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Acordam os Juízes na 6ª Secção CÍVEL do Tribunal da Relação de Lisboa

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Academic year: 2022

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Tribunal da Relação de Lisboa

Processo nº 535/09.0TMSNT-A.L1-6 Relator: ANTÓNIO SANTOS

Sessão: 11 Outubro 2018 Número: RL

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

EXPROPRIAÇÃO DILIGÊNCIAS INDEFERIDAS PELO TRIBUNAL

AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO

NÃO OBRIGATORIEDADE DA SUA REALIZAÇÃO

Sumário

4.1 - No âmbito de processo de expropriação, e em face do disposto no artº 61º,nº1, do CE, pode o tribunal indeferir as diligências que não considere úteis à decisão da causa.

4.2.- Não comportando o processo de expropriação, obrigatoriamente, a

realização de uma audiência de julgamento, e tendo as “ partes” lançado mão da faculdade a que alude o artº 485º, do CPC, não se justifica a designação de audiência de julgamento formal apenas para efeitos de prestação de

esclarecimentos pelos peritos, nos termos do artº 486º, do CPC.

Texto Integral

Acordam os Juízes na 6ª Secção CÍVEL do Tribunal da Relação de Lisboa

1. - Relatório

Em acção de EXPROPRIAÇÃO, em que figura como Expropriante A e Requerente B, e, como entidade Expropriada, C, prosseguindo os autos a pertinente tramitação legal, veio a ser promovida a competente arbitragem, sendo que , discordando da decisão arbitral, da mesma interpuseram recurso, quer a entidade expropriante, quer o expropriado.

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1.1- Após respostas dos recorridos, seguiram-se as diligências instrutórias tidas por pertinentes, e, obrigatoriamente, a avaliação ( cfr. artº 61º, nº2, do CE ), sendo que, no âmbito desta última os respectivos peritos produziram relatório/s que foram objecto de pedidos de esclarecimento, após o que, apresentaram expropriante e expropriado as competentes ALEGAÇÕES , nos termos do artº 64º, do CE.

1.2- Frustrada uma tentativa de conciliação das partes, seguiu-se a prolação da SENTENÇA, datada de 16/1/2016, e cujo excerto decisório foi do seguinte teor :

“(…) V - Decisão

Por todo o exposto, o Tribunal decide:

- Negar provimento ao recurso interposto pelo Expropriado C ;

- Conceder provimento ao recurso interposto pela Entidade Expropriante A e fixar o montante da indemnização devida em €675.000 ( seiscentos e setenta e cinco mil euros), a qual deverá ser actualizada de acordo com os índices

(mensais) de preços no consumidor, com exclusão da habitação, publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), relativamente ao local da situação dos bens (no caso concreto, o Continente), não se tomando, em linha de conta a capitalização dos sucessivos aumentos anuais, desde 12.05.2008 até

14.12.2009.

Custas pelo Expropriado.

Fixa-se o valor do processo em €2.798.310 ( €3.473.310 - (€675.000), nos termos do disposto na alínea b) do nº 2 do art. 38.0 do Cód. das

Expropriações.

Registe e notifique “.

1.3. - Inconformados com a referida sentença, da mesma apelaram então, quer a Entidade A, quer o expropriado C, sendo que, em 22/6/2016, veio o Tribunal da Relação de Lisboa a proferir douto Acórdão que decidiu:

“ anular a decisão impugnada, a fim de que os Srs. Peritos se pronunciem acerca da aptidão edificativa dos “Espaço-Canal” e “ Espaço de Protecção e Enquadramento“ antes da entrada em vigor do PDM de Sintra, à luz do nº2 do artº 25º do CE.

1.4. - Cumprido o determinado no Ac. proferido por este tribunal da Relação e indicado em 1.3., vieram os 5 Peritos apresentar em Novembro de 2017 “Novo

” Relatório de Peritagem, o qual, logo em 14/12/2017, foi objecto de pedido [ que foi deferido e cumprido em Fevereiro de 2018 ] de esclarecimentos por parte do expropriado C.

1.5. - Notificado das peças apresentadas pelos peritos e identificadas em 1.4 [ Relatório de Peritagem e respostas aos pedidos de esclarecimento do

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expropriado C] , mas não aceitando as conclusões nelas insertas, vem então o expropriado C, em Abril de 2018, atravessar nos autos novo requerimento, nele invocando e impetrando desta vez ao tribunal a quo requerendo o seguinte :

“(…)

1. Apesar dos peritos inequivocamente:

- reconhecerem que o terreno expropriado estava, antes da publicação do PDM, dotado das redes de infra-estruturas urbanísticas referidas na alínea a)do nº2 do artigo 25.0 do Código das Expropriações;

- afirmarem que desconhecem qualquer impedimento de natureza física existente antes da publicação do PDM à construção no terreno expropriado;

- não referirem qualquer impedimento de natureza regulamentar a esse uso, E portanto resultar também inequívoco que o terreno da parcela expropriada deverá ser classificado como solo "apto para construção”, os peritos mantêm a sua posição pouco esclarecedora, citando a despropósito o caso de solos

onerados por servidões, que nada tem a ver com o assunto.

2- Será assim imprescindível que os peritos venham prestar esclarecimentos orais em audiência sobre a perícia efectuada, o que desde já se requer.

3- Por outro lado, a avaliação - a que o tribunal preside - é obrigatória, e obrigatoriamente - efectuada por 5 peritos, nos termos do nº 1 do art.º 62 do Código das Expropriações.

4 - O perito, Eng, Abel …., nomeado pelo Tribunal, em substituição do perito indicado pelo Expropriado não teve oportunidade de proceder a qualquer avaliação, nem de participar sequer em qualquer das realizadas até à data no âmbito dos presentes autos.

5 - Pelo que vem requerer, muito respeitosamente, a V.Exa. se digne ordenar as diligências que tiver por convenientes em ordem ao cumprimento da

disposição legal contida no referido nº 1 do artigo 62.º do Código das Expropriações.

1.6.- Pronunciando-se sobre o requerido [ em Abril de 2018, e nos termos indicados em 1.5.], pelo expropriado C, foi então proferido pelo tribunal a quo o seguinte DESPACHO :

“ (…)

….. conforme resulta do supra exposto, ao Expropriado já foi facultada a possibilidade de apresentar a sua reclamação contra o relatório apresentado em 21.11.2017 e nessa sequência, os Srs. Peritos já apresentaram os

respectivos esclarecimentos, tendo sido, assim, assegurado o cumprimento do previsto no artigo 485º do NCPC.

Além disso, as razões de discordância invocadas para a prestação de

esclarecimentos orais são as mesmas que já foram invocadas na reclamação e

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sobre os quais os Srs. Peritos já se pronunciaram, resultando, no fundo, daquele requerimento, que não está em causa qualquer deficiência,

obscuridade ou contradição, mas uma mera divergência de entendimento do Expropriado.

Acresce ainda que, por despacho de 19.10.2015, se considerou validamente prescindida a inspecção ao local e a inquirição das testemunhas arroladas pelo Expropriado, motivo pelo qual não se realizou audiência de julgamento.

A realização da audiência de julgamento não é obrigatória no processo de expropriação ( cfr. n.° 1 e 2 do art. 61.° do Código das Expropriações ), nem se verifica a utilidade da sua realização apenas para que os Senhores Peritos prestem "esclarecimentos orais", quando já foi exercida a faculdade de solicitar os esclarecimentos tidos por pertinentes, nem o Expropriado

concretiza quaisquer questões diferentes daquelas vertidas na sua reclamação e que necessitassem ainda de ser esclarecidas .

Pelo exposto, não se vislumbrando a utilidade da prestação dos

esclarecimentos orais em sede de audiência, decide-se indeferir a requerida prestação de esclarecimentos orais pelos Senhores Peritos.

Por outro lado, conforme resulta dos autos, neste processo foi realizada a avaliação prevista no n.° 2 do artigo 61º e artigo 62º do Código das

Expropriações, na qual intervieram todos os Senhores Peritos nomeados e indicados pelas partes.

Por despacho de 09.10.2014, foi determinada a prestação de esclarecimentos complementares pelos Senhores Peritos (vd. fls. 578 e 579) e, nessa

sequência, constatou-se a impossibilidade de contactar o Sr. Perito Carlos ….., e o próprio Expropriado requereu que fossem apenas notificados os restantes Peritos para prestar os esclarecimentos solicitados por despacho de

09.10.2014 ( vd. fls. 588 ), o que foi deferido por despacho de 15.04.2015 (vd.

fls. 590).

Ora, assim sendo, constata-se que a posição ora assumida pelo Expropriado é absolutamente contraditória com aquela que assumiu em 24.03.2015.

Acresce que, na sequência do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, novamente foi tentada a notificação do Sr. Perito Carlos ….. e, face à sua inviabilidade, determinou-se a sua substituição por novo Perito que teve intervenção nos esclarecimentos prestados em 21.11.2017 e 27.03.2018.

Verifica-se, assim, que foi cumprido o disposto no n.° 1 do artigo 62º do Código das Expropriações.

Pelo exposto, indefere-se o demais requerido pelo Expropriado.”

1.7.- Inconformado com a decisão indicada em 1.6., da mesma apelou então o expropriado C, apresentando na respectiva peça recursória as seguintes conclusões :

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A. O teor dos esclarecimentos prestados pelos Senhores Peritos por pouco claros e as conclusões a que os mesmos chegam nos próprios documentos por si subscritos - a parcela deve ser toda ela classificada como "solo apto para construção" poderá induzir em erro o decisor, pelo que o Expropriado requereu a prestação de esclarecimentos orais pelos Senhores Peritos em audiência final, o que permitiria, julga-se, afastar qualquer tipo de dúvida quanto a esta fundamental situação em concreto.

B. O despacho recorrido, ao decidir pelo indeferimento do requerimento apresentado pelo Expropriado para que os Senhores Peritos prestem esclarecimentos orais em audiência de julgamento encontra-se em frontal violação dos artigos 486.° do CPC e 61.°, n.° 3 do Código das Expropriações que remetendo para o artigo 588.° do Código do Processo Civil (actual artigo 486.°) determina a comparência dos peritos na audiência final a fim de

prestarem sob juramento os esclarecimentos que lhes sejam pedidos.

C.- Se é certo que o juiz poderá ordenar oficiosamente a comparência dos peritos para o efeito, é também seguro que, caso a comparência destes seja requerida, como foi, por alguma das partes, a comparência destes deverá igualmente ser ordenada.

D. - Ao negar essa pretensão do Expropriado, a Meritíssima Juíza a quo violou ainda os princípios processuais da imediação e da oralidade, expressos nos artigos 486.° e 604.°, 3 do CPC. Coarctar às partes a possibilidade de

inquirirem os peritos viola ainda o direito fundamental de acesso aos tribunais, na vertente do princípio da proibição da indefesa e,

consequentemente os direitos a uma justa indemnização e de propriedade privada.

E.- É certo, pois, que a diligência probatória requerida deveria ter sido

admitida sob pena ainda de violação do fim da prova pericial, dos princípios da imediação, da oralidade e do contraditório e, em último análise, dos direitos a uma justa indemnização e de propriedade privada consagrados no artigo 62.°

da Constituição da República Portuguesa, uma vez que tais diligências tinham por objecto o apuramento cabal e transparente da posição dos Senhores

Peritos quanto à classificação da parcela expropriada e até da situação desta e da sua capacidade edificativa antes do PDM, factos estes essencialíssimos à descoberta da verdade material e à boa decisão final.

F. Por outro lado, o despacho recorrido, ao decidir manter a irregularidade consubstanciada no facto do "Cenário Alternativo de Cálculo de

Indemnização" sem que esta verdadeira avaliação tivesse sido feita por 5 peritos, viola o artigo 62.°, n.° 1 do Código das Expropriações, não permitindo sanar esta irregularidade do processo, afectando desta forma todo o

processado a seguir a este acto, mormente as decisões que com base nesta

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avaliação venham a ser tomadas.

G. Mas uma vez, com vista a dotar o Tribunal de todos os elementos necessários à boa decisão da causa, deveria a Meritíssima Juíza a quo determinar a intervenção do novo perito nomeado pelo Tribunal em substituição do perito ausente na avaliação levada a cabo por apenas 4 peritos, não se vislumbrando que a intervenção do mesmo nos

"esclarecimentos subsequentes" seja suficiente para sanar tal irregularidade.

H. Em suma, o Tribunal a quo incorreu em erro na aplicação do Direito, violando de forma manifesta, através do Despacho recorrido, o disposto nos artigos 61.°, n.° 3 e 62.°, n.° 1 do Código das Expropriações, bem como o disposto nos artigos 486.° e 604.°, 3 do Código do Processo Civil e ainda o artigo 62.° da Constituição da República Portuguesa.

Nestes termos e nos demais de direito que V. Exas. doutamente suprirão, Deverá o Despacho de 4/05/2018 ( ref. citius 112649620) que indeferiu o requerimento do Expropriado, ora Recorrente, de 16/04/2018 (ref. citius 28851221) - no sentido de serem prestados esclarecimentos orais pelos Senhores Peritos em audiência final e, bem assim, no sentido de permitir a intervenção dos 5 peritos no Documento "Cenário Alternativo do Cálculo Indemnizatório" - ser revogado e substituído por outro que defira tais pretensões.

***

Thema decidendum

Colhidos os vistos, cumpre decidir, sendo que , estando o objecto do recurso delimitado pelas conclusões [ daí que as questões de mérito julgadas que não sejam levadas às conclusões da alegação da instância recursória, delas não constando, têm de se considerar decididas e arrumadas, não podendo delas conhecer o tribunal ad quem ] das alegações dos recorrentes ( cfr. artºs. 635º, nº 3 e 639º, nº 1, ambos do Código de Processo Civil, aprovado pela Lei nº 41/2013, de 26 de Junho), e sem prejuízo das questões de que o tribunal ad quem possa ou deva conhecer oficiosamente, a questão a apreciar e a decidir resume-se em aferir :

Primo - Se não podia a primeira instância ter indeferido o requerimento do expropriado C e datado de Abril de 2018 e no tocante :

A) À solicitada designação de uma audiência final de modo a possibilitar que, na mesma, sejam prestados pelos peritos, sob juramento ,os esclarecimentos que lhes sejam pedidos.

B) À requerida realização de uma “nova” avaliação de forma a possibilitar que o perito, Engº Abel …., nomeado pelo Tribunal e em substituição do perito indicado pelo Expropriado, tenha intervenção na referida diligência, que não apenas no âmbito dos pedidos de esclarecimento.

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***

2. - Motivação de Facto.

A factualidade a atender em sede de julgamento do mérito da apelação pelo Expropriado interposta é a que se mostra indicada no Relatório do presente Acórdão, e para o qual se remete.

***

3. - Motivação de Direito.

3.1 - Da solicitada designação de uma audiência final de modo a possibilitar que, na mesma, sejam pelos peritos prestados, sob juramento ,os

esclarecimentos que lhes sejam pedidos.

Discorda o apelante da decisão proferida pelo tribunal a quo e que lhe indeferiu a designação de uma audiência para que, na mesma, pudesse ter lugar a diligência a que alude o artº 486º,nº1, do CPC, a saber, a prestação de esclarecimentos – sob juramento – pelos peritos.

Para o apelante, ao negar a sua pretensão , violou o tribunal a quo os

princípios processuais da imediação e da oralidade, expressos nos artigos 486.

° e 604.°, 3 do CPC, a que acresce que, tendo-lhe sido coarctada a

possibilidade de inquirir os peritos, incorreu também a primeira instância na violação do direito fundamental de acesso aos tribunais, na vertente do

princípio da proibição da indefesa e, consequentemente os direitos a uma justa indemnização e de propriedade privada.

Ora bem.

É pacífico que, o processo expropriativo, comportando uma fase de natureza eminentemente administrativa e uma fase judicial , tem por desiderato

essencial a defesa e o respeito pelos direitos e interesses legalmente

protegidos dos expropriados [ observando-se ,nomeadamente ,os princípios da legalidade, justiça, igualdade, proporcionalidade, imparcialidade e boa fé – cfr.

Artº 1º e 2º, do CE ], tudo em ordem a assegurar a fixação da justa indemnização.

É outrossim consensual que, na sua fase jurisdicional, o processo de expropriação litigiosa é um processo especial, na medida em que a sua

tramitação constitui um desvio relativamente às formas do processo comum e, em sintonia como disposto no artº 549º,nº 1, do CPC, é o mesmo regulado, pelas disposições que lhe são próprias e pelas disposições gerais e comuns, sendo que, em tudo quanto não estiver prevenido numas e noutras, é-lhe aplicável o que se acha estabelecido para o processo ordinário. (1)

Isto dito, reza o artº 61º, do CE, nos seus nºs 1 , 2, e 3, que :

1- Findo o prazo para a apresentação da resposta, seguem-se imediatamente as diligências instrutórias que o tribunal entenda úteis à decisão da causa.

2 - Entre as diligências a realizar tem obrigatoriamente lugar a avaliação, a

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que o tribunal preside, cabendo-lhe fixar o respectivo prazo, não superior a 30 dias, e resolver por despacho as questões de direito suscitadas pelos peritos de que dependa a avaliação

3 - É aplicável o disposto nos artigos 578.º e 588.º do Código de Processo Civil.

Por sua vez, dispõe o actual nº1, do artº 486º [ correspondente ao artº 588º, do pretérito CPC, e para o qual remete o nº3, do artº 61º, do CE ], do CPC, que

“ Quando alguma das partes o requeira ou o juiz o ordene, os peritos comparecem na audiência final, a fim de prestarem, sob juramento, os esclarecimentos que lhes sejam pedidos”.

Remetendo o nº 3, do artº 61º, do CE, expressis verbis para o actual nº1, do artº 486º , tal não obriga a concluir que , à diligência a realizar

obrigatoriamente - a avaliação – no processo de expropriação litigiosa não seja aplicável o disposto no artº 485º, do CPC [ que regula a possibilidade de as partes deduzirem reclamações contra o relatório pericial ], desde logo em face do disposto no artº 549º,nº 1, do CPC

É que, como bem se decidiu já em Ac. do Tribunal da Relação de Guimarães (2) , a previsibilidade do artº 486º do Código de Processo Civil, reporta-se não já á dedução e conhecimento de “Reclamações contra o relatório pericial”, previstas e reguladas no artº 485º, mas, distintamente, á faculdade de

qualquer das partes poder requerer a “Comparência dos peritos na audiência final “a fim de prestarem, sob juramento, os esclarecimentos que lhes sejam pedidos, faculdade esta legalmente concedida ás partes, independentemente, e, para além, da dedução prévia de “Reclamações contra o relatório pericial” e seu atendimento ou indeferimento “.

Ademais, e como bem frisa José Alberto dos Reis (3), os esclarecimentos do artº 486º, do CPC, transcendem o âmbito dos esclarecimentos admitidos pelo artº 485º, tendo os mesmos , principalmente, por objectivo aspectos de fundo ( que não de forma ) e relacionados com a substância do parecer dos peritos, pretendendo-se que os peritos definam, com precisão, o sentido das suas respostas ou conclusões e as justifiquem devidamente.

Daí que, conclui José Alberto dos Reis , se as pares não tiverem formulado reclamações, nos termos do artº 485º, ou o juiz não tiver ordenado ,ex officio , que se supra deficiências, se esclareçam obscuridades, ou, se desfaçam

contradições, nada impede que esses vícios sejam postos em relevo na audiência de discussão e julgamento e se peçam aos peritos as explicações necessárias.

Não obstante o acabado de expor, importa porém atentar que, como vimos supra, do artº 61º do CE, e em sede de diligências instrutórias, cabe ao

tribunal ordenar as que considere serem úteis à decisão da causa, sendo que,

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a única que é de realização obrigatória, é a avaliação.

O referido, mostra-se em consonância com o preceituado nos artºs 6º, nº1 [

“ Cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela lei às partes, dirigir activamente o processo e providenciar pelo seu

andamento célere, promovendo oficiosamente as diligências necessárias ao normal prosseguimento da acção, recusando o que for impertinente ou meramente dilatório e, ouvidas as partes, adoptando mecanismos de simplificação e agilização processual que garantam a justa composição do litígio em prazo razoável” ] e 130º [“ Não é lícito realizar no processo actos inúteis” ] , ambos do CPC, ou seja, em sede da actividade de admissão da prova, não se impõe ao Juiz do processo um papel passivo, antes está “ obrigado” o julgador titular do processo a sindicar, quer a respectiva pertinência, quer outrossim a sua admissibilidade.

Dito de uma outra forma, e como bem se chama à atenção em Ac. do Tribunal da Relação de Guimarães (4), sendo certo que o direito à prova

constitucionalmente reconhecido (art.º 20º da CRP) faculta às partes a possibilidade de utilizarem em seu benefício os meios de prova que

considerarem mais adequados tanto para a prova dos factos principais da causa, como também para a prova dos factos instrumentais ou mesmo acessórios, tal não significa que todas as diligências requeridas devam ser deferidas, antes deverão ser admitidas tão só as legalmente admissíveis, pertinentes e não tenham cariz dilatório.

Alinhando por semelhante entendimento, o mesmo Tribunal da Relação de Guimarães, em diferente Acórdão (5) , decidiu já que, em sede de processo de expropriação, o tribunal pode indeferir as diligências que não considere úteis à decisão da causa, dispensando a produção de prova testemunhal ou a presença dos peritos em audiência para esclarecimentos, nos termos do artº 486º do CC, designadamente quando a considere desnecessária porque já foram prestados esclarecimentos por escrito.

Por último, não resistimos a, porque de todo pertinentes para a questão decidenda, transcrever de seguida parte do douto voto de vencido da Exmª Conselheira Ana Paula Boularot , proferido em Ac. do STJ de 11/12/2012 (6), do mesmo constando, que :

“(…)

Insurge-se ainda a Agravante contra a decisão recorrida porquanto na sua tese o indeferimento do pedido de esclarecimentos verbais dos Srs Peritos implica a violação dos princípios processuais da imediação e da oralidade, expressos nos artigos 588º e 652º, n.º 2 do CPCivil.

(…)

Conforme deflui do articulado legal referente ao recurso da arbitragem –

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artigos 56º a 64º do CExpropriações de 1991, aqui aplicável – nomeadamente do preceituado no artigo 61º, aquele diploma apenas é omisso no que tange ao processamento da avaliação, o que vale por dizer que neste particular,

inexistindo norma expressa, o mesmo comporta a aplicação das normas gerais do processo civil, aliás de acordo com o que a propósito vem consignado no normativo inserto no artigo 463º, nº1 e, assim sendo, bem se compreende que, com as devidas adaptações, tenha sido dado cumprimento ao preceituado no artigo 586º, quanto ao resultado da perícia, bem como ao preceituado no artigo 587º, este como aqueles do CPCivil, quanto à notificação do resultado da mesma às partes, apresentação por estas das suas reclamações e caso as mesmas sejam atendidas, decisão do Tribunal no sentido de os Srs Peritos completarem o Relatório.

Todos estes procedimentos foram oportunamente cumpridos pelo Tribunal de 1ª instância, com obediência ao principio do contraditório legalmente exigido e se não foi dado cumprimento ao disposto no artigo 588º do CPCivil, isto é, convocação dos Srs Peritos para prestarem esclarecimentos em sede de audiência final, tal não foi feito porque o processo de expropriação não comporta, como deflui inequivocamente do seu processado específico,

audiência de discussão e julgamento, e assim sendo, os esclarecimentos dos Srs Peritos foram prestados nos autos nos termos pretendidos pela Agravante e para os quais foram notificados, não havendo quaisquer outros

esclarecimentos a prestar, maxime, numa diligência judicial não prevista pela Lei expropriativa enquanto Lei especial que se sobrepõe àquela Lei geral que só é chamada quando existe uma situação lacunar e a sua aplicação não conflituar com aqueloutra.

No processo de expropriação não há lugar a audiência de discussão e julgamento, tal como a mesma se encontra configurada no processo civil, concretizando-se a discussão e o julgamento no mesmo com a apresentação das alegações das partes, findas que estejam as diligências de prova, nos termos do artigo 63º, seguindo-se a decisão com a fixação do montante indemnizatório, de harmonia com o disposto no artigo 64º, ambos os

dispositivos do C. Expropriações, cfr Osvaldo Gomes, ibidem, 386/387 e Ac STJ de 20 de Janeiro de 2005 (Relator Araújo Barros), inwww.dgsi.pt.

Assim sendo, não se vislumbra como é que a interpretação consignada no acórdão recorrido possa violar o disposto nos artigos 20º, nº1 e 62º, nº 2 da CRPortuguesa, coarctando, por um lado o acesso ao direito e aos Tribunais por banda dos interessados e, por outro, pondo em causa a fixação de uma justa indemnização, posto que o Tribunal cumpriu todas as regras processuais aplicáveis ao procedimento expropriativo bem como seguiu o iter legalmente adequado, isto é, com estrita obediência aos princípios da igualdade e do

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contraditório.

(…)

No que tange ao pedido formulado de novos esclarecimentos dos Srs Peritos, agora a prestar verbalmente em sede de audiência de julgamento, sobre as questões suscitadas na sequência dos esclarecimentos prestados pelos

mesmos a instâncias da Agravante, como se deixou referenciado, o processo expropriativo não contempla a existência de uma audiência de julgamento formal, nem comporta qualquer diligência de «esclarecimentos aos

esclarecimentos», quando este já tenham sido efectuados pelos Srs Peritos.”

Aqui chegados, e munidos dos contributos acima explanados, de natureza normativa e jurisprudencial, difícil não é agora concluir pela inevitável improcedência da apelação nesta parte.

Na verdade, e como bem se salienta no despacho recorrido, teve já o

expropriado a oportunidade de, ao abrigo do disposto no artº 485º, do CPC, solicitar todos os esclarecimentos tidos por convenientes no tocante ao

complemento da perícia de avaliação efectuada, os quais lhe foram fornecidos por escrito por todos os peritos.

Depois, recorda-se que, os aludidos pedidos de esclarecimento se dirigiram para um mero relatório pericial parcial, mandado elaborar por douto Acórdão proferido por este tribunal da Relação em 22/6/2016, ou seja, com vista ao esclarecimento tão só da eventual “aptidão edificativa dos “Espaço-Canal” e “ Espaço de Protecção e Enquadramento“ antes da entrada em vigor do PDM de Sintra, à luz do nº2 do artº 25º do CE.

Igualmente importa notar que, no requerimento atravessado nos autos em Abril de 2018 e pelo expropriado, e em rigor, não refere o mesmo não se encontrar devidamente esclarecido em sede de aspectos relacionados com a substância do parecer dos peritos, ou, sequer, não revela que os

esclarecimentos dos peritos ficaram muito aquém do que lhes era exigido, antes dá o expropriado a entender que todas as questões colocadas em sede de reclamação foram respondidas, mas, com as mesmas não concorda,

divergindo das conclusões/respostas apresentadas pelos peritos.

Finalmente, não prevendo de todo o CE e, outrossim, o próprio CPC, a possibilidade de, após o cumprimento do disposto no artº 485º, do CPC, poderem ainda as partes solicitarem a designação de uma audiência de

julgamento unicamente para que possa haver lugar ao cumprimento do nº 1, do artº 486º, tudo visto, forçoso é portanto concluir que a decisão apelada não é susceptível de qualquer censura, antes merece ser confirmada.

3.2- Da requerida realização de uma “nova” avaliação de forma a possibilitar que o perito, Engº Abel ….., nomeado pelo Tribunal e em substituição do perito indicado pelo Expropriado, tenha intervenção na referida diligência,

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que não apenas no âmbito dos pedidos de esclarecimento.

Impetra o expropriado recorrente que seja determinada uma nova avaliação de forma a possibilitar a intervenção na mesma, também, do perito, Engº Abel

….., nomeado pelo Tribunal e em substituição do perito indicado pelo Expropriado.

Neste conspecto, imposta tão só atentar que, o nº3, do artº 61º, do CE, é claro em expressar que “ Não há lugar a segunda avaliação”.

Depois, a ter ocorrido [ o que não se concebe ] uma qualquer irregularidade em sede de realização de avaliação, certo é que não foi a mesma arguida e suscitada no tempo e lugar próprio [ cfr. Artº 195º, do CPC ] a ponto de, a ser atendida, justificar-se a sua anulação e repetição ] , logo, a avaliação já

efectuada nos autos mostra-se válida e actuante, não se justificando a realização de qualquer outra.

Por último, e como bem frisa o tribunal a quo, certo é que, na sequência do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa, novamente foi tentada a notificação do Sr. Perito Carlos …… e, face à sua inviabilidade, determinou-se a sua

substituição por novo Perito que teve intervenção nos esclarecimentos prestados em 21.11.2017 e 27.03.2018.

Em suma, também nesta parte a apelação improcede.

Em conclusão, improcedendo in totum o recurso interposto pelo expropriado, a confirmação da decisão apelada impõe-se, sendo nossa convicção/

entendimento de que não incorreu o tribunal a quo em violação de qualquer disposição legal do CPC ou CE, ou, até, da CRP, não revelando o processado nos autos que tenha havido uma violação do direito à prova

constitucionalmente reconhecido (art.º 20 ) ou a violação do princípio do contraditório .

*

4. - Sumariando ( cfr. artº 663º, nº7, do CPC).

4.1 - No âmbito de processo de expropriação, e em face do disposto no artº 61º,nº1, do CE, pode o tribunal indeferir as diligências que não considere úteis à decisão da causa.

4.2.- Não comportando o processo de expropriação, obrigatoriamente, a

realização de uma audiência de julgamento, e tendo as “ partes” lançado mão da faculdade a que alude o artº 485º, do CPC, não se justifica a designação de audiência de julgamento formal apenas para efeitos de prestação de

esclarecimentos pelos peritos, nos termos do artº 486º, do CPC.

* 5. - Decisão.

Termos em que,

acordam os Juízes na 6ª Secção Cível do Tribunal da Relação de Lisboa, em ,

(13)

julgando a apelação de C totalmente improcedente:

5.1. - Manter a decisão apelada.

Custas da apelação pelo apelante.

***

(1) Cfr. o Ac. do STJ, de 11-02-2010, proferido no Proc. nº 09B0280, sendo Relator SANTOS BERNARDINO, e in www.dgsi.pt.

(2) Acórdão de 07-01-2016, Proc. nº 3743/13.5TBGMR-A.G1, e in www.dgsi.pt.

(3) In Código de Processo Civil Anotado , Volume VI , 1987, pág 270.

(4) Cfr. Acórdão de 11-07-2017, Proc. nº 828/15.7T8VCT.G1, e in www.dgsi.pt.

(5) Cfr. Acórdão de 11-07-2017, Proc. nº 384/12.8TBVPA.G1, e in www.dgsi.pt (6) Proferido no Proc. nº 179/1999.L1.S1, e de 3/12/2015, Proc. nº

3217/12.1TTLSB.L1.S1, ambos in www.dgsi.pt.

***

LISBOA, 11/10/2018

António Manuel Fernandes dos Santos ( O Relator)

Eduardo Petersen Silva ( 1º Adjunto)

Cristina Isabel Ferreira Neves ( 2ª Adjunta)

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