A EFETIVIDADE C O M O U M PRINCÍPIO ORIENTADOR
G E R S O N L A C E R D A P I S T O R P
A fim d e analisarmos a efetividade c o m o u m princípio orientador, é d e b o m alvitre q u e apresentemos o q u e e n t e n d e m o s c o m o princípio e a razão por q u e consideramos a efetividade u m princípio; c o m o ela se mostra e, por fim, por q u e visualizamos a efetividade c o m o u m princípio orientador.
Assim, inicialmente, para conceituarmos o q u e t e m o s c o m o princípio, c o n t a m o s c o m a ajuda d e Aurélio Buarque de Holanda Ferreiram , para q u e m princípio significa “m o m e n t o o u local ou trecho e m q u e algo t e m origem;
c o m e ç o ; c a u s a primária; elemento predominante n a constituição d e u m corpo orgânico; preceito, regra, lei; base; germe". Auxilia-nos ainda o Black's Law Dictionary121, “Principle. A fundamental truth or doctrine, as of law; a comprehensive rule or doctrine which furnishes a basis or origin for others;
a settled rule of action, procedure, or legal determination".131
Tércio Sampaio Ferraz Jr.'41, ao tratar dos princípios gerais, os vê c o m o parte d a estrutura d o sistema e regras d e coe s ã o q u e constituem as rela
çõ e s entre as n o r m a s c o m o u m todo. Miguel Rea/e'51 nos diz q u e
... princípios são 'verdades fundantes'de um sistema de conhe
cimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis.
(■) Juiz Titular d a 6* Vara d o Trabalho d e C a m p i n a s
(1) " N o v o Dicionário d a L íngua Portuguesa" Editora N o v a Fronteira.1a edição. Rio d e Janeiro, p á g 1147.
(2) H e n r y C a m p b e l l Black. M . A.. W e s t Publishing C o .SI. Paul. M i n n „ 1991, p á g 8 2 8
(3) Principio U m a v e r dade o u doutrina lundamental. c o m o u m a lei; u m a regra c o m p r e e n s i v a o u doutrina lornecodora d e b a s e o u o rigem para outras, u m a regra especifica d e açio. proc e s s o o u d e terminação legal
(4) -introduçáo a o e studo d o direito" Editora Atlas, 2 a edição. S ã o Paulo, 1994. p á g 247.
(5) "Lições preliminares d e direito" Editora Saraiva. 2 2 a edição. S ã o Paulo. 1995. pág. 299.
Eduardo Juan Couture 161 (traduzido por Bebbeiü>), nos diz:
... toda solução constante, reiterada, que aparece num corpo de leis, constitui um principio. Mais de uma vez acontece, sem em
bargo, que as exceções começam a aparecer nessa solução. Chega um instante que as exceções podem ser tantas como os casos que constituíam o principio. A vigência deste, então, pode fazer-se duvi
dosa e pode chegar a perder seu caráter de principio. No curso da história já se produziu, mais de uma vez, o direito de que o princípio se transformou em exceção e a exceção em principio.
E t a m b é m explica a forma d e criação d o princípio processual:
A enumeração dos princípios que regem o processo não se podem realizar de forma taxativa, porque os princípios processuais surgem naturalmente da ordenação muitas vezes impensadas e im
previsíveis, das disposições da lei. Porém, a repetição obstinada de uma solução pode dar ao intérprete a possibilidade de dela extrair um princípio.
Wagner D. Giglio* 81 distingue princípios e peculiaridades n o processo.
Vejamos:
a) princípios são necessariamente gerais, enquanto peculiari
dades são restritas, atinentes a um ou a poucos preceitos ou momen
tos processuais; b) princípios informam, orientam e inspiram precei
tos legais, por dedução, e podem deles ser extraídos, via raciocínio indutivo; das peculiaridades não se extraem princípios, nem delas derivam normas legais; c) princípios dão organicidade a institutos
esistemas processuais; as peculiaridades, não, pois esgotam sua atua
ção em âmbito restrito, geralmente atinente ao procedimento e não ao processo.
P o d e m o s ver assim, q u e u m princípio científico corresponde a u m a regra estrutural d e coe s ã o inerente a u m a teoria correspondente, atuando semelhantemente à s regras d e d e d u ç ã o d e c u n h o matemático, s e n d o cer
to, entretanto, q u e hoje a ciência s e propõe construir m o d e l o s explicativos para a realidade, s o b u m a visão de conhecimento aproximativo e corrigível.
N e s s e contexto, o b s e r v a m o s q u e c a d a vez mais tem-se visto a preo
c u p a ç ã o d o s q u e e s t u d a m o Direito Processual c o m a efetividade do pro
cesso. E a efetividade hoje é sinônimo d e linha d e atuação, “verdade fundante", regra d e conduta e até u m postulado d e perfeição n a busca do justo peio exercício jurisdicional. E isto a caracteriza c o m o u m princípio,
(6) " F u n d a m e n t o s dei D e r e c h o Procesal Civil". D e p a l m a , 3a.edição, B u e n o s Aires, 1993, pág. 182.
(7) "Princípios d o P r o c e s s o d o Trabalho". Editora Ltr. Uda., S ã o Paulo, 1997, págs. 20-26.
(8) "Direito Processual d o Trabalho". Editora Ltr. Lida., 9 a edição, S ã o Paulo, 1995, págs. 104-105.
ainda q u e especial, c o m o v e r e m o s mais à frente. Tanto é q u e o jurista itali
a n o An d r e a Proto Pisani191 cuida d a efetividade c o m o princípio a o tratar d a eficiência da tutela jurisdicional.Também trata a matéria d a efetividade c o m o u m princípio o jurista Jorge Pinheiro Castelo"01.
Vejamos, a partir de agora, d e maneira breve, sua importância e a característica d a efetividade c o m o u m princípio.
A d o t a m o s c o m o texto básico para comentar este princípio, a elabora
ç ã o d e Dinamarcd'". Ele n o s diz:
A força das tendências metodológicas do direito processual ci
vil na atualidade dirige-se com grande intensidade para a efetividade d o processo, a qual constitui expressão resumida da idéia de que o processo dever ser apto a cumprir integralmente toda a sua função sócio-político-jurídica, atingindo e m toda a plenitude todos o s seus e s c o p o s institucionais.
É t o m a d o c o m o conceito inicial, ainda q u e c o m origem individualista, o dizer d e Chiovenda, referido pelo autor Dinamarccf“n a me d i d a d o q u e for praticamente possível, o processo deve proporcionar a q u e m t e m u m direito tudo aquilo e precisamente aquilo q u e ele t e m o direito de obter”.
Mauro Cappelletti e Bryant GartH'3) d e s d e o s an o s setenta analisa
v a m a efetividade sob a ângulo do acesso à justiça:
A efetividade perfeita, no contexto de um dado direito substan
tivo [preferimos substancial], poderia ser expressa com a completa
‘ igualdade das armas’ — a garantia de que a conclusão final depende apenas dos méritos jurídicos relativos das partes antagônicas, sem relação com diferenças que sejam estranhas ao Direito e que, no entanto, afetam a afirmação e reivindicação dos direitos.
Afirmando ser utópica u m a igualdade efetiva, m a s n ã o a s u a busca, p a s s a m a observar o s obstáculos à efetividade c o m relação a o ac e s s o à justiça, destacando a questão das dispendiosas custas processuais, o t e m p o d e espera, a s vantagens adicionais dos q u e p o s s u e m recursos financeiros, a dificuldade d a maioria d a população para reconhecer u m direito e propor u m a a ç ã o o u s u a defesa, etc. D e s s e levantamento, partem para a análise d e alternativas efetivas na referida obra, resumidissimamente c o m e n t a d a anteriormente e m p é de página.
A par d a busca apresentada por Cappelletti-Garth, ma i s voltada a propostas político-institucionais-processuais, q u e d e m o n s t r a m a importân- 9 1 0 * 1 2 1 3
(9) "Lezioni di Diriiio Processible Civile". J o v e n e Editore, Napole, 1994, págs. 64S-687.
(10) "Revista LTr", n. 63, pág. 1320.
(11 ) “A inslrumentalidade d o processo", pãgs. 2 7 0 e segs.
(12) Ibidem, págs. 2 7 0 e segs.
(13) “A c e s s o à justiça", págs. 1 5 e segs.
cia d a extrapolação a o binômio direito-processo, Dinamarco"41 destaca a necessidade d e m u d a n ç a d e mentalidade dos agentes políticos exercentes d a função jurisdicional (juízes) para c o m o “e m p e n h o muito vivo pelo efeti
vo c o m a n d o do processo".
A efetividade t e m t a m b é m e m José Carlos Barbosa Moreira u m gran
d e estudioso; u m artigo seu, e m q u e reapresenta d a d o s anteriormente por ele m e s m o publicados, e q u e já haviam servido de referência a vários auto
res q u e s e deb r u ç a r a m sobre esse tema, “Efetividade d o Processo e Técni
c a Processual""5’, destaca pontos configurativos d a problemática essencial d a efetividade, a q u e c h a m a “programa básico d a c a m p a n h a e m prol d a efetividade". S ã o eles:
a) o processo deve dispor de instrumentos de tutela adequados, na medida do possível, a todos os direitos (e outras posições jurídicas de vantagem) contemplados no ordenamento, quer resultem de expres
sa previsão normativa, quer se possam inlorir do sistema;
b) esses instrumentos devem ser praticamente utilizáveis, ao menos em princípio, sejam quais forem os supostos titulares dos di
reitos (e das outras posições jurídicas de vantagem) de cuja preser
vação ou reintegração se cogita, inclusive quando indeterminado ou indeterminável o circulo dos eventuais sujeitos;
c) impende assegurar condições propicias à exata e completa reconstituição dos fatos relevantes, a fim de que o convencimento do julgador corresponda, tanto quanto puder, à realidade;
d) em toda a extensão da possibilidade prática, o resultado do processo há de ser tal que assegure à parte vitoriosa o gozo pleno da especifica utilidade a que faz jus segundo o ordenamento;
e) cumpre que se possa atingir semelhante resultado com o mínimo despêndio de tempo e energias,
O professor e juiz d o trabalho Jorge Luiz Souto Maioé'6) destaca quanto à efetividade:
(...) os objetivos dos estudos em busca da efetividade do pro
cesso são bastante amplos. C o m p õ e m - s e n ã o só d a busca da celeri
dade, ma s , e principalmente, d o reforço d a idéia d e q u e o s atos pro
cessuais d e v e m ser eficazes para produzir resultados n o m u n d o real [grifo nosso]. Para tanto, deve o processo estar apto a reproduzir essa realidade e impedir que qualquer rigorismo formalista obstrua tanto a investigação da realidade quanto a presteza dos provimentos, ou seja, a sua utilidade. 1 4 * 1 6
(14) " A instrumentalidade d o processo".
<15) "Revisla d e Processo", S â o Paulo, RT, n.77, pãgs. 168-176, janeiro-março, 1995,
(16) “Direito Processual d o Trabalho: a c e s s o à justiça; efetividade; procedimento oral". Ltr. Edito
ra, S ü o Paulo, 1998, pág.18.
C a b e observar ainda, q u e Dinamarco"7' afirma q u e a “problemática essencial d a efetividade" possui referência aos diversos e scopos d a juris
dição; extrai-se t a m b é m dai a relação inerente e óbvia entre o q u e e s t a m o s apresentando c o m o u m princípio orientador, a efetividade, e s u a funciona
lidade d e c u n h o jurisdicional. Vale a pena, então, destacar o q u e o autor e m tela aponta c o m o os quatro aspectos fundamentais d e interesse para a investigação d e pontos relacionados c o m a efetividade d o processo:
O primeiro aspecto relaciona-se c o m a adm i s s ã o e m juízo e, c o m o se vê, está diretamenle ligado ao pólo metodológico do acesso à justiça. Dis
p õ e ele q u e limitações ao ingresso n a justiça são históricas, quer pelo âmbito jurídico, quer pelo âmbito factual, relativo aos problemas e c o n ô m i c o s e sociais. E isto representa u m fator de frustração política permanente, d e s gastando o Estado quanto à sua legitimidade, assim c o m o a figura de u m d e se u s próprios poderes: o judiciário. Entre as evidentes causas dessa
“angústia política" apresentada, temos, no c a m p o econômico, a pobreza e o alto custo d o s processos; no c a m p o psicossocial, a desinformação e a descrença e, n o c a m p o jurídico, a questão d a legitimidade ativa individual.
Sobre o s custos d o processo e miserabilidade d a s pessoas, Dina- marconBI destaca s e r e m tais aspectos os mais importantes na preocupa
ç ã o sobre a universalidade d a tutela jurisdicional. c o m e n t a n d o e m nota d e rodapé q u e o binômio custo-duração é “o grande fantasma d o processo civil na atualidade”. Ressalta ainda q u e o patrocínio técnico gratuito é mais p r o m e s s a constitucional d o q u e realidade. Ressalva, d e outro lado, q u e a lei brasileira d o s Juizados Especiais, c o m gratuidade e m primeiro grau e c o m p r o m e s s a d e futura assistência judiciária gratuita, representa u m cer
to caminhar n o sentido d e participação n o contraditório processual, e m paridade d a s armas.
Outro aspecto analisado pelo autor e m tela é a legitimatio ad causam ativa, tendo e m conta a herança individualista d o processo civil e a c o n c e p ç ã o restrita d a substituição processual. A herança individualista d o direito r o m a n o n ã o foi estendida para o direito anglo-americano, o n d e se d e u mais força a o espírito d e solidariedade, sendo exemplo disto as class actions, contidas n a s federal rules of civil procedure americanas. É historicamente recente a ampliação da legitimidade n o Brasil, s e n d o que, a partir d a ação popular, foram s e n d o ampliados os leques d e legitimidade, d e s d e o me i o ambiente, até o direito d o consumidor. O autor e m questão destaca q u e ainda n ã o s e atingiu aqui a a m p l a tutela dos direitos coletivos o u difusos, e m b o r a o c a m i n h o já esteja iniciado, c o m o por exemplo, o m a n d a d o d e segurança coletivo*191. 1 7 1 8 1 9
(17) " A instrumentalidade d o processo' (18) O p . cit.. p á g 275.
(19) Aqui c a b e lembrar o a s p ecto coletivo d a legitimidade existente n o Direito Processual d o Trabalho n o Brasil, através d o s sindicatos e dissídios coletivos, ainda q u e e m s u a s origens h o u v e s s e u m a g r ande parte d e influência corporativista d e natureza autoritária d o Estado, típica d a é p o c a d o s a n o s 3 0 e 40, representada aqui pelo E stado N o v o getulista.
Posiciona-se pela imporlância d a ampliação d o acesso à justiça, até por fórmulas q u e d e n o m i n a de sucedâneos d a jurisdição o u “equivalentes jurisdicionais”, ainda q u e t e n h a m escopo d e pacificação social sobrepon- do-se a o s de atuação d o direito material, ideal d e reafirmar-se o poder estatal, garantia d e liberdades públicas o u participação política.
Afirma*201:
a idéia até vulgar do que 'mais vale um mau acordo do que uma boa demanda' é uma realidade no sentimento popular e as soluções con
cordadas pelas partes mostram-se capazes de eliminar a situação coníliluosa e desafogar as incertezas e angústias que caracterizam as insatisfações de efeito antisocial. Por isso é que a conciliação é o
‘ substituto generoso da Justiça', ainda quando conduzida por esta ou por seus auxiliares (...). Nessa visão instrumentalista, que relativiza o binômio direito-processo e procura ver o instrumento pela ótica da tarefa que lhe compete, sente-se o grande dano substancial ocasio
nado às pessoas que, necessitando dela, acabem, no entanto, fican
do privadas da tutela jurisdicional. E, com realismo na observação, sente que acontece isso quando a impossibilidade econômica fecha o caminho às pretensões dos menos favorecidos, como ainda em outros casos, menos nítidos, em que o despreparo, a descrença, a desproporção entro o custo e o retorno esperado, ou ainda o próprio sistema jurídico desatualizado, interpõem-se entre a pretensão e o processo e acabam constituindo-se em obstáculos muito poderosos.
A ciência processual moderna assumiu o encargo de denunciá-los, após havé-los identificado em muitas oportunidades, para que eles possam ser adequadamente removidos. Com essa conceituação, o tema do ingresso em juízo (ou admissão ao processo) é menos am
plo que o do acesso à justiça.
O s e g u n d o aspecto relaciona-se c o m o m o d o de ser d o processo. A busca d o acesso à o r d e m jurídica justa através d o processo passa pelas garantias constitucionais d a ação e da defesa, s e g u n d o o autor aqui trata
do. A questão p a s s a pelo direito a o processo, o n d e insere e se relaciona o devido processo legal, incluindo-se o principio d o contraditório, d e u m lado, e d o outro, o princípio inquisitivo, este relacionado m o d e r n a m e n t e c o m o exercício jurisdicional, principalmente através d a instrução probatória, “q u e n o processo d e conhecimento é vital para a efetividade d a aç ã o o u d a de- fesa“l2’>. Daí, para q u e haja u m efetivo exercício d a jurisdição, utiliza-se do procedimento. Deste raciocínio conclui-se q u e são quatro os t e m a s direta
m e n t e relacionados c o m o m o d o d e ser d o processo: contraditório, inquisitividade, prova e procedimento. Destaca q u e n e n h u m possui valor absoluto, admitindo superposições entre eles.
(20) " A inslrumentalidade d o processo", pâgs. 282-283.
(21) Op. cil.. pág. 284.
Dinamarco traia d o contraditório c o m o garantia d e participação, extrapolando s ua figura d o processo para o próprio regime democrático.
Diz-nos1221:
O contraditório, em suas mais recentes formulações, abrange o direito das partes ao diálogo com o juiz: não basta que tenham aque
las a faculdade de ampla participação, ó preciso que também este participe intensamente, respondendo adequadamente aos pedidos e requerimentos das partes, fundamentando decisões e evitando surpreendê-las com decisões de oficio inesperadas.
Ressalta a importância d o "ônus d e afirmação", s e n d o este u m a fa
culdade d a parte, apresentando u m a critica relativa, s o b a ótica d a efetivi
dade, à contumácia e à preclusão. Afirma q u e quaisquer “cerceamentos d e defesa" representam causas d e redução da efetividade, ao m e s m o t e m p o e m q u e elogia atitudes de repulsa à “litigância d e má-fé", que precisa ser combatida, pois obstaculiza o processo c o m o me i o efetivo para o acesso à o r d e m jurídica.
Este m e s m o autor1231 analisa t a m b é m a participação do juiz c o m o “p o n to sensível" d o processo, q u e n ã o de v e ser a d e m e r o expectador, m a s de condutor d o processo. Destaca q u e no curso d o processo a o juiz c a b e in
fluir sobre o “a n d a m e n t o e endereçamento d o litígio" s e m , entretanto, c o m prometer a s u a imparcialidade. Elogia a fase conciliatória n o procedimento e a importância d o juiz contatar as partes para este mister e para aprofun
dar o conhecimento d a questão colocada sob jurisdição, realçando ainda a imediatidade e a liberdade investigatória, a par da visão otimista d e efetivi
d a d e pela ênfase d a d a c a d a vez mais à simplicidade e à informalidade nos procedimentos especialíssimos. Neste tema, realça t a m b é m a importância d a ampliação d o princípio inquisitivo e v è a presença mais efetiva do Minis
tério Público c o m o custos legis na forma d e importante elemento para q u e n ã o haja excessos da atuação d o juiz na atuação inquisitiva.
O b s e r v a o procedimento'241:
... o amálgama que funciona como fator de coesão do sistema, cooperando na condução do processo sobre os trilhos dessa conve
niente participação do juiz e das partes (aqui, incluído o Ministério Público). Compreende-se que seja relativo o valor do procedimento em face desses objetivos, sendo vital que interpretação inteligente dos princípios e a sua observância racional em cada caso; é a instru- mentalidade do próprio procedimento ao contraditório e demais valo
res processuais a serem preservados em prol da efetividade do pro
cesso. (...) A efetividade do processo é dependente, segundo os de- 2 2 2 3 2 4
(22) " A instrumentalidade d o processo", pág. 285.
(23) Ibidem.
(24) " A instrumentalidade d o processo", págs. 290-293.
sígnios do legislador, da aderência do procedimento à causa. (...) O procedimento tem o valor que lhe é normal em todos os casos, qual seja o de servir de plano para esse trabalho de aproximação entre o juiz e a causa.
R e s u m e :
Assim é que a efetividade do processo está bastante ligada ao modo como se dá curso à participação dos litigantes em contraditório e a participação inquisitiva do juiz, os primeiros sendo admitidos a produzir alegações, a recorrer, a comprovar os fatos de seu interesse e este sendo conclamado a ir tão longe quanto possível em sua curio
sidade institucionalizada com aqueles. (...) Por outro lado, a celerida
de com que todo procedimento deve desenvolver-se e a que constitui marca fundamental de alguns são fatores de maior efetividade no campo social e no político, seja para pacificar logo, seja para obter enérgico repúdio aos atos ilegais do poder público. .
C o m o terceiro aspecto'“ 1, destaca a justiça nas decisões. E diz q u e o valor justiça ó o "objetivo-síntese d a jurisdição no plano social”. Expõe:
Mesmo não sendo legislador ou a ele equiparado, mesmo ne
gando-se que o juiz seja substancialmente criador de direitos e obriga
ções (repúdio à teoria unitária do ordenamento jurídico), mesmo des- considerando-se a influência que emana do 'direito jurisprudencial' (Richterrecht), ainda assim sempre é preciso reconhecer que o mo
mento de decisão de cada caso concreto é sempre um momento valorativo.
Justifica q u e o juiz, q u e n ã o a s s u m e a posição d e canal d e c o m u n i c a ç ã o entre a carga axiológica c o n t e mporânea da sociedade o n d e vive e os textos, tende a perder a noção dos fins d e s u a própria atividade. Destaca daí a sensibilidade para u m b o m julgador, q u e antepõe à indiferença, c o m a ressalva d e q u e o juiz é sujeito à s leis, d e v e n d o estar atento à legitimida
d e d e su a s decisões. Aponta:
Mas o comprometimento do juiz com o ideal de justiça há de transparecer também na maneira como interpreta os fatos provados no processo e os próprios resultados da experiência probatória. Não bastaria ver pela ótica correta a norma que está nos textos legais, se pela via de uma visão distorcida dos fatos acabasse chegando a de
cisões injustas. 2 5
(25) O p cif.. p á g s 293-296.
Conclui esta parte citando a Lei d o s Juizados Especiais: "o juiz a d o tará e m c a d a ca s o a decisão q u e reputar mais justa e equânime, atenden
d o a o s fins sociais d a lei e às exigências d o b e m c o m u m ”.
O quarto aspecto apresentado é o d a efetividade d a s decisões. R e lembrando a célebre frase d e Chiovenda, ba s e inicial d o conceito d e efeti
vidade {aptidão d o processo a dar a q u e m t e m u m direito, n a m e d i d a d o q u e for praticamente possível, tudo aquilo a q u e t e m direito e precisamente o q u e t e m direito), Dinamarco, e m rodapé d e página(26>, testifica:
Aqui está a síntese de tudo. É preciso romper preconceitos e encarar o processo como algo que seja realmente capaz de ‘ alterar o mundo', ou seja, de conduzir as pessoas à ‘ ordem jurídica justa'. A maior aproximação do processo ao direito, que é uma vigorosa ten
dência metodológica hoje, exige que o processo seja posto a serviço do homem, com o instrumental e as potencialidades de que dispõe, e não o homem a serviço de sua técnica.
Neste contexto afirma q u e í27) "é indispensável q u e o sistema esteja preparado para produzir decisões capazes d e propiciar a tutela ma i s a m p l a possível aos direitos reconhecidos". P a s s a o autor referido a comentar a eficácia d e tipos d e sentenças, observando a importância d a s sentenças constitutivas e, dentro delas, a s substitutivas d a vontade d o devedor c o m o conquista d o processo moderno. Elogia a evolução das técnicas jurídicas visando à garantia d o direito d e ação. Afirma q u e as sentenças condenató- rias n ã o p o s s u e m a capacidade d e atender imediata e automática satisfa
ç ã o a o titular d o direito, realçando a importância específica c o m o fator ex
pressivo da efetividade d o processo, assim c o m o as p e n a s pecuniárias.
Diz-nos q u e o “passar d o t e m p o ” é o inimigo declarado e incansável d o processo. Destaca a importância para a efetividade das medidas cautela- res, a s quais c h a m a d e “contraveneno d o t e m p o ”. Ressalta a função instru
mental e de efetividade d a tutela coletiva a o lado d a individual ( c o m o o m a n d a d o d e segurança coletivo, a ç õ e s civis públicas), defendendo sua ampliação.
Estes aspectos apresentados brevemente demonstram que o princípio da efetividade pode ser visto como a instrumentalização política do justo no processo. E, por tratar do exercício do poder esta
tal voltado à cidadania (individual ou coletiva, elemento básico no estado democrático de direito) buscando o que é justo, obviamente relaciona-se com o equilíbrio da justiça.
E s s e s d a d o s e análises apresentadas nos levam a verificar a efetivi
d a d e c o m o u m princípio, e mais, u m principio altamente básico e m e s m o fundamental para a constituição d o processo contemporâneo. Nele está 2 6 2 7
(26) " A instrumentalidade d o processo', pág. 297.
(27) Op. Cit.. píg. 298.
inserida a atividade d o Estado e m sua parte jurisdicional, sob o ângulo d e prestar seu dever-poder judicante e m função d a cidadania s o b o enfoque ideológico d o Estado democrático d e Direito.
T e m o s q u e o princípio orientador d a efetividade se interrelaciona, c o n vive, alterna, se sobrepõe ou se coloca sob o princípio d o devido processo legal, este outro principio orientador, m a s sob o prisma d a s partes, d a ci- dadania1281. Isso s e d á e m razão de q u e se s ó houvesse o enfoque d o prin
cípio d o devido processo legal, c o m a importância d o contraditório, duplo grau d e jurisdição e outros princípios decorrentes d o devido processo le
gal, teríamos u m a conduta d e âmbito remissivo, recorrente e d e contínuo direito das partes s e m p r e se manifestarem, dando-se destaque às partes e m detrimento d a jurisdição e sua necessária função efetiva d e dar atendi
m e n t o ao que se pede como direito e a o dever-poder d o Estado d e atender a o q u e s e p e d e tendo e m conta s u a postura democrática d e direito1291. T e ríamos nesse ca s o ap e n a s o enfoque das balanças d o direito, c o m o s í m b o lo, m a s s e m a presença d o s pesos q u e d ã o o ajustamento d o equilíbrio real, n a busca do justo.
A efetividade, portanto, possui a função dos pesos, q u e s e colocam nas balanças d o devido processo legal.
Esta relação, equilíbrio feito pela Justiça, por seus pesos (efetivida
de) e balanças (devido processo legal), corresponde à funcionalidade apli
c a d a entre os princípios d a efetividade e d o devido processo legal. U m a figura relacionada c o m a própria i m a g e m d o Direito. A m b o s os princípios interagem, se interligam, funcionam juntos, sobrepõem-se no processo à procura d o Justo1301. S ã o o s princípios orientadores dos demais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BARBOSA MOREIRA, José Carlos. "Efetividade do processo e técnica pro
cessual". In: Revista de Processo. S ã o Paulo: RT, n.77, janeiro-março, 1995.
(28) O principio d o devido processo legal é reconhecido c o m o transconstitucional. por s u a impor
tância histórica e inerente a o E s t a d o d e Direito
(29) C o n v é m lembrar o artigo 3 ’ d a Constituição Brasileira, a o especificar o s objetivos f u n d a m e n tais d a n o s s a República
(30) Vale a p e n a transcrever a análise d e Darci G u i m a r ã e s Ribeiro e m artigo ' A instrumentalidade d o proc e s s o e o principio d a verossimilhança c o m o decorrência d o ‘d u e process ot law‘ (in Revis
ta d e Processo. RT. a n o 19.n.75. p á g 184) “O direito gravita e m dois postulados que. e m princi
pio. s â o opostos: a) s e g u r a n ç a jurídica e. b) eiehvidade jurídica, o u seja. n a conciliação, tanto q uanto possível, d a s exigências d e certeza c o m as exigências d e justiça.. Q u e , s e g u n d o Carne- lutti. 'o slogan d a justiça rápida e segura, q u e a n d a n a b o c a d o s políticos inexpertos, contém, d e s g r a ç a d a m e n t e u m a contradição in adieclo. s e a justiça é segura, n â o é rápida: s e é rápida, n â o é segura. Á s vezes, a s e m e n t e d a verdade necessita d e anos. o u m e s m o séculos pra tornar- s e espiga (verifas filia lemporis)', in -D e r e c h o y Proceso'. pág.1 7 7 (...) O q u e s e v ê ate hoje é u m a ê nfase à s e g u r a n ç a pública e m detrimento d a eletividade. P r o b l e m a e s s e q u e a c o m p a n h a o desenvolvimento d a s ciências, qualquer q u e seta. d e s d e a Grécia Ê aqui q u e entra o principio d a verossimilhança c o m o requisito d a eletividade d o direito, e d o s e u instrumento c h a m a d o p roces
s o d a n d o u m r e d i m e n s i o n a m e n t o a o q u e d e v e ser entendido por d u e p r o c e s s o f l a W .