A Alegria
da
criãção
de Deus
E Deus viu tudo que havia feito, E tudo era muito bom.
(Gênesis 1, 31)
Deus trabalha sem parar e exteriormente na criação e na preservação deste grande universo, nos movimentos dos céus, nas influências das estrelas, na produção da terra e do mar, na
composição da atmosfera, na regulação das estações e em todo aquele ordenamento maravilhoso que observamos na natureza, e que voltaria ao nada, se Deus não o acompanhasse constantemente.
(S. Vicente de Paulo)
Nós Vos louvamos, Pai,
com todas as vossas criaturas, que saíram da vossa mão poderosa. São vossas e estão repletas da vossa presença e da vossa ternura. Louvado sejais!
Salmo 8
Ó Senhor, Senhor nosso, a tua grandeza é vista no mundo inteiro.
O louvor dado a ti chega até o céu e é cantado pelas crianças e pelas criancinhas de colo. Tu construíste uma fortaleza para te proteger dos teus inimigos, para acabar com todos
os que te desafiam. Quando olho para o céu, que tu criaste,
para a lua e para as estrelas, que puseste nos seus lugares —
que é um simples ser humano para que penses nele?
Que é um ser mortal
para que te preocupes com ele? No entanto, fizeste o ser humano inferior somente a ti mesmo e lhe deste a glória e a honra de um rei.
Tu lhe deste poder sobre tudo o que criaste; tu puseste todas as coisas debaixo do domínio dele: as ovelhas e o gado
e os animais selvagens também; os pássaros e os peixes
e todos os seres que vivem no mar. Ó Senhor, nosso Deus,
a tua grandeza é vista no mundo inteiro.
Perguntas para meditação e partilha
1. A criação é tão imensa que o salmista se pergunta “O que é o homem?” Você conhece em si mesmo aquela experiência de sentir-se pequeno neste mundo? Quando foi que estava tão maravilhado? Dê um exemplo.
2. Escreva uma oração contemporânea em louvor à criação de Deus.
Texto para aprofundamento e meditação A manifestação de Deus na natureza
Deus escreveu um livro estupendo, “cujas letras são representadas pela multidão de criaturas presentes no universo”. E justamente afirmaram os bispos do Canadá que nenhuma criatura fica fora desta manifestação de Deus: “Desde os panoramas mais amplos às formas de vida mais frágeis, a natureza é um manancial incessante de encanto e reverência. Trata-se duma contínua revelação do divino”. Os bispos do Japão, por sua vez, disseram algo muito sugestivo: “Sentir cada criatura que canta o hino da sua existência é viver jubilosamente no amor de Deus e na esperança”. Esta contemplação da criação permite-nos descobrir qualquer
ensinamento que Deus nos quer transmitir através de cada coisa, porque, “para o crente, contemplar a criação significa também escutar uma mensagem, ouvir uma voz paradoxal e silenciosa”. Podemos afirmar que, “ao lado da revelação propriamente dita, contida nas Sagradas Escrituras, há uma manifestação divina no despontar do sol e no cair da noite”. Prestando atenção a esta manifestação, o ser humano aprende a reconhecer-se a si mesmo na relação com as outras criaturas: “Eu expresso-me exprimindo o mundo; exploro a minha sacralidade decifrando a do mundo”.
A dependência mútua de todas as criaturas
O conjunto do universo, com as suas múltiplas relações, mostra melhor a riqueza inesgotável de Deus. São Tomás de Aquino sublinhava, sabiamente, que a multiplicidade e a variedade “provêm da intenção do primeiro agente”, o Qual quis que “o que falta a cada coisa, para representar a bondade divina, seja suprido pelas outras”, pois a sua bondade “não pode ser convenientemente representada por uma só criatura”. Por isso, precisamos de
individuar a variedade das coisas nas suas múltiplas relações. Assim, compreende-se melhor a importância e o significado de qualquer criatura, se a contemplarmos no conjunto do plano de
Deus. Tal é o ensinamento do Catecismo: “A interdependência das criaturas é querida por Deus. O sol e a lua, o cedro e a florzinha, a águia e o pardal: o espectáculo das suas incontáveis diversidades e desigualdades significa que nenhuma criatura se basta a si mesma. Elas só existem na dependência umas das outras, para se
completarem mutuamente no serviço umas das outras”.
Cântico de São Francisco de Assis
Quando nos damos conta do reflexo de Deus em tudo o que existe, o coração experimenta o desejo de adorar o Senhor por todas as suas criaturas e juntamente com elas, como se vê neste gracioso cântico de São Francisco de Assis:
“Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão sol, o qual faz o dia e por ele nos alumia.
E ele é belo e radiante com grande esplendor: de Ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem. Louvado sejas, meu Senhor,
pela irmã lua e pelas estrelas,
que no céu formaste claras, preciosas e belas. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão vento pelo ar, pela nuvem, pelo sereno, e todo o tempo, com o qual, às tuas criaturas, dás o sustento. Louvado sejas, meu Senhor, pela irmã água, que é tão útil e humilde, e preciosa e casta. Louvado sejas, meu Senhor, pelo irmão fogo, pelo qual iluminas a noite:
ele é belo e alegre, vigoroso e forte”.
Os bispos do Brasil sublinharam que toda a natureza, além de manifestar Deus, é lugar da sua presença. Em cada criatura, habita o seu Espírito vivificante, que nos chama a um relacionamento
com Ele. A descoberta desta presença estimula em nós o
desenvolvimento das “virtudes ecológicas”. Mas, quando dizemos isto, não esqueçamos que há também uma distância infinita, pois as coisas deste mundo não possuem a plenitude de Deus. Esquecê-lo, aliás, também não faria bem às criaturas, porque não
reconheceríamos o seu lugar verdadeiro e próprio, acabando por lhes exigir indevidamente aquilo que, na sua pequenez, não nos podem dar.
Proteger a nossa casa comum
O urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a preocupação de unir toda a família humana na busca de um
desenvolvimento sustentável e integral, pois sabemos que as coisas podem mudar. O Criador não nos abandona, nunca recua no seu projecto de amor, nem Se arrepende de nos ter criado. A
humanidade possui ainda a capacidade de colaborar na construção da nossa casa comum. Desejo agradecer, encorajar e manifestar apreço a quantos, nos mais variados sectores da actividade humana, estão a trabalhar para garantir a protecção da casa que partilhamos. Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da
degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. Os jovens exigem de nós uma mudança; interrogam-se como se pode pretender construir um futuro melhor, sem pensar na crise do meio ambiente e nos sofrimentos dos excluídos.
Perguntas para aprofundamento e meditação
Uma especial gratidão é devida àqueles que lutam, com vigor, por resolver as dramáticas consequências da degradação ambiental na vida dos mais pobres do mundo. (Laudato Si’ 13).
1. O que significa esta afirmação de “Laudate Si” para você pessoalmente? Como você participa na co-responsabilidade da criação de Deus?
2. Como você partilha aquela responsabilidade com seus co-irmãos, irmãs e amigos?
Fontes usadas:
‘A ALEGRIA da Criação de Deus’ é o quinto número de “ALEGRIA!”, uma série de materiais de reflexão, feita pelos Fráteres CMM, para o Ano da Vida Consagrada, 2015.
Origem dos textos: Na página 1: Texto de Gênesis 1,31: da Edição Pastoral, Edições Paulinas, Sâo Paulo, 1990.
Texto de S.Vicente de uma conferência para as irmãs: ‘Amor ao Trabalho’ nº 42, 28 novembre 1649, tirado de Saint Vincent de Paul, Corresponence,
Conferences, Documents Vol. 09, página 384.
Oração final de Carta Encíclica do Santo Padre Francisco Laudato Si’, sobre o
cuidado da casa comum, Roma, 24 de Maio de 2015, parágrafo 246.
Textos também de Laudate Si, os parágrafos 85-88 e 13.
O desenho na página 1 é de Ade Bethune: Escultura de São Francisco em madeira.
O ‘desenho humorístico’ sobre Papa Francisco é de Pat Marrin no ‘National Catholic Reporter’.
O Papa Francisco consulta seus conselheiros para a última versão de sua encíclica.