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Educação online e formação continuada de professores de música

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Academic year: 2021

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1 Educação online e formação continuada de professores de música

José Ruy Henderson Filho ruyh@bol.com.br Universidade do Estado do Pará

Resumo. Este artigo apresenta os resultados finais da pesquisa de doutorado intitulada “A formação

continuada de professores de música em ambiente de ensino e aprendizagem online” que investigou a viabilidade da educação online na formação continuada de professores de música. Neste se discute a utilização de comunidades virtuais de aprendizagem na formação de professores de música como alternativa para diminuir o isolamento e favorecer a troca de experiências mútua. A metodologia adotada foi a pesquisa-ação, em que se desenvolveu um curso sobre novas tecnologias aplicadas à educação musical, realizado através da internet. A pesquisa teve como público-alvo professores de música atuantes na educação básica no Estado do Pará.

Palavras-chave: educação online, formação continuada, colaboração

Introdução

Diferentemente das pesquisas até então realizadas no Brasil sobre educação musical a distância, que têm definido como foco o ensino de instrumento (LIMA, 2003), a formação de professores das séries iniciais (SOUZA, 2003) e a formação continuada de músicos de filarmônicas (CAJAZEIRA, 2004), optei por investigar a educação a distância, especificamente na formação continuada de professores de música, tendo como suporte principal a internet, ou seja, utilizando a chamada educação online. Devido a essa especificidade, a pesquisa se baseou nos princípios da educação online que, embora se constitua num tipo de educação a distância, tem peculiaridades que devem ser levadas em consideração.

A pesquisa teve sua importância justamente pela necessidade de se avançar nas discussões sobre a temática já iniciada por outros autores como Souza (2003) e Cajazeira (2004). Seus resultados poderão servir de subsídio à utilização efetiva dessa modalidade de educação em futuros programas de formação de professores de música.

Objetivos

O objetivo principal da pesquisa foi investigar a viabilidade da educação online como estratégia para a formação continuada de professores de música. Como objetivos específicos foram delineados os seguintes: avaliar aspectos pedagógicos e operacionais presentes em um programa de formação pedagógico-musical online; analisar as interações entre professores de

DA ABEM O PAPEL DA EDUCAÇÃO MUSICAL

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música em um ambiente de ensino e aprendizagem online; identificar fatores que contribuem para o exercício da autonomia no estudo online por parte dos professores de música; e identificar as implicações da formação continuada online para a prática do ensino da música.

Referencial Teórico

A definição do referencial adotado decorreu da organização de um conjunto de conceitos fundamentais para a educação a distância identificados durante a revisão de literatura sobre o tema. O ponto de partida foi a identificação de diferentes concepções de educação a distância existentes e a opção por adotar uma dessas concepções que não se constitua na simples aplicação de materiais instrucionais isolados, descaracterizando um importante conceito, que é o da auto-aprendizagem, mas sim que valoriza o potencial interativo das novas tecnologias, possibilitando a construção colaborativa do conhecimento, onde professor e aluno assumem novos e importantes papéis.

A relação que estabeleço entre esses três conceitos está, portanto, vinculada à concepção de EAD adotada, e vem tomar forma mais sistematizada na utilização da teoria da distância transacional, de Moore (1993), como referencial teórico, tendo como suporte ainda autores como Pallof e Pratt (2002) e Harasim et al (2005), na discussão sobre formação de comunidades virtuais de aprendizagem e redes de aprendizagem.

Segundo a teoria da distância transacional, em educação, distância não tem sentido estritamente físico/geográfico, mas relacional, afetivo e comunicacional. Esta é a chamada distância transacional que revela as interações entre os sujeitos da educação e tem verdadeira importância pedagógica. Essa distância independe da proximidade física. Ela é determinada pela quantidade de diálogo que ocorre entre discentes e docentes e a quantidade de estrutura que existe em um curso a distância.

Em um programa educacional, a distância transacional pode apresentar diferentes níveis, conforme a relação diálogo/estrutura existente nesse programa. É importante ressaltar que não há distinção entre programas convencionais e a distância por causa da variedade de transações que ocorrem entre professores e alunos em ambos os casos.

Assim, de acordo com a teoria da distância transacional, a distância não é determinada geograficamente, mas sim pela relação entre diálogo e estrutura.

Mas o que Moore (1993) defende em sua teoria não é a valorização excessiva do diálogo em detrimento da estrutura. O que o autor pretende com sua teoria é o equilíbrio entre essas duas variáveis (diálogo e estrutura) conforme cada situação de ensino e aprendizagem.

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Otto Peters (2001), ao propor uma didática da educação a distância, reforça que

Em certos casos pode inclusive ser desejável e intencional uma distância transacional grande ou até mesmo extremamente grande, porque ela constitui uma premissa importante para o estudo autônomo, ao qual se atribui um valor justamente no ensino a distância (PETERS, 2001, p. 64).

Nesse ponto surge uma terceira variável que constitui a teoria da distância transacional de Moore (1993), a autonomia, (13) que se constitui na medida em que os próprios estudantes podem determinar seus estudos. Segundo o autor, a extensão da distância transacional em um programa educacional é decorrente da relação entre diálogo, estrutura e autonomia do aluno.

Metodologia

Os objetivos propostos pela pesquisa apontaram a necessidade de criação e execução de uma proposta pedagógica que envolveu os professores participantes tanto na ação, como no planejamento e na avaliação do processo. Esse caráter de participação ativa dos professores, aliado à minha implicação enquanto pesquisador na situação investigada demonstrou ser a perquisa-ação o método mais favorável à realização da pesquisa.

O termo pesquisa-ação, de acordo com Morin (2004, p, 56), “designa em geral um método utilizado com vistas a uma ação estratégica e requerendo a participação dos atores”. Para esse autor, pesquisa-ação é uma nova forma de criação do saber na qual se estabelecem constantes relações entre teoria e prática e entre pesquisa e ação. Compara-se a “um círculo em espiral entre três processos que se mesclam: planejamento e ação, combinados com uma constante coleta de informações, quanto ao grupo e a seu próprio contexto” (MORIN, 2004, p. 56-57).

A pesquisa teve como público alvo professores de música atuantes na Educação Básica no Estado do Pará. Tendo participado ao todo oito professores, que, visando manter o seu anonimato, foram identificados nas falas no texto por pseudônimos.

Esses professores participaram de um curso online denominado “Novas Tecnologias na Educação Musical”, que foi criado especificamente para o desenvolvimento da pesquisa. O curso teve uma duração de 3 meses e foi estruturado em três fases:

A fase 1, denominada “Tecnologia – concepções e usos” ; A fase 2, “Tecnologia musical”; e

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Foram realizados três encontros presenciais, sendo o primeiro no início do curso e destinado a apresentar o ambiente aos participantes; o segundo ao final da primeira fase e o terceiro encontro no último dia do curso.

Todas as atividades propostas foram programadas para serem realizadas a distância, com o auxílio da internet.

Resultados

A partir dos resultados alcançados com a realização do curso online, elegi dois temas, que considero relevantes para uma discussão mais detalhada e que estão relacionados à TDT, com destaque para as variáveis diálogo e autonomia. O primeiro tema diz respeito à interação entre os participantes, professores de música, necessária, mas difícil de ocorrer no seu cotidiano profissional, mas que se mostra viável com a educação online. Já o segundo tema reflete o papel do diálogo na construção da autonomia dos participantes.

Interação online e conhecimento coletivo – compartilhando experiências, dificuldades, soluções

Fornecer oportunidades de interação é indispensável para que se consiga realizar um programa educacional efetivo em educação a distância, visando a satisfação do estudante. Moore (1989) define três tipos de interação no ambiente educacional: conteúdo, aluno-aluno e aluno-aluno-professor, mas com a inclusão de novas tecnologias na educação um novo componente veio a ser adicionado aos três tipos definidos por Moore: a interação aluno-interface (HILLMAN et al, 1994).

A necessidade de compartilhar conhecimentos, experiências, dificuldades e soluções foi uma constante nas falas dos professores que participaram da pesquisa, e o planejamento das atividades do curso foi direcionado no sentido de possibilitar essa vivência. Professores se sentem, muitas vezes, isolados em seu local de trabalho, sem oportunidades para discutir questões relativas à sua prática docente com outros professores da mesma área. É isso que o professor Ismael revela em sua fala:

Às vezes a gente se sente um pouco isolado. Você está ali na sua escola, mas se sente isolado porque é só você de música. É complicado porque como é que você vai discutir música com o orientador pedagógico que não entende essa linguagem? (Ismael).

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O fato de não estarem acostumados com esse tipo de interação foi justificativa dos professores para a baixa interação aluno/aluno, como também a inexperiência e a falta de comprometimento dos participantes, como o professor coloca:

Não houve na verdade um comprometimento muito grande das pessoas. Eu acho que o que falhou foi exatamente a não participação. Talvez a inexperiência das pessoas nesse formato de curso tenha propiciado isso (Ismael).

Lembrando o que Belloni (1999) apresenta como desafio para o sucesso da educação online, existe a necessidade de conscientização dos aprendizes de que eles são os sujeitos de sua própria aprendizagem, o que é difícil de atingir num primeiro momento.

Em relação à interação formador/professor-participante ela foi considerada satisfatória. A relação de confiança e de igualdade também foi um fator positivo que favoreceu essa interação.

O professor Ismael ainda traz outra questão em relação à interação. Ele considera que a existência de mais encontros presenciais poderia melhorar a interação entre todos os participantes.

Houve interação entre algumas pessoas mais do que o grupo como um todo. Eu acho que faltou na verdade mais encontros entre as pessoas para discutir as atividades. Eu acho que faltou mais esse contato pessoal (Ismael).

Essa necessidade de contato presencial pode estar associada ao que Moran (2003a) define como uma das dificuldades na educação online: “o peso da sala de aula”, pois desde sempre aprender está associado a ir a uma sala de aula.

No entanto, à medida que vão se adquirindo mais experiências de aprendizagem online, esse “peso” vai aliviando. O aluno online começa a perceber que o modelo com o qual estava acostumado já não é mais adequado ao novo contexto de ensino e aprendizagem.

O trabalho em grupo, ao mesmo tempo em que é uma necessidade, é um desafio. E um desafio ainda maior em um ambiente não familiar. Segundo Harasin et al. (2005), as redes enfatizam a aprendizagem com os colegas e a participação ativa. A rede estimula e até mesmo exige uma aprendizagem ativa, e esta “é exigida porque num ambiente textual é necessário fazer comentários para ser visto e estar presente” (p. 342). Se o participante de um curso não interage ele acaba não sendo percebido pelos outros.

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A dinâmica do curso procurou valorizar o diálogo entre os participantes e entre estes e o formador e a estrutura definida inicialmente foi parcialmente aberta, possibilitando a inclusão de novos elementos ao seu conteúdo. Essa abertura associada ao diálogo constante entre formador e professores-participantes teve como objetivo ampliar o grau de autonomia destes no ambiente do curso, sugerindo temas de discussão e interagindo com os demais participantes sem que dependessem exclusivamente do formador, ou seja, exercer a autonomia em relação à sua aprendizagem, construindo estratégias pessoais para o seu desenvolvimento, baseado na interação com o outro.

Essa autonomia ainda é difícil de ser alcançada, principalmente quando os participantes não têm qualquer experiência em ambiente online. A formação exclusivamente presencial aliada a uma pedagogia que prioriza a transmissão de informações por um especialista ainda tem uma presença muito marcante na educação brasileira, o que exige uma mudança de postura, tanto do professor como do aluno, muitas vezes difícil de ser aceita ou alcançada.

De acordo com Peters (2001) os estudantes são autônomos

quando assumem e executam as funções dos docentes. Isso significa: quando eles mesmos reconhecem suas necessidades de estudo, selecionam conteúdos, projetam estratégias de estudo, arranjam materiais e meios didáticos, identificam fontes humanas e materiais adicionais e fazem uso delas (p. 95).

Apesar de considerar que essa autonomia foi pouco exercida pela maioria dos participantes, em alguns casos foi possível perceber que os professores realizaram novas buscas além daquelas indicadas pela estrutura do curso, bem como demonstraram um senso crítico e de adaptação do conteúdo abordado à sua necessidade prática.

Essa iniciativa pode ser observada na atitude do professor Antônio que, ao realizar as atividades com um dos aplicativos utilizados na segunda fase do curso, idealizou uma atividade de criação de histórias musicais. O envolvimento do professor com a atividade planejada no curso foi maior quando percebeu uma aplicação prática no seu trabalho.

Apesar de o professor Antonio ter relatado algumas dificuldades pessoais que prejudicaram em parte sua interação no ambiente do curso, o diálogo com o formador fez com que o mesmo não ficasse desmotivado e desistisse.

A função motivadora do diálogo deve ser constantemente observada, tendo em vista a participação ativa do estudante online. A ausência por diferentes motivos, como a falta de tempo ou dificuldade de acesso, pode levar o estudante a abandonar o curso. A intervenção do formador no momento apropriado poderá evitar que isso ocorra, e para isso, é preciso estar

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atento à presença de sinais que indiquem essa possibilidade, como a ausência no ambiente, a não participação nas discussões ou a não realização das atividades propostas.

Essas variáveis podem interferir direta ou indiretamente no desempenho do participante do curso, mesmo que ele apresente uma motivação intrínseca para realizá-lo. O diálogo, atuando nesse caso como um fator motivador externo pode reavivar a sua participação, evitando que o mesmo se evada do curso, por considerar que sua ausência por algum motivo tenha comprometido totalmente sua participação.

Considerações finais

Considerando o novo papel que o professor passa a exercer na educação online e a necessidade premente de inserção de novas tecnologias na formação desses profissionais, é importante que também os cursos de licenciatura em música se apropriem desse conhecimento e possibilitem aos seus alunos uma formação nesse sentido. Não obstante que essa formação tenha continuidade ao longo de toda sua trajetória profissional. E a educação online vem atender a essa premissa, uma vez que, através desta pesquisa, foi possível verificar a viabilidade do seu uso na formação continuada de professores de música.

Com base nos resultados da pesquisa, foi possível chegar à conclusão de que as bases para criação de programas de formação continuada de professores de música em exercício na educação básica, por meio da educação online, estão na concepção metodológica que a orienta, na gestão eficiente do ambiente, na adequação do material didático disponibilizado ao conteúdo do curso e no apoio institucional.

Em síntese, a educação online revela-se com um potencial educacional capaz de atender, com qualidade, às demandas por formação continuada de professores de música, resolvendo questões como a formação de professores em exercício, dificuldades de deslocamento e a falta de interação entre profissionais da mesma área, mantendo-se um programa permanente de oferta de cursos nessa área.

Nesse sentido, a universidade tem um papel muito importante, estabelecendo parcerias com as diversas esferas educacionais, visando à qualificação profissional de professores em exercício na educação básica. Em relação aos cursos de licenciatura em música, à medida que as universidades desenvolvam a formação em EAD de seu corpo docente, poderão inserir gradativamente atividades online nos cursos presenciais, promovendo a integração dos sistemas presencial e a distância e permitindo aproveitar nas salas de aula a potencialidade dos ambientes virtuais de ensino e aprendizagem.

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Referências bibliográficas

ANDALOUSSI, Khalid El. Pesquisas-ações: ciência, desenvolvimento, democracia. Trad. Michel Thiollent. São Carlos: EdUFSCar, 2004.

CAJAZEIRA, Regina C. de Souza. Educação Continuada a Distância para Músicos da Filarmônica Minerva – Gestão e Curso Batuta. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal da Bahia. Bahia: UFBA, 2004.

HARASIN, Linda et al. Redes de aprendizagem: um guia para ensino e aprendizagem on-line. São Paulo: Editora Senac, 2005.

LIMA, José Maximiano Arruda Ximenes de. Educação musical à distância através da flauta doce. In: XI Encontro Anual da Associação Brasileira de Educação Musical. Anais... CD-ROM. Natal: ABEM, out. 2002.

MOORE, Michael G. Teoria da Distância Transacional. Traduzido por Wilson Azevedo, com autorização do autor. Revisão de tradução: José Manuel da Silva. Rio de Janeiro, setembro de 2002. Disponível em http://www.abed.org.br. Acesso em: 20/02/2005.

MORIN, André. Pesquisa-ação integral e sistêmica – uma antropopedagogia renovada. Trad. Michel Thiollent. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.

PALLOF, Rena M., PRATT, Keith. Construindo comunidades de aprendizagem no ciberespaço. Porto Alegre: Artmed, 2002.

PETERS, Otto. Didática da Educação a Distância. São Leopoldo: Editora da Unisinos, 2001. SOUZA, Cássia V. C. de. Programa de Educação Musical a Distância para professores das séries iniciais do ensino fundamental: um estudo de caso. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Música da Universidade Federal da Bahia. Salvador: UFBA, 2003.

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