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Comunicação TEATRO COMO ENCONTRO: A EXPERIÊNCIA DO EVENTO TEATRAL NA SALA DE AULA PRÁTICA DOCENTE-TEATRO

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Academic year: 2021

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Comunicação

TEATRO COMO ENCONTRO: A EXPERIÊNCIA DO EVENTO TEATRAL NA SALA DE AULA

PRÁTICA DOCENTE-TEATRO

SCHNEIDER, Adriana Serrão1 Palavras-chave: teatro; educação; experiência

RESUMO

O trabalho insere-se no projeto Professor de Teatro e Construção de Conhecimento:

O Laboratório de Prática Docente, pesquisa em andamento sobre procedimentos e

compreensões de um grupo de alunos-professores acerca do fazer teatral em sala de aula. O campo de estudo é uma oficina de teatro voltada ao público adolescente da comunidade, realizada no Departamento de Arte Dramática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Dentro deste projeto mais amplo, analiso a compreensão da sala de aula como espaço de compartilhamento da experiência estética e ética em teatro. As análises partem de experiências teatrais desenvolvidas em sala de aula, de registros escritos e visuais (fotos e filmagens), de referenciais teóricos e de impressões e avaliações do grupo. Observo, nos jogos e improvisações teatrais, analisados em acordo com teorias de Jerzy Grotowski e Paulo Freire, o exercício do professor de conhecer seus alunos, colocar-se no lugar deles e, assim, planejar aulas que possam vir a promover fruição artística e compreensões éticas diante do processo de criação teatral. Esse exercício pode gerar encontros significativos entre seres humanos que se aprendem mutuamente através da arte, enriquecendo uns aos outros com suas experiências.

INTRODUÇÃO

Reflito, neste trabalho, sobre a possibilidade de promover encontros teatrais na sala de aula que mobilizem estados de efervescência e fruição estética, que ampliem as visões de mundo e que transformem as relações humanas.

A pesquisa surgiu da percepção do teatro como encontro transformador através da minha própria experiência enquanto espectadora e estudante de teatro. A partir disso, senti-me instigada a descobrir se é possível construir essa experiência em sala de aula.

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A noção de encontro a que me refiro despontou para mim a partir de experiências da minha própria prática, e encontrou apoio teórico na idéia do encenador Jerzy Grotowski (1968, p.48), quando diz que: “A essência do teatro é um encontro. O homem que realiza um ato de auto-revelação é, por assim dizer, o que estabelece contato consigo mesmo. Quer dizer, um extremo confronto, sincero.”

Nas minhas buscas de referenciais teóricos, recorro a Paulo Freire para pensar o quanto esse encontro ao qual me refiro, de confronto sincero, segundo Grotowski, e mobilizador de mudanças, segundo minha própria experiência, pode levar as pessoas a interferirem em suas realidades de vida. Segundo Freire (1996):

“O mundo não é. O mundo está sendo. Como subjetividade curiosa, inteligente, interferidora na objetividade com que dialeticamente me relaciono, meu papel no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas também o de quem intervém como sujeito de ocorrências. Não sou apenas objeto da História, mas seu sujeito igualmente.” (FREIRE, P. 1996, p.76)

Meu campo empírico foi a oficina de teatro para adolescentes, aberta à comunidade e realizada no Departamento de Arte Dramática da UFRGS, com quatorze encontros de duas horas semanais. As aulas foram conduzidas pelo grupo da pesquisa Professor de Teatro e Construção de Conhecimento: O Laboratório de

Prática Docente, sob a orientação da professora doutora Vera Lúcia Bertoni dos

Santos, a qual participo como bolsista com mais quatro colegas, todas bolsistas (algumas delas, bolsistas voluntárias) e cursando, como eu, licenciatura em teatro. As aulas da oficina foram conduzidas, no geral, por uma dupla de professoras, em esquema de revezamento, e as demais professoras e nossa orientadora estiveram sempre presentes observando. Os procedimentos adotados por mim para a pesquisa foram: reflexões sobre experiências teatrais, observações participantes e análises de abordagens pedagógicas geradoras de “encontros” na sala de aula.

Começo a pesquisa com algumas reflexões sobre experiências pessoais de encontros enquanto espectadora e aluna-atriz e logo a seguir me volto ao meu campo empírico para observar o que promove o encontro dos alunos com o teatro na sala de aula.

Das experiências sobre as quais reflito, destaco uma enquanto espectadora do espetáculo Café com queijo, do grupo paulista de teatro LUME. O espetáculo foi uma proposta que me marcou por vários motivos: o grupo de atores fez uma pesquisa de campo no interior nordestino com pessoas simples e usou essa

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pesquisa para uma construção de personagens muito rica e comovente. Além disso, o grupo criou uma proposta sensível, num palco de arena, de trocas com o público, que era convidado a participar dando depoimentos ou compartilhando uma bebida que era passada de mão em mão pela platéia. Existia uma relação de intimidade com o público que me encantou, que me fez sentir muito próxima daqueles personagens, mesmo que eu não fosse nordestina, nem vivesse aquela cultura.

Destaco dois princípios encontrados nesta experiência: a prática teatral como um ritual que passa por escolhas sensíveis e pela emoção estética e a cumplicidade na revelação do humano através do ator.

Voltando-me então para a oficina, destaco um momento em que o grupo docente sentiu a necessidade de mexer um pouco na rotina e surpreender os alunos. Nossas aulas, no geral, continham: aquecimentos, jogos teatrais e não-teatrais, improvisações e conversas avaliativas. A aula que destaco aqui foi planejada e aconteceu rompendo parcialmente com um esquema que vínhamos adotando. No entanto, os resultados que ela gerou, acredito terem sido possíveis não apenas devido ao rompimento com uma estrutura anterior, mas justamente pela soma das propostas introduzidas neste dia a tudo o que já se havia construído com os alunos. A aula analisada incluiu experimentações sensíveis, em que procuramos realizar uma ampliação da experiência lúdica com os sentidos e colocar em primeiro plano os jogos de confiança.

Os alunos mostraram-se entusiasmados com a proposta e refletiram nos jogos e improvisações teatrais um salto de qualidade no que diz respeito não apenas ao envolvimento lúdico com a proposta, mas, também, na construção de conhecimentos específicos do teatro. Segundo Spolin (1963):

"O jogo é uma forma natural de grupo que propicia o envolvimento e a liberdade pessoal necessários para a experiência.[...] As habilidades são desenvolvidas no próprio momento em que a pessoa está jogando, divertindo-se ao máximo e recebendo toda estimulação que o jogo tem para oferecer - é este o exato momento em que ela está verdadeiramente aberta para recebê-las." (SPOLIN, V. 1963, p. 4)

No primeiro momento da aula, cada aluno foi conduzido para dentro da sala de olhos vendados, com apenas uma luz de canto iluminando um ambiente cheio de sons curiosos e música. Cada aluno era guiado por uma professora através de

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tecidos com texturas diversas, passavam por um pequeno túnel humano, tendo que atravessar de olhos vendados: um desafio de confiança.

Depois deste momento sensorial, realizamos jogos em dupla, ainda à meia luz, e por fim, uma improvisação com objetos: em dois grupos, os alunos tinham que criar funções diferentes para um mesmo objeto. O que me chamou a atenção e me fez voltar o foco para esse momento foi o fato de que um dos grupos transformou o exercício numa mostra da apropriação deles sobre as aulas: eles usaram um massageador de cabeça para fazer várias micro-cenas, uma após a outra, sem parar, como numa brincadeira de criança, em que a fogueira se transformava em bola, depois em coroa, depois em buquê, e todos do grupo reagiam às propostas num ritmo e disponibilidade impressionantes. Eles assumiram no exercício o que nós, grupo docente, chamamos de aceitação do jogo. Além disso, escolheram situações que já haviam realizado em sala de aula e "costuraram" umas às outras, criando novos sentidos. Ou seja, foi possível notar o início de uma dramaturgia de grupo, já que a cena foi resultado de escolhas estéticas dos alunos.

No final dessa aula, cada um do grupo de alunos e professoras, falou sobre uma experiência teatral significativa. E dentre vários depoimentos emocionados, um aluno disse que a experiência que ele escolhia era a daquela aula, porque ele tinha conseguido "viajar". Um viajar dito com um valor afetivo de experiência sobre a realidade, e não de fuga da realidade, visto que este aluno demonstrava nos exercícios envolvimento lúdico, criativo e construção de conhecimentos específicos dessa área artística.

Em outro momento, este aluno desenhou e falou sobre a experiência na oficina, corroborando essa experiência anterior com as seguintes palavras: “ Pro teatro, a coisa que eu acho mais importante é a concentração, a união, tem que estar em transe com as outras pessoas, pra poder interpretar o personagem, pra fazer... o que se tem que fazer... Eu fiz três pessoas de olhos fechados. Mesmo de olhos fechados elas tão com o pensamento ligado, tão em transe, tão sabendo o que o outro tá fazendo, que é uma coisa que no teatro é muito importante. Mesmo se tu não tá olhando a cena, tu tem que saber o que tá acontecendo.” Aqui ele usa um termo que poderia parecer místico, o “transe”, mas no contexto de sua fala, aliado à minha percepção docente sobre a prática desse aluno, constato que esta é a forma dele explicar o seu encontro: a experiência da cumplicidade, de estarem todos ligados, e ainda, o desenvolvimento do senso de grupo, já que ele confere

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importância à responsabilidade de cada um fazer a sua parte pra que o resultado do grupo apareça.

O que possibilita a existência desses encontros em sala de aula? Eu parto de duas hipóteses: a primeira é a necessidade do professor buscar um clima de cumplicidade, e, para isso, conhecer seus alunos e fazer o exercício de se colocar no lugar deles. A segunda é a de que o professor tenha domínio sobre os conhecimentos teatrais, para interagir com precisão durante a construção de conhecimentos do grupo.

O grupo docente fez uso dessas hipóteses na prática de diversas maneiras. Uma delas foi a de manter uma escuta atenta para o que os alunos nos traziam, sempre levando em conta em nossos planejamentos semanais tanto o que os alunos diziam, como o que não diziam, mas nos mostravam.

Além disso, houve um grande investimento nas conversas após os exercícios, em que as reflexões de cada um eram discutidas pelo grupo, resultando em conhecimento coletivo. E foi possível notar que, na medida em que os alunos tomavam consciência do que estavam aprendendo, faziam mais conexões criativas, como no caso da improvisação grupal acima citada.

Uma terceira abordagem utilizada foi a de propor que a oficina fosse um espaço onde se deve experimentar com alegria e confiança, sem medo de errar, e que era esperável que algumas tentativas de improvisação teatral não dessem certo, mas que sem isso não teríamos como averiguar, juntos, o que funciona na cena. O incentivo contribuiu para que os alunos se permitissem ousar e se apropriassem dos exercícios. Segundo Spolin (1968, p.7), “A expectativa de julgamento impede um relacionamento livre nos trabalhos de atuação. Além disso, o professor não pode julgar o bom ou o mau, pois não existe uma maneira absolutamente certa ou errada para solucionar um problema (...)”

Houve também, durante a oficina, encontros muito significativos entre o grupo docente, e também desencontros, momentos de dificuldades e impasses. E o mais interessante é que mesmo esses momentos contribuíram muito para essa reflexão, nos apontando novos rumos. No andamento da pesquisa irei incluir essas preciosas oportunidades de crescimento.

As análises realizadas evidenciam, desde já, a possibilidade de fomentar encontros teatrais na sala de aula capazes de promover uma experiência estética e humana, que mobilize, ressoe e encontre desdobramentos na vida de cada um dos

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envolvidos. Encontros estes que se revelaram na interação e no diálogo entre todo o grupo envolvido nesta pesquisa. Por tudo isso, levo para a minha experiência como professora a convicção de que o teatro, seja feito por amadores ou por profissionais, seja ligado ao ensino e à aprendizagem ou à pesquisa, é capaz de promover encontros transformadores, e de tornar as pessoas mais capazes de interagir, como diz Paulo Freire, com "alegria e esperança".

Bibliografia

GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira S.A. 1968

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996

Referências

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