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1 Bacharel em Relações Internacionais pela Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN),

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Os impactos da desindustrialização e da nova divisão internacional do trabalho sobre o emprego industrial no

Brasil (1980-2017)

Rafael Almeida Ferreira Abrão1 Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Marília

Resumo: O conceito de desindustrialização foi elaborado com base na observação das economias desenvolvidas durante a década de 1980, quando se identificou a redução do emprego industrial em relação aos outros setores da economia. Posteriormente, esse conceito passou a caracterizar economias da América Latina, que tem passado por um processo de desindustrialização precoce, ou seja, estão se desindustrializando ainda pobres. Esse efeito é uma das consequências da nova divisão internacional do trabalho surgida a partir de mudanças na economia mundial durante a década de 1970 (que ficaram genericamente conhecidas como globalização), na qual as atividades industriais que exigem maior qualificação técnica passaram a ser realizadas em países desenvolvidos, com abundância desse tipo de mão de obra, enquanto as tarefas menos qualificadas e com menor remuneração passaram a ser realizadas por trabalhadores de países subdesenvolvidos. As indústrias passaram a utilizar a terceirização e a precarização do trabalho como forma de baratear custos, deixando parte da cadeia produtiva a cargo de empresas em países pobres. Observa-se que no caso do Brasil a indústria era responsável por 19,5% dos empregos do país em 2006, dado que atingiu 16,4% em 2015.

Palavras-chave: Emprego; Desindustrialização; Economia Brasileira.

Abstract: The concept of deindustrialization was elaborated based on the observation of developed economies during the 1980s, when the reduction of industrial employment was identified in relation to other sectors of the economy. Subsequently, this concept came to characterize Latin American economies, which have undergone a process of early deindustrialization, that is, they are deindustrializing even poor. This effect is one of the consequences of the new international division of labor arising from changes in the world economy during the 1970s (which became generically known as globalization), in which industrial activities requiring more technical qualification were carried out in countries developed, with an abundance of this type of labor, while the less qualified tasks and with lower remuneration were carried out by workers from underdeveloped countries. The industries started to use outsourcing and the

1 Bacharel em Relações Internacionais pela Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN), da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP); Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Universidade Estadual Paulista (UNESP) – Campus de Marília (Endereço eletrônico: ra.abrao@gmail.com).

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precarization of labor as a way to lower costs, leaving part of the productive chain in charge of companies in poor countries. It is observed that in the case of Brazil the industry was responsible for 19.5% of the country's jobs in 2006, since it reached 16.4%

in 2015.

Keywords: Employment; Deindustrialization; Brazilian economy Introdução

A partir da observação da redução da relevância da indústria em nações desenvolvidas2 a partir da década de 1970, Rowthorn & Ramaswany (1997; 1999) consolidaram o conceito de desindustrialização, que ficou amplamente conhecido na literatura sobre o tema como a redução da participação do emprego industrial no emprego total de um país. Posteriormente, essa concepção passou a referir-se também à redução do valor adicionado da indústria na proporção total do PIB3 (PALMA, 2005;

BRESSER-PEREIRA, 2008; TREGENNA, 2009). As preocupações quanto à redução do setor industrial estavam relacionadas com as premissas de que a indústria é o agregado econômico com características mais favoráveis ao crescimento econômico, possuindo rendimentos crescentes e podendo ser considerada o setor com maior capacidade de contribuir para a geração de empregos e para o aumento da produtividade (KALDOR, 1996).

Nas nações desenvolvidas, a desindustrialização era tida como resultado de fatores internos, uma etapa natural do desenvolvimento capitalista e uma consequência do aumento da produtividade no setor industrial e das alterações na estrutura da demanda por manufaturas e serviços. Pois, observava-se que o aumento da renda per capita era acompanhado pela redução da elasticidade da demanda por manufaturas, o que levava à diminuição proporcional da indústria na economia (ROWTHORN &

RAMASWAN, 1999; OREIRO et al., 2011).

No entanto, os processos de desindustrialização deixaram de se restringir às economias desenvolvidas, o que originou um debate sobre a desindustrialização precoce de nações do Terceiro Mundo (PALMA, 2005; BRESSER-PEREIRA, 2008;

TREGENNA, 2009). O termo desindustrialização precoce passou a ser aplicado

2 Em economias maduras, a indústria de transformação atingiu uma proporção correspondente a um valor entre 30% e 40% do PIB. Em seguida, ocorreu uma redução do emprego industrial, geralmente em termos relativos, porém, em alguns casos, em termos absolutos. Essa dinâmica foi identificada em países desenvolvidos desde o final da Segunda Guerra Mundial, com maior ênfase no final dos anos 1960 e, em países em desenvolvimento, desde a década de 1980 (CANO, 2012, p. 832).

3 É importante destacar que o processo de desindustrialização não é, necessariamente, caracterizado pela redução ou estagnação da produção ou dos empregos na indústria em números absolutos, mas pela perda proporcional de relevância do setor industrial em relação ao restante da economia.

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especialmente às economias latino-americanas, em que o nível de renda é muito inferior ao registrado nos países desenvolvidos e onde identificou-se que a desindustrialização não era resultado da dinâmica ‘natural’ do capitalismo, mas um resultado de falhas de funcionamento de seus mercados (OREIRO et al., 2011). Essa desindustrialização vem ocorrendo antes de dar origem a uma economia dinâmica e culminado no aprisionamento dessas economias na condição de subdesenvolvidas (RICUPERO, 2014).

Transformações no contexto mundial

Desde a década de 1970, a indústria mundial teve que se adaptar às profundas transformações que ocorreram na economia mundial e na produção: o avanço de técnicas de publicidade; novas tecnologias de informática, comunicação e transporte; o modelo japonês de produção direcionado para o abastecimento da demanda de curto prazo; o enfraquecimento dos Estados Nacionais e o fortalecimento do comércio internacional, das grandes corporações transnacionais e da finança mundializada; além do advento da ideologia neoliberal como pensamento dominante no debate econômico (HOBSBAWM, 2010).

As políticas liberais tiveram como consequência a redução do ritmo de crescimento nos países avançados, a diminuição do emprego industrial e o fomento de transformações institucionais e financeiras na economia mundial. Nos países latino- americanos, os resultados da adoção de políticas econômicas liberais foram de impactos negativos sobre as taxas de crescimento econômico e para o emprego industrial (PALMA, 2005, p. 88-89). Na região, a abertura econômica associada à baixa competitividade dos manufaturados transformou os países em importadores de produtos industriais, após um longo período de substituição de importações4, especialmente os artigos de maior sofisticação tecnológica (RODRIK, 2016).

Forçar a competição com produtos importados de poderosas indústrias similares de outros países, sem considerar as vulnerabilidades da América Latina, teve consequências desastrosas: a destruição de empregos e empresas. Ao contrário do esperado, a liberalização nessas economias não resultou em crescimento econômico,

4 A substituição de importações foi uma das principais características da industrialização brasileira. Nesse modelo, a industrialização se origina da internalização da produção e do estrangulamento do setor externo. O modelo substitutivo de importações possibilitou o desenvolvimento de um amplo parque industrial, concentrado na Região Sudeste, com empresas de diferentes níveis tecnológicos e de produtividade (TAVARES, 1983, p. 34-35; MELLO, 1984, p. 92).

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mas em aumento da miséria (STIGLITZ, 2002, p. 17). A partir dos anos 70, as atividades industriais passaram a ser mecanizadas, ao mesmo tempo em que empregos eram destruídos. Dessa forma, enquanto a produtividade aumentava em decorrência das novas máquinas, a mão de obra era dispensada de forma definitiva, ou seja, os empregos perdidos não retornariam jamais. Da adoção de pressupostos liberais, emergiu uma nova divisão internacional do trabalho, onde as indústrias dos países desenvolvidos deslocaram-se para países subdesenvolvidos com mão de obra abundante e barata (HOBSBAWM, 2010, p. 354, p. 402-403).

No Brasil, a liberalização econômica ocorreu com maior intensidade na década de 1990 e foi aplicada a despeito das ressalvas em relação aos seus efeitos negativos, como desemprego crônico e a limitação que o neoliberalismo impunha à capacidade dos Estados de escolherem estratégias diferenciadas de desenvolvimento (CARDOSO, 2010, p. 23-40).

As políticas neoliberais, baseadas na austeridade fiscal, contração do crédito, queda no nível dos salários, rigidez monetária e moeda apreciada provaram ser recessivas e direcionaram as economias nacionais à preservação dos interesses do mercado financeiro internacional, o que inviabilizou o desenvolvimento da maior parte da periferia. Países como o Brasil, que haviam consolidado setores industriais e adquirido uma pauta exportadora diversificada, se submeteram à razão neoliberal defendida pelo Fundo Monetário Internacional como contrapartida a empréstimos, salvaguardando os interesses do capital financeiro. Como consequência, esses países passaram a amargar baixas taxas de crescimento do PIB e altas taxas de desemprego (CORSI, 2003, p. 27-53).

A estratégia liberal inverteu o modelo baseado na substituição de importações, que havia industrializado o país, e promoveu a ampla substituição da produção nacional por similares importados, gerando a necessidade de atrair capitais para financiar a importação desses produtos. Durante a década de 1990, o desemprego cresceu de forma acentuada, saltando de 8,7% da População Economicamente Ativa (PEA) antes do início da década, em 1989, para 19,3%, em 1999. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico médio foi inferior a 3%, em contraste com os altos índices de crescimento alcançados a partir do modelo adotado entre os anos 1930 e 1970 (CORSI, 2003, p. 43- 47).

Entre 1990 e 1998, a proporção dos produtos importados aumentou de 5,7% para 20,3%, enquanto a proporção da produção que era exportada elevou-se de 8% para

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14,8% no mesmo período. Esse movimento foi mais acentuado após 1994, com a combinação de abertura econômica e câmbio apreciado aplicada pelo Plano Real (CARNEIRO, 2002, p. 315-316). Dessa forma, a abertura econômica representou uma globalização assimétrica, que promoveu retrocessos quanto à diversificação e à dependência externa da estrutura produtiva brasileira

O aumento do desemprego e da miséria e a deterioração das condições de vida e de trabalho evidenciaram o fracasso das políticas neoliberais aplicadas pelo governo e regidas pelo argumento da globalização, que acabaram por fomentar o aumento das desigualdades entre nações ricas e pobres. Em um período marcado pela constituição de oligopólios transnacionais, formação de blocos internacionais de comércio, ampliação da abertura econômica em nível global, introdução de novas tecnologias, redução dos direitos dos trabalhadores e do nível de emprego, assim como a realocação espacial de diversas cadeias produtivas globais, os principais beneficiados acabaram sendo o núcleo do sistema capitalista (EUA, Japão e União Europeia) e alguns países da Ásia conhecidos como tigres asiáticos (Taiwan, Cingapura, Coréia do Sul e Hong Kong), além da China (CORSI, 2003, p. 17-25).

A divisão internacional do trabalho

Originalmente, a divisão internacional do trabalho impunha aos países da periferia capitalista a produção e exportação de produtos primários para os países do centro e, em contrapartida, estes supriam a periferia com produtos manufaturados (PREBISCH, 1949, p. 16-64). No Brasil, essa especialização econômica em produtos primários apoiava-se ideologicamente nas oligarquias nacionais, defensoras da vocação agrária do país, e ao mesmo tempo em que possibilitava a acumulação de capital, limitava qualquer transformação da estrutura produtiva, reduzindo nossa posição na economia mundial à exportação de café e outros produtos primários (SILVA, 1976, p.

107-108).

Durante a década de 1950, a divisão internacional do trabalho se alterou, passando a segmentar os países periféricos como produtores de manufaturas de consumo e os países do centro como produtores de bens de produção (OLIVEIRA, 1977, p. 83). Dessa forma, o Brasil assumiu a função de desenvolver parte da produção industrial que necessitava de mão de obra intensiva ou recursos naturais abundantes, enquanto a tecnologia mais avançada permanecia restrita aos países desenvolvidos (SINGER, 1977, p. 65-66, p. 89-97).

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A partir das mudanças na economia mundial ocorridas na década de 1970, a divisão internacional do trabalho sofreu nova transformação: alguns países subdesenvolvidos passaram a se inserir como responsáveis pela montagem de produtos e por atividades intensivas em mão de obra, dentro de cadeias produtivas globais administradas por corporações transnacionais (PALMA, 2005, p. 83). Esse é o caso dos tigres asiáticos, que utilizaram os baixos salários como impulso para a industrialização de suas economias e, posteriormente, passaram a produzir manufaturados de maior valor agregado (FRIEDEN, 2008, p. 616-642).

Desde o início da década de 2000, o processo agudo de deslocamento das cadeias produtivas para países que apresentam menor custo de produção5 acelerou a ocorrência de processos de desindustrialização em diversas partes do mundo e vem ocasionando a diminuição do peso relativo da indústria nessas economias. O deslocamento de atividades industriais e de serviços é facilitado pelo neoliberalismo, pois a ausência de políticas industriais em cada país, o número reduzido de proteção aos mercados nacionais e os baixos custos de transporte proporcionados pelos avanços tecnológicos tornou possível a produção de bens em locais distantes dos mercados consumidores. Os custos de produção reduzidos dos países receptores dessas cadeias globais de valor são propiciados especialmente por meio da manutenção de salários em níveis reduzidos e a quase inexistência de direitos sociais e de proteção ambiental (SALAMA, 2012, p. 224-225).

A globalização forçou a competição internacional entre trabalhadores individuais, que passam a dividir tarefas com trabalhadores de outros países. As atividades de maior qualificação técnica continuaram a ser realizadas em países desenvolvidos, com abundância desse tipo de mão de obra, enquanto as tarefas menos qualificadas e menos remuneradas passaram a ser realizadas por trabalhadores de países pobres (BALDWIN, 2006). Essa nova divisão internacional do trabalho imposta pela globalização também forçou uma competição entre os países do Terceiro Mundo por vantagens comparativas, na tentativa de conquistar espaço no mercado mundial (FRIEDEN, 2008, p. 616-642).

5 O processo de globalização tem incitado um crescente debate acadêmico para definição de um termo que caracterize as atividades das empresas multinacionais que estabeleceram a produção de componentes no exterior, formando complexas cadeias produtivas globais. Entre eles, estão conceitos como offshoring (BLINDER, 2006), unbundling (BALDWIN, 2006) e task trade (GROSSMAN & ROSSI-HANBERG, 2006).

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Os impactos no emprego industrial

O aumento dos fluxos de comércio internacional produziu alterações profundas na estrutura do emprego. Assim, países se especializaram na produção de bens intensivos em mão de obra qualificada e, devido às características desse tipo de trabalho (alta produtividade e nível tecnológico elevado), passaram a requerer um número reduzido de trabalhadores, o que teve impactos negativos na participação da indústria no emprego industrial. Por outro lado, outros países passaram a demandar um número elevado de trabalhadores ao se especializarem na produção de bens intensivos em mão de obra menos qualificada e a indústria teve sua relevância ampliada, como ocorreu no caso chinês (FEIJÓ & STEFFENS, 2015, p. 141-142).

No Brasil, entre 2005 e 2015, a participação da indústria no PIB regrediu de 17,4% para somente 11,8% (conforme o gráfico 1). Em resumo, esses dados mostram que a indústria brasileira perdeu 32% de sua relevância na economia, evidenciando que o Brasil se encontra em um processo acelerado de desindustrialização, conforme ilustra o gráfico a seguir:

Gráfico 1. Indústria de Transformação, valor adicionado – Brasil (% de participação no PIB, 1994-2015)

Fonte: Banco Mundial & OCDE, 2015.

É possível observar no gráfico acima que, após a implantação do Plano Real, a indústria perdeu participação no PIB de forma acelerada, no entanto, grande parte da forte queda ocorrida em 1994 e 1995 está relacionada às mudanças metodológicas na

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série. A queda também pode ser associada à abertura de mercado imposta após o Real, que colocou os produtos nacionais para concorrer com produtos importados, como forma de controlar a inflação. Além disso, com o câmbio valorizado (que chegou a ter paridade com o dólar, ou seja, 1 real era igual a 1 dólar), a abertura provocou uma enxurrada de importados nas prateleiras dos supermercados. As indústrias nacionais perderam parte do mercado nacional, ao mesmo tempo em que não estavam preparadas para competir por mercados no exterior, e como resultado, ocorreram fusões, falências e desnacionalizações das empresas do setor.

Na década de 2000, a proporção do emprego na indústria de transformação em relação à População Economicamente Ativa (PEA) não-agrícola caiu de 15,4% para 13,7%, entre 2002 e 2013. Essa queda foi mais intensa a partir da crise internacional de 2008/2009, o que pode demonstrar que as dificuldades externas afetaram a competitividade da indústria brasileira e, consequentemente, o nível de emprego. Desde 2010, como reflexo da crise internacional e da redução dos investimentos, ocorreu a desaceleração da produção industrial e da geração de empregos no setor (MATTOS, 2015). Tal cenário levanta preocupações quanto ao futuro desempenho da economia e da recuperação do mercado de trabalho, que foi altamente impactado pela crise política e econômica brasileira, iniciada durante as eleições de 2014, conforme ilustra o gráfico abaixo:

Gráfico 2. Desemprego, total (% da força de trabalho, 2003-2017), Brasil – modelo de estimativa OIT

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Fonte: ILOSTAT Database/Banco Mundial, 2016. IBGE, 2017. *Dados relativos ao primeiro trimestre de 2017 (jan-fev-mar).

Parte da literatura acadêmica, como Souza (2017, p. 117), indica que a baixa capacidade de competição da indústria brasileira também está associada aos aumentos reais de salários acima do aumento do nível de produtividade. No entanto, é importante destacar que esse discurso serve de base para a retirada de direitos trabalhistas, sociais e previdenciários, e que a estratégia da burguesia industrial para aumentar os lucros tem sido a aplicação de salários cada vez mais baixos, e não por investimentos produtivos.

Além disso, é importante destacar que o peso do setor de serviços no mercado de trabalho é muito maior do que o da indústria (e tem ganhado cada vez mais importância), mantendo uma proporção de 3 para 1, como demonstram as duas tabelas abaixo.

6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017*

Desemprego (% da força de trabalho), Brasil

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Tabela 1. Pessoal empregado (Brasil, em milhões de trabalhadores) – 2000-2009

Ano Indústria Serviços

2000 15,4 46,0

2001 15,3 47,3

2002 15,9 49,4

2003 16,0 50,4

2004 17,1 52,3

2005 18,2 53,7

2006 18,2 56,6

2007 19,0 58,1

2008 20,1 59,0

2009 19,8 60,2

Fonte: PASTORE, GAZZANO & PINOTTI, 2013, p. 128.

Tabela 2. Pessoal ocupado (Brasil, em mil pessoas) – 2003-2011

Ano

Indústria Serviços Adm. Pública

Total Ocupados % do

total Ocupados % do

total Ocupados % do total

2003 3307 17,5 11112 58,7 2950 15,6 18944

2004 3450 17,7 11521 59,0 2941 15,1 19526

2005 3496 17,5 11789 59,2 3061 15,4 19928

2006 3549 17,4 12113 59,5 3099 15,2 20362

2007 3522 16,9 12526 60,0 3230 15,5 20882

2008 3610 16,8 12761 59,3 3451 16,0 21507

2009 3624 16,6 12991 59,5 3416 15,7 21815

2010 3735 16,7 13357 59,5 3596 16,0 22450

2011 3661 16,1 13578 59,7 3625 15,9 22734

Fonte: IBGE apud PASTORE, GAZZANO & PINOTTI, 2013, p. 153.

Para ilustrar a redução dos empregos na indústria de transformação brasileira no período recente, apresentamos o gráfico abaixo, que demonstra a tendência declinante da participação do número de pessoas ocupadas na indústria de transformação em relação ao total de empregos do país:

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Gráfico 3. Emprego na indústria de transformação – Brasil (2006-2015)

Fonte: IBGE, 2016. Elaboração do autor.

A partir da observação do gráfico acima, vemos que a indústria brasileira era responsável por 19,5% dos empregos do país, dado que assumiu uma tendência de queda a partir de 2007, atingindo 16,4% em 2015. Seguindo o conceito clássico de desindustrialização, podemos afirmar que, entre 2006 e 2015, o setor industrial perdeu relevância em relação ao restante da economia e, em outras palavras, o país tem se desindustrializado. Em quase todo o período, o emprego na indústria apresentou taxas de variação negativas. Infelizmente, os dados relativos ao período anterior a essa série histórica utilizam uma metodologia de pesquisa diversa e, portanto, não podem ser comparados com os dados mais recentes sobre o emprego industrial.

Considerações finais

Com as discussões apresentadas sobre as transformações ocorridas no último quarto do século XX e nas décadas recentes, esperamos contribuir e demonstrar a gravidade dos processos de desindustrialização quando a ótica do emprego é analisada.

Nesse caso, falamos sobre o crescente desemprego, o que levanta preocupações sobre as consequências sociais desse processo, especialmente nas regiões pobres do planeta.

16 16,5 17 17,5 18 18,5 19 19,5 20

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Quanto à conjuntura brasileira, vimos que a indústria e o emprego industrial têm perdido relevância de maneira constante. O caso brasileiro caracteriza uma desindustrialização precoce, ou seja, o país está se desindustrializando de forma prematura, antes de dar origem a uma economia mais dinâmica. O caso é grave, pois, conforme os pressupostos de Kaldor (1996), a indústria é fundamental para o desenvolvimento de uma nação. O setor é essencial para a geração de empregos, tecnologia e aumento da produtividade. O caso brasileiro também chama atenção por sua relação com o receituário neoliberal, com os números evidenciando uma correlação entre abertura econômica e as dificuldades do setor industrial.

Por fim, é necessário destacar que a destruição de empregos e a compressão de salários em decorrência da desindustrialização poderia demonstrar resistência, caso houvesse mobilização social nesse sentido. Nos países europeus, por exemplo, o aumento da competitividade das exportações tem sido estimulado a partir de políticas econômicas que garantam o aumento da produtividade do trabalho. Diante da redução do nível de empregos, os sindicatos têm aceitado reajustes salariais próximos às taxas de crescimento da produtividade do trabalho. No Brasil, onde os salários são comprimidos por fatores como a ampla oferta de mão de obra e o baixo nível de sindicalização dos trabalhadores, o aumento da competitividade das exportações se torna mais dependente de outros fatores, como a taxa de câmbio (LOURES et al., 2006, p. 23).

Entre 2004 e 2010, o aquecimento do mercado de trabalho brasileiro e a formalização do emprego, que possibilitaram maior acesso à direitos trabalhistas, sociais e previdenciários para uma maior parcela da população, propiciou também melhores condições de negociação de aumentos reais de salários, apesar das dificuldades da indústria (MATTOS, 2015, p. 85-86). No entanto, a crise iniciada na disputa eleitoral de 2014 ameaça as conquistas citadas, especialmente com a perspectiva de precarização das relações trabalhistas e da destruição da previdência social. A austeridade, apresentada pelo governo como alternativa para aumentar a competitividade da indústria comprime a demanda, dificultando a operação da indústria em seu principal mercado, o mercado interno, e aprofunda o processo de desindustrialização.

Referências Bibliográficas

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