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Expandindo a Análise de Redes de Inovação: Uma Reflexão a partir da Perspectiva de Redes Sociais

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Expandindo a Análise de Redes de Inovação: Uma Reflexão a partir da Perspectiva de Redes Sociais

Autoria: Ayalla Candido Freire, Mariana Baldi, Fernando Dias Lopes RESUMO

Este trabalho consiste em uma proposição teórica, de unir a abordagem de redes sociais, especificamente o conceito de laços sociais (GRANOVETTER, 1973), à análise de redes de inovação (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000). Os estudos sobre inovação ganham, com o advento de redes, uma nova dimensão analítica, onde o processo inovativo passa de ‘interno’ a uma construção coletiva a partir de relações interorganizacionais nos níveis local, nacional ou global, onde constitui fonte de competitividade. A abordagem de redes de

inovação tem o foco na geração de inovações radicais de produtos e processos no nível

transnacional, ampliando o conceito de Sistema Nacional de Inovação (FREEMAN 1982, 1987). O conceito de laços sociais estende, por sua vez, a análise de redes de inovação, em seus conceitos de shape e connectedness ao longo de ‘arenas de pesquisa’, inserindo uma visão socializada e contextualizada à análise da geração de inovação, tida como um processo não-linear, que envolve relações entre múltiplos atores interconectados. A proposição aqui realizada se limita a uma apreciação ainda elementar da relação entre as duas abordagens contempladas (dado a dimensão de ambas), tendo apontado, contudo, aspectos relevantes para o estudo da inovação, a partir de novas perspectivas analíticas e indicação de trabalhos empíricos. A integração destas duas abordagens se mostra reveladora, ao apontar categorias analíticas distintas sobre a geração de inovação em redes, evidenciando pontos convergentes entre a abordagem de redes de inovação e as redes sociais, especificamente o conceito de laços sociais, o qual evidencia aspectos que, de outro modo, não seriam identificados a não ser por meio de uma perspectiva socializada de análise. Neste sentido, a proposição de redes de inovação apresentou vários aspectos que dão margem à inserção da perspectiva de laços sociais para análise da geração de inovação através das arenas de pesquisa. Especificamente os conceitos de shape e connectedness – base da estruturação de redes de inovação - parecem estabelecer uma estreita relação com os conceitos de laços sociais, na medida em que estes podem ser utilizados para a mensuração da força da conectividade entre atores, indicando aspectos que potencializam a dinâmica de geração de inovação a partir da integração entre atores em redes globais de comunicação. As abordagens se mostraram complementares para o estudo da inovação. As relações indicadas neste ensaio revelam apenas algumas das diversas conexões que podem ser estabelecidas entre os diversos conceitos que as envolvem, o que indica a complexidade e riqueza advinda da integração das duas perspectivas, bem como a importância de análises mais aprofundadas sobre tais conexões.

INTRODUÇÃO

Discutir o processo de inovação tem sido objeto crescente de estudos, especialmente a partir do reconhecimento da importância cada vez maior deste processo na construção de valor e vantagens competitivas que geram maiores possibilidades de êxito em meio ao caráter global da competitividade. As novas formas de relações entre atores, em redes interorganizacionais, lançam uma nova reflexão sobre o advento da inovação, considerando a dinâmica de trocas de informações e conhecimento no âmbito destas novas formas organizacionais.

Os estudos sobre inovação destacam a crescente necessidade de compreender e promover processos de inovação como via de entrada e permanência de organizações em redes competitivas globais, que se configuram como formas de governança sob novos padrões de relações interorganizacionais. Especialmente diante de um contexto complexo e em constante fluxo de transformações, inovações efetivas (radicais e incrementais) de produtos,

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processos e práticas de gestão são requisitos para a manutenção de firmas neste sistema, passando a constituir-se como fator decisivo na construção de valor e vantagem competitiva (PORTER, 1983).

As relações interorganizacionais têm conduzido novos mecanismos de coordenação, configurando redes de relações pautadas em trocas recíprocas, flexibilidade e confiança. Os resultados positivos destas novas formas de relações entre agentes econômicos evidenciam a importância de estudos sobre suas bases de funcionamento e a relação destas com a inovação, onde são decisivos os processos de aprendizagem (LUNDVALL, 1985; DOSI, 1988). A inserção em redes permite a troca interativa de informações e conhecimento necessários à construção de inovação, dado o caráter distributivo de recursos e conhecimento entre firmas, que necessitam realizar trocas.

Neste sentido, a responsabilidade de inovar tem revelado um novo desafio: o desenvolvimento de processos inovativos não apenas no nível interno organizacional, mas no nível de redes interorganizacionais globais, que trazem novas perspectivas sobre a troca de informações e conhecimento, processos de aprendizagem e aperfeiçoamento tecnológico, de forma a permitir a geração de inovações estratégicas efetivas dentro de padrões globais de qualidade e competitividade.

A importância da inovação na construção de competitividade desde o nível local ao global tem sido crescentemente reconhecida, especialmente com o advento de cadeias de produção globais em um sistema flexível (SCHMITZ, 2005). Nesta perspectiva destacam-se os estudos sobre novas formas de organização da produção além do mercado e hierarquia - aglomerados locais e redes interorganizacionais – que constroem vantagens competitivas a partir da ação conjunta e trocas de informações que geram aprendizagem e inovação; especialmente com o advento das novas tecnologias da informação e comunicação, que facilitam os fluxos de conhecimento entre atores a nível global (CASTELLS, 1999).

Desde a proposição de Shumpeter (1934), a inovação passou a configurar-se com maior relevância no âmbito da teoria econômica, destacando-se a relação entre inovação tecnológica e desenvolvimento econômico sobre a competitividade industrial.

No nível nacional, a formação de Sistemas Nacionais de Inovação (SNI) se mostra como fator determinante para a dinamização de processos de inovação. O estudo sobre Sistema Nacional de Inovação parte do reconhecimento de que a inovação é um processo interativo com foco na “co-evolução de estruturas econômicas e instituições e a forma como essa co-evolução afeta a produção e o uso do ‘capital intelectual’” (JOHNSON e LUNDVALL, 2005, p.99)

Apesar da complexidade de definir uma estratégia de desenvolvimento nacional, pode-se apontar como fatores-chave para o conceito de sistema de inovação, o depode-senvolvimento de

competências, a interação de fatores e a integração de políticas. Além disto, a integração de

aspectos econômicos, sociais e ecológicos para o estabelecimento de uma trajetória de desenvolvimento sustentável requer uma estratégia integrada que combine inovações técnicas, organizacionais e institucionais (JOHNSON e LUNDVALL, 2005).

O desenvolvimento e compartilhamento de conhecimento para a construção de inovação é diretamente afetado pelo Sistema Nacional de Inovação (SNI), definido por Freeman e Lundvall como um conjunto de relações entre elementos, que determinam a capacidade nacional de aprendizado, adaptação e inovação. Desde os trabalhos de Freeman no início da década de 1980 o caráter nacional da inovação passa a ser objeto de estudos, dando ênfase às ligações entre empresas e instituições no desenvolvimento de novas tecnologias (JOHNSON e LUNDVALL, 2005).

Como acréscimo ao conceito de Sistema Nacional de Inovação, Hage e Hollingsworth (2000) propõem a perspectiva de Redes de Inovação a partir da conexão entre arenas de pesquisa (pesquisa básica; pesquisa aplicada; pesquisa de desenvolvimento de produtos;

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pesquisa de produção; pesquisa de controle da qualidade; pesquisa de comercialização e marketing) e dos conceitos de shape e connectedness no âmbito de cada arena e entre elas, constituindo redes inter-organizacionais de pesquisa, a nível global, direcionadas para a construção de inovações radicais de produtos e processos.

As Redes de Inovação são propostas como uma extensão do SNI, na medida em que extrapolam as fronteiras nacionais, integrando atores e conhecimentos diversos de várias organizações ou redes, o que potencializa a geração de inovações em um contexto marcadamente globalizado. As redes de inovação propõem, portanto, uma ampliação da abordagem de SNI. Neste artigo, sugere-se uma ampliação da abordagem de redes de

inovação (HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000), a partir da perspectiva de redes sociais sociais (GRANOVETTER, 1985; BURT, 1992; UZZI, 1997; POWELL e SMITH-DOEER,

1994, ZUKIN e DiMAGGIO, 1990; NORHIA, 1992), integrando uma abordagem socializada para a análise da geração de inovação no âmbito de redes.

Esta proposta busca estender a proposta de redes de inovação em seus conceitos de

shape e connectedness, especificamente a partir do conceito de laços sociais

(GRANOVETTER, 1973), que parte da perspectiva estrutural de redes sociais, pertinente para a apreciação das ‘redes de inovação’, na medida em que estas se configuram a partir de uma estrutura de relações entre arenas de pesquisa.

A perspectiva analítica de redes sociais parte do princípio de imersão social, segundo o qual as relações sociais interferem na ação econômica dos atores (POLANYI, 1944; GRANOVETTER, 1985). Partindo deste pressuposto, tal perspectiva tem seu foco na análise estrutural de redes, considerando-as como ‘metáforas’ ou parâmetro de análise de relações (POWELL e SMITH-DOERR, 1994), contemplando aspectos tais como a força dos laços – fortes ou fracos (GRANOVETTER, 1973), a posição dos atores e arquitetura da rede (BURT, 1992), e a qualidade dos relacionamentos (UZZI, 1997).

O conceito de laço social é definido como elo de comunicação entre nós (agentes) de uma mesma rede ou entre diferentes redes. Os laços fortes (strong ties) apresentam relações de maior proximidade e freqüência entre atores, enquanto os laços fracos (weak ties) identificam relações mais distantes e, portanto, os atores interagem menos. Granovetter (1973) destaca o laço fraco como aglutinador de redes densas (laços fortes), na medida em que estabelece comunicação e troca de informações entre estas. O autor aponta assim ‘a força dos laços fracos’, ressaltando a importância de obter informações novas fora do grupo de relações fortemente conectadas nas redes densas.

Muito se tem discutido sobre a necessidade de analisar fenômenos organizacionais sob uma abordagem mais contextualizada e socializada. A abordagem de laços sociais se mostra como perspectiva analítica adequada a este propósito, equilibrando perspectivas de análise subsocializadas (voluntarismo) e sobresocializadas (determinismo ambiental), ao passo que considera tanto a capacidade de ação humana quanto fontes de constrangimento (POWELL e SMITH-DOERR, 1994).

A junção da abordagem de redes sociais (laços sociais) e redes de inovação pressupõe a complementaridade entre abordagens distintas, no entanto embasadas na visão de inovação como um processo não-linear, mas um complexo processo de interação e aprendizagem (LUNDVALL, 1985), sistêmico e contextualizado.

Hage e Hollinsgworth (2000) sugerem as redes de inovação como um conjunto de arenas de pesquisa interconectadas, neste sentido pode-se apreender que tal proposição extrapola a noção de inovação como resultado apenas de pesquisa e desenvolvimento, considerando as interações entre atores das diversas arenas. Pressupõe, então, uma abordagem não-linear que considera o aspecto sistêmico e relacional da geração de inovação. Nesta mesma direção, a perspectiva analítica de redes (laços sociais) amplia o entendimento da inovação também como processo não linear, ao apontar o contexto social de relações entre

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atores e sua interferência sobre a geração de inovação. A proposta deste ensaio é, portanto, a de unir a abordagem de redes sociais à análise das redes de inovação, como meio de expandir o entendimento da inovação como processo não-linear.

Partindo de uma explanação sobre os principais estudos dentro de uma perspectiva não-linear de inovação, a abordagem de redes de inovação é apresentada como expansão do conceito de sistemas de inovação, em seus conceitos de shape e connectedness no âmbito das ‘arenas de pesquisa’ (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000). A seguir é apresentada a perspectiva de redes sociais e o conceito de laços sociais (GRANOVETTER, 1973), partindo do pressuposto de imersão social. Finalmente, são discutidas as contribuições da junção da perspectiva de laços sociais à análise das redes de inovação, revelando uma abordagem analítica mais contextualizada para o estudo da geração de inovação no âmbito de redes – seguido de algumas considerações pertinentes a partir deste ensaio, como a sugestão para trabalhos futuros.

1. INOVAÇÃO

A inovação pode ser definida como o processo que envolve a geração de novos produtos, processos ou práticas de gestão, a partir da pesquisa, descoberta, experimentação, desenvolvimento e adoção (DOSI, 1988), podendo ser incremental ou radical (FREEMAN, 1988), quando as melhorias de produto ou processo não implicam em mudanças estruturais na indústria; ou quando ocorrem rupturas tecnológicas a partir de novos produtos ou processos.

Os processos inovativos constituem fator decisivo na construção de valor e vantagem competitiva (PORTER, 1983), além de uma competitividade econômica sustentável, associando-se às transformações de longo prazo na economia e na sociedade (LASTRES e CASSIOLATO, 2003).

Desde a proposição de Schumpeter (1934), de que avanços tecnológicos são fontes de desenvolvimento econômico, estudos têm buscado compreender como a inovação de produtos e processos é gerada, aplicada e gerenciada, de forma que conduza à competitividade de empresas ou aglomerados de empresas (FREEMAN, 1982, 1987; LUNDVAL, 1985, 1992; DOSI, 1988; CASSIOLATO e LASTRES, 1999).

Há duas perspectivas de inovação, ou formas de conceber o processo inovativo: as visões linear e não-linear. Enquanto a visão linear de inovação tem seu foco nos processos de produção e na pesquisa científica, a perspectiva não-linear é contextualizada, concebendo a inovação como um complexo processo de interação e aprendizagem (LUNDVALL, 1985). Nesta última visão, a capacidade inovativa das empresas depende da interação entre atores individuais e entre estes e o contexto institucional.

Segundo a visão linear tradicional, predominante até a década de 1960, a geração de inovação se dá em estágios sucessivos de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento, produção e difusão de novos produtos e processos (CASSIOLATO e LASTRES, 2007). A abordagem não - linear considera, entretanto, que a inovação parte da aprendizagem inerente à experiência, mais do que pela simples pesquisa. Neste sentido, a inovação é um processo sistêmico e complexo, que surge da troca de informações e conhecimento entre diversos atores, em suas relações de interação. É um processo imerso em um contexto social, sendo influenciado por mudanças institucionais, sociais e culturais (LUNDVALL, 1988).

Dentro de uma concepção relacional e interativa da geração de inovações, destacam-se, no âmbito da Economia de Inovação, os processos de aprendizagem (LUNDVALL, 1985) e o caráter contextual e sistêmico da inovação, dentro do conceito de Sistema de Inovação (FREEMAN, 1982, 1987).

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O processo de aprendizagem está relacionado à capacidade de aquisição de novos conhecimentos em processos de interação, transformando o aprendizado em um fator competitivo (DOSI, 1988; LUNDVALL e BORRÁS, 1998; CASSIOLATO e LASTRES, 1999), onde o contexto institucional, social e político interferem nas interações de aprendizagem.

Os Sistemas de Inovação são definidos como conjuntos de instituições que afetam a capacidade de aprendizagem e a criação de competências a nível local, setorial, regional ou nacional (FREEMAN, 1987; 1988; LUNDVALL, 1992; 1995). A inovação como um processo sistêmico (FREEMAN, 1987, 1995; LUNDVALL, 1988, 1992, 1995; NELSON e ROSEMBERG, 1993) considera a capacidade endógena de desenvolvimento tecnológico.

No nível nacional, a formação de Sistemas Nacionais de Inovação (SNI) se mostra como fator determinante para a dinamização de processos de inovação, a partir de um conjunto de relações entre elementos que determinam a capacidade nacional de aprendizado, adaptação e inovação, partindo do reconhecimento de que a inovação é um processo interativo com foco na “evolução de estruturas econômicas e instituições e a forma como essa co-evolução afeta a produção e o uso do ‘capital intelectual’” (JOHNSON e LUNDVALL, 2005, p.99).

Os padrões nacionais de inovação são relevantes para a competitividade dos setores industriais, ou seja, processos de inovação no âmbito nacional condicionam o desempenho nacional a nível global (ANDERSEN, 1991), ressaltando-se que a revolução da comunicação e do desenvolvimento de uma forma de cultura empresarial internacional não deve diminuir a importância dos sistemas nacionais de inovação.

Desde os trabalhos de Freeman no início da década de 1980 o caráter nacional da inovação passa a ser objeto de estudos, dando ênfase às ligações entre empresas e instituições no desenvolvimento de novas tecnologias (JOHNSON e LUNDVALL, 2005). A publicação de dois livros marca a fase decisiva do conhecimento sobre Sistema Nacional de Inovação, com foco sobre o desenvolvimento do conceito (Lundvall, 1992) e sobre o estudo de sistemas nacionais específicos e comparações entre países (Nelson, 1993).

Na concepção de Lundvall, os sistemas de inovação devem contemplar, além de instituições de pesquisa e desenvolvimento (P&D), a noção de que o sistema nacional está inserido em sistemas mais amplos, sociais e econômicos (FREEMAN, 2005), partindo assim de uma concepção não-linear do processo de inovação. Há que considerar, ainda, o fato de que os sistemas de inovação divergem de acordo com a trajetória tecnológica do país e seu histórico institucional (LASTRES et al., 1998).

Apesar da complexidade de definir uma estratégia de desenvolvimento nacional, pode-se apontar como fatores-chave para o conceito de sistema de inovação, o depode-senvolvimento de

competências, a interação de fatores e a integração de políticas. Além disto, a integração de

aspectos econômicos, sociais e ecológicos para o estabelecimento de uma trajetória de desenvolvimento sustentável requer uma estratégia integrada que combine inovações técnicas, organizacionais e institucionais (JOHNSON e LUNDVALL, 2005).

2. REDES DE INOVAÇÃO

Partindo da reflexão sobre os pressupostos das literaturas meso (aprendizagem) e macro (SNI e formas de coordenação), Hage e Hollingsworth (2000) propõem a perspectiva de ‘Redes de Inovação de Idéias’ (idea innovation networks) a partir da conexão entre ‘arenas de pesquisa’ e dos conceitos de shape e connectedness - no âmbito de cada arena e entre elas - constituindo redes interorganizacionais de pesquisa, a nível global, direcionadas para a construção de inovações radicais de produtos e processos.

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As Redes de Inovação se estruturam a partir de um conjunto de seis arenas de pesquisa conectadas entre si e voltadas para a geração de inovação: pesquisa básica; pesquisa

aplicada; pesquisa de desenvolvimento de produtos; pesquisa de produção; pesquisa de controle da qualidade; pesquisa de comercialização e marketing. Assim, uma rede de

inovação é uma configuração de seis arenas funcionais distintas, cada uma das quais produz idéias que circulam entre as outras arenas (HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000).

As Redes de Inovação são propostas como uma extensão do Sistema Nacional de Inovação, na medida em que extrapolam as fronteiras nacionais, integrando atores e conhecimentos diversos de várias organizações ou redes organizacionais, o que potencializa a geração de inovações. A principal limitação da perspectiva de SNI, segundo Hage e Hollingsworth (2000), se mostra diante da falta de enfoque em formas transnacionais de comunicação (connectedness), que constituem a base para a produção de inovações radicais na medida em que permitem o complemento de ‘forças’ entre arenas de diferentes nações.

Também é apontado o fato de a literatura sobre SNI não ter se concentrado na inovação em si, especialmente a inovação radical de produtos e processos, mas em descrever a configuração do arranjo institucional que condiciona a estruturação das firmas. Além de não analisar como arenas de pesquisa estão separadas ou combinadas em diferentes sociedades. Sendo assim, os estudos não têm explicado porque as firmas que anteriormente não tinham um bom desempenho em uma indústria particular puderam ultrapassar seus concorrentes de outros países, transformando-se em líderes mundiais.

A proposição de redes de inovação busca preencher tais disfunções da literatura, através dos conceitos de Shape e Connectedness. O conceito de shape refere-se à ‘dimensão’ da geração de conhecimento nas arenas: número de pesquisadores trabalhando em uma pesquisa, nível de gastos (recursos), quantidade de outputs de conhecimento gerada em cada arena – aspectos que indicam a capacidade de absorção de conhecimento nas arenas. A conectividade (connectedness) diz respeito à comunicação entre atores dentro das arenas ou entre elas, sendo mensurada pela intensidade e freqüência de interações entre pesquisadores, grupos de trabalho ou organizações, no âmbito de uma arena específica ou entre duas ou mais arenas. A comunicação possui força no âmbito das redes de inovação, na medida em que potencializa a transmissão de conhecimento tácito e codificado pela intensa interação entre atores: “um alto de grau de comunicação ocorre quando ambos os conhecimentos tácito e codificado são comunicados, o que requer intensa e freqüente comunicação entre atores” (POLANYI, 1962, 1966 apud HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000). Neste sentido, a ausência de conectividade impede que as informações transitem, impedindo o surgimento de inovações.

Os conceitos de shape e connectedness são complementares para a estruturação de inovações radicais de produtos e processos em redes de inovação, utilizados como parâmetro de comparação de setores industriais nacionais ou entre países. A relação entre shape e

connectedness mostra que à medida que as arenas ‘crescem’, mais crucial torna-se a

comunicação, dado que o número de agentes e organizações aumenta. Quanto maior a semelhança nos padrões de shape e connectedness das arenas de pesquisa ao longo dos setores, maior o suporte para interpretação do Sistema Nacional de Inovação, por outro lado, menor semelhança entre as arenas pode significar maior suporte para imposição de forças globais sobre a geração de inovações.

O reconhecimento deste caráter unificador (no âmbito nacional), e ao mesmo tempo, dependente (no âmbito global) do Sistema Nacional de Inovação, incita a reflexão sobre a atuação deste Sistema num contexto de relações que transcendem os limites nacionais, visto que “as redes inter-organizacionais globais transcendem as fronteiras nacionais e tentam conectar atores ao longo de grandes distâncias” (HARBISON; PEKAR, 1998 apud HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000, p.993). Ao defenderem este ponto, Hage e Hollingsworth (2000)

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levantam a questão de como a conectividade ocorre no nível trans-nacional, bem como especulam sobre a possibilidade de globalização das arenas de uma rede de inovação no âmbito do SNI. A estrutura de redes de inovação providencia, assim, uma nova perspectiva de abordagem do SNI, considerando os impactos da globalização e a inserção em redes de inovação globais.

Algumas problemáticas são apontadas pelos mesmos atores como emergentes no processo de ‘imersão’ do SNI no âmbito das relações globais. Muitas relações transnacionais são realizadas para suprir a necessidade de aprendizado e solução de problemas, desfazendo-se logo após sua solução, o que aponta para uma connectedness fraca; partindo desta perspectiva, estratégias de pesquisa em alguns segmentos de mercado estão se tornando globais incrementalmente, mas estes relacionamentos não são duradouros a menos que uma nova organização permanente seja criada.

Os autores destacam ainda um questionamento pertinente quanto ao SNI e sua relação com as redes de inovação, qual seja o critério de determinação da existência de um sistema de inovação a nível global, a partir da quantidade de arenas e de setores industriais conectados de forma transnacional, ou seja, qual a quantidade de arenas (bem como de setores industriais) necessariamente conectadas para a formação de um sistema de inovação global? A análise da conectividade torna-se pertinente para esta resposta, considerando que não necessariamente haverá uma conectividade forte em relações transnacionais.

As formas de coordenação não-mercado, especialmente as redes interorganizacionais, são apontadas como as mais apropriadas para a propagação da conectividade, dado que o mercado não oferece conectividade forte visto que suas relações são esporádicas. No entanto, a literatura sobre estas formas de coordenação não tem analisado sistematicamente, segundo os autores, a conectividade em arenas ao longo das firmas e em um contexto global. Estão mais voltadas para o problema de como as arenas estão conectadas de forma trans-organizacional e trans-nacional, apontando possibilidades de conexão entre elas, no entanto sem enfatizar as conexões “firma/não-firma” ou a “força da conectividade”. Neste sentido, tais estudos têm falhado em examinar a diversidade entre atores e o quanto eles estão fortemente conectados, bem como a conseqüência deste processo para a inovação radical de produtos e processos (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000).

Embora considere decisivo para a geração de inovações a realização de pesquisas, através das arenas de pesquisa (básica, aplicada, desenvolvimento de produtos, produção, controle da qualidade, comercialização e marketing), a proposição de Redes de Inovação aponta para uma perspectiva não-linear de inovação, ao defender a comunicação (connesteness) no âmbito de cada arena de pesquisa e entre elas, destacando assim o caráter interativo, relacional e sistêmico do processo inovativo.

3. A PERSPECTIVA DE REDES SOCIAIS

As relações sociais constituem tipos de conexões entre pessoas dentro de uma estrutura social, e podem ser analisadas a partir do conceito de redes sociais. Ou seja, ‘redes sociais’ envolve ‘relações sociais’, que envolvem uma ‘estrutura social’ (FREEMAN et al., 1992). Enquanto “estrutura social” refere-se a idéias e conceitos a respeito de padrões de relações sociais entre pessoas, “redes sociais” refere-se a conceitos metodológicos e analíticos que facilitam o estudo sistemático de padrões de relação (FREEMAN et al., 1992).

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O desenvolvimento de conceitos e procedimentos formais de redes sociais começa com o trabalho de Moreno (1934), que introduz os conceitos e ferramentas de sociometria, destacando-se a partir daí três tradições na pesquisa de redes (BERRY et al., 2004): (1) tradição sociológica e a análise de redes sociais (2) tradição da ciência política e a análise de redes de políticas (3) tradição da gestão pública e a análise de redes de gestão pública – definidas por Powell e Smith-Doerr (1994, p.) como uma ‘confluência de percepções’ que conduziram a uma ‘análise formal de redes’.

Esta análise formal de redes, dentro da tradição sociológica (mais especificamente a sociologia econômica), diz respeito à perspectiva analítica de redes, por sua vez distinta da perspectiva de governança (POWELL e SMITH-DOERR, 1994). A perspectiva analítica concebe a rede como parâmetro de análise, uma ‘metáfora’ para analisar a estrutura das relações sociais: força do laço (GRANOVETTER, 1973), arquitetura da rede (BURT, 1992), qualidade dos relacionamentos (UZZI, 1997). Nesta concepção, uma rede é definida como um conjunto de ‘nós’, que constituem pessoas e grupos ligados a sistemas de relações sociais distintos, como amizade e participação em associações (NOHRIA, 1992).

Esta não deve ser confundida com a perspectiva de governança, na qual as redes dizem respeito a um tipo de lógica organizacional, uma maneira de governar relações entre atores econômicos, constituindo assim uma forma de organização da produção, ou uma estrutura de atores interligados em torno de uma atividade. Neste sentido, Lastres e Cassiolato (2003) definem redes de empresas como ‘arranjos interorganizacionais baseados em vínculos sistemáticos formais ou informais de empresas autônomas. Estas redes podem estar relacionadas a diferentes elos de uma determinada cadeia produtiva (conformando redes de fornecedor – produtor - usuário), bem como estarem vinculadas a diferentes dimensões espaciais (a partir das quais conformam-se redes locais, regionais, nacionais ou supranacionais)’.

Embora a maior parte dos estudos esteja voltada para uma ou outra perspectiva, Powell e Smith-Doerr (1994) sugerem uma abordagem complementar entre elas, de forma que a perspectiva analítica seja utilizada para o estudo de estruturas de governança. As Redes de Inovação podem constituir-se como uma forma de governança, no entanto o que se discute neste artigo é como a perspectiva analítica de redes pode ampliar o escopo de análise das Redes de Inovação, partindo do pressuposto de que os outputs gerados por tais redes sofrem a interferência de relações sociais entre os atores que as constituem.

Este é o princípio de imersão social, sobre o qual a perspectiva analítica de redes se sustenta. O conceito de imersão social, originalmente sugerido por Polanyi (1944) em sua reflexão sobre o mercado auto-regulável e seu impacto social, é resgatado e desenvolvido por Granovetter (1985) para a análise das atividades econômicas sob uma perspectiva socializada, partindo do pressuposto de que as ações econômicas são afetadas pelas relações sociais, ou seja, a economia é imersa socialmente.

A análise de redes corresponde a um dos mecanismos de imersão social apontados por Zukin e DiMaggio (1990) ao estenderem o conceito desenvolvido por Granovetter (1985), qual seja o mecanismo estrutural de imersão, com foco na análise da estrutura de rede. Revelando aspectos distintos, embora inter-relacionados, são definidos os mecanismos político, cognitivo e cultural.

Estruturalmente as redes podem ser densas ou difusas, destacando-se a posição de um ator na estrutura da rede e os efeitos desta posição em sua atuação. Quanto mais central a posição de um ator na rede, mais relações serão estabelecidas com outros atores direta ou indiretamente por relações em cadeia (HARGADON e SUTTON, 1997).

Inerente ao posicionamento estrutural está o conceito de densidade da rede, que aumenta à medida que a inter-relação entre atores da rede cresce. Assim, o posicionamento estrutural de um ator varia dependendo da densidade da rede. A confiança inerente às redes

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densas permite um maior fluxo de informação; já as redes difusas são menos interconectadas, no entanto não admitem redundância em suas relações, facilitando o acesso a novas informações.

Granovetter (1973) destaca o conceito de laço, que pode ser forte ou fraco. Os laços fortes (strong ties) são caracterizados por apresentarem relações de maior proximidade e freqüência entre atores; os laços fracos (weak ties) identificam relações mais distantes e, portanto, os atores interagem menos. É dado destaque ao papel do laço fraco como aglutinador de redes densas (laços fortes), estabelecendo comunicação e troca de informações entre estas. O autor aponta assim ‘a força dos laços fracos’, ressaltando a importância de obter informações novas fora do grupo de relações fortemente conectadas, nas redes densas.

Mais que a força do laço, Burt (1992) mostra como a arquitetura da rede interfere no desempenho, buscando entender como a estrutura social do ambiente competitivo gera oportunidades para obter benefícios de informação e controle. Ao propor os conceitos de relação redundante e não-redundante, Burt apresenta a existência de buracos estruturais, como relações de não-redundância entre atores, concluindo que os laços fracos são fundamentais para a transmissão de novas informações, desde que não sejam redundantes, dado que a redundância afeta a capacidade de inovação.

Além da arquitetura da rede, Uzzi (1997) destaca como os relacionamentos interferem no desempenho econômico de acordo com sua qualidade: laços imersos apresentam maiores níveis de confiança do que laços de mercado, com ‘trocas de informações refinadas’ e ‘arranjos para solução conjunta de problemas’, conduzindo as decisões críticas. Uma organização muito imersa terá maior dificuldade para adaptar-se ao ambiente, comprometendo o acesso a informações, embora permita maior coesão nas relações que estabelece na rede.

Ao embasar-se no princípio da imersão social, a análise estrutural de redes equilibra perspectivas subsocializadas (voluntarismo) e sobre-socializadas (determinismo ambiental), ao considerarem tanto a capacidade de ação humana quanto fontes de constrangimento (GRANOVETTER, 1985; POWELL e SMITH-DOERR, 1994), fugindo assim de visões atomizadas sobre a ação econômica, em uma abordagem contextualizada.

A abordagem de redes tem sido apontada e utilizada como um caminho para abordar velhas questões sob uma perspectiva socializada, ao passo que conduz à visualização de aspectos sociais (relações sociais) determinantes para o entendimento da ação econômica dos atores. Nesta direção, apresenta-se a seguir o reflexo desta abordagem para a análise das redes de inovação (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000).

4. AS RELAÇÕES SOCIAIS NAS REDES DE INOVAÇÃO

Muito se tem discutido sobre a necessidade de analisar fenômenos organizacionais sob uma abordagem mais contextualizada e sociocultural, onde a abordagem de redes sociais se mostra como perspectiva pertinente. Neste sentido, para além da ampliação da abordagem de Sistema Nacional de Inovação, as Redes de Inovação (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000) podem ter sua análise estendida a partir da abordagem contextualizada de redes sociais (GRANOVETTER, 1973; BURT, 1992; UZZI, 1997), o que permite verificar o impacto das relações sociais sobre a dimensão (the shape) e força da comunicação (the connectedness) entre atores, ao longo das várias ‘arenas de pesquisa’.

O que se propõe neste ensaio é discutir a possibilidade de abordar as redes de

inovação (HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000) a partir da proposição de laços sociais

(GRANOVETTER, 1973), pressupondo que esta abordagem pode ser acrescentada de maneira pertinente à análise das redes de inovação, na medida em que estas se configuram a

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partir de uma estrutura de relações entre arenas de pesquisa, conectadas a nível global, onde as relações sociais são evidentes.

O cerne da discussão está na apropriação da perspectiva de laços (GRANOVETTER, 1973) pelos conceitos de shape e connectedness, que constituem a base da estrutura de análise de redes de inovação (HAGE; HOLLINGSWORTH, 2000). No conceito de shape, o número de pesquisadores envolvidos em uma pesquisa e as saídas ou resultados gerados nas arenas podem ser afetados pelas relações (laços) entre agentes de um grupo de pesquisa (ou de grupos distintos), em uma rede interorganizacional. Com relação ao conceito de

connectedness, a intensidade e freqüência de comunicação podem ser mensuradas pela

intensidade dos laços entre atores das diversas arenas - laços fortes (strong ties) ou fracos (weak ties).

As comunicações entre atores nas redes de inovação podem ser vistas, portanto, como laços (GRANOVETTER, 1973), e a intensidade destas comunicações (laços fortes, laços fracos) podem apontar a ‘força da conectividade’ (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000). Sendo assim, a intensidade do laço (forte ou fraco) pode ser usada para mensurar a força da conectividade ou a intensidade e freqüência de comunicação entre dois pontos (atores) da rede de inovação. Os laços corresponderiam, assim, à comunicação ou interação (connectedness) entre atores de uma arena ou entre arenas de organizações conectadas em rede para o desenvolvimento de inovações.

Laços fortes podem indicar uma conectividade forte no âmbito de uma arena específica; enquanto a força da conectividade da rede de inovação como um todo (várias arenas interconectadas) exigiria laços fracos para conectar arenas que não se comunicam. Neste caso, a perspectiva de Granovetter (1973) de força dos laços fracos pode ser legitimada a partir da verificação de arenas de laços ‘internos’ fortes mas com pouca ou nenhuma comunicação entre si pela falta de laços fracos que as intermedeiem, na formação de uma rede mais coesa.

A perspectiva de laços pode ainda ser aplicada para ampliar a análise do Sistema Nacional de Inovação associado ao conceito de Redes de Inovação, que tende a influenciar as escolhas relativas à conexão com atores em arenas estrangeiras, ou seja, os laços estabelecidos no SNI interferem nos laços para formação ou inserção em redes de inovação transnacionais.

Hage e Hollingsworth (2000) afirmam que a comunicação efetiva de informação requer freqüente e intensa ‘comunicação face-a-face’, sugerindo a existência de laços fortes, relações detalhadas e envolvidas por confiança. Por outro lado, laços fracos seriam importantes para unir arenas isoladas. Tais autores afirmam, ainda, que, muitas relações transnacionais são realizadas para suprir a necessidade de aprendizado e solução de problemas, desfazendo-se após a sua solução, o que aponta para uma connectedness fraca. Partindo desta perspectiva pode-se questionar 1) até que ponto esta organização permanente, que atua na interação entre arenas, seria um laço fraco entre atores e 2) até que ponto, no caso de uma organização permanente não ser instituída, estas relações pontuais (laços fracos) atuariam, de fato, na união de arenas fortemente conectadas internamente (mas sem comunicação entre elas).

Esta reflexão parte da noção de que cada arena produz idéias distintas que se complementam a partir da comunicação entre elas, onde cada arena pode apresentar relações fortes entre as pessoas ou grupos de pesquisa que dela participam (strong ties), no entanto as comunicações podem não ser transmitidas para outras arenas – a menos que um laço fraco seja estabelecido.

Em uma reflexão sobre os processos de aprendizagem na rede, a comunicação de conhecimento tácito e codificado também pode ser analisada entre as arenas a partir da intensidade dos laços (forte ou fraco), numa avaliação de como a comunicação direta (strong

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ties) ou indireta (weak ties) interfere na comunicação e na intensidade e freqüência de

interações, com respectivas conseqüências para a geração de inovação.

As reflexões acima sugeridas a partir dos laços sociais partem do pressuposto de que o tamanho das arenas (the shape) e a quantidade de comunicação (connectedness) variam entre as organizações, o que impacta na geração de inovação (HAGE e HOLLINGWORTH, 2000). Partindo desta perspectiva, pode ser analisado até que ponto a intensidade dos laços entre agentes interfere na geração de inovação, comparando redes e seus respectivos níveis de

shape e connectedness, utilizando o padrão de intensidade dos laços. Esta mesma analogia

pode ser estendida para a análise da comunicação entre grupos de pesquisa em arenas de uma mesma organização, ou arenas de organizações distintas – verificando a interação entre arenas de um mesmo tipo de pesquisa (por exemplo, pesquisa básica) ou entre tipos distintos (por exemplo, pesquisa básica e aplicada).

Por último, cabe verificar, a partir da noção de ‘força do laço’, o fato de que, não necessariamente haverá uma conectividade (connectedness) forte em relações transnacionais, ou seja, em redes de inovação globais, podendo haver uma maior força de comunicação no âmbito nacional (SNI), apontando a necessidade de estabelecer laços (fracos, na proposição de Granovetter) entre arenas de pesquisa nacionais e arenas internacionais.

Ao questionar-se sobre quantas arenas de quantos setores industriais devem estar conectadas transnacionalmente para se determinar que há um sistema de inovação operando em nível global, Hage e Hollingsworth (2000) levantam a reflexão sobre os parâmetros de verificação empírica de uma rede de inovação. A análise de laços pode ser válida para esta resposta, considerando que não apenas a quantidade de laços seria suficiente para tal mensuração, mas também a força das comunicações – laços fortes ou fracos (GRANOVETTER, 1973).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo apresenta um ensaio teórico, cuja proposta está na união de duas abordagens teóricas distintas, embora não divergentes, quais sejam, a proposição de redes de

inovação (HAGE e HOLLINGSWORTH, 2000) e laços sociais (GRANOVETTER, 1973).

Com a intenção de conferir uma abordagem contextualizada para a análise de redes de inovação, sugere-se a extensão dos conceitos de shape e connectedness a partir do conceito de

laços sociais, dentro da abordagem estrutural de redes sociais.

A integração destas duas abordagens se mostra reveladora, ao apontar categorias analíticas distintas sobre a geração de inovação em redes, evidenciando pontos convergentes entre a abordagem de redes de inovação e as redes sociais, especificamente o conceito de laços sociais, o qual evidencia aspectos que, de outro modo, não seriam identificados a não ser por meio de uma perspectiva socializada de análise.

Neste sentido, a proposição de redes de inovação apresentou vários aspectos que dão margem à inserção da perspectiva de laços sociais para análise da geração de inovação através das arenas de pesquisa. Especificamente os conceitos de shape e connectedness – base da estruturação de redes de inovação - parecem estabelecer uma estreita relação com os conceitos de laços sociais, na medida em que estes podem ser utilizados para a mensuração da força da conectividade entre atores, indicando aspectos que potencializam a dinâmica de geração de inovação a partir da integração entre atores em redes globais de comunicação. Neste sentido, as abordagens se mostraram complementares para o estudo da inovação.

As relações indicadas neste ensaio revelam apenas algumas das diversas conexões que podem ser estabelecidas entre os diversos conceitos que as envolvem, o que indica a complexidade e riqueza advinda da integração das duas perspectivas, bem como a importância

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de análises mais aprofundadas sobre tais conexões. Por exemplo, o conceito de buracos

estruturais (BURT, 1992), pode apontar gaps entre as arenas de pesquisa, o que prejudica a

troca de informações e geração de soluções inovadoras. A densidade da rede também pode ser investigada na geração de resultados nas redes de inovação, na medida em que interfere na ‘visualização’ dos atores e na sua flexibilidade de ação – redes densas podem impedir a busca por informações novas, sugerindo mais uma vez a atuação de laços fracos.

Retomando a perspectiva de Granovetter, a força dos laços fracos pode ser legitimada pela análise de seu impacto na dinamização de redes de inovação e suas arenas de pesquisa e nos resultados em forma de inovações concretas. A formação e origem das redes de inovação parecem, assim, envolver aspectos sociais, mais do que os aspectos contemplados nos conceitos de shape e connectedness.

As proposições de integração entre redes de inovação e laços sociais podem ser confirmadas ou refutadas, na medida em que estudos empíricos sejam realizados para tal, indicando uma nova dimensão analítica sobre a geração de inovação no âmbito das redes de atores interconectados a nível nacional e global (redes de inovação).

Sugere-se para trabalhos futuros a aplicação da abordagem de redes sociais para análise das redes de inovação em uma verificação empírica, seja na perspectiva de laços sociais, seja na perspectiva de outros conceitos estruturais de redes não contemplados neste estudo (posição dos atores, conteúdo do laço, arquitetura da rede, qualidade dos relacionamentos). De todo modo a abordagem de redes lança uma perspectiva socializada aos estudos sobre inovação, revelando novos campos analíticos. Para além dos aspectos estruturais de redes pode ser também agregada à análise das redes de inovação a perspectiva dos demais mecanismos de imersão social, quais sejam, político, cognitivo e cultural.

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