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Nem sempre a presen~a de palavras de origem africana, nesse diciomirio, significa que tenham sido atendidas todas as condi~oes de analise: etimologia

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Academic year: 2021

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ABSTRACT: This paper analyses the vocables defined as africanisms by the dictionary Novo Dicionario Aurelio da Lingua Portuguesa (1986), searching to evaluate the inaccuracy of the etymology presented for the the words identified by the terms •. from a probable or possible African origin ".

Duas obras importantes, publicadas em 1933, 0 elemento afro-negro na lingua portuguesa e A influencia africana no portugues do Brasil, de Jacques Raimundo e Renato Mendon~a, respectivamente, abordaram pela primeira vez a participa~ao africana na constitui~ao da lingua nacional, destacando listas de palavras de origem africana ( por volta de trezentas) e apresentando influencias provaveis dessas linguas na fonologia e sintaxe do portugues do Brasil. Outros trabalhos mais especializados, principalmente do ponto de vista lexicografico, se seguiram. Dentre esses podemos citar: 1934: "Africanismos na linguagem brasileira", de Nelson Senna; 1936: "Os africanismos do dialeto gaucho", de Dante Laytano; 1938:Africanos no Brasil. Estudos sobre os Negros Africanos e Influencias Afro-Negras sobre a linguagem e costumes do povo brasileiro, de Nelson Senna; 1943: 0 Negro eo Garimpo em Minas Gerais, de

Aires da Mata Machado Filho.

Na decada de 70, dois trabalhos sao produzidos na Universidade do Zaire, utilizando uma metodologia que alia itpesquisa sistematica no Brasil 0confronto com a realidade africana. 0 primeiro, desenvolvido pelos africanistas Jean-Pierre Angennot, Jean-Pierre Jacquemin e Jacques L. Vinckle, publicado em 1974, Repertoire des

Vocables Bresiliens d'Origine Africaine, compila 1500 palavras a partir de fontes escritas e indica uma metodologia adequada para identificar, principalmente, termos de origem banto. 0 segundo e uma tese de doutorado ainda inedita, De I'integration des apports africains dans les parlers de Bahia, au Bresil, de Yeda Pessoa de Castro, defendida na Universidade do Zaire ..

Em 1991, John T. Schneider publica 0Dictionary of African Borrowings in Brazilian Portuguese, registra 2.500 itens, integrando, conforme esclarece na introdu~ao, os trabalhos ja publicados sobre 0 tema e acrescentando novos itens correntes na Bahia, segundo pesquisa feita com informantes pelo autor.

Desse breve hist6rico dos registros dos termos de origem africana -africanismos - no portugues do Brasil, sobressai a evolu~ao dos dados quantitativos, ao lado dos qualitativos: de trezentos e poucos termos reconhecidos, chegamos a 2500. Os dicionarios de lingua portuguesa a que 0leitor nao academico tern acesso, embora nao fa~am referencia aos trabalhos acima mencionados, tambem incorporam urn numero representativo de africanismos. 0 Novo Dicio11(irioAurelio,1986 (doravante NDA) consigna 1600 termos de origem africana, estando ai incluidos derivados e compostos.

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Nem sempre a presen~a de palavras de origem africana, nesse diciomirio, significa que tenham sido atendidas todas as condi~oes de analise: etimologia e data~ao do emprestimo; muitas vezes0autor identifica as unidades lexicais como sendo depossivel ou prowivel origem africana. Assim, toma-se dificil reconhecer que houve evolu~ao na metodologia de pesquisa que revele urn conhecimento maior sobre os africanismos no portugues do Brasil.

Considerando significativa a identifica~ao precaria de muitos termos, refletida pelos diferentes graus de certeza quanto a sua origem - talvez, possivel, provavel africanismo, observada na leitura dos verbetes do NDA, busca-se neste trabalho investigar os criterios que levaram 0dicionarista a tais avalia~oes. Seria a sonoridade do vocabulo, seu significado e/ou seu uso que teriam induzido

a

defesa de uma

possive/provQvel procedencia africana para 104 itens, no NDA?

Ha, nesse diciomirio, 159 termos com etimo identificado, sendo 148 do quimbundo e 11 do iomba, alem de alguns termos de origem ambigua: 4 do cafre e 5 do daomeano. Tambem silo identificados 5 luso-africanismos (Bonvini, 1994). Hit outros 104 verbetes cuja etimologia aparece muitas vezes matizada por expressoes modalizadoras ou por pontos de interroga~ilo,como se segue:

"do africano"- (5 termos), ex: aie- "entre os nagos, festa que assinalava a passagem do ana novo";

"do africano?" - (3 termos), ex:

au -

"certo movimento de capoeira";

"de origem africana"- (37 termos), ex:peji- "santuario do candomble baiano"; "de origem africana?"- (3 tennos), ex:sambango- "individuo fraco, sem for~a";

"de origem africana decerto"- (6 termos), ex:jeguede- "instrumento de percussao de origem africana ; dan~a ao som desse instmmento;

"de possivel origem africana"- (18 termos), ex:cafunje- "moleque travesso e larapio"; "de provavel origem africana"- (17 termos), ex: canjere- "reuniao de negros para prMica de feiti~aria; dan~a de negros";

"talvez de origem africana"- (8 termos), ex:vimbunde, "escravo".

Tambem foram identificadas outras denomina~oes etimol6gicas pouco expHcitas, utilizadas uma unica vez para urn unico termo:

"talvez do iomba"- batete, "inhame cm com azeite e sal";

"do quimbundo?"- bambti, "sedimento de azeite-de-cheiro; dan~a de negros; jogo de cartas; rolo";

"vocabulo africano "- cauila, "avaro";

"duma lingua africana "- langua (u), "planicie geologicamente modema, constituida por sedimenta~oes e aluvioes, e as vezes, ate, ainda periodicamente inundada pelas aguas do mar";

"duma lingua indigena do Sudilo"- cola, "arvore cuja semente contem alcal6ides tonicos e aperitivos";

"origem angolana"-quizomba, "certa dan~a de negros angolenses"; "origem indigena ou africana"- caxango, "boi de corte".

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Causa bastante preocupal;ao encontrar tal etimologia no diciomirio de maior circulal;ao no pais, pois ela leva a pressupor 0absurdo de que na Africa se fale uma unica lingua e que africano seja a denominal;ao desse idioma. Por outro lado, a expressao sob analise pode subentender "do povo ou do continente africano", visto que os termos incluidos sob essa rubrica referem-se a festas, danl;as, rituais e instrumentos musicais africanos. A primeira interpretal;ao, no entanto, encontra maior respaldo nas defmil;oes do dicionario, pois e confirmada pela indical;ao do etimo do verbete caruru-"do africano kalalu ".

Mas como explicar a posposil;ao do ponto de interrogal;ao a essa etiqueta, se os tres termos assim identificados, au. guzunga. punga, nomeiam atividades reconhecidas tradicionalmente como de origem africana, "movimento de capoeira", "tambor de jongo" e "especie de samba de roda", respectivamente? Parece plausivel considerar 0 sinal de interrogal;ao como excesso de cuidado do lexic6grafo, por nao ter certeza da origem da capoeira, do jongo ou do samba de roda.

as termos definidos aflTDlativamentecomo sendo "de origem africana", apesar da imprecisao etimol6gica, niio induzem a interpretal;ao erronea da realidade lingiiistica daquele continente. as 37 vocabulos assim apresentados sao nomes de: animais, plantas, instrumentos musicais, jogo ou referem-se a religiao e sacerdotes africanos. Ao significado "africano" associa-se a sonoridade reconhecida tradicionalmente no Brasil como representativa de africanidade: palavras de padrao silabico CV; oxitonas e paroxitonas; a maioria iniciada por ba-, ca-. ma-, qui-, hom6fonos dos prefixos de classe de linguas do grupo banto.

Novamente sao tres os termos que tern sua origem africana questionada: calimbe, caloji e sambango. Refletem uma possivel "fonetica africana", mas a aproximal;ao semantica niio e tao nitida. a primeiro item refere-se a uma especie de tanga dos nativos da Guiana; 0segundo designa urn cortil;o, casa de pobre; 0terceiro identifica 0 individuo fraco, sem forl;as.

E

bem verdade que esses significados reproduzem a imagem estereotipada de traje, casa e homem africanos. Embora nao se possa afirmar que seja essa a informal;ao mais re1evante para a indagal;ao sobre a origem africana dos verbetes, 0 fato de vislumbrar uma suposta africanidade nesses conteUdos denota uma aprecial;ao pouco objetiva do lexic6grafo.

Sao seis os termos que apresentam essa avalial;ao etimol6gica. a adverbio decerto enfatiza0elevado grau de certeza sobre a origem africana dos verbetes, sem que as definil;oes dos mesmos se destaquem dos itens identificados simplesmente como "de origem africana". as vocabulos sob essa etiqueta - alfa. axox6. caborje. jare. jeguede, muxaxa. respectivamente, "sacerdote maometano do Senegal"; "iguaria preparada com feijao fradinho"; "magia negra"; "danl;a fetichista negra"; "instrumento de origem africana" e "arvore de Angola" - possuem tral;os foneticos e semanticos comuns ao grupo acima analisado. Na falta de qualquer elemento que tome coerente a

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Hi dezoito termos com essa identifica~ao etimol6gica. Referem-se a: culimiria de origem africana ou afro-brasileira, bruxaria, jogos, plantas, moleque travesso, escravo fugido e objetos de adomo infantil. As palavras iniciam-se por ba-, bu-, ca-, ma- , mo- , qui- . Os termos sob essa etiqueta revelam os mesmos fatos foneticos c semanticos que os demais ja estudados. 0 modalizador "possivel" utilizado pelo lexic6grafo ressalta 0fato de que, do ponto de vista 16gico, a afirmal;ao nao implica contradil;ao (cf. verbete possivel do pr6prio NDA, 1986: 1372), mas0grau de incerteza

confessado nao se justifica pelas defini~oes dos verbetes.

Os dezessete termos considerados "de provavel origem africana" denominam iguarias, tipos de habital;ao, danl;as, sacerdotes africanos, fetiches ou referem-se

a

prlitica de feitil;aria. Iniciam-se pelos mesmos supostos prefixos de c1asse ja mencionados (ca-, ji-, ma-, mo-, qui-). A origem desses itens lexicais apresenta 0 mesmo grau de "probabilidade" de todos os demais verbetes sem etimologia c1aramente definida, tem a mesma aparencia de verdade ( cf. verbete "provavel" NDA, 1986: 1408).

o

NDA reconhece sua duvida quanto

a

origem africana de oito termos. Do ponto de vista fonetico e semantico nao ha nada que os fa~a destoar dos demais cuja origem nao esta suficientemente comprovada, segundo as defini~oes do mesmo dicionario. Os verbetes designam doen~a, escravo, alimento, dan~a e nao manifestam nenhuma evidencia que possa levar a um maior grau de incerteza sobre sua origem.

As etimologias individualizadas, pela sua mmUCla, deveriam revelar um conhecimento especializado; todavia a leitura desses verbetes desvela, na maior parte dos casos,0contrario, ou seja,0desconhecimento da realidade lingiiistica africana.

As designal;oes vocabulo africano, duma lingua africana, duma lingua indigena do Sudiio e de origem angolana retratam 0mesmo grau de (des)informal;ao, porem em proporl;ao diferente: no caso das expressoes vocabulo africano e duma lingua africana, 0termo sob analise deve ter vindo de alguma das 1900 linguas faladas na Africa; quando se afirma que0termo provem de uma lingua de um pais especifico -Sudao ou Angola, no caso - a probabilidade de encontrar a origem aumenta, pois 0 universo linguistico se reduz a quase uma centena para cada um desses paises.

Os vocabulos batete e bamba, cuja origem ioruba e quimbundo, respectivamente, e questionada, denotam a inseguranl;a do lexic6grafo, que nao confia nas evidencias de significado e sonoridade que remetem aquelas linguas.

o

termo caxango, "[de or. indigena, ou afr.] S. m. Bras., BA. boi de corte." (NDA: 375), exemplifica um fato decorrente da situal;ao de contato lingiiistico ocorrido

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no Brasil. Nem sempre e facil determinar a origem de palavras que manifestam semelhan~a f6nica com uma lingua indigena ou africana e cujo significado e bastante plausivel para ambas as origens, na ausencia de urn contexto mais claro que permita desfazer a ambigiiidade. Nesse caso, so uma pesquisa comparativa intensa nas duas areas poderia resolver0impasse, que se observa na identifica~ao de muitos verbetes que poderiam ter sua etimologia reavaliada, comoquibungo, identificado como deprowivel origem indigena, apesar de referir-se a baile de negros, em Minas Gerais.

Quando se buscou urna identidade propria para a lingua nacional, na decada de 30, difundiu-se0conceito de que0lexico do portugues do Brasil se caracterizava pelo enriquecimento do acervo herdado de Portugal, proporcionado pelas linguas indigenas e africanas. A partir de entao e ate meados dos anos 40, intensificou-se a pesquisa na area dos africanismos, considerados como uma forma de brasileirismo e de regionalismo. Finda a efervescencia nacionalista, a investiga~ao de cunho lexicografico foi praticamente abandonada e so reapareceu por meio de trabalhos esporlidicos, nos anos 70, com investiga~oes feitas na Africa, e mais recentemente, em 91, com a publica~ao do trabalho de Schneider.

A leitura doNovo Diciontirio Aurelio, embora revele urn elevado do mimero de entradas consideradas como africanismos, nao nos permite afirmar que se aprofundou 0 conhecimento que se detinha, nos anos 30 e 40, sobre0resultado do contato das linguas africanas com 0 portugues no Brasil. A dificuldade em indicar a origem desses emprestimos e a imprecisao de muitas identifica~oes, ao tentar matizar 0 grau de certeza da informa~ao etimologica, evidenciam 0 desconhecimento da realidade lingiiistica africana e deixam transparecer a subjetividade da avalia~ao lexicografica. As modaliza~oes da expressao de origem africana por meio de adverbios e adjetivos

talvez, possivel, prowivel, decerto nao revelam, como pretenderiam, urn grau crescente de confiabilidade da atribui~ao de tal origem. A analise empreendida demonstrou a ausencia de elementos que justifiquem a escolha de urn modificador em detrimento de outro; a sele~ao parece ter obedecido mais a urn criterio estilistico do que cientifico.

Evidencias fOnicas e semanticas, fundamentadas numa visao estereotipada do que seja a fonetica de urna lingua africana, a realidade daquele continente e os costumes de seus falantes, induziram 0lexicografo a defender a origem africana dos vocabulos investigados. A reprodu~ao dessa visao cristalizada sobre a presen~a africana no portugues do Brasil denuncia a carencia e urgencia de pesquisas nessa area.

RESUMO: Este texto analisa os termos definidos como africanismos pelo Novo Dicionario Aurelio da Lingua Portuguesa (1986), procurando avaliar a imprecisao da etimologia apresentada para palavras identificadas como sendo de prowlvel ou possivel origem africana.

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