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ECLI:PT:TRE:2004: A1

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ECLI:PT:TRE:2004:1752.04.3.A1

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2004:1752.04.3.A1

Relator Nº do Documento

Chambel Mourisco

Apenso Data do Acordão

09/11/2004

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público

Meio Processual Decisão

Apelação Social apelação improcedente

Indicações eventuais Área Temática

Referencias Internacionais

Jurisprudência Nacional

Legislação Comunitária

Legislação Estrangeira

Descritores

despedimento; ónus da prova; má fé;

(2)

Sumário:

1. A vontade da entidade patronal de pôr termo a um contrato de trabalho tem de ser inequívoca, cabendo ao trabalhador alegar e provar as circunstâncias tendentes a revelar a convicção da vontade do seu despedimento.

2. Pretendendo o trabalhador impugnar o seu alegado despedimento, invocando uma carta que lhe foi enviada pela entidade patronal, e se dessa carta não se pode retirar que houve despedimento, o que é reforçado pela restante factualidade dada como provada, estão preenchidos os requisitos para julgar procedente o pedido de litigância de má fé, formulado pela entidade patronal.

Chambel Mourisco

Decisão Integral:

Processo nº 1752/04-3

Acordam na Secção Social do Tribunal da Relação de Évora:

A. ..., intentou acção declarativa emergente de contrato de trabalho com processo comum contra B. ..., pedindo:

1- As retribuições que deixou de auferir desde a data, do despedimento até à data da sentença, deduzidas do montante das retribuições respeitantes ao período decorrido desde a data do despedimento até 30 dias antes da data da propositura da acção;

2 - O montante correspondente à indemnização por antiguidade;

3 - Juros de mora.

Para tanto alega em síntese que:

- Foi admitido ao serviço da R. em 15 de Junho de 1991.

- Por carta de 30 de Novembro de 2000 o A. apresentou o seu pedido de demissão da R. na condição de celebração de um contrato de trabalho com uma empresa espanhola C. ..., que não chegou a ter lugar, daí que a mesma não produza quaisquer efeitos.

- Em 21 de Março de 2002 a R. comunicou ao A. por carta registada que ficava resolvido o seu contrato de trabalho em resposta à sua carta de 30 de Novembro de 2001.

- Trata-se de um despedimento ilícito, não lhe tendo sido instaurado qualquer processo disciplinar e a este facto não obsta que a R. por carta de 2 de Maio de 2002 tenha vindo propor ao A. a sua reintegração.

A R. contestou alegando em síntese que:

- O vínculo laboral entre si e o A. cessou a partir de 14-9-2001 quando o este passou a prestar a sua actividade à firma espanhola C....;

- Com o objectivo de o A. não ter quebra de descontos para a segurança social, a R., por acordo com a C., e com conhecimento do A., manteve durante algum tempo, e em nome desta, o

pagamento dos respectivos vencimentos mensais. Quantias que a C. ... reembolsou à R. e que apenas ficaram de se processar até que estivesse constituída a empresa em Portugal.

- A demissão do A. não ficou condicionada à celebração por este de qualquer contrato de trabalho.

- A R. nunca procedeu ao despedimento do A..

- Termina pedindo a sua absolvição do pedido.

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Na resposta, o A. alega que a R. altera conscientemente a verdade dos factos, deduzindo

oposição cuja falta de fundamento não ignora, e pede a sua condenação como litigante de má fé, em multa e indemnização a liquidar em execução de sentença.

A R. deduziu idêntico pedido.

Procedeu-se a audiência de discussão e julgamento tendo sido proferida sentença que julgou a acção improcedente e em consequência absolveu a R. do pedido, e condenado o A. como litigante de má fé na multa de € 500.

Inconformada a R., apresentou recurso de apelação tendo concluído:

1 - A carta de fls. 14, face ao seu teor, não pode ser considerada uma declaração de rescisão de contrato de trabalho pura e simples.

2 - Com efeito, do teor da mesma resulta que o fim do contrato de trabalho ficava condicionado a um futuro acordo com a recorrida e também à aceitação desta.

3 – Não se provou a existência de qualquer acordo posterior entre as partes, sendo por isso uma proposta negocial com vista à revogação do contrato, embora sujeita a condição.

4 - Por outro lado, ao fazer chegar às mãos da recorrente uma declaração e baixa antes da existência de uma aceitação, o recorrente revogou tacitamente a proposta efectuada.

5 - A qual apenas subsistiria se verificada a condição.

6 - Não se tendo provado a verificação da condição ou mesmo o seu teor e tendo a proposta sido revogada, a aceitação da mesma não levaria à perfeição da revogação do contrato de trabalho.

7 - Por isso, a carta de fls. 16 tem que considerar-se como configurando despedimento.

8 - O qual tem carácter ilícito por não ter sido precedido de processo disciplinar.

9 - Sendo certo que, a carta da recorrida de 2 de Maio de 2002 não tem qualquer efeito já que o contrato havia já terminado com a recepção por parte do recorrente do documento de fls. 16.

10 - Assim, o recorrente tem direito a receber da R. as quantias que reclama, em que se incluem as comissões que faziam parte da sua remuneração.

11 - O recorrente não deduziu pedido de cuja falta de fundamento tinha consciência pelo que não tem qualquer justificação a sua condenação como litigante de má fé.

12 - A douta sentença recorrida violou os art.s 228º, 217º e 270º do Código Civil, art.s 7.º e 12º do Decreto-Lei n.° 64-A/89, de 27 de Fevereiro e 456º do Código de Processo Civil, pelo que deverá ser revogada, incluindo a condenação em multa como litigante de má fé, sendo a R. condenada no pedido .

A A. contra-alegou, tendo concluído:

a) A carta apresentada pelo recorrente de fls. 14 consubstancia uma inequívoca rescisão unilateral do contrato de trabalho celebrado com a recorrida em 15 de Junho de 1991;

b) Contrariamente ao alegado pelo recorrente, não existem nos autos quaisquer elementos que pudessem ser tidos em conta, aptos a conduzir a uma conclusão diferente quanto à cessação do contrato de trabalho em apreço;

c) Da carta junta aos autos a fls. 16 não se pode inferir que o contrato de trabalho tenha cessado na data aposta na mesma, sendo a expressão “... a partir desta data...” um mero erro de escrita, conforme se alegou;

d) A carta, junta a fls. 14 dos autos, não contem, nenhuma declaração negocial sujeita a condição, tendo-se provado o contrário, ou seja, que o recorrente procedeu voluntariamente à entrega da

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referida carta à recorrida com o intuito de por termo à relação laboral;

e) Provou-se igualmente que a recorrida continuou a proceder ao pagamento dos salários ao recorrente, não obstante este encontrar-se a trabalhar por conta e sob a direcção de uma nova entidade patronal, a “C.”, por assim ter sido acordado com esta e apenas para que o mesmo não perdesse regalias sociais derivadas de quebra de contribuições para a Segurança Social, facto este que o recorrente bem sabia ;

f) Em 14 de Setembro de 2001 o recorrente começou a deslocar-se a Espanha para conhecer a fábrica “C.” e integrar-se na empresa, não mais tendo prestado serviço à recorrida;

g) Jamais a expressão, “... de harmonia com o que for acordado com a B....” escrita na carta remetida pela recorrida tinha subjacente qualquer acordo a ser firmado entre as partes,

designadamente aquele que o recorrente lhe atribui, de fazer supor uma posterior cessação do contrato de trabalho por acordo;

h) Com base na prova testemunhal produzida foi demonstrado ser do conhecimento de todos os antigos colegas do recorrente ao serviço da recorrida que este tinha rescindido voluntariamente o contrato de trabalho com esta, e que se encontrava a trabalhar como gerente de estabelecimento, na firma “ C.-...”, onde além de ter uma categoria superior, auferia uma melhor retribuição e

dispunha de um veículo automóvel para uso no serviço e no seu próprio;

i) Não obstante as razões apresentadas pelo recorrente, este admite não ter logrado provar ter sido despedido pela recorrida nem ter existido qualquer acordo com a recorrida com vista à cessação do contrato de trabalho nem ainda que da sua declaração de demissão se possa inferir que a mesma foi apresentada sob condição;

j) A carta, de fls. 16 dos autos, não configura nenhum despedimento por parte da recorrida;

k) Sendo o despedimento uma forma de cessação unilateral do contrato trabalho por parte do empregador, este só produz efeitos quando chega ao conhecimento do trabalhador. Ora, no caso em apreço a recorrida nunca remeteu ao recorrente qualquer documento escrito a rescindir unilateralmente o contrato de trabalho que a ambos vinculava;

l) Já o inverso é verdade, pois o recorrente apresentou a sua demissão à recorrida mediante documento escrito pelo seu próprio punho que entregou nos escritórios desta;

m) Não obstante ter sido convidado, por mais de uma vez, para integrar de novo os quadros de pessoal da recorrida o recorrente declinou todos os convites que lhe foram formulados;

n) Ao ter procedido à livre rescisão do seu contrato de trabalho que voluntariamente levou ao conhecimento da recorrida, sem que no prazo legalmente previsto para o efeito tivesse procedido à sua revogação, procedeu o recorrente à cessação do mesmo, tendo os respectivos efeitos

produzido-se a partir do momento que chegaram ao conhecimento desta.

o) Não se tendo provado que a vontade declarada pelo recorrente estava afectada de qualquer vício, a sua pretensão só podia estar votada ao fracasso, sendo a decisão que absolveu a recorrida do pedido a única que em bom rigor podia ser proferida.

Neste Tribunal, o Ex.mo Procurador- geral adjunto emitiu parecer no sentido da improcedência da apelação.

Os autos foram com vista aos Ex.mos Juízes adjuntos.***Nos termos dos art. 690º nº1 e 684º nº3 do CPC, ex vi art. 1º, nº2 al.a) do CPT as conclusões das alegações delimitam o objecto do

recurso.

As questões que se suscitam no presente recurso consistem em saber se:

1.A R. procedeu ao despedimento do A..

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2.Deve ser mantida a condenação do A. como litigante de má fé.

Na sentença recorrida foram consignados como provados os seguintes factos:

1. Em 15 de Junho de 1991 o A. foi admitido ao serviço da R., obrigando-se a trabalhar sob as suas ordens, direcção e fiscalização, com a categoria profissional de administrativo.

2. Durante o ano de 1994 o A. passou a desempenhar as funções de inspector de vendas. Dirigia e coordenava o departamento de vendas da empresa no que diz respeito à marca “ ...” dirigindo o serviço dos vendedores, acompanhando-os nas visitas aos clientes e desempenhando sempre que necessário, também as funções de vendedor.

3. Em 2001 o A. auferia o salário mensal de € 546,43 acrescidos de subsídio de alimentação no montante de € 47,14.

4. Além disso, recebia um cheque mensal de 50.000$00, onze vezes por ano, que não era incluído na folha de vencimentos, que era designado por “ajudas de custo”, mas que era entregue sempre, sem que o seu pagamento dependesse da verificação de qualquer tipo de actividade e de despesa.

5. Recebia também comissões de 4% sobre as vendas facturadas aos vendedores que estavam sob a sua direcção.

6. Em 2000, o A., auferiu de comissões a verba global de 1.354.290$00.

7. Em 2001, entre Janeiro e Março auferiu de comissões € 1.599,00.

8. O Sr. ... supervisiona todos os serviços da R., nomeadamente os serviços comerciais e era quem dava ordens e verificava o trabalho do A..

9. O Sr. ... gerente da C...., empresa espanhola, solicitou ao Sr. ... a indicação de pessoa de confiança para em Portugal trabalhar nessa empresa.

10. O Sr. ... recomendou o A. para o cargo.

11. Em 14 de Setembro de 2001 o A. começou a deslocar-se a Espanha para conhecer a fábrica e para começar a ser integrado na empresa C. ... .

12. Desde essa data o A. não mais prestou qualquer actividade para a R..

13. A fim do A. não ter quebra de descontos para a segurança social a R., por acordo com a C.

manteve em nome desta, o pagamento ao A. dos respectivos vencimentos mensais.

14. Quantias que a C. reembolsou à R. e que apenas ficaram de se processar até que estivesse constituída a empresa em Portugal, factos, que eram do conhecimento do A..

15. Em 30 de Novembro de 2001, o A., pelo seu próprio punho, redigiu e apresentou nos escritórios da R. a carta junta aos autos a fls. 14, na qual, declara que de conformidade com o que foi falado, apresenta o seu pedido de demissão e para o qual o prazo será o mais rápido possível de harmonia com o que for acordado com a B..

16. Em 15-3-2002, o A., iniciou um período de baixa médica.

17. Em 21 de Março de 2002, conforme carta, junta aos autos a fls. 16, a R. respondeu à carta do A., datada de 30 de Novembro de 2001, na qual declara que informa o A. que a partir desta data, e de acordo com a sua pretensão, fica resolvido o seu contrato de trabalho.

18. Por carta datada de 27 de Março de 2002, o A., remeteu à R. a carta junta aos autos a fls. 18, na qual declara que a carta datada de 30 de Novembro de 2001 foi fundada em pressupostos que não se verificaram, pelo que não aceita a resolução do contrato, tencionando apresentar-se ao serviço logo que termine o período de baixa por doença em que se encontra, juntando certificado de incapacidade temporária para o trabalho por estado de doença com início em 27-3-2002.

19. Por carta datada de 2 de Abril 2002, a R., respondeu à carta de 27-3--2002 devolvendo ao A. o certificado de incapacidade temporária para o trabalho por estado de doença em virtude do A. não

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fazer parte dos seus quadros de pessoal, facto já comunicado à segurança social.

20. Em 2 de Maio de 2002, a R. remeteu ao A. a carta junta aos autos de fls. 25, que este recebeu, na qual declarava em confirmação do que pessoalmente lhe foi comunicado, em finais do mês de Abril de 2002, reafirmar a disposição no sentido de considerar sem efeito o seu pedido de demissão apresentado em 30-11-2001, devendo incorporar-se nos serviços, com o mesmo ordenado que estava a ser praticado à altura do referido pedido de demissão.

21. O A. não compareceu nem nada disse.

22. Em 30 de Abril 2002, o A. procedeu à expedição de mercadoria em nome e por conta da C.

destinada ao “...” e a “ ...” para ser descarregada respectivamente em ... e... .

Feita esta enumeração, e delimitado como está o objecto do recurso pelas conclusões das alegações da recorrente, passaremos a apreciar as questões a decidir.

I. Como refere Bernardo da Gama Lobo Xavier, Curso de Direito do Trabalho, Verbo, pág. 478, o despedimento, que se define como ruptura da relação de trabalho por acto de qualquer dos seus sujeitos, constitui a mais importante forma de cessação do contrato de trabalho. É estruturalmente um acto unilateral do tipo do negócio jurídico, de carácter receptício ( deve ser obrigatoriamente levado ao conhecimento da outra parte), tendente à extinção ex nunc ( isto é para o futuro) do contrato de trabalho.

Tanto a doutrina como a jurisprudência têm salientado que a vontade de pôr termo ao contrato de trabalho há-de ser inequívoca e que é ao trabalhador que compete alegar as circunstâncias tendentes a revelar a convicção da vontade do seu despedimento (Cfr. Ac. STJ de 14/4/1999, CJ, ASTJ, Tomo II, Ano VII, pág. 254).

No caso concreto, o recorrente defende que a carta que lhe foi enviada pela R. em 21/3/2002, e que se encontra a fls. 16 dos autos, configura um despedimento.

Como se pode observar através do ponto 17 dos factos provados, a referida carta de fls. 16, envidada pela R. ao A., em 21 de Março de 2002, é do seguinte teor:

“Em resposta à sua carta datada de 30 de Novembro de 2001, em que apresentava o seu pedido de demissão, num prazo o mais rápido possível, vimos informar de que a partir desta data e de acordo com a sua pretensão, fica resolvido o seu contrato de trabalho.

Mais informamos de que se encontra à sua disposição o recibo final de quitação.”

Dado o teor deste documento, tem o mesmo de ser articulado com a carta enviada pelo A. à R., em 30/11/2001, (fls. 14), e a que se faz alusão no ponto 15 dos factos provados, cujo conteúdo é o seguinte:

“ Com os melhores cumprimentos e de conformidade com o que foi falado, apresento a V. EX.as o meu pedido de demissão e para o qual o prazo será o mais rápido possível de harmonia com o que for acordado com a B..”

O recorrente, nas suas conclusões, defende que esta carta não pode ser considerada uma

declaração de rescisão de contrato de trabalho pura e simples, pois do teor da mesma resulta que o fim do contrato de trabalho ficava condicionado a um futuro acordo com a recorrida e também à aceitação desta, tratando-se por isso de uma proposta negocial com vista à revogação do contrato, embora sujeita a condição.

Acrescenta ainda, que tendo feito chegar às mãos da R. uma declaração e baixa antes da

existência de uma aceitação,( ponto 18 dos factos provados) o recorrente revogou tacitamente a proposta efectuada.

Estamos assim perante várias declarações do A. e da R. que urge interpretar com vista a atingir o

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seu real sentido.

O art. 236º do Código Civil estatui:

1. A declaração negocial vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na posição do real declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante, salvo se este não puder

razoavelmente contar com ele.

2. Sempre que o declaratário conheça a vontade real do declarante, é de acordo com ela que vale a declaração emitida.

Na interpretação das aludidas declarações tem também de se ter conta os factos provados nos pontos 9 a 14 da matéria de facto.

Na verdade, esses factos podem-nos fornecer a pista para descobrir o alcance da parte final da carta escrita pelo A. à R., em 30/11/2001 ( fls. 14), “ apresento a V.Ex.as o meu pedido de

demissão e para o qual o prazo será o mais rápido possível de harmonia com o que for acordado com a B.”.

Parece-nos que este acordo com a B. a que se faz alusão terá apenas a ver com o acordado entre a R. e a C. no que respeita ao pagamento dos vencimentos mensais ao A. , aos descontos para a segurança social, até à nova empresa ser constituída em Portugal ( pontos 13 e 14 da matéria de facto).

Com efeito, o A., desde 14 de Setembro de 2001, deixou de prestar qualquer actividade para a R.

tendo começado a deslocar-se a Espanha para conhecer a fábrica e para começar a ser integrado na empresa C., ... ( pontos 11 e 12 da matéria de facto).

Deste contexto, não nos parece, de forma alguma, que da carta de fols. 16 dos autos, enviada pela R. ao A., em 21/3/2002, se possa retirar que a R. procedeu ao despedimento do A..

Nessa carta, a R. limita-se a comunicar ao A. que aceita o seu pedido de demissão formulado em 30/11/2001.

Também não nos parece que o A., tenha entendido essa carta como um acto unilateral da R. em rescindir o contrato de trabalho, pois em resposta afirma que a “ a minha carta de 30/11/2001, foi fundada em pressupostos que se não verificaram, facto que V.Exªs bem conheciam e aceitaram, não aceito a resolução do contrato ali referida, tencionando apresentar-me ao serviço logo que termine o período de baixa por doença em que me encontro”.

Portanto, o próprio A., o que refere, é que não aceita a resolução do contrato, resolução essa, que tinha por base o seu pedido de demissão, e não um despedimento unilateral promovido pela R.

Nestes termos, parece-nos que a factualidade dada como provada, não permite, de forma alguma, concluir que o documento de fls. 16 possa ser interpretado no sentido de que a R. procedeu ao despedimento do A. em 21 de Março de 2002.

Como já se referiu é ao trabalhador que compete alegar e provar que foi despedido. Se não conseguir efectuar essa prova a acção de impugnação tem de improceder, não cabendo ao tribunal declarar necessariamente a forma como o contrato de trabalho cessou.

II. Finalmente, o recorrente defende que não devia ter sido condenado como litigante de má fé.

Para sustentar a sua posição, refere que não deduziu pedido de cuja falta de fundamento tinha consciência; que o facto de não ter conseguido fazer prova do circunstancialismo em que foi elaborado o documento de fls. 14 dos autos, não pode ser fundamento para a sua condenação como litigante de má fé.

Na sentença, para fundamentar a condenação como litigante de má fé refere-se:

“Mas os factos provados nos autos e a não prova dos factos alegados pelo A. consubstanciam

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clara litigância de má fé, pois que os mesmos consubstanciam a dedução de pretensão cuja falta de fundamento o A. não podia ignorar, pelo que se deverá condenar o mesmo em multa – art. 456º do CPC..

Concretamente o A. alegou factos que manifestamente, são contrários à verdade, com o fito de obter ganho financeiro a que sabia não ter direito, já que não podia ter conscientemente

interiorizado e assumido como boa a convicção que exprimiu no petitório.”

O art. 456º nº2 do Código de Processo Civil fornece-nos a noção de má fé nos seguintes termos:

Diz-se litigante de má fé quem, com dolo ou negligência grave:

- Tiver deduzido pretensão ou oposição cuja falta de fundamento não devia ignorar;

- Tiver alterado a verdade dos factos ou omitido factos relevantes para a decisão da causa;

- Tiver praticado omissão grave do dever de cooperação;

- Tiver feito do processo ou dos meios processuais um uso manifestamente reprovável, com o fim de conseguir um objectivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, entorpecer a acção da justiça ou protelar, sem fundamento sério, o trânsito em julgado da decisão.

Na presente acção, o A. pretendia impugnar o alegado despedimento promovido pela R., através da carta de fols. 16 dos autos.

Como já se referiu, da referida carta, enviada pela R. ao A., em 21/3/2002, não se pode retirar, de forma alguma, que a R. procedeu ao despedimento do A..

Da matéria dada como provada resulta claramente que o A. tinha perfeito conhecimento da sua situação laboral na R., nomeadamente do acordado com a C...., quanto ao pagamento de vencimentos mensais e descontos para a Segurança Social.

O A. tinha perfeita consciência que em14 de Setembro de 2001, deixou de prestar qualquer actividade para a R. tendo começado a deslocar-se a Espanha para conhecer a fábrica e para começar a ser integrado na empresa C.... .

A prova do circunstancialismo em que foi elaborado o documento de fls. 14 dos autos, não assume a relevância que o A. lhe pretende dar, face à restante factualidade.

Assim, parece-nos que estão preenchidos os pressupostos da litigância de má fé, pois o A.

deduziu a sua pretensão, invocando que foi despedido, quando resulta dos factos que tinha perfeito conhecimento que não foi alvo de qualquer despedimento.

Pelo exposto, acordam os Juízes na Secção Social deste Tribunal da Relação de Évora em julgar improcedente a Apelação e confirmar na íntegra a sentença recorrida.

Custas a cargo da recorrente . Évora, 2004/ 11 /9

Chambel Mourisco Gonçalves Rocha Baptista Coelho

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