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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0613311

Relator: FERNANDA SOARES Sessão: 30 Outubro 2006

Número: RP200610300613311 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: NEGADO PROVIMENTO.

ACIDENTE DE TRABALHO VIOLAÇÃO

SEGURANÇA NO TRABALHO

Sumário

I. Nos termos do art. 44 do Dec. 41821, de 11-8-58, o trabalho em cima de telhados que ofereçam perigo pela inclinação, natureza ou estado da

superfície, ou por efeito de condições atmosféricas, deverá ser realizado com especiais medidas de segurança (guarda corpos, plataformas de trabalho e tábuas de rojo).

II. O simples facto de se andar em cima de um telhado, por si só, não obriga à adopção de medidas de protecção, competindo à entidade responsável (a ré Seguradora) provar que, na situação em concreto, o telhado não oferecia condições para nele se caminhar.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação do Porto I

B…………., por si, e na qualidade de tutora e em representação de seu filho C…………, instaurou no Tribunal do Trabalho de Viana do Castelo contra D……….. Lda., E……… S.A. e F…………, acção emergente de acidente de trabalho pedindo a condenação das Rés a pagar-lhes as pensões e demais indemnizações, acrescidas dos juros de mora, conforme indicam na petição, tendo igualmente requerido a fixação de pensão provisória.

Alegam os Autores que no dia 10.11.00 o sinistrado G…………, seu marido e pai, sofreu um acidente, que descrevem, quando trabalhava nas instalações da

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2ªRé, e por ordem da sua entidade patronal, a 1ªRé. Em consequência do mesmo o sinistrado sofreu lesões que foram causa directa da sua morte, sendo certo que o acidente se ficou a dever à não observância por parte das 1ª e 2ª Rés das regras de segurança.

A 2ªRé veio contestar alegando não ter qualquer responsabilidade no

acidente, concluindo pela improcedência da acção e requerendo a intervenção principal da Companhia de H………. S.A., entidade com quem celebrou um contrato de seguro que cobre a sua responsabilidade por acidentes ocorridos nas suas instalações.

A 1ªRé contestou alegando que o sinistrado se encontrava “cedido” à 2ªRé desde pelo menos 15.4.98, concluindo que à data do acidente não era seu trabalhador, e pedindo, deste modo, a improcedência da acção.

O Mmo. Juiz a quo fixou a pensão provisória devida aos Autores e a adiantar pelo Fundo de Acidentes de Trabalho.

A 3ªRé – a F……….. – veio igualmente contestar alegando que o acidente se ficou a dever à falta de cumprimento das regras de segurança e que a sua responsabilidade está limitada ao salário no montante de € 503,29x14 meses.

Admitida a intervenção da Companhia de H……….. SA veio a mesma apresentar contestação alegando que não celebrou com a 2ªRé qualquer contrato de seguro no ramo de acidentes de trabalho, concluindo pela sua absolvição dos pedidos.

Proferido o despacho saneador, consignou-se a matéria assente e elaborou-se a base instrutória.

Procedeu-se a julgamento com gravação da prova, respondeu-se á matéria constante da base instrutória e finalmente foi proferida sentença a absolver as 1ªe 2ª Rés, bem como a interveniente, dos pedidos e a condenar a 3ªRé – a F……….. – a) a pagar à Autora B……… a pensão anual e vitalícia de € 2.213.50, com início em 11.11.2000 e as seguintes actualizações: em 2001 para €

2.187,47; em 2002 para € 2.264,03; em 2003 para € 2.309,31; em 2004 para € 2.367,05 e em 2005 para € 2.421,49; b) a pagar ao Autor C……….. uma pensão anual e vitalícia de € 1.409,00, com início em 11.11.2000, e as seguintes

actualizações: em 2001 para € 1.458,31; em 2002 para € 1.509,36; em 2003 para € 1.539,54; em 2004 para € 1.578,03 e em 2005 para € 1.614,33; c) a pagar a ambos os Autores o montante de € 3.818,80, sendo 50% para cada um, a título de subsídio por morte; d) a pagar € 1.272,93 a título de despesas de funeral; e) a pagar € 25,00 a título de despesas de transportes; e) a pagar os juros de mora sobre as quantias atrás referidas, e à taxa legal.

Inconformada veio a Ré F………. recorrer da sentença pedindo a sua revogação, formulando as seguintes conclusões:

Resultou provado que o sinistrado se encontrava em cima de um telhado

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composto por placas de fibrocimento, a cerca de 7metros de altura e com 25º de inclinação.

Resultou provado que não existia qualquer plataforma de trabalho,

nomeadamente andaimes interiores e que o sinistrado não estava a usar cinto de segurança nem capacete.

Do disposto nos arts. 4º e 8º do DL 441/91 de 14.11, art.2º e 11º da Portaria 101/96 de 3.4, 1º e 151º do RSTCC, resulta que a 1ªRé tinha obrigação de salvaguardar a segurança dos seus trabalhadores em todos os aspectos relacionados com o trabalho e de adoptar todas as medidas que se afigurassem adequadas e necessárias para o efeito.

A medida de protecção colectiva necessária – e obrigatória por lei dado que os trabalhos eram exercidos a 7 metros do solo – era a utilização de andaimes devidamente protegidos e, caso não fosse suficiente, a utilização de cintos de segurança.

Resulta, pois, que a 1ªRé tinha obrigação de impor e garantir a utilização de andaimes e cintos de segurança por parte do sinistrado pois estes dispositivos eram necessários para evitar o risco de quedas em altura e só assim

protegeria devidamente o trabalhador, o que não fez.

Do exposto resulta que a 1ªRé agiu com culpa, em clara violação das mais elementares regras de segurança, violando de forma negligente os citados preceitos legais.

Provada a violação das regras de segurança por culpa da entidade patronal do sinistrado e provado o nexo de causalidade entre a violação e o acidente, devia o Tribunal a quo, de acordo com o disposto nos art.s18º nº1 e 37º nº2 da LAT condená-la como responsável pela sua reparação.

Caso se entenda que a 1ªRé cumpriu todas as normas de segurança

necessárias então só pode concluir-se que foi o sinistrado quem, de forma temerária, e negligente, as não cumpriu.

De facto, o sinistrado era obrigado a zelar pela sua segurança e cumprir as regras de segurança impostas pela entidade patronal e por lei, abstendo-se de qualquer acto que origine situações de perigo.

Era, por isso, dever do sinistrado utilizar um andaime, ou pelo menos, cinto de segurança sempre que exercesse as suas funções em altura.

Foi, pois, temerário e violador das mais elementares regras de segurança o comportamento do sinistrado ao subir para um telhado de placas de

fibrocimento sem utilizar um andaime ou, pelo menos, o cinto de segurança.

Qualquer trabalhador diligente teria verificado os riscos que a não utilização de equipamentos de segurança acarretava e não teria subido ao telhado naquelas condições.

Assim, e de acordo com o art.7º da LAT devia o pedido ser julgado

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improcedente com a consequente absolvição da apelante.

Os Autores e a 1ªRé vieram contra alegar pugnando pela manutenção da decisão recorrida.

A Exma. Procurador da República junto desta Relação emitiu parecer no sentido de o recurso improceder.

Admitido o recurso e corridos os vistos cumpre decidir.

* * * II

Matéria dada como provada pelo Tribunal a quo e a ter em conta no presente recurso.

A Autora B………., nascida a 2.8.44, era casada com o sinistrado G……….., e o Autor C………., nascido a 6.9.70, declarado interdito por sentença proferida em 17.1.02, é filho de ambos.

Pelas 10.55 horas do dia 10.11.2000, nas instalações dos ENVC, sitos na …., Viana do Castelo, o G……….., ao proceder ao aparafusamento de uma telha de fibrocimento, no tecto de uma armazém, aquele fracturou-se, tendo o G………..

caído de uma altura de 7metros, queda que lhe provocou a morte imediata.

Por contrato de seguro, ramo acidentes de trabalho, pela apólice 10.851704, a Construtora D……….. Lda. havia transferido para a Ré F……….. a

responsabilidade civil decorrente de acidente de trabalho que pudesse advir ao G……….., pelo salário de € 503,29x14.

Os E………. celebraram com a Ré H……….. o seguro de “responsabilidade civil- exploração” titulado pela apólice 130589.

Por decisão de 22.5.03 foi o FAT condenado a pagar, a título de pensão provisória, à Autora B………. € 2.113,82 e ao Autor C………. a pensão provisória de € 1.409,21.

Na altura do sinistro o G……… não estava munido de cinto de segurança nem usava capacete.

O IDICT de Viana do Castelo levantou auto de contra ordenação à 2ªRé por violação de normas de segurança aquando da morte do sinistrado, tendo o respectivo recurso sido julgado improcedente (confirmando a decisão da aplicação da coima de € 6.983,17).

Desde o início de 1998 que o sinistrado se encontrava cedido pela 1ªRé à 2ªRé.

Nesse período desempenhou a sua actividade nas instalações dos E………., na

….., em Viana do Castelo, integrando uma equipa de trabalho da 2ªRé.

O sinistrado e restantes colegas de equipa utilizavam equipamentos, máquinas e ferramentas de trabalho pertencentes aos E…….. .

O seu trabalho era supervisionado por I………., trabalhador dos E…….., sendo

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este quem indicava ao sinistrado quais os trabalhos de reparação e manutenção a realizar.

O horário de trabalho fixado ao sinistrado havia sido imposto pela 2ªRé.

No local não existia qualquer plataforma de trabalho, nomeadamente andaimes interiores.

O telhado tem uma inclinação de 25º.

O sinistrado exercia a sua actividade sob as ordens, direcção e fiscalização da Ré Construtora, no âmbito da cedência referida em 8.

O sinistrado era frequentemente avisado por trabalhadores e técnicos de segurança doa E………. para a necessidade de respeitar as normas de segurança.

O sinistrado tinha cinto de segurança ao seu dispor e deixou a escada de entelhar encostada à parede do armazém.

A D……… Lda cede o sinistrado aos E………. mediante um preço por hora de trabalho, e mensalmente, o E……… informavam-na de quantas horas havia trabalhado o G……….

* * * III

Questões a apreciar.

Se a matéria provada aponta no sentido de ter havido violação das regras de segurança por parte da entidade patronal.

Se o acidente se ficou a dever a culpa do sinistrado.

* * * IV

Se a matéria provada aponta no sentido de ter havido violação das regras de segurança por parte da entidade patronal.

Defende a apelante que a matéria dada como assente sob os nºs. 6 e 13 do § II do presente acórdão é suficiente para se concluir que o acidente ocorreu devido à violação das regras de segurança prescritas nos arts. 4º e 8º do DL 441/91 de 14.11, art.2º e 11º da Portaria 101/96 de 3.4 e 1º e 150º do Decreto 41821 de 11.8.58. Vejamos então.

No caso dos autos o trabalho que o sinistrado estava a efectuar ocorreu em cima de um telhado.

Relativamente á realização de obras em cima de telhados prescreve o art.44 do Decreto 41821 de 11.8.58 que «no trabalho em cima de telhados que

ofereçam perigo pela inclinação, natureza ou estado da sua superfície, ou por efeito de condições atmosféricas, tomar-se-ão medidas especiais de segurança, tais como a utilização de guarda corpos, plataformas de trabalho, escadas de telhador e tábuas de rojo». E o § 2 do mesmo artigo determina que «se as soluções indicadas no corpo do artigo não forem praticáveis, os operários

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utilizarão cintos de segurança providos de cordas que lhe permitam prender- se a um ponto resistente da construção».

Do que se deixa referido conclui-se que a adopção das medidas previstas na citada disposição legal só é obrigatória quando existe risco de queda devido a) á inclinação do telhado; b) á fragilidade do material da cobertura; c) á

existência de condições atmosféricas adversas.

Ou seja, o simples facto de se andar em cima de um telhado, por si só, não obriga á adopção de medidas de protecção, competindo á entidade

responsável, no caso a Ré Seguradora, provar que na situação em concreto o telhado não oferecia condições para sobre ele se caminhar por se verificar alguma das situações atrás indicadas.

Ora, no caso concreto, apenas está provado que o sinistrado caiu de uma altura de 7 metros quando aparafusava uma telha de fibrocimento e esta se partiu originando a sua queda ao solo, e que o telhado tem a inclinação de 25º (perguntava-se nos quesitos 10 a 12 se as telhas de fibrocimento tinham mais de dez anos, encontrando-se em mau estado de conservação e húmido, tendo o Tribunal a quo respondido não provado). Assim, a matéria dada como assente é insuficiente para se concluir pela violação do disposto no art.44º do Decreto 41821 de 18.8.58.

Acresce que o art.11º da Portaria 101/96 de 3.4, referindo-se às quedas em altura, não contém qualquer obrigatoriedade quanto ao uso do cinto de segurança, na medida em que a mesma não contém normas específicas relativamente ao uso de equipamentos antiqueda, antes remetendo para a legislação aplicável (esta portaria foi publicada ao abrigo do art.14º do DL 155/95 de 1.7 que veio estabelecer as prescrições mínimas de segurança a aplicar nos estaleiros temporários ou móveis, prescrições essas adoptadas pela Directiva nº92/57/CEE).

Ou seja, o art.11º da referida portaria, por si só, é insuficiente para se poder concluir pelo uso obrigatório do cinto de segurança no caso em apreço.

E igualmente não é aplicável ao caso o disposto no art.150º do Decreto 41821 – “a entidade patronal deve pôr à disposição dos operários os cintos de

segurança (…)”, por tal preceito não determinar a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança no caso dos autos.

E finalmente, também há que concluir que o DL 441/91 de 14.11, que contém os princípios que visam promover a segurança, higiene e saúde no trabalho, limita-se a estabelecer princípios gerais – tal DL surge como resposta á Directiva nº89/391/CEE -, não tendo sido estabelecido no mesmo normas específicas quanto ao uso de equipamento antiqueda.

Assim, se conclui que no caso dos autos não resultou provado – por falta de elementos de facto – que o sinistrado estava obrigado a fazer uso dos meios de

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protecção prescritos no citado Decreto 41821, e deste modo, não se pode concluir que o acidente se ficou a dever a culpa da entidade patronal por não observância das referidas regras de segurança.

E da matéria provada também não resultou provado o nexo de causalidade entre a falta do uso dos meios de protecção colectiva ou individual e o acidente.

* * * V

Da culpa do sinistrado.

Nos termos do art.7º nº1 al.a) da Lei 100/97 não dá direito a reparação o acidente que provier de acto ou omissão do sinistrado, que importe violação, sem causa justificativa, das condições de segurança estabelecidas pela

entidade empregadora ou previstas na lei.

Por sua vez a al.b) do citado artigo prescreve que não dá direito a reparação o acidente que provier exclusivamente de negligência grosseira do sinistrado.

A recorrente defende que o sinistrado estava obrigado a utilizar um andaime ou pelo menos o cinto de segurança quando exercesse as suas funções em altura, e que ao assim não actuar agiu de forma temerária e contra as mais elementares regras de segurança. Que dizer?

Conforme já referido anteriormente não está provado que o sinistrado estava obrigado a fazer uso dos meios de protecção prescritos no Decreto 41821, mais precisamente os indicados no art.44º do citado diploma legal.

E se assim é, igualmente não está provado que o sinistrado actuou de forma temerária e contra as mais elementares regras de prudência.

Por isso, e no caso, não se mostra preenchido o circunstancialismo previsto no art.7º nº1 als. a) e b) da LAT..

* * *

Termos em que se julga a apelação improcedente e se confirma a sentença recorrida.

* * *

Custas a cargo da apelante.

* * *

Porto, 30 de Outubro de 2006 Maria Fernanda Pereira Soares Manuel Joaquim Ferreira da Costa Domingos José de Morais

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