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O Cortiço (1890) Aluísio Azevedo

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O Cortiço (1890)

Aluísio Azevedo

Características do Naturalismo

A Segunda Revolução Industrial (1850), Cientificismo (Geração Materialista), Positivismo (Augusto Comte), Determinismo (Taine: meio, raça e momento), temas cotidianos e degradantes, narrador neutro, anticlericalismo, opção pelo proletariado e pelos setores marginais, linguagem grotesca, zoomórfica e sensorial,

Naturalismo e Engajamento

A obra naturalista azevediana procura chamar a atenção dos seus leitores para os males que atacavam o Rio de Janeiro e o Brasil: a escravidão, os cortiços (imigrantes, escravos, mulatos e brancos pobres assalariados formavam essas “cidades ocultas”), a saúde pública, os males sociais, os problemas raciais, as desigualdades e injustiças, estigmatizando os vícios, as depravações, as imoralidades, segundo os princípios de Augusto Comte.

O Cortiço (1890)

Publicado em 13 de maio de 1890, pela Garnier, numa edição de mais de 5000 exemplares. Como toda obra naturalista o foco é em terceira pessoa, um narrador impessoal e objetivo. Não apresenta uma ordem

cronológica regular (entre 1872 a 1880). O espaço é a região do Botafogo,

RJ. Os personagens (tipos) não podem ser vistos individualmente, mas em conjunto (personagem coletivo) e como resultado das influências biológicas, sociais e históricas.

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A obra mostra a sociedade dividida em classes, seus conflitos e alianças. Numa visão darwinista (social), a seleção natural exclui os fracos e garante o domínio dos inescrupulosos e injustos, por isso o mal é sempre vitorioso.

Sinopse

João Romão, português, bronco e ambicioso, ajuntando dinheiro a

poder de penosos sacrifícios, compra, do seu patrão, pequeno estabelecimento comercial no subúrbio da cidade (Rio de Janeiro). Ao lado morava uma cafuza, escrava que pagava arrendo (seu proprietário era um velho que morava em Juiz de Fora) , trabalhadeira, que possuía uma quitanda e umas economias. Os dois amasiam-se, passando a escrava a trabalhar como burro de carga para João Romão. Com o dinheiro de

Bertoleza, o português compra algumas braças de terra e alarga sua

propriedade. Para agradar a Bertoleza, forja uma falsa carta de alforria. Com o decorrer do tempo, João Romão compra mais terras e nelas constrói três casinhas que imediatamente aluga. À noite, ele e Bertoleza roubavam material de construção. O negócio dá certo e novos cubículos se vão amontoando na propriedade do português. A procura de habitação é enorme, e João Romão, ganancioso, acaba construindo vasto e movimentado cortiço (numa primeira fase, serão 90 casinhas).

Ao lado vem morar outro português, mas de classe elevada, com certos ares de pessoa importante, o Senhor Miranda, cuja mulher Estela leva vida irregular. A filha chama-se Zulmira. Miranda não se dá com João Romão, nem vê com bons olhos o cortiço perto de sua casa. Os dois acabam se desentendendo quando da construção do muro divisório das propriedades. Além do casal, moram no sobrado o parasita Botelho, as escravas Isaura, Leonor e Valentim (alforriado), mais tarde, Henriquinho.

No cortiço encontramos os mais variados tipos: brancos, pretos, mulatos, lavadeiras, malandros, assassinos, vadios, benzedeiras etc. Entre outros, Leandra, apelidada a Machona, lavadeira gritalhona, “cujos filhos não se pareciam uns com os outros”; Augusta Carne-Mole, esposa de

Alexandre, soldado mulato e pernóstico; Leocádia, esposa do ferreiro Bruno; Albino, lavadeiro afeminado; Pombinha, moça franzina que se

desencaminha por influência das más companhias; Rita Baiana, mulata faceira que andava amigada na ocasião com Firmo, malandro valentão;

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João Romão tem agora uma pedreira que lhe dá muito dinheiro. No cortiço há festas com certa freqüência, destacando-se nelas Rita Baiana como dançarina provocante e sensual, o que faz Jerônimo perder a cabeça. Enciumado, Firmo acaba brigando com Jerônimo e, hábil na capoeira, abre a barriga do rival com a navalha e foge. Naquela mesma rua, outro cortiço se forma. Os moradores do cortiço de João Romão chamam-no de “Cabeça-de-Gato”; como revide, recebem o apelido de “Carapicus”. Firmo passara a morar no “Cabeça-de-Gato”, onde se torna chefe dos malandros. Jerônimo, que havia sido internado em um hospital após a briga com Firmo, arma uma emboscada traiçoeira para o malandro e o mata a paulada, fugindo em seguida com Rita Baiana, abandonando a mulher e a filha (Senhorinha). Querendo vingar a morte de Firmo, os moradores do “Cabeça-de-Gato” travam séria briga com os “Carapicus”. Um incêndio, porém, em vários barracos do cortiço de João Romão põe fim à briga coletiva (incêndio provocado pela Bruxa

Paula). O português, agora endinheirado,

reconstrói o cortiço com o dinheiro do seguro (400/500 casinhas), dando-lhe nova feição.

Há tempos, João Romão alimenta o sonho de casar-se com uma mulher “de fina educação”. Lança os olhos em

Zulmira, filha do Miranda. Botelho aplaina

o caminho para João Romão, mediante o pagamento de vinte contos de réis. E, em breve os dois patrícios, por interesse, se tornam amigos e o casamento é coisa certa. Só há uma dificuldade: Bertoleza. João Romão arranja um plano para livrar-se dela: manda um aviso aos antigos proprietários da escrava, denunciando-lhe o paradeiro. Pouco tempo depois, surge a polícia para levar a escrava. Bertoleza compreende o destino que lhe estava reservado, suicida-se, cortando o ventre com a mesma faca com que estava limpando o peixe para a refeição de João Romão.

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Resumo dos Capítulos

Capítulo I

João Romão, dos treze aos vinte e cinco anos, trabalhou numa

taverna no bairro do Botafogo. Tanto economizou que quando o patrão voltou para a terra, deixou-lhe a venda e tudo o mais a título de pagamento de ordenados vencidos.

Proprietário, suporta as mais duras privações para acumular capital: dormia sobre o balcão, nunca saía a passeio; todo dinheiro ganho seguia para o banco; sem domingo nem dia santo; assenhorando-se do alheio; deixando de pagar sempre que podia e nunca deixando de receber; enganando os fregueses, enfim, “empilhando privações sobre privações”. Comia por 400 réis por dia na quitanda da sua vizinha Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego de Juiz de Fora a quem pagava vinte-mil réis mensais e amigada com um carroceiro português que acaba morrendo ao puxar uma carga superior a sua força. Assim, João Romão torna-se confidente, tesoureiro, procurador, conselheiro e amante da cafuza. Com as economias da amásia compra alguns palmos do terreno ao lado esquerdo da venda e levanta uma venda e uma morada nos fundos. Para agradar e apossar-se das economias de Bertoleza forja uma falsa alforria. “Bertoleza representava agora ao lado de João Romão o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante”. Um ano depois, compra algumas braças de terra ao fundo da taverna. Constroi três casinhas roubando material de construção, à noite, da vizinhança. “E o fato é que aquelas três casinhas... foram o ponto de partida do grande cortiço de São Romão”. Comprou mais terras, construiu 95 casinhas e adquiriu a pedreira dos fundos.

Nesse ínterim, vendeu-se um sobrado, à direita da venda. Comprou-o um tal Miranda (35 anComprou-os), negComprou-ociante pComprou-ortuguês, dComprou-onComprou-o de uma lComprou-oja de fazendas por atacado. Casado com Dona Estela, tinha uma filha,

Zulmirinha. A mudança foi motivada pelo constante adultério da esposa

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dote da mulher. Dormiam em camas separadas e se odiavam o que não impedia, quando não podia se satisfazer com as escravas, de possuí-la e depois arrepender-se. Entretanto, numa noite, o gozo animal foi tão profundo que “estabeleceu-se entre eles o hábito de uma felicidade sexual, tão completa como ainda não a tinham desfrutado...”, embora a mútua repugnância persistisse. Com o tempo, a relação esfriou-se e D. Estela começou a procurar, novamente, os caixeiros. “Foi por isso que o Miranda comprou o prédio vizinho a João Romão”. A casa era boa, mas o quintal era escasso. Procura negociar algumas braças com João Romão, mas é rechaçado. Tornam-se inimigos e nenhum dos dois quis construir o muro da divisa. O conflito aumentou porque, depois das dez horas da noite, o vendeiro soltava seu “cão de fila” para cuidar do material de construção que acumulava em seu terreno. Por outro lado, Miranda sumia com as galinhas do vizinho.

O objetivo de João Romão era construir o maior cortiço da região do Botafogo. Sua venda prosperava como nunca. Agora, comprava várias mercadorias diretamente da Europa. Chegou a aumentar a venda e criar armazéns para depósito. “Já não era uma simples taverna, era um bazar em que se encontrava de tudo...”. Seu enriquecimento e o crescimento do cortiço aumentavam o ódio de Miranda. Mandou levantar logo o muro, para separá-lo do cortiço. João Romão edifica outro, na frente, de dez palmos de altura, com um grande portão e uma tabuleta amarela, onde se lia: “Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras”.

“E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco.

Capítulo II

Durante dois anos o cortiço prospera, assustando Miranda e provocando-lhe inveja pelo enriquecimento de João Romão. Compara sua desgraça matrimonial com a liberdade do vizinho. Além de tudo, achava que Zulmira (12/13 anos) não era sua filha. Por isso, começa a pensar em adquirir um título nobiliárquico.

Por essa época vem morar com eles o filho de um fazendeiro importante “que dava belos lucros à casa comercial de Miranda...”. Chamava-se Henrique (15 anos) e viera preparar-se para a Academia de

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Medicina. Dona Estela começou a se interessar por ele. Sua hospedagem custava 250 mil-réis mensais.

A criadagem do sobrado compunha-se da mulata Isaura; uma negrinha virgem chamada Leonor e do Valentim, afeto da mulher do Miranda. Outro hóspede era o Botelho, um parasita de quase setenta anos, cheio de hemorroidas. Fora empregado do comércio e corretor de escravos. Perdera a fortuna e graças à amizade com Miranda encontrar abrigo em sua casa. Detestava o movimento abolicionista que principiava em torno da lei Rio Branco (Lei do Ventre Livre, 1871). Tinha ódio do Valentim e conhecia as aventuras de D. Estela.

Certa vez, recolhendo-se em casa fora do costume encontra “Estela entalada entre o muro e o Henrique”. Não os repreende, ao contrário, aconselha-os a terem mais prudência. Afastando-se a mulher do Miranda, conduz o rapaz até ao seu quarto. Dá-lhe conselhos machistas e lúbricos, segura suas mãos, diz que é “amigo, porque o acho simpático, porque o acho bonito!... E acarinhou-o tão vivamente dessa vez que o estudante, fugindo-lhe das mãos, afastou-se com um gesto de repugnância e desprezo, enquanto o velho lhe dizia em voz comprimida: -- Olha! Espera! Vem cá! Você é desconfiado”. II

Capítulo III

Descrição do despertar do cortiço às cinco horas da manhã. O zum-zum chegava ao apogeu com o trabalho na fábrica de massas italianas, a corrida dos moradores até a venda, os ruidosos mascates e a chegadas das lavadeiras. A primeira foi Leandra, a “Machona”, “portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo”. Seus filhos não se pareciam uns com outros: Ana das Dores (“das Dores”, separada do marido, 25 anos), Nenen (donzela, 17 anos) e Agostinho. Outra lavadeira é Augusta Carne-Mole, mulher de Alexandre, mulato, soldado de polícia (40 anos). Um dos seus filhos, a Juju, vivia na cidade com a madrinha, a cocotte (meretriz) Léonie. Junto delas, a Leocádia, mulher de um ferreiro chamado Bruno. Seguia-se a Paula, conhecida como a “Bruxa”. Também, a Marciana e sua filha Florinda (15 anos), esta, desejada por João Romão. Depois, a velha Isabel (Dona Isabel); sua filha era a “flor do cortiço”, Pombinha (18 anos). Seu noivo chamava-se

João da Costa. Entretanto, o casamento só poderia ser realizado quando a

filha fosse mulher, isto é, após a primeira menstruação. E era muito querida no cortiço devido ao fato de saber ler e escrever. Fechava a fila das

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lavadeiras o Albino, sujeito afeminado.

Um grupo de mascates, o Delporto, o Pompeo, o Francesco e o

Andréa saiu para a sua peregrinação cotidiana. Um rapazito veio perguntar

por Rita Baiana. Há oito dias não aparecia, talvez estivesse com o amante

Firmo. O mês era dezembro. Zulmira e Dona Estela conversavam em uma

das janelas da sala de jantar do Miranda. O maior movimento era na venda à entrada da estalagem. O almoço dos operários era servido às 9 horas. Ao balcão, o Domingos e o Manuel. Bertoleza cozinhava e João Romão servia os fregueses.

Há tempos, um português de seus 35 a 40 anos esperava para falar com João Romão. Faminto, decide almoçar ali mesmo.

Capítulo IV

Era Jerônimo e viera trabalhar na pedreira explorada por João Romão, no fundo do cortiço. Na semana passada um trabalhador morrera soterrado na pedreira. Discutem o salário. O “cavouqueiro” queria 70 mil-réis o que assustou o amante de Bertoleza. Vão visitar a pedreira. Ao passarem pelas lavadeiras João Romão dá uma tapa na traseira de Florinda. Descrição da pedreira. Jerônimo observa a falta de orientação na exploração, e, consequentemente, a perda de dinheiro. Para ele o serviço era mal feito e mal dirigido. Descrição da situação miserável dos trabalhadores. João Romão acaba concordando com o salário desde que ele mudasse para o cortiço e comprasse em sua venda. “Os meus 70 mil-réis voltar-me-ão à gaveta. Tudo fica em casa!”, pensou. Ficaria no cômodo número 35.

Capítulo V

Jerônimo e a esposa Piedade de Jesus (30 anos) mudam-se para o cortiço, sob os olhares curiosos e desconfiados das lavadeiras. Estas, comentam a boa qualidade da mobília dos novos inquilinos e a expulsão do charuteiro que morava no 35 por não ter pago o aluguel. Além de expulso, João Romão apossara-se do que estava dentro.

Jerônimo era um bom trabalhador, hercúleo, caráter sério, honesto e pureza de costumes. Sua mulher era lavadeira, diligente, sadia, honesta e forte. Passaram por muitas necessidades quando chegaram ao Brasil. Melhorando de vida colocaram a filhinha num colégio. Marianita só os visitava aos domingos e dias santos.

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Bertoleza que até pensava em aumentar o salário para conservá-lo em sua companhia. Os moradores do cortiço começaram a respeitá-lo e pedir-lhe conselhos. Levantava as 4 horas da manhã e sua picareta na pedreira era um clarim para os demais trabalhadores. Voltava para casa morto de fome. Depois do jantar tocava sua guitarra, tocando os fados da sua terra e, antes das 9 horas, iam dormir.

CapítuloVI

Era um domingo de abril. Descrição das vestimentas das brasileiras e das portuguesas. Os homens jogavam a “placa”, os italianos fumavam cachimbo, as mães lavavam os filhos, de várias casas ouviam-se instrumentos musicais. Um dos moradores declamava em voz alta “Os Lusíadas”. Recendia um cheiro bom de refogado de carne fresca fervendo ao fogo. Até os papagaios pareciam mais alegres com o domingo. O movimento era maior na frente da estalagem e a entrada da venda. Nesta, entornavam-se os martelos de vinho branco, a cerveja nacional e a parati. Os homens apalpavam Isaura e tentavam agarrar a Leonor.

A chegada de Rita Baiana revolucionou alegremente a estalagem. Para mais de três meses não era vista na morada número 09. Foi cercada por quase todos os moradores que queriam saber por onde andara. Andara em Jacarepaguá, com o Firmo. Não pensava em casar. “ Nessa não cai a filha de meu pai! Casar? Livra! Para quê? para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que a gente é escrava!”. Para cada morador ela tinha um comentário, inclusive para o velho judeu Libório, octogenário seco e mumificado. Combina com os moradores, à noite, um “pagodinho de violão”. Firmo e um amigo viriam jantar. Jerônimo e Piedade encontravam-se jururus à porta da casa.

As mulheres ajudaram Rita no seu jantar, assim como das Dores, que iria receber o seu homem. Menos Pombinha, que reservava o domingo para escrever cartas para os cortiçados. Assim, “a pobre rapariga ia acumulando no seu coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos, às vezes mais fétidos do que a evaporação de um lameiro em dias de grande calor”.

Capítulo VII

O capoeirista Firmo (30 e tantos anos) e seu amigo Porfiro chegam às três da tarde, trazendo violão e cavaquinho. Firmo era oficial de torneiro. “Chegara a decidir eleições nos tempos do voto indireto”. O homem da das

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Dores também chegara, com um companheiro do comércio. Nas duas casas o jantar seria às 17 horas. Jerônimo e a esposa não aceitaram o convite e permaneceram em casa.

Meia hora principiado o jantar a algazarra, a cantoria e a lubricidade eram grandes. A alegria também estava presente em outras casinhas, principalmente a dos italianos. “Havia nos operários e nos trabalhadores decidida disposição para pandegar, para aproveitar bem, até ao fim, aquele dia de folga”.

Miranda, na janela, estava furioso. Mas, seus xingamentos eram respondidos por gargalhadas e vaias. E mais gente ia enchendo a casa de Rita Baiana. A casa dela nunca esvaziava. O velho semítico Libório, que ninguém sabia como se alimentava e morava no pior lugar do cortiço também participou. Na estalagem diziam que tinha dinheiro escondido. Começou a comer vorazmente. De repente, engasga com um pedaço de carne. Vomita-o sobre a mesa provocando um nojo geral. Começam a bulir com a homossexualidade do Albino. Com a chegada da noite, saem para o pátio. Muitos moradores estão sentados na frente da sua casa. Agora, o barulho vinha da casa do Miranda. Comentam a vida adúltera de D. Estela. Jerônimo começar a tocar a sua triste guitarra. Contrastando, um chorado baiano com o cavaquinho do Porfiro e o violão do Firmo. Jerônimo para e vai apreciar a música crioula. A dança de Rita Baiana fascina-o, a ponto de passar a noite acordado.

Capítulo VIII

No dia seguinte, Jerônimo, em vez de comer na pedreira, vai para casa. Sente-se incomodado e vai para a cama. A Bruxa e as mulheres do cortiço o acodem. Acalma-se com a visita da Rita Baiana. Prepara-lhe café com parati, despertando o ciúmes de fêmea de Piedade. Jerônimo, ao agradecer a Rita, sente-se excitado, tenta agarrá-la, obrigando-a a se afastar num pulo.

Lá fora, no pátio, armara-se um escândalo medonho. Henrique, há tempos, dava encima da Leocádia. Chantageando-a com um coelhinho todo branco, vão para o fundo do capinzal. Leocádia pede para o menino fazer-lhe um filho, assim poderia alugar-se como ama-de-leite. No momento do espasmo, aparece o marido Bruno. Henrique e o coelho fogem. Uma chuva de bofetadas e pontapés desaba sobre a esposa. Despeja a mulher de casa. Albino tenta reconciliar o casal e leva um tabefe. Em casa, lança pela janela todos os pertences de Leocádia. Esta, chegando em casa, também começa a

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destruir tudo que ainda se encontrava dentro. Bruno reaparece com “um raio de roda de carro na mão direita”. Só não apanhou porque foi segurado pelo povaréu. No meio da confusão, João Romão recebe um pontapé por detrás. Rita Baiana socorre-lhe arrumando um abrigo.

Capítulo IX

“Passaram-se semanas”. Jerônimo, agora, todas as manhãs, tomava café e parati. Passava por uma transformação lenta e profunda, abrasileirando-se. Entretanto, o mesmo não acontecera com Piedade. Recebia a influência do meio “só por fora”. No íntimo continuava a ser a mesma colona saudosa. O casal já não dormia na mesma cama. Chega a reclamar da falta de asseio da esposa. Sem dúvida, estava caído por Rita Baiana. Um dos pretextos para se aproximar era o de perguntar sobre Leocádia. Fica sabendo que estava bem, trabalhava num colégio de meninas e estava grávida de quatro meses. Agora, participava das rodas de samba. Piedade, atormentada, vai procurar ajuda com a Bruxa Paula. Firmo também estava desconfiado. Não morava na estalagem e sim no cômodo da oficina em que trabalhava. Só via Rita pelos domingos.

Um novo escândalo estourou, agora no número 12, entre a velha Marciana e sua filha Florinda. A menina estava grávida. Apanha da mãe. Foge pela janela e acaba confessando que o responsável era o Domingos. Leva-a até à venda. Domingos é despedido e diz que não quer se casar. As lavadeiras revoltam-se e cercam a venda. João Romão protege-o, mentido para a multidão e recusando pagar Domingos. O dinheiro seria para o dote da rapariga.

Léonie vem visitar os compadres Augusta e Alexandre. Sua presença levantava rumor, admiração e respeito em todo o cortiço. Juju tirou lágrimas dos olhos da mãe, com sua indumentária e cabelos loiros de francesa. Pergunta por Pombinha que acaba chegando depois das 22 horas. Trabalhava como dama num curso de dança para caixeiros. Convida-a para visitá-la. D. Isabel marca para o próximo domingo. Juju, dormindo, iria no dia seguinte.

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Capítulo X

A casa do Miranda estava preparando-se para a comemoração no domingo. Fora agraciado pelo governo português com o título de Barão do

Freixal. Enquanto isso, o cortiço estava agitado frente ao desaparecimento

do sedutor de Florinda, o Domingos. Um novo caixeiro já o substituía. João Romão desculpava-se com Marciana e dizia não ser responsável por nenhum dote. De nada adiantou a reclamação ao subdelegado, nem ao advogado, já que não tinha recursos para o processo. Furiosa, tenta bater na filha que acaba fugindo. Furiosa, vai até a venda e ameaça o proprietário, prometendo incendiar o cortiço (a Bruxa Paula estava junto). É despejada do número 12.

João Romão estava transtornado com o título agraciado ao vizinho. Não consegue nem dormir. Sonha com uma vida de fausto e luxo que nunca tivera. “Não obstante, ao lado dele a crioula roncava, de papo para o ar, gorda, estrompada de serviço, tresandando a uma mistura de suor com cebola crua e gordura podre”. De manhã, frente à comemoração do vizinho, começa a criticar sua vida de privações. Mas, valeria a pena gastar o seu dinheiro com os outros? Passou o dia de mal humor. Marciana é despejada e parecia ensandecida. A casa do Miranda continuava em festas. O vendeira, mais enraivecido pelo convite do vizinho, manda prender Marciana. A mobília fora recolhida no depósito público.

Com o término da chuva, o samba começou no cortiço. Rita Baiana estava mais sensual do que nunca. Seu cochicho com Jerônimo provocou o ciúmes de Firmo. Os dois machos acabam brigando. Rita Baiana sorri. Jerônimo arma-se com seu varapau e Firmo com a navalha e sua capoeira. Este estripa o adversário. Rita e Piedade acodem Jerônimo. Firmo foge. Nisso chega a polícia, mas os moradores não permitem a entrada e armam barricadas. Derrubado o portão começa a batalha entre a polícia e os cortiçados. Nisso, o número 12 começa a pegar fogo, dispersando os moradores e possibilitando a entrada da polícia que, louca de cólera e vingança, começa a quebrar tudo.

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Capítulo XI

O incêndio foi provocado pela Bruxa. A destruição, entretanto, foi maior pela ação da polícia do que pelo fogo. João Romão, acompanhado de muitos moradores, teve que ir até à secretaria de polícia. Ninguém denunciou os autores da briga, somente o estrago feito pelos “morcegos”. Sequer Jerônimo o fez mesmo para o Médico que desceu da casa de Miranda para assisti-lo. Rita Baiana mostrou-se mais prestativa com o ferido do que Piedade que não parava de se latismar. No dia seguinte, foi internado na Ordem de Santo Antônio.

No dia seguinte, todos comentam o ocorrido, menos Pombinha que amanheceu abatida e envergonhada. O passeio à casa de Léonie marcou-a para sempre. Dona Isabel, que não estava acostumada a tomar vinho, foi descansar num quarto. A cocotte conduziu a moça para a sua alcova e a seduziu. Alguns dias depois, ainda amuada, vai dar uma volta por detrás do cortiço. Deita-se debaixo das árvores. Dorme e começa a sonhar. Em redor tudo era vermelho, cor de sangue, e estava nua. O sol balançava como um pêndulo. Agora, achava-se deitada entre pétalas gigantescas. O sol vem descendo em sua direção batendo suas asas, como uma borboleta de fogo. Agita-se em torno da virgem que sentia-se “penetrar de uma calor estranho”. Desejava o pouso da borboleta em seu corpo, mas ela seguia em seu vaivém. Quando o inseto sacode suas asas e uma nuvem de poeira dourada pousa na menina, Pombinha acorda e sente uma “onda vermelha e quente” saindo de suas entranhas. Finalmente, menstruara.

Capítulo XII

Chegando em casa, conta para a mãe, que chora e sai apregoando a boa nova para todo o cortiço. Manda avisar o noivo João da Costa e pede-lhe para marcar logo o casamento.

Somente Dona Isabel estava alegre, pois depois do conflito que acabou em navalhada uma tristeza apoderou-se de parte do cortiço: Rita e Piedade estavam preocupadas com Jerônimo; Firmo fora proibido de voltar à estalagem; Bruno estava com saudades da mulher, tanto que foi pedir a Pombinha que lhe escrevesse uma carta, pedindo a sua volta. Pombinha, frente às lágrimas do marido traído, “compreendeu e avaliou a fraqueza dos homens, a fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas esmagadoras, mas que se deixavam encabrestar e conduzir humildes pela soberana e delicada mão da fêmea”. Se não fora sua mãe, não teria casado.

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Capítulo XIII

O cortiço crescia com a chegada de novos moradores. Delporto e Pompeo morreram de febre amarela. Na mesma rua, surge outro cortiço chamado “Cabeça-de-Gato” (bandeira amarela). O testa de ferro era um português, mas o verdadeiro dono “era um abastado conselheiro”. João Romão sente a concorrência. Persegue o proprietário e instiga ódio em seus inquilinos, provocando a rivalidade entre as duas repúblicas da miséria. O cortiço do amante de Bertoleza é batizado de “Carapicus” (bandeira vermelha). Firmo e Porfírio mudaram-se para os Carapicus provocando o distanciamento de Rita Baiana.

Enquanto isso, João Romão, desde que o vizinho tornara-se barão, começou a se transformar por fora e por dentro. Agora, usava boas roupas, lia jornais aos domingos, passeava, barbeava-se, aprendeu a dançar, limpou o quarto, comprou móveis de segunda mão, passou a ter etiqueta à mesa, a frequentar o teatro, contratou mais três caixeiros, investia o dinheiro. Até o Miranda começou a tratá-lo de forma mais cortês. Bertoleza, ao contrário, continuava mais escrava do que nunca. Não participava das novas regalias do amante. O velho Botelho começou a frequentar a venda. Insinua o casamento do vendeiro com Zulmira (17 anos). Como intermediário pede vinte contos de réis. Assinam e selam um contrato. No domingo seguinte, é convidado a jantar na casa do Miranda. Atrapalha-se todo com o luxo e etiqueta da casa. Volta alegre e satisfeito para casa, até sentir o ar pestilento da negra Bertoleza. Só então percebe o estorvo que ela seria para o seu casamento. Mas, e se ela morresse?

Capítulo XIV

Três meses depois da navalhada, a relação de Rita Baiana esfriava com o seu amante Firmo. Um dia, ela faltou ao encontro. Firmo, aborrecido, vai beber no botequim do Garnizé. Fica sabendo que Jerônimo tivera alta do hospital. Enciumado, pensa em vingança.

Jerônimo chegou magro e abatido do hospital. Recusa o caldo da esposa e pede o cafezinho de Rita Baiana. Vai tomar na casa da mulata. A conversa torna-se íntima até a chegada de Piedade. Esta diz-lhe que o Zé

Carlos e o Pataca queriam falar-lhe. Conversam na venda do Manuel Pepé. Planejam o assassinato de Firmo. Cada um receberia 40 mil-réis pelo

serviço. À noite, encontram-se novamente, na mesma venda. Vão ao Garnisé com três porretes. Pataca serviria de isca para atrair o Firmo.

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Capítulo XV

O Garnisé estava lotado. Pataca procura por Firmo, mas acaba encontrando Florinda. Conta que já se amigara duas vezes e que sofrera um aborto. Agora morava com o Bento marceneiro. Sua mãe, Marciana, fora internada no hospício. Aparece Firmo e Pataca vai beber com ele. Mente, dizendo ter visto a Rita, na Praia da Saudade. O mulato, cambaleando de bêbado, vai a procura da amante. A emboscada é bem sucedida. Jogam o cadáver no mar. Jerônimo paga os comparsas e guarda a navalha do mulato como lembrança. Jerônimo dirige-se à casa de Rita Baiana. Confessa o crime e planejam a fuga. Deixaria sua economia com a mulher e continuaria a pagar o colégio da filha. Frente à aquiescência de Rita acabam na cama.

Capítulo XVI

Piedade de Jesus ainda esperava apreensiva o retorno do marido. Não consegue dormir. De manhã sai a procura de Jerônimo. A notícia espalha-se por todo o cortiço. Piedade maldiz a sua sorte e a vinda para o Brasil. Sai a procura do seu homem. Quando retorna, fica sabendo da morte do Firmo e pressente a tragédia e a traição do marido. Por outro lado, o cortiço está agitado frente à ameaça do Cabeça-de-Gato que atribuía a morte do seu líder aos carapicus.

Quando Rita Baiana passava pela porta de Piedade, esta afronta-lhe. As duas acabem brigando, para alegria do público que se ajuntava em roda. Dois partidos se formaram: os brasileiros (galegos) apoiando Rita e os portugueses (cabras), Piedade. Acabam brigando entre si, uns quarenta e tantos homens. A polícia não interfere, aguardando reforços. Nisso, ouve-se o canto de guerra dos capoeiras do outro cortiço. Vinham vingar-se da morte de Firmo, “seu chefe de malta”.

Capítulo XVII

Os carapicus param a briga e se unem frente ao inimigo comum. Os Cabeças-de-Gato eram uns cem homens, muitos com navalhas, liderados por Porfiro. Entretanto, a batalha é interrompida frente a um incêndio devastador. Finalmente a Bruxa conseguira realizar seu sonho: o cortiço ia arder. Os moradores, desesperados, tentam salvar seus bens e apagar o fogo. A Bruxa morre queimada.

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Capítulo XVIII

Nesse ínterim, João Romão segue o velho Libório que, desesperado, tentava salvar seu dinheiro escondido em garrafas. O vendeiro rouba-as, deixando o velho morrer queimado. Em casa, descobre que era dinheiro em papel o que havia nas oito garrafas. À meia-noite o fogo estava dominado, não sem antes consumir trinta e tantas casinhas. Além dos muitos feridos, uma filhinha da Augusta Carne-Mole morrera esmagada pelo povo. As custas do enterro da menina foi feito à custa de Léonie. Miranda vem cumprimentar João Romão por ter colocado o cortiço no seguro. O fogo não lhe trouxera prejuízo, ao contrário, “até lhe deixaria lucros”. Cogitava em reconstruir a estalagem, agora, com “quatrocentos a quinhentos” cômodos. Mirada troca a primitiva inveja pelo vizinho por “entusiasmo ilimitado e cego”.

Às dez horas da noite, João Romão vai dar balanço nas garrafas de Libório. Sofre uma decepção ao perceber que parte dos quinze contos, cerca de oito, estavam prescritas. Sente-se roubado. O jeito seria passar essas notas comprometidas como troco aos fregueses. Com o dinheiro bom já começaria a reconstrução do cortiço.

Capítulo XIX

Dias depois a estalagem metia-se em obras. Pronta, começaram a mexer na venda. Seria transformada num sobrado, ainda mais alto e vistoso do que o do Miranda. Um dos italianos ferido no incêndio morreu na Misericórdia. Outro, continuava em risco de vida. Bruno e Leocádia reatam o casamento e vão morar no São Romão. Piedade é que sofria muito pelo abandono do marido.

João Romão “principiava a tomar tino no jogo da Bolsa; comia em hotéis caros e bebia cerveja em larga camaradagem com capitalistas nos cafés do comércio”. E o que seria de Bertoleza? Ela era o único defeito de um “homem tão importante e tão digno”. Torna-se pródigo nos presentes para a família de Miranda. Botelho aconselha-o a pedir a mão de Zulmira.

Jerônimo voltara a trabalhar na pedreira de São Diogo e morava com Rita Baiana. Jerônimo era outro homem, abrasileirara-se. Fez-se preguiçoso, extravagante, luxurioso e ciumento. Piedade decaía cada vez mais. Suas freguesas reclamavam da roupa mal lavada. Começou a mexer nas economias deixadas pelo ex-marido. Começa a beber parati. A filha (9 anos) ia passar os domingos com ela. Para os moradores do cortiço ela era a “Senhorinha”. Tempos depois, o colégio manda uma conta de seis meses da

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pensão do colégio. Vai procurar Jerônimo. O reencontro comove-os, chorando ambos abraçados. Promete pagar o colégio, não o faz, pois suas dividas eram altas. Não queria interromper as regalias da mulata. Torna-se alcoólatra. Piedade e a filha vão atrás de Jerônimo. Bêbado obriga-a a fazer as pazes com Rita. Jantam e no decorrer, enraivecido pela cobrança da mensalidade, expulsa-as. Rita consola e afaga o seu amante.

Capítulo XX

Piedade chega à noite em casa. Recolhe a pequena e bebe uma boa porção de parati e procura companhia no pátio. O cortiço estava transformado pelas reformas. Eram mais de quatrocentos cômodos. (Descrição das casinhas de alguns antigos moradores). Uma nova “camada social”, mais elevada, ocupava agora a estalagem. O sobrado do João Romão era mais alto e nobre do que o do vizinho. Em lugar da tabuleta antiga (“Estalagem de São Romão”), lia-se: “Avenida São Romão". Já não se fazia sambas ao relento. Agora, eram os forrobodós dentro de casa. O “Cabeça-de-Gato” estava vencido, bem inferior ao outro.

Piedade dirige-se ao grupo do das Dores. Pataca anima-a com mais cachaça. Começa a dançar na roda, imitando Rita. “Era a boba da roda”. João Romão dissolve a pândega. Ficam apenas Pataca e Piedade. Vão para a casa da mulher do Jerônimo. Continuam a beber, até que Piedade é agarrada e seduzida por Pataca. Consumada a relação, percebe que a cena fora presenciada pela menina. Tenta levantar Piedade que se encontrava inconsciente. Vomita sobre ele. Senhorinha chora e Pataca retira-se.

Capítulo XXI

João Romão não conseguia dormir, pensando no que fazer com Bertoleza. O casamento fora consentido por Miranda. Seria um trampolim para aumentar sua riqueza, poder, chefia da colônia portuguesa no Brasil e, finalmente, conseguir o título de Visconde. Mais tarde, Conde e passeio pela Europa. “E, se ela morresse!”. Eram quatro horas da madrugada e ainda meditava sobre o assunto. Acorda assustado, às sete horas, com o alvoroço do cortiço. O filho da Machona, Agostinho, brincando na pedreira, escorrega e cai de uma altura superior a duzentos metros.

João Romão recebe a visita do Botelho. Conversam sobre o empecilho da Bertoleza. Aquele conta a sua história e da importância inicial da amante. Agora, era um obstáculo para a sua felicidade. Mas, o que fazer? Nisso aparece Bertoleza, espumando de raiva. Tinha escutado a

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conversa. Não sairia nunca da casa. “Quem me comeu a carne tem de roer-me os ossos!”. Não aceita dinheiro ou quitanda, queria permanecer ao lado de João Romão, desfrutando o que conquistaram. Se quisesse casar, que esperasse ela morrer. Furioso, sai para a rua, juntamente com o parasita. Conversando, surge a ideia de restituí-la ao antigo proprietário, um tal de

Freitas de Melo. Botelho, por duzentos mil-réis, incube-se da tarefa.

Capítulo XXII

A relação entre Bertoleza e João Romão tornou-se tensa. A amante receava ser assassinada. No entanto, tudo ao redor prosperava como nunca. João Romão tornara-se o único fornecedor de todas as tabernas e armarinhos de Botafogo. Para morar no cortiço exigia-se carta de fiança e uma recomendação especial. Quem não tinha condições, dirigia-se ao “Cabeça-de-Gato”, como os italianos. “O cortiço aristocratizava-se”.

Florinda, metida com um despachante de estrade de ferro, voltara para o São Romão. Sua mãe Marciana morrera num hospício de doido. A Machona quebrara um pouco o gênio desde a morte de Agostinho. Nenem arrumara um pretendente. Alexandre fora promovido a sargento. Sua esposa continuava fecunda. A comadre Léonie continuava com suas ruidosas visitas. Certa feita, trouxe Pombinha que, no fim do segundo ano de casada, largou o marido, virou prostituta e foi morar com ela. Dona Isabel acompanhou a queda da filha debilitando-se, até morrer numa casa de saúde. As duas cocotes tornaram-se “uma só cobra de duas cabeças”. Juju continuava com elas. “Por cima delas duas passara uma geração inteira de devassos”. Pombinha ajudava muito a Piedade, cuja filha, Senhorinha, tornara-se sua protegida predileta. “O cortiço estava preparando uma nova prostituta...”. A ex-mulher de Jerônimo viva bêbada, suja, abusada por muitos homens. Acaba expulsa tendo que morar no cortiço vizinho.

Capítulo XXIII

João Romão aguarda a família do Miranda na Rua do Ouvidor para as compras. A convite daquele entram numa confeitaria e tomam um lanche. Na despedida, ficam Botelho e o dono do cortiço. O parasita afiançou que tudo estava arrumado. “O homem vai hoje... Está tudo combinado!”. Mas, ele teria que estar em casa para entregar a crioula. No bonde, avista numa carruagem, Pombinha e o Henrique. Em casa, ele e Botelho jantam. Um criado vem avisá-lo de que um senhor e dois policiais procuravam o dono da casa. Dirigem-se à cozinha. Bertoleza, de cócoras,

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escamava peixe “para a ceia do seu homem”. Reconhece o filho mais velho do seu primitivo senhor. Reconhecendo a traição, opta pelo suicídio rasgando o ventre de lado a lado. “João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos”.

Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.

“Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas”.

Exercícios

01. Há tempos, João Romão alimenta o sonho de casar-se com uma mulher “de fina educação”. Lança os olhos em Zulmira, filha do Miranda. Botelho aplaina o caminho para João Romão, mediante o pagamento de vinte contos de réis. E, em breve os dois patrícios, por interesse, se tornam amigos e o casamento é coisa certa. Só há uma dificuldade: Bertoleza...

a) Qual foi a solução encontrada por João Romão para livrar-se de Bertoleza?

b) Qual foi a atitude de Bertoleza?

02. Naquela mesma rua, outro cortiço se forma. Os moradores do cortiço de João Romão chamam-no de “Cabeça-de-Gato”; como revide, recebem o apelido de “Carapicus”. Firmo passara a morar no “Cabeça-de-Gato”, onde se torna chefe dos malandros. Jerônimo, que havia sido internado em um hospital após a briga com Firmo, arma uma emboscada traiçoeira para o malandro e o mata a paulada, fugindo em seguida com Rita Baiana, abandonando a mulher e a filha (Senhorinha). Querendo vingar a morte de Firmo, os moradores do “Cabeça-de-Gato” travam séria briga com os “Carapicus”.

a) Por que os “Cabeças-de-Gato” denominam o cortiço de João Romão de “Carapicus”?

b) Qual o acontecimento que interrompeu a briga entre os cortiçados?

03. Assinale a alternativa incorreta sobre o romance O Cortiço:

a) “Desistindo de montar um enredo em função de pessoas, Aluísio atinou com a fórmula que se ajustava ao seu talento: ateve-se à seqüência de

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descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance naturalista”

b) O tema é a ambição e a exploração do homem pelo próprio homem. De um lado João Romão que aspira à riqueza e Miranda, já rico, que aspira à nobreza. Do outro, “a gentalha”, caracterizada como um conjunto de animais, movidos pelo instinto e pela fome.

c) No entanto, encontramos elementos românticos na caracterização do personagem Jerônimo: excessivamente idealizado - ingênuo, bondoso, desconhece a condição de mulato e ama, platonicamente, Rita Baiana; d) As mulheres, nO Cortiço, caracterizam-se como: objeto - usadas e aviltadas pelo homem (Bertoleza e Piedade); objeto e sujeito - simultaneamente (Rita Baiana) e sujeito - independem do homem, prostituindo-se (Leonie e Pombinha).

e) O texto privilegia o descritivo, o objetivo, o sensorial, o grotesco, o sórdido, o zoomórfico e o cientificismo explícito.

04. (Ita) - Assinale a alternativa em que se completa erradamente a seguinte proposição: Do romance O Cortiço pode-se dizer que:

a) é um romance urbano;

b) o autor admite a influência do meio no comportamento do indivíduo;

c) alcança a época da escravidão; d) Romão é tudo, menos um ingrato;

e) o protagonista não se contenta com a ascensão econômica, quer a social também.

Leia o texto e responda as questões 05 e 06.

“Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas. Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de chumbo. (...) Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava-se grosso por toda a parte; começaram as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia, suplantando todos os outros; trocavam-se de janela para janela as primeiras palavras, os bons-dias, reatavam-se conversas interrompidas à noite; a pequenada cá fora traquinava ja, e lá de dentro das casas vinham choros abafados de crianças que ainda não andam; (...) O rumor crescia, condensando-se; o zum-zum de todos os dias acentuava-se; já não se

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destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (...) sentia-se naquela fermentação sanguínea, (...) o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.”

05. Esse trecho de O Cortiço pode ser tomado como uma comprovação de que:

a) Aluísio Azevedo é mais romântico do que realista, pois sua apresentação do cortiço opera uma personificação da habitação coletiva;

b) o romance não apresenta personagens individuais, mas só uma grande personagem coletiva;

c) o descritivismo minucioso provém de seu romantismo;

d) a personagem que ocupa o centro do livro não é individual, mas coletiva; e) o autor aplica os princípios básicos do Naturalismo, excetuando o Determinismo

06. Na frase “das portas surgiam cabeças congestionadas de sono” está presente uma figura de linguagem característica do Realismo e conhecida como:

a) metáfora; b) metonímia; c) personificação; d) catacrese; e) enumeração.

07. Assinale a alternativa incorreta sobre O Cortiço:

a) Representação de um mundo idealizado, que só existe na imaginação do autor

b) construção do ambiente como um organismo vivo; c) análise da influência que o meio exerce sobre o homem; d) apresentação de personagens numa visão de conjunto; e) preocupação com a patologia humana.

08. Responda os itens abaixo:

a) João Romão, português, bronco e ambicioso, ajuntando dinheiro a poder de penosos sacrifícios, compra o que do seu patrão?

b) Ao lado morava uma preta, escrava que pagava arrendo (seu proprietário era um velho que morava em Juiz de Fora) , trabalhadeira, que possuía uma quitanda e umas economias. Qual o seu nome?

c) Com o dinheiro dela, o português compra algumas braças de terra e alarga sua propriedade. Para agradá-la, o que faz João Romão?

d) Ao lado vem morar outro português, mas de classe elevada, com certos ares de pessoa importante, o Senhor Miranda, cuja mulher leva vida

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irregular. Por que Miranda acaba brigando com João Romão?

e) Os naturalistas defendem a tese do Determinismo ambiental, ou seja, o homem é produto do meio. Jerônimo é um bom exemplo. Explique o porquê.

f) O narrador diz que Rita Baiana era “volúvel” (= leviana) como toda a mestiça”. A frase revela um preconceito com aparência de verdade científica. Para os Deterministas, três eram os fatores condicionantes. No caso acima, trata-se do determinismo?

g) Embora fosse uma jovenzinha inocente, conhecia os mais íntimos sentimentos – os amores, os ódios, os temores – de muitos moradores do cortiço, que, sendo analfabetos, ditavam a ela as cartas que queriam enviar a seus entes queridos. Trata-se da personagem?

9) “E agora, coitado, já velho, comido de desilusões, cheio de hemorroidas, via-se totalmente sem recursos e vegetava à sombra do Miranda...”

a) Trata-se de qual personagem?

b) Cite um elemento típico da linguagem naturalista.

10) A personagem principal de O Cortiço é a habitação coletiva que dá título ao livro. Levando em conta essa afirmação, explique o que representam, no contexto da narrativa, o espaço do cortiço, da venda e o do sobrado.

Referências

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