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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

1.0000.20.514809-1/001

Número do Númeração 5004959-

Des.(a) Wilson Benevides Relator:

Des.(a) Wilson Benevides Relator do Acordão:

26/01/0021 Data do Julgamento:

02/02/2021 Data da Publicação:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E MATERIAIS - INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DE FESTIVIDADE - DANO MATERIAL COMPROVADO - DANO MORAL DECORRENTE DA CIRCUNSTÂNCIA VIVENCIADA - VALOR ARBITRADO EXCESSIVO - REDUÇÃO - JUROS DE MORA - TERMO INICIAL - DATA DO EVENTO DANOSO - PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. Demonstrado o nexo causal, a concessionária prestadora de serviço público responde de forma objetiva pelos prejuízos decorrentes de interrupção de energia elétrica em festividade, seja à luz do Código de Defesa do Consumidor, seja pela disposição do texto constitucional. A interrupção do fornecimento de energia elétrica em decorrência de eventos naturais, como, por exemplo, descargas atmosféricas, não constitui excludente de responsabilidade, eis que se trata de risco inerente à atividade desenvolvida pela CEMIG. Os danos materiais precisam ser devidamente comprovados para que possam ser reparados, ônus do qual se desincumbiram as autoras. No tocante ao dano moral, desnecessária se mostra a prova do abalo psicológico sofrido, haja vista ser este extraído da própria circunstância vivenciada pelas demandantes. Na falta de provas concretas que evidenciem a extensão do abalo psicológico sofrido, impõe-se a redução do valor arbitrado a título de dano moral, o qual deve ser estabelecido a partir de uma análise objetiva da gravidade da lesão e dos efeitos de ordem moral daí decorrentes. Nos termos da Súmula 54, do col. STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual".

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.514809-1/001 - COMARCA DE IPATINGA - APELANTE(S): COMPANHIA ENERGETICA DE MINAS GERAIS-

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CEMIG - APELADO(A)(S): ANA PAULA GONCALVES PEREIRA, CLAUDIA GONCALVES PEREIRA, S.L.G.P. REPRESENTADO(A)(S) P/ MÃE S.G.P.

A C Ó R D Ã O

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. WILSON BENEVIDES RELATOR.

DES. WILSON BENEVIDES (RELATOR)

V O T O

Trata-se de recurso de Apelação interposto contra a sentença de ordem nº 67, aclarada pela decisão de ordem nº 73, proferida pelo MM. Juiz de Direito da Vara da Fazenda Pública e Autarquias da Comarca de Ipatinga, que nos autos da Ação Ordinária de Indenização por Dano Material e Moral proposta por CLAUDIA GONÇALVES PEREIRA, ANA PAULA GONÇALVES PEREIRA e SOPHIA LARA GONÇALVES PEREIRA, neste ato representada por SHEILA GONÇALVES PEREIRA, em face de CEMIG DISTRIBUIÇÃO S/A, julgou procedente o pedido inicial, condenado a ré ao pagamento de danos materiais, no valor de R$7.941,20, e de danos morais, no montante de R$10.000,00 para cada autora.

Restou consignado que sobre os danos materiais incidiria correção monetária desde o desembolso e juros de mora a partir da citação e,

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quanto ao dano moral, correção monetária desde a data do arbitramento e juros de mora desde a citação.

Inconformada, a requerida alega, nas razões recursais de ordem n° 75, que inexiste nos autos documento que comprove a efetiva perda dos insumos adquiridos pela autora. Sublinha que, com base na teoria subjetiva do risco administrativo, não agiu com culpa, tomando as medidas necessárias e adequadas que lhe são pertinentes. Assim, defende que não pode ser responsabilizada por caso fortuito.

Assevera que inexistem provas sobre a existência dos danos morais.

Salienta que o montante a título de danos morais não respeita os princípios da razoabilidade e proporcionalidade, não observando seu caráter compensatório, devendo ser decotado ou minorado.

Por fim, aduz que a correção monetária e os juros de mora devem incidir somente a partir da data de arbitramento.

Nesses termos, pugna pelo provimento do recurso, visando à improcedência dos pedidos da inicial. Eventualmente, pugna pela redução da indenização a título de danos morais.

Contrarrazões ofertadas à ordem n° 78, pugnando, em suma, pelo desprovimento do apelo.

Parecer da douta Procuradoria-Geral de Justiça à Ordem 82, opinando pelo desprovimento do recurso.

É, em breve síntese, o relatório.

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso voluntário e o recebo em seus regulares efeitos.

Cinge-se a controvérsia em aferir a responsabilidade civil da CEMIG Distribuição S/A pelos danos materiais e morais supostamente causados às autoras devido à interrupção do serviço de fornecimento de energia elétrica em propriedade rural alugada para uma

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festividade, o que provocou o cancelamento da comemoração e consequente perda dos insumos.

Consoante estabelece o artigo 22, da Lei nº 8.078/90, os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Acrescenta o parágrafo único, do dispositivo legal, que "nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código".

Por derradeiro, a responsabilidade do fornecedor de serviços é prevista no artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor, senão vejamos:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi fornecido.

(...)

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado

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quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Além, não se deve negligenciar que, por se tratar de relação com concessionária de serviço público, aplica-se a excepcional Responsabilidade Civil Objetiva, a qual dispensa a conduta culposa para a caracterização do dever de reparar a lesão.

Nessa seara, seja à luz do Código de Defesa do Consumidor, seja por envolver concessionária prestadora de serviço público, tem-se que os requisitos indispensáveis são a conduta da concessionária, a existência de dano e o nexo causal entre ambos, não havendo, portanto, de se falar em dolo ou culpa do ente. O texto constitucional de 1988 não permite dúvidas:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

§ 6º As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. (grifamos)

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Partindo dessas premissas, passa-se ao exame das particularidades do caso concreto.

Segundo extrai-se da exordial, as requerentes programaram-se para realização de uma festa, a ocorrer no local denominado Sítio Amorim, no dia 24/02/2018, às 20h, para comemoração do aniversário de 35 anos das gêmeas Cláudia Gonçalves Pereira e Ana Paula Gonçalves Pereira e de 05 anos de Sophia Lara Gonçalves Pereira. Afirmam que foram convidadas 150 pessoas e tiveram gastos de aproximadamente R$7.941,30 (sete mil novecentos e quarenta e um reais e trinta centavos).

Relatam que, no dia do evento, às 18h30, o fornecimento de energia elétrica foi interrompido, o que teria sido restabelecido apenas às 9h do dia seguinte. Diante disso, alegam ter sofrido prejuízos de ordem material, na monta de R$7.941,30, e moral, pelos quais pedem a condenação da CEMIG.

Os documentos colacionados juntamente com a inicial são capazes de demonstrar a veracidade da alegação autoral no sentido de que uma festa seria realizada no Sítio Amorim, no dia 24/02/2018, às 20h, conforme se denota de cópia de convite trazido e dos diversos recibos para prestação de serviços ou insumos para a festividade na referida data e local. Cuidaram também de trazer o protocolo da solicitação feita junto à CEMIG pela falta de energia elétrica.

A CEMIG, por sua vez, sustenta que não pode ser responsabilizada por caso fortuito, eis que a interrupção da energia elétrica ocorreu em razão de descarga elétrica, e que não agiu com culpa, tomando todos os cuidados que tem por obrigação na prestação do serviço público.

Não obstante, verifica-se que a apelante não se se desincumbiu de demonstrar qualquer excludente de sua responsabilidade, seja culpa exclusiva da vítima, caso fortuito ou força maior, ou fato exclusivo de terceiro.

Entrementes, a interrupção do fornecimento de energia elétrica em

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decorrência de eventos naturais, como, por exemplo, descargas atmosféricas, não constitui excludente de responsabilidade, eis que se trata de risco inerente à atividade desenvolvida pela requerida CEMIG.

Não obstante as alegações da concessionária ré, certo é que as condições atmosféricas e climáticas configuram fortuito interno, o que não exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte de sua atividade e liga-se aos riscos do empreendimento. Destarte, por se tratar de fato inerente ao serviço público de fornecimento de energia elétrica, exsurge incapaz de afastar sua responsabilidade civil pelos danos causados aos consumidores afetados.

Ora, é de se esperar da prestadora do serviço público, no desempenho de suas atividades, a observância e a manutenção de medidas hábeis a assegurar a continuidade do fornecimento da energia elétrica, sendo, pois, induvidosa, no caso dos autos, a omissão danosa da concessionária do serviço público.

Nesse sentido, já se pronunciou a jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO REGRESSIVA DE RESSARCIMENTO.

SEGURADORA. CEMIG. TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO. DANOS C A U S A D O S E M A P A R E L H O S D O S E G U R A D O . D E S C A R G A S ELÉTRICAS. PROVA DO DANO E DO NEXO DE CAUSALIDADE.

INEXISTÊNCIA DE EXCLUDENTES. FORTUITO INTERNO. DEVER DE INDENIZAR. CONFIGURAÇÃO. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.

1. O Supremo Tribunal Federal consolidou o entendimento de que, no caso de danos decorrentes de atos comissivos ou omissivos, a responsabilidade do Estado e das pessoas jurídicas prestadoras de serviço público é objetiva, nos termos do art. 37, §6º, da Constituição da República.

2. Comprovado que os danos causados nos aparelhos dos segurados foram causados em virtude de comportamento omissivo atribuível à concessionária, forçoso o reconhecimento do dever de indenizar.

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3. Nos termos da jurisprudência pátria, os "fortuitos internos" - como o são as descargas elétricas -, se enquadram no risco da própria atividade desenvolvida pela concessionária de serviço público, não possuindo o condão de romper o nexo de causalidade.

(...) (TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.168396-0/001, Relator(a): Des.(a) Wagner Wilson , 19ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 14/05/2020, publicação da súmula em 20/05/2020)

APELAÇÃO - AÇÃO DE REGRESSO - CEMIG - SEGURADORA SUBROGATÁRIA DOS DIREITOS CONSUMERISTAS DOS SEGURADOS - APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - APLICAÇÃO PONDERADA - DANOS EM APARELHOS ELETRÔNICOS - D E S C A R G A S E L É T R I C A S - C A U S A A L E G A D A - P A R C I A L COMPROVAÇÃO MÍNIMA DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO - A R T I G O 3 7 3 , I N C I S O I , D O C P C - R E S S A R C I M E N T O D E V I D O PARCIALMENTE - CAUSA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE - INEXISTÊNCIA - FORTUITO INTERNO - CORREÇÃO MONETÁRIA E JUROS DE MORA - REDISTRIBUIÇÃO DOS ÔNUS SUCUMBENCIAIS - HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS - MAJORAÇÃO.

(...) - O fato de os danos terem sido causados por descargas atmosféricas, provenientes de fortes chuvas, não implica o reconhecimento da caracterização de causa excludente de responsabilidade (força maior), já que as descargas elétricas são consideradas fortuitos internos no caso específico em análise, porque estão diretamente relacionadas à atividade econômica explorada pela concessionária de serviço público. (...) - Corroborado o provimento parcial do apelo interposto, imperativa desponta-se a redistribuição dos ônus sucumbenciais, à luz da dicção do artigo 86 do CPC.

- O Tribunal, ao julgar recurso, deve proceder à majoração da verba honorária de sucumbência, de forma a remunerar o trabalho adicional

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realizado em grau recursal. (TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.107088- 7/001, Relator(a): Des.(a) Maurício Soares , 3ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 31/10/2019, publicação da súmula em 01/11/2019)

APELAÇÃO CÍVEL - ACÃO DE REGRESSO - CONTRATO DE SEGURO DE DANOS - OCORRÊNCIA DO SINISTRO - PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO - SUB-ROGAÇÃO DA SEGURADORA NOS DIREITOS DO SEGURADOR - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - REQUISITOS PREENCHIDOS - RECURSO PROVIDO.

- A concessionária de serviço público de energia elétrica responde objetivamente frente à seguradora sub-rogada no direito do segurado, cujos equipamentos foram danificados por oscilação da rede elétrica.

- Cabe à distribuidora da energia elétrica, em linha ao art. 14 do Código de Defesa do Consumidor, prover mecanismos de proteção da estabilidade da rede, inclusive em relação a descargas atmosféricas.

- (...) (TJMG - Apelação Cível 1.0000.19.092922-4/001, Relator(a): Des.(a) Versiani Penna , 19ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 21/11/2019, publicação da súmula em 27/11/2019)

Neste diapasão, o artigo 6º, da Lei nº 8.987/1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão da prestação de serviços públicos previsto no art. 175 da Constituição Federal, destaca que toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, com a satisfação das condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade das tarifas.

Por sua vez, a Resolução nº 414, da ANEEL, que estabelece as condições gerais de fornecimento de energia elétrica de forma

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atualizada e consolidada, estabelece, no §3º, do artigo 140, as hipóteses nas quais não há descontinuidade do serviço, a saber:

Art. 140. A distribuidora é responsável, além das obrigações que precedem o início do fornecimento, pela prestação de serviço adequado a todos os seus consumidores, assim como pelas informações necessárias à defesa de interesses individuais, coletivos ou difusos.

(...)

§ 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço, observado o disposto no Capítulo XIV, a sua interrupção:

I - em situação emergencial, assim caracterizada a deficiência técnica ou de segurança em instalações de unidade consumidora que ofereçam risco iminente de danos a pessoas, bens ou ao funcionamento do sistema elétrico ou, ainda, o caso fortuito ou de força maior; ou

II - após prévia notificação, por razões de ordem técnica ou de segurança em instalações de unidade consumidora, ou pelo inadimplemento do consumidor, considerado o interesse da coletividade.

A ré, no entanto, não logrou provar que a interrupção do serviço justificou -se em razão de alguma das situações acima descritas. Ademais, nota-se que, segundo informado pelas autoras, o serviço foi restabelecido apenas no dia seguinte, às 9h, depois de decorrido o período de 08 horas estabelecido como prazo para religação de urgência de unidade consumidora localizada em área rural (inciso IV, do artigo 176, da Resolução nº 414, da ANEEL).

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Assim sendo, necessário o reconhecimento da responsabilidade civil da apelante pelos danos decorrentes da interrupção do fornecimento de energia elétrica.

No que toca à indenização pelo dano material, sabe-se que deve ser devidamente comprovado, tanto no que se refere à sua existência quanto no tocante à sua extensão.

Analisando-se o acervo probatório, constata-se que as demandantes trouxeram recibos referentes à contratação de boate (R$700,00), locação de itens de mesa (R$155,00), decoração (R$550,00), alimentação (R$3.092,80) e bebida (R$400,00), locação do sítio (R$900,00), utensílios para a festa (R$262,43), locação de mesas e cadeiras (R$200,00), locação de arranjos e bandejas (R$60,00), locação de brinquedos (R$80,00) e compras em supermercado (R$1.187,49).

A inutilização de alguns desses serviços é evidente, como a contratação de boate, itens de mesa, decoração, locação de mesas, cadeiras, arranjos, brinquedos, porquanto ausente o interesse das apelantes no seu uso em outra oportunidade, que não fosse no horário programado para realização da festa.

Quanto às comidas e bebidas, tem-se por desnecessária a prova de que pereceram para que a ré seja condenada ao seu ressarcimento. Isso porque não se pode negligenciar que os alimentos e bebida foram adquiridos para uso específico na festividade que aconteceria no sítio alugado para comemoração do aniversário das demandantes. Decerto que, se tal evento não ocorresse, as autoras não contratariam esses itens na quantidade e nos moldes realizados.

Assim, por estarem indissociavelmente ligados à ocorrência da festa, compõem a expressão financeira do dever de indenizar que cabe à ré.

Nessa senda, deve ser mantida incólume a sentença que condenou a CEMIG ao pagamento de danos materiais no importe de R$7.941,20.

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No tocante à correção monetária, deve-se atentar para o disposto na Súmula 43, do col. STJ, que prevê: "incide correção monetária sobre dívida por ato ilícito a partir da data do efetivo prejuízo". E os juros, a contar do evento danoso, à luz da Súmula 54, do STJ, haja vista tratar-se de responsabilidade extracontratual.

Por fim, no tocante ao dano moral, em casos como este, desnecessária se mostra a prova do abalo psicológico sofrido, haja vista ser este extraído da própria circunstância vivenciada pelas autoras.

Ora, não se pode perder de vista a expectativa depositada pelas apeladas na realização do evento, o que se vê pela confecção de convite destinado a familiares e amigos e pela contratação de diversos profissionais para aprimoramento da festividade. Partindo-se, ainda, das regras de experiência comum, não é difícil imaginar o constrangimento vivenciado pelas requerentes quando tiveram de informar aos convidados que aos poucos chegavam ao local da festa que esta não mais iria ocorrer em razão da falta de energia elétrica, ocorrida pouco antes de seu início.

Logo, ver que o produto de todo esse esforço foi comprometido por fator que foge à alçada das autoras implica, seguramente, abalo ao seu patrimônio moral. Assim, ainda que os autos ressintam de elemento probatório quanto à configuração do dano moral, tem-se ser ele patente na situação em exame.

No tocante ao quantum, a indenização por danos morais deve ser arbitrada com fundamento nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, levando-se em conta a finalidade de compensar o sofrimento impingido à vítima e desestimular o ofensor a perpetrar a mesma conduta. É certo que referida verba não deve ser ínfima a ponto de se tornar inexpressiva, nem excessiva, a ponto de converter-se em fonte de locupletamento injustificado pelo ofendido.

In casu, embora presumido o dano moral, o mesmo não se pode

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dizer no tocante à sua extensão, cuja prova incumbe a quem alega, isto é, ao autor da ação, nos termos do artigo 373, I, do CPC.

Do cotejo dos autos, nota-se que o dano moral vivenciado pelas demandantes consistiu, como já ponderado, na frustração da expectativa de realizar o evento e no constrangimento diante de seus amigos e familiares gerado pela impossibilidade de dar início à festividade para o qual foram convidados.

Nesse espeque e atentando-se a todas as circunstâncias envolvidas, tenho que o valor arbitrado pelo Magistrado no importe de R$10.000,00 para cada autora é excessivo e, por isso, reclama minoração.

Nessa seara, considerando os elementos que compõem o dano moral, mormente o seu caráter pedagógico, e também em face dos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, sem perder de vista a vedação ao enriquecimento indevido, tenho que o valor de R$2.000,00 (dois mil reais) para cada requerente, a título de indenização, se mostra adequado ao caso apresentado.

Eventual majoração reclamaria, a meu sentir, a produção de provas concretas que evidenciassem a extensão do abalo psicológico sofrido, de modo que, na sua ausência, o montante estabelecido parte de uma análise objetiva da gravidade da lesão e dos efeitos de ordem moral daí decorrentes.

No tocante à correção monetária, em se tratando de dano moral, incide na espécie o teor da Súmula 362, do col. STJ, segundo o qual "a correção monetária do valor da indenização do dano moral incide desde a data do arbitramento". E, quanto aos juros moratórios, em se tratando de responsabilidade extracontratual, incidem desde o evento danoso, nos termos da Súmula 54, do col. STJ: "Os juros moratórios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual.".

No mesmo sentido, a jurisprudência deste Eg. Tribunal de Justiça

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já se pronunciou em situações análogas:

APELAÇÃO - FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - FESTA DE CASAMENTO - INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO - APAGÃO - INDENIZAÇÃO - DANOS MORAIS - CONFIGURAÇÃO - PROCEDÊNCIA DO PEDIDO.

Mantém-se a sentença que julga procedente o pedido de indenização quando demonstrado que a interrupção do serviço de fornecimento de energia elétrica durante a realização de festa implicou danos de ordem moral e material. Reconhece-se por legítima a condenação da concessionária de serviço público ao pagamento de indenização por danos morais e materiais, uma vez configurado o nexo de causalidade entre o dano sofrido e a conduta, consubstanciada na interrupção do serviço de fornecimento de energia elétrica. (TJMG - Apelação Cível 1.0317.10.011437-8/002, Relator(a): Des.(a) Kildare Carvalho , 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 24/10/2019, publicação da súmula em 30/10/2019)

A P E L A Ç Ã O C Í V E L . C E M I G . R E S P O N S A B I L I D A D E O B J E T I V A . INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA.

RECEPÇÃO DE CASAMENTO. DESCONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO ESSENCIAL. AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. DEVER DE INDENIZAR OS DANOS MATERIAIS E MORAIS ADVINDOS DO EVENTO. CONFIGURAÇÃO.

RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.

(...) 3. Constatado que a interrupção do fornecimento de energia elétrica decorreu de falha na prestação do serviço público, em razão de sua descontinuidade sem qualquer justa causa aparente, patente o dever de a concessionária indenizar os usuários pelos danos sofridos em decorrência dos transtornos gerados em sua recepção de casamento.

4. Os danos materiais hão de ser cabalmente demonstrados, incumbindo a quem os pleiteia a apresentação de elementos idôneos a conferir-lhes plausibilidade, não cabendo reparação de prejuízos hipotéticos, remotos ou eventuais.

5. O fato de os nubentes terem experimentado toda sorte de

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angústias e constrangimentos ao se depararem com a interrupção do serviço de energia elétrica no local alugado para sua recepção de casamento se afigura mais do que suficiente para se concluir que experimentaram sofrimento agudo o bastante a ensejar a concessionária a compensá-los pela frustra ção com as expectativas criadas. (TJMG - Apelação Cível 1.0707.14.013811-6/001, Relator(a): Des.(a) Bitencourt Marcondes , 19ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 26/09/2019, publicação da súmula em 04/10/2019)

RECURSOS DE APELAÇÃO - INTERRUPÇÃO NO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA - CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA - FESTIVIDADE DE CASAMENTO - FALHA NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO - RESPONSABILIDADE CIVIL CARACTERIZADA - DANOS MATERIAIS E MORAIS PATENTEADOS - QUANTIFICAÇÃO RAZOÁVEL - RECURSOS NÃO PROVIDOS.

1. A concessionária de fornecimento de energia elétrica sujeita-se ao regime da responsabilidade objetiva, nos termos do art. 37, §6º, da Constituição Federal.

2. Interrompido o fornecimento de energia durante a festividade nupcial dos autores, resta claro que o agir da concessionária efetivamente deu causa a significativo constrangimento aos demandantes.

3. Sendo certo que o incidente teve o condão de impedir a realização da festividade de casamento dos autores, vislumbra-se gravidade suficiente do dano a justificar o valor em que fixada a indenização - R$ 15.000,00 (quinze mil reais) para cada um dos postulantes.

4. Arbitrado o quantum indenizatório em consonância com os primados da razoabilidade e da proporcionalidade, hão de ser improvidas as pretensões de alteração do referido montante.

5. Recursos não providos. (TJMG - Apelação Cível 1.0567.12.003832- 6/001, Relator(a): Des.(a) Corrêa Junior , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 17/04/2018, publicação da súmula

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em 27/04/2018)

A sentença, portanto, merece pequeno reparo, devendo ser reduzida a indenização por danos morais, nos termos da fundamentação. Além, impõe- se a modificação do termo inicial dos juros de mora, para coaduná-lo aos ditames da Súmula 54, do col. STJ. Registre-se que não há falar em reformatio in pejus quando o Tribunal altera tão somente os consectários legais, por integrarem o pedido de forma implícita, justamente por serem matéria de ordem pública, cognoscível de ofício.

Isto posto, DOU PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO, para reduzir os danos morais para R$2.000,00, para cada autora.

De ofício, altero a sentença no tocante aos juros de mora, os quais devem incidir desde o evento danoso, nos termos da Súmula 54, do col. STJ, no percentual de 1% ao mês, conforme interpretação extraída do artigo 406, do Código Civil.

Considerando que as apeladas decaíram de parcela mínima do pedido, custas pela apelante.

DESA. ALICE BIRCHAL - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. BELIZÁRIO DE LACERDA - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO."

Referências

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