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ESPÉCIES ATUAIS DE CASAMENTO E DE UNIÃO ESTÁVEL

Álvaro Villaça Azevedo

SUMÁRIO: 1 Evolução do Casamento; 1.1 Origem. 2 Espécies Atuais do Casamento. 3 Interpretação do Art. 226 da CF. 4 Casamento Civil Típico; 4.1 Conceito e Natureza Contratual. 5 Casamento Civil Atípico. 6 Casamento Religioso com Efeitos Civis ou Casamento Religioso Autônomo; 6.1 Generalidades; 6.2 Meu Entendimento Quanto à Autonomia do Casamento Religioso; 6.3 Estatutos Religiosos; 6.3.1 Estatuto Católico; 6.3.2 Estatuto Judaico; 6.3.3 Estatuto Islâmico ou Muçulmano; 6.3.4 Estatuto Protestante; 6.3.5 Estatuto Espírita Kardecista; 6.3.6 Além de Casamento de outras Religiões que se Assentam em Normas Morais de Convivência; 6.4 Conclusão. 7 União Estável Típica; 7.1 Generalidades; 7.2 Conceito de União Estável no Código Civil. 8 União Estável Atípica. 9 Alguns Problemas a Serem Contornados. 10 Esboço de Projeto de Lei.

1 Evolução do Casamento

1.1 Origem

Na antiguidade, a família era, em geral, constituída por meio de celebrações religiosas ou por meio de simples convivência, conhecida como casamento de fato.

No direito romano, a mulher passava a integrar a família de seu marido, pela conventio in manum, sujeitando-se à manus, que era o poder marital, por uma das seguintes formas de constituição familiar: a) pela confarreatio, que consistia em uma cerimônia religiosa, reservada ao patriciado, com excessivas formalidades, com a oferta a Júpiter de um pão de farinha (panis farreum), que os nubentes comiam juntos, realizada perante 10 testemunhas e perante o Sacerdote de Júpiter (flamen Dialis); b) pela coemptio, casamento privativo dos plebeus, que implicava a venda simbólica da mulher ao marido, assemelhando-se, pela forma, à mancipatio; e c) pelo usus, que era o casamento pela convivência ininterrupta do homem e da

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2 mulher, por um ano, em estado possessório, que, automaticamente, fazia nascer o poder marital, a não ser que, em cada período de um ano, a mulher passasse três noites fora do lar conjugal (trinoctii usurpatio).

Além dessas formas de casamento, existiu o concubinato, em Roma, regulamentado, de modo indireto, à época do Imperador Augusto, pelas Lex Iulia e Papia Poppaea de maritandis ordinibus.

Embora tendo reprovado o concubinato, como forma de constituição de família, a Igreja Católica tolerou-o, quando não se cuidasse de união comprometedora do casamento ou quando incestuosa, até sua proibição pelo Concílio de Trento em 1563.

Ressalte-se, em verdade, que a existência do casamento, nos moldes de antigamente, sem os formalismos exagerados de hoje, não possibilitava, praticamente, a formação familiar sob o modo concubinário.

Realmente, bastava que um homem convivesse com uma mulher, por algum tempo, como se casados, com ou sem celebração religiosa, para que se considerassem sob casamento. Isso porque, nessa época, o concubinato puro, não adulterino nem incestuoso, que foi utilizado até adotar, hoje, o nome de união estável, como modo de constituição de família, era o casamento de fato, provado por escritura pública ou por duas testemunhas.

Esse o casamento de fato, que, sob a singela forma de convivência no lar, selava a união dos cônjuges, sob o pálio do direito natural.

O concubinato, portanto, existia somente adulterino, como concorrente e paralelamente ao casamento, de modo excepcional e desabonador da família.

Em matéria de casamento, no Brasil, vigoravam as regras religiosas do direito canônico.

Todavia, desrespeitando essa lei natural e simples da convivência, entendeu o legislador de criar formalismos ao casamento, concebendo-o de modo artificial, na

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3 lei, quando, em verdade, ele é um fato social, que a legislação deve regular somente no tocante a seus efeitos, para impedir violações de direitos.

Assim, editou-se, no Brasil, o Decreto nº 181, de 24 de janeiro de 1890, que secularizou o casamento. A partir dele, o formalismo tomou conta da legislação brasileira, em matéria de casamento, reeditando-se o sistema no Código Civil.

Com isso, deixou o Estado brasileiro não só de considerar o casamento de fato (por mera convivência duradoura dos cônjuges), bem como o casamento religioso, que, por si só, sem o posterior registro, era, e é, considerado concubinato puro, hoje, união estável. Não tem ele existência autônoma, independente, como antes deste Decreto de 1890.

2 Espécies Atuais do Casamento

Podemos dizer, então, que, após embates legislativos, doutrinários e jurisprudenciais, ficamos com as seguintes espécies atuais de casamento e de união estável: a) casamento civil típico; b) casamento civil atípico; c) casamento religioso, com efeitos civis, ou casamento religioso autônomo; d) união estável típica; e) união estável atípica.

3 Interpretação do Art. 226 da CF

Como sempre entendi, o art. 226 da Constituição Federal não é taxativo ao relacionar os modos de constituição familiar, como se pudesse o Estado mencionar no Texto Maior como deve o povo constituir sua família.

Desse modo, toda forma lícita de convivência no lar está albergada pelo texto constitucional de caráter enunciativo.

Assim, para enquadrar nesse artigo qualquer outra espécie de convivência matrimonial, não há necessidade de reforma constitucional, como reconheceram o

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4 Supremo Tribunal Federal e, especialmente, o Superior Tribunal de Justiça, que, recentemente, admitiu a existência de casamento homoafetivo.

4 Casamento Civil Típico

4.1 Conceito e Natureza Contratual

Ao estudar o conceito de casamento de Modestino 1, no direito romano, destaquei a existência, nele, de dois elementos fundamentais: a ligação física entre os cônjuges (coniunctio maris et foeminae) e sua ligação espiritual (consortium omnis vitae). De um lado, a matéria, e, de outro, o espírito.

Esses dois elementos gravam o casamento civil típico, como vem regulamentado pela legislação civil, até o atual Código.

Quando secularizou-se o casamento civil, guardou ele essa característica de contrato de direito de família entre um homem e uma mulher, à época indissolúvel, atualmente dissolúvel pela legislação do divórcio.

Pontes de Miranda 2 não nega, em princípio, em seu conceito de casamento, esse aspecto, quando afirma que "o casamento é contrato solene, pelo qual duas pessoas de sexo diferente e capazes, conforme a lei, se unem com o intuito de conviver toda a existência, legalizando por ele, a título de indissolubilidade (atualmente, de dissolubilidade do vínculo), as suas relações sexuais, estabelecendo para seus bens, a sua escolha ou por imposição legal, um dos regimes regulados pelo Código Civil, e comprometendo-se a criar e a educar a prole que de ambos nascer".

Aqui, o elemento diferenciador do casamento típico (diversidade de sexo).

1

DIGESTO, Livro 23, título II, frag. 1. 2

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5 Em complemento cite-se o conceito de Eduardo Espínola 3, segundo o qual "o casamento é um contrato que se constitui pelo consentimento livre dos esposos, os quais, por efeito de sua vontade, estabelecem uma sociedade conjugal que, além de determinar o estado civil das pessoas, dá origem às relações de família, reguladas, nos pontos essenciais, por normas de ordem pública".

Esses dois conceitos citados mencionam o casamento como um contrato de direito de família, não se confundindo com os demais contratos do direito civil.

O próprio Espínola 4 cita Francesco Degni, que admite que o casamento, "em sua constituição, é um verdadeiro contrato, para o qual a própria capacidade dos contratantes é rigorosamente firmada em lei especial, a intervenção da autoridade pública no ato não é constitutiva, mas declaratória ou confirmativa do mútuo acordo manifestado, pelos contraentes, vontade que visa a criação das relações jurídicas, que fundamentam a família de direito".

O tema sobre a natureza jurídica do casamento é bem contravertido, tendo eu preferido sua natureza contratual, no âmbito da família, em que os direitos e deveres entre os seus membros nascem de relações patrimoniais e ainda extrapatrimoniais, como é o caso do exercício do poder familiar 5.

Nosso Código Civil atual, como o anterior de 1916, deixa nítida a natureza contratual do casamento, quando acentua, em seu art. 1.514 (no art. 194 do Código de 1916), que o momento da realização matrimonial é do acordo de vontade dos nubentes de manterem esse vínculo conjugal que é declarado pelo juiz.

Vê-se que a realização do casamento é baseada exclusivamente nessa vontade recíproca, que é declarada pelo juiz. O casamento se constitui com essa vontade, tendo a atuação do juiz caráter meramente declaratório.

3

A família no direito brasileiro. Rio de Janeiro: Conquista, 1957. p. 49-50. 4

Ob. cit., p. 50. 5

Consultar: AZEVEDO, Álvaro Villaça. Dever de coabitação: inadimplemento. 2. ed. São Paulo: Atlas, São Paulo, 2009.

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6 No Código Civil, no art. 1.535 (art. 194 no de 1916), são mencionadas as palavras que o celebrante do casamento deve pronunciar, após a declaração de vontade dos nubentes, concordando com ela, nestes termos: "De acordo com a vontade que ambos acabais de afirmar perante mim, de vos receberdes por marido e mulher, eu, em nome da lei, vos declaro casados".

5 Casamento Civil Atípico

O casamento civil atípico é o que não foi regulado pelo Código Civil.

Ele difere do típico, porque é entre o mesmo sexo.

Bastaria dizer o Código que o casamento civil seria solene quando realizado entre pessoas, sem a discriminação da diversidade de sexo.

Ele é atípico, porque a lei civil não o regulamentou, ou melhor, não o admitiu. Teve-o de fazer, ante o caso concreto, especificamente, o Superior Tribunal de Justiça, que criou a figura jurisprudencial do casamento homoafetivo.

Como visto, o Superior Tribunal de Justiça admitiu o casamento homossexual ao julgar, por sua Quarta Turma, em 25.10.2011, o recurso de duas mulheres lésbicas do Rio Grande do Sul, que cassara autorização para a realização de casamento civil6.

Esse julgamento foi acolhido por quatro votos contra um, o do Ministro Raul Araújo, que entendeu ser a matéria de competência do Supremo Tribunal Federal.

Como visto, o Superior Tribunal de Justiça, ao autorizar o casamento civil entre mulheres 7, facilitou a vida dos "casais" homossexuais, que não mais necessitam de união estável reconhecida.

6

Tribuna do Direito, Direito de Família 1, nov. 2011, p. 18: REsp 1.183.378. 7

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7 Assim, de simples proteção de união de família que tinham esses "casais", com aplicação analógica da legislação da união estável, passaram a existir autonomamente como casados (casamento civil), enquadrada a união nas normas sobre esse casamento, no Código Civil.

Em seu voto, o Ministro-Relator Luis Felipe Salomão afirmou "que não é possível vetar aos casais homoafetivos os direitos garantidos aos heterossexuais. Impedir que se casassem (...) seria violar princípios expressos na Constituição".

Entendo que a competência do Supremo Tribunal de Justiça foi admitida corretamente, pois julgou matéria de direito de família e não exclusivamente de direito constitucional, embora estivessem presentes no julgamento vários princípios constitucionais. Aliás, atualmente, esses princípios integram as relações jurídicas, principalmente quando está presente a preservação da dignidade humana.

O casamento civil é instituto jurídico do direito civil da família, que sempre teve proteção, maior ou menor, nos textos constitucionais.

Tenha-se, mais, que o texto do art. 226 da Constituição Federal é de natureza enunciativa, cabendo nele o casamento homoafetivo como visto.

Pontifica-se, assim, o Poder Judiciário a resolver os problemas dos cidadãos, mesmo sem o apoio da legislação específica. Principalmente porque o Poder Legislativo tem sido expresso em negar a união homoafetiva, por ele celeremente reprovada, com duros termos dos segmentos religiosos que o integram, desde o projeto da Deputada Marta Suplicy, que era mais suave do que a atual decisão do Superior Tribunal de Justiça, pois não considerava a parceria homossexual como casamento.

Com essas decisões judiciais ainda não vinculativas, cada interessado, para a defesa de seus direitos homoafetivos, tem que recorrer ao Poder Judiciário, alegando os precedentes existentes para que seus direitos sejam reconhecidos, com aplicação analógica das regras do casamento civil típico.

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8 6 Casamento Religioso com Efeitos Civis ou Casamento Religioso Autônomo

6.1 Generalidades

É certo que a legislação vem considerando o casamento religioso com efeitos civis. Entretanto, ele nada tem a ver com o casamento religioso autônomo, que sempre existiu, antes do aludido Decreto nº 181, de 1890.

Abreviando citações, afora o Código Civil, a Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988 estabelece, no § 2º de seu art. 226, que o casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei. Portanto, o casamento continua a ser civil, só a ele se equiparando o religioso, se forem cumpridas as exigências legais. Não só o celebrante religioso como qualquer pessoa interessada poderá providenciar seu registro.

Continua devendo ser observada, portanto, toda a legislação examinada, que cuida da matéria.

Como bem se pode notar, afora as exigências da lei, para que o casamento religioso produza efeitos civis, é fundamental que seja ele levado a registro público. Todavia, esse registro, embora essencial, não é constitutivo do casamento, pois, realizado ele, o matrimônio opera seus efeitos desde quando celebrado. Isso quer dizer, em face da lei atual, que o casamento já existe em latência, no aguardo do cumprimento dessa formalidade. É como se essa união matrimonial fosse nascitura, sob condição de confirmar-se com o registro.

Elucidando sobre esse registro, mostra Antônio Chaves 8 que, antes que ele ocorra, "o casamento praticamente não existe aos efeitos civis", daí resultando a absurda situação de poder o casado religiosamente "contrair casamento civil válido, sob os olhos complacentes do direito". E não é só, aduz, pois, não sendo "inscrito no registro civil", no prazo de três meses, depois dele, somente os nubentes podem requerer esse registro de seu casamento religioso em conjunto. Cita, em seguida,

8

Casamento religioso (verbete). Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1978. v. 13. p. 453.

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9 um caso decidido por nosso Supremo Tribunal Federal, a demonstrar que os casados, no religioso, embora possam colocar-se no estado de casados, simplesmente registrando seu matrimônio, enquanto não o fizerem, continuam solteiros.

Fica, então, completamente desprestigiada a celebração religiosa, como os eventuais estatutos religiosos (como direito extralegal).

6.2 Meu Entendimento Quanto à Autonomia do Casamento Religioso

Entendo que deveria voltar a existir o casamento religioso, só com celebração religiosa, ao lado do casamento civil, com os formalismos abrandados. No tocante ao divórcio, essa simplificação já ocorreu.

Assim, com maior ou menor liberdade, teríamos o casamento sob todos os seus aspectos histórico existenciais mais importantes.

A sociedade moderna está repelindo os excessos de formalismo, com uma tendência ao casamento simples, do passado, principalmente o religioso autônomo.

É certo, pois os rigores de forma, hoje existentes no Brasil, datam do Decreto nº 181, de 1890, que instituiu, somente há pouco mais de cem anos, entre nós, o casamento civil. Antes, tudo era natural em matéria de casamento, como sempre foi no passado.

Todavia, ainda que existam as aludidas modalidades matrimoniais, preferindo a sociedade constituir família sob a forma de união estável, homoafetiva ou outra, não pode o Estado impedi-lo, por qualquer de seus Poderes. O Poder maior é do povo. O Estado deve regulamentar o que existe, impedindo lesões de direito.

E o povo pode querer constituir sua família somente pelo casamento religioso, independentemente do civil.

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10 6.3 Estatutos Religiosos

O casamento religioso será celebrado segundo as formalidades religiosas próprias, com a constituição de suas respectivas famílias.

6.3.1 Estatuto Católico

Assim, o estatuto católico encontra seus fundamentos no direito canônico, cujas fontes principais são as Decretais de Gregório IX de 1234, com o Livro Sexto de Bonifácio VII, o Corpus Ivris Canonici, inspirado nessas Decretais, Concílio de Trento, que restaurou o direito canônico, o Código de Direito Canônico de 1917 e o Código de Direito Canônico vigente de 1983.

O casamento religioso católico foi uma das formas mais importantes de constituição de família, reconhecida nas Ordenações Filipinas de 1603, até 24 de janeiro de 1890, quando foi editado o Decreto nº 181, que secularizou o casamento no Brasil.

espécie de casamento canônico sempre foi uma tradição do povo brasileiro.

Como visto, embora celebrado, a lei não reconhece a ele efeitos civis, se não obedecer às regras impostas do casamento civil. Verdadeira situação inconstitucional, que fere, também, a dignidade de quem se casa, sendo católico, sem o reconhecimento de seu casamento, permanecendo por outra imposição legal, como conviventes em união estável.

6.3.2 Estatuto Judaico

Quanto ao casamento judaico, ele é regulado pelo estatuto judaico.

A religião judaica encontra-se regulada pelas normas da Torah, que são os cinco livros de leis e mandamentos (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e

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11 Deuteronômio), recebidos por Moisés, no Monte Sinai, destinados por Deus ao povo de Israel.

O casamento judaico é uma expressão do plano divino, sendo obrigatório aos homens, para a propagação da espécie e facultativo às mulheres, com natureza contratual.

O casamento civil não é admitido em Israel, aplicando-se-lhe o direito religioso.

O sistema do casamento hebraico é bastante rígido, podendo ser admitido no sistema brasileiro, com autonomia, sem necessidade de celebração de casamento civil.

6.3.3 Estatuto Islâmico ou Muçulmano

O direito muçulmano admite a poligamia, podendo o homem ter até quatro mulheres legítimas com alguns direitos e honras, além das concubinas.

As esposas devem ser tratadas igualmente, podendo residir em casas separadas.

É evidente que, no direito brasileiro não é possível reconhecer, autonomamente, um casamento, seja religioso ou não, em um regime de poligamia.

Esse sistema só pode ser exercido sem que se contravenha o brasileiro, entretanto, esse casamento se realiza, valendo de acordo com os costumes da comunidade islâmica e sem contravenção com as normas brasileiras.

Esse exercício religioso, como qualquer outro lícito, é protegido por princípio constitucional brasileiro, como expressão da liberdade religiosa.

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12 6.3.4 Estatuto Protestante

Para o estatuto protestante, o casamento é uma instituição civil, sem caráter sacramental.

Os nubentes são livres para manifestar seu consentimento perante seu celebrante religioso ou perante o oficial civil.

6.3.5 Estatuto Espírita Kardecista

o casamento segundo os estatutos da Igreja Cristã Espírita Universal, programa-se nestes, que estão devidamente registrados, alicerçados na doutrina Kardecista explanada por Allan Kardec em suas obras fundamentais.

.3.6 Além de Casamento de outras Religiões que se Assentam em Normas Morais de Convivência

Essas regras, desde que não contravenham o sistema legal brasileiro, devem ser respeitadas para que as comunidades religiosas possam professar seus cultos com dignidade e respeito.

As regras na família, que nascem de uma união e que se exercem no lar e na comunidade religiosa, comandam as famílias que convivem mais com as regras morais e religiosas do que jurídicas.

6.4 Conclusão

Interpretando entendimento doutrinário, Yussef Said Cahali 9 lembra que, tendo sido proscrito da seara civil, "o casamento simplesmente religioso passou a se constituir mero concubinato, destituído de existência legal e validade".

9

Casamento religioso com efeitos civis (verbete). Enciclopédia Saraiva do Direito. São Paulo: Saraiva, 1978. v. 13. p. 457.

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13 Realmente, quando se secularizou o casamento, que passou a existir, tão somente civil, criou-se problema dos mais graves, aponta Washington de Barros Monteiro 10, pois "do ponto de vista estritamente legal, o casamento religioso não passava de mero concubinato, que não gerava qualquer direito. Por seu turno, perante a Igreja, o casamento civil era também uma união livre, contrária à moral religiosa".

Por todos esses inconvenientes, o legislador brasileiro buscou a solução de atribuir efeitos civis ao casamento religioso.

A realidade atesta que o casamento religioso não registrado, entre nós, atualmente, em face da legislação presente, reveste-se, mesmo, dessa roupagem de concubinato puro (união estável).

Todavia, o que restou patente foi a diferença, em verdade, entre o concubinato e o casamento religioso, que não é encarada pela legislação vigente.

Realmente, no concubinato, os parceiros não se sentem casados e vivem no estado de união livre. No casamento religioso, ao contrário, existe a posse do estado de casado, não entre cônjuges, mas entre pessoas que vivem como se casados fossem, perante a lei civil, sentindo-se como tal.

No casamento religioso, bem ou mal, existiu uma celebração oficiada por uma autoridade religiosa.

O que a lei permite, atualmente, é que o casamento religioso seja registrado para adquirir efeitos civis. Entretanto, como visto, para que surta esse registro, é necessário um processo de habilitação anterior ou posterior, o que importa, propriamente, o cumprimento dos mesmos requisitos do casamento civil. A diferença é que aquele celebrou-se por ministro religioso e este por autoridade civil, com

10

Curso de direito civil: direito de família. 36. ed. atual. por Ana Cristina de Barros Monteiro França Pinto. São Paulo: Saraiva, 2001. p. 74.

(14)

14 prévia habilitação. Todavia, também a celebração do casamento civil pode ser deferida à autoridade eclesiástica.

Por isso, de iure constituendo, há que se admitir na lei essa diferenciação, entendendo-se o casamento religioso como autônomo, valendo, por si só, por seus próprios atos constitutivos, no âmbito de cada religião, com seu respectivo estatuto religioso. Desse modo, é de considerar, de iure constituendo, a celebração religiosa, sem formalidades registrais no registro civil, não mero concubinato, ou união estável, mas casamento autônomo.

7 União Estável Típica

7.1 Generalidades

A primeira lei que regulamentou o § 3º do art. 226 da Constituição Federal foi a Lei nº 8.971, de 29.12.94, que assegurava aos concubinos direito a alimentos e a sucessão.

A segunda lei, que regulamentou o aludido texto constitucional, foi a Lei nº 9.278, de 10.05.96, fundada no meu esboço de anteprojeto de lei 11, utilizado pela Deputada Beth Azize, em seu Projeto de Lei nº 1.888, de 1991, com a constante presença do grupo CFEMEA, de Brasília, que apresentou novo conceito de união estável, que é, na essência, o estampado no art. 1.723 do atual Código Civil.

7.2 Conceito de União Estável no Código Civil

O conceito de união estável no atual Código Civil, nos moldes do caput do art. 1.723, é o mesmo constante do art. 1º da Lei nº 9.278, de 1996, apresentando-se com seus elementos essenciais. Ela não abarca a união homossexual, que, constitucionalmente, e no citado art. 1.723, é a convivência, sem casamento, de um homem e uma mulher, sendo também pública, contínua e duradoura.

11

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15 Funda-se ela no intuito de constituição de família, ainda que se desenvolva em tetos separados (Súmula nº 382 do STF).

Não havendo contrato escrito entre os conviventes, aos bens adquiridos, por um ou por outro, durante a união, aplicam-se as regras do condomínio.

A união estável pode converter-se em casamento, desde que nenhum dos conviventes seja casado.

8 União Estável Atípica

Ao seu turno, a união estável atípica ocorre da mesma forma que a típica, somente entre pessoas do mesmo sexo.

Muitas vezes, pessoas do mesmo sexo procuram proteção com sua convivência estável, mas não pretendendo se casar.

Essa união estável atípica apresenta uma singularidade, que impede sua conversão em casamento se um dos conviventes for casado.

O mesmo acontece, como visto, no casamento atípico, no qual pode um dos conviventes do mesmo sexo ser casado, ainda que separado de fato ou juridicamente de seu cônjuge.

9 Alguns Problemas a Serem Contornados

1) Pode haver divórcio do casamento religioso com efeitos civis?

Se o casamento for celebrado pelo rito canônico e com habilitação, anterior ou posterior, diz-se casamento com efeitos civis.

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16 O divórcio não é admitido entre os católicos, que podem, entretanto, optar por ele.

Se o casamento for protestante, judaico, pode haver divórcio.

O mesmo não acontecerá no casamento religioso puro, se for católico, por exemplo.

2) Será necessário fazer registro?

Sim, tão somente para declarar-se ao Estado sua existência.

A entidade religiosa comunicará ao Estado (Registro Civil, com livro próprio, somente noticiando o enlace).

3) Seriam aplicáveis aos casamentos religiosos, no que couber, a legislação nacional? Sim.

4) Exemplo: casamento muçulmano é válido? Sim.

Mas não pode contrariar a legislação nacional.

Exemplo: marido com 4 mulheres não poderá divorciar-se pela lei civil. Aplica-se o estatuto religioso do Alcorão.

5) Em caso de litígio, serão aplicadas as normas religiosas do estatuto próprio da religião das partes. Estatuto extralegal.

10 Esboço de Projeto de Lei

"Art. 1º Podem os interessados casar-se pelo casamento religioso ou espiritual por seus respectivos estatutos religiosos, sem qualquer celebração estatal.

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17 Art. 2º O Estado reconhece esse casamento religioso autônomo, mas sem conflitar com as normas da legislação nacional, sob pena de ineficácia.

Art. 3º Realizado o casamento, a autoridade religiosa comunicará sua realização, para constar em livro próprio do Registro Civil.

Art. 4º A prova do casamento religioso consiste na certidão extraída do assento matrimonial de sua celebração.

Art. 5º Ao casamento religioso aplica-se, no que couber, a legislação civil, quando a do estatuto for insuficiente, se requererem ambos os cônjuges.

Art. 6º A competência para conhecimento da matéria é, além da jurisdição eclesiástica, a das Varas de Família, observado sempre o segredo de justiça. Esta lei terá vigência a contar de seis meses de sua promulgação.

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