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44º Encontro Anual da ANPOCS, GT14 - Elites, Espaços e Formas de Dominação. 2

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A ascensão dos periféricos: uma análise da recomposição do

espaço do liberalismo econômico brasileiro a partir do Ministério

da Economia de Paulo Guedes (2019-2020)

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Caroline Scherer (UFRGS)

1. Introdução

O ano de 2018 marca a eleição do governo de Jair Bolsonaro à Presidência da República. O deputado federal, capitão do Exército e paraquedista, histórico opositor do fim da ditadura militar, chega ao governo por meio de uma coalizão envolvendo militares, tecnocratas neoliberais, evangélicos e ativistas do campo conservador-liberal2. Ancorando sua campanha à Presidência no uso massivo de redes sociais, o candidato logrou, pela primeira vez em eleições presidenciais após o período Collor, eleger-se sem base partidária sólida e com diminuto tempo de campanha na televisão. A candidatura de Bolsonaro, a princípio frágil pela fraca base de apoio dos atores políticos, se fortalece com o apoio dos militares e do economista Paulo Guedes, não identificado com nenhum dos governos do período democrático.

O Ministério da Economia, espaço institucional em que economistas, bacharéis em Direito, engenheiros e administradores alinhados à doutrina liberal logram inserir-se será o objeto de análise deste artigo. Relacionados ao contra-público liberal (ROCHA, 2018) por frequentarem circuitos acadêmicos e políticos comuns, são identificados como os dominantes do campo neoliberal, ascendendo a altas posições dentro da estrutura do governo recém-conquistado por mobilizarem capital cultural e econômico que lhes são particulares. Os capitais mobilizados pelos dominantes são adquiridos no espaço acadêmico e econômico do Brasil, dos EUA e da Europa Ocidental, sendo a internacionalização da carreira fundamental aspecto de destaque dos dominantes.

Os tecnocratas liberais do governo de Jair Bolsonaro situados no Ministério da Economia regido por Paulo Guedes defendem a aplicação de políticas econômicas adotadas em escala global a partir do Consenso de Washington (1990). De início, o Consenso defendeu

1 44º Encontro Anual da ANPOCS, GT14 - Elites, Espaços e Formas de Dominação.

2 O contra-público liberal se organizou em torno de comunidades virtuais de debate, think tanks de cunho liberal

como o Instituto Liberal, o Instituto Ling, o Instituto de Estudos Empresariais, entre outras iniciativas. Partidariamente, houve organização dos liberais no DEM, PSC, PSL e Novo, sendo o último partido aquele que congrega, a partir de 2018, a maioria do contra-público liberal formado no ciclo 2006-2018. Para maiores detalhes, ver Rocha (2018).

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mudanças institucionais que tiveram como resultado desregulamentação financeira, privatização de empresas públicas, priorização do controle inflacionário pela política macroeconômica, controle dos gastos públicos pelos estados nacionais e a expansão de um padrão de consumo estadunidense, ancorado na expansão da hegemonia do dólar em escala global (EICHENGREEN, 2000) (HARVEY, 2008). A adoção da doutrina econômica chamada neoliberal por governos na América Latina é identificada com a ação política dos economistas e dos juristas (DEZALAY; GARTH, 2002) (ENGELMANN, 2012, 2013), sendo o do governo chileno sob o regime Pinochet um caso pioneiro da aplicação deste programa na América Latina, liderado pelos economistas formados na Escola de Chicago (DEZALAY; GARTH, 2002) (ROBINSON, 2008) (LOUREIRO, 2006).

Camila Rocha (2018) aponta que o Instituto Liberal localizado em Porto Alegre e no Rio de Janeiro são pilares fundamentais na organização do espaço dos think tanks e na promoção do liberalismo econômico no Brasil. Em entrevistas feitas com militantes políticos da causa liberal, os entrevistados relatam não confiar no Instituto Liberal de São Paulo, considerando que o instituto não seria liberal, e sim social democrata. Há confiança na defesa do liberalismo nas sedes localizadas no Rio de Janeiro e em Porto Alegre. O Rio de Janeiro é sede da PUC-Rio e da Fundação Getúlio Vargas (LOUREIRO, 1996, 1997, 1998), importantes centros acadêmicos vinculados a esta corrente de pensamento no país. Contemporaneamente estruturados pelos Chicago boys, os cursos de Ciências Econômicas dessas instituições são reconhecidos pelo ensino de fundamentos econômicos alinhados ao liberalismo. A PUCRS, por sua vez, é sede do Fórum da Liberdade, principal evento público do espaço liberal brasileiro. Porto Alegre é também sede do Instituto Ling, importante financiador das atividades do Instituto Liberal, e capital onde opera a empresa Gerdau, cujo fundador é entusiasta e financiador das atividades do Instituto. Rocha (2018) apresenta material que mostra como o internacional foi mobilizado na legitimação dos liberais organizados em torno de think tanks no Brasil a partir de 1970, manifestadas na busca por legitimação de ideias a partir da mobilização e tradução de autores estrangeiros como Hayek e na mobilização de capital cultural, social e econômico proveniente de redes referenciadas em fontes americanas e inglesas.

Do acima descrito, nota-se que o campo acadêmico, o campo econômico, o campo do poder e os fenômenos ocorridos na esfera pública relacionados à ascensão política dos novos tecnocratas liberais estão entrelaçados. Universidades e think tanks situados principalmente no Rio de Janeiro e em Porto Alegre são centros de formação acadêmica, formação política e socialização relacionados à formação dos tecnocratas e ativistas. É em 2018 que esses ativistas

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e tecnocratas chegam aos mais altos postos do governo federal, logrando especial destaque na condução do Ministério da Economia. O período é análogo à ascensão econômica de novos agentes do espaço de promoção do liberalismo econômico, que inserem-se em atividades financeiras internacionalizadas, fato propiciado pela digitalização. Identificado nosso tema de análise, fazem-se necessários alguns esclarecimentos conceituais.

2. Dominantes do espaço de promoção do liberalismo econômico: alguns conceitos

Neste trabalho, fala-se em dominantes de acordo com os entendimentos de Pierre Bourdieu. Os dominantes devem ser entendidos sempre dentro do espaço social em que existem: o campo. O conceito de campo é um conceito sociológico traçado por Bourdieu, identificando que a sociedade como um todo é composta de diferentes campos (o acadêmico, o político, o artístico, o religioso, entre outros). O espaço social corresponde ao todo de cada sociedade, englobando suas instituições, chamadas estruturas. Objetivamente, elas tendem a corresponder às instituições de ensino básico e superior, às empresas, às famílias, ao Estado e a outras estruturas que possam existir dentro de cada sociedade. As relações recorrentes entre os agentes que circulam e integram as estruturas vão moldando os campos, que existem na medida em que as interações sociais os criam. Cada campo é um microcosmo próprio, tendo as próprias regras de estruturação que definem a diferenciação entre os agentes. As regras, denominadas doxa, são determinadas pelos dominantes e aceitas pelos dominados, que em suas relações legitimam os critérios de hierarquização do campo.

Os dominantes no espaço social correspondem aos que concentram maior capital global, medido em termos de capital cultural e econômico combinados. Dominante em um campo específico é o agente que concentra os capitais necessários para a ascensão e permanência na posição superior dentro do campo específico em que atua, podendo ou não corresponder à fração dominante no espaço social geral, à qual se reconhece por constituir o campo do poder. Sendo o campo um espaço social, ele não é absoluto: há articulação entre capitais oriundos de diferentes campos mobilizados pelos agentes de um campo específico; há também espaços híbridos entre os campos, em que diferentes formas de capital podem ser encontradas e mobilizadas de forma variável. Tal seria o espaço, de acordo com Medvetz (2012), dos think tanks nos Estados Unidos, fenômeno que se amplia para o âmbito global com a profusão de think tanks e organizações internacionais (SALAS-PORRAS; MURRAY; 2017).

A ascensão dos dominados é possível na circunstância de que estes logrem uma estrutura de capital global que lhes legitima a tornarem-se dominantes dentro do campo. Os capitais válidos para ascender-se à posição de dominante em um campo são específicos, não sendo

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automática a reconversão de capitais de um campo para o outro. Alta concentração de capital cultural, que tem como um dos indicativos a aquisição de títulos escolares em instituições de elite, é fundamental para lograr e manter a posição de dominante no campo cultural e no campo do poder. Os capitais fundamentais, passíveis de serem convertidos em recursos no campo do poder, são o capital cultural e o capital econômico. Acerca da relação do capital cultural, em geral adquirido na família, nas instituições de ensino e, posteriormente, na trajetória profissional, traçamos alguns pontos.

Bourdieu (1996), abordando a relação entre universidades de elite e a construção do Estado faz investigação acerca das origens sociais e trajetórias acadêmicas das elites de Estado, a qual apresenta que os altos postos do Estado e das empresas na França têm estreita relação com a universidade frequentada pelos ocupantes de altos postos nas hierarquias. Assim, pode-se falar em universidades formadoras da alta burocracia de estado, que pode-seriam responsáveis por transmitir conhecimentos e práticas acerca da gestão do estado a grupos sociais específicos. O capital acadêmico mostra-se então fundamental na reprodução do campo do poder, do Estado e das hierarquias dentro das grandes instituições francesas.

Dezalay e Garth (2002) descrevem como as disputas entre economistas e juristas – os tecnocratas – entre os anos 1960 e 2000 assumiram caráter internacional na América. Ambas categorias dependiam de estudos nos EUA a fim de adquirir formação técnica e de legitimarem-se no campo nacional, fato que ocorria entre keynesianos, mais identificados com o estruturalismo de Celso Furtado e Raul Prebisch, e também entre liberais, identificados com a Escola de Chicago. Maria Rita Loureiro (1996, 1998, 2006) identifica a ascensão dos economistas aos altos postos da burocracia de Estado no Brasil nos anos 1990 e 2000, identificando como a circulação internacional dos economistas é fator de legitimação destes dentro do campo dos economistas. As disputas entre centros de formação em Economia – USP, PUC-SP, FGV e PUC-Rio sendo os centros ortodoxos; Unicamp sendo o principal centro heterodoxo - tem relação com as políticas econômicas por eles defendidas e com as rivalidades encontradas no campo político e burocrático.

Considerados estes pontos, entende-se neste trabalho que os tecnocratas neoliberais em análise são agentes ascendentes no campo neoliberal, frequentadores dos setores até então dominados do campo. Têm como fundamento de sua legitimidade a formação acadêmica, a trajetória profissional, a socialização no espaço dos think tanks e a circulação internacional. Atualmente, ocupam posição de dominantes no campo do poder por formação acadêmica, trajetória profissional e disposição de capital econômico, utilizando deste capital adquirido para moldar o Estado e o mercado. As ações empregadas por estes atores são fundadas em

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entendimentos importados de centros universitários anglo-americanos neoliberais e de organizações internacionais como o Fórum Econômico Mundial, os quais constituem fonte de conhecimento mobilizado pelos atores na proposição e execução das políticas adotadas. O conhecimento é fundamental na ação do tecnocrata, não sendo utilizado apenas como critério de legitimação interna. Pela centralidade do conhecimento na ação deste tipo específico de político – embora ele não se entenda como tal – e pelo fato de que o capital é adquirido em centros universitários neoliberais, entende-se que estamos diante do fenômeno da ascensão do tecnocrata neoliberal no Ministério da Economia.

Trabalhos recentes, como o de Juvin (2017) acerca do chamado “capitalismo do caos” apontam como a pressão por adoção de marcos legais estadunidenses dentro dos estados nacionais está relacionada à expansão de um sistema econômico e financeiro estadunidense, o qual abarca bancos e as grandes corporações de Big Tech, em especial das chamadas GAFA (Google, Apple, Facebook e Amazon). Combinada com ação de ONGs e de instituições políticas internacionais, as pressões pela adoção de marcos legais alheios às tradições jurídicas e políticas nacionais seria um meio de promover a expansão do espaço econômico dos EUA, ainda que para isso seja necessário acabar com estados nacionais e com sociedades inteiras organizadas dentro deste marco.

O processo de digitalização, além de estar relacionado à ação de círculos internacionais de ativismo dentro de estados nacionais no que tange à defesa de políticas de combate à corrupção (JUVIN, 2017) (LEBÈGUE, 2017), também guarda estreita relação com o processo de globalização da finança e do mercado de consumo. Processos interligados, sua relação jaz na fusão da finança com os avanços na área de tecnologia da informação, que propiciaram a criação de um sistema financeiro e de um mercado consumidor global assentados na hegemonia internacional do dólar e na expansão digital, que tem como origem e centro dinâmico o circuito acadêmico, militar e empresarial dos EUA (JABLONSKI; POWERS, 2015) (MEDVETZ, 2012) (FONSECA FILHO, 2007).

A incorporação de vastos mercados consumidores até então nacionais à hegemonia do dólar ocorre em paralelo a transformações ocorridas no setor financeiro. Na década de 1970, a adoção de computadores por instituições do setor financeiro, tais como bancos centrais, bolsas de valores e bancos de varejo, permitiu o registro eletrônico de títulos de crédito3, de ações de

empresas e da própria contabilidade das instituições. Conforme ocorreu a expansão do uso de computadores e de conexão à internet pelo público em geral, que se deu a partir de 1990 com a

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invenção do computador pessoal de mesa e de 2000 com a massificação dos serviços de banda larga, as possibilidades de oferta de serviços financeiros transformam-se radicalmente (TANDA; SCHENA, 2019).

Dado este quadro, ficam constatados alguns pontos. Primeiro, que o circuito acadêmico neoliberal deu origem a novas formas de atuação política na esfera pública e a tecnocratas neoliberais que têm papel notável na condução da administração pública brasileira a partir de 2018. Segundo, que a ascensão deste campo ocorre em processo concomitante à digitalização dos negócios e da atividade política, processo com os quais os agentes do espaço econômico neoliberal têm maior familiaridade em função da posição que guardam devido à sua inserção profissional, contato e inclusão no campo do poder global. Seguimos para a análise dos tecnocratas do Ministério da Economia, a qual deve esclarecer alguns pontos acerca do perfil específico desses tecnocratas e das relações de poder dentro do campo neoliberal que sua ascensão reflete.

3. O Ministério da Economia de Paulo Guedes: origem e tecnocratas

Nesta seção, serão analisados os perfis dos tecnocratas do Ministério da Economia. A metodologia empregada na condução do estudo foi a análise documental. As fontes são as Leis, regulamentos, currículos, publicações, notícias e relatórios disponibilizados no website do Ministério da Economia relativas ao período iniciado em janeiro de 2019 e encerrado em abril de 2020. A delimitação de tempo ocorre em função da disponibilidade de informações e tendo por preocupação propiciar uma análise que englobe a ascensão dos tecnocratas e sua ação desejada em situações normais, não refletindo decisões relativas ao período de pandemia de coronavírus. Não foram verificadas as edições do Diário Oficial da União. Esta análise é parcial, sendo necessário aprofundamento a partir de fontes jornalísticas e de perfis em redes sociais dos atores identificados. Para fins deste trabalho, foram consideradas verdadeiras as informações disponibilizadas pelo Ministério. No currículo e perfil público disponível no website, foram procuradas informações acerca de graduação, pós-graduação e trajetória profissional dos atores, que são de livre acesso. Tais informações estavam disponíveis na maioria dos casos, sendo exceção a indisponibilidade da informação. Vamos, então, ao Ministério.

O Ministério da Economia foi criado em 1º de janeiro de 2019 por meio da Medida Provisória 8704, que estabeleceu a estrutura do governo federal. Este Ministério passou a

4 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Mpv/mpv870.htm. Acesso em 14

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integrar a partir de então as funções dos extintos Ministério da Economia, integrando atribuições dos ministérios da Fazenda, do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, e do Trabalho. Primeiramente, a estrutura regimental do Ministério foi definida pelo Decreto nº 9.679, de 2 de janeiro de 2019, com alterações do Decreto nº 9.745, de 08 de abril de 2019 e do Decreto nº 10.072 de 18 de outubro de 2019.

A atual estrutura regimental do Ministério da Economia é dada pela Lei nº 13.844, de 18 junho de 20195. Os principais postos do Ministério da Economia, de acordo com o organograma constante no website6 e com a supracitada Lei, são:

0. Ministério da Economia (ME), Cargo Nível 6

0.1 Gabinete do Ministro (GME), Cargo Nível 5 0.2 Assessoria Especial (ASSESP), Cargo Nível 6

0.3 Assessoria Especial de Relações Institucionais (ASSERI), Cargo Nível 6 0.4.1 Secretaria Executiva (SE), Nomeação Especial

0.4.2 Secretaria de Gestão Corporativa (SGC), Cargo Nível 6

0.5 Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos (AEAE), Nomeação Especial7

A ordenação é de elaboração própria, baseada nas informações disponibilizadas no organograma. A numeração ocorre de acordo com a disposição informada no organograma. Cargos Nível 6 e de Nomeação Especial constam como chave no website do Ministério, sendo o perfil com foto acessível diretamente no website. Cargos de Nível 5 podem ser mapeados a partir do organograma, correspondendo às Diretorias subordinadas às Secretarias e às funções administrativas realizadas no Gabinete do Ministro – são níveis hierárquicos mais baixos dentro da grande estrutura, não considerados para fins desta análise.

Diretamente subordinados à estrutura central, sendo cargos de Nomeação Especial constam a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e as demais Secretarias. Há, ainda, órgãos colegiados de suma relevância para o Sistema Financeiro Nacional, como o Banco Central do Brasil e o Conselho Monetário Nacional, os quais não foram analisados neste trabalho. A estrutura administrativa do Ministério segue conforme o disposto:

5 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2019/Lei/L13844.htm. Acesso em 14 de

julho de 2020.

6 Fonte: Ministério da Economia, Organograma. Disponível em:

https://www.gov.br/economia/pt-br/imagens/organograma_v11.pdf/. Acesso em 14 de julho de 2020.

7 A Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos tem como Chefe de Assessoria Especial Daniella Marques

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1. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) 2. Secretaria Especial da Fazenda (FAZENDA)

3. Secretaria Especial da Receita Federal do Brasil (RFB) 4. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho (SEPRT)

5. Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (SECINT) 6. Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados (SEDDM) 7. Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade (SEPEC) 8. Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital (SEDGG) 9. Secretaria Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (SEPPI)

Dentre os cargos identificados correspondentes às Secretarias e Assessorias, são sete (7) os economistas ocupantes de posições dominantes na organização. Eles ocupam os postos mais altos na hierarquia do Ministério, entre os quais Ministro da Economia, Assessor Especial de Relações Institucionais, Secretário Executivo, Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade. Os bacharéis em Direito são seis (6), ocupando também altos postos, entre os quais destaca-se o de Procurador-Geral da Fazenda Nacional, Secretário Especial de Previdência e Trabalho e Secretário Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital. Há três (3) graduados em Administração, dentre eles o Secretário Especial da Receita Federal e Secretário Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados. Os graduados em Ciências Exatas (engenheiros, físicos e matemáticos) somam quatro (4), entre eles o Secretário Especial de Fazenda. Os demais graduados nessa categoria são secretários adjuntos. Por fim, formados na área de Ciências Sociais e Relações Internacionais somam três (3), sendo que dois deles também são graduados em Economia ou Direito. O único cargo ocupado por graduada na área é o de Secretária Especial Adjunta de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais. Em todo o organograma correspondente aos mais altos postos da hierarquia, há apenas duas mulheres.

Todos ocupantes de postos no nível analisado realizaram a graduação no Brasil, sendo a internacionalização da carreira decorrente de cursos de pós-graduação. Os capitais acadêmicos mobilizados são oriundos de universidades localizadas nos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, São Paulo e Minas Gerais. Não há nenhum ocupante de alto posto no Ministério oriundo da região nordeste do país, sendo predominante a origem dos estados da região sul, sudeste e do Distrito Federal.

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É prevalente o perfil de graduados em Economia e Direito, sendo também constante a pós-graduação nessas áreas. Além delas, é frequente a realização de pós-graduação no exterior em Gestão Pública, Liderança e Direito e Economia (Law and Economics). Os cursos de pós-graduação são tanto de curta duração, como os voltados à Liderança e Gestão, como de maior duração, a exemplo dos cursos de mestrado e doutorado na área de Economia. Entre os detentores de título de mestrado acadêmico e de doutorado graduados no Brasil, destaca-se a formação na UnB e UFRGS, também com um doutor pela USP. Os doutores com título nacional são em geral os bacharéis em Direito, sendo também estes que realizam cursos de pós-graduação na Europa Continental. Os oriundos da área de Economia e Ciências Exatas com título de mestre e doutor tiveram trajetória acadêmica em universidades dos EUA. Os que realizam pós-graduação em Gestão e Liderança tiveram trajetória acadêmica nos EUA ou na Inglaterra.

Destaca-se o baixo peso relativo de oriundos do estado de São Paulo e do circuito acadêmico da área de Economia deste estado. Não há economistas formados na USP, Unicamp e PUC-SP no mais alto escalão do Ministério, predominando os graduados em Economia na UnB e UFRGS. Também estão ausentes economistas formados na PUC-Rio, que é considerada um ponto central na constituição e difusão de políticas econômicas neoliberais no Brasil. Na área de Direito, Ciências Sociais e Relações Internacionais, há detentores de diplomas da USP em cursos de mestrado e doutorado.

A ausência dos economistas de São Paulo e da PUC-Rio, identificados com a elaboração e implementação das políticas econômicas dos governos presididos por PT e PSDB, significa uma ruptura com o circuito acadêmico até então dominante na área econômica do governo federal. A ausência de economistas dessas duas instituições indica não apenas que houve uma ascensão neoliberal relacionada ao campo acadêmico no Brasil, mas que essa ascensão ocorre no sentido de promover os periféricos dentro do espaço neoliberal. Em que pese as diferenças entre as três universidades paulistas e a PUC-Rio8, as políticas econômicas implementadas pelos seus economistas a nível federal são consideradas por Paulo Guedes como parte do consenso socialdemocrata até então vigente, prejudicial ao país e às contas públicas. A ascensão de economistas com trajetória na UnB, UFRGS e centros de pós-graduação no Rio de Janeiro alheios à PUC-Rio, até então periféricos no circuito nacional e no próprio campo acadêmico neoliberal, quebra a dinâmica dominantes-dominados outrora existente no campo.

8 Unicamp identificada com política econômica heterodoxa; PUC-SP e USP consideradas mais próximas à

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Entre os formados em Direito, destaca-se o estudo da Economia a realização de cursos de pós-graduação em Economia e Direito (Law and Economics). O movimento Law and

Economics é periférico no âmbito do Direito9, em especial entre os bacharéis brasileiros com

carreira na burocracia de Estado. Essa trajetória acadêmica e profissional, que tem sido mais comum no setor privado e nos grandes escritórios de advocacia10, era exceção no setor público. Sob o Ministério da Economia de Paulo Guedes, a formação é frequente, o que representa uma mudança de perfil entre os bacharéis em Direito atuantes nos mais altos postos da burocracia de Estado.

O relevante quantitativo de graduados em Ciências Exatas também é digno de nota. Pós-graduados em Economia e Gestão no exterior, esse perfil é atípico dentro do que se espera ser o perfil do burocrata de Estado, comumente graduado em Economia e Direito. A ascensão a postos mais altos por este perfil está relacionada à aplicação de políticas de governo visando a digitalização de serviços públicos e a reengenharia do Estado, função para a qual os profissionais de Ciências Exatas são recrutados. O mesmo vem ocorrendo no setor financeiro, que diante das possibilidades de oferta de serviços abertas pela digitalização vem recrutando profissionais graduados em áreas tecnológicas, com destaque para Engenharias, Estatística e Ciências da Computação.

A concertação entre economistas neoliberais, bacharéis em Direito pertencentes ao campo de law and economics e profissionais da área de tecnologia da informação encontrada no Ministério corresponde à concertação entre esses profissionais que já vem ocorrendo no setor financeiro em âmbito privado, a qual tende a ser mais frequente com a emergência das fintechs e dos serviços bancários digitais. O setor financeiro vem empregando diferentes tecnocratas; estes, pelo perfil encontrado, também tendem a ocupar posições de poder relevantes dentro da burocracia de Estado.

No Quadro 1, é apresentado um apanhado geral dos capitais mobilizados pelos ocupantes de altos postos no Ministério da Economia. O capital acadêmico mobilizado foi dividido, para fins analíticos, entre nacional e internacional. Além do capital acadêmico, é também mobilizado capital profissional adquirido no campo econômico, midiático, de think tanks e de organizações internacionais. À esquerda, tem-se os campos identificados; à direita, as instituições pertencentes a cada campo encontradas no perfil dos agentes.

9 O movimento law and economics tem origem nos anos 1960 na Universidade de Chicago (EUA), tendo como

pando de fundo movimento por articulação com as Ciências Econômicas. Ver Engelmann e Bandeira (2017).

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Quadro 1 – Campos e Organizações Acadêmico

nacional

UnB, UFMG, UFRGS, FGV-RJ, FGV-DF, IMPA, Faculdades Ibmec, IESB, Centro Universitário de Brasília, UniCEUB, UFRGS, USP, ITA, UNIMAR, FUMEC, Uerj, Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais, PUCRS, UFLA

Acadêmico internacional

Chicago University (EUA), École Nationale D'Administration (França), Harvard - John F. Kennedy School of Government (EUA), Universidade de Bolonha (Itália), Universidade de Viena (Áustria), University of Michigan (EUA), University of Cambridge (Inglaterra), University of Pennsylvania (EUA), London Business School (Inglaterra), Columbia University (EUA), University of California (EUA), Georgetown University (EUA).

Econômico Banco Pactual, Abril Educação, BNDES, Localiza Rent a Car S/A, Ecoagro, Bancos Votorantim, Bradesco, Fram Capital Asset Management, Redecard, JP Morgan, Webforce Venture,

WeWork Brasil

Midiático Folha de S. Paulo, O Globo, Exame, Época, Forbes, Harvard Business Review

Think tanks Instituto Millenium, IPEA, BRICLab (Columbia), LIDE – Grupo de Líderes Empresariais

Organizações Internacionais

BID, FMI, ONU, World Economic Forum, Governo do Reino Unido, International Chamber of Commerce

Fonte: Ministério da Economia. Elaboração própria.

O quadro revela que há um entrelaçamento entre universidades brasileiras, universidades estrangeiras, empresas, veículos midiáticos, think tanks e organizações internacionais que estruturam o campo do poder visível no Ministério da Economia. Os dominantes nas Assessorias relacionadas à gestão privada da Economia e o próprio Ministro mobilizam capitais relativos a todos os campos identificados como constituintes do campo do poder, tendo sido dominantes também no campo econômico, acadêmico e de think tanks. Os assessores com carreira no Estado que ocupam posições de assessoria relacionadas à gestão do Estado destacam-se pelos títulos de doutorado e pela graduação em Direito, mas não transitam por todos campos identificados, tampouco têm histórico de ocupar posição dominante em campos que não o de organizações internacionais e burocracia de estado. Uma análise mais detida da trajetória dos dominantes revela estes pontos11.

11 Há perfis em que datas de conclusão de curso de graduação estão indisponíveis, motivo pelo qual não foi feita

análise mais detida acerca das diferentes gerações a ocuparem os postos no Ministério. Tal análise deve ser feita ao expandir-se o universo de fontes coletadas.

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O Ministro da Economia, Paulo Roberto Nunes Guedes, nasceu em 1949, cursou graduação em Economia na Universidade Federal de Minas Gerais, mestrado na Fundação Getúlio Vargas e doutorado na Universidade de Chicago. Foi professor da PUC-RJ, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA). Fundador do Banco Pactual, da Abril Educação, das Faculdades Ibmec e do Instituto Millenium, foi colunista dos jornais Folha de S. Paulo e O Globo e das Revistas Exame e Época. Foi sócio de gestoras de recursos e CEO da Bozano Investimentos, no Rio de Janeiro.

Da trajetória do mais alto posto do Ministério, nota-se uma sobreposição entre os espaços político, econômico, midiático e acadêmico. Paulo Guedes é doutor em Economia pela Universidade de Chicago, fundador de diversos grupos empresariais, instituições de ensino, think tank e colunista em jornais de grande circulação. Cada uma dessas organizações é estruturante de um espaço social distinto. Guedes circula e é responsável pela estruturação de várias delas. Do perfil dele, nota-se que o campo do poder correspondente à área de Economia não é passível de ser distinguido do campo econômico e do campo acadêmico, funcionando em plena articulação com estes. Nota-se, também, que o campo acadêmico internacionaliza a carreira do ator, sendo o PhD em Chicago critério de distinção entre o Ministro e os demais atores.

Na Assessoria Especial, tem-se o Chefe de Assessoria Especial Marcelo de Siqueira Freitas. Concluiu a Graduação em Direito na UnB (1999) e estudou Especialização em Senior Managers in Government em Harvard (2014), na John F. Kennedy School of Government (KSG) nos EUA e Especialização em Management in the Public Sector (2015) na École Nationale D'Administration (ENA) na França. Sua carreira é integralmente vinculada à burocracia de estado. É Procurador Federal desde 2000, tendo sido Consultor da União (2004/2007), Subprocurador-Geral Federal (2007/2008) e Procurador-Geral Federal (2008/2015) da Advocacia-Geral de União. Foi Secretário Executivo do Ministério da Previdência Social (2015), Assessor-Chefe da Assessoria Especial da Casa Civil da Presidência da República (2016) e Diretor das Áreas Jurídica e de Integridade, Controladoria e Gestão de Riscos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES (2016/2018). Nota-se que em sua trajetória mobiliza capitais do campo acadêmico nacional e internacional, mas não dos demais campos identificados como constituintes do campo do poder.

Na Assessoria Especial de Relações Institucionais, o Chefe de Assessoria Especial é Esteves Pedro Colnago Junior. No website do Ministério da Economia e do Governo Federal, não constam informações sobre o curso de graduação concluído pelo assessor. Esteves Colnago é mestre em Economia pela Universidade de Brasília, tendo sido professor do Instituto de

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Ensino Superior de Brasília (IESB), Secretário-Executivo e Ministro do Planejamento, e, no Ministério da Economia, Secretário Especial Adjunto de Fazenda. Ocupou a Presidência dos Conselhos de Administração da Casa da Moeda, de Recursos do Sistema Financeiro Nacional e de Administração do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES). Ele mobiliza capital acadêmico do campo nacional, tendo carreira totalmente identificada com a burocracia pública e com o campo acadêmico na área de Economia.

A Secretaria Executiva tem por Secretário Executivo Marcelo Pacheco dos Guaranys. É Auditor Federal de Finanças e Controle, graduado em Economia pela Universidade de Brasília (UnB) e em Direito pelo Centro Universitário de Brasília. Especialista em Direito Econômico pela FGV, possui mestrado em Direito Público pela UNB. Trabalhou com concorrência e regulação de serviços públicos e infraestrutura no Ministério da Fazenda e na Casa Civil. Foi diretor de Regulação Econômica e diretor-presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Graduado em Direito e Economia, tem carreira totalmente identificada com a burocracia de Estado e com o setor público, mobilizando capital acadêmico oriundo apenas do campo nacional em sua trajetória.

O Secretário-Executivo Adjunto é Miguel Ragone de Mattos, Graduado em Economia (UnB), Direito (UniCEUB) e Ciência Política (UnB). É Mestre em Direito (UnB), Análise Econômica do Direito (Universidades de Bolonha e Viena) e é Doutor em Ciência Política (UnB). Pertence à carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental, tendo ocupado cargos nos Ministérios do Planejamento, da Fazenda e na Casa Civil da Presidência da República. Mais próximo do campo político, conforme nota-se pelo cargo na Casa Civil, mobiliza capital oriundo do campo nacional em sua maioria, tendo realizado mestrado na Europa Ocidental. A carreira é fundamentalmente relacionada à burocracia de Estado.

A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional tem como Procurador-Geral José Levi Mello do Amaral Júnior, Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais (UFRGS), Mestre e Doutor em Direito do Estado (UFRGS, USP), Livre-Docente em Direito Constitucional (USP). É Procurador da Fazenda Nacional. Exerceu os seguintes cargos, dentre outros: Procurador-Geral Adjunto da PGFN; Secretário-Executivo do Ministério da Justiça; Consultor-Geral da União; Chefe da Assessoria Jurídica da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. É Professor da Faculdade de Direito da USP. Mobiliza, portanto, capital oriundo do campo acadêmico nacional, sem circulação por outros campos além da burocracia de Estado e da universidade brasileira. Não mobiliza capital internacional em sua trajetória.

A Secretaria Especial de Fazenda é ocupada por Waldery Rodrigues Junior, Secretário Especial. Rodrigues Junior é engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica -

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ITA, mestre e doutor em economia pela University of Michigan e Universidade de Brasília. É Consultor do Senado Federal na área Política Econômica e foi pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – IPEA. Também exerceu diversos cargos no Ministério da Fazenda. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Finanças Públicas e Teoria Econômico-Financeira. Destaca-se o perfil de Rodrigues Junior por este ser graduado no ITA, fugindo ao padrão esperado de profissional que ocupa o campo do poder relacionado à burocracia de Estado. É comum engenheiros exercerem funções de gestão no campo econômico; no Estado, espera-se, de acordo com o previsto por Dezalay e Garth (2002), que o perfil seja raro. O agente tem carreira internacionalizada por curso de pós-graduação acadêmico realizado nos EUA, tendo também circulado por think tank.

O Secretário Especial Adjunto da pasta é Jeferson Luis Bittencourt. Economista e Mestre em Ciência Econômicas pela UFRGS, atuou no setor privado como assessor econômico, consultor e professor universitário. No setor público, trabalhou na Secretaria de Coordenação e Planejamento do Rio Grande do Sul e no Tesouro Nacional. Também foi coordenador-geral e secretário-adjunto de política fiscal da Secretaria de Política Econômica e Diretor na Secretaria Especial de Fazenda. Bittencourt mobiliza capital acadêmico oriundo fundamentalmente do espaço nacional, embora tenha feito capacitações internacionais de curta duração junto ao FMI. A Secretaria Especial da Receita Federal tem por Secretário Especial José Barroso Tostes Neto. É graduado em Administração e Engenharia Mecânica, mestre em Fazenda Pública e Administração Tributária (Madrid, Espanha). É auditor-fiscal da Receita Federal do Brasil. Exerceu os seguintes cargos, dentre outros: superintendente regional da RFB, secretário de Fazenda do Pará, coordenador de Administração Aduaneira da RFB. É especialista em Gestão Fiscal do BID e assessor credenciado pelo FMI para a Metodologia de Diagnóstico e Avaliação das Administrações Tributárias. O Secretário é graduado em Ciências Exatas, mas apresenta o híbrido da graduação em Administração e pós-graduação na área. As posições mais importantes ocupadas por ele estão relacionadas à cargos de gestão em organizações internacionais e na burocracia de Estado. A carreira internacionaliza-se apenas a título de pós-graduação.

A Secretaria Especial de Previdência e Trabalho tem por Secretário Especial Bruno Bianco Leal, Mestre em Direito pela Universidade de Marília (UNIMAR), especialista em Direito Público e pós-graduado em Direito Processual Civil. É procurador federal (PGF/Advocacia Geral da União). Já foi procurador-chefe da Procuradoria Seccional da PFE/INSS em Marília (SP) e procurador regional da Procuradoria Federal Especializada junto ao INSS nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul (PFE-INSS). Foi assessor especial da

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Casa Civil. Desde janeiro de 2019, ocupava o cargo de secretário especial adjunto de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia. Nota-se que o Secretário mobiliza capital acadêmico oriundo do campo nacional fora dos eixos dominantes, não sendo oriundo de instituição de ensino de renome. Não realiza pós-graduação no exterior e tem carreira regionalizada. É um ator fraco no quesito mobilização de capitais a fim de emprestar legitimidade ao posto, perfil bastante distinto do encontrado entre os dominantes das outras pastas.

A Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais tem por Secretário Especial Marcos Prado Troyjo. É economista, cientista político e diplomata, mestre e doutor em Sociologia das Relações Internacionais pela USP; pós-doutor pela Universidade de Columbia (EUA). Foi fundador e Diretor do Centro de Governança Econômica Global (BRICLab) da Universidade Columbia. Dirigiu a Iniciativa Inteligente de Tecnologia e Comércio (ITTI) no âmbito da International Chamber of Commerce. Autor de livros sobre desenvolvimento econômico internacional. O Secretário mobiliza diversos capitais acadêmicos em sua trajetória, oriundos do campo da Economia e das Ciências Sociais e Relações Internacionais. Circula internacionalmente em âmbito acadêmico e entre organizações internacionais, tendo o perfil do burocrata de Estado relacionado ao Ministério das Relações Exteriores.

A Secretária Especial Adjunta da pasta é Yana Dumaresq Sobral Alves, cuja formação engloba MSc, University of Cambridge (2007) e “Global Leadership Programme” - INSEAD, Wharton School e LBS (2014). Da carreira de Analista de Comércio Exterior, foi Secretária Executiva do MDIC, e anteriormente Subsecretária de Gestão Estratégica e Chefe da Assessoria Técnica. Em 2013 e 2014, foi Diretora Adjunta para América Latina do World Economic Forum, na Suíça. Outras experiências: Ministério do Meio Ambiente, Governo do Reino Unido e ONU. Entre os dominantes, é a mais jovem e também a única mulher a ocupar posto técnico no Ministério, sendo também a única cuja formação é atrelada à área de Ciências Sociais e Relações Internacionais. Apresenta, portanto, perfil distinto dos demais. Mobiliza capital acadêmico internacional e trajetória profissional no exterior nos campos de governo e de organizações internacionais.

A Secretaria Especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados tem por Secretário Especial José Salim Mattar Júnior. Graduado em Administração de Empresas pela FUMEC. Foi um dos fundadores da Localiza Rent a Car S/A e seu CEO desde a fundação em 1973 até 2013. Foi considerado Best CEO por dois anos consecutivos pela revista Institucional Investor e considerado um dos 50 CEOs de melhor desempenho na América Latina pela Revista

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Harvard Business Review. Foi Executive Chairman até dezembro de 2018, deixando o Conselho de Administração da Localiza para dedicar-se à causa pública. O Secretário foge ao padrão geral observado entre os dominantes, não sendo graduado em uma universidade de elite. É também ausente a pós-graduação no exterior. A trajetória deste ator deu-se no campo da economia, tendo ocupado a posição de dominante (Chief Executive Officer) e adquirido notoriedade na mídia internacional. É um dos dominantes com idade mais avançada entre os analisados.

O Secretário Especial Adjunto da pasta é Idalicio de Jesus Silva, graduado em Física pela Universidade de São Paulo e mestrando em Economia e Finanças pelo Ibmec. Foi responsável pelo departamento de Relações Institucionais da Ecoagro, onde ficou por seis anos. Passou ainda pela tesouraria dos Bancos Votorantim e Bradesco e da Fram Capital Asset Management. Também foi analista de risco da Redecard, hoje grupo Rede. Este ator, graduado em Ciências Exatas, mobiliza capital acadêmico oriundo do espaço nacional, mas destaca-se pela trajetória no campo econômico, onde ocupou posições dominantes. Tem perfil frequentemente encontrado nas funções de gestão no campo econômico, em especial no setor financeiro. Não mobiliza capital acadêmico internacional.

A Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade tem por Secretário Especial Carlos Alexandre Jorge da Costa, economista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro, com mestrado e PhD (ABD) em Economia pela University of California (EUA). Foi diretor de Planejamento, Crédito e Tecnologia do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); presidente do Instituto de Performance e Liderança; executivo residente no JP Morgan e sócio-diretor do Ibmec Educacional. É fluente em inglês, francês, espanhol e italiano. Foi professor de Economia e Finanças no Ibmec, na UERJ e no Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais. Costa mobiliza capital acadêmico da área de Economia adquirido no território nacional, internacionalizando-se na pós-graduação por meio de cursos de mestrado e doutorado. Logra posição dominante no campo acadêmico, sendo professor universitário na Uerj e em instituições de destaque na área de educação para o setor financeiro. No campo econômico, logra a posição de dominante em banco público e em bancos privados internacionais. Pelas posições ocupadas em diferentes campos, depreende-se as possibilidades de legitimação da própria ação.

A Secretaria Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital tem como Secretário Especial Paulo Antonio Spencer Uebel. Ele é Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela PUC-RS, especialista em Direito Tributário, Financeiro e Econômico pela UFRGS e em Liderança Global pela Georgetown University. Possui mestrado em Administração

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Pública pela Columbia University, em Nova York (EUA). Foi Secretário Municipal de Gestão de São Paulo (2017/2018); CEO das empresas Webforce Venture e WeWork Brasil e CEO Global da LIDE – Grupo de Líderes Empresariais. Spencer Uebel é um dos mais jovens dominantes do quadro do Ministério, destacando-se, de forma análoga à outra Secretária Adjunta de menor idade, a circulação internacional do ator. Mobiliza capital acadêmico do campo jurídico nacional, tendo realizado pós-graduação na área de Law and Economics. Também logrou posição dominante no campo econômico, sendo CEO de duas empresas. Circulou pelo campo dos think tanks por meio do LIDE e pelo campo político ao trabalhar na gestão municipal de João Dória (PSDB). Apresenta o perfil híbrido do ator que transita por diversos campos.

O Secretário Especial Adjunto da pasta é Gleisson Cardoso Rubin. Licenciado em Matemática pela UnB e Especialista em Matemática e Estatística pela UFLA/MG, integra há 20 anos a carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental. Atuou como Secretário-Executivo do Ministério do Planejamento, onde ocupou também os cargos de Secretário de Gestão e de Presidente da ENAP. Ocupou ainda os cargos de Secretário de Gestão na SDH/PR e de Diretor do Programa Brasil Profissionalizado no MEC. Outro entre os graduados em Ciências Exatas, Gleisson Rubin mobiliza capital acadêmico oriundo do território nacional, sendo graduação e pós-graduação realizadas em universidades públicas. Tem toda a trajetória profissional atrelada à burocracia de Estado, mobilizando fundamentalmente as habilidades técnicas adquiridas na formação acadêmica.

Até aqui, tem-se o quadro geral do circuito que integra o campo ascendente ao Ministério da Economia chefiado por Paulo Guedes. Conforme disposto, trata-se um campo cujos atores dominantes mobilizam capitais oriundos de diferentes esferas para legitimar-se. Pela passagem pelo circuito acadêmico estadunidense – e principalmente, pelas universidades que concentram tal passagem, como destaque para a Chicago University – , pode-se afirmar que trata-se da ascensão política do círculo acadêmico e de negócios identificado com políticas neoliberais. Os tecnocratas ascendentes, entretanto, não são parte do circuito acadêmico dominante dentro do campo neoliberal, sendo portanto o Ministério de Paulo Guedes distinto de outros ministérios até agora entendidos como neoliberais, a exemplo do de Fernando Henrique Cardoso e de Luís Inácio Lula da Silva. Dada a semelhança e a diferença dos atores, ficam as questões: seriam as políticas aplicadas pelos tecnocratas neoliberais ascendentes uma reedição das políticas já adotadas em governos anteriores? Ou há algo a mais na ação dos tecnocratas liberais de Guedes? É o tema da última seção.

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4. Considerações finais

A análise dos perfis profissionais dos tecnocratas do Ministério da Economia e as políticas praticadas por eles no espaço governamental denotam que há continuidades em relação às equipes econômicas passadas, como a de FHC: existe defesa do controle do nível de dívida pública, orientações à privatização de empresas estatais, proposta de diminuição do Estado, reconhecimento da hegemonia do dólar, exaltação às capacidades do setor privado de levar a cabo o desenvolvimento econômico e social, desmonte da legislação trabalhista e previdenciária. O sentido ideológico da pauta econômica defendida é o de fortalecimento dos agentes do chamado mercado, espaço em que os próprios agentes do Ministério da Economia e do Banco Central são dominantes.

As diferenças residem nas técnicas empregadas para o enfraquecimento do Estado: atualmente, a chamada desburocratização do Estado, atrelada à política de reforma administrativa, é feita com base no desenvolvimento de técnicas de gestão baseadas em tecnologia da informação. Há defesa de que o serviço público pode ser substituído por sistemas digitais de governo, pauta também defendida no espaço dos aparelhos do campo neoliberal como o Instituto Millenium, Instituto Liberal, Instituto Mises e Partido Novo. Embora a digitalização do governo seja tratada como pauta técnica, portanto neutra, a ilusão de neutralidade esconde o fato de que as plataformas mediadoras dos serviços de governo são as Big Techs estadunidenses, que fornecem os aparelhos de telefonia celular, os equipamentos pelos quais o governo opera e os sistemas de informação utilizados para construir as plataformas.

Tecnologias desenvolvidas, atualizadas, reguladas e geridas nos EUA, incorporadas ao Estado brasileiro, representam uma americanização do Estado e da relação deste com sua população. Representa, também, a incorporação cotidiana do campo econômico e financeiro brasileiro ao dos EUA, fortalecendo a hegemonia do dólar e comprometendo a importância relativa da moeda nacional. As políticas implementadas correspondem às defendidas pelos circuitos globais de elites econômicas e financeiras, que pregam a expansão de um mercado global baseado na digitalização. Considerando os circuitos acadêmicos e financeiros frequentados pelos tecnocratas do Ministério, pode-se afirmar que as políticas implementadas correspondem à uma importação de agenda econômica global que implica a desnacionalização dos mercados tendo como base a mediação digital da produção e das trocas, a qual enfraquece relativamente os Estados dos países tecnologicamente dependentes.

A ascensão dos periféricos do espaço neoliberal brasileiro ocorre em prejuízo dos tecnocratas neoliberais cuja carreira esteve relacionada à bem sucedida implementação do

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Plano Real, sustentáculo dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Diante da desvalorização relativa das moedas nacionais na era digital, os tecnocratas neoliberais do período anterior perdem poder de agenda e poder de fato dentro do Estado. Ascendem economistas que, frequentando circuitos globais das elites econômicas e financeiras, não eram dominantes no campo acadêmico e no campo do poder nacional, mas eram suficientemente inseridos para legitimarem-se nacional e internacionalmente, promovendo políticas ainda mais profundamente desnacionalizadoras e enfraquecedoras do Estado brasileiro do que as implementadas nos anos 1990.

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