• Nenhum resultado encontrado

NOVAS CONSIDERAÇÕES QUANTO À DATAÇÃO DO RELEVO DE WEP-WAWET PROVENIENTE DE LISHT*

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "NOVAS CONSIDERAÇÕES QUANTO À DATAÇÃO DO RELEVO DE WEP-WAWET PROVENIENTE DE LISHT*"

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138, 2003.

NOVAS CONSIDERAÇÕES QUANTO À DATAÇÃO DO RELEVO

DE WEP-WAWET PROVENIENTE DE LISHT*

Cássio de Araújo Duarte**

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia,São Paulo, 13:131-138, 2003.

RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar uma nova datação para o relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht, atualmente no Metropolitan Museum of Art, baseado em um diversificado conjunto de elementos da cultura material e de cunho iconográfico com os quais uma comparação indica a elaboração dessa imagem durante a 3.a dinastia. Fundamentando o presente estudo em uma análise diacrônica e sincrônica da arte do Antigo Reino, chegamos à uma datação anterior àquela apresentada por Hans Goedicke em seu trabalho sobre as imagens dos blocos encontrados em Lisht.

UNITERMOS : Egito antigo - Antigo Reino - Arqueologia egípcia.

Tendo sido primeiramente publicada por Caroline Ransom Williams (Williams 1935-38:525- 527) e re-analisada por Hans Goedicke (Goedicke

1971: 29-30), a imagem de W ep-wawet proveni­ ente de Lisht (Fig. 1) continua a suscitar grande interesse por ser um a rara representação de uma divindade durante o Antigo Reino, de modo que nos vimos atraídos para mais uma interpretação no que concerne à sua datação, já que acreditamos ser mais antiga do que o estipulado no importante trabalho de Hans Goedicke.

O bloco onde a imagem está gravada não possui grandes dimensões. Segundo Williams, ele mede 38 cm no eixo horizontal, que se estende da extrem idade esquerda, acima da cabeça do carregador de estandarte, à direita, logo adiante da

(*) Metropolitan Museum of Arts (MMA) registro n.° 09.180.2, Rogers Fund 1909. Fotografia gentilmente cedida pelo prof. Dr. James Allen em nome dessa instituição. (**) Mestre em Arqueologia pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

mão de W ep-wawet. O cetro que esse deus segura junto ao tórax (shm ) mede aproximadamente

17,5cm. Embora esse relevo tenha sido reutilizado na construção da pirâmide norte de Lisht por Amenemhat I, sua datação foi estimada tanto por Williams como por Goedicke para o Antigo Reino. Williams, entretanto, chegou até mesmo a conside­ rar a possibilidade de que a imagem tenha sido executada pouco antes do período de Amenemhat I pela diferença estilística em relação aos magistrais relevos da 5.a dinastia (Williams 1935-38:527). Goedicke, por sua vez, propõe que sua confecção tenha se dado no início da 4.a dinastia, mais especificamente relacionando-o com uma série de imagens da festa Sed que ele atribui ao reinado de Khufu (Goedicke 1971: 30), segundo rei dessa dinastia, construtor da Grande Pirâmide e filho de Snefru.

No entanto, de acordo com alguns paralelos que podemos fazer com outras evidências materiais de caráter iconográfico do Reino Antigo, chegamos a uma data um pouco mais recuada, localizando a elaboração dessa imagem em algum momento da

(2)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138,2003.

Fig. 1 - Fragmento de relevo em calcário ilustrando Wep-wawet sendo seguido por um porta-estandarte, 43 x 42 cm. Proveniente do núcleo da pirâmide de Amenemhat I. Metropolitan Museum o f Arts (MMA), registro n. 09.180.2, Rogers Fund 1909.

3.a dinastia (c.a. 2649-2150 a.C.). Para tanto, analisamos a seguir seus aspectos mais elucidativos.

Descrição da cena

Em destaque, aproximadamente no centro da representação, vemos Wep-wawet à maneira antropomórfica, tendo restado de seu aspecto animal somente sua cabeça de chacal. Este usa uma peruca tripartite, embora esteja ausente nesta representação o outro volume de cachos que pende sobre o outro ombro e que é freqüentemente representado em imagens posteriores da 5.a dinastia, por exemplo. Em adição, o persona gem veste somente um saiote semi-plissado que é atado na altura do umbigo. Acima de sua cabeça vemos parte de uma inscrição hieroglífica que diz hrp

tSwy “Controlador” (Williams 1935-38: 526) ou

“Líder das Duas Terras” (Goedicke 1971: 30), um epíteto usual desse deus. Em sua mão esquerda, ao contrário do cetro w ls iyvas) que as divindades normalmente ostentam, repousa um cajado liso como aquele que a elite carregava. Em sua outra mão e à frente do tórax, um outro símbolo comum em imagens dos membros da elite, o cetro sxm. Este, por sua vez, também pode significar a palavra

hrp “controlar” , estabelecendo um jogo de

sentidos com a expressão que se refere ao deus. Seguindo Wep-wawet encontra-se um porta- estandarte representado em menores proporções que o deus. Erguendo solenemente um mastro que ostenta em seu cume um par cruzado de flechas sobre uma pequena plataforma retangular, o carregador pode aqui estar perpetuando o simbolismo de Wep-wawet presente em algumas cenas da realeza (Borchardt apud Goedicke 1971: 30, nota 80). Por outro lado, vale lembrar que a

(3)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138, 2003.

im agem de duas setas cruzadas à frente de um escudo é um símbolo da deusa Neith, que poderia estar representada originalmente logo atrás do carregador de estandarte.

Pelo conteúdo da imagem, onde foram intencionalmente representados dois cetros da nobreza e um carregador de estandartes, o conjunto da cena parece ilustrar parte de um evento em que um personagem da elite, usando uma m áscara de W ep-wawet, executa sua parte em um ritual importante no universo simbólico da realeza. Se aqui se trata de parte de uma ilustração da festa Sed, onde W ep-wawet tem um papel fundamental desde as origens da instituição da realeza (Frankfort 1998), ou de uma outra festividade como o retom o de alguma guerra, é difícil de se saber com certeza.

E specificidades da im agem de W ep-wawet Peruca

Em com paração com outras cenas do Antigo Reino que ilustram a peruca tripartite, a imagem daquela de W ep-wawet parece bastante arcaica. Um paralelo muito próximo se faz com a peruca do deus Hórus na Esteia de Qahedjet (Fig. 2), datada da 3.a dinastia. Com um olhar atento, percebemos que os cachos que as com põem partem não som ente do topo da cabeça, como vemos em cenas da 4.a e 5.“ dinastias, mas tam bém da lateral das faces dessas divindades. Um a exceção é a cena de Thot do Wadi M aghara (Gardiner, Peet, Èemy 1955: 57-58, p l.l, fig. 7; Duarte 1993: prancha 34b), datada da 4.u dinastia. Mas, neste caso em especial, devemos lembrar tanto das implicações envolvidas pela distância geográfica da capital - que regulava os cânones da representação imagética - quanto da dureza respectiva das pedras utilizadas na execução do entalhe. Também na cena do Wadi M aghara, não vemos qualquer grupo de cachos caindo em direção ao peito desse deus da escrita que possa aludir à peruca tripartite - muito embora tal fato não venha a interferir em si na orientação destes nessa imagem. O que pode ser concluído a partir deste caso, é que a distância de Mênfis contribuía consideravelmente para um desvio estético das convenções representativas estipuladas nessa capital, tal como vemos na arte provincial do Antigo Reino.

Fig. 2 - Esteia de Qahedjet, 3.‘ dinastia. Calcário, 50,5 x 31 cm. Ziegler 1999b: 177.

Somado a essas características, podemos também perceber que, ao contrário das imagens conhecidas dessa peruca no Reino Antigo - inclusive a da esteia do rei Qahedjet, aquela de W ep-wawet não se estende para além do ombro em direção às costas: ela “acaba”, até onde a imagem nos apresenta, no ombro direito do deus. Seu contorno também é muito sugestivo no que concerne à semelhança com a imagem da esteia de Qahedjet. Se com pararmos com as perucas ilustradas em algumas cenas posteriores da 4.a e 5.a dinastias, por exemplo, notaremos que seu perfil passa de uma configuração semi-circular, durante a 3.a dinastia, para uma mais quadrangular e ligeira­ mente triangular nos períodos seguintes. Em um bloco igualmente encontrado no núcleo da pirâmide de Amenemhat I (Fig. 3), e cuja datação é atribuída ao reinado de Snefru, podemos ver um personagem

(4)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo. 13: 131-138,2003.

com essa peruca sobre a cabeça apresentando um novo perfil quadrangular (Goedicke 1971: 35-38; Arnold 1999b: 196-197). Da 5.“ dinastia, temos um testemunho com a imagem do deus Khnum do reinado de Sahurê (Lauer 1988: 241) e outro do período de Niuserrê (Arnold 1999c: 352-353) com a deusa Sekhmet (Fig. 4), ambos com uma peruca tripartite com um aspecto mais triangular.

Representação da fa c e de chacal

Quanto à aparência animal de Wep-wawet nesta imagem, não temos muitos referenciais que pudessem nos dar uma perspectiva mais clara quanto à representação terio-antropomórfica de deuses canídeos durante as distintas fases do Reino Antigo. Entretanto, acreditamos ser exeqüível uma

comparação com outras fontes em que esse deus ou seu semelhante, Anúbis, foram registrados à forma teriomórfica. Fazendo uso deste

Fig. 3 - Cena da festa Sed com a deusa Meret. Calcário, 77 x 64,5 cm. Goedicke 1971: 37; Arnold 1999b: 196-198.

critério, chegamos igualmente à idéia de que a cena aqui estudada tenha sido produzida, com grande probabilidade, durante a 3.a dinastia.

A representação da face de Wep-wawet no relevo de Lisht é um exemplo não usual na arte egípcia em que o focinho desse deus aparece extremamente alongado em proporção à altura da face e das orelhas. Embora não seja possível saber sobre o resto da representação, a figura de Anúbis em um relevo da época de Niuserrê (Amold 1999a: 91, fig. 55; Duarte 2003: prancha 43; Wainwright 1938: p l.l; Wilkinson 1996:176) apresenta um focinho mais discreto que, possivelmente, se equilibrava proporcionalmente com a representação de suas duas orelhas, algo não visto no relevo proveniente de Lisht. Para sustentar essa hipótese, podemos com parar esse relevo do templo da pirâmide de Niuserrê com um datado da 6.a dinastia e provenien­ te do templo da pirâmide de Pepi II, em Saqqara (Arnold 1999a: 88, fig.52). Embora esteja muito fragmentado esse relevo apresenta alguns deuses com cabeça de

Fig. 4 - Parte de uma cena que ilustra a deusa Sekhm et amamen- tando o rei N iuserrê, 5." d in a s­ tia. C a lc á rio , 112,2 x 63 cm. Arnold 1999c: 352.

(5)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138,2003.

chacal cujas orelhas estão dispostas de maneira harm ônica em relação ao tam anho do focinho. Paralelam ente, há um registro do próprio templo de Sahure em que o deus Seth é figurado com suas duas longas orelhas retas e um focinho relativamente modesto (Gronewegen-Frankfort s.d.:48, fig. 5). U m a outra fonte de apoio está na parede sul da capela funerária de R ahotep (4.a dinastia), onde temos um a belíssim a representação de chacais caçando, apresentados com focinhos discretos em com paração com suas longas orelhas (Sm ith 1949, pl.33b). D esta form a, percebem os que nas execuções m ais elaboradas da 4.“ à 6.“ dinastia, o chacal é preferencialm ente representa­ do com suas duas longas orelhas e um focinho delicadam ente trabalhado sem que este ultrapasse, em proporções, o tam anho de seus órgãos auditivos. Por outro lado, quando com paramos com alguns registros da 3.“ dinastia, com o em representações de chacais em um batente de porta da época de N etjerikhet D joser (Fig. 5), notam os um a considerável sem elhança no que concerne ao tratam ento estético da cabeça do animal (Hawass

1999: 170-171). Em bora não possam os levar em conta o núm ero de orelhas representadas nesse tipo de im agem de perfil, já que elas são usual­ m ente reduzidas a um a só em registros de todas as épocas, ainda assim podem os observar uma característica fundamental em comum: o tratamen­ to das proporções. Aqui, não som ente as faces dos chacais são sim ilares à de W ep-wawet no seu sentido horizontal, com o suas orelhas são pareci­ das tanto na form a - com um ângulo reto na parte posterior e arredondadas na anterior - quanto em sua proporção em relação ao resto da cabeça. U m outro registro contemporâneo em uma esteia fronteiriça de D joser (Fig. 6) apresenta Anúbis, ainda que de um a form a um pouco mais rústica, seguindo essas m esm as proporções, o que nos perm ite perceber o cânone representativo para chacais durante o período desse rei (Ziegler

1999a: 172). A diferença neste caso, e que pode ser fruto de algum equívoco durante o entalhe da im agem , é a direção para qual a orelha se volta - estando a parte reta na porção anterior da cabeça. Contudo, nas cenas dos célebres painéis desse rei nos subterrâneos de seu com plexo funerário, W ep-wawet, em seu estandarte, é apresentado todas as vezes seguindo o mesmo padrão do batente de porta citado acim a (Friedm an 1995).

r i g . J — u e i u i r i t q u t n u siru u u tu s criucui i\n u u iò em um umbral proveniente do complexo funerário rir> Dinc/yr ni/ ^Avir% -? n ri i v i n c t i n 7 11 -? v Al) S v

Fig. 6 - Detalhe de uma esteia fronteiriça de Djoser. No canto superior direito temos uma representa­ ção de Anúbis. Calcário, 3 ° dinastia 29,9 x 22,5 cm. Ziegler 1999a: 172.

Também é interessante observar que o tamanho do olho de W ep-wawet no fragmento de Lisht é relativamente pequeno em proporção ao tamanho de sua cabeça, o que encontra um estreito vínculo com os registros acima mencionados da 3.a

(6)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138,2003.

dinastia. Nos períodos seguintes, de acordo com a ilustração desse órgão em representações de outras divindades, é de se presumir que este tenha igualmente sofrido transformações em seu tamanho à proporção que se adaptava às medidas da cabeça segundo os novos padrões estilísticos, de m odo a não “desaparecer” no espaço do rosto.

Proporções do corpo

Um a outra série de elem entos cham ativos na im agem aqui em questão são as dim ensões do tronco e dos braços em relação ao resto do corpo. Com um olhar atencioso, logo percebe­ m os que, com parada aos m elhores relevos da 4 : dinastia, por exem plo, o tronco do personagem que interpreta o papel de W ep-w aw et (Fig. 1) aparece-nos com o uma com posição m elódica dissonante. Os braços, com seus músculos salientes, perdem -se na im ensidão de um tórax que se eleva dem asiadam ente acima do umbigo. Se estendidos, chegariam , no máximo, à parte inferior da bacia. Já em representações posterio­ res, os longos e vigorosos braços alcançam as proporções naturais do corpo hum ano, logo acim a da altura dos joelhos. Ao colocarm os a cena da esteia de Q ahedjet (Fig. 2) lado a lado com a de W ep-wawet de Lisht, mais sem elhan­ ças surgem : o longo tronco do corpo do deus Hórus parece um a m ontagem não muito bem sucedida em relação aos outros mem bros, espelhando o processo de um a arte que ainda ensaiava os passos de sua expressão estética monumental rumo a convenções representativas mais harmônicas.

Vale tam bém observar que a im agem de W ep-waw et, além do porte atlético, tam bém apresenta um mam ilo esquerdo bem pronunciado que encontra paralelos nas representações de D joser em alguns de seus painéis.

Somando-se às demais particularidades apontadas acima, uma outra característica arcaizante na imagem do deus chacal é a forma como a sua cabeça animal fora integrada a um corpo humano. Na 4.a dinastia, de acordo com a imagem de Thot do Wadi Maghara, vemos uma integração harm ônica entre a cabeça e o tronco por meio de um artifício muito feliz: um colar

usekh serve com o meio de transição entre

homem/animal fazendo-nos achar esteticamente natural esse tipo de representação. E tal prática

continuou daí por diante nas demais cenas de nosso conhecim ento até o ocaso da arte egípcia. Contudo, na imagem de Hórus na esteia de Qahedjet, vemos o mesmo acabamento que foi dado à de W ep-wawet, onde um a única linha curva estabelece a divisão entre a cabeça de falcão e o corpo de homem. A ssim , é de se acreditar que ambas as imagens datem de um mesmo período.

Saiote/cauda

Para completar nossa interpretação cronológi­ ca da cena, é importante observar um último detalhe no saiote das divindades que passa despercebido aos olhos de muitos, mas que pode ser fundamental na classificação diacrônica de uma imagem: a ausência ou não da cauda de touro no saiote de uma divindade. Tanto na cena do Wadi Maghara, datada da época de Khufu, como em muitas outras das dinastias seguintes, observamos esse elemento da indumentária da realeza introduzi­ do na representação do saiote de divindades (Duarte 2003: 79-92, fig.8). No entanto, é importante lembrar que não foi encontrado esse elemento durante a época de Snefru, pai de Khufu, o que pode indicar uma mudança nas convenções da arte durante esse período.

Voltando à nossa fonte complementar de apoio, a esteia de Qahedjet, nela percebem os claramente que a cauda de touro só consta na imagem do rei, pendendo de seu cinturão e caindo- lhe por detrás do saiote, ao passo que o deus Hórus, à sua frente, veste somente um saiote simples, estabelecendo um contraste entre os dois personagens. Da mesma forma, pela ausência desse adorno na imagem de Wep-wawet, podemos presumir uma possível elaboração desse relevo durante a 3.a dinastia.

Conclusão

Alicerçados na série de características iconográficas acima enumeradas presentes na imagem de Wep-wawet, tais como a forma, apresentação e integração das diversas partes que com põem a peruca, cabeça e corpo do persona­ gem, e a ausência da cauda de touro no saiote deste, concluímos que a melhor datação para a cena seja a 3.a dinastia.

(7)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138, 2003.

A tribuí-la ao período de Khufu (4.a dinastia) implicaria em um descompasso em relação aos cânones da arte que já haviam se tom ado significa­ tivamente formais para permitir falhas nas propor­ ções dos personagens, por exemplo. Em bora já se veja um amadurecimento das artes representativas nos painéis de Hesirê, um nobre que viveu sob o reinado de D joser durante a 3.a dinastia, essa é um a tendência que só se solidifica a partir da 4.a dinastia, seguindo o ritmo progressivo das mudanças

na arquitetura e religião. Uma constatação desse fato pode ser ilustrada pela estela de Qahedjet, que embora seja classificada no final da 3.a dinastia, apresenta características marcadamente arcaizantes, tal como a imagem de Wep-wawet.

Pela escassez de outras fontes com as quais poderíamos fazer paralelos mais específicos quanto à datação, nos limitamos a não estabelecer qualquer conjectura que venha propor uma periodização mais precisa dentro da 3.a dinastia.

DUARTE, C. A. New considerations about the dating of Wep-wawet relief from Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13:131-138, 2003.

ABSTRACT: The aim of this article is to present a new dating for the Wep-wawet relief block from Lisht, nowadays in the Metropolitan Museum of Art, based in a diversified set of elements of material culture and of iconographical nature from which a comparison shows a possible 3rd dynasty elaboration. Founding the present study on a diachronistic and synchronistic analysis of the Old Kingdom Art, we attain an earlier dating former to the one presented by Hans Goedicke in his work on Lisht image blocks.

UNITERMS: Ancient Egypt - Old Kingdom - Egyptian archaeology.

Referências bibliográficas

ARNOLD, D.

1999a Royal Reliefs. D. Arnold, K. Grzymski, C. Ziegler (Orgs.) The Egyptian art in the age o f the pyramids. New York: The Metropolitan Museum of Art/Harry N. Abrams: 82-101. 1999b Scenes from a king's thirty-year jubilee. Idem:

196-198.

1999c Lion-headed goddess suckling king Niuserre. Idem: 352-353.

DUARTE, C.A.

2003 Aspectos da iconografia e significado do touro no Egito, desde o período pré- dinástico à 5.a dinastia. Dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo. FRANKFORT, H.

1998 Reyes y dioses, estudio de la religión del Oriente Próximo en la antigüedad en tanto que integración de la sociedad y la naturaleza. Madrid: Alianza Editorial. FRIEDMAN, R.

1995 The underground relief panels of the king Djoser at the Step Pyramid complex. JARCE, 32: 1-42.

GARDINER, A.H.; PEET, T.E.; ÈERNŸ, J.

1955 The inscriptions o f Sinai, 2 vols. Vol. II. London, Egypt Exploration Society- Oxford University Press: 57-58, plate 1, fig.7. GOEDICKE, H.

1971 Re-used blocks from the pyramid o f Amenemhet I at Lisht, Egyptian Expedition, v. 30. New York: The Metropolitan Museum of Art. GROENEWEGEN-FRANKFORT, H.A.

s.d. Arrest and movement: an essay on space and time in the representational art o f the ancient Near East. London: Faber & Faber. HAWASS. Z.

1999 Doorjamb of king Djoser. D. Arnold; K. Grzymski; C. Ziegler (Orgs.) The Egyptian art in the age o f the pyramids. New York, The Metropolitan Museum of Art/ Harry N. Abrams: 170-171.

LAUER, J.-PH.

1988 Le Mystère des Pyramides. S. I. : Presses de la Cité.

SMITH, W.S.

1949 A history o f Egyptian sculpture and Painting in the Old Kingdom. Oxford: Oxford University Press/ The Museum of Fine Arts, Boston.

(8)

DUARTE, C.A. Novas considerações quanto à datação do relevo de Wep-wawet proveniente de Lisht. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São Paulo, 13: 131-138,2003.

WAINWRIGHT, G. A.

1938 The sky-religion in Egypt; its antiquity & effects. Cambridge: Cambridge University press. WILKINSON, R.H.

19% Reading Egyptian art - a hieroglyphic guide to ancient Egyptian painting and sculpture. London: Thames and Hudson.

WILLIAMS, C.R.

1935-38 A relief from Licht representing Wer-wawet in

Recebido para publicação em 20 de dezembro de 2003.

therianthropic form. In Mélanges Maspero, I. Cairo, Institut Français d 'Archéologie Orientale: 525-527. ZIEGLER, C.

1999a Boundary stela of king Djoser. D. Arnold; K. Grzymski; C. Ziegler (Orgs.) The Egyptian art in the age o f the pyramids. New York, The Metropolitan Museum of Art/ Harry N. Abrams: 172.

1999b Stela of king Qahedjet. Idem: 177-178.

Referências

Documentos relacionados

Na Figura 4.7 está representado 5 segundos dos testes realizados à amostra 4, que tem os elétrodos aplicados na parte inferior do tórax (anterior) e à amostra 2 com elétrodos

 Análise e comparação do efeito de vários tipos de PCM no controlo da variação da temperatura operativa das salas, sujeitas a três cenários de

F REQUÊNCIAS PRÓPRIAS E MODOS DE VIBRAÇÃO ( MÉTODO ANALÍTICO ) ... O RIENTAÇÃO PELAS EQUAÇÕES DE PROPAGAÇÃO DE VIBRAÇÕES ... P REVISÃO DOS VALORES MÁXIMOS DE PPV ...

As questões acima foram a motivação para o desenvolvimento deste artigo, orientar o desenvol- vedor sobre o impacto que as cores podem causar no layout do aplicativo,

I, Seltan Segued, emperor of Ethiopia, believe and profess that Saint Peter, prince of the Apostles was nominated head of the Christian Church by Christ our Lord, who bestowed

The challenges of aging societies and the need to create strong and effective bonds of solidarity between generations lead us to develop an intergenerational

The Anti-de Sitter/Conformal field theory (AdS/CFT) correspondence is a relation between a conformal field theory (CFT) in a d dimensional flat spacetime and a gravity theory in d +

A legislação da Comunidade Econômica Européia de defesa da concorrência coibiu as concentrações empresarias e o abuso de posição dominante que possam existir no mercado, pois