Cátia Teles
eMarques
Nos
bastidores
da
liturgia
tridentina
O
Mobiliário
Monumental
eas
Sacristias
emPortugal
doséculo
XVI
ao
XVIII
Dissertacâo
de
Mcstrado
emHistoria
da
Arte
apresentada
â
Faculdadc
de
Cicncias
Soeiais
cHumanas
da
Universidadc
Nova
dc
Lisboa
Cátia
Teles
eMarques
Nos bastidores da
liturgia
tridentina
O Mobiliário Monumental
eas
Sacristias
emPortugal
do
século XVI
aoXVIII
Vu.j»íl_flû3
Disserta^ão
de Mestrado
emHistôria
da Arte
apresentada
å Faculdade
de
Ciências
Sociais
eHumanas
da
l niversidade Nova
de
Lisboa
Ao
Ricardo
AGRADECIMLNTOS
Esta dissertacão
nãoteria
sido
possível
sem oapoio
e acontribuicâo de todos
aqueles
que,
de
alguma
forma,
meajudaram
aolongo
do pereurso. Gostaria
deapresentar
umprofundo agradecimento. particularmente:
A
Fundacão
para aCiência
eTecnologia. pela
bolsa
concedida,
que mepermitiu
desenvolver
ainvestigacão
atempo
inteiro.
Ao
Prof.
DoutorCarlos Moura
porteracedido oricntar
estadissertacâo.
pelo
interesse
eacompanhamento.
pelo
incentivo
econfianca
quc cmmim
depositou
epelas sugestôes
críticas.
Aos
Profs.
DoutoresRafael Moreira
eAntônio Camôes Gouveia
pelo
encorajamento
daproposta
detrabalho
epelas
sugestôes
einformacôes
bibliográficas.
A
Prof/1 Alexandra Curvelo.
aquempela primeira
vezapresentei
o tema, que oacolheu
comintercsse
eapoiou
o seudesenvolvimento
aprofundado.
A
Profa
DoutoraRaquel Flenriques
da Silva
pelo
entusiasmo
com querccebeu
aideia
epela
confianca
depositada
nesteprojecto.
Aos
técnicos
cfuncionários das bibliotecas onde decorreu
estainvestigaeão.
Ao
Patriarcado.
aospárocos
edemais
responsáveis
das
igrejas
que mepermitiram
oaccssoâs
dependencias
das diversas sacristias do
País. a quemedesloquei.
Ås
demais entidades detentoras dosimoveis,
particularmente
aoIPPAR-MJ.
aoHospital
de S. José e ã Santa Casa da
Misericôrdia
de Lisboa.pela
autorizacão
concedidapara
olevantamento
fotográfico:
e ao Dr.Antônio
Mcirado
Museu de S.Roque
pelo
amável
acompanhamento
davisita
aosespacos
de S.Roque
e de S.Pedro
de Alcântara.Ao
Frederico
Flenriques
e åJoana Gil Morão
pela
trocade ideias
esugestôes.
Aos meus
colegas
eamigos
de sempre AnaSofia
Morais. Maria AlexandraCampos
eHugo
Xavier,
cuja
inestimável amizade e interesse me serviramde
motivacão aoprosseguimento
do
trabalho.Aos meus Pais
pelo apoio
incondicional
que scmpre me deram aolongo
da minhaformacão,
partieularmente
nesta últimaetapa.
ABRLVLATL'RAS UTILIZADAS
ADB
-Arquivo
Distrital
deBraga.
AMAP
-Arquivo Municipal
Alfredo Pimenta
(Guimarães).
BXL -
Biblioteca
Nacional dc Lisboa.
DGEMN
-Direccão-Geral
dosEdifícios
e Monumentos
Nacionais.
IAN-TT -Instituto dos
Arquivos
Nacionais
-Torre
do Tombo.
MNAA-
Museu
Nacional de ArtcAntitza.
NOTA SOBRE AS IMAGFNS
Para
facilitar
oacompanhamento
daleitura
com asrespectivas
imagens.
reunidas
no volume IIINDICK
Volume
IlNTRODUCÃO
1
I.A Sacristi.a: origem e
evolucao
do espaco6
1.
Regulamentacao
eclesiástica:
formacão
einformacâo
dasacristia
8
-
Constituicoes Sinodais
9
-
Visitaeôes
1 12.
0
lugar
da
sacristia
naliturgia
tridentina
13
3.
Aconsolidacão
de
umatipologia
1 74. As
sacristias
emPortugal
deQuinhentos
aSetecentos: caracterizac-ão
21tipolôgica
- A
inauguracâo
de um espaco-o
período
manuelino
naarquitectura
21portuguesa
-
Sacristia Monumental
ouArquitectônica
2 1-
Sacristia Ornamental
ouCénica
30
II.0
MOBILIÁRIO
MONUMENTAL
DES.ACRISTIA
37
1.
0
mobiliário
litúrgico:
da
imposicâo
åconvencão
372. 0
annário:
origem
eevolucao
423. 0 arcaz:
origem
eevolucão
53-
0
arcazdeQuinhentos
56- 0 arcaz
de gavetoes
ecomposicão
arquitectônica
56-
0
arcaz-contadore oalcado
em talhadourada
66- 0 arcazrocaille
68
4. Processos e elementos
decorativos
do mobiliáriomonumental desaeristia
71- A
linguagem
clássica,
arquitectônica
egeométrica
e o ornamento 71 entalhado- Os
embutidos:
domarfim
ås madeirasexôticas;
dogeométrico
e do 75orgânico
- Ornamentos metálicos: do funcional e do decorativo 80
III.
Encomenda
eProducao
de Mobiliario 891.
Encomendante
89
2. Contratos
edefinicão das obras
91- Escrituras de
obrigacão
923.
Risco do
mobiliário97
- Desenhos dearcazes 97
-
Atribuicão do risco
994. A execucão
dos
moveis
e o estatutodo oftcial
10
1-
Os agentes
eoficiais inten enientes
naexecucâodo mobiliário
102
- A
organizacão
dos
ofícios da madeira
103-
Normas de
integridade
107f.Asmadeiras
109- Mencôes
documentais: madeiras usadas.
qualidade
etécnicas
de 109trabalho
- A
legislacâo
sobre
amadeira
1 1
-Disputas
entrecorporacôes
sobre madeiras
e materiais 1 14 6.Os
ofĩcios
do metal: latoeiros.
serralheiros
edouradores
1 157.
Custo
efinanciamento
do trabalho
118
EpÍLOGO
"iiFontes
126blbliografia seleccionad.a 130
Volume
IIAnexos
I. Tabelas
II.
DOCUMENTACÃO
I.NTR0DICÃ0
"Pelo mobiliário se aieanca um conhecimento mais exacto do meio social, cultural e econémico de quem o concebeu. o realizou e o utilizou. Por isso todo o contributo para a histôria dum
qualquer
mobiliário tem que ser entendido como umaachega
fundamental para um melhor conhecimentodaquelas
mesmas realidades".Jorge
Pamplona Forjaz,
InMobiliárioAi;ariano. 1981.Quando
pela primeira
vezvisitámos
asacristia
doColégio
de
S.t0
Antão-o-Novo.
actualmente acapela
doHospital
de S. José. e nosdeparámos
com osmagnítlcos
arcazes que amobilam,
desdelogo
nossuscitou
interesse
o tema. Lmuniverso.
åpartida.
digno
de
atencâo,
mas,surpreendentemente,
quase porexplorar.
É
certo que. åhistoriografia.
não tempassado
despercebida
aimportância
do estudo das
sacristias
cdo
scuespôlio
decorativo. manifestada
poralguns
in\estigadores.
nomeadamente Luís
deMoura
Sobral, Vítor Serrão
e RuiCarita.
que notaram ainexistência
de uma visâo deconjunto:
"seaqui
ealém
se encontramanálises
queincidem
sobre
um ou outroaspecto do
problcma,
dcsconheco
aexistência de estudos
globais
sobreo
tema;
tão-pouco,
creio,
se tratou deelaborar
umatipologia
dadecoraeão
dassacristias
barrocas
portuguesas'*1.
lndependentemente
doinestimáve! contributo
de Robert Chester Smith. com os seusconhecidos
ostrabalhos sobre
atalha. oscadeirais
e o núcleo demobiliário
produzido pelo
ensambladorAgostinho Marques.
Smithfoi. de facto,
oprimeiro
a analisaromobiliário
desacristia
de umaforma metôdiea.
aplicando
normasdeseriacâo
eestabelecendo
tipologias,
tirando conclusôes queainda
hoje
seconstituem
marcosincontomáveis.
Sô que, numa
perspectiva
realmenteglobalizante
e articulada no contexto da histôria daIgreja.
asrespostas
dadaspelos
poucosestudos existentes
não são.contudo. suficientcs
de lorma a tornar operantes osconceitos artísticos
aplicados
aomobiliário
monurnenta! e ao espacodas
sacristias. 0alargamento
dapesquisa
ao panorama europeu pareceu-nos. destaforma.
uma viapossível,
embora se tcnha acabado por rcvelur quuse infrutífera. A1 SOBRAL. L. M. "A sacristia
como
pinacoteca
daépoca
barroca". p. 81.-excepcão
dealgumas
obras
sobre o casoespanhol.
encontrámos
apenas. em pequenosartigos
deenciciopédias
eestudos
dahistôria
religiosa,
breves
abordagens
ao tema.Facto
que
se revelainesperado
sobretudo
aonível
depaíses
como aItália. recheados de
casosde
estudo de
capital
importância2.
Neste sentido.
agravava-se a nossasuspeita
inicial: sobre
omobiliário
litúrgico
eramainda
poucas asleituras
de caráctercientífico
querivalizassem
com outrasáreas da Histôria da
Arte. A estefacto
não seráalheia
a razaode
estarem menosacessíveis
aoconhecimento
dopúblico, particularmente
no que toca ao caso dassacristias.
Por outrolado.
outrosleíiados
artísticos. considerados
âpanida
dcmaior
pesohistôrico-artístico
- comosendo
a
pintura.
a escultura ou mesmo a talha e oazulejo
-ofuscaram
a atencâo sobre estas
matérias.
relegando-as
para umplano
secundário.A
primitiva oposicão
entre asdesignadas
"artesmaiores"
e "artes menores**. nãosendo
benéfíca
para oalargamento
deconceitos relativos
âproducão
artistica. foi
dealguma
tormaresponsável pela
amputayâo
da memôria
historiográfîea
das
artesdecorativas. Numa
perspectiva
formalista radical.
diziaGeorge
Kubler: "\Aprincipal
questâo
é queasobras
de arte não sãoutensílios. embora muitos utensílios
possampartilhar
com asobras de
arteas
qualidades
de umbelo
design.
Dizemos
que uma obra de ane c umaobra
de arteapenas
quando
ela
não tem um usoinstrumental
preponderante,
equando
os seusfundamentos
técnicos
eracionais
não saoproeminentes"\
Face
a estavisão.
omobiliário
-bem
como outras peyas de 'Tiso
instrumental" (ourivesaria.
joalharia. porcelana.
cerâmica...)
-. mesmo que
garantidamente prodtizido
comintencao artística. incutida
pordesejos
deluxo
e ostentacão.ficava excluído das
categorias
de obra de arte.Ora.
aconfiguracão
domobiliário
de sacristia comoobjecto
de estudono âmbito da
Histona
da Arte temmultíplice propriedade:
nåo sopelos
valores artísticos intrínsecos
epelas
valências decorativas.
comotambém
pela
suamonumentalidade,
que o trazintegrado
aos espacosarquitectonicos.
Estadissertacão
aspira,
portanto,
a umaIeitura
cronologicamentc
transversal(séculos
XVI-XVIII).
partindo
dolevantamento
possível
deespécimes (sobretudo
do territôriocontinental).
quedefina
e autonomize aidentidade
-Também noqucse refcreâ
Bélgica
e aFranva julgamos
queo estudo domobiliário de sacristiaseencontra em boa medida por fazer. A titulo deexemplo
retîram-se a obra DURET, A. D. - Mobiiier:objects
e vétementsiiturgiques
e oartigo
decatálogo
NIEUWDORP, H. M. J. - "Le mobilierliturgique
al'époque
baroque".
Ambos desconsideramo mobiliãrio de sacristia Jentre variadas referéncias sobreoutrastipoloaias.
''KUBLER. G. - A
formu
Jo tempo, I% 1 . p. 30.destas
tipologias
demobiliário.
enquadrando-as
norespectivo
contextoespacial
a quepertencem.
Ao
longo
dainvcstigacão
multidisciplinar
querealizámos. encetámos
percursos queforam
tomando
forma
apartir
de questoes sucessivas
que nos íamoscolocando.
Qual
aorigem
deste
mobiliário?
Qual
o seuenquadramento
noâmbito
dahistôria da
arteportuguesa?
Que
cotejo possível
entre aproducao
nacional
c aestrangeira?
Os
porquês
da
suaexistência.
osconceitos
aplicáveis,
astipologias,
aevolucão das formas do
prático
edo
funcional
asumptuosidade
e aoluxo,
asestruturas daencomenda
eda
producão...
E.
finalmente, qual
a suajustifica^ão
no contextoda
suamaterialidade
- oespa^o
reiigioso
e aliturgia.
Esta última
questâo
surge, nopresente trabalho.
como aprimeira
a quededicamos
a nossa atencâo.0
capítulo
inicial. dedicado
ao espaco dassacristias. foi.
na verdade. umadas
últimas
respostas qucprocurámos.
Nâo deixa de scrsignificativo
estefacto. dado
que. nofinal da
caminhada.
omaior
arcano era.pois.
o espaco queenqtiadrava
estemobiliário
eque
justificava
a suaexistência.
Arelacão
deinterdependência
entre aarquitectura
e omobiJiário monumental foi-se tomando. assim.
umaevidência
que nosparecia
necessário
elucidar
áluz do
contextosôcio-religioso
da
época.
Nestecapítulo,
asfontes
primárias,
deforo
religioso,
revelaram-se
instrumenlos basilares
para a tentativa deentendimento das
origens
ecapital
justificacão
teôrieo-prática
da
liturgia
dos espacos e das pecas demobiliário
aeles
associadas.Julgámos
scrpcrtinente
abordar
nãoapenas
asquestôes
litúrgicas.
queenformam
o espaco, como também agénese
e evolueãoformal
dassacristias,
seleccionando
exemplos
para acaracterizacao de
tipologias
arquitectônicas
edecorativas.
Se numa
primeira abordagem
nospropúnhamos
estudar apenas o arcaz. cedo notámos apertinência
dainclusão
do armário embutido e'ou do armáriode amictos.
quecomplementava
asfuncôes de arrecadaeao dos
objectos litúrgicos
e que constituía. porsi.
uma
tipologia
particular
nahistôria do mobiliárioportuguês.
0objecto
central dcsta teseé. nestesentido. constituído
pelos
arcazes e armários desacristia,
cujo
estudo fonrial
ocupará
ocapítulo
central do nossotrabalho. Pretendc-sc
esclarecer aorigem
efundamento
destastipologias
de mobiliário. expor aevolucâo
material dasíbrmas.
particularizar
eclassificar
modelos
estruturais
e decorativos edistinguir
os diversos elementos ornamentais. Atriagem
dosexemplares
teve. no entanto, de se balizar dc acordo com os recursos e otempo
quedispusemos
para tal. Para além do levantamento in situ. valeram-nos os-inventarios
artísticos
nacionais que nospermitiram
alargar
o núcleo deestudo
eamplificar
conclusôes.
Num
trajecto
que se foidefinindo
dogeral
para oparticular,
encerramos adissertacâo
com a análisedos
sistemas
de encomenda eproducão
do
mobiliário, focalizando
o nossointeresse
particularmente
noencomendante.
nosvários
agentes
de execucão. nos materiaise nos custos e
financiamento
das obras. Para esteefeito,
socorremo-nos dadocumentacão
contratual
compilada
em estudosespecíficos
ou emeoleccôes
como a deDomingos
PinhoBrandão. bem
comodos
regimentos
dos ofíciosmecânicos
reunidos porVirgílio
Correia.
Franz-Paul
Langhans
e AntônioCruz.
Embora parca. adocumenta^âo
existenîe é
suficientemente
rica em dados para aobservacåo
dediversos aspectos materiais.
relacionados
com aproducão
eencomenda.
masdeixa
incôgnita
aquestao
da
autoria do
risco. Por
estemotivo.
tornou-sedúbia
aaplicacão
do conceito de artista. entendido
comoresponsável pela
coneepcâo
das pecas, poroposicão
â deartífice
ouoficial
que asmaterializava.
E umadas questoes deixadas
em aberto. e que sô å luz de umestudo
maisaprofundado
sobre
a matéria sepodcrá distinguir
a quem sepoderá
atribuir o estatuto.0
caráctersoeio-econômico
daperspectiva
contida
nestaterceira
e última parte contrastadefmitivamcnte
com aleitura
litúrgica
doprimeiro capítulo.
No
nossoentender.
éjustamente
nestacomplementaridade metodolôgica
quepoderá
rcsidir
ariqueza
do
estudodas
artesdecorativas,
já
que sepresta de
umaforma mais
imediata aleituras
integradas
de
âmbitos
distintos.
mas que. noconjunto.
concorrem para um melhorentendimento
daHistôria.
Associando. desta forma.
os campos danormalizacao
litúrgica
e eclesiástica. com os daproducâo
artística.
nos seusaspectos
materiais
eformais, sociais
eeconomicos,
apresente
dissertacão revelou-se
umdesafio
que esperamos possa constituir um contributo para adevida valorizacão do mobiliário monumental de sacristia.
No entanto, nao esquecemos osincontáveis
riscos eproblemas
quc se colocam num trabalho desta natureza. Umacronologia
extensadetrês
séculos e oalargamento
do estudo a váriosexemplos
nacionais -que por si so nãogarantem
a coberturatotal
do territôrio(impensável
nestafase)
erestringem.
necessariamente,
ao essencialreferências
aosarquipélagos
e ås colônias - se por um ladorevelam
ariqueza
e diversidade do núclco deproducâo
nacional do mobiliáriolitúrgico,
poroutrodeterminam
operigo
associado ágeneralizacão
de conclusôes.-4-Temos
igualmente.
consciência
que. emface de
tão extensa evariegada
áreade estudo
(apesar
deinicialmente
insuspeita).
asquestôes
sãomúltiplas
e asconclusôes
inesgotáveis.
Os limites
impostos
numadissertacão
de mestrado.
pelo
tempo
para ainvestigacão
epelo
espaco para
odesenvolvimento das questoes. constituíram
um veroobstáculo
aodesejável
aproíîtndamento
dediversas
vertentes. mas o nossogosto
einteresse
pessoal
fez-nos
arriscar
opossível,
na esperanca dclevantar
questôes
pertincntes
que chamassem a atencâoI. A Sacristia:
Orige.m
eEvoli( ão doEspaco
Adenuis locante a los edificios
adjuntos
a iaiglesia,
tambicn está íaedijicaciôn
únicayparticuíar
de la sacristia: acerca de la cualentrctejemos
hrevemente unainstrucciônenêsíeiugar.
Carlo Borromeo, Instructiones Fahricae EcclesiasticaeetSupelleciiiis
Ecclesiasticue. 1511.0
mobiíiário
litúrgico
que nospropomos
tratarintegra
adecoracâo do espaco das
sacristias,
estandointimamente associado
âconcepcão
eevolucão destas.
numarelacão
qtieencontra a sua
justificacão
naliturgia
saída da Reforma
Catôlica
e.posteriormentc.
noespírito
de
obrade
artetotal que tloresceu
com oBarroco.
Como
parte
integrante
dasigrejas
cristãs.
assacristias
tornaram-se. aolongo
doperíodo
moderno. espacos
de
grande
aparato.
onde
apreparacão
e o encerramento dascerimônias
litúrgicas
encontravam aordem
e oesplendor
necessarios
å suaprosseeucão sagrada.
Lugares.
não poucas vezes emPortugal. magnifieentes.
assacristias alcancaram.
igualmentc.
funcôes de
representacão
social. para
alémde
custodiarem
o tesourodas
igrejas
e amemôria colectiva das
populacôes. registando
noslivros
a suaguarda
osbaptizados.
casamentoseôbitos.
0
espacoda sacristia. tal
comohoje
seconhece,
sô teveconfiguracâo
normativa
apartir
dofinal do século
XVI1.
quando
se tornou um espacofundamental
para oculto
e para aguarda
do
tesourode cada
templo.
Desconhecemos,
dolargo
período
medieval. sacristias
que tenham merecidoregisto
namemôria
dotempo.
pela
sobrevivência de
espôlios
que nospermitissem perceber
a suaconfiguracão
ou dedescricoes
conservadas nahistoriografia.
Talvez
porque a maioriadesses
espacos,quando
existentes.
fossem muito acanhados.
provavelmente
tratados como locais de arrumo'. sem aimportância
litúrgica
de que se viriam a revestir séeulos maistarde. Vluito
possiveimente.
a arrecadacão dos vasossagrados
eparamentos
sacerdotais. na maioria dasigrejas,
limitar-se-ia aalguma(s)
arca(s)
e/ou armário(artnarium)
colocados
'
SOBRAL. L. M. - "A sacristiacomo
pinacoteca
daépoca
barroca".p. 8 1. 2
A título de
exemplo.
retlram-seos casosda sacristiado Vlosteiro de Alcobaca, anterior amandada editlcar por D. Manuel, e as pequenasdependências
da Séde Lisboa. Em ambosos casos. ficavam localizadasjunto
aotranseptoesquerdo.
-6-nas \
izinhancas do altar
. apreparacao
dacelebracão
erafeita sobre
umacredência. do
1 ■*lado
daEpístola.
e os ministrosparamentavam-se
no altar .Todavia.
se recuarmos aosprimôrdios
das basílicas cristãs
(a
partir
do Edito de
Constantino de
313)
constatamos aexistência de
umespaco destinado
afuncoes
de
audiências
ede
recepcaodo clero.
porparte
dosbispos,
oude
preparacão
dos
actoslitúrgicos.
como aparamentacão
do celebrante
para acelebracão
damissa
'.
Lstes
secrctaria-designacâo,
comooutras0.
associadas
ao espaco -tinham
asua
localizacão
nonártex das
basílicas.
âsemelhanca
das romanas ,chegando
alguns
a terdimensôes
tâorespeitaveis
quepermitiram
arealizacâo
deSínodos,
eomo o de393
naBasílica
Pacis emHipona
e o de 418 naBasílica Fausti
emCartago.
contando
este último com duzentos e catorzebispos presentes!
Noséculo VI.
osecrctariumintegra
umdos
momcntosdaliturgia
da missa
papal,
sendo o espacoonde
o papa separamentava
com as vestestrazidas de
Latrão
antesde
seguir
emcortejo, pela
nave.para
o altarda celebracâo'
.S. Paulino de Nola
(*431).
numa cartadirigida
aSevero onde
descreve areedifieacão
daBasílica dc S. Félix
em Itália(401-403).
menciona dois
sccretariaadjacentes
âábsidc.
comfuncôes
distintas:
um servia apreparacâo
doofício
divino. e outro aguarda
dos livroslitúrgicos'
-Salmos,
Evangelhos. Epístolas
eMissal. S.
Paulino alude ainda
a um outroespaeo
ligado
ao secrctarium - osalutaiorium
\
onde
osfiéis
podiam
fazer ou\'ir
as suassúplicas
aobispo.
■'
RIGHETTI. M.- Historia de ía
Liturgia.
vol. 1,pp. 442-443.
""SACRISTIE",
inBOURASSÉ,
M.J. J- Dictionnaired'archéologie
sacrée. vol. II. col. 583-584. Apartir
de 1612. e até ao Concílio do Vaticano II. apenas estará reservado aos
bispos
o rcvestimento no centro doaltar.
5
ZOCCA. M. - "Sacristia(secretarium,sacrarium,
salutatorium)",col. 1601. 6
Na verdade, as
designacôes primitivas
de sacristia agem comosignos
indiciais daorigem.
variacoes edefinicão desse espaco emergente. Num
artigo
daEnciclopcdia
Italiana é elucidado o sentido das vârias denominacôesaplicadas
ao cspaeo da sacristia: secretarium. diaconicum. sacrarium, custodia. condiiorium.vestiarium. armarium, camera. bibliotheca
respeitam
á arrecadacão eguarda
dos ornamentos e tesouro daigreja
e os livroslitúrgicos.
Sacrarium, condiíorium.pastophonum,
recordam oantigo
uso deconservar na sacristiaa Santa Eucaristia. Secretarhtmpode
conotar-se,igualmente,
com o usoparareunioescapitulurc-
ouconciliaresque tinham. por vezes.
lugar
nasacristia. Obiationarium provem dasoterendas oueuiogias
queos fíéis fa/iam para a missa. Salutatorium re!cre-se aoantigo
costumepelo qual
os sacerdotes e os tléiscumprimentavam
0bispo. Apodyierium significa
camarim. COSTANTINI. C. - '•SACRISTIA(sagrcstia.
sacrestia)", col. 422-423.
Na basílica romana o secretarium localizava-se å
csquerda
do nártex. como nas baM'licas de S. Pcdiu e S.Joâo dc Lairâo. Mario Riszhetti refere um dcsies secreiaria romanos transformado cm basílica cristã: a BasílicadeS.,a Martina.
antigo
secretarium da cúriadoSenado. RIGHETTI-op. c::.. nota 160. p.442.
s
COELHO. P.eA. - Cursode
Liturgia
Romana. vol. II.pp. 72-73."
RIGHETTI
-op.
c/7.,p.442.
''"SACRISTIE". col. 583-584. O salutaiorium encontra
exemplos
em S.'a Maria in Cosmedin. Roma; S. GiovanniEvangelista,
Ravcna: SantosApôstolos. Constantinopla.
ZOCCASerá
esta aprimeira
referência
âlocalizacão
dasacristia
prôxima
do
altar. comoconviria
åliturgia
cristã. mais do
que no nártex. Atransferência
do
secreiariumpara
a áreada
abside
saeraliza
o espaeo econfere-lhe
agravidade
ritual
daabertura
e encerramentodas
celebracôes
litúrgicas.
I.
Regulamentacâo
eclesiástica:formaeão
e informacão dasacristia
Quando
sealeanca
oséculo
XVI,
asaeristia
é um espaco comalguma
tradicão
nahistôria
da
Igreja.
sugerindo
a suaregularizacão
aCarlo
Borromeo(1538-1584).
quelhe
dedicou
um
capítulo (XXVIII)
do
seutratado Insiructiones Fabricae Ecclesiaslicae
etSupeilectiíis
Eccíesiasticae
(
1577).
Borromeo exortaaos
leitores
anecessidade
de asigrejas,
quaisquer
quesejam.
disporem
de
umasacristia.
reforcando
estanecessidade
com atradieâo
daIgreja
-"que los
antiguos
alguna
vez llamancámara
eigualmente
secrctario.lugar
naturalmente donde
seocuhaba
el sacro
ajuar*"".
Asacristia deveria
serampla.
considerando
que as suasdimensôes
deveriam
serproporcionais
aotamanho
e estatutodo
templo (catedral.
colegiada
ouparoquial),
aonúmero de
ministros
e aovolume
do
tesouro;embora
não sereprovasse
autilizacão
deduas sacristias
emtemplos
mais
relevantes edistintos.
Nesteúltimo
caso. e deacordo
com adivisão de
funeoes
quejá
se constatava noséculo V.
umadas sacristias
serviria
comosala do
capítulo
eparamentacão
do
coro e asegunda
destinada
aoscapelâes
edemais
ministros e åguarda
das vestessacerdotais
e alfaiaslitúrgicas.
Bispo
de Milão
eacérrimo defensor
daReforma
Catôlica
(como o prova apromocão
da
terceira
etapa conciliar
junto
do
papaPio
IV)
*,
Carlo Borromeoredigiu
este tratado paraservir
dereferência
âregulacão
dasigrejas
do
seubispado,
tendosido, aparentemente.
oprimeiro
e o único aaplicar
ospreceitos
tridentinos
aocampo daarquitectura
J.
Embora eleito
protector
dePortugal,
édesconhecida
a extensâo da influência daobra
do11
B0RR0ME0. C. - Instrucciona de la
Jahhca
y del a/uar eclesiásticos. p. 77. Para uma leitura mais imediata deste tratado, usámos a truduyâo de Bulmaro
Reys
Coria,publicada pela
Universidade Nacional Autônomade Mcxico,quese baseíanacdicao dos traiadosdeartedirigida
por Paola Barocchi.i:
Para a
biografia
de Carlo Borromeo.vejam-se: GERLERO. E. I. E. - "Notapreliminar"
e CORI.A. B. R.-"La vida de Carlo BoiTOmeo". in BORROMLO - instrucciones....
pp. ÍX-XLI: GALBIATl, G. - "Carlo
Borromeo. santo". 853-861.
'"
BLUNT.A. - Artisiic
theory
initaly.
p. 127.
-8-bispo
milanês
naarquitectura
e artereligiosa
portuguesa.
0
seutratado,
emcirculacao
também noutros
países
europeus. entre osquais
aEspanha
"*.
certamente teráalcancado
Portugal.
na sua versãooriginal
de 1577. ou nasedicôes
posteriores
\
enquanto
integrada
nas actas do
concílio
regional
de
Vlilão
- ActaEcclcs'tae Medioiancnsis trihus
partihus
distincia.
Oitibus concilia
provinciaîia,
concionessynodales. synodi
diocesanea.
instructiones, littcrac
pastoraics.
edicta,regulac
conjratriarum.
formulae.
eialia
denicpte
continentur. quae
Corolus
S. R. E.Cardinalis
tit. S.Parxedis.
Archicpiscopus egil
(l.a
edtcão.
1582)16.
Aligacão
das instrutione.s a estaúltima obra terá facilitado
umadifusão
vasta dos
preceitos
reformistas
deBorromeo
.A
redac^ão
epublicacũo
das
Instructiones emlatim.
aliada âfbrma
como o textofoi
construído
-preceitos práticos, prescindindo
defundamentacão
histôrica esimbolica
-,corrobora
aideia de
que opúblico
destinatário
seria
oalto-clero. conhecedor
da tradieão edos
tratadosmedievais,
aoqual
oarquitecto
ouartista
se deveriasubordinar
naconcepcão
dos edifícios
.Constituicôes Sinodais
Foi esse.
igualmente,
o destino e a funcão daspredicativas
contidas
nasconstituicôes
sinodais portuguesas.
instrumentos porexcelência
daReforma
daIgreja
emPortugal.
Embora tendo por
base
os decretos tridentinos-publicados
no nossopaís
logo
apartir
de
1554.
poriniciativa do
Cardeal-Infante
D.Henrique
e doArcebispo
de
Braga.
Frei
14
Localizamosnas bibliotecas
espanholas
trêsexemplares
daedicão milaneza de 1582. quatroexemplares
daedicâo de 1599
(publicada
na mesmacidade), duas de 1683 saídasemLyon.
e cincorestantesimpressas já
noséculo XVIII. De enrrcestes, conhecem-se na Bibliotcca da Universidade
Complutense
de Madridosantigos
possuidores
de doisexemplares:
oColegio
Menor delRey
de Alcalá deHenarcs (edieão de 1582. Milão)e oColegio Mayor
deS.'° Ildefonso damesmacidade(1683,Lyon).
Elena de Gerlero considera queacirculacãoda obra de Borromeo nomundo
hispânico
terásidoproporcionada pelo
contextode domínioespanhol
aqueacidade de Milãoestava
subjugada
naaltura.GERLERO - "Notapreliminar".
p. XXII. !íExiste um
exemplar
da edicâo oriuinal de Instructiones Fabricae Ecctesiasticae eiSupellecíilis
Ecclesiasticae(1577. Milão)e umdasua reedieãode 174" (Milão)na BNL.cotas R.I731 P. e S.C. 4618 P..
respectivamente.
DasActa Ecciesiae Medioianensis... estãocatalogados
na mesmabiblioteea umexemplar
da
primeira
impressão
(Milão. 1583: cota R. 5428 A.)c o oulro de 1683(L>on:
2 vol.; cotas R. 2688-2689A.). Estes últimos apresentam ainda indicacão de posse, tendo o
primeiro penencido
â Cartuxa de ScalaCoeli, parte da rica biblioteca doada por D. ieoiônio de Brauanea (1530-1602*.
Arcebispo
de Evora: e osegundo
ao P.r Jo'.é CaetunoMcsquita
e ()uadius. canonihla.piesbitero
cvigario
daIgreja
do Salvador deLisboae
prior
dacolegiada
de S. Lourei.vodeLisboa emissionarioapostolico.
com adata de 1779. 16BAROCCHI. P. - "Noia
Filologica".
p. 403. ''' Em boaparte. os
prcceitos
de Carlo Borromeo Ibramintegrados
noCodigo
do Direito Canonico.BAROCCHl. P. - "NotaCritica",nota6. p. 388.
s
idem, ibidem,p. 386.
-9-Bartolomeu dos Mártires
-, estes, seexceptuarmos
asreferências
ásimagens
erelíquias
sagradas"".
sãoomissos
nasquestoes
daedificacão
edecoracão dos
templos.
Pelo
que sejustifícou
nasconstituicôes
sinodais.
tal como naobra
deCarlo
Borromeo. aintegracão
deinstrucôes
gerais.
mais ou menosprecisas.
que normalizassem não so oritual catôlico
recém-restaurado. como os seus
objectos
e os seusedifícios.
Não so nas sés eparôquias.
como
também
nosmosteiros
agregados
åsdioceses.
0
espírito
reformista
consagrou nasconstituicôes sinodais.
pos-Trento.
vontades eideias
que
vinham sendo
expressasdo
século
anterior,
pelo
que aidentidade
dasacristia
emerge.desde
cedo,
dos "tesouros"
das
igrejas
medievaisi
.Queremos
aqui
salientar
que.de
facto.
no que
respeita
åconcepcão
do espaco da sacristia. aReforma
catôlica não teráconstituído
o
impulso
criativo
directo,
mas sim o culminarde
umaorientacão
precedente. apoiando-se
em
agentes
deinfluência
maisperiféricos.
como aliturgia
celebrativa. o zelopelas
alfaias
eparamentos.
e aidentificacão
deusossagrados,
poroposicão
aosprofanos.
quenormalizam
a
utilizacão do
espaco emreferência.
Neste
sentido,
sãotemporâs
asdisposicôes
para asacristia. associadas
åreprovacão
da"negligccia
edescuido
se trata as vestimåas: ornamåos: eiiuros das
igrejas
que seruemao
cuíto diuino:
querendo
aelio
prouer'".
Em todas asdioceses. do início do século
XVIao XVIII. apenas as
Constitviqôes Synodaes
doBispado
deCoimbra
revelam. em 1591. apreocupacão
com ainexistência do
prôprio
espaco: "não auêdoSancristia.
semandará
fazer
logo"^
.Tal como
afirma
José Pedro Paiva. existe nestes instrumentosjurídico-pastorais
"uma tendência clara parasacralizar
cada vezmais
oslocais
eobjectos
de culto. estabelecendouma
ligacão
entre espacosecomportamentos
sagrados
eprofanos'"""
. tendência essaque seaplica igualmente
åsacristia.
para aqual
se vâo indicando.progressivamente.
elementos estruturantesda
suautiliza^ão
evivencia.
Aidentidade da sacristia
inicia-se.assim.
pela
guarda
dosparamentos
epela
preparacão
da Missa. destacando-se a necessidade de'
FERNANDES. M. L. C. - "Dareforma da
Igreja
â reforma dos cristãos". p. 25.20
Consultámos os decretos tridentinos a
partir
da edicão indicada nabibiiografia.
Lemagistêre
del'Eglise.
Les Conciles
Ecumániques,
TomoII.21
Importava.
aliás, esclarecer opapel
da sacristia ou "tesouro" naigreja
medieval. comecando atépelas
constituicôes diocesanas anterioresaoséculoXVI. Todavia. dada a
cronologia
que tivemos deimpor
ãnossapesquisa
nãonosfoipossível
recuar, nestafase.aoperíodo
medieval.~~
Constituicoens do
Arcebispado
deLixboa, 1537, tl. 69 v.. ""'Constitvigôes
Synodaes
doBispado
deCoimbra. 1591. fl. 110 v.. 24PAIVA,J. P.- "ConstituicôesDiocesanas". p. 14.
-10-silêncio
para apredisposicão
do
espírito
ede
ahlucâo
das
mâos para a preparacao daeucaristia.
Apôs
oConcílio
de
Trento surge apreocupaeão
com atábua das
obrigacôes.
ouseja,
com asmissas
quecada
igreja
estaria
obrigada
celebrar'.
sugcrindo
apreocupacão
com a
harmonizacão
docalendário
iitúrgico.
No fina!do
primeiro
quartel
do século XVII,
são
já
motivo
derelerência
o lavabo(e
nao apenas astoalhas
delinho
comoantes).
oestrado
e oespelho,
emreforco
do cuidado
com aparamentacão-'.
Acolocacão da
imagem
de um santo ou
de
umcrucifixo
éaparicâo
fugaz,
comlugar
apenas nasConstituicôes
doPorto de
1690. embora
representasse
umdos
preceitos
das
sacristias.
Visiia^ôes
As actas das
visitacôes.
complementadas
porprovimentos
ealvarás
deprovimento.
constituem
umafonte fundamental,
apartir
da
qual
secolhem
copiosos
elementos. para ahistôria material
eartística da
Igreja.
Fundamentadas
nosRegimentos,
Estatutos
eRegras
das Diocescs e das
Ordens.
elas processaminformacôes
preciosas
para ahistôria
ecronologia
dos edifícios
religiosos.
Tomando
comoexemplo possível
asvisitacôes da Ordem
deSantiago",
earriscando
ageneralizacão
dasconclusôes.
constatamos que apreocupacâo
eom aediticacão
ereparacâo
dassaeristias,
bem
coino com omobiliário
para aguarda
das vestes edos
livroslitúrgicos.
estájá
presente
nosfínais
deQuatrocentos.
Osvisitadores nomeados
para ainspeccão
dasigrejas
ecapelas
ditam. aoescrivão
que osacompanha.
adescricâo do estado
das sacristias.
anecessidade
de asconstruir
ou reparar para a boa cnecessária arrecadacao
dos
objectos
pertencentes
ao culto:"[...]
Samcrestia.
asparedes
Sdo d'aluaneria. tem dcconprido
21palmo<s>>
delargo
15 d'aho 16 hcmadeirada
dc castannotellada
dcualladio
de hũa So agoa e nella hũafresta
Sem emcerado nemuidraca
he bemiiadriilada
"
"Enasditasígreiasaueráhũatauout/ueestará
pendurada
naSancristia. ou em outrolugar
côueniL'tc emí/ue estê escritas de boa ietra as missas de
ohriga<;ão
que ha na ditaIgreja.
ou mosieiro. Ã- assyalgũs
anniuersarios. ou ccarregos. sc os a
hy
ouuc.r". Esta referênciasurgiu. pela primeira
vc/, nas ConstitvicocsSynodaes
do Bisnado doPorto, 1585. íl. 76v..-'''
A mencãoao lavatôrioe ao
espelho
suigenas Constitvic2>esSynudais
JoBispaJo
Ja(Joarda. 1686 [1621]; Constilvicocssynodais
doBispado
JePurtalegre,
1632: I'rimeiras Constituicôes SmoJaes doBispado
dElvas. 1635:Constit\'icoêsSynodaes
doArcebispado
de Lĩshoa. 1656: Constituicoenssynudues
doBispaJo
JeLamego,
1683. 0 estradomerecerefcrêncianaprimeira
e naultimaobras citadas.27Transcricôes
publicadas
em Ũocumentas para a Ilistoria Ja Ane em Portugal, vol. 7: As ComenJas JeMértolaeAlcacanaRuiva.
-lem
huns
almarios comhũa meSa.
Sohre
gueSe uestem."
.Estas
informaeôes
permitem-nos
concluir
que o espaco dasaeristia
se tomava. nodealbar
da Idade Moderna. uma
divisão
dostemplos
catôlicos
consagrada.
primeiramente.
pela
necessidade
prática.
Posteriormente.
com aconcretizacão efectiva
dos espacos edas
campanhas
decorativas deSeiscentos
e Setecentos, asacristia assumirá
outros contomosprogramáticos,
como se veráadiante.Tal como
observam Maria
de Fátima Barros.Joaquim
Boica e CelesteGabriel.
compiladores
dadocumentacão das Comendas de Mértoia
eAicacaria Ruiva.
"na suagrande
maioria. asdeterminacôes
porcumprir
diziamrespeito
a obras ou consertos emedifícios
que. devido aoselevados
cusîos que aearretavam. nem sempre eramlevados
ãprática
com adevida
prontidão.
ou. com menorfrequência.
aobjectos
môveis
de certovalor.
por vezes mandados executar aexperimentados
artesãos de terrasdistantes.
comoretábulos
oualfaias
religiosas*'"
.0
cuidado
com oslugares
eobjecîos
deculto
soassumiu.
naverdadc.
uma íorma acabadacom a
publicacão.
no séeulo XVII. deguias
manuais para
aboa realizaeâo
das \ísitaeoes.onde
asacristia
arroga umpapel
degrande
relevo.Multiplicando
os insirumentos deaplicacão
daReforma.
oespírito
tridentino
encontra nestescompêndios lugar
para apormenorizacão
dos
objectos.
visto
que nasconstituicôes
sinodais
a sua enumeracao extensacomprometeria
certamente aimportância
de outros assuntos maisprementes.
Ni^Título
XIX das ConstiivicôesSynodaes
doBispado
de
Coimbra
dc 1591.podemos
assim
ler: "E porque se nûo
podem
conuenientementedeciarar
as mais cousasmeudas
cyue nasIgrejas
para o cuito diuino são necessarias, &aqui
declaramos
sômente asprincipacs.
osnossos
Visitadores
farũo
prouer em tudo o ma'ts que ihesparecer que conucm. para que ostempios
do Senor
tenhão os ornamenios necessarios, & os Sacramentos c<officios
diuinos sefat;ão,
com o dechorodeuido""
" .
Entre os referidos
guias
conta-se o de Lueas deAndrade,
dado a estampa em 1673. cmLisboa,
naoficina de Joao daCosta.
intitulado l'isitageral
que dcve lazcr humPreiado
no28
Descricão da sacristia da
igreja
matrizdeMcrtoln. contida na sisita^âo
reali/^idaem 1554. transcritaeiComendas de Me/ioia.... p. 318. Sacristia
cuja
construviío fora determinada poi uma aiiierior visii (1482):"[...]
Jtem Mandamos ao dxcio ComerJudar ;quz ManJeJfazcv
hûua Sancnstia em hua par,Jictajgrreja '
em
lugar
que sseja onesio naqual
mandara poor huuns atmareus nccra sseIJstirc
creiigos Epéra
terem osliurosguaniaJos
'". inIdem. Ibidem., p.43."vAs
Comendas de Mértuia.... p. 15. '°
Constit\-!<,'ôes
Synodaes
doBispado
JeCoimhra. 1591. fl. 104v..12-seu
Bispudo. apontadas
as cousas porqucdeue
perguntar e o quedcuem
osparochos
preparar para avisita,
oqual
nospermite
afigurar
um pereursoimaginario
minuciosopelo
espa^o idealmente
concebido das sacristias.
A
prevencão
de umpároco
mandava que nasacristia tivesse
preparados
todos
osomamentos.
livros,
relíquias,
inventários dos bens môveis
eimoveis
edos
privilégios,
rôis vários(dos
benefícios,
das rendas. das confrarias
eirmandades.
capelas
emosteiros. ...).
tendo em conta que "Isto
titdo deuem
fazer
osParochos de
quaiqucr Igreja
queseja.
aindaque
seja
regular.
porque nisto hcsogeito
aoBispo"'
. Alistagem
deobjectos
mencionados
enforma
asacristia
como espaeo central naadministracâo
de umaigreja
e de umaparôquia.
tim
ealeidoscôpio
de
referências
queultrapassa
a merapreparaeâo
daliturgia.
que so por siencerraria
umadimensão de
grande
dignidade.
Mcsmo tendo em
consideracâo
o seu estatutonormativo.
com toda a suadimensão
exemplar
(não
signifícando
umaaplicacao
ipsis verbis).
aleitura
dos textosregulamentares
que temos
vindo
a citar(constituieoes
diocesanas. cerimoniais
emissais. manuais para
asvisitacôcs') reforca
aliteralidade
da ideia de uma arte "aoservico
daIgreju'.
uma arteobjectivando
areforma
ereforco do
espírito
catôlico.
aoqual
osartistas
e artítices seteriam
de submeter. Se
noscampos da
pintura
eda eseultura.
a"norma*
tendencialmente
coarcta a
liberdade
eliberalidade da
expressåo
artístiea,
no campoda
arquitectura
edas
artesdecorativas
apenassublinha
o seu carácterassumidamente funcional.
elegendo
tipologias
e percursos. Pelo que estes textos sedestinam
aformar
einformar
osresponsáveis
das
fábricas. ftxando
aspráticas
deencomenda artística.
2. O
lugar
da sacristia naliturgia
tridentina A tentativa deuniformizacão da
liturgia
nomundo catôlico.
elegendo
o rito romano comomodelo. difundiu-se com a
proliferaeao
do missalreformado
eautorizado
pelo
papa PioV'1",
sobretudo através dc traducôes para "romance"".simpliftcadas
eglosadas.
dotandocada
edicão
dasexplicacôcs
creforeos
âs determinacôes nccessarios para arealidade
de cadaprovíncia
oudiocese.:|
ANDRADE - Visita
gerai...,
p.37.
':
Bula
Quo primum
tempore de 14 de Julho de 1568. MARQUES. J. F. - "Apalavra
e o livro". p. 429. Aautoridade do missa! romano foi contlrmada por
Gregôrio
XIII e. em 1602. introdu/iram-sealgumas
rcformas sob opontitlcado
deClcmente VIII.-13-0 zelo
pastoral
conduzirá.posteriormente.
ârevelacao,
emtodo
o seuesplendor.
dominucioso
ecomplcxíssimo
cerimonial
litúrgico,
onde cada gesto
tem umaformula
e umsigniftcado.
Cabeaqui
oThezouro de Ccrimônias
redigido
porJoão
Campelo
de Macedo
(t 1666),
tesoureiro-mor
daCapela
Real aotempo de D. João IV.
epublicado
em1657"J.
Todavia,
ofacto
de nâo haverumaimposicåo.
mas sim umarecomendacão
e exortacâo aouso
do missal
romano,penriitiu
aprossecucão
derituais
tãoantigos
como oda diocese
Braga
-justificado
pela
tradicâo de séculos
- e do usoe costume das Ordensreligiosas
que
continua\am a
"organizar
entre nôs breviários elivros
litúrgicos
para os usos de cadauma*"j4.
Esta variedade demissais
ecerimoniais, associada
ås fontesjurídico-pastorais.
permite
umaabordagem comparativa
quepode
ilustrar
opapel
dassacristias
noperiodo
moderno. ainda
que. nesteestudo,
nâo se tenha apretensão
deesgotar
asfontes
e asconelusôes
possíveis.
0
missal
romano de Pio V instrui o ministro a preparar-se.convenientemente.
para acclebraeão
dosofíeios
nasacristia"
seguindo
passosdeterminados:
encaminha-se para asacristia,
toma omissal
eselecciona
amissa.
registando
oque há-de
dizer. lava as maos edispôe
asalfaias
da eucaristia(eálice
epátena)
e. então. se reveste sohre obufete
oti oarcaz. onde deveráteros
paramentos
preparados
de
antemão.}~
Publicada
pela
primeira
vez em 1657 na"officina deHenrique
Valente de Oliveira". teria as suasedivoes
subsequentes
em 1668 "na officina deDiogo
SoaresdeBulhoe[n]s
& å suacusta"; em 1671 "naofficina deAntonio Craesbeeck de Mello"; e em 1682 "na
impressão
de Antonio Craesbeeck de Melloimpressor
daCasa Real, & â sua
[clusta".
João Duarte dos Santos (t1697) acrescentou-a epublicou-a.
å sua custa, em1697"naoffieina de Antonio Pedrozo Galraô"
-exemplar
reeditadoemBraga
noscculoscguinte (1734)
pela
"Officina de Francisco Duarte da Matta". Foiestaúltimaedicão que consultámos para opresente trabalho.
Consideramos que não deixa de ser
significativa
apublicacão
de um cerimonialreligioso logo
apôs
a Restauracão, muitoprovavelmente
significando
a neccssidade de restauraraIgreja
emPortugal. fragilizada
pelos
anosdemonarquia
dual epelas
dificuldades dedialogo
com oPapado apôs
aindependencia.
U
MARQUES
- "Apalavra...".
p. 43 1. 3'"(...) vayase al
lugar aparejado
en la sacristia, o en otra parte donde estan los omamentos. y las demas cosas necessarias para celebrar (...)". Ceremomai de losOfftcios
Diuinos.... 1591. fi. 29 v.. Emboranãoseja
manifesta e evidente a
obrigatoriedade
decumprimcnto.
como refere Rui Carita ("A pompa e aparato dassacristias ultramarinas
portuguesas".
p. 115).
em nosso entender, nomissai romano, estásubentendido que asacristia é o
lugar
apropriado
para a paramentacão. A sugestão de outro local estará. porprincipio.
condicionada
pelas possibilidades
de cadatemplo:
nao existência de sacristia; falta de acomodamento damcsma
(dimensão,
porexcmplo)
para apreparacâo daliturgia;
eventual localizucãodos paramentos e altaiasnoutra divisâo
(coro.
corredor interno, ...). Aimportáncia
dada âpreparacão
das cerimônias e åparamentaeão.
sobretudodepois
de Trento. como se verá adiante.impede-uos
ile |iens.ir que estes actos sepoderiam
realizar num local arbitrário. nem sequer o altar seriaapropriado
já
que estava reservado aosbispos. segundo
Decretopublicado
em 1612. Em 1659, autilizacão da sacristia paraaparamentacão
torna-sc mesmoobrigatôria
por Decreto daSagrada
Congregacão
de Ritos. sob opontificado
de Alexandre VII. "equando
porlimitacao dolugar.
oufalta
de Sacristia ajão deosreceber doAítar, será da pane doEvãgelho.
cnãudomevo, comoJi.cm Cav. Mic'n. Cast. eClauJ2 MACEDO- Thezourodc Ceremunias....p. 126.
14-0
aeto daparamentacão
envolvia-se de
umagrande
saeralidade.
como se eonstitmsse. porsi.
oinvestimento
dos
poderes
divinos
noministro
quefosse celebrar:
"Depois
do
Sacerdoie
ter ocorpo ornado.
no exterior com as vcstcssagradas.
e muiío maisestando
vestido
no inierior com muitoshabitos de virtudes.
reprezentando
a pcssoado
Senhur
offerecido
naCruz
aoPadre Eterno por
nossasalvacão, que
istodis
LactancioFirmiano
signiftca
asahida do
Sacerdote para oAitar"M\
Nestesentido,
paracada paramento havia
uma oracão
específica
aproferir,
e. noftnal,
umespelho
quetraduziria
adesejável
dignidade
do
conjunto
ou osdefeitos
acorrigir
nacomposicao,
deforma
a evitarocaricato
perante
aassembleia
dos fíéis.
É
estesentido
profundo
queobrigava
a umanecessãria reverência
noespaco da sacristia.
preceituando-se
aobservância do silêneio
emqualquer
situacão.
embora
fosse mais
vincada
na presenca docelebrante
aquando
dapreparacão
da
liturgia.
Constituieoes
ecerimoniais'7
impôem.
desta
forma.
osilêncio
introspectivo
como norma -"E
comoc/ue/*
c/ue a sancristia
seja
deputada
pera ossacerdotes
c/uehã
deceiehrar
ealimpar
suas conscicncias.Mãdamos
que osclcrigos
e pcssoas quenella
esûuerc, assi na nossa Seecomo nas outras: eslem em siiencio e com
toda
ahonesiidade:
e namjalem
mays c/ueho
necessarco com voz honcsta e
baixa"
-. e, por vezes. osacristâo
c encarregueda
suavigilância.
penalizando
osinfractores
- "Ealem disto, mandamos
ao íesoureyroque nam
ihes dee
guisamento
poraquelie
dia"
.0
que sugere aterritorializaeao do
espacoda
sacristia.
encerrando as suasportas
aosleigos
- "£ nam consentira cntraraigum icygo
dentro
da dita sacristia. saiuoieuando
aigum
recado:
hoquai
dado
iogo
se sayraa. Ouhauendo
de
ministraraigũa
cousa que entampodera
neiia
esiaremquanto jor
necessario"- e a
interdicão de
actos deoutra natureza-"E
nãfaram
nella
juramctos
por nenhûa
cousaque
seja:
sob
penadecinquocta
reaespor cada vezque ocontrayrofezercm
"
.
Mas,
cabeaqui questionar:
até queponto
as sacristiaspermaneciam
espacos
exciusivamente dotados
aosagrado?
Juramentos. conversaeôesprofanas.
"praticas.
tratos,~'k
MACEDO - Thezourode
Ceremonias.... p. 134.
"'
Veja-se.
a título deexemplo.
o que nos dizojá
tardioCeremoniai Ecclesiastico do Frei Mathias de Santa Anna (p. 115). baseando-se nadetermina^ão
das constituicôes da sua Ordem: "Tamhcm cuidará muiio seguardar
silencionaSacristia.principalmente
notempo dasMissas. para quenao seperturhe
adevocaũdos Ceiehrantcs. e dos ouvintes; aJvertindo a<>sReligiosos,
que nesta materia se descuiJarem: e quand>-> seja necessario fallar. serci em voz baixa. e com hrevissimaspaiavras;
ou advertirá pur aceno: para o que imponamuitoscj'ao mesmoSacristaooprimeiro
naohservancia do siiencio. dandoa todos bomexempio
.38
Constitu'cães