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mbyá guarani

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Academic year: 2021

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Fonte:blog-do-netuno.blogspot.com.br/2012/02/indigena-guarani-mbya-que-vive-isolada.html

Fonte: Gisele Tomkiel

Fonte: pibmirim.socioambiental.org/node/16372 Fonte:curtadoc.tv/curta/comportamento/mbya-reko-pygua-a-luz-das-palavras/ Fonte: mbyaguaranibr116.org/um-pouco-do-artesanato-mbya-guarani/

Fonte:racismoambiental.net.br/2015/04/24/carta-aberta-dos-guarani-mbya-do-municipio-de-sao-paulo-contra-reintegracao-de- Fonte: h p://www.rapanuy.com.br/2012/02/guarani-Fonte: www.flickr.com/photos/mauroguanandi/2508977491

Fonte: www.pinterest.com/pin/288300813622520913/

intervenção em comunidade índigena

. Proposta de mobilidade entre aldeias do território indígena de nonoai (rs);

. centro de vivência indígena para comunidade mbyá guarani - tekoá ka’aguy poty

acadêmica: daniela susin guerra

orientação: nauíra zanardo zanin

mbyá

guarani

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SUMÁRIO

1. Problemá ca --- 1

2. O projeto --- 1

3. População Indígena --- 1

3.1 No Brasil --- 1

3.2 No Rio Grande do Sul --- 1

4. Territórios e Legislação --- 1

5. Território Indígena de Nonoai --- 2

5.1 Localização --- 2

5.2 Dados gerais --- 2

5.3 Histórico de ocupação --- 3

5.4 Aproximação com as aldeias --- 4

Ivaí, Cruzeiro, Pinhalzinho --- 5

Tekoá, Bananeiras II, Bananeiras --- 6

6. Diretrizes proposta de mobilidade --- 7

7. Centro de Vivência Indígena --- 8

7.1 Jus fica va do local --- 8

7.2 Obje vos --- 8

7.2.1 Obje vo geral --- 8

7.2.2 Obje vos específicos --- 8

7.3 Procedimentos metodológicos --- 8

8. Cultura Mbyá Guarani --- 9

8.1 Ocupação --- 9

8.2 Mobilidade Guarani --- 9

8.3 Religião, medicina e liderança --- 9

8.4 Artesanato --- 9

9. Painel Semân co --- 10

10. Arquitetura Mbyá Guarani --- 11

10.1 Organização espacial do tekoá --- 11

10.2 Arquitetura --- 11

10.2.1 Materiais --- 11

10.2.2 Casas --- 11

10.2.3 Casa de Reza --- 11

11. Aproximação Tekoá Ka’aguy Poty --- 12

12. Tekoá Ka’aguy Poty --- 12

12.1 Localização --- 12

12.2 Dados gerais --- 13

13. Estrutura Tekoá Ka’aguy Poty --- 14

14. Condicionantes naturais --- 15

15. Lançamento proposta / conceito --- 16

16. Diretrizes e referências --- 17

17. Lançamento da proposta --- 18

18. Lançamento da proposta --- 19

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O presente trabalho de conclusão de curso tem por obje vo discu r a temá ca indígena através de uma abordagem projetual, iden ficando fatores que possam auxiliar na manutenção do bem viver indígena e na vivência em seu território. A presença de vários agrupamentos indígenas no contexto local e regional foi um grande mo vador para a escolha da temá ca, na perspec va de contribuir com a região onde a universidade está inserida.

PORTO ALEGRE ERECHIM

Assim como todo o grupo humano, a cultura dos povos indígenas é resultado da relação histórica entre as pessoas e entre as pessoas e o meio ambiente. Contudo, no caso dos índios, essa relação foi dras camente alterada pela realidade da colonização (ISA). Apesar de uma ruptura parcial com o modo tradicional, o indígena no Rio Grande do Sul, assim como em um quadro nacional, não se tornou branco e iniciou um processo lento e con nuo de recuperação demográfica (SILVA, G.F.; PENNA, R.; CARNEIRO, L.C.C. (Org.), 2009).

Mesmo com alguns avanços legisla vos¹ na proteção ao índio e manutenção de seu modo de vida, a realidade das comunidades ainda é de carência de infraestrutura, edificações, espaços de vivência e principalmente de dificuldade de se auto gerenciar, dependendo de assistência governamental. Dessa forma, de maneira geral, o que tem se visto nas aldeias no campo da arquitetura são intervenções que não são específicas para sua cultura, sendo extensões de polí cas públicas e de programas existentes.

Tendo em vista esse quadro, o projeto busca uma aproximação com essa realidade e formas de intervir nesse espaço de maneira condizente com as dinâmicas sociais dessas comunidades. Para isso, é posto como elemento fundamental um processo de constante diálogo com a

1 - Os avanços legisla vos seguem descritos no item quatro.

Territórios indígenas e sua relação com Erechim, RS

A proposta de intervenção consiste em um plano de diretrizes para melhorar a mobilidade entre as aldeias do Território Indígena de Nonoai (TI Nonoai), mais especificamente as dispostas ao longo da RS-324, bem como a criação de um Centro d e V i v ê n c i a I n d í g e n a p a r a u m a comunidade Mbyá Guarani dessa área, sendo essa a ênfase do trabalho.

P a r a t a n t o b u s c o u - s e u m a aproximação com o território, com a temá ca indígena e com a comunidade.

1. problemática

2. O PROJETO

TI NONOAI

Aldeias Kaingang

Aldeia Guarani de intervenção

RS-324

3. população indígena

3.1 No Brasil

É bastante recente a visibilidade dos indígenas esta s camente. Os levantamentos do IBGE (2010) permitem visualizar um crescimento demográfico desses povos na atualidade. Contudo, em relação a época da chegada dos europeus, haviam no Brasil aproximadamente 3 milhões de índios e cerca de 1000 povos, enquanto atualmente esse índice chega a 896.917 indígenas e 243 povos, representando aproximadamente 0,5% da população brasileira.

No que tange a sua localização, há uma diminuição de indígenas na área rural, o que demonstra um processo de migração para áreas urbanas, ainda que 60% dessa população ainda permaneça em áreas rurais distribuídas em 699 terras indígenas. Nesse sen do, segundo a antropóloga Marta Maria Azevedo (2011), já tem sido objeto de estudos antropológicos o surgimento de cidades e bairros indígenas em Territórios Indígenas, havendo uma alteração desse conceito de rural para uma espécie de “aglomerado urbano em áreas rurais”.

3.2 No Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul ocorre a presença das etnias Kaingang, Guarani e Charrua, sendo que a maior ocupação se dá no norte do estado distribuídos em 46 Territórios Indígenas em situações judiciais dis ntas. Algumas terras ainda não foram demarcadas devido a necessidade de desapropriação de famílias, na maior parte, de pequenos agricultores. Dessa forma, percebe-se que o estado se exime de agilizar o processo por questões polí cas. A aproximação com o modo de vida tradicional é bastante prejudicada principalmente pelo fato da terra ser amplamente u lizada para o agronegócio e restar pouca área de mata.

4. territórios e legislação

Historicamente a disposição de leis em relação a população indígena ocorria através de uma perspec va de que o índio se integraria a sociedade a longo prazo e durante esse processo de integração, seria tutelado por um órgão indigenista estatal. Nesse sen do, o Estatuto do índio promulgado em 1973 exemplifica essa visão, não apresentando avanços em relação as leis vigentes, sendo que as cons tuições de 1824 e 1889 nem citam a questão indígena:

Esses territórios pertencem à União, contudo são concedidos em caráter permanente aos indígenas, que podem fazer uso da área e de seus recursos. Mesmo que a legislação tenha determinado um período para a demarcação dessas áreas (até 1993), os territórios encontram-se em diferentes níveis dentro desse processo e existe bastante conflitos territoriais, que vão além da dimensão da produ vidade da terra, mas também de vínculo com a mesma.

Em linhas gerais, o Estatuto seguiu um princípio estabelecido pelo velho Código Civil brasileiro (de 1916): de que os índios, sendo "rela vamente incapazes", deveriam ser tutelados por um órgão indigenista estatal (de 1910 a 1967, o Serviço de Proteção ao Índio - SPI; atualmente, a Fundação Nacional do Índio - Funai) até que eles es vessem “integrados à comunhão nacional”, ou seja, à sociedade brasileira. (ISA)

Em relação aos órgãos indigenistas, o Serviço de Proteção ao Índio (SPI) foi criado em 1910 e foi subs tuído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em 1967, sendo que o mesmo existe até hoje. Segundo o Ins tuto Sócio Ambiental, a criação do SPI se deu em um contexto bastante crí co de conflito em relação a diversos segmentos que condenavam os indígenas que resis am à integração. Nesse sen do o SPI foi criado para proteger e integrar o índio, além de u lizá-los como mão de obra em colônias agrícolas fundadas.

O direcionamento para uma perspec va de preservação da cultura indígena, no âmbito da legislação, ocorre através da Cons tuição de 1988 que além de modificar o entendimento sobre o índio no que tange a não transitoriedade de sua cultura, garante direitos que antes não eram previstos, como o direito as terras que tradicionalmente ocupavam.

Através do entendimento, a par r da Cons tuição de 1988, de que os índios foram os primeiros donos dessa terra, os territórios indígenas passam a ser reconhecidos mediante a comprovação do vínculo com a área sendo definidos de acordo com a Cons tuição:

A definição de terras tradicionalmente ocupadas pelos índios encontra-se no parágrafo primeiro do ar go 231 da Cons tuição Federal: são aquelas "por eles habitadas em caráter permanente, as u lizadas para suas a vidades produ vas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução sica e cultural, segundo seu usos, costumes e tradições". (ISA)

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5. território indígena de nonoai

5.1 Localização

O Território Indígena de Nonoai fica localizado ao norte do Rio Grande do Sul e abrange cinco cidades na porcentagem indicada:

Município Área do município (ha) Porcentagem do

município

Alpestre 3.28 1,97%

Gramado dos Loureiros 1.31 9,91%

Nonoai 4.69 19,98%

Planalto 2.30 26,24%

Rio dos Índios 2.36 10,21%

Pelo território passa a RS 324 que está em condições bastante precárias de conservação, não favorecendo a mobilidade. O trecho da RS 324, que corresponde a proposta de mobilidade entre as aldeias do território, possui aproximadamente 25 Km.

O TI Nonoai faz divisa com o Território Indígena Nonoai Rio da Várzea que possui área de 16.415 ha e 442 índios da etnia Kaingang, contudo não há uma delimitação sica entre os mesmo ele apenas leva outra nomenclatura pois se trata de uma área indígena que foi transformada em parque florestal e posteriormente voltou a ser demarcada para os índios.

5.2 Dados gerais

O TI de Nonoai foi demarcado ainda pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) em 1857. Passou por um processo de conflitos territoriais entre índios, la fundiários, pequenos agricultores e o próprio estado o que influenciou na ocupação atual e que segue descrito mais detalhadamente na sequência do trabalho. O território possui 19.799 ha e possui indígenas das etnias Kaingang e Guarani contabilizando aproximadamente 2680 pessoas (ISA, 2015).

A grande parte vive da agricultura de subsistência, de rendimentos do Programa Bolsa Família ou de aposentadoria. Percebe-se uma maior exposição dos Kaingang a cultura externa do que os Guarani que permanecem mais vinculados a cultura tradicional. O mapa demonstra a organização das aldeias dentro do TI ficando bastante evidente os diferentes graus de contato com a cidade desde algumas junto a malha urbana (1) quanto mais distantes e envolta por mata (7). Diferencia também as etnias, havendo predominância de aldeias Kaingang, uma aldeia Kaingang com subnúcleos Guarani (4) e uma Mbyá Guarani.

Fonte: .socioambiental.org/pt-br/#!/pt-br/terras-indigenas/3776 1 2 3 4 6 5 7 8 9 10 11 12 13 14 15 Nonoai Planalto 1- Aldeia Ivaí 2- Quarta Seção 3- Aldeia Cruzeiro 4- Aldeia Pinhalzinho 5- Vila 2

6- Vila dos Aposentados 7- Flor da Mata

8- Aldeia Bananeiras II 9- Aldeia Bananeiras I 10- Cascata

11- Vista Alegre 12- Rio dos Índios 13- Capinzal 14- Sede do posto 15- Capão Alto Localização das aldeias

Aldeias Kaingang Aldeias Guarani

Imagem: RS-324

Imagem: proximidade da via e de Planalto

24Km 12Km

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5.3 Histórico de ocupação – Revolta de Nonoai (1978-1982)

A terra indígena de Nonoai foi demarcada ainda pelo SPI em 1857 como reserva indígena com aproximadamente 35.000 hectares. Essa categorização indica que a terra foi adquirida para reassentamento das comunidades indígenas.

O histórico de ocupação aqui descrito tem como base os estudos de João Carlos Tedesco (2012) através do ar go «O conflito de Nonoai: um marco na história das lutas pela terra no Rio Grande do Sul - 1978 - 1982» que relata a série de conflitos que culminou na Revolta de Nonoai, bem como o contexto em que aconteceram. Teve como agentes pequenos agricultores, esfera pública, organizações ligadas ao setor agrícola e indígena e la fundiários.

Em 1940-60, o Estado, pressionado por la fundiários e colonizadores, incen va/ampara a entrada massiva de colonos resultando em situações de ex nção de reservas (caso de Serrinha e Ventarra) e retalhando outras (Nonoai, Inhacorá e Votouro). A redução de terras indígenas bem como a criação de reservas florestais foi uma prá ca legi mada pelo Estado, que no caso de Nonoai em 1949 teve 50% de sua área des nada para esse fim.

Nesse processo, a atuação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), foi de facilitador do acesso de granjeiros e madeireiros, fato comprovado através de uma inves gação feita em 1961 que declarou acordos entre o SPI e madeireiras que exploravam a área indígena. A exploração da área teve con nuidade sob a tutela da FUNAI que incen vou o desenvolvimento econômico das comunidades através da implementação de projetos agrícolas e da monocultura, sendo que em 1950 essa prá ca a ngiu alto grau de mecanização e uso de insumos químicos.

Concomitante a essa situação das áreas indígenas, o governo Brizola reassentou várias famílias de agricultores sem terra, contudo uma parte das famílias que não foram assentadas intensificaram a intrusão em reservas indígenas, principalmente Nonoai. Através de conversa com Sérgio Omar Marcon dos Santos, do Movimento Sem Terra (MST), assentado na Fazenda Annoni, essas famílias em sua grande maioria eram advindas de locais de inundação de barragens.

Tendo como pressuposto que havia bastante terra para poucos índios, e desconsiderando a importância desse fator como condição de subsistência, essas invasões foram se intensificando. Em 1963, 900 colonos acampam no interior da reserva indígena e o Estado cede cerca de 3000 hectares para assentar aproximadamente 200 famílias:

5. território indígena de nonoai

Os índios vêm fugindo de sua área pressionados pelos invasores. Para se ver a extensão destas invasões dos úl mos meses, basta dizer que só num dia entraram em torno de 60 famílias, e que os 1000 e poucos índios de há três anos só restam ainda uns 700 na área, tendo os restantes fugido. (SCWADE,1969 apud TEDESCO, 2012)

A temá ca indígena só começa a se encaminhar para uma discussão /reconfiguração no final da década de 70. Nesse sen do, o Conselho Indigenista Missionário (CIMI), da Igreja Católica teve bastante atuação em pastorais sociais e na produção de documentos que relatavam a realidade indígena:

Esses documentos vão revelar também a realidade problemá ca dos índios no Brasil (suicídios, doenças, ex nção, redução de reservas, incipiente e discu vel representação pública e de sua própria en dade, mudanças culturais, intrusão, impacto internacional, exploração do la fúndio, pros tuição, etc.). (TEDESCO, 2012)

Nesse sen do, esses documentos ajudaram a produzir uma certa pressão social e até mesmo a própria FUNAI para se manifestar em defesa dos índios. Em 1973 é promulgado o Estatuto do Índio, que apesar de ter como intuito assegurar as reservas indígenas e as demarcações, não teve muitos avanços em relação a visão das polí cas públicas indígenas, como já citado.

Já em 1978 ocorreu um grande encontro em Mato Grosso, a nível nacional, que se propunha a discu r processos de invasão de terras indígenas, a violência de fazendeiros e madeireiros e a falta de engajamento da FUNAI, fortalecendo a tomada de decisão dos índios de expulsar os colonos da Reserva Indígena de Nonoai, que segundo o INCRA somavam 974 famílias no interior da reserva indígena e florestal de Nonoai.

O confronto entre índios e colonos não foi um caso isolado, só ao norte do Rio Grande do Sul, Cacique Doble, Guarita, Chapecó, Rio das Cobras, Tenente Portela, dentre outras reservas passaram por esses conflitos. Citando o caso de Nonoai, a situação da Reserva Indígena quando ocorreu a Revolta de Nonoai se dava da seguinte maneira:

“(...) colonos e madeireiros já haviam destruído grande parte da reserva florestal no interior da referida reserva. A cultura da soja, desenvolvida e incen vada pela esfera pública estatal, estava desconfigurando a paisagem. A corrupção de funcionários da Funai, os desvios de dinheiro, o não pagamento de arrendamento aos índios, o uso irracional do solo, dos rios e da vegetação em geral, além do total descontrole da esfera pública em torno das intrusões principalmente no ano de 1974, davam o tom do conflito que se avizinhava.” (TEDESCO, 2012)

Além da contribuição de todos esses fatores, havia uma mobilização nacional a favor da causa indígena, desde en dades, organizações, indigenistas, antropólogos e até mesmo a própria ar culação dos índios em relação a esse cenário. Outro fator fundamental foi uma mudança interna de cacique com forte aversão a presença de posseiros.

Em 1978 a revolta ocorre de fato através de advertências, incêndio de sete escolas existentes na reserva e ataques a algumas casas. Foi formada uma patrulha de 250 índios armados que percorreram a reserva dando uma

úl ma advertência para que os colonos saíssem em 24 horas. Após esse tempo, a patrulha voltaria expulsando os agricultores que não vessem se re rado. A revolta foi no ciada em várias mídias, segue trecho do Jornal o Estado de São Paulo:

A luta entre posseiros e índios na reserva indígena de Nonoai se agravou nas úl mas horas. Segundo informações transmi das ao deputado Aldo Pinto pelo prefeito Gervásio Magri, existem dezenas de feridos, muitos dos quais deverão ser transportados para os hospitais de Passo Fundo. No telefonema, o prefeito de Nonoai diz que a situação se agravou na semana passada, quando foram incendiadas sete escolas municipais, localizadas na área da reserva indígena 30. (JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, 1978 apud TEDESCO, 2012)

Ainda que os índios es vessem dispostos a expulsar madeireiros e arrendatários, o confronto se deu mais entre índios e colonos. Essas famílias expulsas (mais de 1000) ficaram vagando pelas estradas da região, e só posteriormente se organizaram em movimentos sociais pela luta por terra.

“A Revolta de Nonoai” consiste em um grande marco histórico devido principalmente as discussões que gerou em relação ao que vinha acontecendo nas reservas indígenas, a negligência do Estado com relação aos conflitos de terra e reassentamentos e o descaso com os sujeitos envolvidos. Em vários momentos se vê o Estado se eximindo de um problema que ele mesmo criou:

O “problema indígena”, aliado aos dos colonos, ganhou feição no campo público, ou seja, transferiu-se e pressionou o estado para que fosse resolvido um problema que ele mesmo criou permi ndo, no decorrer de muitas décadas anteriores, a intrusão, o arrendamento de terras, a redução de reservas indígenas e a ausência de representação efe va. (TEDESCO, 2012)

Em 2003 a área des nada ao parque florestal foi devolvida aos indígenas, o que resulta em uma área total demarcada de 19.830 hectares (sendo que os 1000 hectares de reintegração de posse seguem ocupados).

Imagem: conflito entre índios e colonos em Nonoai, 1978 Fonte: Ricardo Chaves

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ALDEIA BANANEIRAS

ALDEIA BANANEIRAS II

TEKOÁ Ka’ aGUY POTY

ALDEIA PINHALZINHO

ALDEIA cruzeiro

ALDEIA Ivaí

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5.4 aproximação com as aldeias

Com relação aos equipamentos dispostos na aldeia, foi realizado um levantamento juntamente com Flávio Fagundes, responsável pelos assuntos indígenas da EMATER de Nonoai. Com base em mapa impresso da área foram localizadas as aldeias e os equipamentos distribuídos no território, além de posterior visita.

Pode-se perceber uma relação de interdependência entre as aldeias e a importância que a mobilidade entre elas assume. Como principal setor tem-se a aldeia Pinhalzinho, com maior número de equipamentos distribuídos, a presença de um Centro Cultural, além de ter sido o primeiro núcleo indígena reconhecido na região (FUNAI, 2013 apud ANDREOLA, 2013).

O serviço de saúde, por exemplo, ocorre através do atendimento de agentes de saúde da própria comunidade que passam pelas aldeias do território, contudo quando existe a necessidade de atendimento especial as pessoas se deslocam até os setores onde há posto de saúde. Com relação às escolas, boa parte das aldeias possui ensino fundamental de 1ª a 5ª série e a aldeia Pinhalzinho possui também ensino médio. Portanto, o deslocamento dos alunos também é algo comum no território. As pessoas que desejam fazer curso de graduação ou técnicos têm que sair do TI, contudo demonstram interesse em que esse serviço esteja disponível no local, sendo que a liderança do TI ofereceu terreno para a implantação do Campus Indígena da UFFS, mas não há indícios de que será construído na área.

Escola de 1ª a 5ª série Quadra espor va Centro cultural Posto de saúde Ensino médio Legenda Planalto Nonoai

Aldeia Bananeiras Aldeia Pinhalzinho

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A A l d e i a I v a í fi c a bastante próxima do perímetro urbano de Planalto - RS, sendo que há um bairro em situação irregular não-indígena dentro d e s s a á r e a q u e s e g u e destacado no mapa.

Por haver muitas casas em situações precárias de habitação, alguns espaços de m o r a d i a e s t ã o s e n d o subs tuídos por casas do programa «Minha Casa, Minha Vida». Tratam-se de habitações convencionais em alvenaria. As imagens demonstram algumas casas que ainda não foram s u b s t u í d a s e a s n o v a s residências.

Não há espaços de lazer e nem equipamentos públicos, sendo que u liza a escola e posto de saúde de outras

Habitações que estão sendo subs tuídas

Novas habitações convencionais.

A d i s t r i b u i ç ã o d a s habitações ocorre de forma bastante linear em relação a via, sendo que o salão de eventos e a igreja estão juntos da mesma.

Tendo em vista uma relação de complementação das a vidades nas aldeias, a aldeia u liza alguns serviços da Aldeia Pinhalzinho, ainda que tenha uma escola de séries iniciais (1ª a 5ª série).

Acesso a escola e ao núcleo de habitações através da via

Salão de eventos da comunidade.

PRÓ-MORAR

Residências junto a via.

A Aldeia Pinhalzinho possui uma maior quan dade de equipamentos dispostos bem como a presença de um centro cultural. Além desse, p o s s u i e s c o l a d e e n s i n o fundamental e médio, posto de saúde e quadra de esportes.

A l é m d o p r i n c i p a l núcleo próximo à via e ao centro cultural, há um núcleo Mbyá Guarani e uma vila c h a m a d a « V i l a d o s Aposentados» configurando-se como subnúcleos.

O centro cultural não possui uma ocupação efe va, sendo que ocorrem u lizações e v e n t u a i s , a l é m d e t e r problemas com a manutenção da cobertura e não ser muito visível da via. Sua arquitetura também é ques onável em relação à cultura.

Centro Cultural a par r do pá o interno.

Aproximação com a edificação.

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A Aldeia Bananeiras II p o s s u i p r e d o m i n â n c i a r e s i d e n c i a l u l i za n d o o s e q u i p a m e n t o s d a A l d e i a Bananeiras. Verifica-se bastante d e m a n d a d e p o s t o s d e a r t e s a n a t o d e v i d o a quan dade de instalações dispostas na via.

Ta m b é m a p r e s e n t a uma distribuição mais linear à R-324 com a presença de caminhos secundários até as residências.

Tekoá Ka’aguy Poty (Flor d a M a t a ) d a e t n i a M b yá Guarani possui localização um p o u c o m a i s a fa s t a d a e m relação a via e aos outros núcleos de aldeias, contudo t a m b é m p o s s u i c e r t a dependência de a vidades e x t e r n a s . A i n d a n ã o é reconhecida oficialmente.

Está inserida em uma área de mata densa em local mais baixo e protegido. Possui uma escola de séries iniciais, cozinha e um espaço coberto cole vo.

Nessa aldeia propõe-se um Centro de Vivência Indígena contemplando uma série de demandas da comunidade que será obje vo do presente trabalho.

Visual a par r da RS 324.

Espaço coberto de convívio/eventos. Distribuição das residências em relação a via.

Artesanato exposto para venda.

A aldeia se distribui a par r de dois acessos através da via onde se desenvolvem dois núcleos de habitações. Possui posto de saúde, escola de séries iniciais e ginásio de esportes.

Nessa aldeia também mora a liderança do território indígena, Cacique José Lopes (Kaingang).

Faz divisa com áreas de cul vo de agricultores, sendo o primeiro núcleo no sen do Nonoai - Planalto.

Acesso junto a via a um dos núcleos de habitações.

Residências da aldeia.

Distribuição das residências em relação a via. Acesso ao posto de saúde

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PLANALTO

PÓRTICOS DE ENTRADA AO

TERRITÓRIO INDÍGENA

PARADAS DE ÔNIBUS

POSTOS DE ARTESANATO

KAINGANG

POSTO DE ARTESANATO

GUARANI

ciclovia e via de pedestre

Além da implantação de equipamentos públicos junto a via que melhoram as condições de mobilidade entre as aldeias e dão suporte as a vidades que já vem sendo desenvolvidas, está sendo proposta uma ciclovia e uma via de pedestres. Tendo em vista que o deslocamento entre as aldeias, que possuem uma complementação de funções, ocorre principalmente a pé ou através de bicicletas e que o trajeto é rela vamente plano, propõe-se uma ciclovia ligando desde a aldeia bananeiras até a cidade de planalto, resultando em aproximadamente 20 km de trajeto. A via de pedestres busca consolidar uma passagem mais segura, com um certo distanciamento do fluxo de veículos.

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6. DIRETRIZES PROPOSTA DE MOBILIDADE ENTRE AS ALDEIAS

Com o intuito de demarcar o caráter da área, já que não há indica vos através da via, pretende-se implantar pór cos nos pontos destacados, bem como totens ao longo da via, diferenciando a pologia dessa área.

O ônibus é um transporte bastante u lizado pelos indígenas, visto a comercialização de produtos e a visitação entre parentes. Dessa forma propõe-se paradas em todas as aldeias sendo que algumas não possuem e outras não são sa sfatórias em relação a qualidade.

Os postos de artesanato foram locados tendo em vista a demanda de acordo com a produção e a diferenciação por etnia.

Localiza-se na aldeia Mby’á Guarani Flor da Mata com produção diferente das aldeias Kaingang como peças de madeira e cestarias.

Tendo em vista uma relação de dependência / complementação das a vidades que ocorrem nas aldeias, a mobilidade é um fator bastante importante para melhorar o acesso a esses recursos. Apesar de haver a u lização do automóvel como meio de locomoção, a predominância é de pessoas que fazem esse trajeto a pé ou de bicicleta, sendo que o trajeto é predominantemente plano. Dessa forma, a criação de uma ciclovia tanto se jus fica como é bastante viável, juntamente com a consolidação de uma via para pedestres mais segura e agradável, sendo que atualmente o que existe é uma faixa junto a rodovia sem nenhum po de proteção. A delimitação ocorre de maneira improvisada pelos indígenas que colocam pedras separando a via de pedestres.

Outro fator observado é a exposição dos índios à via ao vender artesanato, já que acabam fazendo a venda em estruturas improvisadas ou nas próprias lombadas. Dessa forma, de acordo com a demanda observada, propõe-se a implantação de postos de artesanato em alguns pontos levando em consideração também a diferenciação da produção de acordo com a etnia.

Tendo em vista a visitação entre parentes e a comercialização de produtos na cidade, propõe-se também paradas de ônibus que estejam bem localizadas e que consigam dar suporte ao quan ta vo de pessoas e de bagagem.

3Km 1,5Km

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7. centro de vivência indígena para o tekoá ka’aguy poty

7.1 Jus fica va do local

Apesar da aldeia ainda não ser reconhecida oficialmente, está dentro do Território Indígena de Nonoai e possui vínculos ancestrais com esse espaço permanecendo nele há algumas gerações. Percebe-se também a vontade da comunidade de se auto-gerenciar e de se manter mais próxima do modo de vida tradicional.

O local apresenta boas condições naturais estando envolto por uma mata densa e próximo a um afluente do Rio da Várzea. Também percebe-se a presença de hábitos como a caça, a pesca, o artesanato e a língua Mbyá Guarani, ainda que não de modo predominante.

Apesar de manterem uma certa autonomia cultural, através do contato com a sociedade não-indígena foram se estabelecendo algumas necessidades e o distanciamento de algumas prá cas. Dessa forma a intervenção arquitetônica nessa comunidade concatena uma série de demandas levantadas pelos moradores dessa aldeia no intuito de auxiliar na manutenção do bem-viver indígena.

7.2 Obje vos 7.2 .1 Obje vo geral

Proposição de projeto arquitetônico com o intuito de melhorar questões de gestão da aldeia bem como ajudar a garan r o bem -viver indígena.

7.2.2 Obje vos específicos

- Proposição de espaços que fortaleçam a prá ca cultural;

-Proposição de espaços que contemplem as novas demandas da comunidade e que dialoguem com o modo de vida e a cultura dos mbyá guarani.

7.3 Procedimentos metodológicos Introdução

Segundo Amos Rapoport (2003), apesar da literatura que trata das relações entre cultura e entorno apontar como fundamental esse diálogo, pouco se vê isso aplicado. O trabalho com comunidades tradicionais, por ser uma cultura da qual não se tem domínio, ou não é parte, necessita ainda mais cuidado com as soluções de produção do espaço e requer uma maior aproximação com a comunidade, tanto para seu entendimento quanto para o diálogo.

O autor ainda destaca a influência recíproca entre comportamento e entorno, tendo em vista que o entorno influencia no comportamento, portanto é indispensável entender as dinâmicas da cultura para se produzir um espaço que não impactue de maneira nega va suas relações. Para demonstrar essa linha tênue entre um projeto bem sucedido ou não nessa interface com a cultura, o autor traz um exemplo onde o fato de não perceber a «função latente» de uma a vidade, impactou de maneira nega va suas dinâmicas:

El primer ejemplo es la introducción de agua corriente en las aldeas del norte de África, llevada a cabo por arquitectos franceses. El resultado (en aquel momento) no fue otro que el descontento y la resistencia de la población. El estudio demostró que para las mujeres en los purdah el ir al pozo de la aldea significaba una importante ocasión para relacionarse socialmente (lo que yo lla-maré más adelante «una función latente» —en este caso,la función latente del acto de coger agua)—. (RAPOPORT, 2003)

A par r do entendimento da necessidade de aproximação com a comunidade, com a pesquisa etnográfica, com a antropologia e com a arquitetura em comunidades indígenas a primeira etapa metodológica consis u na inserção no grupo de pesquisa: «Intervenções arquitetônicas em comunidades indígenas» orientado pela professora Nauíra Zanin e que contribuiu muito para o trabalho.

Etapa 1 - Aproximação com a antropologia, arquitetura e trabalho de campo

A primeira etapa da pesquisa consis u no entendimento da relação entre antropologia e arquitetura e na preparação para as visitas às comunidades. Nesse sen do Carlos Nelson Ferreira dos Santos (1980) relata através de sua experiência com a população de favelas a interface entre essas áreas e como a antropologia social embasou o seu trabalho, sendo que de acordo com ele o antropólogo «reverteria as tendências homogeneizadores do planejamento» (SANTOS, 1980) justamente por vislumbrar a especificidade do ser.

Na sequência foram estudados autores relacionados a pesquisa etnográfica, abordando a postura em campo que foram leituras fundamentais para saber como proceder no contato com a comunidade e também como sistema zar o material de pesquisa coletado. Para isso é necessário que em uma primeira etapa o pesquisador apure o olhar e o ouvido para a INVESTIGAÇÃO EM

CAMPO e em uma segunda etapa ESCREVA SUAS PERCEPÇÕES (OLIVEIRA,

2000).

Na prá ca essa dinâmica de trabalho direcionou para a u lização de

DIÁRIO DE CAMPO, instrumento de pesquisa descrito por Roberto da Ma a

(1981) em seu livro «História de duas pesquisas». De acordo com suas indicações durante o processo de visita procura-se perceber o meio, dialogar com as pessoas e posteriormente produzir o diário como instrumento de sistema zação das informações ob das e como extensão do próprio pensamento. Essa referência é complementada pelas experiências de Anthony Seeger (1980) relatadas no livro «Os índios e nós», tendo em vista o trabalho de vinte meses em campo em uma aldeia de índios Suyá. O autor também u lizava essa metodologia de coleta dos dados, e recomenda a obtenção de dados além da cultura, como clima, geografia e configuração espacial.

No que tange a intervenções em comunidades indígenas mais especificamente, além de Rapoport (2003) e Santos (1980), o autor Sílvio Coelho dos Santos (1975) retrata a realidade indígena no Brasil na década de 70, portanto anterior a Cons tuição Federal de 1988 e paralela a atuação do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Com o obje vo de integrar os índios a sociedade

nacional e u lizar estratégias de controle, foram introduzidas a vidades produ vas e modificada a produção do espaço no território, o que impactou de forma nega va o modo de vida. Dessa forma, subme am os indígenas a novas dinâmicas para sua integração e buscava-se a o mização de infraestrutura através de uma disposição espacial mais próxima e linear, que se distancia do seu modo tradicional.

Segundo Carol Herselle Krinsky (1996) essa intenção de integrar os índios também ocorreu na América do Norte, contudo a par r da década de 60 a construção de edi cios dentro dos territórios indígenas passaram a ter o intuito de fortalecer a iden dade cultural, que é também propósito do presente trabalho no sen do de criar espaços que possibilitem as vivências culturais, através de edificações que não sejam uma reprodução da arquitetura tradicional, mas contribuam na preservação da cultura. Ainda de acordo com Krinsky (1996) é necessário que o arquiteto não trabalhe para a comunidade, mas sim COM A COMUNIDADE, o que reforça a ideia de um processo par cipa vo através do diálogo com os indígenas da aldeia. A par cipação da comunidade também é relatada por Malnar & Vodvarka (2013) no livro « New Architecture on Indigenous Lands»:

Estes designers - alguns na vos americanos, alguns não - fizeram questão de ouvir os seus clientes, incorporar suas crenças, e respeitar as suas tradições, geralmente com a intervenção direta de conselheiros tribais. (MALNAR & VODVARKA, 2013, tradução nossa)

Na sequência da parte introdutória de leituras foram realizados estudos de caso de nível regional, nacional e internacional, sendo dois deles u lizados como referência para o presente trabalho.

Etapa 2 - Aproximação com a cultura Mbyá Guarani

Nessa etapa foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre a cultura Mbyá Guarani, verificando-se o modo de vida tradicional. Após esse levantamento foi proposto o início das visitas à comunidade e o reconhecimento do local, dessa forma a par r de uma referência inicial pode-se fazer um compara vo e es mar o grau de influência externa, modificações de prá cas culturais e novas demandas a par r desse processo.

Etapa 3 - Visitas

-Visita 1: par cipação no evento «Grito da Floresta» ocorrido na tekoá em setembro de 2014;

-Visita 2: visita agendada com o cacique para conversa com a comunidade: explanação do que seria o trabalho acadêmico, levantamento de demandas, definição do objeto arquitetônico e do programa;

-Visita 3: visita guiada pelo TI Nonoai com Flávio Fagundes, responsável da EMATER-Nonoai pelos assuntos indígenas.

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Ainda segundo Heizmann (2005), a par r da chegada dos europeus, foram subme dos ao projeto de colonização. Houve um grande declínio demográfico por conta de doenças trazidas pelos colonizadores e também pelo excesso de trabalho forçado. De acordo com (RIBEIRO, 1957 apud HEIZMANN, 2005) um primeiro grupo se diluiu na população europeia. Outros em um primeiro momento foram para as missões jesuí cas e após o fim das reduções grande maioria foi para a cidade desenvolver o cios que havia aprendido, enquanto um terceiro grupo, do qual descendem os Mbyá Guarani, escondeu-se dos colonizadores em florestas densas. Contudo, apesar da quase ausência de contato no período de colonização, isso foi se alterando com a exploração de terras e a incorporação dos índios na mão-de-obra do extra vismo.

Atualmente no Brasil existem três grupos de guarani: Mbyá Guarani (litoral sudeste e Rio Grande do Sul), Guarani Nhandeva (sul mato-grossense e interior de São Paulo e Paraná) e Guarani Kaiowá (Mato Grosso do Sul). As diferenças entre os grupos guarani exis am ainda antes da colonização mas foi ressaltada devido as diferentes experiências a que os grupos foram subme dos. Contudo, consideram-se parte de uma mesma grande família extensiva (SCHADEN, 1954 apud ZANIN, 2006, p. 27).

Mais especificamente no Rio Grande do Sul, ocuparam as margens do Rio Uruguai e o litoral, morando em aldeias cole vas, desenvolvendo roças junto a floresta, com domínio da cerâmica e da pedra polida.

8.1 Ocupação

De acordo com Heizman (2005) há 5 milênios atrás houve o início de um processo de peregrinação da matriz tupi-guarani, tendo influência da agricultura seminômade e da busca pela «terra sem males». Os guaranis vieram da Amazônia Peruana e enquanto uma parte ocupou a Amazônia Brasileira, parte se deslocou posteriormente para a bacia do Rio Prata e litoral. Esses grupos voltaram a se encontrar na Amazônia no século XVII.

Quando os colonizadores chegaram ao Brasil (séc. XVI) ocupavam a região sul até o estado de São Paulo, somando mais de um milhão de pessoas tendo como referência a América La na.

A dinâmica de migração se altera após a colonização já que anteriormente os guarani estavam em constante mobilidade permanecendo em caráter transitório nas aldeias (tekoá) e atualmente devido a relação com os não-indígenas (juruá) acabam tendo que viver em territórios fixos visualizando na demarcação a melhor possibilidade de sobrevivência.

A arquitetura está estreitamente relacionada com o meio onde está inserido e o usuário. Por se tratar de uma intervenção em comunidade tradicional deve haver um processo de aproximação com a cultura para saber a melhor forma de intervir e para não haver uma influência nega va no modo de vida dessa comunidade:

Es así porque, incluso los cambios más insignificantes, introducidos en un sistema tan complejo como los citados en nuestros ejemplos (que relacionan culturas par culares, sus mecanismos sociales, es los de vida y esquemas de ac vidad con unos entornos construidos), pueden tener unas consecuencias mayores e imprevisibles —una realidad ya reconocida en el caso de otros sistemas ecológicos. (RAPOPORT, 2003)

8.2 Mobilidade Guarani

As mo vações para a o deslocamento guarani acontecem tanto pelo mito migratório da «Terra sem Males», como pela busca por boas condições ambientais (épocas de plan o, disponibilidade de espécies) e até mesmo para a visitação de parentes e territórios de vínculo tradicional, prá ca bastante comum em sua cultura e com vínculo em seu sistema de trocas.

O entendimento de seu território é do para eles como algo con nuo e independe de fronteiras, correspondendo tradicionalmente ao Brasil, Argen na, Uruguai e Paraguai (BAPTISTA, 2011). Dentro desse território con nuo há uma divisão em quatro extensões com significados específicos: no Paraguai está localizado o centro do mundo (Yvy Mbyte) onde a terra ressurgiu após o dilúvio; os rios Paraná e Uruguai compreendidos na Argen na correspondem a área pequena (Para miri) resultado da inundação do dilúvio; mais a leste do Rio Uruguai inicia-se o caminho tradicional (Tape) em busca da “Terra sem Males” (Yvy Mara ey) com direção ao oceano atlân co denominado de água grande (Para Guaxu), condicionando essa migração para leste (CATAFESTO DE SOUZA, 2008 apud BAPTISTA, 2011).

8.3 Religião, medicina tradicional e líderança espiritual

De acordo com Bap sta (2011) a religião e a medicina tradicional guarani refletem a correlação entre bem estar sico e espiritual. Em sua cosmologia é fundamental o contato com as divindades, sendo que o mediador dessa conexão, ou líder espiritual, é chamado de karaí ou kunha karaí (mulher) que entra em contato tanto com os deuses (condição idealizada pelos guarani) como com os seres da mata (humanos que não se comportaram e deixaram a forma humana), assim os humanos estariam entre essas duas condições: animalidade e divindade. As doenças, nesse contexto, seriam um distanciamento da alma em relação ao corpo sico cabendo ao karaí reaproximá-las, além disso ritos como o ba smo também são seus atributos.

O sistema médico tradicional é composto pelos próprios condicionantes da terra (Yvy) que fornece remédios naturais, pelo karaí e pela casa de reza (opy) onde o karaí se conecta com as divindades (Ferreira, 2011 apud Bap sta, 2011).

Imagem: Karaí da aldeia de Biguaçu, SC.

Fonte:curtadoc.tv/curta/comportamento/mbya-reko-pygua-a-luz-das-palavras/

Imagem: Ensinamentos do Karaí na opy (casa de reza)

Fonte:curtadoc.tv/curta/comportamento/mbya-reko-pygua-a-luz-das-8.4 Artesanato

O artesanato mbyá guarani, originalmente consis a em utensílios de ordem funcional, adornos com funções ritualís cas e elementos simbólicos dentro de sua cultura, sendo que algumas peças eram montadas especialmente para algumas cerimônias. Atualmente passa a ter também valor comercial, ainda que não tenha se perdido seu significado, sendo conver da em uma fonte de renda para a população.

Uma pologia de artesanato feita pelos Mbyá são as cestarias, produzidas em taquara. Embora possuam cores naturais para fins de venda tem se ngido com anilina com intuito de deixá-las mais atra vas. São bastante comuns também as esculturas em madeira de forma animal, tendo em vista o caráter simbólico que os animais tem em sua cultura. Atualmente ganham a nova função também de apresentar para as crianças certos animais que não existem mais em suas áreas (MARQUESAN, 2013).

Quanto aos adornos corporais, possuem origem vegetal e animal que seriam dotados de caracterís cas específicas. Dessa forma sua u lização conferiria a quem usa traços especiais de acordo com a simbologia guarani. Algumas u lizações: fibra de figueira enrolada nos braços e pernas para dar mais força ao corpo, presas de animais como de onça, por exemplo, deixando os caçadores mais in midadores (FAGUNDES, 2008 apud MARQUESAN, 2013).

Imagem: venda de artesanato Mbyá Guarani em Joinville, SC Fonte: www.ovizinho.com.br/jor08/ambientais_36.htm

Imagem: guarani esculpindo os animais em madeira Fonte: h ps://www.youtube.com/watch?v=o3VljE4NJcY

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ELEMENTOS SIMBÓLICOS

Considerando a busca por uma arquitetura embasada na cultura guarani e que tenha significado através do diálogo com seu modo de vida tradicional, buscou-se levantar elementos simbólicos com o intuito de entender as dinâmicas culturais e traduzi-las em espaços de maneira não literal, mas que reforcem as prá cas culturais.

PETYGUA

Tendo em vista a limpeza espiritual do karaí, o cachimbo aparece como um elemento de grande importância, sendo que atribui-se a sua fumaça essa função de purificação.

Além de funções de cura, o cachimbo é um elemento co diano e é compar lhado da mesma forma que o chimarrão u lizando-se o tabaco.

Fonte:blog-do-netuno.blogspot.com.br/2012/02/indigena-guarani-mbya-que-vive-isolada.html

pindó

Na cultura guarani cinco palmeiras sustentam o mundo, os jerivás que foram as primeiras a exis r. Estão localizadas um em cada ponto cardeal e um no centro estando relacionadas com suas divindades.

Na foto a esquerda há um jerivá na aldeia Mato Preto (Erebango) plantado pelos guarani.

avaxí eteí

O milho possui alma e passa pela casa de reza antes de ser plantado, sendo benzido com o tabaco. Está presente em rituais como o ba smo (nominação das crianças) onde deve estar presente in natura e também através de alguns pratos picos. A preparação do solo para o milho ser plantado requer uma purificação da área através da queima.

Fonte: Gisele Tomkiel

Fonte: pibmirim.socioambiental.org/node/16372

artesanato

Fonte:curtadoc.tv/curta/comportamento/mbya-reko-pygua-a-luz-das-palavras/

O artesanato guarani é marcado pelas figuras animais esculpidas em madeira bem como a cestaria. Com a colonização e a mudança das dinâmicas de sobrevivência além das funções anteriores como utensílios e adornos, passa a ter um viés econômico sendo fonte de renda de muitas aldeias.

Fonte: mbyaguaranibr116.org/um-pouco-do-artesanato-mbya-guarani/

fogo

O fogo é um elemento bastante representa vo da cultura guarani tanto em termos simbólicos como funcionais. A ele se atribui função de aquecimento, cozimento dos alimentos, momentos de conversa, iluminação, confecção de peças cerâmicas e até mesmo o ato de acender o cachimbo, sendo aceso dentro e fora de casa o que acaba condicionando a

arquitetura também.

Fonte:racismoambiental.net.br/2015/04/24/carta-aberta-dos-guarani-mbya-do-municipio-de-sao-paulo-contra-reintegracao-de- Fonte: h

p://www.rapanuy.com.br/2012/02/guarani-ygary

O fogo é um elemento bastante representa vo da cultura guarani tanto em termos simbólicos como funcionais. A ele se atribui função de aquecimento, cozimento dos alimentos, momentos de conversa, iluminação, confecção de peças cerâmicas e até mesmo o ato de acender o cachimbo, sendo aceso dentro e fora de casa o que acaba condicionando a arquitetura também.

Fonte: www.flickr.com/photos/mauroguanandi/2508977491

OPY

A opy (casa de reza) é um espaço muito importante dentro da aldeia, sendo que nela ocorrem cerimônias como o ba smo, rituais de cura, purificação das sementes, bem como é um espaço comparado a uma universidade, através dos ensinamentos do Karaí (líder religioso). É um espaço sem divisórias, de planta retangular, chão ba do, sem janelas, com estrutura de madeira e vedação de barro.

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10. ARQUITETURA mbyá GUARANI e a PRODUÇÃO DO ESPAÇO

Fonte: Fonte imagem: iecam.org.br/projeto/no cia?id=154

Buscou-se compreender a produção do espaço nos tekoá (aldeia) bem como a arquitetura tradicional Mbyá Guarani a fim de que possa auxiliar na construção dos espaços e atuar como referência, contudo sem o intuito de reproduzi-la, por se tratar de algo próprio da cultura e tradicionalmente construído por eles.

10.1. Organização espacial do tekoá

A organização espacial das aldeias está relacionada como a sua estrutura social. Os Mbyá Guarani possuem grande vínculo com a mata, pois dela ram o sustento do modo de vida tradicional, dessa forma é bastante importante se estabelecer junto a essas áreas, o que acaba sendo di cil na conjuntura atual.

O tekoá requer três elementos para possibilitar o modo de vida guarani: a mata virgem (u lizada para caça e pesca), a mata cul vável (agricultura) e a casa (abrigo) (MELIÁ & TEMPLE, 2004 apud ZANIN, 2006). Distribuem suas residências em áreas de clareira de maneira bastante dispersa, assim os núcleos familiares ficam bem distribuídos e ligados por um emaranhado de caminhos. A área de roça fica próxima da residência sendo resguardada a cada núcleo familiar que planta cul vos tradicionais.

A família extensa que cons tui a unidade básica familiar guarani é cons tuída pelo casal, pelas filhas casadas, genros e pela próxima geração e fica distribuída em núcleos familiares próximos dentro do tekoá ligados por caminhos. Cada núcleo se estabelece criando uma área aberta de pá o onde são recebidas as visitas e se desempenham a vidades co dianas, bem como a área de cul vo. Junto ao núcleo familiar do karaí fica a opy, sendo seu pá o o mais u lizado, devido as cerimônias diárias. Já o núcleo familiar do cacique fica mais próximo da via de entrada, tendo em vista o controle dos visitantes (CRUZ, 2008).

10.2. Arquitetura 10.2.1 Materiais

De acordo com Zanin (2006) alguns materiais estão bastante relacionados com a simbologia mbyá guarani e são preferencialmente u lizados nas construções. Para a construção das casas é ideal que seja u lizado o cedro e quando não houver a sua disponibilidade o indicado é o louro. Já algumas espécies como o ipê devem ser evitadas, pois segundo eles não possuem «alma dócil». Como cobertura u liza-se a palmeira jerivá (pindó) que também possui relação com mitos de criação do mundo.

10.2.2 Casas

As casas são u lizadas basicamente para dormir e como proteção no inverno sendo que o pá o externo é mais u lizado. São geralmente orientadas no sen do leste/oeste, sendo que a porta fica para leste, assim como na opy (casa de rezas). Segundo Prudente (2007) o pá o consiste em um ambiente de sociabilização das famílias do mesmo núcleo. A residência possui um carater mais efêmero sendo que é construída para durar um determinado tempo tendo em vista questões como o esgotamento de recursos do local ou até mesmo do próprio material da casa:

Uma casa é como um ser, um ente, no sen do meta sico do termo [...]. Ela nasce, quando é construída [...]; quando os filhos não cabem mais na casa da mãe; quando acabou o tempo de luto ou quando chegam famílias vindas de outras aldeias. Ela vive, porque é cheia de vida, de gente, de animais e com seu fogo quase sempre aceso; dura em quanto durar o material e, se apodrecem, as palhas podem ser trocadas. Ela morre, quando é incinerada depois do funeral de um morador; um sinal de luto que também é um sistema de higienização. (PORTOCARRERO, 2001, p.77 apud PRUDENTE, 2007)

Devido a u lização de material natural as habitações tradicionais ficam bastante mime zadas com a paisagem. A estrutura das casas é feita u lizando a madeira, enquanto possui vedação de barro através de técnica de taipa de mão sobre estrutura de pau-a-pique. Tendo em vista o processo de construção, a primeira etapa cons tui-se na coleta do material estrutural e montagem da mesma com amarrações de cipó. Posteriormente a casa é coberta com a palha em uma estrutura duas águas, então o barro é pisoteado e amassado para o reves mento. Segundo Zanin (2006) outras caracterís cas desse ambiente é a planta retangular, a ausência de divisórias internas (quando há, são leves), geralmente não há banheiro, um pé-direito baixo, a porta ainda mais baixa fazendo com que a pessoa faça uma reverência ao entrar, a presença do fogo e a ausência de janelas, sendo que a única abertura é a porta.

Contudo a arquitetura descrita, de maneira geral, não ocorre mais dessa forma nas aldeias, sendo que a maior parte é proveniente de programas governamentais com arquiteturas convencionais ou há presença de materiais e técnicas não tradicionais.

10.2.3 Casa de Rezas (Opy)

A casa de reza é um espaço muito importante e simbólico dentro do tekoá, sendo o espaço onde ocorrem rituais de ba smo, cura, purificação das sementes e demais momentos da cultura guarani. Dentro da distribuição da aldeia fica situada em uma localização mais resguardada e próxima ao núcleo familiar do Karaí, líder espiritual.

No que tange a sua arquitetura não se diferencia tanto das casas tradicionais. Percebe-se que atualmente é um dos elementos que mais se mantém próximos do tradicional dentro da aldeia devido a sua simbologia. Também possui estrutura de madeira e reves mento em barro, atentando para a o cuidado com o reves mento de modo que não passe vento pra atrapalhar os rituais.

Fonte: COMIN, 2014. Moradias indígenas e seus entornos

A sequência de imagens ilustra um pouco a maneira como as habitações foram se modificando desde a casa tradicional Mbyá Guarani. Isso se dá, de acordo com Zanin (2006), pela ausência de materiais provenientes da mata que não está mais presente no contexto atual de suas áreas limitadas, a perda gradual das técnicas constru vas tradicionais, a falta de programas governamentais de moradia específicos para os indígenas e o novo caráter que as habitações passam a ter, já que anteriormente eram mais provisórias de acordo com a mobilidade dos guarani e atualmente adquirem aspectos de permanência e durabilidade. Na úl ma imagem, no Território Indígena de Nonoai, percebe-se algo bastante comum dessas novas relações que é a presença da an ga casa de madeira e a proveniente de programas governamentais em alvenaria. Embora a própria casa de madeira já esteja distanciada da construção tradicional, é adaptada a algumas situações como a presença do fogo, ausência de banheiro internamente, pé-direito, divisão de espaços, que a casa convencional em alvenaria não leva em consideração.

Fonte: COMIN, 2014. Moradias indígenas e seus entornos Fonte: acervo pessoal, TI Nonoai.

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11. aproximação tekoá ka’aguy poty

12.1 Localização

O Tekoá Ka’aguy Poty fica localizado no Território Indígena de Nonoai, no município de Planalto, RS. Situa-se junto a uma mata densa que temporariamente foi transformada em parque e que atualmente também é área indígena. Está localizado próximo a duas aldeias Kaingang em ambas as direções da RS-324.

Nonoai Planalto

Tekoá Ka’aguy Poty

Tekoá Ka’aguy Poty

RS-324

RS-324

Diálogo com a comunidade Primeiro contato

A primeira visita à aldeia ocorreu em setembro de 2014 no evento «Grito da Floresta» realizado no tekoá e organizado pelo Conselho Estadual dos Povos Indígenas (CEPI). Teve como obje vo discu r polí cas públicas que garan ssem o bem-viver indígena, reunindo representantes de vários órgãos (EMATER - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural , FUNAI - Fundação Nacional do Índio, MDA - Ministério do Desenvolvimento Agrário), indígenas e suas lideranças, pesquisadores, entre outros.

Após a fala de várias pessoas explanando a atuação dos órgãos a que pertencem e a fala das lideranças indígenas, ocorreu um momento de discussão das demandas/realidade dos povos através de mesa-redonda Kaingang e Mbyá Guarani. O material produzido foi sistema zado em um documento oficial.

Visita 2 - definição do objeto e do programa

A visita foi agendada anteriormente com o cacique da aldeia. Foi realizada uma conversa com a comunidade aonde foi explanado o que seria o trabalho acadêmico, posteriormente foi falado sobre as demandas da aldeia e definido o objeto arquitetônico e seu programa.

Dessa forma chegou-se a um Centro de Vivência Indígena que reúne funções educacionais, culturais, espaços de produção e

venda de artesanato, casa de passagem, de saúde e de recepção de visitantes. Foram muito recep vos, sendo que as crianças

fizeram uma apresentação de dança e as pessoas contribuíram bastante com suas percepções.

Imagens: fala do professor Pedro, Mbyá Guarani; Público par cipante em estrutura montada para o evento Fonte: Laryssa Machado

Imagens: mesa-redonda Mbyá Guarani; mesa-redonda Kaingang Fonte: Laryssa Machado

Contato constante com a comunidade

As visitas não se encerram com a primeira etapa de pesquisa e levantamento, a proposta é de que se tenha um diálogo constante com a comunidade para discussão do projeto. Esse processo é pensado pois não se obtém o domínio das dinâmicas sociais através da pesquisa e as contribuições da comunidade enriquecem o trabalho do mesmo modo como aproximam com a realidade.

Como os desenhos técnicos não cons tuem uma boa ferramenta de discussão, é proposto esse diálogo através de maquetes sicas da aldeia, tornando o processo mais intera vo e o projeto mais fácil de ser visualizado. Essa dinâmica vem sendo u lizada pela ONG Peabiru que presta assistência técnica e propõe um processo de diálogo com as localidades de intervenção:

Imagem: processo de par cipação da comunidade realizado pela ONG Peabiru Fonte: www.peabirutca.org.br/?painel_projetos=ba s ni

Nesse primeiro contato ainda não havia sido definido o local de intervenção, apenas havia a vontade de trabalhar com a temá ca indígena e a inserção no projeto de pesquisa. Contudo, tendo em vista as demandas levantadas pela comunidade optou-se pelo tekoá para a proposição do projeto arquitetônico. Posterior a esse evento iniciou-se o processo de análise do local, visita de aproximação com a comunidade, definição do programa, do objeto arquitetônico a fim de embasar o lançamento da proposta.

12. Tekoá Ka’aguy poty

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12. tekoá ka’aguy poty

tekoá ka’aguy poty

escala: 1/2500

12.2 Dados gerais

No Tekoá Ka’aguy Poty moram 16 famílias, sendo 12 crianças em um total de aproximadamente 50 pessoas. A disposição espacial na aldeia, a par r de uma escala macro, se mantém de forma tradicional tendo em vista a presença dos três fatores de uma tekoá: a mata u lizada para caça e pesca, a mata cul vável (roçados junto as habitações) e as casas.

Está localizada em uma clareira próxima a mata mais densa em uma área de topografia mais baixa. Possui a distribuição através dos núcleos familiares dispersos na área que são ligados por um emaranho de caminhos. Os núcleos possuem as residências, pá o e área de roçado.

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Araucária

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13. estrutura tekoá ka’aguy poty

Sala de aula

A estrutura da escola acontece em duas salas de aula, sendo que todo o a p o i o a s a v i d a d e s a c a d ê m i c a s e s t ã o incluídas nesse espaço. A imagem demonstra a sala em construção anexa a cozinha.

Sala de aula

A sala de aula possui formato octogonal em madeira, tendo apenas a porta como abertura. Nela ficam dispostas as classes e o quadro com mesa de p r o f e s s o r, e m u m a dinâmica convencional de aula.

Campinho de futebol

O campinho de futebol fica em frente as salas de aula, sendo um espaço de recreação e de lazer dentro da comunidade. Não d i f e r e d o s c a m p i n h o s tradicionais, cons tuindo um elemento externo a cultura indígena, introduzido na área.

Espaço coberto

Esse quiosque consiste no único espaço de encontro da comunidade e também de recepção de visitantes. Contudo, por ser aberto possui u lização muito l i m i ta d a , s e n d o u m a demanda da comunidade um espaço fechado de encontro. Cozinha A c o z i n h a v i s a a t e n d e r a alimentação da escola, mas não s e l i m i t a a e l a . P o s s u i eletrodomés cos bem como um fogão industrial. Nela ficam g u a r d a d o s t a m b é m n o v e computadores que por falta de local adequado estão sem u lização. Fica próxima a escola e a uma área de horta.

Fonte: Luíz Júnior

tekoá ka’aguy poty

escala: 1/2000

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14. tekoá ka’aguy poty - condicionantes naturais

13.1 Clima

Com base no Plano Municipal de Saneamento de Nonoai (RS) foi feita uma caracterização do clima da área. De acordo com o material tem-se uma temperatura anual próxima de 18ºC, contudo por possuir caracterís cas de clima temperado há uma amplitude térmica de 10ºC, com máximas de 35º e mínimas de 0ºC. As chuvas são bem distribuídas durante o ano, sendo que ocorrem na média anual de 1650mm e a umidade rela va se mantêm em torno de 75%. Os ventos predominantes e mais intensos são de sudeste de acordo com medições realizadas na estação meteorológica de Passo Fundo.

13.2 Topografia e Hidrografia

Nas proximidades da aldeia passa um afluente do Rio dos Índios, sendo que existe um poço artesiano como fonte de água da comunidade.

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n

A aldeia está localizada em uma área mais baixa fazendo com que as linhas de drenagem do solo direcionem a água para a área. Dessa forma a área destacada em azul no primeiro esquema consiste em uma área com potencial alagadiço, tanto que nas curvas 512 a 515 não há edificações implantadas, sendo que o solo encharca bastante.

Em relação ao nível da via, pode-se perceber através do corte do terreno que há um desnível considerável influenciando na visualização da comunidade. O fato de estar localizada em uma área mais baixa e envolta por mata faz com que a aldeia permaneça mais protegida dos ventos ao mesmo passo que exige algumas soluções arquitetônicas e de configuração dos espaços para evitar a umidade.

RS-324 Habitações Quiosque Escola

Imagem: afluente do Rio dos Índios que passa pela aldeia Fonte: Laryssa Machado

A

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A

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CULTURA

recepção

venda

ARTESANATO

Com base nos espaços que a comunidade demanda e de uma aproximação com a cultura mbyá guarani, optou-se por trabalhar com núcleos conforme o modo tradicional de organização que permanece presente no tekoá, sem trabalhá-la de forma literal ou reproduzir sua arquitetura. Dessa forma, as edificações são distribuídas compondo esses núcleos vinculados à pá os externos, elemento bastante caracterís co e u lizado. Os núcleos foram distribuídos tendo em vista um gradiente de privacidade rela vo a sua função e proteção em relação à RS-324. Assim, cria-se um primeiro núcleo que reforça a questão de visibilidade através da via, ao mesmo tempo em que agrega a função de venda que é uma a vidade que requer um contato mais direto. Consiste no acesso a aldeia que foi realocado devido à topografia, à proteção do núcleo aberto em relação aos ventos predominantes e a criação de uma barreira para casas que estavam mais expostas. O segundo núcleo fica localizado próximo ao núcleo familiar do cacique pois é voltado à recepção de visitantes e outras a vidades que requerem vigilância da liderança. Mais distante da via e reforçando o principal núcleo de a vidades da aldeia, tem-se o espaço de aprendizagem, das prá cas culturais, recreação, encontro da comunidade e da medicina tradicional. Os edi cios conformam um grande pá o aberto onde há o espaço do fogo, de contos, a u lização do paisagismo produ vo com plantas medicinais, áreas de recreação e o campinho já existente.

espaços comunidade espaços transição meio externo casa de passagem - pequeno núcleo

barreira visual - proteção visual núcleo do cacique vegetação

comunidade

TRANSIÇÃO

contato direto

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15. lançamento da proposta - conceito

- Criação de núcleos a partir da produção do espaço mbyá guarani

- Distribuição a partir de um gradiente de privacidade em relação aos usos;

- proteção/exposição à RS-324.

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zoneamento edificações

A ligação entre os dois blocos propostos bem como fluxo principal da aldeia ocorre em uma área bastante baixa do terreno e com acúmulo de água. Dessa forma, propõe-se uma ligação de pedestres elevada que possibilite o crescimento da vegetação ao mesmo tempo em que evite a passagem pelo barro.

Propõe-se um posto de venda de artesanato no acesso a aldeia tendo em vista a proximidade com a via. Além disso, uma área coberta que recepcione os visitantes, para aonde se abra a venda de artesanato e também marque o acesso, já que pela própria topografia a aldeia fica com uma visibilidade reduzida.

As edificações foram pensadas com base em um gradiente de privacidade desde o acesso até uma área mais voltada ao co diano da aldeia. Nesse ponto intermediário propõe-se uma área de recepção dos visitantes, onde será feita a apresentação da comunidade, terá um espaço para reuniões com pessoas externas e casa de passagem. A par r desse ponto, as pessoas seguem guiadas para o interior da aldeia. Fica estrategicamente próxima a casa do cacique.

Imagem: Edificação se abrindo para um pátio externo Fonte: www.aadnc-aandc.gc.ca/eng/1100100021153/1100100021169

Imagem: Utilização do material, espaço simbólico, configuração da edificação Fonte: www.candela.com/blog/Lists/Posts/Post.aspx?ID=23

Próximo ao núcleo já consolidado da aldeia foram dispostos os usos mais voltados a comunidade como espaços de aprendizagem que contemple salas de aula, prá ca de esportes, informá ca, espaços de fomento a cultura como espaço do fogo, contação de histórias, dança e música, espaços para o atendimento dos agentes de saúde junto a um herbário de plantas medicinais indígenas.

Imagem: Edificação se abrindo para um pátio externo

Fonte: haras-polana.blogspot.com.br/2011/01/construcao-do-novo-pavilhao-do-polana.html Imagem: Gradio elevado como caminho de ligação

Fonte: landarchs.com/laurance-s-rockefeller-preserve/

16. lançamento da proposta - diretrizes e referências

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referências

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17. tekoá ka’aguy poty - lançamento da proposta

1 2 4 5 6 3 8 7 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21

tekoá ka’aguy poty

escala: 1/2500

n

legenda

1 - Venda de artesanato

2 - Sanitários

3 - Pátio de apresentações / praça 4- Casa de passagem

5 - Sala de reuniões

6 - Produção de artesanato

7 - Decks - descanso, contemplação 8 - Caminho elevado

9 - Vegetação de áreas banhadas 10 - Área de recepção

11- Atendimento agentes de saúde 12 - Herbário plantas medicinais 13 - Eapaço práticas culturais 14- Refeitório

15 - Cozinha

16 - Biblioteca / informática 17,18,19 - Salas de aula

20 - Administração / professores 21 - Espaço fogo de chão / contos 22 - Pátio externo (a avançar) 22

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18. tekoá ka’aguy poty - lançamento da proposta

A imagem demonstra um lançamento inicial da proposta com algumas indicações de volumetria e materialidade. Será u lizada a madeira como material estrutural tendo em vista questões de durabilidade, disponibilidade e também por se relacionar bem com a arquitetura dos tekoá. A forma dos edi cios e sua distribuição reforçam a ideia de criação de núcleos, bem como configuram pá os externos que são espaços bastante u lizados. Dentro desses núcleos propõe-se uma implantação mais distanciada entre os blocos da mesma forma como acontece com as habitações. Assim, criam-se espaços de transição e circulação entre eles, sendo que a malha de madeira é coberta de acordo com os fluxos e usos, recebendo em partes fechamento opaco, translúcido ou fazendo o uso de taquara ba da como sombrite.

Apesar da predominância da madeira como material estrutural e de vedação, pretende-se u lizar também materiais de uso tradicional como complemento em alguns momentos como vedações, coberturas, espaços mais voltados à cultura.

A vegetação tem grande influência na configuração dos espaços e da paisagem, sendo que existem muitas araucárias no terreno. Também u liza-se o pindó (elemento simbólico) para marcar transições de espaços, dar direcionamento aos caminhos e conformar lugares. Pretende-se trabalhar com vegetação para áreas banhadas e com o paisagismo produ vo através de plantas medicinais.

Fonte: www.domestika.org/es/projects/159975-casa-de-bambu-en-manabi-ecuador-arquitectura-vernacula

Fonte: http://habitate.com.br/?page_id=147

Fonte: www.domestika.org/es/projects/159975-casa-de-bambu-en-manabi-ecuador-arquitectura-vernacula

Referências

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