• Nenhum resultado encontrado

DESAFIOS NA TRANSFUSÃO DE SANGUE EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO SOCORRO CHALLENGES IN BLOOD TRANSFUSION IN PATIENTS ATTENDED AT FIRST AID

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "DESAFIOS NA TRANSFUSÃO DE SANGUE EM PACIENTES ATENDIDOS NO PRONTO SOCORRO CHALLENGES IN BLOOD TRANSFUSION IN PATIENTS ATTENDED AT FIRST AID"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

CHALLENGES IN BLOOD TRANSFUSION IN PATIENTS ATTENDED AT FIRST AID

BRAGA, Rafaela Fortunato1 TOSCANO, Cindy Medici2

RESUMO

O presente trabalho teve como objetivo identificar os casos em que a transfusão sanguínea é indicada e os principais desafios para receber transfusão no Brasil. A estratégia utilizada foi a de um estudo retrospectivo e exploratório, baseado na metodologia de uma revisão do tipo narrativa, que teve como objeto de estudo notas publicadas pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde, Organização das Nações Unidas, além de atos normativos e portarias, no que tange a transfusão sanguínea no Brasil. Com o presente estudo, foi possível identificar que a transfusão sanguínea trata-se da transferência de sangue ou de um hemocomponente (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) de um doador para um receptor, com o intuito de aumentar a capacidade do sangue de transportar o oxigênio, restaurar os níveis de sangue no organismo, melhorar a imunidade ou corrigir distúrbio da coagulação sanguínea. Os resultados indicam que, embora o percentual de doação esteja dentro dos parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde, ainda existem desafios para receber transfusão sanguínea no Brasil. Deste modo, algumas estratégias devem ser adotadas, a fim de informar a população sobre os benefícios dessa atitude e incentivá-la a doar sangue.

Palavras-chave: Transfusão sanguínea. Indicações transfusionais. Assistência de Enfermagem. Desafios.

SUMMARY

The present study aimed to identify the cases in which blood transfusion is indicated and the main challenges to receive transfusion in Brazil. The strategy used was a retrospective and exploratory study, based on the methodology of a revision of the narrative type, which had the object of study notes published by the Ministry of Health, Pan American Health Organization, United Nations, as well as acts normative and

1 Pós-graduanda do Curso de Enfermagem em Urgência e Emergência do Centro Universitário São Camilo-ES - rafaelafortunatobraga@hotmail.com.

2 Professora orientadora. Ma. Ciências fisiológicas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória- ES. Professora do Centro Universitário São Camilo – ES - cindymedici@gmail.com.

(2)

regulatory, regarding blood transfusion in Brazil. With the present study, it was possible to identify that the blood transfusion is the transfer of blood or a blood component (red blood cells, white blood cells and platelets) from a donor to a recipient, in order to increase the capacity of the blood to carry oxygen, restore blood levels in the body, improve immunity or correct blood clotting disorder. The results indicate that, although the percentage of donation is within the parameters established by the World Health Organization, there are still challenges to receive blood transfusion in Brazil. Thus, some strategies must be adopted in order to inform the population about the benefits of this attitude and encourage it to donate blood.

Keywords: Blood transfusion. Transfusion indications. Nursing Assistance.

Challenges

INTRODUÇÃO

A primeira transfusão sanguínea documentada aconteceu no século XVII, quando o médico francês Jean-Baptiste Denis infundiu sangue de uma ovelha em um ser humano. Todavia, não logrou êxito em tal procedimento. Somente após a descoberta dos grupos sanguíneos e da sua compatibilidade é que a transfusão de sangue começou a obter sucesso (JUNQUEIRA. et Al., 2005).

Em 1658 foram descritos os glóbulos vermelhos. Aproximadamente 250 anos depois foram identificados os primeiros quatro tipos sanguíneos: A, B, AB e O.

Posteriormente, houve a descoberta do fator Rhesus (Rh) que classificou os grupos sanguíneos em Rh-positivo e Rh-negativo (JUNQUEIRA. et Al., 2005).

Em 1930 iniciou-se a prática de hemoterapia no Brasil, todavia, somente em 1940 foi classificada como uma especialidade médica. Dois anos após, foi criado o primeiro banco de sangue no Instituto Fernandes Figueira, no Rio de Janeiro, com o objetivo de atender a demanda de guerra, por meio de envio de hemocomponentes para hospitais de frentes de batalhas (JUNQUEIRA; et al, 2005).

Nessa mesma época também surgiram os bancos de sangue privados, onde o sangue passou a ser comercializado e casou o aumento de doenças transmissíveis, devido a falta de informação da população.

Não existiam ainda critérios de segurança e testes sanguíneos, razão pela qual vários pacientes que passavam pelo procedimento de transfusão sanguínea foram contaminados. Somente a partir de 1960 é que os bancos de sangue começaram a fazer testes de sífilis, chagas e hepatite B (FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008).

Atualmente, existem normas reguladoras que norteiam os procedimentos hemoterápicos, com o objetivo de garantir a segurança tanto do receptor quanto do

(3)

doador, partindo da entrevista feita à triagem dos doadores até o teste do sangue, elevando o nível de segurança das transfusões (FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008).

Uma pessoa pode necessitar de transfusão sanguínea por diversos motivos. Dentre estes, pode-se citar os casos de trauma como a hemorragia, em que o volume de sangue fica reduzido a um nível que incapacita o organismo de repô-lo de forma suficiente e rápida. Em outras situações, quando a medula óssea não produz hemácia, leucócitos e plaquetas suficiente em razão de uma deficiência da matéria-prima necessária (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Outras vezes, a transfusão é indicada quando alguns componentes do sangue estão ausentes ou não funcionam adequadamente, como no caso da hemofilia, em que não ocorre a coagulação do sangue (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

A transfusão de sangue também é regularmente usada em casos de cirurgias, traumatismos, sangramentos gastrintestinais e partos nos quais há necessidade de repor grandes perdas sanguíneas. Os pacientes com câncer também recebem, frequentemente, transfusões de sangue. (BONEQUINI; GARCIA, 2017). Algumas doenças genéticas como a talassemia e a doença falciforme afetam o sangue, podendo atingir o formato dos glóbulos vermelhos, o que leva a um funcionamento inadequado e, consequentemente, a destruição destes componentes sanguíneos.

Dessa forma, faz-se necessário que os portadores dessas doenças supram essas deficiências com a transfusão de sangue (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

O sangue utilizado para a transfusão deve proceder de pessoas saudáveis, haja vista que doenças infecciosas como vírus da imunodeficiência humana (HIV), hepatites B e C, vírus T-Linfotrópico humano (HTLV I/II), Malária, doença de Chagas, sífilis, podem ser transmitidas de pessoa para pessoa via transfusão de sangue (ANVISA, 2016), tratando-se, portanto, de causas definitivas de impedimentos.

Ademais, configuram causas de impedimento definitivo ter passado por um quadro de hepatite após os 11 anos de idade e ser usuário de drogas ilícitas injetáveis.

É importante mencionar ainda que, existem casos de inaptidão temporária para doação de sangue. No ano de 2016, a Agência de Vigilância Sanitária (ANVISA), publicou a Nota Técnica nº 015/2016, a qual estabelece critérios de inaptidão temporária de doadores de sangue homens que fazem sexo com outros homens.

Tanto a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2012) quanto a Organização Pan- Americana de Saúde (OPAS, 2009) recomendam a inaptidão de homens que fizeram sexo com outros homens por um período de 12 meses após a última exposição de

(4)

risco, bem como de mulheres cujos parceiros sexuais tenham realizado sexo anal ativo ou oral com outro homem durante os 12 meses anteriores (ANVISA, 2016).

Além disso, também estão impedidas de doar sangue temporariamente mulheres durante o período gestacional até os 90 dias pós-gravidez em caso de parto normal e 180 dias em caso de cesariana; em período de amamentação até 12 meses pós-parto.

Em caso de gripe, resfriado e febre se devem aguardar sete dias após o desaparecimento dos sintomas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Outrossim, as pessoas que tenham se submetido a cirurgia de colecistectomia, histerectomia, nefrectomia, redução de fraturas, politraumatismos sem sequelas graves, tireoidectomia, colectomia ficam impedidas de doar sangue por um período de 6 meses. Já nos casos de cirurgia de hérnia, apendicite, amigdalectomia, varizes o período de impedimento é de 3 meses. Em se tratando de extração dentária este lapso é de 72 horas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Ademais, ter sido exposto a situações de risco acrescido para infecções sexualmente transmissíveis se deve aguardar 12 meses após a exposição. Também ficam impedidas por um intervalo de 12 meses, as pessoas que tenham feito tatuagem e/ou colocado piercing nos últimos. Insta salientar que piercing em cavidade oral ou região genital impossibilita a doação (Ministério da Saúde, 2017).

Se, porventura, o indivíduo tiver sido submetido a algum tipo de vacinação, o prazo de impedimento variará de acordo com o tipo da vacina (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Nos dias atuais, a política nacional de sangue do Brasil é dirigida pela Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, esta que veda toda e qualquer forma de comercialização de material biológico de origem humana para fins terapêuticos, conforme disposto no § 4º, artigo 199, da Carta Magna (BRASIL, 1988).

Em conformidade com o artigo supramencionado, a Lei 10.205, de 21 de março de 2001, conhecida como a “Lei do Sangue”, regulamenta os procedimentos relativos à coleta, armazenagem, distribuição, processamento, conservação e uso do sangue e componentes, além de dispor sobre a proteção ao doador e ao receptor (BRASIL, 2001).

Ainda nesse aspecto, visando nortear o Sistema Nacional de Sangue (SINASAN), o Decreto 3.990, de 30 de outubro de 2001, que regulamenta o artigo 26, da Lei de Sangue, dispõe sobre a coleta, processamento, estocagem, distribuição e aplicação

(5)

do sangue, seus componentes e derivados, além de estabelecer o ordenamento institucional indispensável à execução adequada dessas atividades (BRASIL, 2001).

Importante mencionar que o Sistema Nacional de Sangue (SINASAN) é coordenado pelo Ministério da Saúde e composto pelas redes de serviços de hemoterapia em nível estadual e municipal (FIDLARCZYK; FERREIRA, 2008).

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é responsável pela regulamentação das práticas hemoterápicas, por meio da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 34 de 11 de junho de 2014 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014) e da Portaria Ministerial nº 158 de 04 de fevereiro de 2016 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2016), que normatizam os procedimentos, da coleta à utilização, com o fito de segurar a qualidade dos hemocomponentes e do procedimento transfusional.

É sabido que, atualmente, muitos são os casos em que a transfusão sanguínea é imprescindível, todavia, esse procedimento ainda enfrenta alguns desafios no Brasil, principalmente relacionados ao volume baixo de doações, o que torna necessário a promoção de campanhas de doação e o uso racional do sangue.

O presente trabalho surge a partir da necessidade de conhecer os casos em que a transfusão sanguínea é indicada e apontar os principais desafios para receber transfusão em Pronto Socorro no Brasil.

METODOLOGIA

A estratégia utilizada foi a de um estudo retrospectivo e exploratório, baseado na metodologia de uma revisão do tipo narrativa, que teve como objeto de estudo notas publicadas pelo Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana de Saúde, Organização das Nações Unidas, além de atos normativos e portarias, no que tange a transfusão sanguínea no Brasil.

As perguntas norteadoras do trabalho foram: 1) “Quais os principais desafios para receber transfusão sanguínea no Brasil?” 2) “Quais as principais indicações para a transfusão sanguínea?”. A busca eletrônica foi realizada no período de janeiro a fevereiro de 2019.

As fontes bibliográficas eletrônicas foram obtidas da literatura disponível em teses, dissertações, revistas e artigos científicos adquiridos dos bancos de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe) e SciELO (Scientific Eletronic Library Online.

(6)

A partir dos dados obtidos foram feitas análises observacionais e discussões, partindo da premissa da doação de sangue no Brasil até chegar aos aspectos relacionados à transfusão sanguínea.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com o presente estudo, foi possível identificar que a transfusão sanguínea trata-se da transferência de sangue ou de um hemocomponente (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas) de um doador para um receptor (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Esse procedimento é realizado com o intuito de aumentar a capacidade do sangue de transportar o oxigênio, restaurar os níveis de sangue no organismo, melhorar a imunidade ou corrigir distúrbio da coagulação sanguínea, devendo ser observada a necessidade individual de cada paciente (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Dar-se início ao processo do sangue para prática da hemoterapia a partir da doação e finda com a transfusão. O doador é submetido a uma triagem e, se considerado apto, faz a coleta do sangue que pode ser feita de duas maneiras: total ou aférese, sendo comum a doação de sangue total. A coleta total corresponde ao procedimento no qual é coletado o sangue em sua integralidade para uma bolsa contendo anticoagulante/conservantes. Já na doação aférese, o sangue é coletado e separado por centrifugação e filtração, sendo mantido apenas o componente pretendido, voltando os demais para o doador (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Para doar sangue no Brasil se faz necessário preencher alguns requisitos. Podem doar pessoas entre 16 e 69 anos, sendo que menores de 18 anos é indispensável a concordância dos responsáveis legais e, para as pessoas entre 60 e 69 anos só é possível doar caso já tiver realizado este ato antes dos 60 anos. Ademais, é preciso estar em bom estado de saúde e ter, no mínimo 50 quilos (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Importante destacar que o candidato não pode ter ingerido bebidas alcoólicas nas12 horas que antecederem à doação, ter dormido pelo menos 6 horas nas últimas 24 horas, não estar de jejum, além de ser imprescindível a apresentação do documento com foto, emitido por órgão oficial (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

A mulher pode proceder com, no máximo, três doações anuais. Já os homens o limite é de quatro doações por ano, ambos devendo respeitar o intervalo mínimo de três

(7)

meses para as mulheres e de dois meses para homens (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

A doação de sangue pode ser classificada como: agendada, convocada, de reposição, voluntária ou espontânea. O doador agendado é aquele que tem data e horário pré- estabelecidos entre ele e o Banco de Sangue para efetuar a doação, podendo ser de reposição ou espontânea. Já o doador convocado é o indivíduo que já possui cadastro por ter realizado doações anteriores, e doa sangue em atendimento ao pedido do serviço social do Banco de Sangue (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

O doador de reposição, por sua vez, é aquele que doa atendendo a solicitação feita pelo serviço social do Banco de Sangue, para algum paciente internado em hospital.

Por fim, o doador voluntário ou espontâneo, é o indivíduo que doa de maneira generosa, sem saber a pessoa que vai receber o sangue por ele doado (BONEQUINI;

GARCIA, 2017).

Para realizar a doação de sangue, basta dirigir-se a um hemocentro – unidade de doação de sangue- , onde será verificado se a pessoa preenche os requisitos para a doação (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Insta salientar que, em caso de doação de sangue voluntária devidamente comprovada, o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço por um dia para doar sangue, sem prejuízo do salário, conforme dispõe o art. 473, inciso IV, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT (BRASIL, 1943).

Indicações para a transfusão sanguínea

A transfusão sanguínea e hemocomponentes é usada para corrigir deficiências no transporte de oxigênio e hemostasia, a partir de perdas agudas ou crônicas de sangue e/ou alterações na produção de hemácias, plaquetas ou proteínas da coagulação sanguínea (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Toda e qualquer transfusão deve ser procedida apenas mediante prescrição médica, conforme dispõe o artigo 188, inciso II, da Portaria nº 158, de 04 de fevereiro de 2016, do Ministério da Saúde, a qual redefiniu o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos (BRASIL, 2016).

A solicitação da transfusão sanguínea deve ser feita exclusivamente pelo médico, devendo a requisição estar preenchida de forma legível, constando a assinatura do médico responsável e o CRM, os dados pessoais do paciente, os resultados dos exames laboratoriais que fundamentem a transfusão, histórico transfusional do

(8)

paciente, diagnóstico do paciente, indicação do procedimento transfusional, a classificação da transfusão e os medicamentos que o paciente esteja fazendo uso.

Pode a prática transfusional vir a ser indicado nos casos de hemorragias agudas, anemia hemolítica auto-imune, anemia crônica, pacientes oncológicos, renais crônicos, no perioperatório, plaquetopenias por falência medular, distúrbios associados a alterações de função plaquetária, plaquetopenias por diluição ou destruição periférica, procedimentos cirúrgicos ou invasivos em pacientes plaquetopênicos e em cirurgia cardíaca (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Em se tratando de situações de urgência e emergência, a transfusão é indicada, geralmente, nos casos de anemia profunda, hemorragia grave, queimaduras de 3º grau, hemofilia ou após transplante de medula ou de outros órgãos (BONEQUINI;

GARCIA, 2017).

Considerando que a transfusão de sangue aponta riscos, o médico responsável deve comunicar ao paciente e sua família quanto a realização do procedimento e os riscos dela inerentes (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Nos casos de crenças religiosas, em que não se admite a transfusão sanguínea existem disposições específicas que devem ser analisadas pelo médico hemoterapeuta, haja vista que durante toda a história da humanidade o direito à vida e as crenças religiosas caminham lado a lado, sendo a liberdade religiosa é um direito fundamental amparado pela Constituição Federal de 1988, previsto no artigo 5°, incisos VI e VII, da Carta Magna. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2015).

É válido ressaltar que a necessidade transfusional deve ser baseada principalmente nas condições clínicas do paciente e não apenas em resultados laboratoriais (ZAGO;

FALCÃO, 2005).

Riscos da transfusão sanguínea

Toda transfusão envolve riscos imediatos ou tardios, razão pela qual é imprescindível o uso racional dos hemocomponentes, com o intuito de diminuir indicações desnecessárias que possam vir a expor pacientes a riscos transfusionais inoportunos (ZAGO; FALCÃO, 2005).

(9)

Segundo BRUM (2011, p.76-82) “É de conhecimento que a realização de transfusão de forma não criteriosa expõe o receptor a uma série de complicações [...] Verificam- se percentuais elevados de transfusões desnecessárias ou com indicação duvidosa”, razão pela qual se faz necessário “promover o conhecimento e a aplicação correta dos critérios para indicação de transfusão”.

Dentre os riscos imediatos tem-se a reação febril não hemolítica, hemolítica aguda, reação alérgica, sobrecarga circulatória, lesão pulmonar aguda, contaminação bacteriana, reação hipotensiva, distúrbios metabólicos, dor aguda, hipotermia, dispneia e reação por embolia aérea (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Os riscos tardios, por sua vez, correspondem a aloimunização eritrocitária, reação hemolítica tardia, púrpura pós-transfusional, imunomodulação, reação do enxerto versus hospedeiro, hemossiderose e a transmissão de doenças infecciosas (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Para evitar as indicações de transfusão de sangue desnecessárias, a Organização Mundial de Saúde (OMS) prediz aspectos que devem ser observados pelo médico ao prescrever a transfusão, tais como se os benefícios da transfusão são maiores que os riscos associados a ela. Ademais, se existem alternativas terapêuticas disponíveis e a melhoria clínica que a transfusão trará para o paciente (ZAGO; FALCÃO, 2005).

Outrossim, deve ser analisado quais os indicadores clínicos e laboratoriais que justifiquem a indispensabilidade da transfusão, bem como a avaliação do resultado obtido após cada transfusão, evitando indicações de várias unidades de hemocomponentes sem avaliação interposta e prescrevendo as unidades uma a uma (ZAGO; FALCÃO, 2005).

Nessa toada, importante frisar a importância do enfermeiro responsável pela infusão ao paciente receptor, no que tange ao cumprimento dos protocolos transfusionais.

Considerando ser de suma relevância o papel desempenhado pelo enfermeiro na execução dos procedimentos transfusionais, a Resolução do Conselho Federal de Enfermagem nº 306, de 2006, dispõe sobre a execução, supervisão e avaliação dos procedimentos de hemoterapia; triagem clínica, além de sua atuação na assistência aos doares, receptores e familiares as competências e atribuições do enfermeiro na área de hemoterapia, com o objetivo de garantir a segurança dos doadores e dos receptores e diminuir os riscos decorrentes do procedimento transfusional (BRASIL, 2006).

(10)

Transfusão sanguínea em Urgência e Emergência

Com o objetivo de apontar a Agência Transfusional sobre a gravidade do paciente, as transfusões são classificadas como programada, não urgente, urgente e de extrema urgência (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

A programada tem dia e horário marcado. Já a não urgente é aquele que deve ocorrer entre as próximas 24 horas, contadas da solicitação médica. A urgente, por sua vez, corresponde aquela que deve ocorrer entre as próximas 3 horas, a partir da prescrição médica (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

No que concerne a transfusão de extrema urgência, esta configura-se quando qualquer retardo na administração da transfusão pode acarretar risco para a vida do paciente (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

A demanda por transfusões de sangue em situações de urgência e emergência é comum em hospital de pronto-socorro, este que se se destina ao atendimento a pacientes em estado de urgência e emergência, com risco eminente de morte. Nesse caso, a liberação da transfusão sanguínea pode ser feita antes do término dos testes pré-transfusionais, desde que cumpridas algumas exigências, tais quando o quadro clínico do paciente justifique a emergência e o médico responsável pelo paciente assine a “Declaração de responsabilidade médica para transfusões em situações especiais”, em que o médico atesta a ciência dos riscos e concorda com a transfusão (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Desafios

No Brasil, cerca de 1,6% da população doa sangue, o que representa 16 pessoas a cada mil habitantes (Ministério da Saúde, 2018). O maior percentual está na faixa etária a partir dos 29 anos, com 58% do total dos doadores, enquanto as pessoas de 16 a 29 anos representam 42% (Ministério da Saúde, 2017).

Embora o percentual fique dentro dos parâmetros da Organização Mundial de Saúde (OMS) - de pelo menos 1% da população - o Ministério da Saúde tem trabalhado para aumentar a taxa (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Todavia, para alcançar tal objetivo será preciso enfrentar desafios que ainda atravancam o potencial das doações. Dentre eles, a falta de conscientização da população, estigma, herança cultural, deficiência estrutural, normas e proibições, haja vista que a doação de sangue no Brasil ainda é cercada de mitos. Por exemplo, existem pessoas que acreditam que se doarem uma vez terão que doar sempre, outras que acham que doar sangue

(11)

engorda, além daqueles que temem contrair alguma doença infecciosa durante a coleta (British Broadcasting Corporation Brasil, 2015).

Além disso, antes de entrar em vigor a PORTARIA Nº 2.712, de 12 de novembro de 2013, que redefiniu o regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos, menores de 18 e maiores de 65 anos eram proibidos de doar. Após a vigência da referida Portaria, a faixa etária passou de 16 a 69 anos (BRASIL, 2013).

Outro veto polêmico envolve homens que se relacionaram sexualmente com outros homens no período de 12 meses anteriores à coleta. Para ativistas de direitos LGBT, a norma é "discriminatória" (ANVISA, 2016).

Ademais, importante destacar que as doações de sangue são menores em todo país no período de feriados prolongados e férias escolares. Outrossim, nos estados que são atingidos pela febre amarela também apresentam uma diminuição nos estoques de sangue, haja vista que pessoas vacinadas contra esta doença ficam inaptas a doarem sangue por um período de quatro semanas (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

CONCLUSÃO

A transfusão de sangue é de grande importância para a vida das pessoas. Trata-se da transferência de sangue ou de um hemocomponente de um doador para um receptor, com o intuito de aumentar a capacidade do sangue de transportar o oxigênio, restaurar os níveis de sangue no organismo, melhorar a imunidade ou corrigir distúrbio da coagulação sanguínea (BONEQUINI; GARCIA, 2017).

Vários são os casos que a prática transfusional pode vir a ser solicitada. A demanda por transfusões de sangue em situações de urgência e emergência é comum em hospital de pronto-socorro e é indicada, geralmente, nos casos de anemia profunda, hemorragia grave, queimaduras de 3º grau, hemofilia ou após transplante de medula ou de outros órgãos, podendo, nesses casos, dentre outros caracterizados como sendo de urgência e emergência, ser dado inicio ao processo de transfusão antes mesmo do término dos testes pré-transfusionais.

Verifica-se, no entanto, que a prática de doação de sangue ainda é cercada de mitos, como por exemplo, “quem doa tem que doar sempre”, “que engorda ou emagrece”

que, aliado a falta de conhecimento da população sobre a doação de sangue, bloqueia o potencial das doações, estas que embora atendam a demanda transfusional,

(12)

poderiam ser maior, conforme dados do Ministério da Saúde (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).

Com isso, exige-se do médico e dos serviços de hemoterapia uma adoção criteriosa para que ocorra o uso racional do sangue e para minimizar ou evitar reações indesajáveis acarretadas pela prática transfusional (BRUM, 2011).

Observa-se, portanto, que cabe ao médico prescrever a transfusão, observando cada caso individualmente, levando-se em consideração principalmente o quadro clínico do paciente e não somente os exames laboratoriais, como ocorre nos casos de urgência e emergência. Ademais, deve-se considerar insubstituível a prática transfusional por outros métodos terapêuticos.

No que concerne à existência de mitos que ainda atravancam o potencial das doações, cabe a todos os setores da saúde em todos os níveis de atenção, tais como: postos de saúde, hospitais, clínicas e unidades de pronto atendimento, investir em campanhas de incentivo à adoção e ações educativas nas escolas, redes sociais, além da distribuição de material gráfico nos estabelecimentos de saúde de todo país, com o intuito de informar a população sobre os benefícios dessa atitude e incentivá-la a doar sangue.

Importante mencionar ainda que, no período de férias escolares e feriados prolongados, há uma queda nos estoques de sangue (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018), razão pela qual é indispensável que os setores de saúde em todos os níveis de atenção informem a população sobre a relevância de se manter a doação de forma regular, alertando sobre a importância de realizar a doação antes de viajar, de modo a manter os estoques abastecidos e buscar, simultaneamente, a colaboração de novos doares.

REFERÊNCIAS

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2016. Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/hemoterapia. Acessado em 06 de fevereiro de 2019.

ANVISA. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – PORTARIA Nº 306, 07 de dezembro de 2004. Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/documents/33880/2568070/res0306_07_12_2004.pdf/95e ac678-d441-4033-a5ab-f0276d56aaa6. Acessado em 06 de fevereiro de 2019.

(13)

BONEQUINI Júnior, Pedro; GARCIA, Patricia Carvalho. Manual de transfusão de sanguínea para médicos. Botucatu – SP, p. 7, 2017.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de 05 de outubro de 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm.

Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

BRASIL. British Broadcasting Corporation Brasil – BBC BRASIL, 2015.

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/08/150812_sangue_doacoes_brasil_l gb. Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

BRASIL. DECRETO Nº 3.990, DE 30 DE OUTUBRO DE 2001. Disponível em:

http://www.prosangue.sp.gov.br/uploads/legislacao/decreto3990.pdf. Acessado em 06 de fevereiro de 2019.

BRASIL. CONSOLIDAÇÃO DAS LEIS DO TRABALHO, de 1º de maio de 1943.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm.

Acessado em 05 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Lei 10 205/2001. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10205.htm. Acessado em 05 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Lei 9782/1999. Disponível

em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9782.htm. Acessado em 05 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 158, de 04 de fevereiro de 2016.

Disponível em:

http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2016/prt0158_04_02_2016.html.

Acessado em 19 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Resolução RDC n° 34/2014, de 11 junho de 2014. Dispõe sobre as Boas Práticas no Ciclo do Sangue. Brasília: Agência Nacional de Vigilância Sanitária; 2014.

BRASIL. Ministério da Saúde(BR). Portaria de Consolidação Nº 5, de 28 de setembro de 2017. DOU nº 190 de 03/10/2017. Disponível em:

ftp://ftp.saude.sp.gov.br/ftpsessp/bibliote/

informe_eletronico/2017/iels.out.17/Iels194/U_PRC-MS-GM-5_280917.pdf.

Acessado em 20 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR), 2017. Ministério da Saúde lança campanha para incentivar doação de sangue. Disponível em:

(14)

http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/28742-ministerio-da-saude- lanca-campanha-para-incentivar-doacao-regular-de-sangue. Acessado em 16 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde, 2017. Doação de sangue: requisitos, quem pode doar e vantagens. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-

z/doacao-de-sangue. Acessado em 16 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde, 2017. Doação de sangue. Disponível em:

http://portalms.saude.gov.br/acoes-e-programas/cebas/contatos/693-acoes-e- programas/40036-doacao-de-sangue. Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR), 2018. Ministério da Saúde reforça campanha para incentivar doação de sangue. Disponível em:

http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/44728-saude-reforca- campanha-para-incentivar-doacao-de-sangue. Acessado em 16 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde (BR), 2018. Ministério da Saúde convoca população para doar sangue. http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/42673- ministerio-da-saude-convoca-populacao-para-doar-sangue. Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

BRASIL. Ministério da Saúde, 2015. Guia para o uso de Hemocomponentes.

Disponível em:

http://portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2867975/RDC_34_2014_COMP.pdf/283 a192e-eee8-42cc-8f06-b5e5597b16bd?version=1.0. Acessado em 16 de fevereio de 2019.

BRASIL. RESOLUÇÃO CONSELHO DE ENFERMAGEM Nº 0306/2006. Disponível em: http://www.cofen.gov.br/resoluo-cofen-3062006_4341.html. Acessado em 15 de fevereiro de 2019.

BRUM, Dario Eduardo de Lima. Racionalizar a transfusão de hemocomponentes:

benefícios a pacientes, instituições e planos de saúde. Revista da AMRIGS, Porto Alegre, v. 55, nº1, p. 76-82, jan.-mar. 2011.

FIDLARCZYK, Delaine; FERREIRA, Sonia Saragosa. Enfermagem em Hemoterapia. Rio de Janeiro: Medbook. p. 04, 2008.

JUNQUEIRA, P. C.; ROSENBLIT, J.; HAMERSCHLAK, N. História da Hemoterapia no Brasil. Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, v. 27, n. 3, p. 201- 207, 2005.

(15)

Organização Pan-Americana de Saúde - OPAS. Elegibilidade para doação de sangue: Recomendações para educação e seleção de doadores de sangue potenciais. Washington, D.C., EUA, 2009. Disponível em:

https://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=3032:reso lucoes-opas-oms&Itemid=805. Acessado em 16 de fevereiro de 2019.

Organização Mundial de Saúde – OMS. Doação de sangue. Requisitos, quem pode doar e vantagens. Disponível em: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a- z/doacao-de-sangue. Acessado em 16 de fevereiro de 2019.

ZAGO MA, Falcão RP, Pasquini R. Medicina transfusional. In: Zago AM, Covas TD. Hematologia: fundamentos e pratica. São Paulo: Atheneu. p. 951-75, 2005.

Referências

Documentos relacionados

O presente trabalho tem como objetivo principal apresentar a equivalência dual entre a categoria DLat, dos reticulados distributivos, e as categorias Pries, dos espaços Priestley,

Optou-se, então, por não usar a variável tempo de freqüência na creche para análise estatística, já que mostraria um viés afirmando que as crianças anêmicas freqüentavam

Muito embora a apresentação destes segmentos seja manifestamente coesa na imagem, sua significação é, por outro lado, da ordem de uma distensão temporal ulterior

O acordo de não persecução penal (assim como a transação penal) representa um meio alternativo para o Ministério Público exercer o direito de ação penal: em lugar da

Se a sua impressora tiver um problema de falta de memória ao tentar imprimir um trabalho e você não estiver utilizando a porta paralela, desative Porta paralela ativada para

No cuidado neonatal é freqüente o uso de equipamentos como bomba de infusão, pulso- oxímetro e objetos sobre a cúpula das incubadoras, assim como se têm

The integration of digital phenotype descriptions is a relevant challenge in this context since they support fundamental biology tasks as the building of identification keys for

A norma brasileira NBR 7212 coloca que o tempo de transporte do concreto decorrido entre o início da mistura deve ser inferior a 90 minutos de maneira que até o fim da descarga seja