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Evidências arqueobotânicas e de armazenagem no povoado da Idade do Ferro e na Romanização do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal)

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Evidências arqueobotânicas e de armazenagem no povoado da Idade do

Ferro e na Romanização do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de

Portugal)

Luís Seabra

a,

*, João Pedro Tereso

a, b, c

, Ana M.S. Bettencourt

d, e

, António Dinis

e,f

a InBIO - Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva, Laboratório Associado (Portugal); CIBIO - Centro de

Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto (Portugal)

b UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Portugal)

c MHNCUP - Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto (Portugal)

d Departamento de História, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Braga (Portugal)

e Laboratório de Paisagens, Património e Território, Instituto de Ciências Sociais, Universidade do Minho, Campus de Gualtar, Braga

(Portugal)

f Câmara Municipal de Mondim de Basto, Mondim de Basto (Portugal)

*Corresponding author: lc_pacos@hotmail.com

Artigo recebido em 5 de fevereiro de 2018 e aceite em 24 de julho de 2018

RESUMO

As campanhas arqueológicas realizadas no povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto, Vila Real), colocaram a descoberto um conjunto de fossas abertas no substrato rochoso. Estas revelaram quantidades muito elevadas de elementos carpológicos, cujo estudo permitiu compreender melhor a diversidade de cultivos existentes e como se armazenavam.

Através do estudo de dezanove amostras provenientes de quatro fossas, os resultados demonstraram que estas estruturas foram usadas, principalmente, para armazenar trigo espelta.

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Do seu interior foram recuperados os grãos e as espiguetas, o que indicia que os grãos foram armazenados parcialmente processados - uma estratégia, provavelmente, relacionada com a intenção de estabelecer um armazenamento a longo prazo.

Para além do trigo espelta (Triticum spelta), outros cereais foram recuperados, nomeadamente Triticum dicoccum, milho-miúdo (Panicum miliaceum), cevada de grão vestido (Hordeum vulgare), centeio (Secale cereale) e milho-painço (Setaria italica).

As datações por radiocarbono, realizadas sobre grãos de centeio, demonstraram que estes correspondem aos grãos mais antigos encontrados na Península Ibérica (I a.C.), o que evidencia que o centeio foi introduzido na região numa fase inicial dos contactos com os romanos.

Os resultados provenientes deste estudo sugerem o uso de cultivos bem adaptados a condições ambientais adversas, como climas frios e solos pobres.

Palavras-chave: carpologia, centeio, Noroeste Peninsular, armazenagem

*** ABSTRACT

The archaeological campaigns in the Iron Age site of Crastoeiro (Mondim de Basto, Vila Real) exposed a set of pits opened in the bedrock. These revealed a wide amount of carpological remains, allowing a better understanding about crop diversity, as well as storage practices.

Through the study of nineteen samples from four pits, the results showed that these structures were mainly used for the storage of spelt wheat. Inside these, grains and spikelets were recovered, suggesting grains were stored partially processed - a strategy probably connected with the intention of establishing a long-term storage.

Besides spelt wheat (Triticum spelta), other cereals were recovered, namely emmer (Triticum dicoccum), broomcorn millet (Panicum miliaceum), hulled barley (Hordeum vulgare), rye (Secale cereale) and foxtail millet (Setaria italica).

The radiocarbon dates obtained over grains of rye demonstrate that the remains from Crastoeiro are the oldest found in the Iberian Peninsula (1st century BC). This suggests rye was introduced at the moment of the earliest contacts with the romans.

The results from this study suggests the use of crops well adapted to harsh environmental conditions, as cold climates and poor soils.

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Introdução

O

povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro, no concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, Norte de Portugal, tem sido amplamente escavado, sendo os resultados

das intervenções arqueológicas

especialmente valiosos para a compreensão do modo de vida das populações da Idade do Ferro do Noroeste de Portugal (Dinis, 1993-1994; 2001; 2005; Dinis e Bettencourt, 2009).

Desde os primeiros trabalhos, na década de 80, o sítio revelou um grande potencial arqueobotânico, tendo sido alvo de estudos carpológicos e antracológicos. Os estudos

carpológicos foram realizados pelo

Engenheiro António Rodrigo Pinto da Silva, homenageado neste volume. O relatório dos

trabalhos que efetuou encontra-se

reproduzido em estudo monográfico sobre o Crastoeiro (Dinis, 2001; Pinto da Silva, 2001). O principal contexto estudado por A.R. Pinto da Silva foi uma fossa, nomeadamente a fossa V, escavada na Área 2 do Crastoeiro. Nesta foram identificados diversos cultivos, tais como cevada (Hordeum vulgare), milho-miúdo (Panicum miliaceum), trigo de grão nu (Triticum aestivum/durum/turgidum), grãos de trigo de forma globiforme (Triticum sp. – globiforme) e Triticum dicoccum. Acrescente-se, ainda, a presença de bolotas (Quercus sp.) e de grainhas de uva (Vitis vinifera). Uma datação de radiocarbono permitiu posicionar estes vestígios carpológicos na Idade do Ferro, nomeadamente entre os séculos IV e II a.C. (Tabela 1).

O estudo carpológico da fossa V do Crastoeiro, em articulação com a restante interpretação arqueológica (Dinis, 1993-1994), foi o primeiro a documentar a presença de cereais em fossas da Idade do Ferro, no Norte de Portugal, sendo, por isso, paradigmático. Contudo, o facto de apenas ter sido estudada a carpologia de uma das fossas não permite uma caracterização clara dos cultivos e práticas de armazenagem das populações que aí habitaram na longa temporalidade. O estudo de amostras provenientes de outras fossas do mesmo sítio arqueológico assume, assim, particular relevância.

Nas campanhas arqueológicas realizadas nos anos de 2005 e 2006 foram escavadas diversas fossas, tendo sido visível, desde cedo, o seu potencial carpológico. O estudo desta coleção, nomeadamente as amostras oriundas das fossas XVIII, XVIII.1, XVIII.2, XVIII.5, decorreu durante o ano de 2015, e foi efetuado por um dos autores deste texto no âmbito de uma dissertação de mestrado (Seabra, 2015) motivo, pelo qual, se apresentam neste texto, os resultados obtidos, com o objetivo de caracterizar os vestígios carpológicos identificados e os seus contextos de proveniência. Pretende-se, ainda, enquadrar os cultivos do Crastoeiro e as estruturas onde foram recolhidos no contexto da agricultura e práticas de armazenagem da Idade do Ferro e da Romanização do Noroeste Ibérico.

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Figura 1 – Localização do Crastoeiro no Noroeste Peninsular.

Tabela 1 - Datações por radiocarbono realizadas no Crastoeiro (Dinis, 2001; Dinis e Bettencourt, 2009; Seabra, 2015). Calibração efetuada através do software Oxcal 4.2, curva de calibração Intcal 13 (Reimer et al., 2013).

O Crastoeiro

O povoado do Crastoeiro localiza-se num esporão, na base da vertente sudoeste do Monte Farinha ou da Senhora da Graça, no concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real, no Noroeste Peninsular (Figura 1).

Trata-se de um local com amplo domínio visual sobre as zonas de vale, estando inserido na margem esquerda na bacia hidrográfica do rio Tâmega, tributária da bacia do Douro.

Estrutura Ref. Lab. Data BP Cal. a.C. - d.C. (1 σ) Cal. a.C. - d.C. (2 σ) Elemento usado

Fossa V Ly-4936 2175±40 356-172 a.C. 366-111 a.C. Fossa V ICEN - 45 2210±45 360-205 a.C. 387-174 a.C.

Fossa V Beta - 239988 2120±70 349- 47 a.C. 363 a.C. - 5 d.C. Sementes (sem identificação) Fossa XVI Beta - 239989 2080±40 163-49 a.C. 201 a.C. - 5 d.C. Carvões (sem identificação) Fossa XVIII.1 Beta - 239990 2210±40 359-206 a.C. 382-184 a.C. Bolotas

Fossa XVIII.1 D-AMS 016318 2132±31 204-105 a.C. 351-53 a.C. Grãos de Centeio Fossa XVIII.2 D-AMS 011304 2027±25 52 a.C. -6 d.C. 103 a.C.– 30 d.C. Grãos de Centeio

Cabana II Beta 154646 2050±60 162 a.C - 5 d.C. 341 a.C. - 74 d.C. Bolotas

Cabana VI Beta 154645 2210±60 361 - 204 a.C 398 - 112 a.C. Carvões (sem identificação) Carvões e sementes (sem identificação)

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Neste sítio foram realizadas várias campanhas de escavação arqueológica, desde 1985 até à atualidade, embora com interrupções. Estas foram coordenadas por um dos signatários deste trabalho – António Pereira Dinis (Dinis, 1993-1994; 2001; 2005; 2009a; 2009b). A partir destes trabalhos contabiliza-se pelo menos dois momentos de ocupação, entre a Idade do Ferro e o período da Romanização. Com base em datações por radiocarbono em diferentes áreas do povoado, assim como no estudo dos conjuntos artefactuais aí recolhidos, a ocupação do Crastoeiro baliza-se entre o século IV a.C. e o século I d.C. (Dinis, 2001; Dinis e Bettencourt, 2009) (Tabela 1).

O primeiro momento de ocupação do povoado, entre os séculos IV-II a.C., caracteriza-se pela presença de estruturas habitacionais construídas com materiais perecíveis, pavimentos em saibro, áreas de combustão e fossas abertas no substrato rochoso (Dinis, 2001). Entre os finais do século II a.C. e os inícios do séc. I d.C. a muralha foi erguida, algumas das estruturas habitacionais foram petrificadas, mas mantiveram-se algumas cabanas feitas de materiais perecíveis (Dinis, 2001). As habitações pétreas demonstraram alguma variabilidade em termos da sua planta. Há casas circulares, com ou sem vestíbulo, casas sub-retangulares com cantos arredondados e, ainda, casas de planta irregular (Dinis, 2001; 2005). A Romanização do povoado é muito pouco expressiva do ponto de vista arquitetónico. Não obstante, estruturas

habitacionais de forma retangular e

subretangular, espólio de filiação romana composto por fragmentos de ânfora, paredes

finas, vidro e denários romanos foram identificados. No fim do século I d.C. terá ocorrido o abandono do sítio (Dinis, 2001).

Contextos Estudados

As amostras analisadas no âmbito deste estudo arqueobotânico foram recolhidas do interior de quatro fossas abertas no saibro, localizadas numa área central e aplanada do povoado. Esta área, além de sobrelevada pelos quadrantes norte e oeste, encontra-se rodeada por vários afloramentos graníticos, muitos deles providos de gravuras rupestres inseríveis no estilo atlântico (Dinis e Bettencourt, 2009), e com um conjunto de círculos concêntricos (Figura 2). No Crastoeiro, a origem dos motivos atlântico foi datada do Neo-Calcolítico, pela associação com materiais cerâmicos e líticos desses períodos, aí existentes (Dinis e Bettencourt, 2009). Posteriormente, houve sobreposições e adições de novos motivos, tendo as gravuras sido integradas nas ocupações da Idade do Ferro, pelos referidos autores.

Para este povoado foram definidas diferentes áreas de ocupação (Figura 3). Analisando de uma forma mais detalhada as fossas aqui abordadas, estas encontravam-se na Área 2 (Figura 3: A), um espaço que terá sido utilizado, ininterruptamente, durante toda a ocupação do povoado. Aqui, foram identificadas diferentes estruturas, entre as

quais, destacam-se as estruturas de

habitação, como uma casa circular com vestíbulo, bem como uma casa de morfologia subretangular com cantos arredondados (Dinis, 2001; Dinis e Bettencourt, 2009). A

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grande maioria destas habitações encontra-se afastada da área de maior acumulação de fossas, mas verificam-se exceções. A fossa IV (Figura 3: B), por exemplo, encontrava-se associada a uma estrutura de habitação sem,

no entanto, ter qualquer elemento

carpológico. Já a fossa V (Figura 3:C), associada a uma estrutura de planta irregular, mal preservada e de difícil

funcionalidade, revelou conteúdos

carpológicos, tendo sido estudados por A.R. Pinto da Silva (vide supra). Outras fossas de difícil interpretação foram observadas durante o decorrer dos trabalhos (Figura 3: D), também sem conteúdo carpológico.

Este estudo foca-se, no entanto, num conjunto de fossas que se sobrepunham entre si, afastadas das referidas estruturas habitacionais. Durante os trabalhos de campo tornou-se evidente que a abertura de algumas fossas cortou, além do afloramento rochoso, o enchimento de outras que se

encontravam já colmatadas. Devido à semelhança entre os diferentes enchimentos, nem sempre foi possível definir, com exatidão, o limite de cada estrutura e, consequentemente, a sua forma exata, ou mesmo a sequência de abertura das estruturas. É provável, porém, que a morfologia das fossas, tal como registada, não corresponda à sua morfologia original provavelmente com uma só exceção (vide infra).

O estudo carpológico incidiu sobre amostras recuperadas no interior de quatro fossas, a saber: as XVIII, XVIII.1, XVIII.2 e XVIII.5.

A fossa XVIII é composta por nove unidades estratigráficas. Quatro destas unidades foram amostradas, tendo sido analisadas seis amostras no âmbito deste estudo. Desconhece-se as dimensões e a morfologia desta estrutura.

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Figura 3 - Localização das áreas e das fossas mencionadas no artigo. Fossas: A - Fossas em estudo; B - Fossa IV; C - Fossa V; D – Outras.

No caso da fossa XVIII.1 foram estudadas oito amostras provenientes de duas unidades estratigráficas. Esta apresentava contorno circular, paredes côncavas e diferentes graus de declive. Tinha 0,74 m de diâmetro e 0,80 m de profundidade. Esta, encontrava-se em bom estado de preservação, sendo a única que se encontrava intacta (Figura 4).

Em relação à fossa XVIII.2 apenas uma amostra, proveniente de uma unidade

estratigráfica foi analisada. Desconhece-se as suas dimensões e forma.

Do interior da estrutura mais profunda, a fossa XVIII.5, foram analisadas quatro amostras provenientes de três unidades

estratigráficas. Também, neste caso,

desconhecem-se as dimensões e a

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Figura 4 – Fossa XVIII.1.

Tabela 2 - Proveniência das amostras, o tipo de processamento e o resultado das subamostragens aplicadas.

NºAmostra U.E. Fossa Tipo de processamento Subamostragem 4mm Riffle box Triado

1 18a XVIII Sem informação Não

2 18b XVIII Sem informação Não

3 18c XVIII Crivo Sim 38 87 9,94

4 18c XVIII Crivo Sim 43 111 13,78

5 18c XVIII Sem informação Sim 42 116 45,98

6 18d XVIII Crivo Sim 34 86 21,1

7 18.2a XVIII.2 Crivo Sim 62 261 36

8 18.5a XVIII.5 Sem informação Não

9 18.5a XVIII.5 Recolha manual Não

10 18.5a´ XVIII.5 Flutuação Não

11 18.5b XVIII.5 Flutuação Não

12 18.1a XVIII.1 Sem informação Sim 31 130 29

13 18.1a XVIII.1 Sem informação Sim 37 167 9,95

14 18.1a XVIII.1 Crivo Sim 426 266 16,34

15 18.1a XVIII.1 Sem informação Sim 472 198 11,94

16 18.1b XVIII.1 Crivo Sim 363 161 9,56

17 18.1b XVIII.1 Recolha manual Não

18 18.1b XVIII.1 Sem informação Sim 257 267 14,15

19 18.1b XVIII.1 Sem informação Sim 316 200 24,67

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Métodos laboratoriais

As amostras em estudo foram recolhidas durante as campanhas arqueológicas de 2005 e 2006. Num total de dezanove, algumas foram crivadas outras flutuadas, através de crivos com malhas de 0,2 mm e 0,5 mm. Deste conjunto de amostras, duas resultam de recolhas manuais realizadas durante os trabalhos de campo. Lamentavelmente, desconhece-se o volume de sedimento original (Tabela 2), assim como o exato local de recolha no interior de cada unidade estratigráfica.

A maior parte das frações leves das amostras apresentavam volumes muito elevados. Como tal, foram aplicadas subamostragens, através de uma “riffle box”, seguindo os princípios definidos em Van der Veen e Fieller, 1982. Nestes casos, os resultados foram alvo de extrapolação.

O trabalho de laboratório foi desenvolvido no CIBIO (Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos), membro do InBio (Rede de Investigação em

Biodiversidade e Biologia Evolutiva,

Laboratório Associado).

A fração leve das amostras foi triada à

lupa binocular, tendo o diagnóstico

taxonómico sido realizado com o auxílio das coleções de referência do Herbário da Universidade do Porto (PO) e do CIBIO, bem

como através de comparação com

bibliografia especializada e atlas morfológicos (Beijerinck, 1947; Renfrew, 1973; Berggren, 1981; Castroviejo et al., 1986-2012; Hillman

et al., 1996; Buxó, 1997; Marinval, 1999;

Jacomet, 2006; Nesbitt, 2006; Tereso, 2012; Zohary et al., 2012).

O diagnóstico taxonómico visou a identificação dos macrorrestos ao nível taxonómico com o maior detalhe possível, o que poderá variar em função de aspetos morfológicos (e.g. a sobreposição de caracteres morfológicos de diferentes espécies dentro de um género, tribo ou família) ou de preservação. Neste último nível, a carbonização, potenciando a preservação de material vegetal, é também fator de degradação. Os macrorrestos vegetais podem sofrer alterações desde o primeiro momento em que estão sobre a ação do fogo, até à sua recolha e processamento, algo que torna o diagnóstico taxonómico mais complexo (Braadbaart, 2008; Buxó e Piqué, 2008; Charles et al., 2015).

No caso em concreto do Crastoeiro, os macrorrestos encontravam-se com um nível de degradação elevado. Assim, e para uma exposição mais assertiva dos resultados, entendemos quantificar apenas elementos unitários. A apresentação dos resultados totais, teve como base a soma entre as amostras alvo de extrapolação (quantidades potenciais e as amostras sem extrapolação (quantidades efetivas).

Tendo em conta as diferentes

classificações atribuídas, para a análise das cariopses das gramíneas, foram consideradas unidades, todos os grãos inteiros ou fragmentos com escutelo. Em relação às inflorescências, foram quantificados os segmentos de ráquis, as bases de espigueta (com duas bases de glumas), e as bases de

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glumas isoladas (consideradas, para fins quantitativos, metade de uma base de espigueta). Registaram-se também grãos enclausurados nas espiguetas, tendo sido, neste caso, elaborada uma contabilização separada (grãos/espiguetas) unicamente para aferir o rácio grãos/espiguetas (vide infra).

Para os restantes elementos carpológicos foram seguidos pressupostos semelhantes. Todos os fragmentos com hilo, ou macrorrestos inteiros, foram contabilizados como unidades.

Resultados

O estudo carpológico do Crastoeiro revelou um claro predomínio de cereais (ver Tabelas 3, 4 e 5 e Figuras 5 e 6). Os resultados demonstraram valores muito homogéneos entre as diferentes fossas e unidades estratigráficas, com um total de 91812 elementos carpológicos (unidades). A fossa XVIII.5 distingue-se pela presença, muito

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Figura 6 – Resultados: inflorescências – quantidades e percentagens.

reduzida, de macrorrestos vegetais, embora estes sejam dos mesmos cereais encontrados nas restantes estruturas. Por esse motivo, os resultados desta última estrutura, não se encontram descritos nas Figuras 5 e 6, embora estejam descriminados nas Tabelas 3, 4 e 5.

Dentro do grupo dos cereais, salienta-se o predomínio dos grãos de trigo espelta (Triticum spelta) (Tabela 3 e Figura 5), situação verificada, de forma constante, nas

diferentes amostras analisadas. Para além do trigo espelta assinala-se a presença de outros cereais, tais como a cevada (Hordeum vulgare subsp. vulgare), o milho-miúdo (Panicum miliaceum), o milho-painço (Setaria italica) e o centeio (Secale cereale).

Ao longo deste estudo, foi notória a

grande fragmentação dos vestígios

carpológicos, principalmente dos grãos. Justifica-se, assim, a abundância de grãos

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identificados ao nível da tribo (Triticeae e Panicoideae).

Em números bem mais reduzidos do que os registados para o trigo espelta, observa-se o registo do milho-miúdo, sendo este o segundo cereal mais representado. Muitos dos seus grãos surgiram ainda com lema e pálea e, em alguns casos, em pequenos aglomerados juntamente com grãos de cevada. Foi, ainda, recuperado milho-painço, embora em quantidades muito pequenas.

Grãos de cevada surgem regularmente nas amostras estudadas, ainda que em número reduzido, representando somente 2% do total do conjunto carpológico (Figura 5). De salientar que os grãos de cevada apresentam dimensões superiores aos dos milhos, pelo que, em termos de volume, a cevada representa valores mais elevados.

À semelhança da cevada, os grãos de

centeio encontram-se em pequena

quantidade, mas de forma regular pelas diferentes estruturas, sendo a fossa XVIII.2 a estrutura com uma maior quantidade destes grãos (Tabela 3).

Para além dos grãos de cereais, foi ainda registada uma grande quantidade de fragmentos de inflorescências, ou seja, partes das espigas (Tabela 4 e Figura 6), principalmente bases de espigueta de trigo espelta. Novamente, em resultado da

fragmentação visível, os resultados

apresentam uma grande quantidade de bases de espigueta identificadas ao nível do

género (Triticum sp.). Estas duas

identificações representam quase a

totalidade dos elementos florísticos

encontrados no Crastoeiro. Não obstante, foram recolhidas bases de espigueta de Triticum dicoccum, segmentos de ráquis de trigo nu, de cevada e de centeio.

Os resultados evidenciam de uma forma clara o predomínio do trigo espelta.

Devido aos números elevados de bases de espigueta e de grãos foi elaborada uma análise com o objetivo de compreender a relação entre ambos. Esta está patente na Tabela 6, onde a primeira coluna de dados apresenta o número de grãos identificados e a segunda o número de 1/2 bases de espigueta encontradas. Uma base de espigueta normalmente é composta por dois grãos, assim, estabeleceu-se um rácio de um grão para cada 1/2 base de espigueta (base de gluma), visível na terceira coluna de dados.

Observando os números do trigo espelta, é percetível que o número de grãos é muito superior ao de bases de espigueta. O oposto surge com as identificações ao nível do género, registando-se um número elevado de bases por contraposição com os grãos. Este padrão parece traduzir um artefacto de identificação taxonómica. Por um lado, traduz a dificuldade em distinguir grãos de T. dicoccum dos de T. spelta, por outro resulta de especificidades relacionadas com o estado de preservação desta coleção em particular: os grãos encontram-se bem preservados e

apresentam-se genericamente com a

morfologia de T. spelta, sendo que só 3,4% dos grãos ficaram por uma identificação ao nível do género. Por outro lado, as espiguetas, mais frágeis, apresentam-se, por vezes, em mau estado.

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Tabela 4 – Resultados: inflorescências.

Fossa XVIII.2

U.E. 18a 18b 18c 18c 18c 18d 18.2a 18.5a 18.5a 18.5a´ 18.5b 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1b 18.1b 18.1b Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Cereais (grãos) Hordeum vulgare 3 4 127 50 117 84 312 4 1 110 151 67 19 415 33 1497 Panicoideae 10 9 18 161 247 245 1421 287 420 16 34 19 41 2928 Panicum miliaceum 12 11 53 396 326 347 1689 686 705 131 17 1 115 57 4546 Panicum miliaceum (aglomerado) 18 4 1 1 24 Panicum/Setaria 2 13 8 7 1 9 40 cf. Secale cereale 9 1 16 26 Secale cereale 44 16 15 20 348 49 84 1 1 38 8 624 Setaria italica 9 4 8 10 4 4 39 Triticeae 11 21 499 209 252 225 3734 2 1 15 1 914 1376 118 33 85 962 105 8563 Triticum sp. 3 8 123 72 65 8 435 1 4 216 218 20 4 267 26 1470 Triticum dicoccum/spelta 1 7 4 16 28 Triticum spelta 40 84 2599 1881 2002 1901 12347 4 16 70 25 3499 4675 1091 84 454 9750 927 41449 Total por Amostra 88 144 3490 2793 3047 2846 20300 7 17 95 27 5779 7629 1476 134 598 11567 1197

Total por U.E. 88 144 2846 20300 95 27

Total por Fossa 20300 61234

9330 24 15616 12764 Total

12408 146 28380

Total por táxon

XVIII XVIII.5 XVIII.1

Fossa XVIII.2

U.E. 18a 18b 18c 18c 18c 18d 18.2a 18.5a 18.5a 18.5a´ 18.5b 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1b 18.1b 18.1b Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Cereais (inflorescências)

Hordeum vulgare segmento de ráquis c/ 1 nó 1 1 8 10 4 109 27 17 177

Secale cereale segmento de ráquis c/ 1 nó 7 7

Triticum sp. base de espigueta 11 18 9 451 638 501 3690 986 1007 16 34 38 24 7423

Triticum sp. 1/2 base de espigueta 14 22 18 395 436 277 4278 870 1208 16 16 7550

Triticum aestivum/durum segmento de ráquis c/ 1 nó 16 18 12 15 22 83

Triticum aestivum/durum segmento de ráquis c/2 nós 1 1 5 22 2 8 39

Triticum dicoccum base de espigueta 1 23 8 7 9 48

Triticum dicoccum 1/2 base de espigueta 2 16 25 12 138 54 50 297

Triticum spelta base de espigueta 8 11 105 272 305 375 1928 3 524 541 83 67 236 91 4549

Triticum spelta 1/2 base de espigueta 17 36 44 460 553 530 4757 1242 1259 117 33 101 57 57 9263

Total por Amostra 52 92 176 1618 2013 1719 14951 5 3742 4082 232 33 202 331 188

Total por U.E. 52 92 1719 14951 5

Total por Fossa 14951 29436

Total 3807 8291 519 5670 Total por táxon 5 8810

(14)

82

Tabela 5 – Resultados: outros elementos carpológicos.

Fossa XVIII.2

U.E. 18a 18b 18c 18c 18c 18d 18.2a 18.5a 18.5a18.5a´18.5b 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1a 18.1b 18.1b 18.1b

Amostra 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Outras Gramineae

Avena sp. grão 8 5 4 15 9 41

Avena tipo sterilis grão e

flórula 8 8

Gramineae tipo Bromus grão 1 1

Gramineae grão 2 1 8 5 24 15 55 Leguminosae Vicia sp. semente 2 5 30 37 Leguminosae semente 8 5 24 15 8 36 4 100 Frutos silvestres Quercus sp. cotilédone 1 1 29 22 18 22 147 1 38 55 3 1 7 12 99 9 465 Quercus sp. cúpula 1 1 1 6 7 9 17 40 82 Rubus sp. semente 4 5 24 20 12 7 18 17 107 Rubus sp. drupa 8 8 Outros Caryophyllaceae semente 4 17 21 Galium sp. mericarpo 1 8 7 16

Galium aparine mericarpo 2 10 5 17

Malva sp. semente 1 8 3 12

Malvaceae semente 8 8

Plantaginaceae semente 4 4

Polygonaceae aquénio 1 3 4 8

Polygonum sp. aquénio 7 22 18 15 4 66

Polygonum aviculare aquénio 8 8 16

Rumex sp. aquénio 1 5 6

Rumex acetosella aquénio 3 4 7

Sambucus sp. caroço 1 1 5 7

Solanum sp. semente 1 1 7 4 13

Vitis vinifera semente 2 8 10 1 21

Indeterminado 1 4 4 3 4 16 39 60 30 118 133 84 289 0 1 1 0 102 89 3 1 24 12 139 17 39 60 84 289 1 0 289 387 1142 281 1 219 168 XVIII.5 XVIII.1 Total por táxon Total 464 2 XVIII

Total por Amostra Total por U.E. Total por Fossa

(15)

83

Partindo do princípio que os grãos de trigo identificados ao nível do género sejam, maioritariamente, grãos de espelta mal preservados, dado o predomínio desta espécie entre os elementos identificáveis, nomeadamente as espiguetas, foi efetuada uma análise conjunta de todos os grãos e fragmentos de espiguetas do género Triticum. Verificamos que o rácio aponta para 1 (arredondado a uma casa decimal), ou seja, o número de grãos do género Triticum equivale ao número de bases de glumas do género Triticum.

Tabela 6 - Relação entre os grãos de cereais e as 1/2 bases de espigueta recuperadas no Crastoeiro.

Foram, ainda, encontrados grãos de aveia. Alguns, da fossa XVIII.1, encontravam-se, ainda, parcialmente enclausuradas nas partes florais, sendo identificáveis como Avena tipo sterilis. Como tal, devemos considerar a hipótese de que todos os grãos de aveia serem de uma espécie silvestre, ou seja, uma daninha de cultivos (Aguiar, 2000).

O restante conjunto carpológico é composto por poucos elementos vegetais, correspondente, principalmente, a plantas silvestres (Tabela 5). Dentro deste conjunto, refere-se a presença de um número considerável de bolotas, identificadas por

cotilédones, cúpulas e fragmentos de pericarpo.

Para além das bolotas, destaca-se a presença de grainhas de uva (Vitis vinifera) em pequenas quantidades, o que não permite depreender se estamos perante elementos silvestres ou domésticos.

Ainda no âmbito das plantas silvestres, realça-se a presença de Rubus sp. Para além das sementes, foi registado uma metade do fruto (drupa). Trata-se de algo notável, pelo facto de este fruto ser extramente frágil e facilmente destruído pela ação do fogo.

Os restantes elementos vegetais

presentes, pela sua fraca representatividade, não permitiram identificações com grande detalhe taxonómico. Algumas das gramíneas identificadas (Avena sp., Avena tipo sterilis e Gramineae indeterminadas), correspondem, provavelmente, a ervas daninhas que acompanhavam os cultivos dos cereais. O mesmo se poderá admitir para o Rumex acetosella, tendo em conta a sua ecologia atual (Aguiar, 2000). Os restantes incluem

espécies comuns, atualmente, como

daninhas de cultivos e facilmente detetáveis noutros ambientes antropizados.

Discussão

Os cultivos do Crastoeiro no contexto do Noroeste Peninsular

Os diferentes trabalhos sobre

arqueobotânica permitiram defender que as práticas agrícolas da Idade do Ferro e da fase inicial da Romanização do Noroeste da Ibéria Cereais (grãos) 1/2 base de espigueta Rácio Triticum sp. 1470 22396 Triticum dicoccum --- 393 Triticum dicoccum/spelta 28 ---Triticum spelta 41449 18361 Total 42947 41150 1

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84

assentavam numa diversidade de cultivos, principalmente de cereais (Dopazo Martínez, 1996; Dopazo Martínez et al., 1996; Bettencourt, 1999; Oliveira, 2000; Parcero Oubiña, 2000; Tereso, 2012; Tereso et al., 2013a). Dentro dos cereais, salienta-se a presença de trigos, vestidos e nus. Em relação aos vestidos, destaca-se o registo do trigo espelta (Triticum spelta), o Triticum dicoccum, e o Triticum monococcum, embora estes dois últimos, ocorressem em número mais reduzido. Os trigos nus (Triticum

aestivum/durum/turgidum) eram,

igualmente, recorrentes nos conjuntos carpológicos. Para além dos trigos, outros cultivos, como a cevada de grão vestido e o

milho-miúdo foram registados

frequentemente na região (Dopazo Martínez, 1996; Bettencourt, 1999; Oliveira, 2000; Figueiral, 2008; López-Merino et al., 2010; Tereso, 2012).

Os dados deste novo estudo carpológico do Crastoeiro permitem integrar esta jazida no contexto do noroeste peninsular. Com exceção de T. monococcum, os restantes cereais foram recuperados nas fossas de armazenagem. A espécie mais abundante nas novas amostras estudadas do Crastoeiro foi o trigo espelta, espécie que também domina o conjunto carpológico de As Laias (Tereso et

al., 2013b). Este cereal é um trigo vestido, bem adaptado a solos pobres, a altitudes elevadas e a ambientes húmidos e frios (Buxó

et al., 1997; Van der Veen e Palmer, 1997). Trata-se de um cereal que foi introduzido no Noroeste Ibérico, durante a Idade do Ferro, e que rapidamente assumiu especial relevo (Tereso, 2012; Tereso et al., 2013b), provavelmente devido às características

ambientais, acima referidas (Parcero Oubiña, 2000; Tereso, 2012).

No entanto, outros cereais teriam um papel revelante, como é o caso do milho-miúdo, um cultivo de primavera, com um ciclo de reprodução curto, bem adaptado a diferentes condições climáticas ( Moreno-Larrazabal et al., 2015). O cultivo deste cereal poderia ser combinado com outros cultivos o que permitiria a obtenção de duas colheitas durante um ano (Bettencourt, 1999; Parcero Oubiña, 2000; Vázquez Varela, 2000; Buxó e Piqué, 2008; Tereso, 2012). A possibilidade de uma colheita tardia, de um cereal de primavera, poderá ter tido um papel importante nas estratégias de subsistência das comunidades da Idade do Ferro. O milho-miúdo é um cereal com um ciclo natural bem enquadrado no ciclo agrícola de primavera-verão, sendo, por isso, uma solução, embora

qualquer um dos restantes cereais

identificados no Crastoeiro, possa ter sido adaptado a cultivo de primavera. Esta questão poderá ser esclarecida com recurso a

análises funcionais de plantas

acompanhantes de cultivos, esperando-se

que, no futuro, surjam conjuntos

carpológicos adequados a estas abordagens. A cevada, recuperada em menores quantidades do que o trigo, é um cereal com características semelhantes às dos trigos vestidos, em termos de cultivo, de condições climáticas e de solos (Buxó, 1997; Parcero Oubiña, 2000).

Outro cultivo registado no Crastoeiro foi o centeio. O registo deste cereal não é comum no Noroeste Peninsular, tendo vindo a ser considerado como uma introdução romana

(17)

85

(Ramil-Rego e Fernández Rodríguez, 1999; Alonso, 2005; Buxó, 2005; Tereso, 2012; Tereso et al., 2013a). Usualmente cultivado no inverno, embora existam variedades de primavera, resiste a condições ambientais adversas, sendo rentável em solos pobres, ácidos e arenosos (Behre, 1992; Alonso, 2005). Até ao momento, são reduzidos os grãos de centeio identificados em sítios do Noroeste Peninsular e, quando encontrados, pertencem a ocupações romanas ou mais recentes (Martín-Seijo et al., 2010; Tereso et

al., 2013a, Peña-Chocarro et al., in press; Vaz

et al., 2017). De salientar que um dos contextos onde surgiu, a fossa XVIII.1, já havia sido datada por radiocarbono de entre os séculos IV e III a.C. (Tabela 1), através de cotilédones de bolota (Quercus sp.) (Dinis, 2009b). A confirmar-se esta cronologia, estaríamos perante uma evidência da presença de centeio em plena Idade do Ferro. Para aclarar esta problemática foram

efetuadas mais duas datações por

radiocarbono sobre grãos de centeio (Tabela 1).

Através das datações por radiocarbono realizadas sobre os grãos de centeio do Crastoeiro (Figura 7, Tabela 1), coloca-se a hipótese de este cereal ter sido introduzido, pelo menos, durante o século I a.C., ou seja, num momento de fortes influências romanas no Noroeste Ibérico (Alarcão, 1992; Peña Santos, 2005; Lemos, 2009; Martins et al., 2012), bem comprovadas no Crastoeiro pela presença de três denários romanos, um deles, republicano, cunhado em Roma em 60 a.C. e dois do período de Augusto, cunhados em Lugdunum, entre 2 a.C.- 4 d.C. (Dinis, 2001). A expansão do centeio na Europa

parece associar-se ao período romano (Behre, 1992). Na Península Ibérica, é pouco comum em contextos desta cronologia, sendo mais frequente a partir da Antiguidade Tardia (Alonso, 2005; Tereso et.al, 2013a). A sua presença numa fase tão antiga no noroeste ibérico é, por isso, excêntrica face ao que se conhecia da história desta espécie no extremo ocidente europeu. Ainda que possa ser explicada pelo processo de romanização da região, o facto de ainda ser uma exceção, torna difícil a compreensão da presença deste cereal, nesta cronologia e nesta localização geográfica, num sítio de tipologia indígena, num período em que as

comunidades da região mantinham

largamente o seu modo de vida, sendo incipiente a incorporação de elementos caracteristicamente romanos.

Mas o registo carpológico do noroeste peninsular não se resume aos cereais. Foram

identificadas, regularmente, algumas

leguminosas cultivadas, embora em números mais reduzidos, em comparação com os cereais, realçando-se a fava (Vicia faba) e a ervilha (Pisum sativum) (Dopazo Martínez, 1996; Dopazo Martínez et al., 1996; Bettencourt, 1999; Oliveira, 2000; Teira-Brión, 2010; Tereso, 2012). A sua inexistência nas fossas do Crastoeiro não poderá ser

entendida como evidência do seu

desconhecimento ou opção por não as cultivar, por parte das comunidades que aí habitaram. As fossas são contextos muito concretos, que poderão ter sido utilizadas para fins específicos. Assim, as leguminosas, podendo, tal como noutros sítios do noroeste peninsular, ter sido cultivadas pela comunidade do Crastoeiro, poderão ter sido

(18)

86

armazenadas noutro tipo de estruturas, ainda não detetadas.

Figura 7 – Grãos de centeio utilizados para datação.

Os dados arqueológicos existentes para o noroeste peninsular demonstram que a alimentação seria complementada com a recoleção de frutos silvestres, sendo a bolota habitual no registo carpológico (Oliveira et

al., 1991; Mason, 1992; Teira-Brión, 2010; Šálková et al., 2012). A bolota seria um elemento importante na dieta humana, pois contêm uma grande quantidade de hidratos de carbono, gorduras e fibras (Mason, 1992; Šálková et al., 2012). Também no Crastoeiro é este o elemento silvestre edível mais abundante. Para além das cotilédones, foram recolhidos fragmentos de pericarpo e de cúpulas, sugerindo que, pelo menos algumas das bolotas, foram armazenadas sem estarem completamente processadas. Uma

boa solução, tendo em conta que tal prática tende a prevenir a oxidação (Oliveira et al., 1991). Salienta-se, ainda, a presença de sementes e meia drupa de amora, assim como grainhas de uva. Estas últimas poderão advir de indivíduos silvestres ou domésticos, não surgindo em números suficientes para permitir uma abordagem biométrica ou morfológica adequada. Contudo, deve ser referido que, quer os dados da palinologia quer a ausência de estruturas relacionadas com a produção de vinho, durante a Idade do Ferro e fases iniciais da Romanização, não indiciam, até ao momento, o cultivo da uva ou a produção de vinho durante este período (Ramil-Rego et al., 1996; Tereso, 2012).

Cronologia, estruturas de armazenagem e processamento de cereal

A existência de uma diacronia nas diferentes fossas aqui estudadas, demonstra-se pelo

facto de, estratigraficamente, estas

estruturas se cortarem umas às outras. Ou seja, a abertura de algumas destas estruturas, cortou outras que estavam já preenchidas e inutilizadas. De um modo geral, estas estruturas em negativo, não se encontravam bem preservadas, tendo os trabalhos arqueológicos detetado, quase sempre, o que se consideram as partes inferiores e médias das estruturas. Assim, não foi possível, compreender o fecho das fossas.

Definir a amplitude dessa diacronia é difícil, mas datações de radiocarbono foram obtidas nesse sentido (Tabela 1). Essas datações sugerem que as fossas estudadas

(19)

87

foram utilizadas em pelo menos dois momentos. Um primeiro, entre os séculos IV-III a.C. e um segundo durante o século I a.C. Os resultados das datações não permitiram esclarecer se o espaço de acumulação das fossas foi utilizado antes dos séculos IV-III, ou se o foi de forma contínua entre os dois períodos determinados. Salientamos que

datações com este amplo espectro

cronológico foram obtidas a partir de frutos de uma mesma fossa (fossa XVIII.1), o que sugere existirem perturbações ou, pelo menos, dificuldades em distinguir o limite (logo, o conteúdo) das diferentes fossas que se cortam umas às outras.

A homogeneidade dos resultados da

carpologia, não permite, igualmente,

distinguir os diferentes momentos. Assim sendo, a perspetiva geral é baseada na homogeneidade dos resultados oriunda de todas as amostras, que apesar desta diacronia, demonstram que pequenas ou nenhumas mudanças terão ocorrido.

Em relação ao Crastoeiro propomos que

os elementos carpológicos foram

armazenados no interior de fossas abertas no substrato. Estes teriam sido carbonizados, de forma acidental ou deliberada no local de

armazenagem. Esta hipótese é

fundamentada não só pela grande

quantidade de material carpológico

existente, mas principalmente por se verificarem as seguintes características:

1) frequente manutenção da conexão

anatómica (sensu Ruas, 2011) entre

segmentos de ráquis, por um lado, entre grãos de cevada e centeio (este último, mais raramente) e por outro lado, entre grãos de

espelta e as respetivas espiguetas. Esta conexão indicia bons níveis de preservação, tornando pouco provável a sujeição a um transporte significativo a partir de outras áreas do povoado. Esta característica é contraditória com os níveis de fragmentação antes mencionados, porém, a fragmentação poderá ser justificada com a escavação e

processamento de amostras. Algumas

amostras foram inclusive crivadas a seco. 2) homogeneidade dos contextos, isto é, a quase inexistência de outros elementos arqueológicos (cerâmicas, etc.) comuns em outros níveis arqueológicos.

Contra esta hipótese, poderia ser apontada a quantidade considerável de carvões recuperada no interior das fossas. Porém consideramos que estes carvões poderiam resultar do incêndio de subdivisões de madeira existentes no seu interior, de tampas ou de estruturas que cobririam a área de armazenagem. Salientamos que foram detetados buracos de poste na envolvência das fossas. Infelizmente, problemas de

registo das amostras estudadas,

nomeadamente o volume das amostras antes da flutuação, não permite avaliar a quantidade de sedimento existente no interior das estruturas e calcular a percentagem de material carpológico face a este. A presença de carpologia, nestas fossas, poderá relacionar-se com diferentes fogos que as terão inutilizado. É possível também que o enchimento de cada fossa tenha sido perturbado à posteriori, aquando da continuação da utilização do espaço como área de armazenagem, evidenciada pelo facto de a abertura de algumas fossas ter

(20)

88

sido efetuada cortando outras fossas previamente existentes.

A armazenagem de grãos em fossas é uma prática comum desde períodos pré-históricos e em diferentes áreas geográficas (Reynolds, 1974; Gast e Sigaut, 1979; Gast et al., 1981; Gast et al., 1985; Tereso, 2012; Peña-Chocarro et al., 2015; Tereso et al., 2016). Diversos estudos demonstraram o uso de fossas de diferentes formas, com o objetivo de preservar os elementos vegetais por longos períodos de tempo (Reynolds, 1974; Miret i Mestre, 2008; Peña-Chocarro et al., 2015). Contudo, deve referir-se que a presença de conjuntos carpológicos, em fossas pode não resultar, exclusivamente, da

sua utilização como estruturas de

armazenagem (Gast e Sigaut, 1979;

Bettencourt, 1999; Alonso, 2008; Tereso et

al., 2016; Martín Seijo et al., 2017). Estes,

podem corresponder a contextos

secundários, terciários ou até mesmo a deposições naturais. Diferentes estudos, procuraram destrinçar e clarificar, alguns dos pontos anteriormente referidos, no entanto com considerações divergentes entre si (e.g. Stevens, 2003; 2014; Van der Veen e Jones, 2006, Ruas, 2011; Fuller et al., 2014). Estruturas e formas de armazenagem distintas foram identificadas noutros locais do Noroeste Ibérico. Referimo-nos aos casos de As Laias (Cenlle) e de Penalba (Campo Lameiro), ambos na Galiza. No primeiro sítio, o trigo espelta foi armazenado em estruturas de “tabique”, durante a Idade do Ferro e na transição para o período romano (Tereso et

al., 2013b) e, no segundo, o Triticum dicoccum foi armazenado em vasos, durante uma fase de transição entre o fim da Idade

do Bronze e o início da Idade do Ferro (Aira Rodríguez et al., 1990).

Outro tema de estudo é o processo de armazenagem em fossa. Para a preservação dos grãos, a selagem da fossa seria fundamental. No seu interior, era necessário um ambiente com pouco oxigénio, bem como uma temperatura e níveis de humidade estáveis (Reynolds, 1974; Burch e Sagrera, 2009; Gracia Alonso, 2009; Peña-Chocarrro et

al., 2015). Um método para manter os níveis de oxigénio baixos, poderia passar pela armazenagem combinada de cereais de diferentes tamanhos, possibilitando que o espaço entre os grãos ficasse reduzido. No caso do Crastoeiro foram encontrados grãos de cevada e de milho-miúdo, agregados, o que poderá indiciar que foram armazenados juntos no interior da fossa. É verdade que estes cereais apresentam características

diferentes e, por isso, pressupõem

processamentos, usos/consumos e práticas de cultivo distintos, o que pode tornar difícil compreender porque seriam armazenados em conjunto. Ainda assim, esta associação entre cultivos tem sido registada em outros sítios arqueológicos. São exemplo disso Thiais (Val-de-Marne, France) (Marinval, 1992; Buxó e Piqué, 2008) e Ville-Saint-Jacques (Seine-et-Marne, France) (Issenmann et al., 2012) que foram interpretados de modo similar.

Antes da armazenagem, os cultivos bem como outras plantas edíveis, necessitavam de ser recolhidos e processados. Estudos etnográficos têm vindo a ser elaborados com o objetivo de reinterpretar o processamento dos cereais através da observação de formas tradicionais de cultivo (Hillman, 1981; 1984;

(21)

89

Jones, 1984; Peña-Chocarro, 1996; 1999; Peña-Chocarro et al., 2009). Os dados do Crastoeiro sugerem que os grãos de trigo vestido foram armazenados em forma de espigueta. Através da debulha, as espiguetas dos trigos vestidos desarticulam-se da espiga, com os grãos ainda enclausurados. Para

libertar o grão é necessário um

processamento posterior. Pelo contrário, os trigos nus apresentam um processamento menos moroso e trabalhoso pois trilhar ou malhar o cereal é suficiente para libertar o grão das espiguetas (Nesbitt e Samuel, 1996; Peña-Chocarro, 1999; Peña-Chocarro e Zapata, 2003; Van der Veen e Jones, 2006). A armazenagem do grão dos cereais vestidos em espiguetas revela-se uma boa estratégia para um armazenamento a longo prazo. Tal

deve-se ao facto de as espiguetas

protegerem o grão contra fungos e insetos (Buxó e Piqué, 2008; Gracia Alonso, 2009; Fuller et al., 2014).

A armazenagem, no povoado do

Crastoeiro, pode ter sido realizada em dois contextos diferentes: familiar ou coletivo. No estudo anterior (Dinis, 2001; Pinto da Silva, 2001) foi identificada uma fossa com cultivos,

próxima de estruturas “domésticas”,

sugerindo a prática de uma armazenagem familiar. Em relação às fossas abordadas neste estudo, não foi possível estabelecer uma conexão clara e inequívoca com as unidades familiares.

As fossas do Crastoeiro encontravam-se junto a um grande número de gravuras rupestres de estilo atlântica, embora com sobreposições e adições mais recentes, provavelmente da Idade do Ferro (Dinis,

2009a; Dinis e Bettencourt, 2009). Apesar destas gravuras terem uma origem mais antiga, não foram destruídos durante a ocupação da Idade do Ferro, pelo que não se pode descartar a possibilidade de existir uma relação simbólica entre elas e as estruturas de armazenagem. A preservação dos grãos seria fundamental para a sobrevivência dos habitantes do Crastoeiro, como tal, é plausível que tenha existido uma motivação simbólica para a construção das estruturas, junto às gravuras. De qualquer modo esta é uma problemática em aberto, dada a falta de paralelos para situações com características idênticas às do Crastoeiro, no contexto da Idade do Ferro e da Romanização do Noroeste Ibérico (Figuras 2 e 3).

Conclusões

O novo estudo carpológico do Crastoeiro incidiu sobre amostras de diferentes fossas de uma área particular do povoado, junto a afloramentos com arte rupestre. As fossas em questão apresentam uma cronologia entre os séculos IV-III e I a.C., mas a interpretação da sua sequência construtiva é estratigraficamente complexa. Neste amplo intervalo de tempo verificaram-se alterações significativas na estrutura social e no povoamento da região, assim como na estrutura interna deste povoado, pelo que a dificuldade em aferir cronologias concretas para cada fossa são uma limitação importante deste estudo. Ainda assim, o conteúdo das diferentes amostras estudadas é particularmente homogéneo, possibilitando leituras genéricas.

(22)

90

Deste modo, os dados obtidos através deste estudo foram cruciais para a caracterização, quer dos diferentes cultivos quer das estratégias de armazenagem praticadas no Crastoeiro, durante a Idade do Ferro e nos primórdios da Romanização. Em ambos os níveis, estruturas e cereais, encontrados neste sítio enquadram-se no conhecimento atualmente existente para o noroeste da Península Ibérica.

Os cereais encontrados, com exceção do centeio, surgem em diversos outros sítios arqueológicos da mesma cronologia, com destaque para a importância do trigo espelta, o cereal dominante nas amostras aqui estudadas. De um modo geral, os cereais encontrados no Crastoeiro representam um conjunto diverso e complementar de cultivos que são, na sua maioria, plantas resistentes a condições ambientais adversas, tanto ao nível de solos como de clima.

Também as estratégias de armazenagem que caracterizam as estruturas do Crastoeiro surgem documentadas noutras jazidas da região. Isto acontece a dois níveis. Por um lado, o uso de fossas encontra-se bem patente em sítios como S. João de Rei (Bettencourt, 1999; 2000). Por outro, a

armazenagem dos trigos vestidos

parcialmente processados, i.e., com o grão dentro das espiguetas, é evidente em sítios como As Laias (Tereso et al., 2013b), Crasto de Palheiros (Figueiral, 2008), Castrovite (Rey Castiñeira et al., 2011) e Penalba (Aira Rodríguez et al., 1990).

Como foi referido acima, a exceção dos dados do Crastoeiro, é a identificação de um cultivo anteriormente inédito para esta

cronologia, o centeio, que surge em diferentes unidades estratigráficas. Duas datações de radiocarbono, em conjunto com outros artefactos arqueológicos, permitem aferir uma cronologia de meados do século I a.C., fazendo dos vestígios carpológicos de centeio do Crastoeiro os mais antigos da Península Ibérica.

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