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ISBNBTS-MSI DADOS IMTEnMCIOlUIS K cxnooaaçjb) lu pubucaçao ANDÉUCA HACOUA Cltt-I/7Q67

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De2>a6a,dasBhàs18h mnr.Ê0lkinatnln.com,^/etaaÈo

Diretoria axacuttva Rávia Atves Bravin DIrfloria editorial Itenata Pascual MQíler Gerência edttoriil Roberto Navarro Coesidlorta acadinfea lAirilo Angei Dias dos Santos

Ediçlo Eveãne Gonçalves DenanI (coord.)

Bnma Glmenez Boani

Produção eiBtorial Ana Cristina Garcia (coord.)

Canina Mlhoko Massanhí

Arte 6 digitai Mônica Land (coord.)

Claudirene de Moura Santos Slva

Fernanda Matajs

Gidherme H. M. Salvador

Tiago Dela Rosa

Verônica PIvisan Reis

Ptanejaiiieiito e procttset Clarissa BorascN Maria (coord.)

Jtdiana Fernáno Kem Priscila Pinto friarfüa ConMro Fernando Penteado

IWnica Gonçalves Dias

Tafiana dos Sar^ Romão

Neves profetee Fernando Alves

Projeto gráfico Guilherme H. M. Sahrador

DIegramaçio Muiraquíâ Editoração Gráfica

Revisão Albertina Pereira Leite Piva

Capa Tiago Dtò Rosa Produção gráfiee MarfiRampim

Sérgio Luiz Pereira Lopes Impressão e acabamento EGB EcBtora Gráhca Bemanfi Ltoa

ISBNBTS-MSI72-34-4

DADOS IMTEnMCIOlUIS K cxnooaAçJb) lU pubucaçAo ANDÉUCA HACOUA Cltt-I/7Q67

Monteiro. Alacandre -i-. y

Trteubçte dá ecolni^ diglói :'«tesaflos m

internacional a .novn. perspectivas /-AJexarabs Mon^ Renato / Faria. Ricardo Matto. Slo Paulo; Sandvi Educação, 2018.

1. nreNo irlMário 2. kitemet - Lagnliçao 3. Cocnárc» ataW-nico: hnostos • Lagisi^ 4. TribuMÇSo t'Madoa L Tluto 11,4

iaO40S CtXr 34.336.2:004 73aS ^

índca para caltfoQQ sistantebco:

I.DhBjtDHMttfo; Economia Digital 34:336.2.-004.738.5

Data de fechamento da ediçfto: 10-7-2tn8

Dúvidas? Acesse www.edítorasafafva.comJN/dirBito

Nenhuma parle desta publicação poderá ser repnxhizida por

qualquer meio ou forma sem a pr^ autorização da Editora

Saraiva. A violação dos díreitos autorais é crime estabelecido na Lei n. 9.61(VW e punido pelo art 184 do Código Penal

a 605010 CAE 627157

Sumário

Apresentação ii

Parte i

Tributação e os desafios da economia digital no Brasil

Seção A - Aspectos relacionados à tributação direta local e internacional Estabelecimento piermanente: l^islação tributária brasileira e desafios na economia digital

/úãâ Francisco Bianco c Fabiana Carsoni Alves Fernandes da Silva 16

A tributação de IRRF na importação de cloud computing no Brasil e as soluções

analisadas na Ação 1 do BEPS

João Dãcio Rolim e Danieía Silveira Lara 37

As operações internacionais envolvendo software e o imposto de renda

Gustavo Lian Haddad c Vinícius Nogueira 57

Qualificação de operações envolvendo software no Brasil à luz dos tratados contra a

bítributação: visão da OCDE e a prática brasileira

Rodrigo Maito da Sibeira t Antonio Carlos de Almeida Amendola 84

Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão? A tributação internacional da renda no ambiente de cloud computing

(2)

Tributação da Economia Digitai

Os princípios da tributação no Estado da fonte e no Estado da residência e os impactos da economia digitai no Brasil e no mundo

Maüiem Bertholo Pwonez 116

Potenciais impaaos tributários do CPC 47 nos n^óáos voltados à economia digjitai

EUdie Palma Bifano e Bruno Fajmztajn 134

Questões controversas relacionadas à contabilizado de negócios na economia atual e os seus possíveis reflexos tributários

Bárbara Melo Carneiro e Fernando Daniel de Moura Fonseca 158

Desafios da tributação doméstica de operações com software na era da economia digital

Paulo César Teixeira Duarte Filho eArthur Pereira Muniz Barreto... 173

Preços de transferência e a criação de valor distribuição de software no Brasil

Alexandre Siciliano Borges t Igor Scarano Brandão 193

A economia digital e as regras brasileiras de preços de transferência: os problemas na aplicado dos métodos aos serviços, intangíveis e direitos

Diego Marchant 205

Transferências cross-border de direitos de uso sobre software de prateleira: aquisição de mercadoria ou licenciamento? Tributação na fonte e dedutibílidade de despesas

Carlos CometScharftteine Juliana Vargas Saüouti,. 214

Tratamento jurídico-tributário do doumload de software no Brasil

Matheus Carneiro Assunção 227

Aspectos da tributação decorrente da importação do cloud computing no Brasil

Henrique Munia e Erbolato e Lucas Di Francesco Veiga 235

Seção B - Aspectos relacionados à tributação sobre o consumo Internet das Coisas à luz do ICMS e do ISS: entre mercadoria, prestação de serviço de comunicação e serviço de valor adicionado

Luís Eduardo Schoueri c Guilherme Galdino 245

A Lei Complementar n. 157/2016 à luz da Constituição F^ieral: aspectos relacionados à retroativídadc e aos campos de incidência do ICMS e do ISS na atividade de difusão de vídeos, áudio e textos pela intemet

José Eduardo Soares de Melo 269

Determinação dos limites de incidência do ICMS na modalidade ''comunicação" e do ISS nas atividades de veiculação de textos/imagens e divulgação de publicidade na

intemet

Roberto Biava Júnior 283

E'Commercr. aspeaos tributários sob a perspectiva brasileira

Adma FeÜcia Barbosa Murro Nogueira 302

T

Sumário

O paradigma da «x>nomia digital e os novos conceitos de serviço e mercadoria—reflexos

na tributação

Carlos Augusto Daniel Neto e Leonardo Ogassawara de Araújo Brurtco 322

ICMS sobre sojtwair. evolução do conceito constitucional de mercadorias em &ce da

inovação tecnológica

Carlos Otávio Ferreira de Almeida e Lucas Betnlacqua 339

Tributação da economia digital e os conflitos de competência entre ICMS e ISS

Maurício Barros 358

Operações de cloud computing {SaaSt laaS, PaaS etc): ICMS vs. ISS

Rodriffj de Freitas e Bruno Akio Oyamada 376

A Tributação pelo ISS e pelo ICMS das operações com software

João Victor Gtudes Santos e Camila Caçador Xavier 397

O ISS e a exportação de serviços: conceito de resultado e o princípio do destino nas

atividades voltadas à economia digital

Femarula Ramos Pazello 411

Jogando com o conceito de valor aduaneiro: um estudo sobre a valoração aduaneira na importação de jogos eletrônicos

Carlos Eduardo de Arruda Navarro e João Vitor Kanujrt Xavier da Silveira 430 Aspectos tributários do download de sojtware-. equívocos comuns e implicações

decorrentes da edição do Convênio CONFAZ n. 181/2015

Matheus Augusto Ferraz Rector e Raphael de Campos Martins 447

Aspectos da tributação sobre o consumo no cloud computing

Sérgo Papini de Mendonça Uchôa Filho e íris Cintra Basjlio, 462

Seção C - Tributação de produtos ou negócios selecionados ICMS sobre a divulgação de material publicitário na intemet por prove(k>r

Heleno Taveira Torres 480

Tributa^ de atividades de streamingáe áudio e vídeo: guerra fiscal entre ISS e ICMS

Alberto Macedo 504

O alcance da imunidade tributária sobre os livros digitais e seus acessórios

Marcos Neder c Ludane Pimentel. 522

laaS, PaaS, SaaS e os reflexos tributários da cloud computirig desenvolvida no exterior

Luciana Rosanova Galhardo e Pedro Augusto do Amaral Abujamra Asseis 533

Tributação de negócios desenvolvidos por meio de aplicativos associados aos serviços de transporte

Rodrigo Brunelli Machado e Nathalia Xavier da Silveira de Mello Brandão 544 Tributação da atividade de armazenamento digital de dados

(3)

Tributação da Economia Dij^tal

Tributação de marketing digital por meio de websitâsi Caso Google Adworks e o

contraponto entre as perspectivas brasileira e internacional

Luciana Ibiapina Lim Aguiar 570

R^ime jurídico tributário do VolP

Renato Vilela Faria 588

Tributação de data center no Brasil

Thais Meira c Andréa Oliveira 606

Breves considerações sobre o tratamento legal, contábil e físcal das moedas virtuais

Thú^o Rufalco Medaglia e Eric Simões Visini 624

IRF e lOF sobre remessas realizadas por empresas de intermediação de pagamento e regulação do BACEN

Renato Souza Coelho e Gabriel Oura Chiang. 641

A Tributação de SaaS e SaaP no Brasil por ISS ou ICMS: Estudo de Casos de Massively

Multiplayer Online Games (MMOGs)

Lucas de Lima Carvalho c Rogério Baptista Fedele. 657

Desafios na tributação dos programas de fidelização

Jorge N. F LopesJr. e Mariana Monte Alegre de Paiva 677

Tributação das Aplicações Over-The-Top no Brasil: visão geral e análise das atividades de transmissão de a>nteúdo audiovisual, envio de mensagens e realização de chamadas de voz por meio da intemet

Ricardo Augísto Ahes dos Santos 692

O Softtvare as a Service (SaaS) e a tributação pelo ISS

Maria Ângela Lopes Paulino Padilha 711

Tributação de sojiware "embarcado" e os conflitos ICMS vs. ISS

Fernanda Sã Freire FigUoulo e Maria Virgínia Fantucci Pillekamp , 727 Tributação de n^ócios desenvolvidos por meio de aplicativos associados aos serviços de hospedagem no Brasil

Leonardo Agiirm de Andrade. 742

Aspectos fiscais aplicáveis à cessão e disponibilização de dados

Diego Alves Amaral Batista t Luís Felipe Vieira Rangel. 760

Parte II

Novas perspectivas: políticas fiscais para a tributação dos negócios na economia digital e das novas tecnologias

Seção A - Economia digital e formas alternativas de tributação Tributação e novas tecnologias: reformular as incidências ou o modo de arrecadar?

Um "SIMPLES" informático

Marco Aurélio Greco. 780

1

Sumário

Economia digital e a criação de um IVA para o Brasil

Paulo Caliendo 791

Os desafios da tributação indireta do comércio eletrônico: estratégias para a simplificado da arrecadação tributária em operações B2C

MisabelAbreu Machado Derzi e César Vale Estanislau 806

Reforma tributária: desafios da evolução da economia digital versus complexidades da Federação brasileira

José Luís Ribeiro Brazuna 825

Jogos de realidade virtual e robótica: desafios para a tributação de humanos no mundo

virtual e robôs no mundo teal

Victor Polizelli. - 846

Tributação direta vs. tributação indireta na economia digital: reflexões sobre os impactos da concentração de tributos sobre o consumo em detrimento da tributação sobre a renda para a praticabilidade e justiça fiscal

Rafael Malheiro e Laura Salviano Almeida da Costa 866

A competitividade no mercado global e a tendência à migração para um sistema de tributação territorial

Ramon Tomazela Santos 881

Impressão 3D e sistema tributário disfundonal

Flãvio Veitzman 899

Deveres instrumentais na economia distai: o Siscoserv e os limites ao controle do

comércio internacional de serviços

Caio Augusto Takarto 906

Seção B - Economia digital, a Ação 1 do BEPS e a visão da ONU: proposições e críticas

As estruturas de planejamento tributário adotadas pelas empresas de tecnologia, as proposições da Ação 1 do BEPS e as iniciativas legislativas dos países ao redor do

mundo

Ricardo Maitto da Silveira 922

Uma proposta para a modificação da Convenção Modelo da OCDE em &cc da digitalização da economia

Tatiana Falcão 944

Operações de Inversão (Inversions) ou Redomidliação Rscal (Reparantin£) na economia digital

Alexandre Luiz Moraes do Rego Monteiro e Leonardo Freitas de Moraes e Castro 939 A aplicação dos acordos de bitributação aos negócios da economia digital: as visões do Brasil, da OCDE e da ONU sobre software e serviços técnicos

(4)

10 Tributação da Economia Digital

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Alocação da propriedade intelectual e a tributação dos royaltus no Projeto BEPS: o combate aos planejamentos tributários "abusivos" e o "nexus approaclf

Reinaldo RavelU Neto t Daniel Leib Zugman 1001

Parte III

Direito comparado: a tributação da economia digital sob a perspectiva de outros países

Evolução da tributação da economia digital na Alemanha

GerdWilli Rothmann 1016

As disputas de cost sharing agreements envolvendo empresas de tecnolo^ nos Estados

Unidos

Rubens Barrionuevo Biselli 1038

^iropean VAT and tbe distai economy

AUksandra Bal 1057

Canada: taxing global digital income in a post-BEPS worid

ArthurJ. Cockfield 1070

Taxation of the digital economy: a U.S. subnational perspective

Waber HeUcrstein 1086

Austrálias Multinational Antí-Avoidance Law (2016): treacing the symptom rather

than the disease

Michael Kobetsky 1104

Taxation of the digital economy: Argentina perspective

Guiüermo O. Teijeiro e Juan Manuel Vázquez 1127

Taxation of the digital economy in France

Polina Koumleva Cozais 1151

Taxation of digital economy: índia perspective

T. P. Ostwal e Mohak Shingala 1165

Taxation of the digital economy: Japan perspective

Asatsuma Akiyuki 1179

Challenges of the tax systems in the digital economy era: México perspective

Elias AelamBitar^VictorDiaz Infante Martinez 1194

m

1

Apresentação

o fenômeno de maior relevância para a economia mundial desde a Revolução Indus trial atende pelo nome de Economia Digital. A expressão passou a ser utilizada a partir de meados da década de 1990 para se referir ãs atividades econômicas desenvolvidas por meio do uso da tecnologia digital, particularmente as transações realizadas em ambiente virtual. O rápido desenvolvimento da tecnologia da informação e da comunicação testemu nhou o nascimento do clotuí computing, das atividades de transmissão de conteúdo audio visual pela Internet, da impressão 3D, da nanotecnologia, da internet das coisas, da criação e utilização das moedas virtuais e do processo de migração para uma economia baseada em serviços e "funcionalidades".

Nos modelos de negócio surgidos na era da Economia Digital, a ação humana e a presença física no local onde a atividade é desenvolvida são cada vez menos relevantes. Em meio aos efeitos da "economia compartilhada", o processo produtivo passa a ser mais inte grado e os intangíveis representam o grande componente de valor das empresas.

O surgimenro dessa nova economia representa um grande desafio para os sistemas tributários atuais, que foram moldados a partir da economia tradicional, tendo como parâmetros a localização física dos contribuintes (residência), a origem dos rendimentos (fonte) e já ultrapassada distinção entre "mercadorias" e "serviços".

É

a partir desse contexto que sugiram iniciativas como o Projeto BEPS,

encabeçado

pela OCDE e pelos países do G20, que tem como propósito ampliar o debate acerca do tema e rever as regras tributárias em caráter global. Em paralelo, vislumbram-se duas fortes tendências em matéria de política fiscal: a criação de regras para tributar as atividades

(5)

Alberto Macedo 505 >. -?í'j ; ' yij '^HC; dÍMíSpa í '■'•Víh; " •■ üií sb 5Tf!

Tributação de atividades de streaming de áudio e

vídeo-guerra fiscal entre ISS e ICMS

Alberto Macec/o"

1. INTRODUÇÃO

Importante aqui, de início, separar os problemas de conflito envolvendo o ISS e o

ICMS.

A tributação do consumo^ sobre as operações com software encontra-se no escopo do

conflito do ISS com o ICMS-Mercadoria, dado que envolve a discussão sobre se o licen

ciamento de software subsumir-se-ia ao conceito de serviço de qualquer natureza ou ao

suposto conceito de mercadoria virtual. Em prévio estudo, já pudemos concluir pela

Mestre e Doutor em Direito Econômico, Financeiro e Tributírio pela USP. MBA em Gestão Pública

Tributária pela Fundação Dom Cabral - FDC. Professor de Direito Tributírio no Insper, FGV,

R^Ptesenrante de São Paulo na Câmara Técnica Permanente da

^RMF. Assessor Especial da Secretaria Municipal da Fazenda de São Paulo. Ex-Subsecretírio da

Receita Municipal de São Paulo. Ex-Presidente do Conselho Municipal de Tributos de São Paulo.

Aqui, definiremos tributação sobre o consumo aquela limitada aos impostos ISS, ICMS, IPI e lOF.

Não entram nessa classe as contribuições sociais PIS/PASEP (Contribuição para os Programas de

Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público) e COFINS (Contribuição

Social para o Financiamento da Seguridade Social). Isso porque, em que pese as referidas

contribuições possuírem efeitos econômicos similares aos impostos sobre consumo, a materialidade

dessas contribuições se distancia iuridicamcntc das matcrialidades daqueles impostos, na medida cm

que, em termos jurídicos, essas contribuições não incidem sobre a circulado de bens e serviços,

mas sim sobre a receita bruta decorrente da circulação de bens e serviços. Para maiores detalhes, cf.

MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria e o Caso "Embalagens" (ADI-MC 4.389 DF) - A

institucionalização, pelo STF, de Critérios que não são Constitucionais. In: MACEDO, Alberto;

iSTRO, Leonardo Freitas de Moraes e (Coords.). Tributação Indireta Empresarial. Indústria,

Comércio e Serviços. São Paulo: Quartier Latin, 2016. p. 809-846.

incidência do ISS, dada a impossibilidade de, no atual ordenamento constitucional tribu

tário, existir a chamada mercadoria virtual^.

Já a tributação do txmsumo que envolve os serviços de streaming, este sim o objeto do

presente estudo, entxmtra-se no escopo de outro conflito, qual seja, o do ISS com o

ICMS-^làimunicação.

O serviço de cximunicação, cuja intúdência do ICMS é prevista pelo Constituinte

no artigo 155, II, também é um bem imaterial, fazendo parte do universo de serviços

previstos no texto constitucional tributáveis pelos impostos, composto este universo

ainda por; (i) serviços financeiros e securitários (tributáveis pelo lOF, art. 153, V, da

Constituição Federal - CF/88); (ii) serviços de transporte intermunicipal e interestadual

(tributáveis pelo ICMS, an. 155, II, CF/88); e (iii) serviços de qualquer natureza, residuais

epi relação aos serviços anteriores, e desde que haja previsão em lista (tributáveis pelo

ISS. an. 156,111, CF/88)1

Assim, o presente estudo pretende se debruçar sobre qual seria, em termos constitu cionais, o correto enquadramento do serviço de streaming de áudio e vídeo; se se inclui no conceito de serviço de qualquer natureza, ou no conceito de serviço de comunicação.

Dito de outro modo, pretende-se verificar se é constitucional a recente inserção, na lista de serviços anexa à Lei Complementar n. 116, de 31 de julho de 2003, do subirem

1.09, assim descrito:

1.09 - Disponibílização, sem cessão definitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem

e texto por meio da intemet, respeitada a imunidade de livros, jornais e periódicos (exceto a distribuição de conteúdos pelas prestadoras de Serviço de Acesso Condicionado, de que trata a Lei n. 12.485, de 12 de setembro de 2011, sujeita ao ICMS). (Incluído pela Lei Complementar n. 157, de 2016)

I u ULau.!

1

Nesse sentido, cf.: MACEDO, Alberto. ISS versus ICMS-Mercadoria: Licenciamento de Software e a Impossibilidade do Avanço do Conceito Constitucional de Mercadoria Como Bem Imaterial. In: MACEDO, Alberto; AGUIRREZÁBAL, Rafael; PINTO, Sérgio Luiz de Moraes; ARAÚJO, Wilson José de (Coords.). Gestão Tributária Municipal e Tributos Municipais. São Paulo: Quartier Latin, 201,7. v. 6 p. 57-99; MACEDO, Alberto. Licenciamento de Software e Software as a

Servi-ce (SaaS). A Impossibilidade do Avanço do ConServi-ceito Constitucional de Mercadoria como Bem Imaterial e suas Implicações na Incidência do ISS, do ICMS e dos Tributos Federais. In:

PISCI-TELLI, Tathiane; VASCONCELOS, Roberto (Coords.). Tributação de Bens Digitais. São Paulo, FGV-SP, 2017, no prelo; MACEDO, Alberto. Licenciamento de software não pode ser considerado mercadoria virtual. Disponível em:

<https://www.conjur.com.br/2017-dcz-13/albcrto-macedo-stf-desvirtuar-conceito-mercadoria>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Não há uma residualidade de serviços não tributáveis no universo das atividades de produção

e circulação de bens c serviços. Nesse sentido, cf. MACEDO, Alberto. ISS — O conceito eco nômico de serviços já foi juridicizado há tempos também pelo direito privado. In: MACEDO,

Alberto et al. XII CNET — Direito Tributário e os Novos Horizontes do Processo. São Paulo:

(6)

1-79-506 Tributação da Economia Digita!

2. O

CONCEITO CONSTITUCIONAL DE

SERVIÇO DE

COMUNICAÇÃO

Na medida em que nossa missão aqui tem como uma das tarefas delimitar o concei

to constitucional de serviço de comunicação para fins de tributação pelo ICMS

(ICMS--Comunicação), nada mais correto do que partir do dispositivo constitucional que nos

apresenta sua materialidade:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre: [...]

II -

operações [...] sobre prestações de serviços de [...] comunicação, ainda que [...]

as prestações se iniciem no exterior (...) (Redação dada pela Emenda Constitucional n 3

de 1993.) ■ '

Posta a materialidade, debrucemo-nos sobre o texto constitucional para investigarmos

outros enunciados desse texto que nos ajudem na demarcação da fronteira desse conceito,

de serviço de comunicação, para fins de tributação pelo ICMS-Comunicação.

Não temos aqui a pretensão de construir um apanhado histórico normativo do con

ceito constimcional de serviço de comunicação no Brasil anterior à Constituição de 1988.

Nesse sentido, André Mendes Moreira cumpriu com mestria essa incumbência'.

Apenas cabe registrar que esse conceito se alinha com o de serviço de telecomunicação

presente no artigo 60 — bem como com o do que não é serviço de telecomunicação, e sim

Serviço de Valor Adicionado (SVA), presente no artigo 61 -

ambos da Lei n. 9.472, de 16

de julho de 1997, conhecida como Lei Getal de Telecomunicações (LGT). Esse conceito

seguiu a orientação histórica não só nacional, presente no Código Brasileiro de Telecomu

nicações (Lei n. 4.117, de 27-8-1962), mas internacional, presente nas normas da União

Internacional das Telecomumcações

(UIT)

e do Convênio Internacional de Telecomuni

cações de Nairobi (Kenia, 1982)'.

Prevê o referido artigo 60:

Art. 60. Serviço de telecomunicações é o conjunto de atividades que possibilita a

oferta de telecomunicação.

5

1—Iclecomunicaçao é a transmissão, emissão ou recepção, por fio, radioeletricidade,

meios ópticos ou qualquer outro processo eletrom^nético, de símbolos, caracteres, sinais,

escritos, imagens, sons ou informações de qualquer natureza.

§

2a Estação de telecomimícações é o conjunto de equipamentos ou aparelhos, dispo

sitivos e demais meios necessários à realização de telecomunicação, seus acessórios e perifé

ricos, e, quando for o caso, as instalações que os abrigam e complementam, inclusive termi

nais portáteis.

MOREIRA, André Mendes. A Tributação dot Serviços de Comunicação. 2. ed. São Paulo- Noeses,

2016. p. 177-178.

Idem.

Alberto Macedo 507

Por sua vez, descreve o artigo 61 o conceito de Serviço de Valor Adicionado -

SVA;

Art. 61. Serviço de valor adicionado é a atividade que acrescenta, a um serviço de tele

comunicações que lhe dá suporte e com o qual não se confunde, novas utilidades relacionadas

ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentado ou recuperação de informações.

§ la Serviço de valor adicionado não constitui serviço de telecomunicações,

classificando-se seu provedor como usuário do serviço de telecomunicações que lhe dá su

porte, com os direitos e deveres inerentes a essa condição.

§

2a É

assegurado aos interessados o uso das redes de serviços de telecomtmicações para

prestação de serviços de valor adicionado, cabendo à Agência, para assegurar esse direito,

regular os condicionamentos, assim como o relacionamento entre aqueles e as prestadoras

de serviço de telecomunicações.

Veremos, mais adiante, a semelhança entre o Serviço de Valor Adicionado e um

conceito que está cada vez mais sedimentado no mercado, o Serviço Over The Top

-Serviço 011'.

O

artigo 21 da Constituição de 1988, por sua vez, previu, com a redação dada pela

EC

n. 8, de 15 de agosto de 1995, que compete à União:

XI -

explorar, diretamente ou mediante autorizai^o, concessão ou permissão, os ser

viços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização do? serviÇP$i

rAstrAn df "in órgão regulador e outros aspectos institucionais. (Grifo nosso.)

O

grifo destaca o fundamento de validade constitucional do que se costumou chamar

de "privatização das empresas de telecomunicações" (regulamentado por meio da supraci

tada LGT),

já que antes (conforme a redação original do referido inciso) a rede pública de

telecomunicações deveria ser explorada pela União, diretamente ou mechante concessão a

empresas sob controle acionário estatal.

Já o artigo 22 diz:

Art. 22. Compete ptivativamente à União legislar sobre; [...]

rv-águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusSo; [••.]• (Grifos nossos.)

Com relação a rádio (radiodifusão sonora) e aTV

(radiodifusão de sons e im^ens),

no Brasil, diferentemente de alguns países, esses serviços são considerados serviços de

tele-comimicação.

A

Lei n. 4.117/62 é clara em tratar os serviços de radiodifusão sonora (rádio), e de

sons e imagens (televisão), como espécie do serviço de telecomimicaçao. Seguem alguns

dispositivos a respeito:

Art. 6s Quanto aos fins a que se destinam, as telecomtmicações assim se classificam: (...)

d) serviço de tadiodifiisão, destinado a ser recebido direta e' livremente pelo público

em geral, compreendendo radiodifusão sonora e televisão; (...).

,

Art. 32. Os serviços de radiodifusão, nos quais se compreendem os de televisão, serão

executados diretamente pela União ou através de concessão, autorização ou permissão.

(7)

508 Tributação da Economia Digital

A

Lei n. 9.472/97 revogou parcialmente a Lei n. 4.117/62, mas não os seus preceitos

relativos à radiodifusão (art. 215,1).

Então, podemos concluir que, de longa data, está arraigado em nosso ordenamento,

inclusive com incorporação constitucional desse conceito, que os serviços de radiodifusão

sonora e de sons e imagens fazem parte do conceito maior de serviço de telecomunicações,

em que pese a separação regulatória, mantendo-se os de radiodifusão regulados pela Lei n.

4.117/62 e os demais serviços de telecomunicações regulados pela Lei n. 9.472/97.

2.1. Serviço de comunicação não se confunde com serviços de informática prestados pela internet

Diferentemente da regulamentação internacional a que se submete o setor de tele comunicações, o setor de internet não possui um padrão regulatório internacional, tendo se desenvolvido de forma livre, sem a existência de um organismo internacional

que o controle.

Esse fato é relevante para entender a distinção semântica entre o termo "informática"

e os termos "telecomunicações" e "radiodifusão", presentes no inciso IV do artigo 22 da

Constituição de 1988, acima transcrito.

Essa distinção, evidenciada no supracitado dispositivo, entre "informática" e "teleco municações", e obviamente entre seus respectivos serviços, revela-se constimcionalizada,

demonstrando que para o direito pátrio prevaleceu a existência de r^mes jurídicos distin

tos para essas acepções.

Reforça esse argumento o fato de que não havia como, em 1988, conferir um conceito de serviço de comunicação que abarcasse a internet, tendo em vista que na quela época, de promulgação da Constituição vigente, não havia como o constituinte originário ter conhecimento dos detalhes da dinâmica comunicativa da rede mundial internet. Isso porque, exatamente naquele ano, a internet se constituía, com a integra

ção de redes mundiais ao NSFNet {Network Science Foundatiorí), surgido em 1986 no

meio acadêmico norte- americano, em decorrência, entre outros motivos, da necessi

dade de criação de um critério lógico padronizado de transporte de informações pelas

redes daquele país (e posteriormente pelas redes do mundo todo), cujos estudos se

iniciaram em 1977^.

Além disso, se o constituinte derivado quisesse "consertar" textualmente a acepção

semântica dessa materialidade, após cinco anos da vigência da Constituição de 1988, não

falaria, em 1993 (pelo advento da Emenda Constitucional n. 3) — quando os conhecimen

tos sobre a dinâmica da rede mundial internet já estavam bem mais alcançáveis (afinal, naqueles cinco anos, no ramo da informática, uma grande evolução no setor ocorreu) — em

Esse critério lógico é hoje o protocolo TCP/IP (Transmission Control ProtocoUInternet Protocot). Cf.

BOTELHO, Fernanclo Neto. Tributação do serviço de provimento da internet. In: TÕRRES,

Heleno Taveira (Coord.). Direito Trihutãrio das Telecomunicações, São Paulo: lOB Thompson -ABETEL, 2004. p. 561-589.

Alberto Macedo 509

serviços de telecomunicações, para conferir-lhe a imunidade prevista na alteração do § 3®

do artigo 155. CF/88».

Ê

seguindo essa linha que a LGT,

em seu artigo 61, acima transcrito, defittiu serviço

de valor adicionado (SVA).

Em síntese, o conceito constitucional de serviço de comunicação abarca os serviços

de telecomunicação, abrangidos aí a telefonia, o

rádio, a televisão e a TV

por assinatura.

A Constituição de 1988 já refletia essa conceituação em seu artigo 22, no qual a se

paração dos âmbitos de competência "telecomunicações" e "radiodifusão" não infirma o

exposto acima, sendo apenas uma relação de gênero e espécie, respectivamente, entre ambas.

E

a defimção do conceito de SVA'

fazendo parte do conceito presente no bojo do

campo "informática" (no art. 22, IV, da Constituição) no âmbito da internet, aliada ao fato de não se caracterizar como serviço de telecomunicação e de radiodifusão, fàz-nos concluir

pela impossibilidade de o

streamingàe áudio e vídeo ser tributado pelo ICMS.

3. ALGUNS SERVIÇOS DE COMUNICAÇÃO

3.1. Serviço de Acesso Condicionado (SeAC) - TV por Assinatura

É

esse serviço que foi expressamente excluído da incidência do ISS no subitem 1.09

da lista de serviços, dado que se trata de serviço de telecomunicação, regulamentado pela

ANATEL, assim como os demais serviços de radiodifusão.

A

TV

por Assinatura é uma espéae de serviço de comunicação. Hoje é regulada pela Lei

n. 12.485, de 12 de setembro de 2011, que dispõe sobre a comunicação audiovisual de acesso

condicionado, trazendo a definição do conceito de Serviço de Acesso Condicionado (SeAC): Art. 22 (...) XXlll - Serviço de Acesso Condicionado: serviço de telecomunicações de interesse coletivo prestado no regime privado, cuja recepção é condicionada à contiatação

remuneiada por assinantes e destinado à distribuição de conteúdos audiovisuais na forma de

pacotes, de canais nas modalidades avulsa de programação e avulsa de conteúdo programado

e de canais de distribuição obrigatória, por meio de tecnologias, processos, meios eletrônicos

e protocolos de comunicação quaisquer.

O

SeAC unificou as regras para serviços semelhantes, que eram diferenciados por

tecnologia, e, entre outros serviços, prevê a transmissão de conteúdo nacional na TV

paga

IIIIIIIUUllIlllllllllILIllllllllllllllll

BOTELHO, Fernando Neto. Tributação do serviço de provimento da internet. In: TÔRRES,

Heleno Taveira (Coord.). Direito Tributário das Telecomunicações. São Paulo: lOB Thompson —

ABETEL, 2004. p.

561-589-Previamente, o conceito de SVA havia sido trazido pela Lei n. 9.295, ^e 19-7-1996, definido da

seguinte forma: "Art.lO. (...). Parágrafo único. Serviço de Valor Adicionado é a atividade

caracterizada pelo acréscimo de recursos a um serviço de telecomunicações que lhe dá suporte,

criando novas utilidades relacionadas ao acesso, armazenamento, apresentação, movimentação e recuperação de informações, não caracterizando exploração de serviço de telecomunicações".

(8)

510 Tributação da Eafnotnia Digital

durante o horário nobre. Ele concentra os seguintes serviços: (i) serviço TV

a cabo; (ii)

serviço de Distribuição de Sinais Multiponto Multicanais (MMDS — Multichannel

Multi-point Distrihution Servicè)-, (iii) serviço de Distribuição de Sinais de Televisão e de Áudio

por Assinatura Via Satélite (DTH — Direct-To-Homi)\ e (iv) Serviço Especial de TV

por

Assinatura (TVA).

No serviço de TV a cabo há um transporte, por meio físico (fibra ótica e cabo coaxial),

de sinais de áudio e/ou de vídeo para assinantes. Essa definição do conceito de TV a cabo, que estava positivada na conhecida Lei do Cabo (Lei n. 8.977, de 6-1-1995), em seu arti

go 22,

foi revogada pela Lei n. 12.485/2011. Exemplos desse serviço no mercado são NET,

SAT a CABO, Via Cabo, Cabo Telecom, Cabovisão.

O serviço MMDS é um serviço de TV por assinatura cujos sinais, recebidos em pon tos determinados numa área de prestação, são transmitidos por meio de &ixas de microon

das. Exemplos de empresas que prestam esse serviço são TVA, GVT, Lig TV, Mais TV, SMTV, Super I, Super TV, TV Show.

O serviço DTH se vale de antenas parabólicas para a transmissão de sinais de áudio e/ou vídeo aos seus assinantes. Exemplos: SKY, Oi TV, Embratel.

No SeAC há uma relação jurídica onerosa, em que a empresa que fornece esse serviço

cobra por ele do assinante. Sendo um serviço de comunicação, é tributável pielo ICMS.

3.2. Serviço de Comunicação Multimídia (SCM)

O SCM está sujeito à seguinte legislação: Resolução Anatel n. 272, de 9 de agosto de 2001 (Ri^ulamento do serviço de Comunicação Multimídia, revogado pela Resolução

Anatel n. 614, de 28-5-2013); Resolução Anatel n. 328, de 29 de janeiro de 2003 (Aprova os modelos de Termo de Autorização para Exploração do Serviço de Comunicação Multi mídia, de interesse coletivo, também revogados pela Resolução Anatel n. 614/2013); Re solução n. 295, de 19 de abril de 2002 (Destinar faixas de freqüências para uso do serviço

de Comunicação Multimídia — SCM e do Serviço Telefônico Fixo Comutado Destinado

ao Uso do Público em Geral — STFC); Decreto n. 7.175, de 13 de maio de 2010 (Institui

o Programa Nacional de Banda Larga

-

PNBL);

e Resolução Anatel n. 574,

28

de outubro

de 2011 (Regulamento de Gestão da Qualidade do Serviço de Comunicação Multimídia

(RGQ-SCM).

O

atual Regulamento do Serviço de Comunicação Multimídia

(Anexo I à Resolução

Anatel n. 614/2013), define o conceito de Serviço de Comunicação Multimídia (SCM):

Art. 3® O SCM é um serviço fixo de telecomunicações de interesse coletivo, prestado cm âmbito nacional e internacional, no regime privado, que possibilita a oferta de capaa-dade de transmissão, emissão c recepção de informações mídtimídia, permitindo inclusive o provimento de conexão à internet, utilizando quaisquer meios, a Assinantes dentro de uma

Area de Prestação de Serviço.

§ 12 A prestação do SCM não admite a transmissão, emissão e recepção de informações de qualquer natureza que possam configurar a prestação de serviços de radiodiíúsão, de te

levisão por assinatura ou de acesso condicionado, assim como o fornecimento de sinais de

Alberto Macedo 511

vídeos e áudio, de forma iriestriu e simidtânea, para os Assinantes, na forma e condições previstas na r^idamentação desses serviços.

§ 22 Na presução do SCM não é permitida a oferta de serviço com as características

do Serviço Telefônico Fbto Comutado destinado ao uso do público em geral (STFC), em

especial o encanúnhamento de tráfego telefônico por meio da rede de SCM

simultaneamen

te originado e terminado nas redes do STFC.

§

32 Na prestação do SCM é permitida a implementação da fim^o

de mobilidade

restrita nas condições previstas na regtdamentação específica de uso de radiofreqüência.

O

fato de a prestadora de SCM

poder prestar serviço de provimento à internet {caput

do an. 32) não quer dizer que o conceito de serviço de comunicação abranja, a partir de

então, o

de SVA,

mas apenas que tal prestadora pode prestar tanto serviço de comunicação

quanto serviço de valor adicionado'".

O

§

12 do supracitado artigo 32 também marca a diferenciação entre o

SCM

e TV

por Assinatura e Serviço de Acesso Condicionado, pois a transmissão de sinais de áudio e

vídeo pela prestadora de SCM

somente pode se dar de maneira eventual, mediante contra

to ou pagamento por evento, como no caso do sistema "payper vietv"'^.

Como

o SCM não pode set prestado de forma aberta a todos, mas somente para

as-sitiantes, também não se confunde com o serviço de radiodifusão, dado que a radiodifusão é um serviço aberto a todos, independentemente de contrattção'^.

Dada a sua característica de serviço de comunicação, corroborada pela existência de

ampla legislação regulatória, requerendo inclusive autorização pata funcionamento, não se

caracteriza como Serviço de Valor Adicionado, o qual não requer autorização, concessão ou permissão para funcionamento.

Em síntese, o conceito constitucional de serviço de comunicação coincide com o de

telecomunicação, abrangidos aí a telefonia, o ládio, a televisão e a TV por assinatura, sen

do esses serviços regulados pela ANATEL,

sob a égide: (i) da Lei n. 12.485, de 12 de se

tembro de 2011 (serviço de acesso condicionado); (ii) da Lei n. 9.472/97 (Lei Geral de

Telecomunicações); e (iii) da Lei n. 4.117/62 (serviços de radiodifusão sonora e de sons e

imagens).

Se há alguma elasticidade semântica (sem alteração do texto constitucional) do con

ceito de serviço de comunicação que possa ser feita, ela não passa dos limites do conceito

de telecomimicação, em que a radiodifusão sonora e a de sons e unagens são espécies, não

MOREIRA, Andrá Mendes; ESTANISIAU. César Vale. ISSQN x ICMS: a tribuuçSo do serviço

dc comunicação multimídia (SCM). In; PINTO, Scrgio Luiz dc Moraes; MACEDO, Alberto; ARAÚJO, Wilson José dc (Orgs.). Gestão tributária municipal e tributos municipais. 1. cd. São

Paulo: Quarticr Latin, 2014. v. 4, p. 67-81.

MOREIRA. André Mendes; ESTANISLAU, César Vale. ISSQN x ICMS: a tributação do serviço

dc comunicação multimídia (SCM). In: PINTO, Scrgio Luiz de Moraes; MACEDO, Alberto; ARAÚJO, Wilson José dc (Orgs.). Gestão tributária municipal e tributos municipais. 1. cd. São

Paulo: Quarticr Latín, 2014. v. 4, p. 67-81. Idcm.

(9)

512 Tributação da Economia Digital Alberto Macedo 513

alcançando, portanto, os serviços prestados por intermédio da internet, como veremos

adiante.

4. SERVIÇOS OVER THE TOP (OTT)

A expressão Over The Top (OTT), originalmente, veio como jar^o do setor de TV

via internet, porque,

visualmente, seu decodificador tinha a aparência de uma

caixinha que

quase sempre ficava em cima dos televisores, sendo os serviços mais conhecidos no Brasil

Netflix, iTunes e YouTube, concorrendo diretamente com a TV por Assinatura". Hoje o

conceito é outro.

O BEREC {fiody ofEuropean Regulators jbr Electronic Communications), grupo de reguladores de Telecom da Europa, no documento intitulado Report on OTT Services'*

divulgado em

fevereiro de 2016, propõe uma definição do conceito de serviço OTT,

qual

seja, um "conteúdo, serviço ou aplicação que é provido para o usuário final da Internet pública". Incluindo nessa definição que o que é provido pode ser também conteúdo, ser viço ou aplicação, significa que qualquer coisa provida na internet pública é um serviço OTT. Afirma o documento, ainda, que esse provimento geralmente ocorre sem o envolvi mento do provedor de acesso à internet no controle ou distribuição do serviço"

Nesse sentido, exemplos de serviços OTT seriam: serviços de voz providos na internet,

conteúdo baseado na Web (sites de notícias, mídia social etc.), ferramentas de busca, ser

viços de hospedagem, serviços de e-mail, serviços de mensageria instantânea, conteúdo de

vídeo e multimídia etc.".

Geralmente, os serviços OTT são prestados por companhias focadas na produção do conteúdo veiculado, e não no provimento de acesso ã internet.

Recentemente, a ANATEL tem se posicionado no sentido de que só irá interferir no

relacionamento entre as empresas de internet que prestam Serviço OTT e as empresas de

Telecom quando for chamada ou na análise caso a caso, apesar de defender que se deve

utilizar a taxonomia adotada pelo BEREC".

O documento do BEREC lista quatro implicações dessa definição de serviço OTT.

Primeira: os serviços OTT referem-se a conteúdo que usualmente se origina de tuna ter

ceira parte (o provedor de OTT), não sendo oferecido pelo provedor de acesso à internet ao qual o usuário final está conectado. Isso não impede que o provedor de acesso à internet

ofereça seu próprio serviço OTT ou fiiça parcerias com provedores de serviços OTT".

Disponível cm:

<http://www.mundocligital.net.br/lndex.php/noticias/tciccomunicacocs/5628-o--quc-c-ott>. Acesso cm: 15 dez. 2017.

Disponível cm: <http://bcrcc.curopa.cti/cng/documcnt_rcgistcr/subjcct_mattcr/bcrcc/downIoad/0 /5751-bcrcc-rcport-on-ott-scrviccs_D.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Idem.

Idem.

Disponível em: <http://www.telesintcse.com.br/brasil-qucr-regular-relacao-ott-e-tele<x>m-caso-caso>.

Disponível em: <http://berec.europa.eu/eng/documcnt_register/subject_matter/berec/download

/0/5751-berec-report-on-ott-services_0.pdf>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Segunda implicação: refete-se ao modo de entrega do serviço e, dessa forma, não diz

jjjda sobre a natureza do serviço em si.

Terceira implicação: o conceito de Serviço OTT não impede que tais serviços sejam

qualificados como de comimicação eletrônica, o que aconteceria, por exemplo, num ser

viço de VoIP que se iniciasse ou terminasse no Serviço de Telefonia Pública (PATS —

Pu-blicly Available Telephone Sentice).

Quarta implicação: alguns Serviços OTT

podem potencialmente competir com ser

viços de comimicação eletrônica (ECS)

(como serviços de voz OTT

e serviços de e-mails,

enquanto outros, não

(como Uber e Airbnb).

Propõe o BEREC

também uma taxonomia dos Serviços OTT

tendo como critérios

se o

serviço OTT

"se qualifica como

lun ECS"

ou

"se potencialmente compete com ECS".

A

defirúção do cxjnceito de ECS

(Electronic Communications Service), por sua vez, adveio

da Diretiva 2002/21/CE do Parlamento Europeu e do Conselho", conforme transcrito a

"'Serviço de comunicações eletrônicas', o serviço oferecido em geral medianre remu

neração, que consiste total ou principalmente no envio de sinais através de redes de comu nicações eletrônicas, incluindo os serviços de telecomuiúcações e os serviços de transmissão

em redes utilizadas para a radiodifusão, excliúndo os serviços que prestem ou exerçam controlo editorial sobre conteúdos transmitidos através de redes e serviços de comunicações

eletrônicas; excluem-se igualmente os serviços da sociedade da informação, tal como defini dos no ardgo Ia da Diretiva 98/34/CE que não consistam total ou principalmente no envio

de sinais através de redes de comunicações eletrônicas".

Essa taxonomia classifica os Serviços OTT em OTT-0, OTT-1 e O Tl-2. Serviços OTT-0 seriam serviços de comunicação, enquanto serviços OTT-1 e OTT-2 seriam outros

serviços:

OTT-0: serviço OTT que se qualifica como um ECS (exemplos: OTT de voz com

possibilidade de &zer chamadas para PATS);

OTT-1: serviço OTT que não é um ECS mas potencialmente compete com um ECS (OTT de voz e mensageria instantânea);

OTT-2: outros serviços OTT (exemplo: comércio eletrônico, streaming de vídeo e de

áudio).

Acompanhando o conceito proposto pelo BEREC, entendemos que os streaming de áudio e de vídeo não são serviços de comunicação, para fins de incidência do ICMS, até porque estão no conceito legal nacional de Serviço de Valor Adicionado e, ainda, no Ser viço de Valor Adicionado que não concorre com o setor de telefonia.

A segtúr, discorremos sobre alguns serviços OTT.

Disponível cm: <http://cur-lex.europa.cu/lcgal-contcnt/PT/TXT/PDF/?urí=CELEX:32002L0021fiC fTom=cn>. Acesso em: 15 dez. 2017.

(10)

514 Tributação da Economia Digital Alberio Macedo 515

4.1. O que é o Serviço de Streamin^

Stnaming é uma tecnologia de transmissão de áudio e/ou vídeo pela Internet, a qujJ

permite que a transmissão de áudio e vídeo seja realizada sem a necessidade de se íàzer o

doumload de todo o conteúdo a ser transmitido antes de se ouvir a música ou assistir ao

vídeo™. Trata-se de lun Serviço OTT.

A transmissão do conteúdo é feita de modo contínuo, enquanto a pessoa está ouvíq. do/assistindo. Usa-se, assim, um sistema de buffe^^, havendo armazenamento do conteúdo

aos poucos e a transmissão, sua reprodução, para quem está ouvindo/assistindo,

conseguin-do-se assim equilibrar o download do conteúdo e a exibição dele, por exemplo, para que

todo o conteúdo seja exibido sem cortes, seja ele strtamingàe áudio ou streaming Ae vídeo. O player (uma aplicação que executa o áudio ou vídeo) do dispositivo (penonal

computer, smartphone, tablete etc.) do usuário do serviço de streaming inicia a execução

do arquivo de música ou vídeo, mas continua coletando os pacotes de arquivo, que vão

sendo baixados pelo streaming (pacotes de reserva). Assim, ainda que haja eventuais peque

nos atrasos na obtenção de pacotes, o conteúdo é visualizado de forma contínua, sem atrasos, dada a capacidade de o player interpretar o fluxo de arquivos.

4.1.1. Tipos e Exemplos de Serviços de Streaming

Há os serviços de streaming âe vídeo gramitos (em regra, remunerados por anúncios), os atrelados ou empacotados (relacionados a canais de TV por assinatura) e os pagos (por assinatura). Seguem alguns exemplos no mercado.

Gratuitos: Crackle™ (de filmes gratuitos, com anúncios); Viki™ (com enfoque em filmes de produção asiática; também na versão por assinatura); TED™ {Technology; Enter-tainment; Desi^.

Atrelados: Sony Play^'; TNT Go™; Fox Play^'; HBO Go™.

Também oferecidos como grande novidade bundled são os serviços de streaming de áudio Spotify e de vídeo Hulu (concorrente do Netflix) oferecidos num pacote {Spoti^ Premiumfor Students, now with Hultt)^.

Disponível cm; <http;//www.sitchosting.com.br/strcaming>.

Buffèring: Funcionalictade usada por players de áudio e vídeo para armazenar temporariamente

porções do conteúdo que está sendo acessado via streaming. com objetivo de antecipar seu doumload e bizendo com que a experiência do usuário seja fluida e sem interrupções/pausas. Glossário de

Marketing Digital lAB Brasil. Disponível em: <http://iabbrasil.com.br/>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <hnps://www.ctackle.com.bt>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível em: <https://www.viki.com>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://www.ted.com/talks>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível em: <https://br.canalsony.com/especiais/episodios-completos-canal-sony>. Acesso em: 15

dez. 2017.

Disponível em: <http://www.tntgo.tv.br>. Acesso cm: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://fbxplay.com>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://hr.hbomax.tv/hbogo>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível em:

<https://www.hulu.com/press/spotiiy-and-hulu-unveil-first-of-its-kind-premiuai-

entettainment-stteaming-bundle-spotiíy-premium-for-students-now-with-hulu-launches-today-nationwidc-hundled-ofrerings-targeted-at-broader-matket>. Acesso em: 15 dez. 2017.

:

, Pagos: Netflix"; Looke"

(plataforma brasileira concorrente do Netflbc, antigo

Net-t Jdovies, que enNet-tregava DVDs

em casa); Amazon Prime Vídeo"; Oldflix" (de filmes

clás-j;|jjjos retrô de cinema e TV);

Spotify"; iTunes Store^'; Deezer".

i.1.2. Televisão por Protocolo de Internet

(IPTV

-

Internet Protocol TV)

A IPTV utiliza uma tecnologia que permite a transmissão de sinais de TV via intemet,

•useja, via protocolo IP, mas tecnicamente funciona também como um

streaming.

;(V O

grande diferencial de uma

IPTV em relação a um canal de TV

que se pode

sim-l^éimente assistir ao vivo pelo navegador de Internet (WebTV)

é que, no caso da IPTV,

o

linal da TV via internet é distribuído em redes próprias, enquanto numa WebTV a

distri-jjpiçSn do sinal se dá na vastidão da intemet.

-•ji Esse diferencial, de ter tuna rede dedicada ao seu stream de vídeo, garante à IPTV

q;3Ís performance e entr^ de imagem e som de alta qualidade, enquanto na WebTV o

í ib^l está sujeito a oscilações, variações de velocidade da rede, travamentos e sobrecargas

D® site.

.SI' A IPTV é uma alternativa à TV por Assinatura pois permite consumo sob demanda,

tkl que se assiste ao que se deseja na hora em que se quer, inclusive com a possibilidade de

'

pãvar programas para ver posteriormente. Garante-se, assim, aos usuários da IPTV não

apenas qualidade de som e imagem, mas também recursos extras em interatividade.

i> Ao contrário da WebTV, na IPTV não há a necessidade de um computador para fi^cionar. A IPTV está associada ao consumo principalmente em aparelhos de TV e

set-dkp-boxes, embota seja possível acessar sinais de TV

do tipo em computadores e outros

aparelhos com software de IPTV. Alguns aplicativos de IPTV conhecidos são Kodi (XBMC),

^(çe Stream, Wiseplay e Perfect Player^'.

A principal diferença entre a IPTV e os serviços de streaming é que, nestes últimos não há uso de tun canal dedicado, sendo baseados em plataformas multiuso, como com putadores, SmartTVs, videogames, celulares, tablets etc. Assim, a qualidade de imagem e wdio dos serviços de streaming depende da rede à qual eles estão conectados.

Os custos com infiaestrutura dos serviços de streaming em geral são muito baixos, usando-se, muitas vezes, um sistema totalmente on-demand. Além do baixo custo, apresen tam grande versatilidade. Mas uma dificuldade é a falta de garantia de qualidade de imagem

^iíúdio que é encontrada na TV.

Disponível cm: <https://www.nctflix.com/br>. Acesso cm: 15 dez. 2017. Disponível cm: <https://www.looke.com.br>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível cm: <https://www.amazon.com.br/b?nodc=16067150011>. Acesso cm: 15 dez. 2017. Disponível cm: <https://www.oldflix.com.br>. Acesso cm: 15 dez. 2017.

Disponível em: <https://www.spotify.com/br>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível em: <https://www.apple.com/br/itunes>. Acesso em: 15 dez. 2017. Disponível em: <https://www.deezer.com/br>. Acesso em: 15 dez. 2017.

Disponível em: <https://www.techtudo.com.br/noticias/2017/ll/o-que-e-ipiv.ghtml>. Acesso em: 15 dez. 2017.

(11)

516 Tributação da Economia Digital

AIPTV não é de ixm Serviço de Comunicação Multimídia (SCM), pois não oferece uma grade linear (como asTVs por Assinatura), e sim vídeo sob demanda, enquadrando--se sim como um Serviço de Valor Adicionado, não podendo, nesse âmbito, estarem sub metidas às tegras da ANATEL'®.

4.1.3. As Receitas das Empresas de Streaming

As empresas de streaming remuneram-se, em regra, das seguintes formas: (i) por

assinatura; (ii) transacional, podendo ser (ii.l) por tempo limitado (aluguel ou rentat)-,

ou (ii.2) ilimitado (eletronic sell-through -

EST

ou download to own — DTO);

e (iii) por

publicidade.

O

modelo por assinatura {subscription video on demand — SVoD,

no caso de streaming

de vídeos) é aquele em que o provedor cobra um valor fixo e periódico do usuário, inde

pendentemente da quantidade de acessos que este iizer ao conteúdo do catálogo.

No

modelo transacional, o usuário paga pela fruição de run conteúdo específico por

tempo limitado ou ilimitado. No ilimitado, eietronic sell-through (EST) ou doivnloadto own

(DTO), o consumidor paga um valor único pata lazer o download Ao arquivo de mídia para salvar no disco rígido. Mas o conceito desse modelo cada vez mais abrange a possibilidade de o conteúdo ser usável somente por determinado período de tempo, ou também não ser

usável em plataforma concorrente^'.

No modelo por publicidade (ad-suported), o provedor se financia, não dos usuários

do conteúdo que ele fornece, mas sim por meio de anúncios publicitários na plataforma.

Nesse caso, o prestador do serviço de streamingst remunera de outro serviço, do serviço de inserção de propaganda e publicidade, que ele presta para os anunciantes.

A composição dessa receita pode também ser mista, combinando-se os modelos acima citados. Por exemplo, parte da receita advinda de publicidade e parte de assinaturas. 5. PAPEL DA LEI COMPLEMENTAR TRIBUTÁRIA (ART. 146 DA

CONSTITUIÇÃO FEDERAL) A FIM DE PREVENIR O CONFLITO ENTRE SERVIÇO DE QUALQUER NATUREZA E O SERVIÇO DE COMUNICAÇÃO"

à lei complementar tributária prevista no artigo 146 da Constituição Federal de 1988

se veste como lei complementar nacional, pois ali se apresenta sempre como reguladora de

normas aplicáveis aos três entes da Federação, indistintamente.

Disponível em: <http://www.convergenciadigital.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?UserAcávcTe!ii

plate=site&iníoid=34458&sid=4>. Acesso cm: 15 dez. 2017.

Disponível em: <hrtps://cn.wikipcdia.org/wiki/Electronic_scIl-through>. Acesso cm: 15 dez. 2017.

Conforme argumentado em MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria c o Caso "Embalagens

(ADI-MC 4.389 DF) — A Constitucionallzação, pelo STF, de Critérios que não são Constitucionais.

In: MACEDO, Alberto; CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes c (Coords.). Tributação ínMrttã !

Empresarial-, Indústria, Comércio e Serviços. São Paulo: Quarticr Latin, 2016. p. 809-846.

Alberto Macedo 517

Dispõe o artigo 146, no que interessa à presente análise:

Art. 146. Cabe à lei complementar:

I — dispor sobre conflitos de competência, em matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Mtmicípios;

II — regular as liimtações constitucionais ao poder de tributar;

UI

-

estabelecer normas gerais em matéria de l^islação tributária, especialmente sobre:

a) definição de tributos e de suas espécies, bem como,

em relação aos impostos discrimi

nados nesta Constituição, a dos respectivos latos geradores, bases de cálculo e contribuintes;

b) obrigação, lançamento, crédito, prescnção e decadência tributários;

(...).

No

que interessa ao presente trabalho, a referida lei complementar apresenta basica

mente a função de estabelecer normas gerais:

i) para prevenir conflitos de competência em matéria tributária, entre a União, os

Estados, o Distrito Federal e os Municípios (art. 146,1); e

ii) para definir feto gerador dos impostos previstos na Constituição (art. 146, III,

V).

T^ entendimento se coaduna com o que Tércio Sampaio Ferraz Júnior chama de

Federalismo Cooperativo, em que prevalece a colaboração dos entes federativos,

conferindo--se menor força à separação e independência recíproca entre eles, com a principal finalida

de de uniformizar as normas gerais, que ele define como toda matéria que extravase o in

teresse circunscrito de tuna unidade da Federação, seja porque é comum (na medida em

que todos os entes têm o mesmo interesse) seja porque envolve conceituações que, acaso

particularizadas num âmbito autônomo, acarretariam conflitos ou dificuldades no inter

câmbio nacional^', h

Quanto à alínea a do inciso III do artigo 146, não é possível aceitar a sua

literalitla-de na construção das normas jurídicas referentes ao dispositivo. Se assim fosse, haveria

certa antinomia jurídica, dado que os fatos geradores dos impostos previstos na

Constitui-de 1988 já estão, Constitui-de certa forma, ainda que Constitui-de maneira genérica (mais as suas

materia-lidades), previstos nos artigos 153

(competência da União), 155 (competência dos Estados

édo Distrito Federal) e 156

(competência dos Municípios). Nesse sentido, Paulo de Barros

forvalho nos ensina:

.(i<:

Eis aí o aplicador do direito novamente atônito! Pensatá: como é excêntrico o legislador

^

Constituição! Demota-se pot delinear, pleno de cuidados, as íaixas de competência da

União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios e, de entremeio, torna mdo

aqui-,tir: ,,

supérfluo, na medida em que põe nas mãos do legislador complementar a iniciativa de

ítij.

^ FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Normas gerais e competência concorrente -

uma exegese do

art.24 da Constituição Federal. Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, Malheiros n 7

(12)

518 Tributação da Economia Digitai Alberto Macedo 519

«çrar os mesmos assuntos, iàzendo-o pelo gênero ou por algumas espécies que lhe aprouvc

consignar, esquecendo-se de que as eleitas, como as demais espécies, estão contidas no con

junto que representa o gênero^^

De

fato, qual sentido haveria em os Estados, o Distrito Federal e os Municípios fica

rem à mercê de uma lei complementar, por mais que se rotulasse como nacional, para

poderem exercer suas respectivas competências tributárias, as quais foram outorgadas dire

tamente pela Constituição'"? Como ensina Misabel Abreu Machado Detzi;

O

federalismo integrativo, já por si centralizador, não pode sufocar, de forma nenhuma,

a autonomia c a descentralização, enfim, a dissimetria a que se refere Pontes de Miranda, sob pena de converter-se o país em verdadeira unidade polítíca**.

Assim, o texto disposto no artigo 146, III, "a", da Constituição Federal, quando so

pesado com o texto constitucional na sua integralidade, não só na forma como foi tecida

a repartição de competências tributárias mas também com os princípios da Federação e da

autonomia dos Municípios, esmaece-se em

sua força literal ensejando a construção de uma

proposição normativa pela qual só é possível admitir à lei complementar definir fato gera

dor, base de cálculo e contribuinte dos impostos discriminados na Constituição (an. 146,

111, "a") qiumdo tal definição se prestar a prevenir conflitos de competência tributária entre

os entes da Federação (art. 146,1), ou para regular limitações constitucionais ao poder de

tributar (art. 146,11).

Uma

valoração mais forte que essa para as normas gerais do artigo 146,111, "a", mais

próxima da litetalidade do emmciado, feriria de mone a autonomia dos Estados e

Mimi-cípios ao ficarem sobremaneira dependentes da lei complementar para poderem instituir

seus impostos, quebrando a harmonia do Sistema Tributário Nacional^'.

Portanto o emmciado do artigo 146,111, "a", não se apresenta como nexo material

fimdante da validade das leis federais, estaduais e municipais instituidoras dos seus respec

tivos impostos^', mas tem tão somente a função de, em conjunto com o disposto no artigo

li

CARVALHO. Paulo de Barres. Curso de Direito Trihutdrio. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p.2I7. A única exceção é justamente o ISS, pois a sua instituição por lei ordinária demanda previsão expressa de lista de serviços por lei complementar. Essa taxatividade da lisu é uma contraposição à elasticidade e variabilidade do conceito econômico de serviço, juridicizado pela Emenda Constitu cional n. 18, de ln-I2-1965, e pelas Constituições Federais posteriores. A respeito, cf. MACEDO, Alberto. ISS - O conceito econômico de serviços já foi juridicizado há tempos também pelo direi

to ptivado. In: XII CNET — Direito Tributário e os Novos Horizontes do Ptocesso. MACEDO,

Albetto et al. São Paulo: Editora Noeses, 2015, p. 1-79.

BALEEIRO, Aliomar. Direito Trihutdrio Brasileiro. II. ed. Atualizado por DERZl, Misabel Abreu

Machado. São Paulo: Forense, 2008, p, 43.

A jurisprudência entende que a ausência de notma geral editada pela União não impede os Estados e Municípios de exercer sua competência plena, com fulcro no artigo 24, § 3a, da Constituição de

1988 (AI-AgR I67.777/SP, Rei. Min. Marco Aurélio, j. 4-3-1997).

Salvo o ISS, cuja definição de conceito constitucional pot lei complementar é mandatória. Nes

se sentido, conferir nossos MACEDO, Alberto. ISS, ICMS-Mercadoria e o Caso "Embalagens"

j46,1, da CF/88,

ser fundamento de validade para a criação de lei complementar

tributá-na que previtributá-na conflito de competência tributária.

Alguns doutrinadores^^ entendem ser efetivamente impossível existir conflitos de

competência, havendo, sim, não mais que aparentes conflitos de competência. Roque

An-lonio Canazza, por exemplo, afirma que "(...) no plano lógico-jurídico, não há qualquer

possibilidade de surgirem conflitos de competência tributária entre a União, os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios"^'.

Isso depende do prisma sob o qual se observa. É

claro que se felamos como

aplicado-ics do direito (juizes, por exemplo), de situação de complexa análise jurídica sobre se de

terminado feto da vida se enquadra na hipótese de incidência de um imposto ou na de

outro, mas já concluímos a atividade interpretativa decidindo a questão, para nós não haverá mais conflito de competência algum para o caso, pois nossa decisão interpretativa

encerrou este conflito.

Mas não é disso que felamos quando afirmamos que existem potenciais conflitos de

competência tributária. A

idéia do conflito de competência surge quando o

constituinte, em

que pese ter constituído muitos enunciados vertidos em texto constitucional sobre as hipó

teses de incidências tributárias dos impostos, reconhece que esse texto não é suficiente — ain

da que após laborioso e esforçado jjercurso gerador de sentido" das normas constitucionais

— paia sanar todas as legítimas dúvidas que surgem sobre competência tributária. E

essa idéia

foi inclusive positivada pelo constituinte por meio do artigo 146,1, da Constituição, quando

expressamente diz que cabe à lei complementar "dispor sobre conflitos de competência, em

matéria tributária, entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios"".

Assim, a idéia aqui posta, de existência de potenciais conflitos de competência, está

no plano da norma geral e abstrata, e não no plano da aplicação dessa norma".

Voltando à alínea "a" do inciso 111 do artigo 146, temos que atentar que a expressão

"feto gerador" é uma expressão ambígua, a qual pode se referir tanto ao que podemos

(ADI-MC 4.389 DF) - A Constitucionalização, pelo STF, de Critérios que não são Constitucionais. In: MACEDO, Alberto; CASTRO, Leonardo Freitas de Moraes e (Coords.), Tributação Indireta

Empresarial-. Indústria, Comércio e Serviços. São Paulo: Quartier Latin, 2016. p. 809-846; e

MACEDO, Alberto. ISS — O conceito econômico de serviços jã foi juridicizado há tempos também

pelo direito privado. In: MACEDO, Albeno et al. XII CNET - Direito Trihutdrio e os Novos

Horizontes tio Processo. São Paulo: Noeses, 2015. p. 1-79.

Entre outros, JUSTEN FILHO, Marçal. O Imposto Sobre Serviços na Constituição. Coleção Textos

de Direito Tributário, v. 10. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1985; OLIVEIRA, Fernando A.

Albino e. Conflitos de Competência entre ICM e ISS. Revista de Direito Trihutdrio, São Paulo, n.I9-20, jan./jun. 1982, p. 161; BAPTISTA, Marcelo Caron. ISS: Do Texto à Norma. São Paulo:

Quanier Latin, 2005. p. 196.

Curso de Direito Constitucional Trihutdrio. 15. ed. São Paulo: Malheiros, 2000. p. 633.

CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Trihutdrio, linguagem e método. São Paulo: Noeses, 2008.

p. I8I-I86.

Interpretando o comando, o "dispor", na verdade, dá lugar ao "prevenir".

Sobre norma geral abstrata, sua aplicação e processo de positivação do direito, cf. nosso MACEDO, Alberto. ITBI — Aspectos Constitucionais e Infiaconstitucionais. São Paulo: Quartier Latin, 2010.

(13)

i

520 Tributação da Economia Digital

chamar de fato gerador in abstracto (o previsto hipoteticamente em lei, denominado hipóte

se de incidência tributária por Paulo de Barros Carvalho'^), quanto ao feto geradot in concre

to (o detectado como feto da vida, ocotrido em determinado momento e local, cuja

subsun-ç5o à norma — hipótese de incidência tributária — consubstancia a incidência tributária).

Pois bem,

quando o artigo 146, III, "a", da CF/88 diz que cabe à lei complementar

defínir fetos geradores, para prevenir conflitos de competência (aqui já o

combinando com

o inciso I do mesmo artigo), considerando-se que esses fetos geradores são as hipóteses de

incidência tributária; e que estas, por sua vez, são compostas pot três critérios: õ)

critério

material; (ii) critério espacial; e (iii) critério temporal, podemos inferir que, se uma lei

complementar estiver definindo critério material do ISS com a finalidade de prevenir con

flitos de competência tributária, desde que trabalhando na região de penumbra, na fron

teira entre os dois conceitos constitucionais imprecisos, estará assim cumprindo justamen

te o papel que a Constituição lhe conferiu, já que o critério material é parte do todo, hi

pótese de incidência tributária.

Esse mecanismo, de a lei complementar trabalhar como definidora da fronteira con

ceituai entre serviço de qualquer natureza e serviço de comunicação (caso do presente es

tudo), é fundamental para a garantia do Pacto Fedetativo e segurança jurídica do sistema

na medida em que as realidades da vida, quando se íãla nessas duas materialidades, não

apresentam limites tão precisos entre si.

Exemplo claro dessa realidade é justamente o tema objeto do presente ttabalho: o

serviço de valor adicionado, conforme regulado pelo ordenamento, não se confundindo

com serviço de telecomumcação, que, como expusemos aqui, é sinônimo de serviço de

comunicação para fins de incidência do ICMS.

Desta forma, nesse caso, a definição estipulativa trazida pela Lei Complementar n.

157, de 2016,

com a inclusão do subitem 1.09 à Lista Anexa de Serviços da Lei Comple

mentar n. 116, de 2003, deve ser inteiramente respeitada. Primeiro, porque a própria

Constituição Federal lhe conferiu essa competência; e segundo porque, como no presente

caso, a lei complementar trabalhou dentro de região de penumbra (insista-se, desenhada

pelo atual regime jurídico do setor). Querer desconsiderar a definição por ela estabelecida

para substituí-la por uma interpretação puramente constitucional que ignote o papel do

artigo 146 da própria Constituição trará cada vez mais insegurança jurídica para o setor.

6. CONCLUSÕES

O

conceito constitucional de serviço de comunicação, para fins de incidência do

ICMS,

coincide com o dos serviços de telecomunicações, abrangidos nestes os serviços de

telefonia, de tádio (radiodifusão sonora), de televisão (radiodifusão de sons e imagens) c

de TV por assinatura, mas não os Serviços de Valor Adicionado (SVA), que apresentam

grande similaridade com os serviços denominados OTT,

serviços Over The Top.

CARVALHO, Paulo de Barres. Curso de Direito Tributário. 21. ed. São Paulo: Saraiva. 2009.

Alberto Macedo 521

Entre os serviços OTT

encontram-se os serviços de streaming de áudio e de vídeo,

que se apresentam numa tecnologia de transmissão de áudio e/ou vídeo pela Internet, a

qual permite que essa transmissão seja realizada sem a necessidade de se fázer o doumload

de tt>do o conteúdo a ser transmitido antes de se ouvir a música ou assistir ao vídeo.

Além de a Constituição de 1988 ter incorporado os elementos do conceito de comu

nicação acima expostos, incorporou, também, como universo diverso, o conceito de servi

ços informáticos, que estão intrinsecamente ligados aos Serviços de Valor Adicionado, ou

seja, como serviços distintos daqueles de comunicação.

E

corroborando esse entendimento, dada a dificuldade de segregação conceituai, à luz

da tendência de convergência digital, a Lei Complementar n. 116/2003, no cumprimento

de seu papel de prevenir conflitos de competência tributária (art. 146,1, c/c seu inciso III,

"a ,

da CF/88), previu a incidência, pelo ISS, do serviço de streaming de áudio e vídeo no

subitem 1.09 da sua lista de serviços, com a alteração trazida pela Lei Complementar n.

157, de 29 de dezembro de 2016.

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