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Realização pessoal e desempenho profissional: sutilezas do cotidiano de mulheres profissionalmente qualificadas do município de Ilha Solteira.

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Academic year: 2021

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Modos de ser femininos, relações de gênero e sociabilidades no Brasil ST.12 Leonice Domingos dos Santos Cintra Lima

IMESB-FAR/UNESP-Franca.

Palavras-chave: Carreira, maternidade, relação-conjugal.

Realização pessoal e desempenho profissional: sutilezas do cotidiano de mulheres profissionalmente qualificadas do município de Ilha Solteira.

Temos que na sociedade contemporânea as mulheres representam um número crescente e significativo no cenário sócio-econômico mundial. Muitas buscam a realização profissional, através de uma carreira e, a realização pessoal através do relacionamento conjugal e da maternidade; carecem, portanto do olhar investigativo da pesquisa científica, estimulando a reflexão sobre a cotidianidade desses sujeitos sociais.

Nesta pesquisa, procuramos conhecer o entrelaçamento da relação paradoxal formada pelo tripé maternidade, carreira e casamento, analisando o cotidiano e as experiências de mulheres de Ilha Solteira - SP, neste contexto, protegido ou prejudicado pela realidade de “município do interior”, onde as relações domésticas e coletivas se misturam e entrelaçam-se formando o tecido social das relações humanas e de trabalho.

Utilizamos como sujeitos da pesquisa, mulheres com curso superior, casadas, mães, inseridas no mercado de trabalho, reconhecidas e respeitadas no município pelo desempenho profissional.

Essa categoria feminina contribui para formação de um novo modelo de relações familiares e trabalhistas, imprimindo uma incipiente disposição na relação de produção e na sociedade capitalista.

Buscamos conhecer como ocorre a interação da situação doméstica e profissional das mulheres nos tempos atuais, revelada através da representação das mesmas em seus cotidianos.

Neste estudo, ao escolhermos apenas aquelas para as quais o trabalho se constitui em opção de vida, “locus” de crescimento, realização e felicidade pessoal, espaço formador de identidade onde se fortalece a cidadania participativa e ocorre a valorização dos projetos individuais, estamos fazendo um recorte diferenciado na realidade social onde acontecem as pesquisas que têm a mulher como objeto de investigação.

Ao iniciarmos esta pesquisa, tomamos conhecimento, através da investigação teórico-bibliográfica da realidade cotidiana e da trajetória pessoal/profissional de mulheres, verificamos que existe pouca produção científica e estudos sobre o tema, com foco em mulheres que conquistaram

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As pesquisas, habitualmente, utilizam como objeto, mulheres de baixa renda, baixa condição sócio-econômica, sem formação acadêmica, para as quais o trabalho representa uma forma de sobrevivência ou um fardo.

O estudo revela pelo enfoque inovador, as representações de um universo feminino pouco visitado, resultantes das experiências vividas na busca de espaço no mercado de trabalho, preservando o círculo das relações conjugais e maternais e a busca da realização profissional através de uma carreira escolhida.

Durante décadas, as mulheres sublimaram seus anseios de participação no processo de produção econômica da sociedade e de superação da cultura de desvalorização das questões referentes à carreira frente a fatores familiares e conjugais, Pinto afirma: “[...] o produto tradicional do sistema familiar também necessitou de alterações, que, contudo, não acompanharam com a mesma intensidade o que ocorria na sociedade, assim, o papel do pai ainda se restringe ao de provedor e ditador das linhas familiares, e a mãe, cabe o papel de cuidar de toda a dinâmica da casa, mesmo estando inserida num mercado de trabalho altamente competitivo [...]” i1.

Mulheres que “fizeram carreira”, no sentido que nos imprime Ferreira (1999) “alcançar boa posição social e ou profissional” assim, configuram um modelo singular de mulher trabalhadora.

Essas mulheres condutoras de suas histórias, ligadas às condições sociais, envolvidas nas tramas das relações familiares, que muitas vezes limitam a investidura da mulher no mundo do trabalho, expressam em sua vivência a luta individual pela realização pessoal, reconhecimento e respeito no campo de trabalho, são “pessoas” no sentido amplo expresso por Ferreira: “Ser humano, considerado na sua individualidade física e espiritual, portador de qualidades que se atribuem exclusivamente à espécie humana, quais sejam, racionalidade, a consciência de si, a capacidade de agir conforme fins determinados e seu discernimento de valores”ii2.

Inseridas no competitivo mercado de trabalho, as mulheres objeto desta pesquisa são participantes ativas de um sistema econômico, político e social, influenciando padrões nas relações sociais da comunidade onde residem.

Alguns pensadores como o filósofo italiano Norberto Bobbio, se referem a mudança do papel da mulher, como a mais importante revolução do século XX: “ [...] a revolução à qual se refere Bobbio não é aquela das feministas cheia de agressões e muitas vezes violenta, trata-se em seu pensamento, de uma revolução mais prudente e paciente em seu planejamento e estrutura, contudo ambiciosa e profunda. Iniciada no fim do século passado e visível quando na II Guerra as mulheres substituíram os homens na linha de produção. As mulheres foram a luta, ocupando com desenvoltura os espaços, desafios arriscados que enfrentaram com coragem. Rápidas no

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ter paciência e vontade, fortalecida para melhorar a si mesma, o único caminho para melhorar a sociedade”iii3.

Ao assumir os papéis de mãe, esposa e profissional, a mulher instala-se no epicentro de uma contradição, fruto das forças antagônicas que se estabelecem entre o “socialmente aceito”, o “culturalmente determinado” e a busca individual, inerente ao ser humano, de realização pessoal, através da ampliação de espaços profissionais e reconhecimento no mercado de trabalho.

Preservar a relação e a estrutura familiar, “equilibrar forças” para a interação de fatores que se constituem essenciais à elaboração do “ser”, respeitar a esfera da atividade profissional, a conjugalidade e a maternidade, preservando, estimulando e, mantendo o afeto necessário nas relações fraternas, maternais e conjugais, representa um grande desafio da mulher contemporânea.

Por outro lado, do ponto de vista econômico, com a ampliação das conquistas femininas no mundo do trabalho e o crescente enfraquecimento do pensamento da sociedade patriarcal, onde o homem é o único responsável pelo sustento da família, podem ocorrer alterações na estrutura familiar, possibilitando inclusive a inversão de valores sociais e culturais, interferindo nas relações familiares, na conjugalidade, na relação materno/paterno.

.A conquista e reconhecimento da maturidade intelectual da mulher, a superação de sólidas barreiras e as batalhas pela legitimação de seu espaço na sociedade, enfim a trajetória historicamente percorrida, os conhecimentos sedimentados e a experiência vivida no cotidiano aparecem como pano de fundo e compõe a base histórica de sua evolução profissional na sociedade brasileira, contextualizando-a com a realidade do município de Ilha Solteira, Estado de São Paulo, Brasil.

Essa categoria feminina contribui para formação de um novo modelo de relações familiares e trabalhistas, imprimindo uma incipiente disposição na relação de produção e na sociedade capitalista.

Partindo do pressuposto de que as pressões dos familiares podem interferir na participação sócio-político-econômica da mulher na sociedade, investigamos sua relação com o mundo do trabalho, as situações familiares, conjugais e maternais, e os projetos profissionais destas, com o objetivo de conhecer como ocorre esta interação e seus reflexos na dinâmica da sociedade contemporânea, no caminho de um novo modelo social.

Neste estudo enxergamos a mulher como um ser inteiro, na sua condição de pessoa, mãe, esposa e profissional,, inserido numa sociedade competitiva que busca espaço no mercado de trabalho, enquanto simultaneamente, mantém uma conexão real com as tramas e limites que se estabelecem na vida e no relacionamento familiar.

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Desta forma, nosso enfoque se concentra no estudo das mulheres que constroem seu cotidiano, preservando a identidade pública no trabalho, garantindo a cidadania, sem que isto se constitua em um abismo emocional entre elas e seus familiares.

Ao “tecer” o cenário histórico-social da pesquisa, perpassamos pelo desenvolvimento do patriarcado e do capitalismo no Brasil, contextualizando historicamente o município de Ilha Solteira e sua formação sócio-cultural-econômica.

Buscamos na ampliação dos conceitos que se interligam na construção do cotidiano da vida das mulheres que trabalham, Lopes escreve: “[...] os conhecimentos que participam da constituição do objeto são formados por conceitos que inter-relacionados expressam formulações teóricas [..]que constituem a base, a perspectiva que orienta a percepção do sujeito [...] desta forma é que a teoria assume o comando na construção da pesquisa científica” iv.

Nessa perspectiva, pesquisamos questões pertinentes ao trabalho da mulher dentro da dinâmica da sociedade capitalista a fim de conhecer sua interação doméstica/ familiar/ e profissional nas contradições impostas pelo modo de produção da sociedade capitalista. Utilizamos questionário individual, dividido em eixos temáticos. Aplicamos o questionário em reunião grupal, com discussão subseqüente das questões apresentadas fundamentado no pensamento de Carvalho (1995), quando expressa que a articulação Dialética e Hermenêutica é uma possibilidade fecunda (...) em termos de recurso metodológicov.

Na aplicação do recurso metodológico percebemos que, com a ampliação das conquistas femininas no mundo do trabalho os modelos de casamentos e famílias, baseados unicamente na distribuição precisa de poder legitimado socialmente pela participação no mercado de trabalho, estão se modificando e ficando cada vez mais expostos as tensões internas, às famílias são progressivamente impostas novas forças ideológicas, políticas, econômicas e valores culturais.

Constatamos que apesar de todo avanço da sociedade moderna em relação ao trabalho da mulher, especialmente aquela que é casada e tem filhos, ainda não se conseguiu erradicar do imaginário familiar, o status e importância da mulher dissociada dos afazeres domésticos e dos papeis de mãe e esposa, tarefas que na sociedade capitalista não agregam valor de mercado, porém, constamos que este fato não representa impedimento para a ascensão profissional da mulher.

Surge uma nova expressão da ordem social que ao contar com esse novo ator social, protagonizando mudanças internas no seio das famílias, impõe-se uma reorganização da sociedade como um todo.

Nesse rearranjo social, a mulher ainda vive uma dicotomia: de um lado a busca da afirmação da individualidade do ser humano, explícita na busca por espaços cada vez maiores no

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introjetada como adequadas ao gênero feminino, e que, ainda na sociedade contemporânea, permanecem quase inalteradas.

Verificamos, porém, que no universo da sociedade capitalista se delineia sutilmente um cenário de transformações sociais e familiares, de mudanças nas relações de trabalho, de afeto e responsabilidades, de companheirismo e compartilhamento, de respeito, valorização e reconhecimento profissional da mulher, principalmente na esfera pública.

A pesquisa revelou também que, enquanto há algumas décadas as mulheres só trabalhavam quando havia necessidade de colaborar com as despesas, hoje ter sucesso fora do lar, crescer profissionalmente, respeitar sua individualidade, mesmo sendo membro de uma unidade familiar, constitui aspecto determinante para a realização pessoal de várias mulheres. Seu trabalho não pode mais ser visto apenas como um apêndice econômico na estrutura social e familiar.

Homens e mulheres podem se completar perfeitamente e por à prova os modelos de poder legitimados pelo patriarcado. Ambos têm em si todas as múltiplas potencialidades do ser humano.

No trabalho que ajuda a construir a identidade da cada um, as mulheres devem receber da sociedade oportunidades de contar com este alicerce para a construção de si mesmo. Esperam-se que a mulher possa desenvolver uma nova lógica para a construção da sua identidade, sob o ponto de vista do corpo, dos gestos, dos afetos e do trabalho. Possam o homem, a família, marido e filhos contribuírem para isso.

A mulher contemporânea quer e merece uma vida onde conquiste a integração efetiva do público e do privado, se complementando, “misturados” a outros aspectos, criando alternativas de realização profissional e pessoal, de independência econômica, e autonomia pessoal, sem que tenha que renunciar ao afeto, ao amor, a família, tendo os filhos que desejar. Escrevendo a seu modo a sua história, com seu nome criando e fortalecendo sua identidade.

A ampliação da educação através do aumento do nível de instrução é um fator determinante da condição atual da mulher em termos de desenvolvimento pessoal e profissional. Seu acesso ao mercado de trabalho e a importância desse fato representa a certeza das modificações internas na família e na sociedade.

A trajetória para uma sociedade marcada pela participação igualitária dos homens e das mulheres em todos os aspectos da vida humana, onde a principal preocupação dos seres seja o compartilhar e não o dominar, certamente nos apresentará uma forma mais justa de viver socialmente.

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i

PINTO, Ana Célia Roland Guedes. A família e a justiça. In: Nazareth, E.R. (org). Direito de família e ciências sociais. São Paulo: Jurídica Brasiliense, p. 35 1997.

ii

FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1989.

iii

TELLES, Ligia Fagundes. Mulheres, Mulheres. In. Del, Mary Piore. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, p. 668-672, 2001.

iv

LOPES, José Rogério. Das famílias desestruturadas às famílias recombinadas. In Revista Serviço Social e Sociedade, n. 46. São Paulo: Cortez, p. 05-20, 1994.

v

Carvalho defende a articulação da Dialética e da Hermenêutica “ como possibilidade fecunda de hipótese em termos de recurso metodológico de análise para viabilizar, na prática concreta da pesquisa a possibilidade de trabalhar com o objetivo e com o subjetivo, de trabalhar as determinações e as mediações da realidade, de trabalhar o factual e o que está ao nível das paixões, dos sentimentos, da emoção interferindo na ação dos atores sociais, enfim, a possibilidade de trabalhar as duas dimensões do real: objetividade e a subjetividade. E, mais: essa articulação Dialética/Hermenêutica concretiza no plano metodológico do fazer pesquisa na ampliação da Razão posta por Habermas no plano filosófico”. CARVALHO, Alba Maria Pinho. A pesquisa no debate contemporâneo e o serviço social. In. Cadernos ABESS, nº 5. São Paulo: Cortez, 1995, p.43-69.

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