando o comércio interprovincial de escravos em Alagoas não pareceu adequado para tratar do tema central da tese de doutorado desenvolvida junto à Universidade Federal de Pernambuco. A opção em não o utilizar beirou à rabugice, visto que era necessário dialogar com uma bibliografia na qual ele era recorrente. De qualquer modo, definir a nomeação a ser dada junto aos contornos do problema contribuiu para que algumas questões fossem colocadas, especialmente quando estavam em pauta a organização e as dinâmicas do comércio. Essa postura ampliou as perspectivas para tratar do comércio interprovincial de escravos como um fenômeno fortemente conectado ao desenvolvimento do mercado interno brasileiro e aos desdobramentos econômicos da Revolução Industrial. Também se mostrou fundamental para a analisar a experiência dos escravos por ele envolvidos, considerando que a grande maioria eram trabalhadores brasileiros forçados à migração no interior do território nacional. Ao fim, a opção pelo desuso do termo tráfico na narrativa foi fundamental para uma das conclusões da tese: que, em diversos aspectos, o comércio interprovincial de escravos esteve muito mais ligado aos desdobramentos econômicos e sociais do fim do século XIX que às práticas passadas do tráfico.

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