do certo mesmo que a impetrante está em péssima situação financeira, não de agora, mas já de algum tempo a esta parte, anteriormente, portanto, ao ato ora impugnado. Prova dessa assertiva se encontra nos documentos de fls., pe-los quais se verifica que nem sequer a impetrante tem satisfeito os impostos de 1952, para cá, achando-se submetida a processo de concordata preventiva com os seus credores.
Acresce ainda, que os serviços públi-cos, executados por permissionários, em regra, não gozam do privilégio da ex-clusividade, pois o poder público des-fruta da liberdade de estabelecer a sua concorrência entre os particulares que por êles se interessem, dentro dos regu-lamentos administrativos.
Pelo expendido, estando a impetrante a funcionar na linha da Vila Gisela, na exploração do serviço de transporte co-letivo, a despeito do impetrado poder cassar essa sua autorização a qualquer momento, à vista da sua má execução do serviço, dado o caráter precário da autorização, verifica-se que ela não so-freu nenhuma ilegalidade e nem qual-quer injustiça com o simples ato de se permitir a outra emprêsa de ônibus a exploração simultânea dessa mesma li-nha da Vila Gisela.
8 - Nessa conformidade, julgO' im-procedente o pedido e condeno a impe-trante nas custas. P. R. e I. - São Paulo, 24 de fevereiro de 1954. - José Carlos Ferreira de Oliveira.
ORGAt.:JZACÃO JUDICIÁRIA -
ALTERAÇÃO QüINQüENAL
-CRIAÇi.O DE CARTóRIOS
-
A divisão e c1'iação de cartórios ou ofícios de justiça
importa em alteração da organização judiciária e fica sujeita
dregra constitucional.
Interp}'etação do art. 124,
'il.oI,
da Constituição.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Felício Antônio Siqueira versus José Spínola Castro Recurso extraordinário n.o 20.557 - Relator: Sr. Ministro
Luís GALLOTTI
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos êstes au-tos de recurso extraordinário n.o 20.557, de São Paulo, em que são recorrentes Felício Antônio Siqueira e a Fazenda do Estado e recorrido José Spínola Cas-tro,
decid~
o Supremo Tribunal Federal, em 1.8 Turma, conhecer do recurso,unâ-nimemente, e, por maioria de votos, ne-gar-lhe provimento, de acôrdo com as notas.
D. F., 21-8-1952. - Barros Barreto,
Presidente. - Luís Gallotti, Relator. RELATÓRIO
O Sr. Ministro Luís Gallotti - José Espínola Castro, oficial do registro de
imóveis da comarca de S. José do Rio Prêto, impetrou, em 23 de novembro de 1950, ao Tribunal de São Paulo, man-dado de segurança contra o ato do Go-vernador do Estado, que promulgou e executou a Lei n.o 747, de 28-7-1950, que modificou as circunscrições do Re-gistro de Imóveis, e Anexos da referida Comarca, alterando as divisas, sem que fôsse sequer ouvido o Tribunal de Jus-tiça.
Diz que foi ofendida a Constituição federal, que declara inalteráveis a divi-são e organização judiciária, dentro de cinco anos da data da lei que as esta-belecer, salvo proposta motivada do Tri-bunal de Justiça. E a Constituição do Estado. obedecendo ao preceito federal,
foi mais positiva, dispondo no art. 151 que o quadro territorial, administrativo e judiciário do Estado será fixado em lei qüinqüenal, baixada nos anos de milésimo 3 e 8, para vigorar a partir de 1.0 de janeiro do ano seguinte.
O Tribunal de São Paulo, por maio-ria de votos, admitiu a assistência do serveqtuário da 2." Circunscrição do Registro de Imóveis de S. José do Rio Prêto, Felício Antônio Siqueira, dado o meu evidente interêsse na defesa do ato impugnado. Por unanimidade, conheceu do pedido, porque, mandando o Gover-nador executar a lei tachada de incons-titucional, constitui seu ato, pelo me-nos, uma ameaça contra o impetrante. E, no mérito, por maioria de votos, con-cedeu a segurança por não ter havido proposta motivada do Tribunal, nos têr-mos do art. 124, n.o I, da Constituição federal, com ofensa, também, ao art. 151 da Constituição estadual.
Considerou o acórdão, apoiado na li-ção de João Mendes Júnior, que a ati-vidade jurisdicional exige, além dos ór-gãos principais (juízes), órór-gãos auxilia-res; a organização judiciária consiste na nomenclatura, enumeração, disposi-ção, competência material e territorial, tanto dos juízes, como dos auxiliares do juízo.
Houve votos vencidos, um dos quais fundamentado no sentido de não julgar inc()nstitucional a lei impugnada, pque não foi alterada a divisão e a or-ganização judiciária do Estado, nem o quadro territorial, administrativo e ju-diciário do Estado (art. 124, I, da Cons-tituição federal, e art. 151 da Consti-tuição estadual). A divisão e a organi-zação judiciária do Estado não foi afe-tada porque a comarca de Rio Prêto continua íntegra, com base na divisão judiciária do Estado em comarcas. O quadro territorial, administrativo e ju-diciário do Estado também é o mesmo, sem alteração na parte relativa à Co-marca de Rio Prêto, seus municípios e distritos. A lei impugnada limitou-se a estabelecer as divisas das circunscri-QÕes do Registro de Imóveis da Comarca,
sem alterar a divisão judiciária do Es-tado.
Acrescentou o voto vencido que cir-cunscrição imobiliária não é base de di-visão administrativa ou judiciária, e o art. 151 da Carta estadual diz respeito tão só ao quadro territorial relativo às comarcas, municípios e distritos do Es-tado.
O Estado e o seu assistente oferece-ram embargos que, por maioria de vo-tos, foram rejeitados (fls. 91).
O assistente interpôs recurso extraor-dinário, sob invocação das alíneas a e d
(fls. 93).
Cita acórdão do Tribuna1 do Paraná. que decidiu não constituir modificação da organização judiciária a simples sub-divisão de um cartório, a qual, assim, independe de proposta do Tribunal de Justiça.
No mesmo sentido, aponta um aresto do Tribunal do Estado do Rio e outro do Supremo' Tribunal.
Alega ainda, ex-abundantia, que a lei qüinqüenal vigente no Estado de São Paulo, em matéria de organização judi-ciária, é a de n.o 233, de 24-12-1948. Essa lei, no art. 1.0, dispõe:
"O quadro territorial, administrativo e judiciário do Estado é o estabelecido nesta lei e no Decreto-1ei n.o 14.334, de 30-11-1944, na parte relativa à divisão judiciária" .
E, no art. 16:
"Continua em vigor a legislação esta-dual reguladora das modificações do quadro territorial, desde que não colida nem direta nem indiretamente com as normas da presente lei".
Logo, conclui o recorrente, a divisão e organização judiciárias vigentes no pre-sente período qüinqüenal (até 1953) é a estabelecida na Lei n.o 14.334 e na Lei n.o 14.721, de 14 de maio de 1945 -esta complementar daquela - ambas reguladoras das modificações anteriores do quadro territorial, e as quais não colidem nem direta nem indiretamente com a referida lei vigente, de número 233. Ora, a lei impugnada foi promul-gada em obediência ao art. 30 da Lei n.o 14.721 e, portanto, como o próprio
estatuto vigente a declara restaurada por mais cinco anos, foi promulgada em razão da lei qüinqüenal ora em vigor e, assim, em inteira consonância com a exigência constitucional da imutabilida-de temporária.
A Fazenda estadual também interpôs recurso extraordinário, invocando a alí-nea a, do art. 101, lU, da Constituição
(fls. 118).
O 1.0 recorrente ofereceu razões, que a Fazenda adotou (fls. 122).
E o recorrido contra-arrazoou (fôlhas 124) .
O Dl'. Procurador Geral da República opinou (fls. 136) :
"Dois recursos extraordinários foram manifestados nestes autos: o de fôlhas 93-96v., com fundamento nas letras a e d do art. 101, n.o 111, da Constituição federal, e o de fls. 118-120, com fun-damento apenas na letra a do mesmo preceito constitucional.
E ambos merecem provimento, pois a subdivisão de ofício de justiça não im-porta em alteração da organização judi-ciária, como já decidiu êste egrégio Tri-bunal, em desacôrdo com o venerando acórdão recorrido.
Distrito Federal, 30 de junho de 1952. - Plínio de F-reitas Travassos, Procura-dor Geral da República".
E' o relatório. VOTO
o
Sr. Jfinistro Luís Gallotti (Rela-tor) - Conheço dos recursos, com apoio na invocada letra d, porque os recorren-tes citaram acórdãos divergenrecorren-tes, entre os quais um desta 1.3 Turma, de 22-8-1940, que, por maioria de votos, decidiu não importaria em alteração da divisão e organização judiciária a subdivisão de um ofício de justiça (recurso extra-ordinário n.D 3.337, Arquivo J1ldiciário, voI. 57, pág. 293).E deixo de propor a remessa dos au-tos ao Tribunal Pleno, porque êste, em pronunciamento posterior, adotou tese oposta a do citado aresto da primeira turma, ou seja, pela decretação da in-constitucionalidade, conforme sentenciou nest~s autos a decisão recorrida.
Isso ocorreu no mandado de seguran-ça n.O 913, do Paraná, onde se aumentou
de dois para quatro o número dos ofí-cios do registro de imóveis da Comarca ele Curitiba.
O Relator, :\iinistro Edgar Costa, con-cedeu a segurança, porque isso impor-tava em alterar a divisão e organização judiciária, sem que tivesse decorrido o qüinqüênio prescrito na Constituição.
Os demais Ministros acompanharam o voto do Relator, tendo o Ministro Hahnemann Guimarães justificado o seu voto, nestes têrmos:
"Assim, não era lícito ao Govêrno do Estado, sem que precedesse proposta mo-tivada do Tribunal de Justiça, alterar em qualquer de seus elementos a orga-nização judiciária do Estado, que havia sido fixada, como demonstrou o Sr. Mi-nistro Relator, há menos de cinco anos. Não se pode admitir que a alteração das circunscrições imobiliárias integram essa organização, fazem parte dela. Os ser-ventuários da Justiça pertencem a orga-nização judiciária estadual, como ele-mentos auxiliares dela".
Assim, conhecendo dos recursos, ne-go-lhes provimento, de conformidade com a jurisprudência firmada pelo Tribunal Pleno.
No mesmo sentido se pronunciou unâ-nimemente a 2.3 Turma, em acórdão de
7-11-1950, de que foi Relator o Minis-tro Orosimbo Nonato (recurso extraor-dinário n.O 15.558, apenso ao Diário da
Justiça de 7-8-1952, pág. 3.660). O mais que alega o 1.0 recorrente em sua petição, além de não convencer, diz respeito à exegese de leis estaduais, ma-téria que não cabe no âmbito do recurso extraordinário.
Nego provime'1to. VOTO
o
Sr. Minisf'ro Nelson Hungr'ia -Sr. Presidente, data venia do eminente Sr. Ministro Relator, conheço de ambosOs recursos, e dou provimento ao pri-meiro. Não entendo que o desmembra-mento ou subdivisão de cartórios incida na proibição do art. 124, I, da Consti-tuição. O que esta pretende
resguar-dar é a estabilidade qüinqüenal da or-ganização judiciária, e não se pode di-zer propriamente, que os serventuários cartorários integrem o Poder Judiciário, de modo a se beneficiarem com a inal-terabilidade temporária da divisão e or-ganização judiciária no sentido do pre-ceito constitucional. Jamais se duvidou disso e só ultimamente é que se vem sus-citando questão a respeito.
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Rela-tor) - E' que não existia o dispositivo trazido pela Constituição de 1946, no sentido de serem inalteráveis a divisão e a organização judiciária dentro de cinco anos da data da lei que as esta-belecer, salvo proposta motivada do Tri-bunal de Justiça (art. 124, I). A pro-posta do Tribunal de Justiça poderá se dar a qualquer momento. ~le tem conhe-cimento das necessidades do Estado e poderá propor a modificação a qualquer momento e, então, tudo estará perfeito. Se não o fizer, porém, prevalecerá a re-gra da inalterabilidade por cinco anos.
O Sr. Miniatro Nelson Hungria -O número de comarcas e o sistema geral da organização judiciária é que são inal-teráveis, salvo proposta motivada dos Tribunais Superiores. O serventuário de justiça é um funcionário como outro qualquer, e nada impede que, a qual-quer tempo, desde que o exija o inte-rêsse público, sejam desmembrados os sens cartórios. Divergindo, com pesar, do Sr. Ministro Relator, dou provimento ao primeiro recurso.
VOTO
O Sr. Ministro M/ÍJrio Guimarães -Sr. Presidente. O meu voto é de inteiro acôrdo com o do Sr. Ministro Relator. A proibição constitucional é ampla e a matéria de divisão dos Cartórios, pela sua importância, está nela compreendida. Ainda ontem, o nosso eminente co-lega, Ministro Nelson Hungria, a obje-tivava em um recurso a que deu provi-mento.
Antes de a Constituição haver subor-dinado a organização judiciária à
fisca-lização dos Tribunais de Justiça, a liber-dade dos Governos em dividir os cartó-rios era terrível. Seria para ferir ad-versários e premiar os amigos. Se era um cartório ocupado por inimigo político, dividia-se. Se o novo ocupante não fôsse amigo, dividia-se de novo.
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Rela-tor) - Muitas vêzes isso se dava one-rando as partes, que ficavam obrigadas a pedir certidões em vários cartórios.
O Sr. Ministro Mário Guimarães -No registro, era fonte de tremenda com-plicação. A Constituição de 46, por isso, foi sábia tornando intangível, dentro de cinco anos, a organização judiciária, sem distinguir êste ou aquêle ramo. Em na-da se pode tocar.
O Sr. Ministro Nelson Hungria -Os ofícios de justiça são cargos públi-cos como outros quaisquer. Por que só em relação a êles há de haver esta exi-gência?
O Sr. Ministro Luís Gallotti (Rela-tor) - A diferença está em que a Lei de Organização Judiciária se referiu ex-pressamente a êsses casos, e a Lei de Organização Judiciária está prevista na Constituição.
O Sr. Ministro Nelson Hungria Outros serviços são desdobrados para atender ao interêsse público. Data venia do Sr. Ministro Luís Gallottti, pare-ce-me que S. Excia. atende ao inte-rêsse particular do serventuário e não ao interêsse público. O interêsse coletivo pode exigir a subdivisão do cartório. Por que o Governador há de estar impe-dido de fazer o desmembramento quan-rio isso não modifica a comarca, que continua a mesma, com o mesmo juiz, apenas com um número acrescido de ser_ ventuários?
O Sr. Ministro Mário Guimarães -Se houver necessidade, caberá ao Tri-bunal de Justiça representar a respeito. A objeção está prevista na lei.
Nestas condições, acompanho o voto do Sr. Ministro Relator, data venia do Sr. Ministro Nelson Hungria.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte: Unânimemente, foram
conhe-cidos os recursos, negando-se-lhes pro-vimento, contra o voto do Sr. Ministro Nelson Hungria.
ORGANIZACÃO JUDICIÁRIA -
DESDOBRAMENTO DE
CAR-TÓRIOS'
-
Não existe direito adquirido contra o desdobramento
de cartórios ou ofícios de justiça.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL João José Coutinho versus Estado de Goiás Recurso extraordinário n.o ~.'0.414 - Relator: Sr. Ministro
BARROS BARRETO
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos êstes au-tos de recurso extraordinário n.o 00.414, de Goiás, sendo recorrente João José Coutinho e recorrido o Estado de Goiás: Acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em 1.& Turma, preli-minarmente e por maioria de votos, não conhecer do recurso.
O relatório do feito e as razões de decidir constam das notas datilográficas que precedem.
Custas na forma da lei.
Rio, 18 de agôsto de 1942. - Barros Barreto, Presidente e Relator.
RELATÓRIO
o
SI". ]I,] in'ÍStro Barros Barreto -Por considerar-se lesado nos seus direi-tos, João José Coutinho acionou o Es-tado de Goiás, contra o ato do Executivo, desmembrando o tabelionato do 1.0 ofí-cio da comarca de Goiânia, de que êle era titular vitalício e privativo, para criar o Ofício do Registro Geral. Teriam sido feridos, além de dispositivos da Constituição estadual de 1934 e das Car-tas federais de 1934 e 1937, o art. 296 do Decreto imperial n.o 9.420, de 28 de abril de 1885, segundo o qual "cabe ao serventuário vitalício o direito de opção, quando um ofício é desanexado de ou-tro".A ação foi julgada improcedente (fo-lhas 86).
Houve recurso para o ilustre Tribuna! de Justiça de Goiás. 1l:ste, em Câmaras Conjuntas, rejeitou, unânimemente, a prejudicial de inconstitucionalidade do ato impugnado (fls. 115), ao passo que a 1.& Câmara negou provimento à ape-lação, por maioria de votos (fls. 120).
Foram opostos embargos infringentes e de nulidade, desprezados sem unani-midade, consoante se vê do 'seguinte acórdão, a fls. 136 usque 146: (lê).
Daí, a manifestação do apêlo consti-tucional, autorizado no art. 101, número III, alíneas a e d. Diz-se contrária a decisão à letra do citado art. 296 do Decreto Imperial n.O 9.420, e ao direito
adquirido, cânone constitucional, também previsto no Código Civil, aludindo ainda o recorrente a divergência com jurispru-dência do Excelso Pretório.
Juntaram rawes as parte;:; litigantes, encontrando-se a fls. 170 o parecer da douta Procuradoria Geral da República: "Invocando as alíneas a e d do artigo 101, n.o III, da Constituição (fls. 147), sustenta o recorrente, nas razões de fô-lhas 152 a 161, que o acórdão recorrido é contrário à letra da lei federal (De-creto imperial n.O 9.420, de 28 de abril
de 1885, art. 296) e diverge, na sua in-terpretação, da jurisprudência dêste egrégio Tribunal.