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 A Empatia e

 A Empatia em Edith m Edith Stein Stein

 Empathy according to Edith Stein  Empathy according to Edith Stein

Renaldo Elesbão de Almeida  Renaldo Elesbão de Almeida 

ISTA ISTA

Resumo Resumo

Nossa pesquisa sobre

Nossa pesquisa sobrea empatia como condição constitutiva da pessoa humana em a empatia como condição constitutiva da pessoa humana em Edith Stein Edith Stein  tem por objetivo armar tem por objetivo armar o ser humano enquanto pessoa capaz de vivenciar a intersubjetividade no reconhecimento do outro como o ser humano enquanto pessoa capaz de vivenciar a intersubjetividade no reconhecimento do outro como substrato da formação humana. Para esse escopo, faremos uma análise fenomenológica da relação fundamental substrato da formação humana. Para esse escopo, faremos uma análise fenomenológica da relação fundamental  vivida no encontro entre indivíduos que se reconhecem como semelhantes e que apreendem e compreendem as  vivida no encontro entre indivíduos que se reconhecem como semelhantes e que apreendem e compreendem as

experiências alheias. Em seguida, iniciaremos nos perguntando como

experiências alheias. Em seguida, iniciaremos nos perguntando como a empatia é constituída e a empatia é constituída e como se desenvolve,como se desenvolve, sobre o conhecimento da experiência alheia e se vivemos a mesma experiência originária da apreensão do sobre o conhecimento da experiência alheia e se vivemos a mesma experiência originária da apreensão doalteralter ego

ego. Apresentaremos a empatia como compreensão de pessoas espirituais enquanto sujeito que se . Apresentaremos a empatia como compreensão de pessoas espirituais enquanto sujeito que se constitui pessoaconstitui pessoa própria. T

própria. Torna-se possível, desse modo, o respeito à dignidade peculiar do orna-se possível, desse modo, o respeito à dignidade peculiar do outro como constituição mútua entreoutro como constituição mútua entre as pessoas humanas. Usaremos, portanto, a primeira obra losóca de Stein,

as pessoas humanas. Usaremos, portanto, a primeira obra losóca de Stein, Zum Problem der EinfuhlungZum Problem der Einfuhlung (Sobre(Sobre o problema da empatia), como base para nossa pesquisa, bem como outras obras da autora e comentadores que o problema da empatia), como base para nossa pesquisa, bem como outras obras da autora e comentadores que tratam da empatia em conformidade com a visão de Stein.

tratam da empatia em conformidade com a visão de Stein.

Palavras-chave:

Palavras-chave: empatia, intersubjetividade, pessoa humana.empatia, intersubjetividade, pessoa humana.

 Abstract  Abstract

Our research

Our research on empathy ason empathy as aa constitutive condition constitutive condition of of the human the human person person  in Edith Stein, aims to afrm the human in Edith Stein, aims to afrm the human being as a person able to experience inters

being as a person able to experience intersubjectivity in recognition of ubjectivity in recognition of the other as a substrate of the other as a substrate of humanhuman formation. To this scope will make a phenomenological analysis of

formation. To this scope will make a phenomenological analysis of the fundamental relationship experienced inthe fundamental relationship experienced in the encounter between individuals who recognize how similar

the encounter between individuals who recognize how similar and that perceive and understand the experiencesand that perceive and understand the experiences of

of others. Then we started asking us hothers. Then we started asking us how empathy is constituted and hoow empathy is constituted and how it develops and the know it develops and the knowledge of wledge of thethe experience of

experience of others and livothers and live the same original exe the same original experience of perience of the seizure of the seizure of thethealter egoalter ego. And present empathy as. And present empathy as understanding of

understanding of spiritual people as individuals who constitutes himself. It is thus possible to regard the peculiarspiritual people as individuals who constitutes himself. It is thus possible to regard the peculiar dignity of

dignity of the other as mutual constitution the other as mutual constitution of of human persons. Therefore, whuman persons. Therefore, we use the rst philosophical we use the rst philosophical work ofork of Stein,

Stein,Zum Problem der EinfuhlungZum Problem der Einfuhlung (On the problem of (On the problem of empathy), based on our researcempathy), based on our research as also other works oh as also other works of f thethe author and commentators dealing empath

author and commentators dealing empathy in accordance with the vision of y in accordance with the vision of Stein.Stein.

Keywords

Keywords: empathy, intersubjectivity, human person.: empathy, intersubjectivity, human person.

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 A E

 A Empa mpa tia tia em em Edi Edith th Ste Ste in in

Renaldo Elesbão de Almeida Renaldo Elesbão de Almeida

Instituto São Tomás de Aquino Instituto São Tomás de Aquino

Belo Horizonte – MG

Belo Horizonte – MG

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Cadernos IHU é uma publicação mensal impressa e digital do Instituto Humanitas Unisinos – IHU, apresenta artigos que abordam temas con- cernentes à ética, sociedade sustentável, trabalho, mulheres e novos sujeitos sócio-culturais, teologia pública, que correspondem às áreas de trabalho do Instituto. Divulga artigos provenientes de pesquisas produzidas por professores, pesquisadores e alunos de pós-graduação, assim como trabalhos de conclusão de cursos de graduação. Seguindo a herança dos Cadernos CEDOPE, esse periódico publica artigos com maior espaço de laudas, permitindo assim aos autores mais espaço para a exposição de suas teorias.

UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS Reitor: Marcelo Fernandes de Aquino,SJ

 Vice-reitor: José Ivo Follmann,SJ INSTITUTO HUMANITAS UNISINOS

Diretor: Inácio Neutzling,SJ Gerente administrativo: Jacinto Schneider

 www.ihu.unisinos.br

Cadernos IHU  Ano XII – Nº 48 – 2014

ISSN 1806-003X (impresso)

Editor: Prof. Dr. Inácio Neutzling – Unisinos

Conselho editorial: MS Caio Fernando Flores Coelho; Profa. Dra. Cleusa Maria Andreatta; Prof.MS Gilberto Antônio Faggion; Prof. MS Lucas Henri- que da Luz; MS Marcia Rosane Junges; Profa. Dra. Marilene Maia; Dra. Susana Rocca.

Conselho cientíco: Prof. Dr. Agemir Bavaresco,PUCRS, doutor em Filosoa; Profa. Dra. Aitziber Mugarra, Universidade Deusto, Espanha, doutora em Ciências Econômicas e Empresariais; Prof. Dr. André Filipe Z. Azevedo, Unisinos, doutor em Economia; Prof. Dr. Castor M. M. B. Ruiz, Unisinos, doutor em Filosoa; Prof. Dr. Celso Cândido de Azambuja, Unisinos, doutor em Psicologia; Dr. Daniel Naras Vega,OIT, Itália, doutor em Ciências Políticas; Prof. Dr. Edi-

son Gastaldo, Unisinos, pós-doutor em Multimeios; Profa. Dra. Élida Hennington, Fiocruz, doutora em Saúde Coletiva; Prof. Dr. Jaime José Zitkosky,UFRGS,

doutor em Educação; Prof. Dr. José Ivo Follmann, Unisinos, doutor em Sociologia; Prof. Dr. José Luiz Braga, Unisinos, doutor em Ciências da Informação e da Comunicação; Prof. Dr. Werner Altmann, doutor em História Econômica.

Responsável técnico:MS Caio Fernando Flores Coelho.

Revisão: Carla Bigliardi

 Arte da capa:  tomasinhache (www.solilente.wordpress.com) Editoração eletrônica: Rafael Tarcísio Forneck 

Impressão:Impressos Portão

Cadernos IHU / Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Instituto

Humanitas Unisinos. – [Ano 1, n. 1 (2003)]- . – São Leopoldo: Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2003- .

 v.

Irregular, 2003-2012 ; Mensal, 2013-.

Fusão de: CadernosCEDOPE : série cooperativismo e desenvolvimento rural e urbano; com CadernosCEDOPE : série população e família;

com CadernosCEDOPE : série movimentos sociais e cultura; e, CadernosCEDOPE : série religiões e sociedade.

Publicado também on-line: <http://www.ihu.unisinos.br/cadernos-ihu>.

Descrição baseada em: [Ano 1, n. 1 (2003)] ; última edição consultada: Ano 12, n. 46 (2014).

ISSN 1806-003X 

1.Sociologia. 2.Religião. 3.Trabalho. I.Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Instituto Humanitas Unisinos.

CDU 316 2 331 Bibliotecária responsável: Carla Maria Goulart de Moraes – CRB 10/1252

_______________________

ISSN 1806-003X (impresso)

Solicita-se permuta/Exchange desired.

 As posições expressas nos textos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores.

 Toda a correspondência deve ser dirigida à Comissão Editorial do Cadernos IHU:

Programa de Publicações, Instituto Humanitas Unisinos – IHU

Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos

 Av. Unisinos, 950, 93022-000, São Leopoldo RS Brasil  Tel.: 51.3590 8213 – Fax: 51.3590 8467

Email: humanitas@unisinos.br

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Sumário

Introdução ... 4

1. A fenomenologia da empatia: o método ... 7

1.1 A redução eidética ... 9

1.2 A redução transcendental ... 13

1.3 O ato da percepção ... 14

1.4 O ato da reexão ... 15

2. O que é empatia? ... 20

2.1 O conhecimento da experiência alheia ... 24

2.2 As experiências originárias e não originárias ... 28

3. A empatia como compreensão de pessoas espirituais ... 34

3.1 O sujeito espiritual ... 40

3.2 Relevância da empatia para a constituição da pessoa própria ... 45

Considerações Finais ... 53

Referências Bibliográcas ... 56

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4

Introdução

“O ‘próximo’ não é aquele que ‘eu amo’.

 É todo ser que passa perto de mim.”

Edith Stein

O ser humano na sua constituição enquanto pessoa é espiritual, é livre e vive per- meado de vivências pessoais e interpessoais. Essa relação é de fundamental importância no que tange à totalidade da pessoa humana. O homem sendo pessoa não é um ser iso- lado das outras pessoas, nem totalmente preso às determinações da natureza, pois possui a possibilidade de transcendência para a sua constituição pessoal. Os intercâmbios de  vivências podem favorecer, desse modo, a harmonia entre os sujeitos que, por serem  vistos como tais, surgem e conferem dignidade e respeito ante o outro e a comunidade.

Edith Stein percebe a necessidade de analisar os atos da pessoa numa tentativa de des- crever a gênese das vivências que o homem vive nas suas experiências intersubjetivas.

 A abordagem do ser humano num clima positivista das ciências que o concebia como objeto experimental é, para Stein, de suma importância. Ela vê na empatia a possibilidade de evidenciar a dimensão espiritual da pessoa humana sem descartar a vida psicofísica do indivíduo circundado de outros indivíduos e coisas. Nesse sentido, a autora acreditara contribuir, com sua tese de doutorado Zum Problem der Einfuhlung (Sobre o problema da empatia), para uma claricação na pergunta antropológica tão cara à existência humana, a saber: que é o homem?

 A modernidade

1

 “descobriu” e exaltou a subjetividade, mas desconheceu a neces- sidade do eu de sair ao encontro do alter ego gerando uma espécie de solipsismo, isto é, o eu isolado. O outro, desse modo, aparece, mas permanece ausente, pois o egoísmo é insipiente à transcendência. Para Stein, somente se pode compreender o homem se o for considerado em unidade entre o reino natural e espiritual. Stein analisa o conceito de liberdade quando aborda o sujeito entre as vivências no uxo da consciência enquanto

1 Cf.

 ABBAGNANO

, Nicola.

Dicionário de losoa 

. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000, p. 679.

(7)

12

O que signica um corpo próprio?

14

 Movimento. Algo assim ininterruptamente vi-  vendo quer indicar um eu   pleno de possibilidades. A pessoa, nesse conceber, é rodeada de situações externas que inuenciam a vivência. A suspensão do juízo de buscar responder o que é a coisa, seu sentido é fundamental. No que se refere ao ser humano, a comple- xidade é mais ampla, cuja vida anímica corporal difere de todos os seres corpóreos, ou seja, o corpo humano é sustentado por um centro, cujo interior emana individualidade na sua vivência, uma particularidade não totalmente dizível e exprimível. Por causa disso é preciso a epoché   a m de captar o sentido.

Segue daí a pergunta: Posso apreender o sentido da coisa? Percebo vários sons ao meu redor, dentre esses fenômenos, ouço um som. Inicio a busca do sentido do som e desperto a consciência para excluir tudo o que não seja o som. A coisa física é-me dada hic et nunc   e na esfera ideal, isto é, sicamente aqui   e agora   e em eidos  . Desse caminho feito, posso captar a sonoridade do sino manifestada. Por meio da redução, analiso os traços dos sons e suspendo o barulho, excluo o contingente e co com o necessário, o som do sino.

Nessa perspectiva, o processo da fenomenologia é descobrir as essências   pela redução eidética  . Esta consiste em observar o dado expressivo e ver dentro dele seu signicado, pela descrição das essências, partindo dos fenômenos observados. Nesse conceber, Stein diz que, “Com efeito, não só o que se expressa em semblantes e gestos, mas o que se oculta atrás. Acaso vejo que alguém põe um semblante triste, porém na verdade não está aito”

15

.

No caso descrito acima, ca clara a importância da redução, pois há o risco de pre- julgamentos, caso se detenha na aparência sem se perguntar pelo sentido. Isto só se pode conhecer adentrando além da aparência sensível dada. As ciências positivas, no caso do Positivismo, têm a função de descrever as aparências dotadas de contingência e deixar a ideia da coisa. As aparências são mais fáceis de ver, enquanto o sentido exige esforço, pois necessita apreender a ideia.

expressão “corpo vivo” por “corpo próprio”, cujo signicado é peculiar à autora. Ele é corpo habitado por um eu consciente.

14 Cf.

STEIN

, Edith. Sobre el problema de la empatía  . p. 81. Na nota de rodapé encontramos o esclarecimento do termo alemão Leib   ou “corpo” próprio, animado ou, ainda, vivente, que diferencia de Korper  . Este corresponde “a coisas materiais e a seres orgânicos enquanto corpos físicos”. Pelo corpo o homem se faz presente no mundo e ocupa o ponto zero, ou seja, somente ele pode estar ocupando um lugar como expressividade de convergência pontual de comunicação de atos. Sua postura compreende seu modo de ser ante a natureza e o mundo biológico, tudo numa esfera mundana de espaço-tempo, por isso, o corpo próprio é ponto de orientação.

15 “En efecto, no sólo sé lo que se expresa en semblantes y gestos, sino lo que se oculta detrás. Acaso veo

que alguien um semblante triste, pero en verdade no está aigido.”

STEIN

, Edith. Sobre el problema de la

empatía  . p. 81-82.

(8)

13

Há, ainda, vários modos do dar-se nas relações existentes, ou melhor, nas mani- festações. Os atos que o sujeito vive não são todos iguais, nem são todos dizíveis, nem desvelados totalmente nos traços expressivos, mas a fenomenologia na sua primeira etapa, a redução eidética  , tem a função de escavar e descrever os atos. Todavia, na etapa que segue deve ser claricada para uma melhor compreensão, na nossa pesquisa, sobre o método em questão. O eu também sobre redução. Nesta nova etapa, seguimos com a seguinte pergunta: Por que a pessoa busca sentido?

1.2 A redução transcendental

Do fato à essência  . A redução, agora, é ao sujeito. Essa é a segunda característica primordial do método fenomenológico.  Eu coloco entre parênteses o próprio eu. O eu, as- sim, deve libertar-se do apego de toda vivência passada para não interferir nesse vivenciar.

Isso não signica anular as experiências passadas. O meio dessa relação intersubjetiva, ou seja, relações de subjetividades, precisa ser baseado na participação livre e consciente de uma experiência única e irrepetível. Os olhos do eu   ao alter ego devem estar livres de pré- juízos. O sentido da coisa é o que está em questão, não podendo ser aceito um “sentido”

que não seja fruto de um método rigoroso para salvaguardar a verdade do fenômeno, não relativo à produção espontânea de sentido, mas encontrar o sentido em si mesmo.

Para isso, faz-se mister analisar o sujeito humano como ponto de partida de todo conhecimento. Na fenomenologia, o método de redução é de suma importância. Pois, nesse percorrer a essência, o eu   deve estar cônscio de que é sujeito reetindo sobre suas  vivências. Puricar a consciência é sumamente importante a uma evidenciação da coisa

em si. O exemplo a seguir ajuda a entender essa estrutura do ser sujeito, a saber:

 Vemos, sobre a mesa, o copo que antes já estava lá, podíamos vê-lo, mas não tínhamos presta- do atenção nele. Esta é uma coisa interessante que apresenta dois níveis. Antes víamos o copo, mas não fazíamos uma reexão, talvez porque não estivéssemos com sede. Agora, tenho sede e começo a prestar atenção. [...] Porém, no momento em que tivemos uma experiência perceptiva do copo, ele estava também dentro de nós. De que modo estava dentro? Nós sabíamos que o copo existia, portanto estar dentro signica saber que o copo existe. Enquanto estávamos viven - do o ato perceptivo (o ato de ver o copo), poderíamos perguntar do que esse ato era formado.

Sabemos que esse ato perceptivo era formado pelo ver o copo e também pelo copo, ali, diante dos olhos. Enquanto coisa física, enquanto visto, onde estava? Dentro. Temos aí o ato de ver, e enquanto vivemos o ato, estamos vivendo o copo-visto dentro de nós.

16

16

BELLO

, Angela, Ales. Introdução à fenomenologia  . p. 27.

(9)

14

O exemplo acima indica um sujeito com consciência ante o fenômeno, contudo, a intencionalidade se apresenta a partir do momento da sede. Ver o copo passa a signicar para o sujeito quando ele reete sobre ele. A reexão aqui tem função essencial no pro- cesso cognoscitivo. A coisa cognoscível é atingida pelo ato gnosiológico do eu  . Este se dirige intencionalmente ao objeto e, com isso, dá-se conta do copo dentro da consciência.

Mesmo sem fazer nele reexão.

Este ato, de ver o copo que está fora e dentro, é a esfera da percepção como um ato de entrar na coisa e até tê-la em si mesmo. Daí se segue a reexão do objeto que está dentro. O copo, assim, passa a ser objeto de reexão. A coisa que é vista e apreendida, co- mo exemplo: vejo uma caneta na minha mesa

17

 e preciso dela para escrever. Pego-a. Aqui temos dois atos, um ver e o outro tocar. A percepção da caneta me faz ter consciência dela e ir, intencionalmente, até ela e pegá-la. Enquanto toco, vivencio dentro de mim a caneta que intencionalmente desejo possuir. O ser humano possui essa magníca estrutura de possibilidade de perceber e apreender o sentido das coisas.

1.3 O ato da percepção

O ato perceptivo é o ato que dá acesso ao sujeito na sua vivência pessoal. Sua interioridade, dessa forma, passa a ser objeto de reexão, formando assim outra vivên- cia reexiva. Este ato concebe uma consciência sabedora de algo capaz de entender e apreender o dado perceptivo no seu sentido eidético.

 A análise fenomenológica do perceber supera o plano da percepção e atua no nível de uma vi-  vência que é a reexão. Trata-se da vivência da reexão, diversa da percepção e importantíssima para o ser humano. Podemos dizer também que reetir signica ter consciência: nesse caso, a consciência correspondente a um primeiro saber algo, não a uma reexão sobre algo.

18

E, ainda, toda vivência intencional tem duas dimensões: a subjetiva, do sujeito transcendental do ato de perceber, a  noésis  ; e do objeto cognoscível na consciência, a coisa percebida, a noéma 

19

. O mundo físico é percebido: “A percepção é uma porta, uma forma de ingresso, uma passagem para entrar no sujeito, ou seja, para compreender como é que o ser humano é feito”

20

. Ato de perceber a caneta sobre a mesa é aqui e agora  , isto é, dentro do espaço e do tempo em que estamos vivendo. A caneta aparece revestida de

17 Há um exemplo semelhante a este no livro Introdução à fenomenologia   de Angela Ales Bello. p. 28.

18

BELLO

, Angela Ales. Fenomenologia e Ciências Humanas:   psicologia, história e religião. p. 90.

19 Cf.

BELLO

, Angela Ales. A Fenomenologia do ser humano: traços de uma losoa no feminino. Trad.

de Antonio Angonese. Bauru, São Paulo: Edusc, 2000, p. 44.

20

BELLO

, Angela Ales. Introdução à fenomenologia  . p. 30.

(10)

15

contingências e, por isso, carece da pergunta: o que é a caneta? E o que é o sentido dela para o homem?

 Assim sendo, a dimensão que trata da última indagação remete à consciência, pois

“A consciência é uma luz interior que acompanha todos os atos”

21

. A transladação dos atos perceptivos à consciência se desenvolve por meio da visão e do tato, no caso do exemplo da caneta sobre a mesa. A capacidade inerente ao homem de dar-se conta de algo é próprio da consciência. A intencionalidade parte do eu para algo. Nessa ótica, o eu se abre à intersubje- tividade de maneira intencional e consciente. Ver e tocar são atos e, ainda, perceber que ver e que toca são atos vivenciados pelo sujeito cognoscente. O registro feito da res   é sucedido pela consciência que ilumina e acompanha todos os passos da vivência. Nesse conceber:

Consciência, neste caso, não quer dizer que a cada momento nós temos que dizer “agora esta- mos vendo, agora estamos tocando”. Consciência signica que, enquanto nós olhamos, nos da - mos conta de que estamos vendo, ou que enquanto tocamos nos damos conta de tocar. Depois podemos fazer uma

reexão

 sobre essa consciência, como estamos fazendo agora.

22

1.4 O ato da reexão

Nesse processo de redução transcendental, entramos em um novo ato, o ato ree - xivo. O que isso quer dizer? Num grau de conhecimento superior. A caneta percebida é elevada até a consciência: “Assim, temos o primeiro nível de consciência que é o nível dos atos perceptivos, e um segundo nível de consciência que é o nível dos atos reexivos”

23

.

Só ao homem são reservadas essas vivências. Ele é um ser potencialmente dotado de capacidade de reexão, isto é, de dar-se conta do que está fazendo. Um ser que percebe e que percebe-se. Por exemplo, percebo que meu amigo percebeu a caneta caindo. Em ou- tras palavras: vejo a caneta caindo da mesa e vejo meu amigo vendo-a. Há aqui dois atos:

o de perceber a caneta e de perceber meu amigo percebendo. Também posso perceber a caneta caindo e perceber que estou percebendo.

Daí deriva a necessidade da reexão ao homem como parte constitutiva da subje- tividade, junto a si mesmo. Isso implica uma fenomenologia encarregada de investigar o que é a coisa que aparece segundo sua essência  . Pois, o método losóco, assim, procura ser el à descrição eidética  . Sem dúvida, a fenomenologia é ciência da consciência pura, e esta tende a procurar a estrutura última de cada vivência. Assim:

21

STEIN

, apud

BELLO

. Introdução à fenomenologia  . p. 97.

22

BELLO

, Angela Ales. Introdução à fenomenologia  . p. 32-33.

23

BELLO

, Angela Ales. Introdução à fenomenologia  . p. 33.

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