• Nenhum resultado encontrado

Sumário. Texto Integral

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Sumário. Texto Integral"

Copied!
7
0
0

Texto

(1)

Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0421280

Relator: MARQUES DE CASTILHO Sessão: 08 Março 2005

Número: RP200503080421280 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: AGRAVO.

Decisão: PROVIDO.

MÚTUO FIANÇA TRIBUNAL COMPETENTE

Sumário

I - A cláusula inserta num contrato escrito de mútuo com fiança, atributiva da competência territorial do tribunal competente para dirimir as questões

inerentes ao mesmo, não se aplica às acções em que apenas estejam em causa as relações de fiadores e mutuários (exercícios do direito de regresso).

II - Mesmo que fosse aplicável, seria tal cláusula nula por envolver graves inconvenientes para uma das partes.

Texto Integral

Acordam na Secção Cível do Tribunal da Relação do Porto Relatório

B... e C... deduziram embargos de executado contra D..., além do mais excepcionando a incompetência territorial do Vara Cível da comarca do Porto e para o efeito alegando em síntese que no contrato de mútuo que serve de base à execução e em que a embargada actuou como fiadora dos

embargantes, foi convencionado, como foro competente, o da comarca de Lisboa, pelo que é o tribunal da área dessa comarca o competente.

Após citação na contestação a embargada alegou que escolheu a comarca do Porto, pois entende que não se aplica ao caso o disposto no artigo 99° do Código Processo Civil como serão todas as outras disposições legais infra citadas de que se não faça menção especial, uma vez que os pactos privativos de atribuição de jurisdição só são válidos quando se verifiquem

cumulativamente todos os requisitos insertos na norma, o que não seria o caso, por acarretar graves inconvenientes de natureza pessoal e económica

(2)

para todas as partes, para além de que o que está em causa, na execução, não é o incumprimento do contrato de mútuo, mas sim, uma sub-rogação de

créditos a favor da embargada por ter pago a dívida assumida pelos mutuários.

O Mmº Juiz apreciando a matéria de excepção suscitada proferiu decisão no sentido da procedência da invocada excepção referindo “… e ponderando o disposto nos artigos 111° nºs 1 e 3, 288° nº2, nº 2 e 494° a) do C.P.C., julgo territorialmente incompetente este tribunal para conhecer desta execução e seus apensos, ordenando a remessa dos autos para o tribunal de Lisboa, por ser o competente.”

Inconformada veio a embargada oportunamente interpor o presente recurso qualificado como de agravo a subir imediato nos próprios autos e com efeito suspensivo tendo para o efeito nas alegações atempadamente apresentadas aduzido a seguinte matéria conclusiva que passa a reproduzir-se:

“II- O presente litígio envolve apenas e tão só a Recorrente e os Recorridos, não se relacionando com a instituição bancária que procedeu ao empréstimo aos Recorridos - a Caixa... - e cuja fiadora foi a Recorrente, não estando em apreço no presente processo qualquer vício ou incumprimento do contrato de mútuo celebrado entre a Caixa... e os Recorridos, por parte, quer do

mutuário, quer dos mutuantes, mas tão só uma sub-rogação de créditos a favor da Recorrente por ter liquidado a dívida assumida pelos mutuários (Recorridos) e por estes não cumprida.

III- Os sujeitos da relação material controvertida em questão são Recorrente e Recorridos, por aquela figurar no contrato como fiadora.

IV- O foro convencional da comarca de Lisboa, foi escolhido para qualquer litígio que envolvesse o contrato de mútuo celebrado entre Recorridos e a mutuária, a Caixa..., que nem sequer é parte na presente execução.

V- A cláusula de escolha do foro convencional como sendo o da comarca de Lisboa, claramente, apenas aproveitaria à Caixa..., a única das três partes envolvidas no contrato de mútuo que tem domicílio em Lisboa, já que, quer a ora Recorrente, quer os Recorridos têm domicílio na comarca do Porto.

VI- Tal cláusula, conforme vem sendo hábito entre as instituições bancárias e outras empresas semelhantes, não foi realmente convencionada pelas partes, mas pura e simplesmente integrada num determinado contrato de adesão, vendo-se a outra parte na obrigação de as aceitar, sem possibilidade de

discussão ou acordo quanto às mesmas, sendo certo que a Recorrente apenas subscreveu o contrato de mútuo aludido como fiadora, não sendo a parte verdadeiramente interessada no contrato.

VII- O foro convencionado, de harmonia com o disposto no art. 100° do Cód.

(3)

Proc. Civil não é válido ou aplicável in casu, já que não é justificado por um interesse sério de ambas as partes, ou sequer de uma delas, tanto mais que envolve grave prejuízo para uma das partes, pelo menos para a ora

Recorrente.

VIII- No caso em apreço, os interesses da Caixa... nem sequer estão em

discussão, atento o facto da mesma nem sequer ser parte no presente pleito, e os interesses dos Recorridos - ambos com domicílio no Porto -não se

mostrarem de tal forma relevantes que justifiquem os inconvenientes que irão causar à Recorrente.

IX- Não é aplicável ao presente caso o disposto no art. 100° do Cód. Processo Civil, aplicando-se, em consequência, a norma geral, inserta no art. 94° do mesmo normativo, no que tange à competência territorial para as execuções.

X- A cláusula em causa é uma cláusula pré-definida, pronta a receber a adesão de qualquer indivíduo que pretenda celebrar um contrato de mútuo com

aquela instituição bancária, conforme foi o caso dos Recorridos, sendo que de harmonia com o regime plasmado no D.L. 446/85 de 25 de Outubro, com as alterações introduzidas pelo D.L. 220/95 de 31 de Agosto, a mesma cláusula é objectivamente nula, tanto mais que envolve graves inconvenientes para uma das partes, sem que os interesses da outra o justifiquem (art. 19°, al. g) de tal D.L.).

XI- Qualquer cláusula que estabeleça um foro competente para resolução de qualquer litígio emergente do contrato de mútuo, diferente do da Comarca do Porto, acarretaria sempre sérios e graves inconvenientes para as partes, Recorrente e, inclusive, pensa a Recorrente, aos Recorridos, já que vivem no Porto, mantendo a sua vida centrada na zona Metropolitana desta cidade, sendo, neste caso concreto, extremamente custoso as deslocações e demais circunstâncias que um pleito a decorrer no Tribunal da Comarca de Lisboa acarretaria, pelo menos para a Recorrente.

XII- Para além do mais, toma-se claro que tal cláusula é uma clássica cláusula de adesão, que a Recorrente claramente a subscreveu sem consciência do seu conteúdo, pelo que a mesma sempre seria proibida, aplicando-se, em

consequência, as regras gerais sobre a competência do foro.

XIII- Assim, o Tribunal da Comarca do Porto é o tribunal territorialmente competente para conhecer dos presentes autos.

XIV- Ao não decidir deste modo, violou o douto Tribunal "a quo" o disposto nos art.s 94°, 99°, 100°, 111º, 288º, nº2, 493°, n°2 e 494° al. a) do Código

Processo Civil.”

Termina pedindo que seja dado provimento ao presente recurso e, por via disso revogada a douta decisão recorrida, substituindo-a por outra que contemple as conclusões supra aduzidas.

(4)

Não foram apresentadas contra alegações.

Mostram-se colhidos os vistos dos Exmºs Juízes Adjuntos pelo que importa decidir.

THEMA DECIDENDUM

A delimitação objectiva do recurso é feita pelas conclusões das alegações dos recorrentes, não podendo este Tribunal decidir sobre matérias nelas não incluídas, a não ser que as mesmas sejam do conhecimento oficioso, art. 684 nº3 e 690 nº1 e 3.

A questão que está subjacente na apreciação do presente recurso traduz-se em determinar qual o tribunal territorialmente competente para conhecer do processo de embargos de executado a correr seus termos por apenso à

execução que foi movida com fundamento em contrato de mutuo com fiança celebrado com a Caixa... e em que se estipulou o foro da comarca de Lisboa para os pleitos emergentes do referido contrato.

DOS FACTOS E DO DIREITO

A matéria factica que importa considerar e de relevância para a decisão traduz-se na apreciação da clausula inserta no contrato de mútuo com fiança celebrado entre os executados a referida Caixa... e a ora exequente na qualidade de fiadora e em cuja clausula 18 se estipula sob a epigrafe Foro:

”Fica estipulado o foro da comarca de Lisboa para os pleitos emergentes do presente contrato”

Sendo ainda de referir que a execução é movida pela aludida fiadora como se aludiu contra os ora embargantes e conforme igualmente resulta da p.i. junta nos presentes autos de fls. 70 a 73 inclusive, em virtude de haver pago a quantia de Euros 22 697,13 aquela instituição bancária ficando sub-rogada nos direitos daquela tendo-se transferido para a exequente o respectivo crédito com as respectivas garantias e acessórios.

Vejamos.

Não se discute nem coloca em causa um pacto privativo de atribuição de jurisdição, pois não está em discussão que a competência seja dos tribunais portugueses sendo certo que os requisitos de validade estipulados no nº 3 do artigo 99° que foram invocados prendem-se com a eleição do foro a nível internacional, quando seja possível escolher entre a jurisdição de vários países. Não é o caso.

Assim a questão suscitada pela embargada e relativa à aplicação do artigo 94°

face à inaplicabilidade do disposto no artigo 99° por não se verificarem os

(5)

requisitos do seu nº 3, não tem razão de ser, como aliás bem se considerou na decisão proferida.

O que esta em causa é sim um pacto de competência ou seja a convenção pela qual as partes designaram como competente para o julgamento do litigio eventualmente suscitado um tribunal diferente daqueles que resultaria das regras de competência interna e ao contrário daquele outro aludido – pacto de jurisdição previsto no artigo 99º os contraentes não escolhem entre as

diversas jurisdições mas entre os vários tribunais nacionais no seu confronto recíproco.

Tais convenções apenas podem incidir sobre a competência em razão do território e mesmo assim ainda com a ressalva dos casos de conhecimento oficioso da incompetência relativa previstos no artigo 110º nº1.

Como se referiu a competência fundada na estipulação do pacto é vinculativa para as partes importando a sua infracção a incompetência relativa do

tribunal o tribunal não pode conhecer oficiosamente essa violação todavia o tribunal conhece oficiosamente da nulidade do pacto de competência tendente ao afastamento das regras de competência que segundo o nº 1, não podem ser afastadas por vontade das partes e, consequentemente da incompetência do tribunal em que de acordo com o pacto a acção seja proposta (cfr. artigos 102º e 110º)

Perante estes considerandos importa desde logo dizer, salvo melhor

entendimento, que o que está em causa nos autos não é o incumprimento ou qualquer vício do contrato de mútuo, mas apenas a relação da fiadora com os mutuários, por haver pago no lugar deles e pretender agora subrogar-se, ou seja, são as relações fixadas e determinadas por virtude da mesma fiança.

No que concerne ao contrato de mútuo o mesmo é claro quanto ao foro

convencionado pelas partes envolvidas, tendo ficado estipulado o da comarca de Lisboa para os pleitos emergentes do referido contrato e importa dizer que igualmente tem de ser esse o entendimento nas relações entre a Caixa... e a fiadora, sendo certo que tal escolha foi determinada, como é obvio, pela

instituição de crédito em causa, atenta a localização dos seus serviços centrais o que não ocorre com qualquer dos demais intervenientes como resulta dos elementos constantes dos autos.

Mas o que importa reter no domínio e na tipologia de tal contrato, que na verdade se tem de caracterizar como um contrato de adesão,

consequentemente sujeito ao regime fixado no Dec-Lei 446/85 de 25 de Outubro, com as alterações introduzidas pelo D.L. 220/95 de 31 de Agosto, é que a mencionada clausula se mostra fixada como aliás é típico dos elementos estruturantes, em favor da Caixa... e por ela, e respeita como se refere, às partes intervenientes, ao contrato de mútuo e fiança, mas reportadas, salvo o

(6)

devido respeito, às relações entre mutuante e mutuários e fiadora e não às relações decorrentes e subsequentes ou ulteriores, que se apreciem

relativamente a fiador e mutuários entre si, e assim julgamos, na medida em que o fiador intervém em tal contrato apenas como garante do seu

cumprimento e, assim sendo, é essa a relação jurídica que está em causa em tal contrato apenas, o que é bem diferente relativamente ao que os autos de execução visam e de que os embargos deduzidos são necessariamente apenso.

O que se pretende na execução que foi movida pela agravante é o

ressarcimento valorativo ao cumprimento da obrigação que foi assumida perante o credor por direito inerente a sub-rogação bem como e ainda qualquer outro direito próprio contra os devedores derivado da relação

jurídica entre eles, que tenha ou possa ter servido de base à fiança, a fiadora naquele contrato em que na verdade se fixou um pacto de competência apenas intervém enquanto tal e como daí se retirando que a mesma é uma garante daquele outro e que apenas figura nele nessa posição jurídica donde apenas poderem retirar-se as inerentes consequências de tal situação que não já as próprias das relações estabelecidas entre ela e os mutuários.

Mas igualmente importa referir, como alias já supra se deixou impresso, que a clausula que foi estipulada, mesmo que se aplicasse, o que apenas por mera hipótese argumentativa se admite, é uma clausula predefinida própria e típica dos aludidos contratos de adesão, concretamente de qualquer que queira celebrar com a aludida instituição de crédito um contrato de mutuo e como tal se nos afigura objectivamente nula uma vez que sempre envolveria graves inconvenientes para uma das partes ou melhor no caso até para as duas em litigio dado que ambas têm a respectiva residência na área da comarca, facto que aliás não é minimamente impugnado nos autos.

Na verdade nos termos da alínea g) do art. 19° do D.L. 446/85 de 25/10, na redacção anexa ao D.L. 220/95 de 31/08, são proibidas, consoante o quadro negocial padronizado, as cláusulas contratuais gerais que "estabeleçam um foro competente que envolva graves inconvenientes para uma das partes, sem que os interesses da outra o justifiquem " e como foi supra referido e

entendido os interesses da Caixa... nem sequer estão em discussão, atento o facto de para além do mais a mesma nem sequer ser parte no pleito executivo ou e ainda nos embargos deduzidos e os interesses dos embargantes e

embargada com domicílio no Porto não se mostrarem de tal forma relevantes que justifiquem os inconvenientes que irão causar ou poderão causar mais do que evidentes em temos de conhecimento pela sua localização na cidade de Lisboa.

Sempre tal clausula se teria como tem de objectivamente considerar e

qualificar de nula pelo que necessariamente determinaria a não aplicabilidade

(7)

in casu e daí tornarem-se e imporem-se como vigorantes as regras da

competência próprias para o processo respectivo de execução determinadas por força do estatuído no artigo 94º 1.

Nestes termos, sem necessidade de outros considerandos, necessariamente que, ainda que por diversa fundamentação em parte, se têm de acolher as conclusões recursivas e nessa conformidade se ordenar a consequente

revogação da decisão proferida, devendo como tal considerar-se competente a correspondente Vara Cível desta comarca do Porto.

DELIBERAÇÃO

Em face do exposto concedendo provimento ao interposto recurso de agravo revoga-se o despacho proferido e ordena-se a sua substituição por outro que considerando competente o respectivo Tribunal - Vara Cível - em razão do território ordene o ulterior prosseguimento dos autos.

Sem custas.

*

Porto, 08 de Março de 2005

Augusto José Baptista Marques de Castilho Maria Teresa Montenegro V C Teixeira Lopes Emídio José da Costa

Referências

Documentos relacionados

Art. O currículo nas Escolas Municipais em Tempo Integral, respeitadas as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e a Política de Ensino da Rede, compreenderá

Os candidatos reclassificados deverão cumprir os mesmos procedimentos estabelecidos nos subitens 5.1.1, 5.1.1.1, e 5.1.2 deste Edital, no período de 15 e 16 de junho de 2021,

Segundo Cabello (1996), um emissor autocompensante apresenta o expoente da equação característica da vazão em função da pressão variando entre 0 a 0,4, informação

Se tiver quaisquer efeitos secundários, incluindo possíveis efeitos secundários não indicados neste folheto, fale como o seu médico ou farmacêutico4. O que precisa de saber antes

Todas as outras estações registaram valores muito abaixo dos registados no Instituto Geofísico de Coimbra e de Paços de Ferreira e a totalidade dos registos

Após a gastroplastia, a hidroginástica tem sido uma atividade física de suma importância, uma vez que segundo Gonçalves (1996) pode proporcio- nar aos seus adeptos: auxílio no

No primeiro, destacam-se as percepções que as cuidadoras possuem sobre o hospital psiquiátrico e os cuidados com seus familiares durante o internamento; no segundo, evidencia-se

O objetivo deste trabalho foi realizar o inventário florestal em floresta em restauração no município de São Sebastião da Vargem Alegre, para posterior