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Projeto de vida e formação profissional: quais são as trajetórias da juventude LGBTQIAP+?

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Academic year: 2023

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Universidade Federal da Paraíba Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes

Departamento de Psicologia

Projeto de vida e formação profissional: quais são as trajetórias da juventude LGBTQIAP+?

Manuele Maria Gomes dos Santos

João Pessoa-PB Dezembro/2022

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Manuele Maria Gomes dos Santos

Projeto de vida e formação profissional: quais são as trajetórias da juventude LGBTQIAP+?

Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Psicologia, sob orientação da Professora Dra. Manuella Castelo Branco Pessoa, na Universidade Federal da Paraíba, no Departamento de Psicologia, no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.

João Pessoa-PB Dezembro/2022

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Manuele Maria Gomes dos Santos

Projeto de vida e formação profissional: quais são as trajetórias da juventude LGBTQIAP+?

Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Psicologia, sob orientação da Professora Dra. Manuella Castelo Branco Pessoa, na Universidade Federal da Paraíba, no Departamento de Psicologia, no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes.

João Pessoa, Dezembro de 2022

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________

Profa. Dra. Manuella Castelo Branco Pessoa (orientadora)

_____________________________________________________

Prof. Dr. Anselmo Clemente (Universidade Federal da Paraíba)

_____________________________________________________

Prof. Me. Daniel de Oliveira Silva (Externo - Faculdade Santa Maria)

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Dedico esse trabalho a todas/todos/todes da comunidade LGBTQIAP+ na esperança de que suas(nossas) histórias se tornem mais conhecidas.

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AGRADECIMENTOS

À todas/todos/todes da comunidade LGBTQIAP+.

À quem veio antes de mim, que lutou, gritou, chorou, sangrou e foram assassinades para que me fosse assegurado minimamente este espaço que hoje ocupo. À quem hoje segue comigo nessa trajetória pela reivindicação de nossos direitos. E à quem virá depois, na esperança que possam desfrutar de mais segurança e de uma vida com menos preconceito e violência.

À minha família, pelo meu amor à leitura, incentivo a continuar meu estudos, e por me proporcionar a oportunidade de poder me dedicar à minha formação.

À Camila e Clara, minhas irmãs, por me acolherem nas minhas alegrias e tristezas, pelos abraços nos momentos de crise, pelas horas incontáveis na cozinha me escutando falar sobre Psicologia, e simplesmente por todos esses anos acompanhando minha história.

À todas/todos/todes as/os/es amigas/amigos/amiges que me acompanharam ao longo do curso, escutaram as minhas reclamações, e comemoraram comigo os meus sucessos.

À Frida, Paula e Regina que aceitaram contar suas histórias e fazer parte desta pesquisa, possibilitando a elaboração deste trabalho.

Às pessoas que fazem parte da Coordenadoria de Promoção à Cidadania LGBT e Igualdade Racial por me receberem e cederem o espaço para o desenvolvimento deste estudo.

À Anselmo e Daniel, por terem aceitado o convite de fazer parte da minha banca, e terem possibilitado tornar a apresentação desse estudo uma realidade.

Por fim, ao Núcleo de Pesquisa e Estudos sobre o Desenvolvimento da Infância e Adolescência - NUPEDIA/UFPB, à Professora Fátima Pereira, e à Professora Manuella Castelo Branco por conceberem um espaço tão acolhedor que me permitiu realizar um encontro com uma Psicologia na qual acredito, por ser um lugar de aprendizado, de desenvolvimento de lutas, e promotor de laços afetivos que seguirão para além dos muros dessa instituição.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

METODOLOGIA 11

Participantes e lócus 11

Instrumentos 11

Procedimentos éticos e de coleta 11

Procedimentos de análise 12

RESULTADOS E DISCUSSÃO 12

Contextualização 12

Trajetórias de acesso a formação 15

Trajetórias de inserção no mercado de trabalho 19

Escolhas e possibilidades que direcionam a elaboração de projetos de vida 23

CONSIDERAÇÕES FINAIS 26

REFERÊNCIAS 28

ANEXOS 31

Anexo A - Termo de Anuência 31

Anexo B - Modelo do Termo de Consentimento Livre Esclarecido 32

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INTRODUÇÃO

Levando em consideração o exposto no Estatuto da Juventude (Brasil, 2013), são consideradas parte da juventude pessoas entre 15 a 29 anos de idade. Isto posto, a juventude brasileira no decorrer de suas vivências encontra-se circunstanciada por diversas formas de opressão e exclusão, uma destas sendo a contínua reprodução no contexto social e cultural de padrões cisheteronormativos que buscam a delimitação de vidas e corpos das pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+ (Souza, 2018). Associado a isto, aspectos como idade, sexo, raça, situação econômica e de residência, e falta de acesso a escolarização são elementos que vem sendo utilizados enquanto barreiras a inserção e permanência no mundo do trabalho (Guimarães et al., 2018; Somos Diversidade & Organização Internacional do Trabalho [OIT], 2021).

De acordo com a Lei 10. 097/2000 (Lei do Aprendiz), a partir dos 16 anos é permitida a inserção no mercado de trabalho, salvo condição de aprendiz (14 anos), além disso, o estágio também pode existir possibilitando a combinação das modalidades de aprendizagem e trabalho (Lei 11.788/2008 - Lei do Estágio). Tendo isso em consideração, ao se discutir sobre a juventude que faz parte da comunidade LGBTQIAP+ é necessário o esclarecimento de alguns conceitos, tais como: orientação sexual, que refere-se à capacidade das pessoas sentirem atração, e se relacionarem, afetiva e sexualmente com outras do mesmo gênero, de gênero oposto, de mais ou nenhum gênero; identidade de gênero remete-se a maneira que cada pessoa percebe a si mesma como sendo do gênero feminino, masculino, ambos, nenhum, ou alguma outra combinação, e que independe do sexo biológico; e expressão de gênero é como alguém, por meio de diversos mecanismos, manifesta sua identidade de gênero, e também independe do sexo de nascimento (Reis, 2018).

Dito isto, para as pessoas que fazem parte dessa comunidade, suas experiências de vida ocorrem inseridas num sistema opressivo, pautado na invisibilização e exclusão de formas de ser e se relacionar com outras/outros/outres que não se encaixam no padrão normativo vigente em nossa sociedade. O qual se baseia na discriminação de outras formas de orientação sexual que não sejam a heterosexualidade (“heterocentrismo”), bem como dos diversos modos de identidade e expressão de gênero que não sigam a regra do binarismo associado ao papel social de feminino-masculino (“ciscentrismo”). Assim, torna-se possível entender como essas noções cisheteronormativas reproduzem normas culturais, em diversos espaços de inter-relação, que promovem a discriminação, de formas sutis e/ou extremas, e

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violação dos direitos das pessoas LGBTQIAP+ (Gaspodini & Jesus, 2020; Sator & Jesus, 2022).

Diante disso, tem-se o despreparo dos ambientes de ensino em trabalhar questões relacionadas à diversidade sexual e de gênero, acarretando na manutenção da discriminação e preconceito (Júnior & Ferreira, 2021). Como consequência, há a interrupção ou impossibilidade de concluir o processo de escolarização, resultando na falta de acesso à formação profissional, e a consequente restrição das oportunidades de inserção no mercado de trabalho, impactando de forma negativa na qualidade de vida das pessoas que fazem parte desse grupo. Sendo a população trans - transgêneros, transexuais e travestis - a mais vulnerável a esse sistema, por não se encaixarem de forma tão desafiadora aos padrões cisheterormativos que lhes são impostos (Ferreira et al., 2022; Ziliotto et al., 2021).

Destaca-se ainda que mesmo para quem consegue concluir o ensino escolar, e acessar algum tipo de qualificação, não existe a garantia da entrada e permanência em postos de trabalhos formais (Guadagnin, 2018).

Deste modo, é inegável que a população LGBTQIAP+ elabora suas experiências de vida inserida num contexto capitalista que constantemente (re)produz, e busca manter, a desigualdade através de ideias e comportamentos seletistas e excludentes. Em vista disso, o preconceito, discriminação e assédio das pessoas que fazem parte desse grupo dentro de ambientes de trabalho pode ocorrer por meio de diferentes origens: colegas de trabalho, gestores e clientes. Contribuindo para a estruturação de obstáculos ao ingresso e permanência dessas pessoas, transformando esses lugares em espaços hostis e adoecedores (Alencar et al., 2018).

Levando em consideração o exposto até o momento, a Convenção 111 da OIT, ratificada pelo Brasil em 1965, conceitua que discriminação é qualquer “distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo, religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social, que tenha por efeito destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento em matéria de emprego ou profissão” (OIT, 1958). Ainda, este documento também traz em pauta a importância do investimento em ações e políticas voltadas à educação, como também a elaboração de legislações que busquem garantir uma formação e trabalho de qualidade. Atrelado a isto, faz-se necessário o destaque da criminalização da homofobia e transfobia no ano de 2019, pelo seu enquadramento na Lei nº 7716/1989 (Lei do Racismo).

Tendo isso em mente, entende-se que mesmo nesse cenário de perpetuação da discriminação e do preconceito, existem alguns ambientes de trabalho que se voltam ao

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diálogo, desenvolvimento e tentativa de implementação um espaço mais inclusivo à diversidade sexual e de gênero (Júnior & Galvão, 2021). No entanto, para que essa mudança se torne mais efetiva, é preciso que haja um maior combate à exclusão de pessoas que fazem parte da comunidade LGBTQIAP+ dos processos seletivos, e dos episódios de violência e discriminação que se reproduzem nos contextos laborais. Desse modo, fica claro que ainda existe um longo caminho a ser trilhado, para que essas ações deixem de ser propaganda e torne-se de fato uma política mais estruturada de inclusão em prol dessa população (Melo et al., 2020).

É nesse foco que se desenvolve os mecanismos da Linguagem Inclusiva, que busca o ensinamento de práticas geradoras de respeito na comunicação, visando “(...) substituir marcadores de gênero e outros elementos que reforçam preconceitos no discurso” (Fischer, 2021, p. 9). Bem como a Linguagem Neutra que se remete a uma proposta de introduzir um terceiro gênero na fala e escrita, e que não se configura no padrão do binarismo masculino e feminino, identificando-se pelo uso do “e” no lugar do “a” ou “o”, a fim de promover um acolhimento dessas identidades e suas histórias. Ambas são estratégias ainda em desenvolvimento, mas que apresentam potencial, levando em consideração seus objetivos, e a necessidade do desenvolvimento de ferramentas para proteção e garantia dos direitos dessas pessoas. Se é pela linguagem que se propagam os ensinamentos preconceituosos ao longo da história, reivindica-se na linguagem um espaço para o rompimento desse padrão. Tendo isso em mente, aponto que assumirei essa proposta ao longo deste trabalho - e para além dele em outros espaços da minha vivência - tendo consciência do esforço constante que será a ruptura de anos de aprendizado de uma cultura de invisibilização, e que pode haver alguns momentos de deslize ao longo da escrita.

Diante do que foi exposto, e levando em consideração a dívida que a Psicologia tem com a população LGBTQIAP+ por ter contribuído durante anos com a violação de seus direitos, os estudos e atuações profissionais devem visar uma prática crítica e que procure compreender de fato que experiências constituem a trajetória de vida e de trabalho (Souza et al., 2020; Souza, 2018) da juventude LGBTQIAP+. Deste modo, assumirei como fundamentação teórica a Psicologia Histórico-Cultural que compreende o desenvolvimento psíquico do ser humano vinculado às vivências e interrelações que acontecem no meio social.

Sendo a sua subjetividade influenciada pela apropriação, aprendizado e transformação psicológica das materialidades construídas por meio da história e cultural, e que é possibilitada através da mediação entre as pessoas. Para a juventude, a atividade-guia que orienta esses processos é a atividade de trabalho e a formação profissional (Martins, 2020).

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Ainda a juventude configura-se como um período de transição entre a adolescência e a vida adulta. Onde no cenário brasileiro, por terem sua origem na classe trabalhadora, são perpassades pelos aspectos de desigualdade e exclusão produzidos pela sociedade capitalista, que se fortalece às custas de sua dominação e exploração. De forma que a entrada no mundo do trabalho torna-se uma urgência em função da busca pela garantia de sua sobrevivência, levando a possíveis interrupções em seu processo de escolarização e formação profissional.

(Abrantes & Bulhões, 2020).

Isto posto, as necessidades que surgem no decorrer de suas trajetórias de vida, e os interesses que vão elegendo, atuam como guia para os objetivos que vão definindo e orientando a elaboração de seus projetos de vida, sendo o contexto social aquele que proporciona as possibilidades e limites para suas escolhas. Assim, o projeto de vida da juventude é algo em constante movimento de construção e reconstrução em função de suas experiências (Pessoa et al., 2017). O que torna um ponto de partida importante na compreensão sobre seus projetos, a busca por entender suas trajetórias, as quais incluem as oportunidades que acessam, bem como o que de fato possuem de concreto para esse planejamento do futuro, quando não se veem levados a pensar de forma mais imediatista e menos elaborada em função das urgências de suas vidas. Para a juventude, em função do papel que o trabalho assume na sua trajetória, seus projetos de vida são vinculados ao seu projeto profissional (Dias, 2011).

Sendo assim, a realização deste estudo buscou a criação de um espaço para que as vozes de pessoas, que são submetidas cotidianamente a processos de exclusão, violência, discriminação e cerceamento de seus direitos, possam encontrar um meio de fazerem suas histórias serem ouvidas. Além disso, visou-se que pudesse contribuir na aproximação e desenvolvimento de pesquisas voltadas à comunidade LGBTQIAP+ a partir da ótica de uma Psicologia do Trabalho, fundamentada e comprometida com uma perspectiva crítica e reflexiva, que buscasse entender a complexidade de sua história e luta política pelo direito de existir. Por fim, esse trabalho também intencionou promover uma aproximação entre a pesquisadora e as pessoas que fazem parte deste grupo, bem como dos estudos já existentes sobre essa temática. Algo que era um desejo de certo tempo, e que finalmente pode se tornar possível. Desse modo, o objetivo geral deste estudo foi compreender os modos como a juventude LGBTQIAP+ constrói seus projetos de vida. E os objetivos específicos foram:

caracterizar a juventude da comunidade LGBTQIAP+ entrevistada; identificar suas trajetórias no acesso à formação; identificar suas trajetórias laborais; e analisar como essa juventude vem construindo seu projeto de vida.

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METODOLOGIA Participantes e lócus

Participaram desta pesquisa três jovens, entre 20 e 29 anos, se identificaram como mulher trans lésbica, mulher cis bissexual e pessoa não-binárias pansexual. Em relação à raça 1 se auto identificou como preta, 1 como branca e 1 não foi informado. Residem numa cidade do estado da Paraíba, em bairros considerados populares, possuem o ensino médio completo, sendo que uma se encontra em processo de formação profissional no ensino superior, outre possui uma formação técnica e atualmente está trabalhando, e outra entrevistada não possui formação profissional, mas está inserida no mercado de trabalho. A pesquisa se desenvolveu numa sala cedida pela Coordenadoria de Promoção à Cidadania LGBT e Igualdade Racial da cidade. Foi utilizado o critério de saturação para assegurar o cumprimento dos objetivos, de modo que o volume não sobreponha a riqueza dos dados (Ribeiro et al., 2018).

Instrumentos

Foi realizada uma Entrevista Aberta, utilizando os objetivos desta pesquisa como guia norteador. De acordo com Minayo (2104), a entrevista aberta como técnica de investigação permite uma aproximação mais profunda com aquilo que é o foco da pesquisa. Onde os questionamentos que surgem por parte da pesquisadora são direcionados a uma melhor exploração do que é expresso na fala da pessoa participante, que fica mais livre para responder a essas intervenções. Além disso, como complemento a entrevista na discussão sobre projeto de vida, utilizou-se uma folha que as pessoas entrevistadas precisavam preencher com: objetivo(s)/plano(s); o que eu tenho agora que me ajuda a alcançar isso? o que eu preciso para alcançar isso.

Ademais, também foi utilizado o Diário de Campo, enquanto uma ferramenta que permite o registro das vivências que se desenvolveram no cotidiano. Entende-se que essas anotações podem contribuir possibilitando uma diferente forma de aproximar-se dos acontecimentos e experiências elaboradas no decorrer da pesquisa, atuando enquanto ferramenta que proporciona um espaço para reflexão e ação crítica sobre aquilo que se foi vivido (Nascimento & Lemos, 2020).

Procedimentos éticos e de coleta

Para execução desta pesquisa ocorreu um contato prévio com a Coordenadoria de Promoção à Cidadania LGBT e Igualdade Racial, para solicitação da permissão para

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realização das entrevistas e obtenção da assinatura do Termo de Anuência (Anexo A).

Posteriormente o projeto foi submetido, e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa - Centro de Ciências da Saúde (UFPB) cumprindo todos os passos determinados pela Resolução Nº 466/2012 do Ministério da Saúde (MS, 2012), com CAAE:

63680422.2.0000.5188. Utilizou-se do espaço da Coordenadoria como forma de acessar a juventude, de modo que as entrevistas foram realizadas num auditório que fica no local, não foi feito o uso de gravadores, as entrevistas foram transcritas a mão - como componente do diário de campo - após o término da conversa com as/os/es participantes, e em seguida passadas para o computador.

Procedimentos de análise

Essa pesquisa utilizou como método de análise a Análise de Conteúdo Temática.

Segundo Minayo (2014) este tipo de método procura encontrar os núcleos de sentido presente numa comunicação, de acordo com a frequência ou presença com que surgem, e a relação que podem ter com aquilo que se é estudado. A análise aconteceu em três etapas: Pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados obtidos e interpretação. A primeira etapa de Pré-análise consistiu na escolha do material a ser analisado, e da retomada dos objetivos iniciais da pesquisa, nesse momento são realizadas as tarefas de: leitura flutuante, constituição do corpus, e formulação e reformulação de hipóteses e objetivos. Num segundo momento de exploração do material ocorreu uma operação classificatória a fim de serem identificadas as categorias que compõem o material, fazendo parte dessa etapa o processo de categorização, que procura reduzir o texto em palavras e expressões significativas. Por fim, a última etapa voltou-se ao tratamento dos resultados obtidos e interpretação, onde a analista deve propor inferências e interpretar os dados coletados e categorizados, relacionando-os com o referencial teórico proposto (Minayo, 2014).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Contextualização

Este tema dedica-se à contextualização das pessoas que participaram desta pesquisa, busca-se trazer aqui alguns aspectos iniciais que são relacionados a suas histórias de vida.

Assim, os nomes que serão mencionados ao longo deste trabalho são fictícios, com o intuito

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de preservação da identidade das/dos/des participantes, e foram escolhidos em conjunto entre estas/estes e a pesquisadora.

Dito isto, Frida tem 29 anos, é uma mulher trans, lésbica, e se identifica enquanto preta. Ela é de São Paulo, morou lá até um ano atrás, quando se mudou para uma cidade paraibana. Já foi casada, mas sua esposa faleceu quase quatro anos atrás (suicídio).

Atualmente mora com a namorada, se conheceram pela primeira vez de forma online há três anos. Foi criada pela madrinha, e nunca foi próxima do pai biológico. Tinha uma relação um pouco conflituosa com a mãe biológica, por esta não respeitar e aceitar (apesar de que apontou não gostar da palavra “aceitar”) sua identidade. Foi na época que começou a namorar com sua ex-esposa que começou a se aproximar de sua mãe biológica, por causa da insistência dela (namorada da época). Trouxe esse ponto como algo muito importante para a recuperação desse vínculo familiar. Tem um vínculo afetivo muito forte com a madrinha, relatou que ela foi quem sempre a incentivou a buscar seus interesses, a concluir os estudos, e que foi alguém que deu muito apoio na época em que Frida estava em um momento mais intenso da depressão.

Paula tem 20 anos, e se identifica enquanto uma mulher cis e bissexual. Vive em um bairro popular, tem um irmão mais velho, mas mora apenas com a mãe. A mãe e o pai são divorciados desde a infância, e Paula não tem uma relação próxima com o pai. A mãe é aposentada e o último trabalho que fez antes de se aposentar foi de recepcionista. Atualmente as duas se sustentam da aposentadoria dela e recebem uma ajuda do irmão mais velho que todo mês manda uma cesta básica pequena para elas. Relatou ter alguns conflitos com a mãe em relação a sua orientação sexual depois de ter se assumido (fez uso da palavra, mas também indicou não gostar dela). Disse que não foi expulsa de casa, mas que a mãe não entende, e acredita que é uma escolha de Paula, fazendo alguns comentários em tom irônico e de cobrança no sentido de dizer a Paula que esta deveria parar de se identificar dessa forma porque isso seria algo errado.

Regina tem 23 anos, se identifica enquanto pessoa não-binária, pansexual e branca.

Mora sozinhe há um ano em um bairro em que residem pessoas de baixa renda. Nasceu de um relacionamento extraconjugal entre mãe biológica e o pai, e na infância dividia-se de 6 em 6 meses, morando ou com a mãe biológica, ou com o pai e a mãe adotiva (atual ex esposa). Já morou dois anos seguidos com a mãe biológica, mas nos últimos anos morou com a mãe adotiva mesmo depois dela ter se separado do seu pai. Disse que sua relação com a mãe biológica é boa, que mesmo sua mãe não sendo a melhor, entende que ela tem algumas questões que às vezes impactam no relacionamento, mas que vê também que ela tenta, e que

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em relação a sua identidade de gênero e orientação sexual ela é tranquila, principalmente porque ela é bissexual, indicando ser mais fácil conversar e entender algumas questões nesse sentido.

Regina, junto com sua irmã mais velha, foi criade pela mãe adotiva, e relatou que sua relação com ela é muito boa, disse ainda que esta sempre deu apoio e suporte em relação a sua identidade de gênero e orientação sexual. Seu relacionamento com a irmã também vai nesse sentido, se relaciona bem com ela e os filhos dela, e são vizinhos atualmente. Tem 11 irmãos pelo lado do pai e o relacionamento com eles é distante, não tem muito contato. Na família a relação mais conflituosa é com o pai, que já direcionou comentários preconceituosos voltados a sua identidade e orientação sexual, não são próximos, e Regina relatou preferir evitar o contato. Seu processo de descoberta foi aos poucos, falou que aos 13 anos já percebia que era diferente das outras pessoas, foi quando começou a refletir sobre sua orientação sexual, disse que essa parte foi mais tranquila de entender. A questão da identidade de gênero que levou mais tempo e que recentemente começou a compreender que se identifica mais como não-binário, e não tem nenhuma preferência entre os gêneros, se percebe como mais fluide.

Disto isto, conhecer essas pessoas antes de qualquer coisa foi um desafio que propus a mim enquanto mulher cis, pessoa LGBTQIAP+, pesquisadora e futura psicóloga. Realizar este estudo foi um encontro com diferentes realidades e vivências, ao mesmo tempo que pude identificar algumas semelhanças - em sua maioria infelizmente relacionadas com questões de violência, e que serão analisadas em outras partes do presente trabalho - ao longo dessas histórias. Colocar-me no lugar de compreender os privilégios que tenho em relação a outras/outros/outres que não tiveram, e ainda não tem, acesso aos mesmos espaços que tive foi uma ação necessária para não incorrer no duvidoso posicionamento de neutralidade que a academia ainda tenta propor no desenvolvimento de pesquisas.

Para isso foi preciso da minha parte realizar um movimento constante de aprendizado com e por meio das/dos/des entrevistadas(dos/des) sobre formas de agir, de falar, de pensar e escrever sobre suas trajetórias. Desta forma, a seguir trago algumas explicações sobre a identidade de gênero e orientação sexual das/dos/des participantes, não como afirmação de algo finito sobre esses aspectos que constituem uma parte de suas identidades, mas como forma de esclarecimento sobre as terminologias que no momento são reconhecidas como as mais adequadas.

Logo, lésbica refere-se a mulheres (cis ou trans) que busca um relacionamento afetivo-sexual com outras pessoas do mesmo gênero, bissexual é quem que se relaciona

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afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros, pansexual refere-se a pessoas que podem sentir atração física, sexual e amorosa por outras pessoas independente de suas identidades de gênero ou sexo biológico (rejeita a noção de apenas existir os gêneros masculino/feminino e orientação sexual específica). Cisgênero (também entendido apenas pelo uso do prefixo “cis”) remete-se a quem identifica-se com o gênero que lhe é atribuído no nascimento, mulher trans é a pessoa que se identifica como pertencente ao gênero feminino apesar de ter sido biologicamente designada pelo sexo/gênero masculino ao nascer, e não-binária é quem não se limita, nem se identifica com o binarismo de gênero (feminino-masculino) (Reis, 2018).

Diante disso, ao longo deste trabalho ao abordar sobre a história de Frida, Paula e Regina buscarei utilizar de uma escrita mais inclusiva, em concordância com a expressão de suas identidades de gênero. A partir do que a Linguagem Neutra propõe, neste trabalho - para além dele também - busca-se assumir uma escrita que respeite as suas histórias, suas experiências e suas lutas. É através das palavras, que constituem uma via de comunicação entre as pessoas, e compõem este estudo, que este transforma-se também num espaço de reparação aos danos provocados pela invisibilização de vidas que não se encaixam no padrão cisheteronormativo (Fischer, 2021).

No entanto, apesar desses movimentos que acontecem na busca de reafirmação constante ao respeito pelas suas existências, é preciso ter em mente que para pessoas da comunidade LGBTQIAP+, viver numa sociedade, que busca manter um padrão heterossexual e cisgênero enquanto normativa que delimita os modos de ser e se expressar, se constitui numa luta cotidiana pela sobrevivência e garantia de seu direito de existir, onde a reprodução dessas noções conformistas perpassa os mais variados contextos relacionais (Gaspodini &

Jesus, 2020). O que é demonstrado através do relato da juventude entrevistada, quando trazem em suas falas os conflitos e situações de discriminação que vivenciaram dentro do contexto familiar.

Trajetórias de acesso a formação

Este tópico buscará trazer as trajetórias de acesso à escolarização e formação des participantes, como compreendem esses processos, o que possuem até o momento em termos de formação profissional, e a forma que esses contextos foram vivenciados levando em consideração as descobertas que fizeram sobre suas identidades e as situações de discriminação relatadas.

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Assim, Frida fez toda escolarização em escolas públicas, e tem até o ensino médio completo. Sobre formação profissional, relatou ter pensado fazer psicologia, mas em atendimento psicológico foi apontado que no momento que se encontrava (crise mais forte depressão), não seria o mais indicado investir nessa profissão. Optou por desistir da psicologia, relatando durante a entrevista entender que não seria o mais saudável buscar esse curso na época que o interesse surgiu, e que atualmente não deseja seguir esse caminho. Não buscou nenhuma outra formação até começar a se relacionar com a namorada atual, após ter tido uma conversa com esta, que a fez pensar sobre seus interesses e habilidades que já tinha (gostar de desenhar desde criança), que a levou a buscar cursos de formação para tatuadora.

Desse modo, iniciou o curso em São Paulo, e já tinha começado a comprar alguns instrumentos da área, quando fez a mudança para João Pessoa. Nesse processo pausou o curso, e vendeu tudo que tinha lá para conseguir dinheiro e se organizar em João Pessoa.

Relatou até o momento não ter voltado a organizar-se em relação a profissão que intenciona, nem retomou os estudos relacionados a sua formação, ou por questões de procrastinação, ou por questões do dia a dia que vão passando na frente, como contas a pagar.

Paula relatou ter o ensino médio completo, concluindo todo período de escolarização em escolas públicas. O último ano do ensino médio foi concluído enquanto fazia estágio em uma agência bancária, por meio de uma instituição voltada ao incentivo na formação e inserção no mercado de trabalho. Fez o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas não conseguiu passar para o curso de interesse (psicologia), refez a prova no ano seguinte, conseguiu passar, e atualmente está cursando Psicologia numa instituição pública de ensino superior. Dessas duas tentativas no Enem, relatou que a primeira vez não conseguiu porque não estudou o suficiente, por ter dividido o seu último ano do ensino médio entre estudo e trabalho, o tempo livre que tinha, usava para descansar. Também trouxe que mesmo achando a experiência do estágio interessante para seu desenvolvimento pessoal, sentiu falta de não ter conseguido vivenciar mais das atividades da escola (cita como exemplo os esportes), bem como da organização por parte da escola para atividades voltadas à temática da inserção no mercado de trabalho.

Regina fez todo o ensino fundamental e médio em escola pública. O primeiro fundamental apesar de ter dito que mudou muito de escola por precisar dividir a moradia entre a casa da mãe biológica e pai/mãe adotiva, conseguiu concluir o ensino fundamental I no tempo esperado. O ensino fundamental II foi mais difícil, tanto nas questões de ensino, quanto psicologicamente. Sofreu bullying na escola e precisou repetir o 7º ano quatro vezes por não conseguir concluir o ano escolar em virtude dessa questão. Fez o ensino médio em

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uma escola técnica, e relatou que percebe a experiência do ensino médio como mais tranquilo por não ter que conviver com as pessoas que fizeram bullying no ensino fundamental, que teve a chance de conviver com pessoas mais desconstruídas. Possui um Técnico em Cozinha pelo ensino médio, apontou que na escola só tinha opções de técnico em cozinha ou em vendas, ambas opções que não gostava, e que preferiu escolher o técnico em cozinha. A partir da experiência se interessou um pouco pela área de Gastronomia, fez o Enem e entrou para a Tecnologia de Alimentos numa instituição pública de ensino superior no início da pandemia, fez algumas disciplinas, porém não se identificou com o curso e desistiu.

A partir disso percebe-se que todes elaboraram suas trajetórias no contexto de instituições públicas de ensino. Apenas Regina concluiu uma formação profissional (modalidade técnica), enquanto Paula está em processo de formação e Frida teve os estudos interrompidos. É válido também o destaque da experiência de trabalho concomitante ao período de escolarização, e a reflexão que Paula traz sobre as dificuldades de conciliar os estudos enquanto se realiza uma atividade de trabalho. Desta maneira, Guimarães et al.

(2018) diz que para a juventude trabalhadora as trajetórias de ensino não se desenvolvem da mesma forma, não existindo a garantia de uma qualificação profissional após a conclusão dos estudos, levando em consideração os atravessamentos que o trabalho traz, quando a necessidade por sustento se coloca como um fator decisivo em suas vidas.

Somando-se a isto, no caso de Frida, a interrupção de seus estudos põe em discussão a configuração de seus vínculos familiares e o impacto que isso tem para sua vida. Ela trouxe que o processo de mudança aconteceu em função de alguns conflitos que ocorreram nesse meio em relação a morte de sua ex-esposa, e que estavam afetando sua saúde mental, por isso escolheu vir morar em uma cidade paraibana. Situação esta que demonstra um cenário contínuo de desestabilização de sua qualidade de vida, levando a interrupção de sua formação profissional. O que vai de acordo com o exposto por Guadagnin (2018), quando fala do ciclo de precarização que é imposto às pessoas trans pela restrição de escolhas que lhe são apresentadas por um sistema pautado na inviabilização da entrada e permanência em postos de trabalho decente, em virtude da falta de acesso a qualificação profissional.

Neste sentido, algo que também contribui para a permanência dessa conjuntura, foram os processos de opressão que acorrem por meio da discriminação e preconceito em instituições de ensino. Deste modo, Frida relatou que não se recorda muito de ter vivido essas experiências, apenas que nos últimos três anos (da escolarização) como estava num momento de crise depressiva, sentia que as pessoas, e como elas agiam, pareciam um ataque a ela enquanto pessoa. Paula relatou que não houve muitos episódios, que lembra mais de duas

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questões: a primeira, foi na época do ensino fundamental II, quando começou a descobrir um interesse em meninas, e ao tentar conversar sobre o assunto com uma amiga que conhecia da igreja, essa pessoa disse que ela que não seria o certo, e deveria ignorar tais questões referentes a sua orientação sexual. Paula relatou então que até entrar no ensino médio seguiu tentando suprimir essa parte de sua identidade, e que foi na convivência com outres amiges que também foram se descobrindo nesse período que começou a compreender e ficar confortável com essa parte de sua identidade. Disse que a “bolha” dela sempre foi muito de ter pessoas LGBTQIAP+, e com a “bolha” dela consegue se sentir à vontade para se expressar.

A segunda questão que Paula lembra, volta-se para o fato de que na escola que fazia o ensino médio uma tia era professora. Então ela lembra mais do receio da tia descobrir e chegar na família dela, e qual seria seu comportamento em relação a sua orientação sexual, do que momentos em si de discriminação. Relatou ainda que sentiu falta de uma educação sexual no ambiente escolar que desse algum apoio na discussão dessas questões, especialmente quando estava no ensino fundamental e começou a questionar os seus interesses afetivo-sexuais.

Ainda nesse ponto, Regina falou da época do ensino fundamental II. Disse que sempre foi uma criança que as pessoas identificavam certos comportamentos dentro das noções estereotipadas sobre pessoas LGBTQIAP+, e sofreu muito bullying das outras crianças na escola (comentários, piadas e agressões/empurrões). Relatou não receber apoio de praticamente ninguém da escola, apenas uma assistente social e uma professora, essa última que identifica como uma presença chave para ter conseguido continuar e terminar os estudos, conseguindo enfrentar essas situações. Disse ter sido um momento muito difícil para sua saúde, que na época chegou a escrever cartas de suicídio, mas que pela presença dessa professora conseguiu seguir em frente. Chegou a ser atendide pela psicóloga da escola, o que falou não ter sido uma experiência positiva em virtude desta ter dito que essas violências aconteciam por sua culpa.

Com essas falas nota-se que todes sofreram algum tipo de violência no ambiente escolar, em virtude da forma que compreendem e expressam sua identidade de gênero e orientação sexual, com sérios prejuízos a sua saúde mental e impactando no seu processo de ensino-aprendizagem, este último caso ficando mais evidente no relato de Regina. Cenário que deixa às claras os processos de opressão em função da reprodução dos padrões normativos produzidos culturalmente e repetidos nesse contexto por pares e profissionais que fazem parte desse espaço. Isto trata-se então de uma violação ao direito de expressar sua

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própria identidade na propagação da noção da repressão da orientação sexual e identidade de gênero que não estão em conformidade com as noções de cisheteronormatividade (Ferreira et al., 2022; Melo et al., 2020).

A conivência com a LGBTQIAP+fobia dentro dos ambientes de ensino, por meio da permissão a essas ações violentas, através do despreparo e omissão das escolas em relação a discussão sobre diversidade sexual e de gênero, provoca efeitos negativos nas pessoas que fazem parte desse grupo, sobre os modos que desenvolvem suas identidades e subjetividade, sua saúde e seus processos de escolarização (Júnior & Ferreira, 2021). Ainda, como apontado no relato de Regina, ao invés de buscar realizar uma atuação ética e crítica frente a esta perpetuação da opressão às pessoas LGBTQIAP+, alguns profissionais da psicologia continuam assumindo o papel de reprodutores desse preconceito (Souza et al., 2020; Souza, 2018). O que, mesmo não sendo um dos objetivos propostos neste trabalho, mas que foi permitido observar através dessa narrativa, indica certas lacunas na formação desses profissionais, assemelhando-se também a minha experiência de formação em que não houve de fato um espaço específico para estudo e discussão dessas questões.

Trajetórias de inserção no mercado de trabalho

Esse tema vai abordar as trajetórias de trabalho vivenciadas pelas pessoas participantes, como percebem suas próprias experiências nesse cenário, e a forma que enxergam e refletem sobre os preconceitos que se fazem presentes no mundo do trabalho e são direcionados a comunidade LGBTQIAP+.

Assim, aos 17 anos, Frida saiu de casa, disse sentir a necessidade de ser mais independente, e foi quando começou a buscar trabalho para se sustentar. Em São Paulo ela trabalhou em escolas com limpeza, serviços gerais e cuidando de crianças (todos com carteira de trabalho assinada), trabalhou em restaurantes (como atendente montando hambúrguer) e em shopping (sem carteira de trabalho assinada). Também trabalhou como babá (seis anos), sem carteira assinada. Quando chegou na Paraíba trabalhou no restaurante de um shopping por um tempo, porém logo depois ficou desempregada, voltou a trabalhar quatro meses atrás num quiosque que vende doces em um shopping da cidade, com carteira assinada (trabalha como atendente, em vendas, preparando os doces, disse que faz de tudo).

Paula disse entender que o trabalho para as pessoas no geral consiste em um contexto que requer mão de obra qualificada ou não, preenchendo variadas ocupações para dar algum tipo de retorno à sociedade. Começou a trabalhar entre os 16 e 17 anos por meio de

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experiência de estágio em uma agência bancária (fazia atendimento ao pessoal que buscava o banco na parte dos caixas eletrônicos, trabalhou na área administrativa, disse que fazia de tudo), ficou um ano lá. Buscou essa oportunidade de trabalho para tentar contribuir com a renda da família, relatou lembrar que na época não era a única pessoa fazendo esse estágio ou trabalhando em outro lugar enquanto também estudava. Disse que entende como é comum que jovens de uma família de classe mais empobrecida precisem trabalhar logo para contribuir na renda de casa. Concluiu o ano de estágio, não voltou a trabalhar para estudar para o Enem, mas neste ano buscou e conseguiu ocupar uma vaga de atendente de telemarketing receptivo (como carteira assinada), porém teve que deixar o trabalho porque o curso que está fazendo no momento é no formato integral e não estava dando para conciliar o estudo e o trabalho. Paula falou estar pensando na possibilidade de tentar ingresso numa oportunidade de estágio não obrigatório remunerado, e que por enquanto ainda está avaliando a possibilidade já que gostaria de terminar o curso sem ter que, se fosse possível, voltar a trabalhar enquanto ainda está estudando.

Regina falou entender que o trabalho é voltado para buscar garantir/assegurar, o sustento financeiro, e para a maioria das pessoas isso infelizmente se atrela a contextos de trabalho que não são saudáveis. Regina trouxe que tenta buscar trabalho em lugares em que se sinta bem, mas que para muita gente isso não é possível. Já fez estágio em um hotel pela escola técnica, trabalhou como auxiliar de padeiro em uma padaria (contrato), como auxiliar em uma confeitaria de hotel (contrato), como auxiliar de cozinha em um restaurante (contrato, não aguentou muito tempo pela pressão do ritmo de trabalho), e operando caixa em um shopping e atendendo clientes (carteira de trabalho assinada). Atualmente trabalha no atendimento a clientes de um restaurante/bar.

Nessa narrativa apresentada é possível perceber como para Frida e Regina suas entradas no mercado de trabalho aconteceram cedo, apontando para uma inserção no final da adolescência. Ainda, é válido destacar que apenas para Paula e Regina a inserção no contexto laboral ocorreu de forma regulamentada e em acordo com o previsto pela Lei 10. 097/2000 (Lei do Aprendiz) e pela Lei 11.788/2008 (Lei do Estágio). No entanto, mais do que inserção pela via do desenvolvimento e aprendizagem, o início de suas experiências laborais fala de uma urgência na busca pelo sustento como demonstrado por Frida, levando em consideração o momento em que começou a morar sozinha, e Paula ao apontar a necessidade de contribuição na renda familiar.

Além disso, é possível observar o posicionamento crítico que Paula e Regina trouxeram sobre o modo como o trabalho se configura na vida das pessoas, quando apontam

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que para a juventude que tem sua origem na classe trabalhadora a entrada em postos de trabalho pode acontecer ainda durante o período de escolarização, e que as ocupações disponíveis refletem um cenário de exploração e desigualdade que existe no mundo do trabalho. Logo, faz-se possível reconhecer como para a juventude sua perspectiva de autonomia está relacionada à necessidade de garantir sua sobrevivência. Assim, o trabalho se constitui como algo central em suas vidas, assumindo uma função importante para o seu desenvolvimento, que, no entanto, pelas circunstâncias do contexto que se encontram, encaminha essas pessoas para espaços precarizados que funcionam pela lógica da captação constante de força de trabalho (Abrantes & Bulhões, 2020). Ademais, em acordo com uma pesquisa realizada pela Somos Diversidade e OIT (2021), os postos de trabalho encontrados na trajetória des participantes indicam uma inserção voltada às áreas de comércio e serviços, que, em sua maioria, são alguns dos campos direcionados a captação de pessoas que não chegaram, ou concluíram, uma formação profissional de ensino superior.

Sobre vivências de preconceito e discriminação no contexto de trabalho Frida relatou que isto acontecia (e acontece) por meio de olhares e piadas. Em entrevista (relatando um exemplo) com uma loja de acessórios disse que começaram a interromper a fala dela logo após mencionar que morava com a namorada, e não foi chamada para ocupar a vaga. Ainda, no lugar de trabalho atual, disse que tem uma pessoa que sempre tira piadas maldosas e que a deixa desconfortável. Trouxe também que não é a única pessoa LGBTQIAP+ trabalhando lá, que o gerente dela é gay, e ter outras pessoas da comunidade lá é importante para ajudar a lidar com essas situações de preconceito. Relatou que essa pessoa que faz comentários direcionados a ela também faz com o gerente, mas não na frente dele. Em um momento de reflexão na entrevista, Frida disse perceber que essas ideias preconceituosas que são expressas nesses comentários, são algo que surgem (provavelmente) de um contexto familiar que a pessoa está inserida. No trabalho ela tenta lidar com esses comentários dando “cortes”

na fala da pessoa.

Paula disse perceber que seu último local de trabalho é uma das raras empresas que busca colocar em prática um sistema de inclusão para pessoas LGBTQIAP+. Que encontrou muitas pessoas trans e travestis trabalhando lá, mais do que pensava que haveria, tem banheiro social, e no geral na época que trabalhou lá achou interessante a proposta. O que ela compreende como oposto à experiência de estágio, onde disse que já presenciou algumas pessoas trabalhadoras do banco fazerem comentários preconceituosos direcionados a outres trabalhadores, que era um sistema de trabalho hierarquizado, conservador, e não se sentia confortável lá, fazendo o possível para que as pessoas que trabalhavam no espaço na

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descobrissem de sua orientação sexual. Além disso, relatou que os trabalhadores de lá tratavam ela e outra estagiária de forma negativa, indicando que por serem de famílias de baixa renda nunca chegariam a um contexto de formação universitária. Completa dizendo que pelo sistema preconceituoso que existe na maioria dos espaços de trabalho não se sentiria confortável em deixar as pessoas saberem de sua orientação sexual por saber que seria tratada de forma negativa.

Além disso, Regina relatou um episódio de transfobia na época do estágio, lembra dele como o mais violento porque sofreu agressão por um dos trabalhadores do espaço, mas disse que conseguiu apoio das outras pessoas que trabalhavam lá, e que essa pessoa que a agrediu foi desligada do hotel em função do ocorrido. Falou também que compreende como é difícil conseguir inserção e se manter no espaço de trabalho pela presença de comportamentos e falas preconceituosas, e que nota como julgam sua capacidade e desempenho profissional pela aparência, pela forma de se vestir, falar ou se comportar. Disse ter percebido uma diferença de tratamento (olhares negativos) comparando a época que tinha o cabelo grande, cacheado e colorido para atualmente quando passou a usar ele mais curto, e que por isso as pessoas olham e se comportam de forma diferente.

Relatou também que em outros espaços de trabalho já escutou piadas e comentários preconceituosos dirigidos a si ou outras pessoas no lugar. Apesar disso, falou que depois da experiência de bullying na infância começou aprender a lidar com essas situações, que sempre tenta “cortar” esses comentários preconceituosos quando os escuta, e que já procurou a gerência também para relatar o ocorrido e disse que conseguia ter apoio desta. Ainda, em algumas situações ao escutar algum comentário desse sentido direcionado a outras pessoas, quando se sentia confortável e que tinha abertura tentava dialogar com o pessoal, porém também trouxe notar que às vezes essas conversas não surtiam efeito. Por outro lado, no local do trabalho atual falou não ter vivenciado nenhuma discriminação ou preconceito, mas que entende que isso é um provável resultado do espaço ser direcionado a pessoas LGBTQIAP+, tanto para quem trabalha no lugar, quanto ao público que atendem. Relatou também que as/os/es clientes são bem tranquilas(os/es), e que gosta quando tem alguém que pergunta quais os pronomes devem usar, e qual a melhor forma de se dirigir a Regina.

Isto posto, percebe-se que todes vivenciaram no espaço de trabalho situações de discriminação e preconceito, seja diretamente, ou de forma indireta quando dirigidas a outras pessoas que compartilhavam o mesmo ambiente de trabalho e fazem parte da comunidade LGBTQIAP+. Onde essas ações de violência se concretizaram no formato de: olhares negativos, piadas e comentários em tom irônico; e situações de transfobia e agressão física.

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As quais podem ser identificados como meios de perpetuação do preconceito que existe e se faz presente em diversos espaços laborais e de inter-relações humanas, que (re)produzem um sistema hostil e opressivo a vida das pessoas a quem se direcionada essas formas de discriminação e assédio, sendo postas em práticas pelos diferentes sujeitos que fazem parte das relações de trabalho (Alencar et al., 2018).

Estrutura esta que ao se formar aponta para as diversas barreiras que são construídas a fim de dificultar a inserção e permanência no mercado de trabalho, levando a falta de acesso a postos de trabalho decentes, e a uma instabilidade na garantia de qualidade de vida (Ferreira et al., 2022), como apontado pelas percepções de Frida, Paula e Regina que foram mencionadas acima. É interessante também notar as situações relatadas de ambientes de trabalho mais inclusivos a pessoas da comunidade LGBTQIAP+, seja por parte da organização da empresa, de outres trabalhadores, ou através da relação com clientes. Mesmo assim, destaca-se o quão raros esses contextos são, e como ainda não garantem a diminuição dos processos de exclusão que lhes são impostos a partir do momento que se candidatam a um processo seletivo (Júnior & Galvão, 2021).

Escolhas e possibilidades que direcionam a elaboração de projetos de vida

Este tópico volta-se à discussão das variadas formas que as pessoas participantes elaboram seus projetos de vida, como as questões relacionadas à formação profissional e inserção no mundo do trabalho se apresentam nos seus planos e quais as possibilidades e escolhas que têm acesso.

Dito isto, Frida relatou que seus objetivos de curto e médio prazo seriam conseguir estabilização financeira e de moradia (casa própria). Passando de médio para longo prazo, ela tem interesse em terminar o curso de formação, conseguir trabalhar e se manter como tatuadora, e ter filhas/filhos. Ao ser questionada sobre o que percebe ter agora que ajuda a alcançar isso, traz em foco a percepção de que através da conversa que tivemos, conseguiu esclarecer mais quais são os planos que tem e que possui força de vontade para ir atrás deles.

Quando perguntada sobre o que precisa para alcançar isso, disse que precisa desenvolver mais autonomia sobre a vida, que espera muito pela validação e reconhecimento das outras pessoas (especialmente da mãe biológica), mas que gostaria de ser mais independente nesse aspecto para conseguir alcançar seus objetivos. Um deles seria o reencontro, ou retomada de sua identidade que acabou se perdendo e ficando em segundo plano nesse tempo que está morando em João Pessoa.

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Outro ponto que trouxe também é que em conversa com a namorada, Frida está começando a cogitar uma formação em artes visuais, para contribuir na sua formação enquanto tatuadora, mas ainda está vendo se é o que de fato quer e se existe a possibilidade de seguir a ideia. Ao falar dos elementos da sua vivência que a fizeram elaborar tais objetivos, trouxe o foco à sua madrinha e ao apoio que ela sempre deu, apontando o interesse em se estabilizar financeiramente para poder dar algum tipo de retorno à madrinha.

Paula relatou que seus objetivos de curto prazo seriam conseguir fazer pesquisas e publicações durante o curso e se formar, e conseguir mais estabilidade emocional. De médio para longo prazo seria conseguir inserção no mercado de trabalho, estabilidade financeira, e conseguir conciliar a atuação em psicologia com algum outro empreendimento/hobby (falou do interesse por ser body piercing no futuro, se houver a possibilidade, e que já frequentou algumas palestras sobre, mas não fez curso com certificado de formação). Sobre o que tem agora que a ajuda a alcançar esses planos apontou fazer parte de um projeto de pesquisa, e estar em acompanhamento psicológico através de um serviço público. Em relação ao que precisa para realizar isto, trouxe o interesse por conseguir aproveitar a formação e posteriormente conseguir inserção no mercado de trabalho.

Quando questionada sobre elementos da sua vivência que a fizeram elaborar tais projetos, ela apontou que o interesse por uma formação profissional de curso superior sempre veio em sua maioria por parte dela mesma. Existia um certo apoio da família, porém não tão insistente. Que viu a necessidade de buscar uma formação quando começou a perceber como é difícil o ingresso no mercado de trabalho sem formação, mesmo sabendo que ela também não garante uma entrada certa, mas traz a possibilidade de aumento nas chances de inserção.

Além disso, falou que por um tempo antes de fazer o Enem ficava na dúvida entre Letras e Psicologia, até fazer a escolha pelo segundo. O que aconteceu em função do pai ser diagnosticado com esquizofrenia, e que do contato que teve com ele começou a surgir o interesse em estudar questões de saúde mental, então buscou ver uma a área que trabalhasse com isso. Quando questionada se já tinha conversado com alguém sobre o assunto e dessa forma como conversamos, disse que nunca tinha falado com ninguém nessa perspectiva, que achou interessante poder ver e esclarecer que ela não está tão perdida quanto acreditava que estava.

Regina apontou que seus objetivos de curto prazo seriam estabilidade financeira para se manter, fazer curso de inglês pelo interesse em aprender a língua, pensar na possibilidade de entrar em algum curso relacionado ou na área de design de moda, e o tratamento hormonal. Em relação a médio prazo seria ter o próprio negócio, e a longo prazo seria ter

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uma carreira de sucesso, e tornar-se conhecide pelo seu trabalho na área da moda. Sobre o que tem agora que auxilia a alcançar esses planos falou de força de vontade para buscar o que quer, e o emprego que tem no momento. Ao dizer sobre o que ainda precisa, falou do acesso à educação/formação, e experiência profissional na área que tem interesse.

Sobre elementos da vivência que levou à elaboração desses projetos, disse inicialmente que nunca foi incentivade pela família a buscar formação profissional, que a conversa sempre foi direcionada a terminar o Ensino Médio e partir direto para o mercado de trabalho. Falou que quando fez o Enem, ao terminar o ensino técnico, fez mais porque queria provar às pessoas ao seu redor que conseguia chegar ali, porém que hoje pensa em refazê-lo, levando em consideração seu interesse de buscar formação relacionado a design de moda.

Onde o interesse por essa área veio surgindo desde criança, quando começou a desenhar e se interessar em roupas. Quando perguntade se já tinha conversado com alguém sobre o que foi discutido acerca do assunto projeto de vida, relatou que sim, que na escola do ensino médio existia uma disciplina para se falar de projeto de vida, mas que era voltada no sentido de uma autoajuda, do que pensar sobre os planos para a vida como foi a conversa que tivemos, e que achou interessante e um pouco esclarecedor poder colocar e ver no papel alguns objetivos.

Isto posto, na discussão sobre projeto de vida é imprescindível a compreensão do contexto em que as/os/es participantes vivem, e como suas experiências nele guiam a elaboração de seus projetos (Pessoa et al., 2017). Dessa forma, precisa-se ter em mente toda a trajetória dessas pessoas, e que foi narrada ao longo deste trabalho, a fim de entender como os processos de opressão e violência perpassam suas histórias e atuam como barreiras na concretização de seus planos, bem como entender a influências das relações que desenvolvem com outras/outros/outres no desenvolvimento de seus interesses.

Assim, na fala de todes destaca-se a centralidade do trabalho nas suas vidas, seja pela via da formação profissional, seja pela procura de inserção no mercado de trabalho. Este último sendo uma questão chave ao se tratar da juventude trabalhadora brasileira, ao reconhecer o trabalho enquanto garantia de sustento para organização de sua vida, como visto nas falas de Frida e Regina ao trazerem a necessidade da geração de renda como um dos primeiros objetivos concretos de seus projetos, deixando a busca pela formação em segundo plano. Falar de projeto de vida da juventude é também falar de projeto profissional dentro das possibilidades e limites que existem em sua trajetória. Além disso, Regina e Frida trazem a

“força de vontade” como algo a impulsionar a realização de seus objetivos, contudo não se pode negar a exclusão e o cerceamento de direitos e opções que é invisibilizado por esse tipo de discurso disseminado pelo capitalismo (Dias, 2011).

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Garantir uma formação de qualidade para acesso a um trabalho decente é um dos pontos de luta para a comunidade LGBTQIAP+, e que também se evidencia nessas falas.

Entretanto, a associação da discriminação e preconceito enquanto barreiras que dificultam o acesso a qualificação se configuram num sistema excludente, propiciando a criação de contextos de vulnerabilização das pessoas que fazem parte desse grupo, impactando no desenvolvimento e expressão de suas identidades e subjetividades (Melo et al., 2020), e impondo limitações na elaboração de seus projetos de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em conta que este trabalho teve por objetivo compreender os modos como a juventude LGBTQIAP+ elabora seus projetos de vida, tendo em consideração como o acesso (ou não) a escolarização e formação de qualidade influenciam suas escolhas acerca de sua inserção no mercado de trabalho. As narrativas aqui apresentadas contribuem para a visualização de um quadro que retrata as violências impostas à juventude trabalhadora pertencente a esta comunidade. A qual se desenvolve dentro de uma cultura e sociedade capitalista fundada na exploração de suas vidas, e do cerceamento de seu direito de expressar-se em função de um sistema que oprime e restringe outros modos de existir, e se relacionar afetivo-sexualmente, que não estejam dentro dos moldes cisheteronormativos.

Diante disso, a juventude entrevistada trouxe uma trajetória de vida perpassada por variados processos de precarização e discriminação, desde o contexto familiar, passando pelo momento da escolarização e formação profissional - para quem acessou - até a entrada no mercado de trabalho, implicando em percalços na elaboração de seus projetos de vida. Viver numa sociedade exploradora, desigual, e LGBTQIAP+fóbica significa uma luta cotidiana para reafirmação pelo direito de existir e ocupar os mais diversos lugares. Dito isto, a partir desta pesquisa, percebe-se a necessidade de ferramentas que asseguram a qualidade de vida e saúde para essas pessoas, uma delas é a garantia de acesso à qualificação e postos de trabalho decentes.

Assim, é válido ser feita uma observação. Esta pesquisa contou com a participação de três pessoas, e isso ocorreu pela dificuldade de acesso a quem faz parte desse grupo, mesmo utilizando do espaço de uma política pública destinada ao atendimento desta população. Isso nos provoca a pensar como de fato os serviços ofertados são colocados em prática para que alcancem seu público-alvo. Nesse sentido, essas narrativas não foram contadas buscando generalizar a trajetória de vida da juventude LGBTQIAP+, visou-se sobretudo a construção de um espaço de acolhimento, onde essas histórias pudessem ser contadas sem julgamento.

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Desse modo, ficam como algumas indicações para estudos futuros: procurar conhecer a atuação da Coordenadoria de Promoção à Cidadania LGBT e Igualdade Racial; replicar essa pesquisa buscando atingir mais jovens; identificar se existem e como funcionam as políticas de formação voltadas ao atendimento desse público; e investigar sobre políticas que incentivem e promovam a sua entrada no mercado de trabalho formal. Por fim, desenvolver este estudo foi um desafio desde sua idealização até seu momento de conclusão. Conversar com essas pessoas e escutar suas trajetórias de vida não foi uma ação fácil, levando em consideração que em sua maioria elas se assemelham entre si pelas violências a que foram submetidas. Fazer pesquisa de modo crítico e implicado quer dizer ter em mente também de que forma ela me afeta enquanto ser humano, pesquisadora e profissional. Deste trabalho fico com a mensagem e o dever de desenvolver uma práxis em defesa da luta contra a LGBTQIAP+fobia, a favor da diversidade sexual e de gênero, anticapitalista e antirracista, e pelo acesso a formação de qualidade e trabalho decente.

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https://revista.unifcv.edu.br/index.php/empresarial/article/view/137/103

Ziliotto, D. M., Davies, S. M., & Itaqui, C. (2021). A diferença em outros contextos:

profissionais transexuais com ensino superior inseridos no mundo do trabalho. Cadernos

de Psicologia Social do Trabalho, 24(1), 1-15. DOI:

https://doi.org/10.11606/issn.1981-0490.v24i1p1-15

(31)

ANEXOS Anexo A - Termo de Anuência

(32)

Anexo B - Modelo do Termo de Consentimento Livre Esclarecido

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Esta é uma pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso em Psicologia, da Universidade Federal da Paraíba, desenvolvida pela discente Manuele Maria Gomes dos Santos (Matrícula: 20170161333), sob a orientação do(a) Prof(a) Manuella Castelo Branco Pessoa (SIAPE: 3089871).

O objetivo geral da pesquisa é compreender os modos como a juventude LGBTQI+

constrói seus projetos de vida. E os objetivos específicos são: caracterizar a juventude da comunidade LGBTQI+ entrevistada; identificar suas trajetórias no acesso à formação;

identificar suas trajetórias laborais; e analisar como essa juventude vem construindo seu projeto de vida. A finalidade deste trabalho é contribuir com o desenvolvimento científico da Psicologia do Trabalho aproximando-se de questões relacionadas à Juventude LGBTI+ e seus projetos de vida, utilizando desta como um espaço de escuta sobre as trajetórias de vida e trabalho elaboradas por esses sujeitos.

Solicitamos a sua colaboração para realização de uma entrevista, como também sua autorização para apresentar os resultados deste estudo em eventos da área de Psicologia e publicar em revista científica (se for o caso). Por ocasião da publicação dos resultados, seu nome será mantido em sigilo. Informamos que essa pesquisa não oferece riscos, previsíveis, para a sua saúde. Esclarecemos que sua participação no estudo é voluntária e, portanto, o(a) senhor(a) não é obrigado(a) a fornecer as informações e/ou colaborar com as atividades solicitadas pelo Pesquisador(a). Caso decida não participar do estudo, ou resolver a qualquer momento desistir do mesmo, não sofrerá nenhum dano, nem haverá modificação na assistência que vem recebendo na Instituição(se for o caso).

Os pesquisadores estarão a sua disposição para qualquer esclarecimento que considere necessário em qualquer etapa da pesquisa. Diante do exposto, declaro que fui devidamente esclarecido(a) e dou o meu consentimento para participar da pesquisa e para publicação dos resultados. Estou ciente que receberei uma cópia desse documento.

(33)

_______________________________________________

Assinatura do Participante da Pesquisa

OBSERVAÇÃO: (em caso de analfabeto - acrescentar)

Espaço para impressão dactiloscópica

____________________________________________

Assinatura da Testemunha

Contato do Pesquisador (a) Responsável:

Caso necessite de maiores informações sobre o presente estudo, favor entrar em contato com a pesquisadora: manun04gomes@gmail.com

Endereço:Campus I Lot. Cidade Universitaria, PB, 58051-900 Ou

Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba Campus I - Cidade Universitária - 1º Andar – CEP 58051-900 – João Pessoa/PB

(83) 3216-7791 – E-mail:comitedeetica@ccs.ufpb.br

Atenciosamente,

___________________________________________

Assinatura do Pesquisador Responsável

___________________________________________

Assinatura do Pesquisador Participante

Obs.: O sujeito da pesquisa ou seu representante e o pesquisador responsável deverão rubricar todas as folhas do TCLE pondo suas assinaturas na última página do referido Termo.

Referências

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