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Currículo e acontecimento: TENSÕES entre epistemologias e epistemicídios: novas perspectivas, abordagens e construções

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Academic year: 2022

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Currículo e acontecimento: TENSÕES entre epistemologias e epistemicídios:

novas perspectivas, abordagens e construções

Bruno Ferreira Licenciado em História, Mestre em Educação pela FACED/UFRGS Professor do Instituto Estadual de Educação Indígena Ângelo Manhká Miguel

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Saber Indígena

Na vivência kaingang a espiritualidade atravessa diferentes universos que se interpenetram, criando uma visão ampla e complexa do ser humano, baseada na experiência constante dos indígenas com todos seus territórios onde vivem. Neste sentido, os ecossistemas das aldeias são partes integrante de um todo. Portanto, o conhecimento indígena é complexo e apresenta características diferentes do pensamento ocidental onde a vida espiritual se encontra dissociado dos demais aspectos da vida diária.

( Ferreira, Selva. 2015, pag. 26)

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Instituto de educação Indígena Ângelo Manhká Miguel

O Instituto irá ao longo do tempo, formar alunos Kaingang e se dedicar à formação de professores Kaingang, tem também a função de fortalecer a escola como um instrumento de afirmação étnica, para evitar a perda cultural e linguística.

Nesse sentido, há espaço para a ressignificação cultural da identidade étnica e da língua indígena por meio do incentivo às práticas, às crenças, aos usos e costumes, considerar as tecnologias indígenas, valorizando e difundindo seus métodos de construção de conhecimentos.

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História, culturas indígenas e a escola

Que patrimônio de interculturalidade para dialogar com os povos indígenas a sociedade não indígena construiu a partir de suas escolas? (Bergamaschi, 2010, 163)

Quais ancestralidade(s) a sociedade não indígena reconhece como própria(s)?

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Patrimônio de interculturalidade

O patrimônio de interculturalidade refere-se aos bens materiais e imateriais que historicamente o grupo constituiu para dialogar coletivamente com outras culturas, como por exemplo, a prática do bilinguismo, a escola nas aldeias, ou o esforço que indígenas envidam para apreender os modos de vida de outros povos.

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Ancestralidade e saberes escolares

Enquanto a Grécia Antiga figura como “berço da civilização”

nos livros didáticos,

Os saberes, os conhecimentos e os valores que dizem respeito à ancestralidade africana e à indígena ficaram relegados, apagados, entulhados, pois contradizem a ideia de civilidade que a escola ensina.

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Como os povos indígenas (des)aparecem nas escolas?

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Atlas Geográfico Curso Elementar para uso das escolas (1923)

Como se dividem os povos no que diz respeito á civilização?

Dividem-se em três classes: civilizados, bárbaros e selvagens.

(...)

Os povos selvagens vivem em deplorável estado de degradação;

possuem só ideias confusas de religião, desconhecem os vínculos sociais e, ás vezes, devoram os prisioneiros que fazem nas suas incessantes guerras (Atlas Geográfico).

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História do Brasil para crianças (1934)

E tinham escola?

Não. Os povos de Pindorama eram selvagens e os selvagens não sabem o que é instrução.

Então não sabiam ler, nem escrever, nem contar?

Ler e escrever não. Contar sabiam, muito pouco, pois só

contavam até dez. Todo o que passava de dez chamavam muito.

Também não designavam o ano, o mês, a semana, o dia (Correa apud Zamboni; Bergamaschi, 2009).

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Nosso Estado (Série Estudos Sociais)

Nossa história começa ao tempo em que o Brasil foi descoberto (...). Na ocasião, os índios que habitavam nosso Estado [Santa Catarina] eram os carijós. Viviam seminus e usavam penas e colares como enfeites. Moravam em choças de palha e pau-a- pique. Alimentavam-se da pesca, da caça e de frutos da terra.

Não maltratavam os visitantes, desde que não fossem ofendidos. Eram cobiçosos, chegando algumas vezes a vender os próprios irmãos como escravos aos brancos (Nosso Estado apud Santos, 1975, 61).

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Guia de Livros Didáticos – História EF 2013

Observa-se que há uma preocupação em cumprir a legislação com relação aos povos indígenas, mas suas contribuições e participação na História do Brasil, em muitas obras, aparecem bem menos do que a dos brancos e negros. Ao longo do corpo do texto, os indígenas só são considerados, muitas vezes, no período colonial. É como se eles tivessem desaparecido, para só surgirem com a Constituição de 1988, ou seja, nos dias atuais. Assim, termina-se por reproduzir uma história tradicional segundo a qual os índios desaparecem com o processo de colonização.

PNDL 2013 – História – Ensino Fundamental (p.25)

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Guia de Livros Didáticos – História EM 2012

A despeito desses avanços visualizados no âmbito da legislação e da produção historiográfica, permanecem desafios no sentido de subsidiar de modo aprofundado e consistente as práticas socioculturais e educacionais em curso na sociedade brasileira. (...) cabem aos profissionais da História a produção e disseminação de conhecimentos históricos que possibilitem tratar a História e cultura dos povos indígenas e dos afrodescendentes resguardando as devidas características e especificidades.

PNDL 2012 – História – Ensino Médio (p.21)

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O indígena nos livros didáticos: concepções

1) Índio genérico;

2) Índio exótico;

3) Índio romântico;

4) Índio histórico.

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19 de abril no calendário escolar

As escolas, em abril, por acharem que índio é tema só no mês de abril – não usam a temática dentro da realidade que possuem.

Continuam insistindo em fazer pena de papel, pôr música da Xuxa, mas não trabalham a realidade ao redor das escolas, não chamam um povo para discussão de história e contos, trabalhar culinária ou fazer cerimônia (Dora Pankararu apud Gomes, 2011).

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Como as crianças veem os indígenas?

(Gomes, 2011)

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• Persiste um distanciamento grande entre o saber da escola como instituição, com toda sua carga ocidental e o saber indígena. Este, por sua vez, é construído de forma conjunta e harmoniosa entre seus membros nos diversos espaços e tempo vivenciados ao longo de sua historia.

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Andila Nivygsãnh Inácio Belfort

A conquista dessa lei [Lei 11.654/2008] é uma dádiva que os povos indígenas oferecem às escolas não indígenas, para que todos os americanos tenham a oportunidade de estudar a sua história, a história da sua ancestralidade. (Inácio apud Bergamaschi, 2010, 152)

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• A lei 11.645/08 que é motivo de várias campanhas, numa tentativa de que haja reconhecimento da história afro brasileira e indígena que são sujeitos da história do Brasil, que têm importantes contribuições na construção social, econômica e histórica do Brasil

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Desafios dos conhecimentos indígenas

• Estudos sobre o currículo, em especial os de instituições de formação é sinalizado pelo surgimento de diferentes concepções, no que se referi ao seu formato, conteúdos, funções, concepções essas que, normalmente, são divergentes. Considero que o currículo é uma práxis e não um objeto estático. Como práxis é a expressão socializadora e cultural da educação

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• As dificuldades de trabalhar com o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena são os recursos a serem utilizados, pois a grande maioria dos livros didáticos utilizados traz a imagem dos indígenas no passado, como se não existissem mais.

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• Trabalhar com essa temática na sala de aula provoca uma série de questões que vão muito além do currículo ou da lei em si, principalmente em relação aos docentes e as suas concepções de ensino, suas relações com o tema e até a formação inicial desses profissionais.

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Refletindo as problemáticas das sociedades, penso que o currículo escolar deve ser entendido não mais como um arrolamento de conhecimentos pré-estabelecidos por diferentes disciplinas de caráter indiscutíveis e imparciais, mas sim de uma escolha intencional de concepções de mundo, de valores determinado contexto, momento histórico, de práticas sociais que atenda a interesses que nem sempre são explícitos e conscientes, resguardando tradições culturais com perspectiva de corroborar e perpetuar organizações socioculturais ratificando o capital cultural, currículo oculto.

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Passando a vislumbrar, fomentar e construir criticamente formas de intervenção na perspectiva da superação de contradições e desigualdades sociais, apontando simultaneamente para transformações nas relações interculturais. A resistência às dominações socioeconômicas e culturais é o substrato para a reconstrução social, inclusive, e principalmente, no âmbito escolar a partir de práticas pedagógica críticas e comprometidas com tais transformações.

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• Além disso reconhece que todos os saberes produzidos pelo homem é ciência. Não valoriza somente os conhecimentos produzidos metodicamente, aqui é importante dizer que os indígenas possuem um grande conhecimentos, não se pode negar que possuem um grande domínio do meio em que vivem, que fundamental para construção cultural de seus povos.

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• A cada ano que passa, tem aumentado a presença de indígenas nas universidades brasileiras. Esse aumento mostra a importância dado pelo governo federal, mas isso, especialmente, decorre do movimento dos povos indígenas que, entre suas ferramentas, escolheram também o ensino superior como um dos espaço político de afirmação e fortalecimento e, as universidades podem ser aliadas em suas lutas.

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Entender que se as populações indígenas ainda estão presentes, é por que são detentoras de conhecimentos capaz de sobreviver as tantas formas de extermínios a que foram submetidos.

Começando pela domesticação planta, animais, que servem as demais sociedades, principalmente as plantas comestíveis. Mas para além disso, as populações indígenas tem forma de pensar o mundo diferente, portadores de uma filosofia, um modo de ver o mundo de outras formas.

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• Mas é importante dizer que tanto a universidade quanto a escola são espaços de apropriação de muitos elementos e passa a carregar valores e símbolos que começam a fazer parte da vida das comunidades indígenas. Então, são lugares de encontro entre diferentes e um espaço de relações entre os diferentes grupos sociais, que gera uma grande tensão no momento que são reconhecidas as diferenças.

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• Porém, temos que considerar que é o lugar onde as diferenças emergem, mas igualmente onde a especificidade desaparece. É o momento em que se precisa ter o cuidado para que esses espaços não se torne apenas um instrumento de inclusão para a homogeneização.

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Bibliografia

ANTUNES, Cláudia Pereira. Escola, pensamento indígena e pensamento ocidental: reflexões para pensar a educação escolar indígena. In: Espaço Ameríndio. Porto Alegre, vol.3, n. 2, p. 59-77, jul./dez. 2009.

Antunes, Cláudia Pereira. Experiências de formação de professores Kaingang no Rio Grande do Sul. 2012.

122f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [2012].

BERGAMASCHI, Maria Aparecida. Nembo’e: Enquanto o encanto permanece! Processos e práticas de escolarização nas aldeias Guarani. 2005. 270 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de

Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [2005].

Bergamaschi, Maria Aparecida. Povos indígenas e ensino de história: a Lei Nº 11.645/2008 como caminho para a interculturalidade. In: Barroso, Vera Lúcia Maciel... [et al.]. Ensino de História: desafios

contemporâneos. Porto Alegre: EST: Exclamação: ANPUH/RS, 2010. p. 151-166

Gomes, Luana Barth. Legitimando saberes indígenas na escola. 2011. 124f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, [2011].

FERREIRA, Bruno. Politicas publicas para uma educação escolar indígena diferencia. São Leopoldo: OIKOS, 2012 (10º caderno do COMIN)

GRUPIONI, Luís Donisete Benzi. Olhar longe, porque o futuro é longe: cultura, escola e professores

indígenas no Brasil. São Paulo: USP. Tese (Doutorado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, 2008.

Guia de livros didáticos : PNLD 2013: história. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2012. 360 p.

Guia de livros didáticos : PNLD 2012 : História. – Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2011.

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Silva. Rosa Helena Dias da. Movimentos indígenas no Brasil e a questão educativa: relações de autonomia, escola e construção de cidadanias. In: Educação como exercício de diversidade. – Brasília: UNESCO, MEC,

ANPed, 2005. p. -369-397(Col. Educação para todos) Santos, Silvio Coelho dos. Educação e sociedades tribais.Porto Alegre: Editora Movimento, 1975.

Souza, Marcio [et al.] Os índios vão à luta. Rio de Janeiro:

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Zamboni, Ernesta; Bergamaschi, Maria Aparecida. Povos indígenas e ensino de história: memória, movimento e educação. In: CONGRESSO DE LEITURA DO BRASIL, 17, 2009, Campinas. Anais do 17º COLE, Campinas, SP: ALB, 2009. Disponível em http://alb.com.br/arquivo-

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Referências

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