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O NÚCLEO CENTRAL DAS REPRESENTAÇÕES DE ENFERMEIROS

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RESUMO: RESUMO: RESUMO: RESUMO:

RESUMO: Definiu-se como objetivo deste estudo analisar a estrutura da representação social acerca da enfermagem e as relações de conexão estabelecidas entre os seus elementos. Pesquisa qualitativa baseada na Teoria do Núcleo Central das Representações Sociais, desenvolvida com 83 enfermeiros de um município do Estado do Rio de Janeiro. Os dados foram coletados através de evocações livres ao termo indutor enfermagem durante o segundo semestre de 2002 e analisados pelo software EVOC e pela análise de similitude. Observa-se, na análise EVOC, um núcleo estruturado no amor e na dedicação, enquanto a de similitude aponta uma centralidade para a dedicação, ficando o amor mais perifericamen-te. As duas análises explicitam duas dimensões à representação, a afetiva e a atitudinal, sendo a última dividida em duas, a vocacional e a profissional. Conclui-se que a representação da enfermagem para os enfermeiros apresenta-se complexa, comportando alguns elementos inespecíficos e outros importantes para o desenvolvimento da profissão.

Palavras-Chave: Palavras-Chave: Palavras-Chave: Palavras-Chave:

Palavras-Chave: Autonomia profissional; enfermagem; papel profissional; psicologia social. ABSTRACT

ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT

ABSTRACT::::: This study aims at analyzing the structure of the social representation of nursing and the interrelations of its elements. This qualitative research is based on the Theory of the Central Nucleus of Social Representations and was developed with 83 nurses in a city in the state of Rio de Janeiro, Brazil. Data was collected through free associations made to the inductive term nursing, over the second half of 2002. Data analysis was carried out on a double basis: that of the EVOC software and that of the similitude analysis. The EVOC analysis unveils a nucleus structured on love and devotion, whereas the similitude analysis shows the centrality of devotion in relation to a more marginal place of love. Both analyses resulted in a two-dimensional representation: affective and attitudinal. The last one was divided in two: vocational and professional. Conclusions show the complex nature of the representation of nursing by nurses. Non-specific elements get together with those found to be relevant to the development of the profession.

Keywords: Keywords: Keywords: Keywords:

Keywords: Professional autonomy; nursing; professional role; social psychology. RESUMEN:

RESUMEN: RESUMEN: RESUMEN:

RESUMEN: Fue definido como objetivo de este estudio analizar la estructura de la representación social sobre la enfermería y las relaciones de conexión establecidas entre sus elementos. Investigación cualitativa basada en la Teoría del Núcleo Central de las Representaciones Sociales desarrollada con 83 enfermeros de una ciudad del Estado de Río de Janeiro-Brasil. Los datos fueron recogidos a través de evocaciones libres al término inductor enfermería durante el segundo semestre de 2002 y analizados por el software EVOC y por el análisis de similitude. Se observa, en el análisis EVOC, un núcleo estructurado en el amor y en la dedicación, siendo el amor más periférico. Los dos análises explicitan dos dimensiones a la representación, la afectiva y la atitudinal, siendo la última dividida en dos, la vocacional y la profesional. Se concluye que la representación de la enfermería para los enfermeros se presenta compleja, abarcando algunos elementos inespecíficos y otros importantes para el desarrollo de la profesión.

Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave: Palabras Clave:

Palabras Clave: Autonomía profesional; enfermería; rol profesional; psicología social.

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Antonio Marcos Tosoli GomesI

Denize Cristina de OliveiraII

IEnfermeiro. Doutor em Enfermagem pela Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor Adjunto do Departamen-to de Enfermagem Médico Cirúrgico e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisador do Grupo de Pesquisa “A promoção da Saúde de Grupos Populacionais”. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: mtosoli@gmail.com. IIDoutora em Saúde Pública pela Escola de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Professora Titular do Departamento de Fundamentos de Enfer-magem e Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em EnferEnfer-magem da Faculdade de EnferEnfer-magem da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Líder do Grupo de Pesquisa “A promoção da Saúde de Grupos Populacionais”. Rio de Janeiro, Brasil. E-mail: dcouerj@gmail.com.

I

NTRODUÇÃO

O papel próprio do

enfermeiro, discutido pelos enfermeiros em si1,2 e por outros profissionais3, tem

se constituído como uma temática fundamental para a compreensão de sua importância no cenário da saú-de e das potencialidasaú-des que a profissão possui como

colaboradora na implementação de um novo paradigma em saúde, mais inclusivo, holístico e críti-co. De um modo geral, a tensão estabelecida entre as ciências humanas e biológicas na constituição da enfermagem tem conformado o seu exercício ora mais

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Rio de Janeiro. Desses, 42 desenvolvem suas atividades no contexto da atenção básica à saúde e 41 na rede hos-pitalar do município. Dos profissionais compreendidos na rede básica, 30 desenvolvem suas atividades no aten-dimento direto à clientela em postos e centros de saúde, atividades estas definidas, neste trabalho, como sendo a realização da consulta de enfermagem, e os outros 12 ocupam cargos diversos na estrutura gerencial da saúde coletiva do município em questão. Foram selecionadas três instituições hospitalares para a realização do estu-do, sendo duas públicas e uma particular filantrópica. Das públicas, uma é definida como sendo um hospital de grande porte e geral e a outra, de menor porte, é espe-cializada nos tratamentos clínicos, tanto de urgência quanto de alta complexidade. O hospital particular-fi-lantrópico é de grande porte, tendo enfermeiros em di-versas funções gerenciais e assistenciais.

Empregou-se a técnica de evocação ou associa-ção livre para a coleta de dados, utilizando-se, como termo indutor, a palavra enfermagem, no transcorrer do segundo semestre do ano de 2002. A aplicação da técnica consistiu em solicitar aos sujeitos que falas-sem cinco palavras ou expressões que lhes ocorriam imediatamente à cabeça em relação ao termo referi-do8,9. O produto das evocações foi organizado

previa-mente, constituindo um corpus para análise. O mate-rial foi, então, tratado pelo software EVOC 2000 que calculou, para o conjunto do corpus, a frequência sim-ples de cada palavra evocada, as ordens médias de evocação de cada palavra e a média das ordens médias de evocação.

Os dados foram analisados a partir de sua distri-buição no quadro de quatro casas10. Essa técnica, ao

combinar dois atributos relacionados às palavras ou às expressões evocadas, que são a frequência e a ordem em que foram evocadas, possibilita a distribuição dos termos produzidos segundo a importância atribuída pelos sujeitos. No quadrante superior esquerdo (maior frequência e menor rang) ficam situados os termos que constituem, provavelmente, o núcleo central; O su-perior direito denomina-se primeira periferia; no in-ferior esquerdo, localizam-se os elementos de contras-te; e as palavras localizadas no quadrante inferior di-reito constituem a segunda periferia da representação (menor frequência e maior rang)7,10.

A realização da análise de similitude baseou-se em Pecora11 no estabelecimento do principio da

conexidade espontânea, em que se considera que as palavras que foram evocadas de forma conjunta por um indivíduo no processo de evocação possuem graus variáveis de ligação, uma vez que o indivíduo as asso-ciou em sua projeção mental acerca do objeto. Nesse sentido, selecionou-se, do quadro gerado na análise de evocação, todos os sujeitos que evocaram, pelo menos, duas palavras que estão presentes em um dos quadrantes. A seguir, montou-se uma tabela onde fo-voltado para a atenção das necessidades físicas e

or-gânicas, ou seja, basicamente objetivas, e ora para as necessidades psicológicas, emocionais e espirituais, com ênfase na subjetividade humana.

Considerando que a cotidianidade profissional engloba essas duas dimensões, com uma tendência mais proeminente, em alguns momentos, para um lado e, em outros, para o oposto, a enfermagem tem concretizado um papel mais prescrito ou mais afeito à sua essência, com principal foco no cuidado humano e profissional aos indivíduos com diferentes contextos mórbidos e de mortalidade. O caráter prescrito tem moldado uma atu-ação que limita o cuidado de enfermagem à concretizatu-ação da prescrição biomédica, notadamente a médica, com graves consequências para a autoestima dos profissio-nais, para a construção de espaços próprios de autono-mia em seu saber/fazer e para a configuração de uma modalidade de trabalho em equipe que seja, de fato, interdisciplinar e coletiva3,4.

Neste cenário, apresenta-se como fundamental a compreensão do processo de organização das repre-sentações que os próprios profissionais construíram, em meio a este contexto complexo e multifacetado, acerca da própria profissão, uma vez que esta cons-trução sociocognitiva compartilhada grupalmente influi nas atitudes, nos posicionamentos, nas ima-gens e nos conhecimentos que vão sendo criados e socializados no dia a dia das unidades básicas de saú-de e dos hospitais, especialmente sobre o processo saú-de cuidar e das interações entre os diversos atores soci-ais que se fazem presentes no trabalho da enferma-gem. Define-se, então, como objetivo deste trabalho analisar a estrutura da representação social acerca da enfermagem e as relações de conexão estabelecidas entre os seus elementos para enfermeiros que desen-volvem o exercício profissional no contexto da saú-de pública e do hospital.

R

EFERENCIAL

T

EÓRICO

-M

ETODOLÓGICO

O

estudo foi

desenvolvido segundo a Teoria das Representações Sociais5 no âmbito da psicologia

soci-al, utilizando, inclusive, uma proposta teórica com-plementar, qual seja, a abordagem estrutural ou a teo-ria do núcleo central6,7. Dessa maneira, a

representa-ção é constituída por um conjunto de crenças, infor-mações, opiniões e atitudes a propósito de um dado objeto social. Este conjunto de elementos se organiza, estrutura e se constitui em um sistema sociocognitivo de tipo específico6. Nesse sentido, a organização de uma

representação social apresenta uma característica es-pecífica, a de ser ordenada em torno de um núcleo cen-tral, constituindo-se em um ou mais elementos que dão o seu significado.

Foram definidos, como sujeitos, 83 enfermeiros que trabalham em uma cidade do interior do Estado do

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ram computadas as co-ocorrências entre todas as pa-lavras que apareceram no quadro, fundamentando o cálculo de índice de similitude, que é o número de co-ocorrência dividido pelo número total de palavras pre-sente na análise. Após, realizou-se o cálculo do índice de similitude, considerando-se o número de co-ocor-rência pelo número de sujeitos envolvidos11.

A árvore é, então, construída a partir das pala-vras que possuem, entre si, os maiores índices de similitude, ou seja, as conexões mais fortes, até que todas as expressões estejam nela representadas. Res-salta-se que uma árvore máxima não pode, segundo a teoria dos grafos, formar um ciclo, e, se isso ocorrer durante a sua construção, deve-se ignorar a relação e procurar a próxima conexão11.

O estudo obedeceu a todos os pré-requisitos éti-cos preconizados pela Resolução no 196/96, com a aprovação dos responsáveis pela instituição para a sua realização e a exposição dos objetivos aos partici-pantes, ressaltando-se que a sua inclusão se deu de forma voluntária a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

R

ESULTADOSE

D

ISCUSSÃO

O

s dados coletados

através da técnica de evo-cação livre e analisados com o suporte do quadro de quatro casas10,12 geraram 450 palavras, sendo 200 iguais

e 250 diferentes. O rang, ou seja, a média das ordens médias de evocação, foi de 2,90, enquanto a frequência média ficou em 14 e a mínima, 6. O qua-dro pode ser observado na Figura 1.

Como já pontuado em outro estudo13, os possíveis

elementos constituintes do núcleo central indicam uma dimensão afetiva (amor) e atitudinal (dedicação) dos profissionais com relação à enfermagem. Essas dimen-sões se desdobram nos demais quadrantes, apresentan-do uma organização semântica apresentan-dos distintos elementos que constituem a representação social da enfermagem. Nesse sentido, carinho e prazer, por exemplo, corporificam a dimensão afetiva, enquanto respeito, doação e luta a atitudinal, conferindo uma coerência interna à representação. Além disso, como considera os pressupostos teóricos da memória social14,15, essas

dimensões explicitam a conformação da memória cole-tiva desses profissionais.

Para compreendermos, de forma mais aprofun-dada, a estrutura da representação da enfermagem para enfermeiros que desenvolvem suas atividades no âmbi-to do hospital e da saúde pública, expõe-se a seguir a Figura 2 resultante da análise de similitude do mesmo material empírico.

Como pode ser observado, o léxico dedicação possui o maior número de conexões, as conexões quan-titativamente mais fortes e parece irradiar o senti-do transversal presente na estrutura representa-cional. À semelhança do exposto no quadro de qua-tro casas, a ligação mais forte foi construída entre dedicação e amor (índice de similitude de 0,16, que, a partir de agora, será indicado somente com a colo-cação dos respectivos números), traduzindo a im-portância das dimensões anteriormente citadas na construção e na manutenção da representação acer-ca da profissão.

FIGURA 1: FIGURA 1: FIGURA 1: FIGURA 1:

FIGURA 1: Quadro de quatro casas das evocações ao termo indutor enfermagem. Rio de Janeiro, 2002. Elementos centrais Elementos centrais Elementos centrais Elementos centrais Elementos centrais

Frequência média > = 14 / Rang < = 2,90 Freq Rang Amor 21 2,40 Dedicação 39 2,80 Elementos de contraste Elementos de contraste Elementos de contraste Elementos de contraste Elementos de contraste

Frequência média < = 14 / Rang < = 2,90

Carinho 06 2,60 Compromisso 08 2,00 Conhecimento 06 2,60 Cuidado 13 2,38 Profissionalismo 06 2,50 Realização 13 2,46 Respeito 07 2,85 Responsabilidade 10 2,20 Saúde 06 2,33 Vocação 09 1,77

Elementos primeira periferia Elementos primeira periferia Elementos primeira periferia Elementos primeira periferia Elementos primeira periferia Frequência média > = 14 / Rang > = 2,90

Freq Rang

Trabalho 14 3,30

Frequência média = 9,5

Elementos segunda periferia Elementos segunda periferia Elementos segunda periferia Elementos segunda periferia Elementos segunda periferia Frequência média < = 14 / Rang > = 2,90

Doação 06 3,00

Luta 06 3,50

Pouco reconhecida 08 4,25

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0,1

Diversos autores13,16,17 referem a construção

ima-ginária acerca da profissão pautada nessas dimensões, especialmente por sua presença nos momentos decisi-vos da vida humana em que a objetividade do conheci-mento racional não fornece sentido ao vivido e nem oferece respostas às demandas apresentadas. Outros consideram que a profissão se enquadra na mudança paradigmática da sociedade e, mais especificamente, da saúde, em que a promoção da saúde não se limita a evitar doenças, mas à capacidade de inter-relação, ao desenvolvimento de habilidades sociais na consecu-ção do cuidado de enfermagem e ao estímulo às distin-tas capacidades dos indivíduos em seu processo de se tornar um sujeito apto a tomar decisões críticas frente ao sistema, às instituições e aos profissionais de saú-de18. Alguns, no entanto, veem, na permanência

des-sas dimensões, a continuidade de um perfil não profissionalizado da enfermagem, a permanência de uma atuação empírica que não dialoga com os conhe-cimentos científicos construídos até o momento e, inclusive, alegam que elas se encontram na origem da desvalorização social e da subordinação da profissão19.

As ligações seguintes mais fortes foram entre trabalho e prazer (0,11), realização e dedicação (0,10) e dedicação e vocação (0,10). A essas, segue-se dedi-cação e trabalho (0,09). Nesse momento, destaca-se que, se por um lado, a conexão mais forte inclui amor, por outro, o léxico dedicação acaba por adquirir, como já explicitado, a capacidade de organização da repre-sentação em função das ligações estabelecidas com diversos elementos, inclusive a interface de distintos blocos semânticos, como aquele capitaneado pela palavra amor e o próprio trabalho.

Ressalta-se, ainda, outra importante observação metodológica: no contexto do quadro de quatro casas, dedicação possui a maior frequência de todos os quadrantes, o que significa que apresenta forte saliência no contexto da análise; ao mesmo tempo, possui alto grau de conexidade como se pode verificar na análise de similitude, o que tende a indicar a sua centralidade na representação em tela, apesar da presença do amor no quadrante superior direito ou o seu baixo rang. Dedica-ção, assim, organiza uma boa parte dos elementos cognitivos acerca do termo enfermagem, tanto no con-texto hospitalar, quanto na saúde pública.

Nesse sentido, realização, vocação e trabalho gravitam ao redor de dedicação com índices de similitude quase idênticos, constituindo-se em uma primeira linha de irradiação de sentido e de defesa deste possível núcleo. Destaca-se o fato de realização e vocação não apresentarem nenhuma outra ligação com as demais palavras, sendo determinadas, ao me-nos em parte, pelo sentido presente em dedicação. Ambas, de alguma maneira, continuam a reproduzir a memória coletiva pontuada nos parágrafos anteri-ores em uma dimensão pessoal (realização), a satisfa-ção relacionada ao exercício da profissão, ao contato com outros seres humanos e a participação em seu processo de nascer, viver e morrer, e outra mais social (vocação), que provavelmente possui suas raízes na formação profissional e na idealização de uma enfer-magem que deita suas origens nas ordens religiosas e nos imperativos cristãos de doação e abnegação20.

Considera-se, também, que realização e voca-ção se alimentam mutuamente através da dedicavoca-ção e, por isso, apresentam-se de forma idêntica, ou seja,

SAÚDE

FIGURA 2: FIGURA 2: FIGURA 2: FIGURA 2:

FIGURA 2: Árvore máxima da análise de similitude das evocações mais frequentes na análise geral de enfermeiros ao termo indutor enfermagem.

COMPROMISSO TRABALHO LUTA PRAZER PROFISSIONALISMO REALIZAÇÃO DEDICAÇÃO VOCAÇÃO POUCO RECONHECIDA AMOR RESPONSABILIDADE RESPEITO CONHECIMENTO CARINHO RESPEITO CUIDADO DOAÇÃO 0,03 0,05 0,11 0,06 0,09 0,08 0,1 0,06 0,05 0,16 0,08 0,03 0,08 0,06 0,06 0,08

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possuem o mesmo índice de similitude e não se ligam a nenhum outro léxico. Assim, no imaginário social e, mais especificamente no da enfermagem, dedica-ção e vocadedica-ção estão intimamente ligadas. Para verifi-car este fenômeno, basta debruçar-se sobre a história de Florence Nightingale, de Anna Nery, de Rachel Haddock Lobo ou das enfermeiras que participaram das diferentes guerras21. Simultaneamente, na vida

da maioria desses indivíduos, a realização esteve liga-da à concretização desta vocação: Nightingale no atendimento à sua vocação divina; Anna Nery, à sua família e à sua pátria; Lobo, na evolução da profissão em parâmetros mais científicos; e assim por diante.

Surge, então, uma tríade que engloba dedica-ção, trabalho e prazer, sendo o último léxico ligado ao primeiro pelo trabalho. Compreende-se, neste con-texto, o sentido atribuído ao trabalho no campo representacional construído pelos profissionais acer-ca da enfermagem, que adquire uma acer-característiacer-ca de cognição social a partir das suas dimensões relacio-nadas à prática cotidiana em que a dedicação, inde-pendente de sua característica principal (seja vocacional, profissional, humana ou ética), e o prazer se misturam, conformando um modo próprio de com-preender o conjunto das atividades laborais.

Ressalta-se, no entanto, que se, por um lado, diversos estudos22,23 apontam a dedicação dos

profis-sionais de saúde, notadamente da equipe de enferma-gem, no desempenho diário de suas funções, por ou-tro, ganha notoriedade o estresse e o sofrimento físi-co, emocional e psíquico a que estes profissionais es-tão expostos, especialmente aqueles que desenvol-vem suas atividades no contexto hospitalar. Nesse sentido, deve-se lembrar de duas obras clássicas na área da saúde que discutiam, com muita pertinência, os desafios de se trabalhar no cuidado aos seres hu-manos em distintos cenários; a primeira traz à tona o hospital como um lócus de trabalho em que se mistu-ram a dor e morte, transformando-as em verdadeiros ofícios em função de sua frequência e de seu impacto na vivência profissional24. A segunda pontua o

pro-cesso de trabalho dos enfermeiros e da equipe de en-fermagem na rede básica de São Paulo, bem como os desafios que enfrentam na consecução de ações pla-nejadas e programáticas25.

Ambas as obras mostram, de forma considerável, a dedicação desses atores sociais na realização de suas atividades em meio ao cotidiano institucional. Pode-se perceber, ao mesmo tempo, que o prazer prePode-sente nesta cotidianidade pode ter origem na possibilidade de interferir na vida alheia em momentos tão decisi-vos. Pode ter origem, ainda, no processo de dignidade gerado no ato de cuidar que, ao menos para a enferma-gem, não se encontra atrelada à possibilidade de cura, mas ao atendimento das necessidades humanas mani-festadas ou não nas diferentes situações vivenciadas

pelo paciente. A dignidade gerada após o banho de leito em que a melhoria da aparência e o aumento do conforto manifestam-se de maneira inequívoca ou a implementação de uma consulta de enfermagem que se baseie nos princípios epidemiológicos e progra-máticos, atendendo, de maneira concreta, às dimen-sões social, psicológica, cultural, física e sanitária dos indivíduos atendidos.

Ao redor do léxico dedicação se ligam palavras como profissionalismo, pouco reconhecida e respon-sabilidade que possuem 0,8 como índice de similitude. Se, por um lado, vocação confere uma característica altruísta e humana à dedicação que caracteriza a en-fermagem como uma possível cognição central, por outro, esta tríade confere, a esta mesma cognição, a sua dimensão profissional e institucional. A enfer-magem como prática social se insere em uma socie-dade que transfere, a determinadas instâncias e insti-tuições, a responsabilidade para prevenir, tratar e cu-rar doenças, promover a saúde e concretizar o cuida-do em todas essas situações19,24,25.

Estas instâncias e instituições possuem respon-sabilidades, objetivos e finalidades no perfil sanitário e epidemiológico dos municípios, estados e, algumas, de todo o país. Ao mesmo tempo, elas são perpassadas por ideologias e interesses grupais que fazem, em diversos momentos, avançar ou retroceder a implementação do sistema único de saúde com todos os direitos sociais e de cidadania que se encontram em seu interior22.

Profissionalismo e responsabilidade explicitam esta compreensão do processo de produção de saúde que tanto reflete a ação da enfermagem no contexto micropolítico, na realização da consulta individual ou na prestação do cuidado hospitalar, quanto no macro, em que a sua inserção nos espaços determinantes das políticas de saúde ou em sua implantação apresenta-se como fundamental, por exemplo.

A conexão entre profissionalismo, responsabi-lidade e dedicação apresenta uma diretriz no proces-so de reconhecimento proces-social da profissão para os usu-ários e as instâncias governamentais. Nesse sentido, demonstrou-se, em estudos anteriores1,13,22, como os

enfermeiros indicavam, em suas discursividades, a importância desta tríade na conformação de um es-paço autônomo e no exercício do papel próprio da profissão. Esses profissionais se debatiam entre a ne-cessidade de enfrentar os dilemas e as ambiguidades da própria profissão, como a especificidade de seu objeto de trabalho e o estabelecimento de um saber/ fazer que indique a importância social da enferma-gem, e a noção exata das suas fronteiras, de modo que o cuidado necessário seja implementado e o trabalho interdisciplinar garantido.

Por sua vez, pouco reconhecida exerce uma co-nexão dúbia com dedicação, em que, apesar desta, o grau de reconhecimento é pequeno ou a sua

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caracte-rística vocacional não permite uma valorização soci-al, tecnológica e mercadológica da enfermagem. Seja como for, o não reconhecimento da profissão apre-senta-se como consequência de ideologias circulantes na sociedade (algumas oriundas da própria história profissional e outras relativas a grupos corporativos que perpetuam a mercantilização da saúde), e da pró-pria prática dos enfermeiros, ao não exercerem o cui-dado direto, não se apresentarem como tal, não implementarem os seu distintos espaços de atuação e não buscarem exercer a especificidade do seu papel.

Esta problemática apresenta-se como multi-facetada e essencial para o atual período da enferma-gem, uma vez que a pós-modernidade tornou mais tê-nue as linhas divisórias entre as profissões, sem modi-ficar, substancialmente, as suas bases de valorização. Neste contexto, os enfermeiros tendem, por sua não especificidade de atuação, a se tornarem invisíveis ou se caracterizarem como argamassa, sendo essencial no desenvolvimento do trabalho nas unidades de saúde, embora permaneça em segundo plano e forneça desta-que aos demais integrantes da equipe de saúde26.

Ligam-se, ainda, à dedicação, compromisso (0,06), respeito (0,06) – que, com a mesmo força de conexidade ligou-se também a amor e, por isso, é representado com um pontilhado em ambas – e saúde (0,3). As três terminam por reforçar as discussões apresentadas até aqui, tanto no aspecto profissional, quanto no vocacional, apresentan-do-se, consequentemente, transversal a ambas as dimen-sões. Da mesma maneira, doação, ligando-se à responsabi-lidade, correlaciona-se ao sentido presente na dimensão vocacional, e luta a prazer, manifesta o embate político e simbólico presente na cotidianidade da profissão.

Como um subgrupo representacional, o léxico amor agrega, ao redor de si, quatro palavras com índi-ces de conexão que variam de 0,08 (cuidado), 0,06 (respeito e carinho) e 0,03 (conhecimento). Chama a atenção a forte ligação estabelecida entre o objeto de trabalho da enfermagem – o cuidado – a dimensão afetiva e da habilidade social relativa à representa-ção, o amor. Para alguns autores13,23,26, cuidado e amor

se implicam mutuamente na prática de enfermagem, objetivando um processo de humanização que abar-que os atores sociais envolvidos na ação de cuidar. Simultaneamente, a população atribui, a esta ação, uma característica afetiva, em essência, ora aproxi-mando-a daquela prestada nas residências, entre os familiares, ora reconhecendo o poder terapêutico e restaurador da integridade e integralidade humanas presentes no amor.

Porém, deve-se considerar a possibilidade de existência de uma idealização deste cuidado, uma vez que a realidade, em alguns momentos, tende a se mostrar muito mais seca e mais cinzenta do que a essência da profissão poderia admitir. Nesse sentido, como negar as situações de descuidos vivenciadas nos hospitais, nos ambulatórios e nos postos de saúde?

como não reconhecer a falta de empatia – às vezes, mesmo de simpatia - que caracteriza uma parte dos profissionais de enfermagem?

Respeito e carinho alimentam esta dimensão afetiva que se configura no campo representacional da enfermagem como uma importante temática. Da mesma maneira, conhecimento relaciona-se a amor, especificando uma das modalidades de ciência pre-sente na enfermagem, neste caso, a da inter-relação e das habilidades sociais. Torna-se importante desta-car, então, que este subgrupo representacional traduz a essência relacional da enfermagem que tanto tem caracterizado a profissão, especialmente em suas cons-truções teóricas18.

C

ONCLUSÕES

P

ode-se observar as

diversas dimensões que com-põem o campo representacional da enfermagem para enfermeiros que desenvolvem atividades nos contex-tos hospitalares ou da saúde pública. As dimensões afetivas e atitudinais se confirmam como fundamen-tais na compreensão da profissão, em que pese o mo-delo biomédico, os aspectos simbólicos do consumo de tecnologias duras e as consequências da pós-modernidade sobre as profissões da saúde. Pode-se cogitar, ainda, um processo de conflito entre uma re-presentação tecnológica e objetiva e uma outra que se caracteriza pelas habilidades sociais e pela subjeti-vidade humana, configurando uma possível migra-ção de sentido da segunda para a primeira.

Se a existência das dimensões expostas mostra a complexidade da própria profissão, ao menos para o grupo em tela, revela também, para os mesmos sujei-tos, uma certa fragilidade na definição de sua essên-cia e na explicitação do seu saber/fazer frente à socie-dade, às instituições e à equipe de enfermagem. Em-bora não se possa deixar de reconhecer a importância de uma palavra como dedicação como uma possível cognição central que dá sentido à enfermagem, deve-se, no contexto de uma análise acadêmica crítica, destacar a sua inespecificidade na construção de uma representação social que possibilite a apreensão do papel próprio da enfermagem e dos enfermeiros. Esta inferência pode ser confirmada quando percebemos o papel periférico reservado ao léxico cuidado.

No conjunto desta complexidade que é a estru-tura e a organização da representação social da enfer-magem, pode-se perceber que a profissão, para os par-ticipantes do estudo, possui elementos que a colo-cam em condições de oferecer respostas a alguns dos principais problemas de saúde. Entre essas, ressalta-se a capacidade de relação que, ressalta-se equilibrada com o conhecimento científico e o uso adequado das tecnologias disponíveis, poderá gerar uma prática profissional que seja, ao mesmo tempo, pertinente, exata e sensível.

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EFERÊNCIAS

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Referências

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