• Nenhum resultado encontrado

A constituição federal brasileira de 1988 frente à evolução de pensamento econômico

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "A constituição federal brasileira de 1988 frente à evolução de pensamento econômico"

Copied!
113
0
0

Texto

(1)

Universidade Católica de Brasília

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Mestrado em Direito Internacional Econômico

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE

1988 FRENTE À EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

ECONÔMICO

Autora: Fabiana Mendonça Mota

Orientador: Professor Doutor Maurin Almeida Falcão

Brasília

(2)

FABIANA MENDONÇA MOTA

A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 FRENTE A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO

Dissertação apresentada à Universidade Católica de Brasília, Instituto de Pós – Graduação Strictu Sensu em Direito, como pré-requisito parcial para a obtenção de Título acadêmico de Mestre em Direito Internacional Econômico.

Orientador: Professor Doutor Maurin Almeida Falcão.

(3)

M917c Mota, Fabiana Mendonça.

A Constituição Federal brasileira de 1988 frente à evolução do pensamento econômico. / Fabiana Mendonça Mota – 2011.

111 f.; 30 cm

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Prof. Dr. Maurin Almeida Falcão

1. Direito. 2. Análise econômica. 3. Evolução do pensamento econômico. 4. Brasil. Constituição (1988). I. Falcão, Maurin Almeida, orient. II. Título.

(4)

(5)

AGRADECIMENTO

(6)

RESUMO

MOTA, Mendonça Fabiana. A Constituição Federal Brasileira de 1988 frente a Evolução do Pensamento Econômico. 116p. Mestrado em Direito Internacional Econômico. Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2011.

O presente trabalho apresenta uma abordagem do direito sob a perspectiva da economia, mediante o que se denomina de Análise Econômica do Direito (AED). Após discorrer sobre os principais conceitos em economia e escolas de pensamento econômico direciona-se para a análise da Constituição Federal Brasileira de 1988 tendo por substrato aqueles conceitos e teorias. Demonstra que as normas inseridas na Constituição absorveram em seu texto teorias econômicas identificáveis pelo estudo da economia e contém além de um desenho jurídico, um desenho econômico que se reflete no desenvolvimento do país.

(7)

ABSTRACT

This paper presents an approach right from the perspective of the economy, through what is called the Law and Economics. After discuss key concepts in economics and schools of economic thought is directed to the analysis of the Brazilian Constitution of 1988 with a substrate those concepts and theories. Demonstrates that the standards incorporated in the Constitution absorbed in the text identified by studying economic theories of the economy and also contains a legal design, a design that reflects the economic development of the country.

(8)

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 8

2. A ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO...10

2.1 POR QUE ESTUDAR A CONSTITUIÇÃO 2.1 FEDERAL BRASILEIRA A PARTIR DE UMA ANÁLISE ECONÔMICA DE SEUS POSTULADOS...17

3. POSTULADOS QUE AJUDAM A ENTENDER A ECONOMIA...20

3.1 ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES...20

3.2 PRINCIPAIS DOGMAS EM ECONOMIA...25

4. AS ESCOLAS ECONÔMICAS E A EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO...33

4.1 ECONOMIA PRIMITIVA, ANTIGA E MEDIEVAL – OU A PRÉ-ECONOMIA...33

4.2 ECONOMIA MERCANTILISTA: A PRIMEIRA ESCOLA ECONÔMICA...39

4.3 A FISIOCRACIA E O LAISSEZ-FARE, LAISSEZ-PASSER...42

4.4 CLASSICISMO – O LIBERALISMO ECONÔMICO...43

4.5 SOCIALISMO: COM A PALAVRA, OS TRABALHADORES...51

4.5.1 Socialismo de estado...51

4.5.2 Anarquia...51

4.5.3 Socialismo marxista...52

4.5.4 Comunismo...53

4.5.5 Socialismo Sindicalista...54

4.6 A ESCOLA HISTÓRICA ALEMÃ – A VALIDADE DO ESTUDO DAS ESCOLAS ECONÔMICAS...54

4.7 MARGINALISMO – AS ESCOLHAS RACIONAIS...55

4.8 A ESCOLHA NEOCLÁSSICA DA OFERTA E DEMANDA...56

4.9 A ESCOLA NEOCLÁSSICA – ECONOMIA MONETÁRIA...58

4.10 A ESCOLA NEOCLÁSSICA: CONCORRÊNCIA PERFEITA...59

4.11 ESCOLA MATEMÁTICA: A ECONOMIA ECONOMÉTRICA...60

4.12 A ESCOLA INSTITUCIONALISTA: A ECONOMIA SE ABRE PARA AS DEMAIS CIÊNCIAS...60

4.13 A ECONOMIA DO BEM-ESTAR...62

4.14 JOHN MAYNARD KEYNES: O AMADURECIMENTO DA MACROECONOMIA E A CONSOLIDAÇÃO DO INTERVENCIONISMO...63

4.15 A ESCOLA DE CHICAGO E O RENASCIMENTO DO ESTADO MÍNIMO...65

5. O CENÁRIO ECONÔMICO E POLÍTICO BRASILEIRO PRÉ-CONSTITUIÇÃO DE 1988...68

6. A CONSTITUIÇÃO DE 1988 FRENTE À EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO...79

(9)

6.2 A ANÁLISE DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA DE 1988 SOB O

PRISMA DAS DOUTRINAS E EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO

ECONÔMICO... 83

6.2.1 Princípios fundamentais...85

6.2.2 Direitos e garantias fundamentais...87

6.2.3 Organização do Estado... 89

6.2.4 Organização dos Poderes...90

6.2.5 Defesa do Estado e das instituições democráticas...91

6.2.6 Tributação e orçamento...92

6.2.7 Ordem econômica e financeira...93

6.2.8 Ordem social...95

7. TRADEOFFS E INCENTIVOS DA CONSTITUIÇÃO...98

8. EFEITOS ECONÔMICOS DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 SOBRE O PIB...100

9. CONCLUSÕES...106

(10)

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho irá conjugar duas ciências distintas para realizar uma análise da Constituição Brasileira de 1988 sob uma perspectiva econômica. Sabe-se que a Constituição é uma norma, ferramenta de Direito. A Economia, contudo, pode ou não ver a norma como instrumento de ação, mas não assume que o Direito, a norma, seja indissociável da prática econômica. A Economia tem objetivos distintos dos perseguidos pelas ciências jurídicas. Entretanto, não raro a norma é utilizada como ferramenta de políticas econômicas e, quando isso ocorre, fica ali cristalizada uma proposição de cunho econômico, produzindo efeitos no tempo, enquanto vigente.

Esta pesquisa enxerga esse fato e adota a Constituição Federal, por ser a lei maior do Estado brasileiro, com pretensão diretiva geral, como material a ser pesquisado na descoberta de inserções de proposições econômicas em normas, seja diretamente, como no título dedicado à ordem econômica, mas em especial nas inserções implícitas, como no título dedicado à ordem social.

O termo norma, na situação, será utilizado numa acepção ampla, ou seja, será uma norma desde um artigo isolado, o conjunto de artigos, capítulo, sessão ou título, que expressem uma ordem legal. Por exemplo, a proteção ao meio ambiente será tratada como uma norma. A proteção ao trabalhador como norma, e a livre concorrência também como norma, sempre enfatizando o substrato e relevâncias econômicas.

Necessário destacar desde logo que a análise do direito pela via de conceitos econômicos é conhecida como Análise Econômica do Direito (AED), ou ainda por Direito e Economia, metodologia de trabalho que emerge da escola de pensamento econômico Institucionalista. Consequentemente, na solução do problema posto, qual seja identificar na Constituição Federal de 1988 normas com componentes econômicos, serão estudados os princípios econômicos, e em especial, as escolas de pensamento econômico a serem conjugados às normas constitucionais, de forma a destacar dessas últimas os elementos econômicos. Por esta conjugação também serão analisadas as normas constitucionais do ponto de vista de seus incentivos econômicos e eficiência em promover o crescimento econômico.

(11)

econômicas e sem a preocupação de descortinar os conceitos e dogmas tradicionais do Direito Constitucional.

Atendendo a essa diretriz e adotando os parâmetros sugeridos pela (AED) serão investigados o desenho econômico, as doutrinas econômicas e escolas de pensamento que podem ser identificadas na Constituição bem como os efeitos econômicos das normas constitucionais.

Para tanto inicialmente será abordada a Análise Econômica do Direito a fim de esclarecer as origens, objetivos e método desta espécie de análise. Também será esclarecida a relevância de se estudar a Constituição Federal de 1988 sob esse enfoque, além de se conceituar economia destacando seus principais postulados.

A segunda parte do trabalho descreve as principais escolas de pensamento econômico, seus dogmas bem como os estudos dos economistas que mais se destacaram em cada uma delas, momento em que se compõe o principal substrato da análise a ser empreendida. Antes da análise econômica das normas da Constituição Federal de 1988, propriamente dita e com o fim de entender a adesão gradual dos conceitos econômicos as normas constitucionais, se fará um estudo sobre a economia brasileira, as constituições brasileiras anteriores a de 1988 e do cenário político do início e meados da década de 1980 que levaram à redemocratização brasileira possibilitando as eleições para Presidente e a convocação da Assembleia Nacional Constituinte.

(12)

2 A ANÁLISE ECONÔMICA DO DIREITO

O Direito enquanto campo de pensamento autônomo tem delimitação e reconhecimento há mais tempo do que parte das demais ciências sociais e talvez por isso nunca tenha deixado de se relacionar com essas ciências, mesmo havendo justificativa para a autonomia de cada uma delas.

Defende-se que com a Economia e o Direito não é diferente. Ao se observar como estas ciências se relacionam hoje, pode-se afirmar que existe uma vasta distância entre ambas. Pinheiro1 revela que enquanto Direito intentaria a busca pela justiça, a Economia seria a busca pela eficiência. E, na prática, existem conflitos entre juristas e economistas. Para o campo macroeconômico, por exemplo, os economistas esperam maior espírito cívico da classe jurídica. À medida que os economistas traçam planos econômicos que desprezaram liberdades e direitos individuais, rebelam-se contra aqueles que buscam na justiça a correção destes excessos. Ao mesmo tempo, no campo microeconômico, os economistas esperam o estrito cumprimento das leis, dos contratos e o respeito absoluto ao direito de propriedade.

Por outro lado, sob o ponto de vista dos juristas, os economistas do governo poderiam consultá-los antes de transformar um plano econômico em uma nova lei, assim seriam advertidos quanto às consequências para a ordem jurídica posta, se precavendo de possíveis efeitos negativos das medidas. Igualmente, as leis e a própria organização da se analisadas sob o ponto de vista econômico, poderiam ser bem mais eficientes.

Ou seja, várias questões de importância levam a uma inevitável aproximação entre as duas ciências, não obstante a reticência dos economistas e dos juristas. Ante a possibilidade vislumbrada de que o Direito interaja com a Economia e vice versa, verifica-se que a escola jurídica no Brasil, mas nem tanto a economia, passa por uma crise de credibilidade. A justiça e o papel do advogado têm sido rediscutidos, especialmente no mundo corporativo e, sem dúvida, uma nova abordagem do Direito, levando em consideração a Economia, tende a contribuir na construção das melhorias necessárias às ciências jurídicas na busca de sua maior eficiência.

1 PINHEIRO, Castelar Armando; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elvevier,

(13)

Nesse sentido, o Poder Judiciário e o poder público, são vistos como potencialmente prejudiciais para os negócios, ressaltam Pinheiro e Saddi2, e entende-se que isso põe por terra a segurança jurídica que deveria ser a razão de ser de todo o sistema judicial em um Estado Democrático de Direito. Consequentemente o papel do advogado hoje, melhor se situa na defesa e previsão do chamado risco jurisdicional uma vez que o poder judiciário é visto como alternativa pouco eficiente.

A consequência dessa realidade tem sido a estagnação do ensino jurídico e da pesquisa em Direito. Arida, ao escrever sobre Direito e Economia3 lembra a questão recentemente

proposta a um jurista: “como explicar que o Direito, como disciplina acadêmica, não tenha

acompanhado o vertiginoso crescimento qualitativo da pesquisa científica em Ciências Humanas no Brasil nos últimos trinta anos?” Longe de responder a questão, mas ciente dessa realidade, tem-se a abordagem de AED como um caminho para renovar o ambiente acadêmico e o debate jurídico.

É também em favor da Economia que o encontro com o Direito se opera. Há sem dúvida uma relação direita entre o bom funcionamento das instituições de um país, no que incluímos seus sistemas jurídicos, e seu crescimento econômico, conforme ressaltam Pinheiro e Saddi4. Para um país que ainda tenta encontrar um caminho entre regulação, e desregulamentação de atividades econômicas, e atuação direta do Estado na economia, essa compreensão é ainda mais importante.

Inclusive, a Economia também pode ser vista como uma ciência normativa e ética e isso não a confunde com o Direito. O normativismo da Economia seria apenas vocacional. Quer dizer, os ensinamentos econômicos refletir-se-ão em normas. Quando essas normas correspondem ao mínimo ético, indispensáveis à conservação do homem, ou sustentação do estado social o Direito as absorve. Ou seja, os domínios do econômico e do jurídico não se confundem. Mas são estreitas as ligações que mantêm entre si, tanto é que nas sociedades evoluídas, pelo menos, quase todos os fenômenos econômicos têm reclamado um revestimento jurídico. Mesmo as estruturas liberais, não deixaram de disciplinar, em termos de Direito, aspectos respeitantes à produção é à repartição dos bens econômicos, embora esse

2 PINHEIRO, Castelar Armando; SADDI, Jairo. Direito, Economia e Mercados. Rio de Janeiro: Elvevier,

2005.: p. 8-9.

3 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel (Org.). Direito e Economia. Análise Econômica do Direito e

das Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 60.

(14)

fenômeno se dê de forma mais ampla nos Estados intervencionistas, socializantes e planificadores, nos quais os princípios econômicos incorporam-se no Direito. Também quase todos os preceitos jurídicos assentam em razões econômicas, mesmo naqueles em que nem mesmo se imagina haverem razões econômicas subjacentes, como descreve Martínez5.

Compreende-se, assim, que a evolução da Economia e a evolução do Direito apresentam muitos aspectos comuns. Há ramos do Direito em que é mais nítida a influência da evolução econômica. Assim acontece com o Direito Comercial, com o Direito das Obrigações, com os Direitos Reais, com o Direito Fiscal e com o Direito do Trabalho. Mas mesmo institutos jurídicos aparentemente afastados das realidades econômicas acusam, com clareza, a influência de modificações nelas operadas. É o caso do pátrio poder; poder marital, dos regimes respeitantes à continuidade do vínculo conjugal e das sucessões, cujos contornos vão se alterando a partir de fenômenos econômicos e sociais, tal qual a entrada em massa da mulher no mercado de trabalho. Essa frase resume o que deu ensejo ao presente trabalho, à certeza de que razões econômicas motivam normas e em especial postulados descritos na Constituição Brasileira de 1988. Temos assim a impossibilidade de uma separação absoluta entre Direito e Economia, sendo inegável que essas ciências podem se beneficiar em um estudo conjugado, justificando os estudos de Análise Econômica do Direito (AED).

Uma vez identificadas às convergências entre Direito e Economia, passa-se a falar especificamente da AED cujas raízes da são mais antigas do que se supõe e antes de chegar a Posner, Coase e Calabre, atualmente considerados referência no assunto, passaram por Adam Smith e Jeremy Bentham. Adam Smith foi o primeiro a estudar os efeitos econômicos da formulação de normas jurídicas e Bentham associou legislação e utilitarismo, destacando a análise interdisciplinar ou multidisciplinar de fatos sociais, como relata Sztajn6·: Não obstante, continua Sztajn, apenas a partir da década de sessenta do século XX, é que de fato surge à área de estudo denominada Law and Economics. Esse movimento começa a ser notado com a publicação de The Problem of Social Cost, de Ronald H. Case, professor da Universidade de Chicago, e de The Cost of Accidents, de Guido Calabresi. Ajudaram ainda a aprofundar o diálogo, outros nomes proeminentes autores, dentre os quais, George Stigler.

Contudo, é a partir de Coase e Calabresi que se erigiram as pesquisas atuais de AED, tendo Coase recebido o Prêmio Nobel de Economia quando demonstrou como a introdução de

5 MARTÍNEZ, Soares. Economia Política. 11. ed. Revista e atualizada. Coimbra: Almedina. 2010. p. 43-44. 6 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel (Org.). Direito e Economia. Análise Econômica do Direito e

(15)

custos de transação a teoria das organizações conferem ao Direito papel relevante na determinação de resultados econômicos, registram Zylbersztajn e Sztajn7.

Mesmo dentre os economistas que não tratam diretamente da AED, existem importantes autores que fazem referência à relação entre economia e direito. Sen8 por exemplo afirma que em Economia recorre-se com frequência ao conceito de direitos e, de fato, os conceitos econômicos básicos de dotação, troca, contrato e outros encerram vários tipos de direitos. Nesse sentido, a partir da tradição utilitarista, a existência ou fruição de direitos não tem um valor intrínseco, pois eles devem ser avaliados segundo a capacidade que têm de obter boas consequências, ou seja, de serem eficientes.

Embora naquele momento Sen não pretendesse explicar a análise econômica do Direito, definiu contudo a ideia central que deve norteá-la, qual seja a de que um direito não vale por si mesmo, mas sim pelo benefício que pode traduzir. O mesmo vale para uma lei, e até mesmo para a Constituição, ela não pode valer por si mesma, e sim pelo bem-estar que é capaz de gerar.

Feita essa explanação geral sobre Direito e Economia parte-se em busca de estudos específicos que definam a AED. Serau Junior9 oferece uma definição segundo a qual a Economia é uma ciência que trata da eleição racional dos recursos limitados em relação às necessidades humanas. A Economia lida com a questão suposta de que o homem procura, de forma racional, aumentar ao máximo suas satisfações e interesse próprio. Desta feita a AED raciocina sobre a utilização e distribuição dos recursos sociais tidos como escassos, segundo três princípios fundamentais: racionalidade, equilíbrio e eficiência. Ou seja, para o Direito existem várias escolhas normativas a serem analisadas sob o ponto de vista da escassez e racionalidade, especialmente quando se fala em políticas públicas. A AED abre espaço para esta análise.

Essa nova abordagem, segundo Posner10 em tradução livre, como já registrado, tem seu marco histórico na década sessenta. Até então a análise econômica do Direito se restringia as leis antitruste, havendo ainda alguns trabalhos sobre leis tributárias, comerciais, de

7 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel (Org.). Direito e Economia. Análise Econômica do Direito e

das Organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 1.

8 SEN, Amartya. Sobre Ética e Economia. São Paulo: Companhia das Letras. 1999. 63-65.

9 SEROU JUNIOR, Marco Aurélio. Economia e Seguridade Social. Análise Econômica do Direito da

Seguridade Social. Curitiba: Juruá, 2010. P. 52-54.

(16)

patentes, e de direito público para regulação de mercados. Então se verificou que a Economia estaria aplicada em muitas outras áreas do Direito, como revela:

A análise econômica de antitruste e de regulação de mercados econômicos explícita permanece um campo próspero e recebe considerável atenção neste livro. No entanto, a marca registrada do novo Direito e economia que surgiu desde 1960 - é a aplicação da economia para o sistema legal como um todo: a campos de direito comum, tais como responsabilidade civil, contratos, execução, e de propriedade; para a teoria e prática da punição; ao processo civil, criminal e administrativo, para a teoria da legislação e regulamentação; à aplicação da lei e da administração judicial; e até mesmo direito constitucional, direito primitivo, direito marítimo, e da jurisprudência.

Trazendo essa afirmação para o cenário brasileiro, observa-se que economia e direito tem se encontrado na vertente jurídica do Direito Econômico. Contudo, Direito e Economia atravessam essa relação direta e, com apoio nos postulados e doutrinas econômicos, apontam as nuances e consequências econômicas das regras existentes em diversos ramos do direito, civil, constitucional, penal e na organização judiciária. Ou seja, a Análise Econômica do Direito enxerga a regra jurídica a partir de suas consequências como fato econômico, além do simples fato jurídico. Com isso tem-se um amplo campo de pesquisa em Direito e Economia e é partir dessa forma de ver o Direito que se desenvolve este estudo. A AED possibilita a avaliação de um conjunto de normas e postulados jurídicos em confronto com sua utilidade, eficiência e racionalidade.

Ainda na busca de uma definição de AED temos em Salama11 outros esclarecimentos. Segundo o autor, o Direito é verbal, a economia é verbal e matemática; o direito é hermenêutico e a economia empírica; o Direito aspira ser justo e a economia científica, sendo que a crítica econômica se dá pelo custo.

Essas diferenças marcantes levaram a enganos sobre o resultado que pode haver com uma Análise Econômica do Direito. Acreditou-se que a AED daria aos juristas uma receita

“de bolo” na aplicação da norma, que a Economia transformasse o Direito numa ciência exata, trazendo fórmulas como afirma o autor: “[...] do tipo “juízes e legisladores devem

adotar a regra X na situação Y porque esta é a solução eficiente e correta para o problema Z.”

No entanto, a AED não se limita a determinação do papel da eficiência na norma jurídica. Salama12 entende que a AED serve para iluminar problemas jurídicos e para apontar as

11 TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direito e Economia. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 49

62.

(17)

diversas implicações dos problemas normativos e elucida ainda a existência de dois níveis epistemológicos na AED. A dimensão positiva ou descritiva e a dimensão normativa ou prescritiva. O autor define as duas dimensões nas seguintes palavras:

O Direito e Economia Positivo se ocupam das repercussões do Direito sobre o mundo real dos fatos; o Direito e Economia Normativo se ocupam de estudar se, e como, noções de justiça se comunicam com os conceitos de eficiência econômica, maximização da riqueza e maximização do bem estar.

Expõe que o Direito e a Economia Positiva em sua versão mais radical entende que os postulados econômicos explicariam melhor o Direito, especialmente os postulados microeconômicos. Uma visão mais branda diria que os sistemas jurídicos poderiam ser compreendidos como resultantes de decisões de forma relativamente coordenada das preferências individuais. É como se os sistemas jurídicos fossem o livre mercado dos desejos normativos individuais e daí a validade da abordagem de um ponto de vista econômico. Uma visão mais próxima da realidade entende que a economia pode ser aproveitada para prever as consequências das diversas regras jurídicas. Seja com uma visão mais próxima da economia, seja com uma visão mais próxima do Direito, o Direito e Economia Positiva emprega modelos e ferramentas típicas da análise puramente econômica, principalmente os modelos microeconômicos marginalistas.

Direito e Economia normativos, por sua vez, tentam emparelhar as noções de eficiência e justiça. Ou seja, a justiça se realiza pela boa distribuição de recursos, conforme Salama13. Essa visão de AED teria, no entanto, três acepções, a “fundacional”, a “pragmática” e a “regulatória”. A ideia central da AED normativa fundacional, conforme Salama é a de que: [...] “as instituições jurídico-políticas (inclusive as regras jurídicas individualmente

tomadas) devam ser avaliadas em função do paradigma de maximização da riqueza.”. Sob a perspectiva pragmática, o Direito é um instrumento para consecução de fins sociais. Salama explicita a AED normativa pragmática, descrevendo a postura de Posner diante dessa vertente:

O Posner pragmático, portanto, reconheceu que, por mais que se tente justificar a defesa das liberdades individuais com base em critérios de eficiência (por exemplo, sustentando que no longo prazo o Estado Democrático de Direito promove o desenvolvimento econômico e as liberdades individuais), haverá casos em que a repulsa ao trabalho escravo, a exploração de menores, à tortura, às discriminações raciais, religiosas ou sexuais, etc. Terá de ser feitas em bases outras que não a

13 TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direito e Economia. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p.

(18)

eficiência. Nas palavras de Posner, “em algum momento mesmo o indivíduo que tomar uma posição em questões de filosofia política e de filosofia moral”, para concluir que “eu me posiciono com John Stuart Mill em Da Liberdade (1850)”.

A terceira vertente normativa enxerga o Direito como uma fonte de regulação de atividades, e, portanto de concretização de políticas públicas. A questão, dessa forma, não seria verificar se a eficiência se iguala a justiça, e sim de como a construção da justiça pode se beneficiar com a discussão de prós e contras. Ou seja, assim como o mercado deve ser equilibrado, entre partes antagônicas, entre oferta e demanda a justiça ao fazer uma escolha normativa iria privilegiar certos valores em detrimento de outros, antagônicos, portanto a AED normativa regulatória partiria dessa ponderação.

Observam-se referências a outras correntes metodológicas em AED, que acrescentam ao debate a Economia Institucional e a Nova Economia Institucional, a exemplo de Sztajn14. Entretanto, adota-se aqui a conceituação metodológica de Salama, com base em uma AED normativa, sob suas três perspectivas, fundacional, pragmática e regulatória.

Após introduzir os contornos da (AED), Salama15 ressalta seu papel acadêmico que seria o de aprofundar a discussão sobre as opções institucionais disponíveis, apontar os incentivos postos pelas instituições jurídico-positivas existentes, identificando interesses de diversos grupos, inclusive daqueles sub-representados no processo político, repensar o papel do judiciário, enriquecer a gramática jurídica oferecendo novo ferramental conceitual que ajude os estudiosos, os profissionais, e os pesquisadores em Direito a enfrentar dilemas normativos e interpretativos.

Posner16 fala da Análise Econômica do Direito em direito constitucional enfatizando que em regra, os advogados e estudantes de Direito costumam abordar o direito constitucional, mas que ele não esta sendo bastante explorado em AED. Com isso, sugere temas para análise econômica do direito em direito constitucional com as seguintes abordagens: as nuances econômicas das barreiras à mudança da Constituição, as regras constitutivas do sistema político, as que dizem respeito à atuação da Suprema Corte, mudanças na constituição que possam trazer maior proteção ao livre mercado, envolvendo equilíbrio orçamentário, paradoxos constitucionais como, por exemplo, a liberdade pessoal

14 TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direito e Economia. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 77. 15 Ibid. id.: p. 61.

(19)

frente aos direitos de propriedade intelectual, relação entre Constituição e crescimento econômico, interpretação constitucional, e a interpretação de dispositivos constitucionais que parecem ter uma lógica econômica implícita.

Este trabalho, ao abordar a Constituição Federal Brasileira de 1988 frente às escolas econômicas adota em especial a abordagem sugerida por Posner, a qual verifica as lógicas econômicas implícitas nos dispositivos constitucionais ao confrontá-las com as teorias das escolas de pensamento econômico.

É importante observar que este estudo aborda também conteúdo de Ciência Política. Bonavides17 alerta serem apertadíssimos os laços que prendem a Ciência Política ao Direito Constitucional, destacando que na França, antes da Ciência Política tornar-se disciplina autônoma, esteve inteira dentro do direito constitucional que seria o ramo de direito com maior influência na Ciência Política.

Estando o Direito Constitucional fortemente permeado pela Ciência Política, e tratando da Constituição frente a eonomia, o estudo defronta-se involuntariamente com situações correlatas a ciência política, uma vez que conceitos fudnamentais esta ciência como a a soberania e a democracia são aboradados como postulados constitucinais sob o ponto de vista da economia, destacando o contexto econômico em que foram construídos.

2.1 POR QUE ESTUDAR A CONSTITUIÇÃO FEDERAL BRASILEIRA A PARTIR DE UMA ANÁLISE ECONÔMICA DE SEUS POSTULADOS

Já foram expostas as linhas gerais desse trabalho e também já se tratou de explicar o que vem a ser a Análise Econômica do Direito, base em que se desenvolverá o estudo. Igualmente, esta claro que não se pretende descortinar temas de direito constitucional e sim entender e pensar a constituição a luz da economia.

Nesse sentido tem-se que mesmo os doutrinadores de direito constitucional ao aprofundarem seus estudos, acabam por tratar de ciências afins, inclusive ciências econômicas. Por exemplo, José Afonso da Silva18 que integrou a Comissão que veio a preparar um projeto a ser submetido à assembleia Constituinte de 1988, afirma que uma das bases da Constituição brasileira, o Estado democrático de direito, tem substrato em uma doutrina espanhola que afirmava estar o futuro dos estados democráticos em uma

17 BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 17 ed. São Paulo: Malheiros, 2010. 550 p. 48-52.

18 SILVA, José Afonso da. Um Pouco De Direito Constitucional Comparado. São Paulo: Malheiros, 2009. p.

(20)

convergência entre democracia e socialismo, e que essa seria a fórmula para a passagem do neocapitalismo ao socialismo, com despersonalização e institucionalização jurídica do poder nos países de democracia popular. Seria uma realização democrática do socialismo.

Desta feita, resta claro que ao se fundamentar a República Federativa do Brasil num Estado democrático de direito, buscava-se a realização democrática do socialismo, uma doutrina econômica. Ou seja, mesmo involuntariamente, ao estudarmos Direito Constitucional são adentrados temas econômicos.

Contudo, pensando conscientemente sobre Direito e Economia, torna-se possível investigar com mais profundidade esta relação. Como dito anteriormente, Posner19, a respeito de uma Análise Econômica do Direito e a Constituição, como anteriormente destacado afirma que a Constituição tem um desenho econômico geral, possível de ser investigado e as doutrinas ou instituições constitucionais possuem efeitos econômicos, em sentido lato e, especialmente, determinados dispositivos constitucionais possuem uma lógica econômica implícita.

Inclusive, a própria Constituição é um instrumento nascido de uma vertente econômica, qual seja o liberalismo. Canotilho20 destaca que para o liberalismo a constituição traz a segurança jurídica, e a ideia de que na dúvida, devem-se respeitar: os direitos fundamentais economicamente relevantes; propriedade, liberdade de profissão, indústria, comércio. Estas garantias inexistiam no Estado Absoluto. A Constituição moderna é: “... a simples lei do Estado e do seu poder”, tendo-se construído esse conceito a partir da Constituição Americana,

que constituía os “Estados Unidos”, e da francesa, que trata do “estado-nação” dos franceses.

Também há influência do próprio Estado-Liberal nesse processo, a mediada que aquele tenta dissociar política e sociedade, colocando de um lado a constituição e as leis administrativas e de outro, há os códigos civis e comerciais.

Norberto Bobbio21 cuja influência sobre o direito latino é clara, ao falar de uma teoria da norma jurídica se refere à teoria do Direito como um conjunto de normas: a experiência jurídica é uma experiência normativa. Contudo, não nega a derivação que a teoria normativa tem da teoria estatista, que ele próprio classifica como: um produto histórico da formação dos grandes Estados modernos, erigidos sobre a dissolução da sociedade medieval. Assim, na própria formação do Estado moderno está a eleição do Estado como o monopolista na

19 POSNER, Richard A. Economic Analysis of Law. 3 ed. New York: Aspen Publichers, 2002.: p.649 a 651. 20 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 6. ed. Coimbra:

Almedina. 2002. p. 190-110.

(21)

produção normativa, acabando assim com os poderes do império, da igreja, dos feudos, da associação, e até mesmo da família, todos aceitos até então como produtores de normas. Citando Hegel, Bobbio afirma que: “o Estado passa a ser o Deus terreno, ou seja, o sujeito

último da história, que não reconhece nem abaixo nem acima de si, qualquer outro sujeito, e a quem os indivíduos e os grupos devem obediência incondicional.” Assim, ao verificar que a própria Constituição é um documento produzido a par das transformações econômicas, em especial, erigida sobre a dissolução do absolutismo, tem-se que a compreensão das bases econômicas que estão nela incorporadas é possível e válida.

Existe uma identificação entre o Estado, sua Constituição, e as doutrinas que o embasam e esse estudo irá decifrar a economia que embasa e se possibilita com a Constituição de 1988. Esse novo olhar da AED é uma resposta à rígida postura científica que advém do positivismo, momento em que as ciências buscaram afirmar suas autonomias e erguer bases que as tornassem um todo passível de estudos. Entretanto o esforço concentrado do positivismo jurídico permitiu que o Direito passasse de meio para fim e, com isso, se tornasse um instrumento político de dominação e não uma ferramenta de solução de conflito de interesses, com observado por Santos22.

O positivismo e a construção do Direito como ciência nos dão a tradicional abordagem dos estudos jurídicos que trata dos postulados jurídicos frente a outros postulados jurídicos, ou seja, o Direito é analisado de uma forma endógena, análise que denominada hermenêutica. A Análise Econômica do Direito introduz uma visão que inclui componentes exógenos ao Direito, não calcada apenas em postulados jurídicos, mas também em postulados econômicos conforme, observado neste trabalho.

22 SANTOS, Boaventura de Souza. A Crítica da Razão Indolente. Contra o desperdício da experiência.

(22)

3 POSTULADOS QUE AJUDAM A ENTENDER A ECONOMIA

Não seria possível analisar a Constituição Federal sob a perspectiva da Economia sem antes compreender os conceitos da ciência econômica. Uma análise última chegaria à conclusão que a AED somente seria possível para aqueles que detêm ambas as formações, jurídica e econômica. Possivelmente, para aqueles que se preocupam em realizar a AED positiva, utilizando para tanto conceitos de econometria, talvez isso fosse necessário. Entretanto, este estudo limita-se a tratar da AED normativa, ou seja, verificar se, e como, noções de justiça se comunicam com os conceitos de eficiência econômica, maximização da riqueza e maximização do bem estar, como instruído em Salama23.

Contudo, para verificar como as normas constitucionais agem em termos de eficiência econômica, maximização de riqueza e bem estar, necessário melhor entender a ciência econômica. Assim, esse capítulo adentrou a Economia para situar o jurista na linguagem corrente e nos principais conceitos que ajudam a entender a ciência econômica.

3.1 ECONOMIA: CONCEITOS BÁSICOS E DEFINIÇÕES

Tem-se como necessário inicialmente elucidar o conceito de Economia, não obstante a dificuldade em se formular definições, ou de sintetizar em algumas palavras a complexa busca de um ramo científico.

Compreendendo essa realidade, ao tratar do assunto há mais de cem anos, Stuart Mill24 afirmou estar duvidoso quanto aos contornos da Economia, sustentando que as definições se seguem à formação das ciências, não as precedem. Entretanto, Martinez 25, bem observou que a falta de uma definição prévia também faz correr riscos sérios quanto à segurança na aplicação dos princípios, quanto à ordenação das matérias e quanto aos métodos de estudo melhor ajustados. O autor atribui aos estudiosos ingleses e norte americanos a tradição de não definir, em contra ponto aos de língua latina e alemã, que preferem adotar definições. Com isso, elucida vários ângulos de se ver a Economia, de forma a abranger a própria cronologia da evolução do pensamento econômico. Mill fala da Economia como ciência da riqueza, a qual engloba os autores das escolas clássicas inglesas e francesas, como Adam Smith e

23 TIMM, Luciano Benetti (Org.). Direito e Economia. 2 ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008. p. 50. 24 STUART MILL apud MARTÍNEZ Soares. Economia Política. 11 ed. Revista e actualizada. Coimbra:

Almedina, 2010. p. 3-4.

(23)

Baptiste Say, para os quais a Economia seria a ciência das riquezas sociais em contraposição às riquezas naturais.

Na concepção organicista, a Economia seria uma Física Social, a par de Quételet. Ou seja: a riqueza produz-se, circula e consome-se, nas sociedades, em obediência a uma ordem semelhante à regularidade biológica, correspondendo-lhe os respectivos órgãos propulsores. Também estão entre os organicistas, os fisiocratas, cuja circulação da riqueza assemelha-se a circulação do sangue.

Ressalta-se a visão de economia por meio da troca, não apenas no sentido jurídico, de escambo, mas abrangendo também a troca direta e a troca monetária, e nesse sentido a definição de Economia seria: como sendo a disciplina que tem por objeto o estudo dos fenômenos de troca. Estão entre os autores que vêm à Economia por esse ângulo, Cassel, na Suécia e Pirou, em França, informando-se que esse ponto de vista é comum aos autores focados em análise de mercados.

Destaca-se ainda haverem àqueles que entendem ser a Economia a ciência do valor, a exemplo do italiano Pantaleoni, conforme observa Martinéz. A Economia é também considerada a ciência do bem-estar material, concepção atual, proveniente da escola neoclássica de Cambridge, sendo representantes dessa construção Alfred Marshall e Arthur Cecil Pigou. Por esse paradigma, por exemplo, a atividade do advogado somente será econômica quando vise interesses materiais, não o será quando vise interesses morais.

Também é lembrado que a Economia costuma ser definida pelas opções face à raridade dos bens. Por sua importância destaca-se essa concepção a ser entendida nas seguintes palavras de Martinez26

Os bens econômicos, por definição, são sempre raros, limitados, face ao carácter ilimitado das necessidades humanas, com tendência constante para o crescimento (17) Os bens cujas quantidades excedem as exigências de utilização não se incluem entre os bens econômicos. Trata-se dos chamados bens livres, como o ar atmosférico, como a água dos rios e dos mares (18). Nem as crises de sobreprodução permitem negar a raridade dos bens econômicos. Porque essas crises

se acham sempre limitadas no tempo; e até no espaço. Além de que a sobre-produção é sempre relativa. Não exclui que, por falta de poder de compra, numerosos indivíduos não tenham acesso aos bens produzidos em termos julgados excessivos, apenas pela debilidade da procura nos mercados e não por falta de

necessidades a satisfazer (19).

(24)

Merece também destaque a visão da Economia segundo a teoria estratégica dos jogos, encabeçada por Von Neumann e Oskar Morgenstern, assim explicada por Martinez27:

Segundo Von Neumann e Morgenstern, os sujeitos econômicos seriam como jogadores. As suas decisões dependeriam de uma pluralidade de possibilidades, sendo a escolha respectiva fixada umas vezes pelo acaso, como acontece no jogo de dados, outras vezes por uma previsão meditada, como no xadrez, outras ainda por uma combinaçãodo acaso e da previsão meditada, como no bridge.

Tem-se ainda a Economia como ciência do aproveitamento das condições materiais do meio, que o autor descreve: “O objecto de estudo da Economia ficará circunscrito à ação de

ordem material exercida pelo homem sobre o meio.”.

Então surgem as concepções humanistas pelas quais a Economia é uma ciência humana, se ocupa do comportamento do homem. Não necessariamente lhe são aplicáveis regras de certeza das ciências físicas, ou mesmo regras de probabilidade. Também é assinalado que como ciência humana a Economia já foi aproximada do Direito, ou seja, foi considerada uma ciência ética e normativa, embora diferentemente do Direito, não o possa ser exclusivamente.

A diferença entre os conceitos mostra como cada época tem “verdades” científicas que sofrem influência do autor, do meio, da história, especialmente quando se trata de ciências humanas. Entretanto encontra-se na base desse estudo a busca do entendimento da Economia por vários ângulos, e pelas várias maneiras pelas quais o homem a entendeu na medida em que essa ciência foi se aprimorando. Tem-se que cada proposição foi correta para seu tempo, no seu espaço e em determinada oportunidade. Cada qual é importante na medida em que permitiu a reflexão que trouxe o conceito seguinte não se podendo acreditar ou desacreditar absolutamente cada um deles, vendo-os sempre de forma relativa.

Até este ponto do estudo foram destacados conceitos de economia formulados por autores citados na evolução histórica desta ciência, tema que será aprofundado adiante. Não se pode prosseguir, contudo, sem destacar conceitos formulados por economistas na atualidade.

Tratando de um conceito de Economia atual Mankiw 28 busca na etimologia da palavra Economia, um significado para esta ciência. Economia é um termo grego cujo significado é

“aquele que administra um lar”, e o autor compara a administração da sociedade com a

27 MARTINEZ S. Economia Política. 11 ed. Revista e actualizada. Coimbra: Almedina, 2010. p. 17.

28 MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

(25)

administração de uma família, tendo em vista que em ambas as situações são necessárias tomar muitas decisões, que em regra dizem respeito a como administrar os recursos

disponíveis. Então define. “Economia é o estudo de como a sociedade administra seus

recursos escassos”. E enfatiza que na maioria das sociedades os recursos não são alocados por único planejador central, mas pelos atos combinados de milhões de famílias e empresas. Por essa razão os economistas estudam como as pessoas tomam decisões, sobre trabalho, compras, poupança e investimento. Também é objeto da economia a interação entre as pessoas, por exemplo, examinando como um grande número de compradores e vendedores de um bem determinam juntos o preço pelo qual o bem é vendido e a quantidade. Finalmente, os economistas estudam forças e tendências que afetam a economia como um todo, como o crescimento da renda média, a parcela da população que não consegue encontrar trabalho e taxa à qual os preços estão subindo.

Por sua vez, Stiglitz29, classifica a Economia como ciência social enxergando-a sob o prisma das escolhas conforme se verifica em suas palavras que tratam do objeto do estudo da Economia:

... A economia estuda como as pessoas, empresas, governos e outras organizações da nossa sociedade fazem escolhas e como essas escolhas determinam a forma como a sociedade utiliza seus recursos. Por que os consumidores optam pela compra de carros pequenos e eficientes no consumo de combustível da década de 1970 e passaram a preferir grandes utilitários esportivos na década de 1990? O que determina o número de pessoas que trabalham no ramo de saúde e das que estão na indústria de computadores? Por que o hiato entre a renda dos ricos e dos pobres aumentou na década de 1980? ...

Os conceitos atuais de economia demonstram que os autores modernos vêem a Economia como a ciência que estuda os motivos determinantes, para que escolhas, decisões aconteçam. Este estudo demonstrará que parte das escolhas de uma sociedade, no caso, do Brasil, em seu aspecto econômico, estão limitadas ou induzidas pelo legislador constitucional, que de alguma forma faz o papel de planejador central. Ainda no interesse da presente dissertação seria relevante tratar do conceito de Economia internacional. Segundo Krugman30, inserem-se no interesse da economia internacional, os temas originados em problemas especiais da interação econômica entre os estados soberanos. Seriam sete os temas recorrentes no estudo da economia internacional, quais sejam: os ganhos do comércio, o padrão de

29 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

e Revisão Técnica de Mariana Pessoa Albuquerque. Rio de Janeiro: Campus, 2003. p. 8-15.

30 KRUGMAN, Paul. R.; OBSTFELD, Maurice. Economia Internacional.Teoria e Política. 5. ed.São Paulo:

(26)

comércio, o protecionismo, o balanço de pagamentos, a determinação da taxa cambial, a coordenação das políticas internacionais e o mercado de capitais internacional.

No campo da economia internacional as relações ou tomada de decisões dizem respeito a situações que envolvam duas nações distintas, como estas nações se relacionam em termos econômicos, ou seja, a quantidade de importação exportação de um país para outro, o fluxo de capitais, os produtos objeto de comercio, o câmbio, e de que forma as políticas de relações internacionais favorecem o intercâmbio comercial. Ainda, para entender a economia, elucida-se que a mesma recebe duas subdivisões básicas, Microeconomia e Macroeconomia. Mankiw31 elucida ambos os conceitos, afirmando: [...] microeconomia é o estudo de como as famílias e empresas tomam decisões e de como elas interagem em mercados específicos. A

macroeconomia é o estudo de fenômenos que englobam toda a economia. Exemplificando

Mankiw podem ser objeto de estudo de microeconomia [...] os efeitos do controle de aluguéis sobre os imóveis residenciais na cidade de Nova York, o impacto da competição estrangeira sobre a indústria automobilística dos Estados Unidos ou os efeitos da frequência escolar obrigatória sobre os ganhos dos trabalhadores. E ainda, da macroeconomia [...] os efeitos de empréstimos feitos pelo governo federal, às mudanças da taxa de desemprego ao longo do tempo ou políticas alternativas para promover a elevação do padrão de vida nacional.

Os dois ramos da Economia também são conceituados por Stiglitz32 o qual afirma que o estudo pormenorizado das decisões de empresas e famílias e preços de produção em ramos de atividade específicos constituiriam estudos de microeconomia, e a macroeconomia analisaria a economia como um todo e em especial de seus indicadores agregados, como taxa de emprego, indicadores, crescimento econômico e balança comercial. Considerando que o presente estudo volta-se para a Constituição, norma que traça as linhas institucionais bem como limites e poderes do estado e em certa medida do cidadão no campo econômico, de maior de idade relevância o entendimento de questões de maior grandeza econômico, ou seja, da macroeconomia. Formulados estes conceitos, o próximo item tratará de fundamentos da economia consagrados e aceitos pelos estudos atuais com vista a esclarecer ainda mais o entendimento da economia e em especial a linguagem e modo de pensar de um economista.

31 MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

Hastings. Revisão Técnica de Carlos Roberto Martins Passos. São Paulo: Cengage Learning, 2008. p. 26.

32 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

(27)

3.2 PRINCIPAIS DOGMAS EM ECONOMIA

Ainda na tarefa de entender a Economia, importa saber quais os principais dogmas atualmente aceitos e estudados em Economia. Tais conceitos podem ser tidos como resultado da evolução do pensamento econômico, pois representam os princípios construídos ao longo da vários anos de estudos e considerados corretos no período atual. Alerta-se, que os princípios ou dogmas aqui estudados, bem como seus autores, estão voltados para uma economia de mercado, presente na esmagadora maioria dos países, ainda que com graus distintos de intervenção estatal.

Já foi entendido que a Economia estuda como a sociedade administra seus recursos escassos, ou como se dão as tomadas de decisões. Para entender a administração de bens escassos ou tomada de decisões, alguns princípios basilares de economia devem ser antes entendidos.

Desta feita, serão destacados princípios considerados basilares em Economia. O primeiro princípio que se destaca esta sintetizada em um jargão econômico de língua inglesa, o tradeoff. Mankiw33 esclarece que para estudar Economia, ou seja, as escolhas ou decisões é preciso saber que: “As pessoas enfrentam tradeoffs”. Ou seja: “para conseguirmos algo que

queremos, geralmente precisamos abrir mão de outra coisa que gostamos. A tomada de decisões exige escolher um objetivo em detrimento de outro.” Destacam-se algumas escolhas feitas em sociedade, a escolha entre armas e manteiga, ou seja, gastos mais elevados em defesa nacional representam gastos menos elevados no padrão de vida interno. Outro tradeoff encontra-se entre eficiência e equidade, nas palavras de Mankiw:

Outro tradeoff que a sociedade enfrenta é entre eficiência e equidade. Eficiência

significa que a sociedade está obtendo o máximo que pode de seus recursos escassos. Equidade significa que os benefícios advindos desses recursos estão sendo distribuídos com justiça entre os membros da sociedade. Em outras palavras, a eficiência se refere ao tamanho do bolo econômico e equidade, à maneira como o bolo é dividido. Muitas vezes, quando estão sendo formuladas as políticas do governo, esses dois objetivos entram em conflito.

Essa elucidação traz a lembrança de que em algumas ocasiões se disse no Brasil que primeiro o bolo iria crescer, em seguida seria dividido, ou seja, a eficiência econômica, a

33MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

(28)

busca por resultado estava acima do bem estar. O autor também esclarece que para realizar um tradeoff, uma escolha adequado, é preciso ter toda a informação a disposição.

O mesmo autor fala ainda de outros relevantes princípios, dentre os quais o custo de oportunidade, resumido na ideia de que o custo de alguma coisa corresponde ao valor do que você desiste para obtê-la. Nesse aspecto pondera-se a obtenção de um diploma de nível superior, por exemplo, com a possibilidade de adentrar diretamente no mercado de trabalho. Para algumas situações, como para um grande talento do esporte, não obter o diploma de nível superior pode ser a melhor opção. Ainda, seria de substancial importância para entender o raciocínio econômico, o princípio segundo o qual as pessoas racionais pensam na margem, ou seja, existem dois extremos, em uma decisão e você opta por algo que se mostra o meio termo entre os extremos.

Disso resulta que em Economia têm-se as chamadas mudanças marginais ou como descreve o autor os: [...] pequenos ajustes incrementais a um plano de ação [...] e deste conceito tem-se que as mudanças marginais podem ser a diferença entre a eficiência econômica de um empreendimento e seu fracasso. Quanto mais ajustes for possível realizar, à medida que a situação for se estruturando no tempo, provavelmente mais perto da eficiência estará o negócio.

Outro princípio destacado pelo autor é o de que: [...] As pessoas reagem a incentivos [...]. O autor ressalta que este conceito é fundamental em termos de políticas públicas, exemplificando, por exemplo, no imposto sobre a gasolina como incentivo para que as pessoas usem menos carros e consumirem menos combustível, prefiram o transporte público ao particular, ou morem próximos ao local de trabalho. Se o imposto fosse alto o suficiente as pessoas usariam carros elétricos.

Stiglitz34, igualmente vê os incentivos como uma ideia central da Economia. E sobre

eles alerta: “2. Incentivos: no momento da escolha, tomadores de decisão respondem a

incentivos.”. Relata num tópico denominado “Pensando como um Economista”, o caso da

AOL, provedor de internet norte americano, que em 1997, decidiu mudar a forma de como seus clientes pagariam pelo acesso a internet. Esse serviço, que antes era pago de acordo com o tempo de utilização, passou a ser cobrado através de um preço mensal que dava direito ao cliente de acessar a internet por tempo ilimitado. A consequente imediata dessa mudança foi o

34 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

(29)

congestionamento da internet para os usuários da AOL, uma vez que esses clientes passaram a não ter qualquer incentivo para desconectar o computador da internet ainda que não o estivessem acessando.

Essa é uma questão de fundamental importância do presente estudo, pois, é possível dizer que o legislador fez escolhas “tradeoffs”; que têm determinado os rumos econômicos com consequências sociais. As políticas de incentivos teoricamente são instrumentos substitutos às regulações expressas e intervenções diretas do Estado no ambiente econômico. O incentivo é uma das inúmeras formas de influência do Estado no mercado e do ponto de vista legal uma das mais importantes.

O livre mercado pode ser visto como a melhor alternativa para promoção de interações econômicas. Assim, retoma-se Mankiw35 que afirma o seguinte princípio: “O comércio pode ser bom para todos”. Ou seja, mesmo na competição entre países distintos, é importante que cada um produza seus bens e os possa vender para os demais, pois naturalmente, nem todos poderiam produzir toda a variedade e quantidade de bens de que a sociedade demanda. Famílias, países, todos se beneficiam da possibilidade de comerciar uns com os outros. O comércio permite que eles se especializem naquilo que fazem melhor e desfrutem de uma maior variedade de bens e serviços. Os japoneses, como os franceses, os egípcios e os brasileiros, são tanto parceiros na economia mundial quanto concorrentes. Stiglitz36 resume esse princípio na ideia de troca: “3. Trocas: as pessoas se beneficiam com as trocas voluntárias, e, nas economias de mercado, as trocas de mercado conduzem a um uso eficiente

dos recursos.”.

Outro princípio destacado por Mankiw37 segue o mesmo caminho e revela “Os

mercados são geralmente uma boa maneira de organizar a atividade econômica”. Inclusive é destacado ser o colapso do comunismo um dos acontecimentos mais importantes dos últimos cinquenta anos, como consequência da falha da doutrina dos planejadores centrais ao desprezar o valor da mão invisível de Adam Smith, segundo o qual: “as famílias e as empresas, ao interagirem nos mercados, agem como se fossem guiadas por uma “mão invisível” que as leva a resultados de mercado desejáveis.”. Afirma que essa mão invisível vem a ser o preço, e que o erro dos planejadores centrais estava em querer ditá-los.

35 MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

Hastings. Revisão Técnica de Carlos Roberto Martins Passos. São Paulo: Cengage Learning, 2008.p. 9.

36 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

e Revisão Técnica de Mariana Pessoa Albuquerque. Rio de Janeiro: Campus, 2003. P. 13.

(30)

É explicada a importância dos preços que refletem tanto um valor de um bem para sociedade quanto o custo social de produzi-lo e como as famílias e as empresas observam os preços para decidir o que comprar e o que vender levando em consideração, involuntariamente, os custos e benefícios sociais de suas ações sendo a consequência a maximização do bem-estar da sociedade.

Distribuição é a idéia usada por Stiglitz38, para salientar esse conceito, assim formulado por ele: “5. Distribuição: os mercados determinam como os bens e serviços

produzidos na economia são alocados entre os membros da sociedade.”.

O princípio que segue é visto por Mankiw39 com bastante reticência, quando afirma:

“Às vezes os Governos Podem melhorar os Resultados dos Mercados.”. É possível pressentir uma ênfase no “às vezes” e então procurar entender em que situações o governo pode ser útil em melhorar o mercado. Bem o primeiro papel importante é o de proteção social e de direitos, ou seja, é a proteção que o governo dá ao editar leis protetivas da propriedade, por exemplo, e ao garantir a segurança pública e o cumprimento desses direitos, como assiná-la o autor. Uma das utilidades do governo seria a de proteger a mão invisível, ou seja, as bases da relação de troca, como a propriedade e o cumprimento dos contratos. O governo deve fornecer polícia e tribunais competentes para proteger as relações econômicas.

Outra utilidade do governo seria a de buscar a diminuição dos impactos das externalidade, ou seja, dos impactos negativos das ações de determinadas pessoas sobre o bem estar de outras. Um exemplo clássico de externalidades é a poluição. Também é afirmado que o governo pode ser necessário para garantir o cumprimento da eficiência e equidade dos mercados. O autor assinala: Uma economia de mercado recompensa as pessoas de acordo com sua capacidade de produzir coisas pelas quais outras pessoas estejam dispostas a pagar. Mas isso não necessariamente acarreta equidade e eficiência, então o autor arremata: A mão invisível não garante que todos tenham comida suficiente, roupas decentes e atendimento médico adequado. Muitas políticas públicas, por exemplo, o imposto de renda e o sistema de seguridade social, têm por objetivo atingir uma distribuição mais equitativa do bem-estar econômico. . Não obstante, o próprio autor alerta para a imperfeição dos promovedores das políticas públicas que muitas vezes são concebidas para recompensar os poderosos, feitas por

38 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

e Revisão Técnica de Mariana Pessoa Albuquerque. Rio de Janeiro: Campus, 2003. p. 13.

39 MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

(31)

líderes bem-intencionados e mal informadas. Portanto, um dos objetivos do estudo da economia seria ajudar no julgamento sobre o quanto uma política governamental é justificável para promover a eficiência ou equidade e quando não é.

Alguns princípios básicos da Economia dizem respeito ao seu modo de funcionamento. Dentre esses princípios estaria aquele assinalado por Mankiw40 que afirma:

“O padrão de vida de um país depende de sua capacidade de produzir bens e serviços”. Ou seja, o padrão de vida de um país corresponde ao tamanho da sua economia, da inserção de seus residentes no mercado de trabalho, e em consequência, de consumidores, no desenvolvimento de tecnologias, crescimento da indústria, agropecuária, e serviços.

Esse princípio já foi entendido por muitos países e por muitas empresas privadas. O crescimento da renda esta diretamente relacionada com a produtividade do país, ou seja, a quantidade de bens e serviços produzidos em uma hora de trabalho.

Mankiw no mesmo debate ressalta que políticas públicas também podem influir nesse fator enfatizando que no intuito de elevar os padrões de vida os formuladores de políticas públicas precisam elevar a produtividade garantindo que os trabalhadores tenham uma boa educação, disponham das ferramentas de que precisam para produzir bens e serviços e tenham acesso à melhor tecnologia disponível.

Ou seja, existem ferramentas para o aumento de produtividade que devem se pautar no tripé: educação, inovação e tecnologia. Seguindo a ideia básica da teoria quantitativa da moeda, de acordo com Mankiw41: os preços sobem quando o governo emite moeda demais. Esse é o fenômeno inflacionário, se um governo, por exemplo, para cobrir os gastos públicos, simplesmente emite moeda, uma maior quantidade de moeda no mercado faz com que os preços se elevem. Portanto, a estabilidade econômica é sensível à emissão de moeda, devendo esse ser um cuidado e uma preocupação constante dos governos.

O mesmo autor destaca ainda outro princípio coligado ao problema da excessiva emissão de moeda, segundo qual existe um tradeoff de Curto Prazo entre inflação e desemprego, demonstrado na curva de Philips. Por esse estudo, existe uma relação direta entre o aumento da inflação e do nível de emprego em curto prazo sendo um debate constante a forma como utilizar esse fator de forma favorável à economia.

40 MANKIW, N. Gregor. Introdução à ECONOMIA Edição Compacta. 3. Ed. Tradução de Allan Vidigal

Hastings. Revisão Técnica de Carlos Roberto Martins Passos. São Paulo: Cengage Learning, 2008.p. 12-13.

(32)

Outro princípio basilar da economia, enumerado por Stiglitz42, diz respeito à informação: “4. Informação: a estrutura dos mercados determina como os bens e serviços produzidos na economia são alocados entre os membros da sociedade”. Como foi dito a respeito dos tradeoffs a escolha adequada decorre da informação adequada sendo essa uma das grandes dificuldades das interações econômicas, a desigualdade de informações, que acarreta vantagem a um dos polos da relação, em geral, o mais forte, qual seja o do empresário. Dessa forma, não é a toa que em se tratando de relação de consumo há sempre o pressuposto de que o consumidor é hipossuficiente. Mas isso também denota que incentivar o acesso e disponibilização de informação é uma forma de equilibrar o mercado sem uma intervenção direta.

Além desses princípios, alguns conceitos também são relevantes para se entender minimamente a ciência econômica. Para elucidar esses conceitos destacam-se os estudo de Blanchard43, iniciando pela descrição das três variáveis de maior relevância em uma economia, a seguir:

Produto – o nível de produção da economia como um todo – e sua taxa de crescimento.

Taxa de desemprego – a proporção de trabalhadores de uma economia que estão desempregados e buscam uma vaga.

Taxa de Inflação – a taxa de aumento do preço médio dos bens da economia ao longo do tempo.

Ainda e também de extrema importância para o entendimento da Economia é conhecer a forma mais utilizada para “medir” a economia de um país, e que visa representar o produto agregado, ou seja, o nível de atividade total da economia. Esse valor vem a ser o PIB –

Produto Interno Bruto. Para o qual são oferecidos dois conceitos distintos um sob a ótica do valor adicionado: O PIB é a soma do valor adicionado na economia em um dado período.

Ainda são diferenciados PIB Nominal e PIB Real, sendo que o PIB nominal: [...] é simplesmente a soma das quantidades de bens finais multiplicada por seus preços atuais. E, por sua vez PIB real é calculado como a soma das quantidades de produtos finais

42 STIGLITZ, Joseph. E.; WALSH, Carl. E.. Introdução a Microeconomia. 3 ed. Tradução de Helga Hoffmann

e Revisão Técnica de Mariana Pessoa Albuquerque. Rio de Janeiro: Campus, 2003: p. 12.

(33)

multiplicada por preços constantes (em vez de preços correntes). A utilidade de calcular o PIB real estaria na necessidade de medir a produção e suas variações ao longo do tempo, situação em que é necessário eliminar o efeito do aumento de preços no cálculo do PIB. Por isso o PIB real é calculado como a soma das quantidades de produtos finais multiplicada por preços constantes ao invés de preços correntes.

Outras variáveis também são de grande importância para compreender um discurso econômico, sendo enumerada ainda em Blanchard44, a taxa de desemprego, ou seja, a razão entre o número de desempregados e a força de trabalho que vem a ser: a soma dos trabalhadores empregados e desempregados. Taxa de inflação assim definida pelo autor: “A

inflaçãoé uma alta sustentada do nível geral de preços. A taxa de inflação é o percentual do aumento desse nível. (Simetricamente, deflação é a queda sustentada do nível de preços.

Corresponde a um taxa de inflação negativa.).”.

Também importa entender o deflator do PIB, que mede a diferença entre o PIB nominal e o PIB real, sendo uma razão entre o PIB real e o PIB nominal em um ano. Sua variação calculado na formulada (Pt-Pt-1)/Pt-1, fornece a taxa de inflação, ou a taxa em que nível geral de preços aumentou ao longo do tempo. Ou seja, o deflator do PIB pode refletir a inflação na economia.

Outro importante dado econômico é o Índice de Preços ao Consumidor – IPC, que é a medição do custo de vida, fornece o custo em moeda corrente de uma determinada lista de bens e serviços ao longo do tempo. A lista, baseada em um estudo detalhado dos gastos da família, procura reproduzir a cesta do consumo básico de um consumidor urbano, sendo reavaliada a cada 10 anos, e, a partir de 2002, a cada 2 anos.

Tem-se ainda a variável inflação e desemprego já comentada anteriormente neste estudo, como sendo capaz de fornecer importantes dados para condução da política macroeconômica. Mas é acrescentado nessa percepção um dado importante, sobre a necessidade de controlar a inflação. Se todos os preços se movimentassem na mesma direção e velocidade, os preços relativos não se alterariam e não haveria problema.

Nesses períodos, preços e salários nem sempre sobem proporcionalmente, e assim a inflação passa a afetar a distribuição da renda. Um grupo tradicionalmente prejudicado num

(34)

processo de inflação é de trabalhadores aposentados, quando o valor de aposentadoria não está atrelado a algum índice, como, por exemplo, o IPC. Outras distorções ocorrem. A inflação gera incerteza, defasagem dos preços fixados por lei ou por regulamentação, além do que a tributação interage com a inflação criando mais distorções. Por exemplo, se as faixas de imposto de renda não são ajustadas, há uma aumento de renda nominal, mas não de renda real e assim, a tributação passa a ser maior. Não obstante, como já dito, como o pleno emprego depende em certa medida de um pouco de inflação, a opção das políticas macroeconômicas não tem sido de abolir por completo a inflação, havendo a permissão para que em alguns casos ela seja um pouco mais elevada.

Imagem

Tabela 1 – Evolução do PIB, inflação e renda  percapita
Tabela 2 – Carga tributária – distribuição por esfera de governo arrecadadora
Gráfico 1  –  Carga tributária  –  distribuição por esfera de governo arrecadadora
Tabela 3  –  Composição da despesa primária do governo central - % do PIB

Referências

Documentos relacionados

Detectadas as baixas condições socioeconômicas e sanitárias do Município de Cuité, bem como a carência de informação por parte da população de como prevenir

d) Capacidade Técnico-profissional: comprovação de que a empresa licitante possui, na data fixada para a entrega da proposta, engenheiro civil ou arquiteto,

Excluindo as operações de Santos, os demais terminais da Ultracargo apresentaram EBITDA de R$ 15 milhões, redução de 30% e 40% em relação ao 4T14 e ao 3T15,

Acreditamos que o estágio supervisionado na formação de professores é uma oportunidade de reflexão sobre a prática docente, pois os estudantes têm contato

EDITORIAL Em Montes Claros, segundo a secretária municipal de Saúde, já não há mais kits do exame para detectar o novo coronavírus reportagem@colunaesplanada.com.br

O diálogo entre a educação do campo e a educação especial tem como premissa o reconhecimento das singularidades das populações do campo, incluindo aqui as pessoas com

Neste trabalho, restringimos a discussão a três dos principais problemas enfrentados nos Domínios Lingüístico e Representacional: (i) a especificação de uma

Este estudo apresentou aspectos relativos à utilização de imagens de satélite e ferramentas de geoprocessamento para a organização de um banco de dados com informações territoriais