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Acesso de Homens e Mulheres à Educação Formal e as Desigualdades de Gênero e Cor/Raça

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Gênero, Raça/Etnia e Escolarização ST 23. Cristiane Soares (IBGE)

Hildete Pereira de Melo (UFF)

Acesso de Homens e Mulheres à Educação Formal e as Desigualdades de Gênero e Cor/Raça

1. INTRODUÇÃO:

A importância da educação para o desenvolvimento econômico e social do mundo moderno têm sido apontada por vários especialistas que enfatizam o quanto a educação acelera o crescimento em termos de capital humano e tem impacto direto sobre a produtividade, assim como contribui para a redução das disparidades. Esse reconhecimento da educação no processo de redução das desigualdades e desenvolvimento do país também está contemplado no Relatório das Metas do Milênio das Nações Unidas, que tem como meta a eliminação das disparidades entre os sexos em todos os níveis de ensino até 2015.

No Brasil, os avanços nos indicadores educacionais nas últimas décadas foram reflexos da demanda de grupos sociais por políticas inclusivas. Os conferências internacionais também tiveram papel importante pressionando que determinados temas sociais fossem incluídos na agenda social brasileira.

A partir de 1970 o movimento de mulheres brasileiro assumiu a denúncia de que o poder é distribuído de forma diferente na sociedade, distinguindo a questão feminina sob o prisma de classes sociais, cor/raça, geracional e opção sexual. Esta perspectiva permitiu reconhecer que sob o olhar de “gênero” é possível analisar os diferentes impactos das políticas públicas no contexto sócio-cultural da sociedade. Neste mesmo período, o movimento negro denuncia que a democracia racial é um mito e que o desenvolvimento econômico não foi capaz de eliminar o preconceito e promover a inclusão da população negra (Jaccoud e Beghin, 2002).

Na década de 1990, as ações afirmativas entraram no debate político brasileiro com o reconhecimento de que a igualdade formal não garante a igualdade de oportunidades para todos os grupos sociais.

Neste sentido, esse estudo tem como objetivo traçar um retrato da educação brasileira entre 1993 e 2003, com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Foram mensurados indicadores educacionais básicos que evidenciam o acesso desigual à educação entre homens e mulheres, brancos e negros, assim como pobres e ricos. Este estudo não discute acerca das políticas afirmativas, mas chama a atenção que a ausência de políticas discricionárias ou focalizadas não foi capaz de reduzir as desigualdades de gênero e de raça.

2. OS INDICADORES EDUCACIONAIS: AVANÇOS COM DESIGUALDADE 2.1. UM NOVO PERFIL PARA O ANALFABETISMO BRASILEIRO

A educação é um dos atributos mais importantes para avaliar a desigualdade existente na sociedade, seja ela de gênero, racial, econômica ou regional. Além disso, a educação é considerada como um dos mecanismos, senão o principal, de superação das desigualdades. A melhora observada nos indicadores educacionais nos últimos anos, por sua vez, não é resultado de uma estratégia declarada de desenvolvimento social com investimentos maciços na área educacional, mas decorrente da pressão dos movimentos feminino e negro. O estudo do INEP (2005) destaca que foi o movimento feminista que alertou para a opressão e para a

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desigualdade social sofrida pelas mulheres, possibilitando a elas maior atuação no espaço público, político e social pela igualdade de direitos, de educação e de profissionalização.

As mudanças no quadro educacional brasileiro são diagnosticadas pelos dados estatísticos, que revelam esses avanços ainda como um fenômeno recente. De acordo com os dados censitários, o analfabetismo foi um dos grandes entraves para o desenvolvimento social brasileiro, chegando a atingir mais da metade da população de 15 anos ou mais de idade em 1940, principalmente entre as mulheres. O analfabetismo reduziu progressivamente mas até 1991 as mulheres ainda representavam o maior contingente de analfabetos (8,3 milhões de homens analfabetos contra 9,3 milhões de mulheres). Foi na década de 1990 que se observou uma reversão nos indicadores educacionais favoráveis às mulheres, embora as disparidades regionais e raciais na educação ainda tenham um caráter estruturante (as mulheres negras apresentam uma taxa de analfabetismo de cerca o dobro das mulheres de cor branca).

Segundo Melo e Soares (2005) o analfabetismo é um dos principais indicadores para mensurar a exclusão social. Os dados revelam que os analfabetos estão mais fortemente representados na população preta e parda do que na população branca sejam homens ou mulheres. Além da redução do analfabetismo se observou uma mudança no perfil da população brasileira analfabeta. Em 1992, a taxa de analfabetismo era de 17,2% e atingia principalmente a população feminina e preta. As mulheres pretas apresentavam a maior taxa de analfabetismo (30,8%), que se acentuava ainda mais no Nordeste (46,4%). Em 2002, a taxa de analfabetismo reduziu para 11,8% da população e passou a ser uma característica da população masculina e da cor parda. Melo e Soares destacam ainda que foi a população feminina de cor preta que mais avançou em relação à redução do analfabetismo.

De acordo com a tabela 1, podemos observar as mudanças ocorridas no período de 1993 e 2003 em relação ao analfabetismo de acordo com algumas características pessoais. Foi a população de cor preta e parda que teve a maior redução na taxa de analfabetismo nesses 10 anos, uma redução de 32,1%. Além disso, reduziu significativamente a distância que havia entre brancos e negros em relação ao analfabetismo que, em 1993, era mais que o dobro comparado à população de cor branca.

Tabela 1 1993 2003 Total 16,4 11,5 Sexo Homens 16,1 11,7 Mulheres 16,8 11,4 Cor Brancos 10,1 7,1 Pretos e pardos 24,8 16,8

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 29,4 20,1

Mais de 2 SM 5,5 2,5

Região

Nordeste 31,8 23,2

Sudeste 9,9 6,8

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003. Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade segundo alguns atributos - 1993

e 2003

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com outros países (IBGE, 2005). Outra característica revela ainda o caráter estrutural da exclusão social brasileira que não tem sido capaz de romper com a polarização entre as regiões Nordeste e Sudeste do país. Apesar dos avanços observados, o analfabetismo na região Nordeste representa o triplo do analfabetismo na região Sudeste.

2.2 O ACESSO À EDUCAÇÃO INFANTIL, FUNDAMENTAL E MÉDIA

Embora a educação infantil não seja uma das prioridades da política educacional brasileira, são inúmeros os trabalhos que apontam para a importância do acesso a essa educação no desenvolvimento das crianças e preparação para o ensino formal. O Unicef, no relatório da Situação da infância e adolescência brasileira (2004) destaca a importância das crianças terem um bom começo de vida isufruindo da convivência familiar e do cuidado dos pais, e que os programas de desenvolvimento infantil em creches e pré-escolas têm papel fundamental no desenvolvimento cognitivo, socioemocional e de linguagem das crianças, principalmente entre as crianças pobres.

No Brasil, o acesso à educação infantil é uma questão basicamente econômica. Não há diferenciações por sexo, cor ou até mesmo geográfica. Em 10 anos houve um avanço significativo no acesso à educação infantil. No Brasil, em 2003, cerca de 40% das crianças de 0 a 6 anos freqüentavam creches ou pré-escolas. Mas o acesso era bem mais restrito para a população pobre. Isso se deve basicamente há uma baixa oferta desse serviço às classes mais baixas da população. Na população com rendimento familiar per capita de mais de 2 salários mínimos mais da metade das crianças nessa faixa etária têm acesso à educação infantil.

Tabela 2 1993 2003 Total 17,4 37,7 Sexo Homens 16,9 37,0 Mulheres 17,8 38,3 Cor Brancos 17,6 38,2 Pretos e pardos 17,1 37,0

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 14,2 32,2

Mais de 2 SM 16,4 54,1

Região

Nordeste 18,8 39,0

Sudeste 17,6 39,9

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

Taxa de freqüência à creche/pré-escola das crianças de 0 a 6 anos de idade segundo alguns atributos - 1993 e

2003

Com relação ao ensino fundamental, nos últimos anos, as políticas de universalização do ensino fundamental fizeram com que a freqüência escolar das crianças e adolescentes de 7 a 14 anos de idade atingisse o nível de quase 100%. No entanto, os níveis de ensino, principalmente fundamental e médio, que são as bases da educação formal, ainda preocupam os gestores públicos e educadores. O foco da política pública deixou de ser a busca para

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colocar a criança e o adolescente na escola, mas mantê-los com um ensino de qualidade que irá prepará-los e dar bases sólidas para a sua formação e inserção no mercado de trabalho. Os indicadores de freqüência escolar escondem questões fortemente relacionadas à questão de gênero: um aspecto é o atraso escolar entre os meninos, que será visualizado mais adiante quando falarmos do indicador de distorção idade-série; e o outro se caracteriza pelo abandono escolar que ocorre mais fortemente entre os meninos à medida que avança a idade. Isto é reflexo de uma sociedade onde a responsabilidade do sustento da família recai sobre os homens, enquanto que o cuidado da casa e da família é uma atribuição feminina. Com efeito, as meninas continuam seus estudos porque conseguem conciliar com as tarefas domésticas, mas os meninos, ao saírem para o mercado de trabalho, abandonam os estudos ou aqueles que tentam manter-se na escola encontram grandes dificuldades que interferem no seu rendimento escolar.

Tabela 3

Bruta Líquida Bruta Líquida

Total 88,6 82,9 97,2 93,8 Sexo Homens 87,7 81,8 96,9 93,4 Mulheres 89,5 84,1 97,5 94,2 Cor Brancos 92,1 88,5 98,1 95,0 Pretos e pardos 85,0 77,5 96,4 92,7

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 82,7 74,7 95,9 92,3 Mais de 2 SM 95,5 91,5 99,2 95,6

Região

Nordeste 83,4 67,4 96,0 91,6 Sudeste 92,2 83,2 98,1 95,2

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

1993 2003

Taxa de freqüência à escola da população de 7 a 14 anos de idade segundo alguns atributos - 1993 e 2003

Apesar dos indicadores no ensino fundamental apresentarem nível elevados de acesso e adequação da idade ao nível de ensino analisado, é importante destacar as desigualdades quanto à cor, renda e região geográfica que ainda estão presentes na sociedade brasileira.

No ensino médio, os problemas do sistema educacional brasileiro e de uma sociedade fortemente marcada por desigualdades sociais, tornam-se ainda mais visíveis. Apesar de 82% dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade freqüentarem à escola, cerca da metade está no nível de ensino correspondente à idade, é o que revela a taxa líquida. As meninas nessa faixa de idade apresentam uma taxa líquida superior a dos meninos em cerca de 10 pontos percentuais (48,2%). A entrada precoce dos meninos no mercado de trabalho, seja por questões econômicas ou questões socioculturais pré-estabelecidas, tem efeito perverso na sua escolaridade.

O indicador de freqüência escolar líquida mostra o quanto à desigualdade por cor, renda e regional permanecem enraizados na sociedade brasileira que, as vezes, quando se mede apenas o acesso, pode distorcer algumas análises. Os avanços sociais e econômicos em outras áreas não tem sido suficientes para romper esse quadro de desigualdade. Apenas um terço dos adolescentes de 15 a 17 anos de idade negros estão no ensino médio e esse percentual se reduz ainda mais entre os pobres (23,7%) e na população do Nordeste do país (25,5%).

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2.3 O ATRASO ESCOLAR – UM PROBLEMA PARA MENINOS, NEGROS E POBRES

A taxa de distorção idade-série é um indicador que ajuda entender as transformações no perfil educacional brasileiro nos últimos 10 anos. As mulheres tendem a apresentarem uma taxa de defasagem escolar menor do que a dos homens, o que se reflete na média de anos de estudo. As mulheres possuem em média cerca de 1 ano a mais de estudo que os homens.

A proporção de estudantes com idade superior à idade recomendada para aquele nível de ensino em pelo menos dois anos aumenta com a idade. Como um indicador de estoque uma vez defasado, aquele estudante soma-se a outros que farão parte dessa estatística. Sendo assim, é importante atuar nas causas da repetência buscando evitá-la com um bom desempenho escolar.

Tabela 4

Bruta Líquida Bruta Líquida

Total 61,9 18,9 82,4 43,1 Sexo Homens 59,0 15,3 82,7 38,1 Mulheres 64,9 22,5 82,4 48,2 Cor Brancos 66,3 27,5 85,6 54,9 Pretos e pardos 57,5 10,2 79,2 31,9

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 51,6 6,6 75,9 23,7 Mais de 2 SM 78,2 41,8 94,7 73,4

Região

Nordeste 59,1 10,2 80,0 25,5

Sudeste 65,5 24,9 84,6 55,5

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

1993 2003

Taxa de freqüência à escola da população de 15 a 17 anos de idade segundo alguns atributos - 1993 e 2003

Segundo Melo e Soares (2005) é entre os meninos de cor preta que o problema da defasagem é mais acentuado. Em 1993, 37,7% das crianças no primeiro ano do ensino fundamental estavam defasadas, em 2003 essa proporção se reduziu para 17,6%. No início da década, a proporção de estudantes de cor preta e parda defasados nesta série era de 48%, mais que o dobro da taxa observada para os estudantes brancos. Dez anos depois houve uma melhora significativa reduzindo a defasagem à metade; contudo, a magnitude da desigualdade entre brancos e negros defasados permaneceu a mesma: o dobro para os últimos. O problema da defasagem escolar tem sua maior representatividade na análise regional. A proporção de estudantes defasados no terceiro ano do ensino médio chega a 62,6%, percentual próximo ao observado dez anos antes (67,8%).

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Taxa de distorção idade-série dos estudantes de 9 anos ou mais de idade segundo alguns atributos - 1993

S1_G1S2_G1S3_G1S4_G1S5_G1S6_G1S7_G1S8_G1S1_G2S2_G2S3_G2

Total37,745,046,448,552,349,048,250,353,153,155,0

Sexo

Homens40,349,950,149,955,352,151,652,453,755,156,8

Mulheres34,739,742,647,149,446,245,448,552,651,653,8

Cor

Brancos23,429,932,635,841,339,439,641,845,546,948,9

Pretos e pardos48,158,159,762,365,362,661,764,766,265,566,8

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM48,358,660,262,164,962,662,462,463,864,768,5

Mais de 2 SM24,123,725,628,133,230,229,834,839,442,744,5

Região

Nordeste56,766,966,068,167,565,063,662,564,462,967,8

Sudeste22,032,437,639,747,643,443,446,949,049,850,9

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Melo e Soares (2005) ao cruzarem os dados por sexo e cor constataram que a taxa de defasagem escolar é significativamente maior entre as negras comparativamente as brancas. No início do ciclo fundamental e no ensino médio as diferenças por cor da taxa de defasagem são expressivas seja para meninas ou meninos, o que revela que as crianças e adolescentes de cor branca têm um maior acesso à escola e melhor desempenho escolar do que à população negra.

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Taxa de distorção idade-série dos estudantes de 9 anos ou mais de idade segundo alguns atributos - 2003

S1_G1S2_G1S3_G1S4_G1S5_G1S6_G1S7_G1S8_G1S1_G2S2_G2S3_G2

Total17,622,427,131,436,436,535,039,642,743,844,0

Sexo

Homens20,426,131,135,141,540,739,242,045,246,545,7

Mulheres14,518,222,627,430,832,431,137,440,441,542,6

Cor

Brancos11,613,916,319,625,426,224,629,732,534,235,3

Pretos e pardos22,228,935,440,345,645,645,249,553,755,155,6

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM21,629,636,142,747,248,947,952,755,956,859,3

Mais de 2 SM9,29,211,010,915,913,014,821,124,425,730,8

Região

Nordeste26,535,943,949,553,555,752,959,261,860,662,6

Sudeste11,111,715,017,923,923,124,928,031,636,035,0

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2.4. O ACESSO AO ENSINO SUPERIOR

No Brasil, o acesso ao ensino superior apresenta gargalos consideráveis. Em 2003, apenas 34% dos jovens de 18 a 24 anos frequentavam um estabelecimento de ensino, mas somente 10,6% estavam na faculdade. Segundo IBGE (2006) destes que freqüentam o ensino superior a maioria vem de famílias que pertencem ao topo da distribuição de renda, e estão principalmente na rede pública de ensino, o que parece uma incongruência. O acesso ao ensino superior nas classes mais baixas de renda (2º e 3º quinto) aumenta um pouco na rede particular.

A proporção de mulheres jovens no ensino superior é maior que a dos homens (12%), por outro lado, entre os negros a proporção é extremamente baixa (4,4%). Proporção que se reduz ainda mais quando se compara o peso relativo da população com 12 anos ou mais de estudo na população total (3,0%). Com esse indicador, tem-se uma visão clara do quanto a escolaridade da população brasileria avançou em 10 anos, mas marcada por componentes discriminatórios. Pretos e pobres estão basicamente excluídos do ensino superior.

Por outro lado, um aspecto merece atenção quanto à desigualdade de gênero. As mulheres estão sobre-representadas na população que freqüenta o nível superior e que tem 12 anos ou mais de estudo (pelo menos o superior incompleto), no entanto, ocorre uma divisão entre homens e mulheres no ensino superior de acordo com a área de formação. Segundo o relatório nacional sobre as metas do milênio (2005) uma outra face da desigualdade de gênero é revelada na distribuição dos cursos universitários por sexo que remonta à divisão sexual, não somente do trabalho, mas também do conhecimento. As mulheres tendem a estender à sua formação profissional a sua formação familiar, concentrando-se em áreas que remetem ao exercício dos cuidados e da atenção. Esta diferença nas áreas de atuação explica, em parte, porque, mesmo sendo maioria nos cursos universitários e participando cada vez mais do mercado de trabalho, elas não alcançam os mesmos patamares salariais e hierárquicos que os homens dentro das instituições e continuam recebendo menos.

O estudo do INEP (2005) destaca que essa divisão sexual do connhecimento faz parte de um processo histórico, pois havia uma concepção sobre as qualidades femininas que induzia as mulheres terem uma visão da educação como treinamento da mulher exclusivamente para o mundo privado, isto é, preparar a mulher para atuar no espaço doméstico e incumbir-se do cuidado com o marido e os filhos, não se cogitando que pudesse desempenhar uma profissão assalariada.

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Bruta Líquida Bruta Líquida Total 24,9 4,8 34,0 10,6 Sexo Homens 23,2 4,1 33,8 9,2 Mulheres 26,6 5,5 34,2 12,0 Cor Brancos 27,0 7,7 36,3 16,6 Pretos e pardos 22,3 1,5 31,5 4,4

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 16,6 0,4 28,0 1,1 Mais de 2 SM 39,4 16,5 52,1 35,0

Região

Nordeste 24,5 2,5 37,1 5,7

Sudeste 25,7 6,3 31,7 12,8

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

1993 2003

Taxa de freqüência à escola da população de 18 a 24 anos de idade segundo alguns atributos - 1993 e 2003

Na tabela 9 os dados do INEP comprovam essa concentração de mulheres em áreas voltados para o social, educação e cuidado das pessoas, diferentemente dos homens que estão em áreas que exigem o raciocínio lógico-quantitativo e têm elevado prestígio social.

Por fim, a análise dos indicadores acima se reflete num indicador mais geral que é a média de anos de estudo. Em 1993, a média de anos de estudo entre homens e mulheres era praticamente a mesma, mas a média de anos de estudo da população branca era superior em mais de 2 anos a média da população negra. Do ponto de vista regional o Sudeste apresentava a maior média e o Nordeste a menor.

Tabela 8 1993 2003 Total 1,6 7,3 Sexo Homens 4,5 6,5 Mulheres 4,8 7,9 Cor Brancos 7,1 11,0 Pretos e pardos 1,6 3,0

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 0,3 0,4

Mais de 2 SM 17,7 27,2

Região

Nordeste 2,5 3,6

Sudeste 6,3 9,4

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

Proporção da população com 12 anos ou mais de estudo segundo alguns atributos - 1993 e 2003

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Homens Mulheres Homens Mulheres Educação 23,6% 76,4% 18,3% 81,7% Humanidades e artes 36,6% 63,4% 31,0% 69,0% Ciências sociais 32,4% 67,6% 27,4% 72,6% N egócios 52,9% 47,1% 51,5% 48,5% Direito 51,1% 48,9% 48,4% 51,6% Ciências, matemática e computação 64,0% 36,0% 57,4% 42,6% Engenharia, produção e construção 73,0% 27,0% 69,2% 30,8% Agricultura e veterinária 59,7% 40,3% 57,9% 42,1%

Saúde e bem estar social 29,6% 70,4% 27,7% 72,3%

Serviços 32,6% 67,4% 29,4% 70,6%

Fonte: INEP/ MEC. In: IPEA, 2005b.

Concluintes

Proporção de estudantes matriculados e de concluintes no ensino superior por sexo segundo a área de conhecimento – Brasil – 2002

Matrículas Área de conhecimento

As políticas educacionais na área da educação elevaram a média de anos de estudo da população de 10 anos ou mais de idade de 5,0 para 6,4 anos em 2003. Apesar da redução da taxa de analfabetismo e aumento na freqüência escolar, é importante destacar que não houve políticas explícitas de redução das desigualdades educacionais entre brancos e negros. Os negros não conseguem alcançar mais do que 70% da média de anos de estudo dos brancos ressalta Soares et al. (2002), o que permite inferir que o abandono escolar tende a ser maior para os negros. Quando não há abandono, o elevado atraso escolar observado para os negros, é um aspecto que interfere na média de anos de estudo. Isso, em muitos casos, é reflexo de uma inserção mais precoce no mercado de trabalho. A taxa de atividades entre os negros (principalmente entre os pretos) tende a ser maior do que a dos brancos. Além disso, Soares et al (2002) aponta que hipótese forte para esse fenômeno é considerar que os diferenciais raciais são uma reprodução das desigualdades históricas, onde os alunos negros seriam oriundos de famílias com pais com níveis de instrução menores que os pais dos alunos brancos, o que condicionaria seu desempenho na escola.

Tabela 10 1993 2003 Total 5,0 6,4 Sexo Homens 4,9 6,3 Mulheres 5,1 6,6 Cor Brancos 5,9 7,3 Pretos e pardos 3,8 5,4

Rendimento familiar per capita

Até 1/2 SM 3,0 4,4

Mais de 2 SM 7,9 9,6

Região

Nordeste 3,6 5,1

Sudeste 5,6 7,1

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 1993 e 2003.

Média de anos de estudo da população de 10 anos ou mais de idade segundo alguns atributos - 1993 e 2003

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Em suma, este estudo não discute acerca das políticas afirmativas, mas chama a atenção que a ausência de políticas discricionárias ou focalizadas não foi capaz de reduzir as desigualdades de gênero e de raça. A melhora observada em alguns indicadores não significa afirmar que a sociedade está avançando em termos de superação das desigualdades. Pelo contrário, elas existem e permanecem enraizadas, mostrando que políticas universalistas não necessariamente levam ao desenvolvimento social, porque não rompem com um quadro de acesso desigual às oportunidades.

Os dados educacionais apresentados mostram um grande avanço na busca de oportunidades e refletem uma melhora significativa na trajetória educacional das mulheres e negros, porém, para estes últimos o quadro desigual permaneceu.

Em termos de políticas públicas não se observa um viés de superação das desigualdades de gênero e cor ou de caráter distributivo. Os avanços e retrocessos desses indicadores básicos educacionais não são inovadores quanto à apresentação de uma realidade social desigual anunciada, eles têm papel fundamental de revelar a ausência de igualdade de oportunidades entre dois grupos na sociedade: brancos e negros e servir de subsídio no processo de formulação, implementação e monitoramento das políticas públicas de enfrentamento das desigualdades de gênero e raça.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

IBGE, Síntese de Indicadores Sociais 2005. Rio de Janeiro 2006.

INEP, Trajetória da mulher na educação brasileira: 1996-2003. Tatau Godinho et al (orgs.). Brasília, março de 2005.

IPEA, Os mecanismos de discriminação racial nas escolas brasileiras. Sergei Soares, Kaizô Iwakami Beltrão, Maria Ligia de Oliveira Barbosa e Maria Eugénia Ferrão (orgs.). Rio de Janeiro, 2005a.

IPEA. Objetivos de Desenvolvimento do Milênio: relatório nacional de acompanhamento. Brasília, 2005b.

JACCOUD, Luciana de Barros e BEGHIN, Nathalie. Desigualdades raciais no Brasil: um balanço da intervenção governamental. Brasília: Ipea, 2002.

MELO, H. P. de e SOARES, C. Perfil das mulheres negras brasileiras 1992/2002. Mimeo. Pesquisa realizada para CRIOLA. Rio de Janeiro, 2005.

SOARES, Sergei et alii. Diagnóstico da situação atual do negro na sociedade brasileira. Mimeo. (texto preparado para a Fundação Cultural Palmares, deverá ser publicado no livro Reescrevendo a história do negro no Brasil), 2002.

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