• Nenhum resultado encontrado

REPOSITORIO INSTITUCIONAL DA UFOP: Os esforços familiares e as práticas educativas de famílias populares : o caso de Bocaina, Ouro Preto- MG.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "REPOSITORIO INSTITUCIONAL DA UFOP: Os esforços familiares e as práticas educativas de famílias populares : o caso de Bocaina, Ouro Preto- MG."

Copied!
109
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO MESTRADO EM EDUCAÇÃO

OS ESFORÇOS FAMILIARES E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DE FAMÍLIAS POPULARES:

O caso de Bocaina, Ouro Preto-MG

JULIANA DE MATOS XAVIER

(2)

JULIANA DE MATOS XAVIER

OS ESFORÇOS FAMILIARES E AS PRÁTICAS EDUCATIVAS DE FAMÍLIAS POPULARES:

O caso de Bocaina, Ouro Preto-MG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação – Mestrado da Universidade Federal de Ouro Preto como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Educação.

Linha de pesquisa: Desigualdades, diversidade, diferenças e práticas educativas inclusivas

Orientação: Profa. Dra. Rosa Maria da Exaltação Coutrim Coorientador: Joel Windle

(3)
(4)
(5)
(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos gestores da escola pesquisada, pelo apoio, disponibilidade e confiança. Aos familiares dos jovens moradores de Bocaina (Ouro Preto-MG), pela recepção, confiança e ensinamentos.

Aos alunos dos 1º anos, por serem verdadeiros e autênticos em seus relatos.

À minha querida orientadora, Profa. Dra. Rosa da Exaltação Coutrim, pelo carinho especial, amizade, paciência e dedicação.

Aos professores, em especial à Profa. Dra. Marlice de Oliveira e Nogueira, por estar

sempre disponível nos momentos de dúvidas e desesperos.

Às minhas irmãs orientandas, em especial à Lucinéia, sempre amiga, meiga e presente, sua delicadeza me tranquilizou por todo o tempo.

À revisora de redação, Elodia Honse Lebourg, pelo carinho e incentivo nos momentos em que quase desisti.

Ao meu esposo, por abrir mão de tantos momentos sociais para que eu não perdesse o foco de minha pesquisa. Pelas noites me ensinando a fazer gráficos e por sempre se sentar ao meu lado quando estou estudando, mesmo que seja para fazer outras coisas. Por ser paciente e sempre me esperar quando vou aos congressos.

À minha mãe, por estar presente por todo o tempo, por entender que, muitas vezes, me ausentei de seus braços para me focar nos estudos. Por saber que meus momentos de estresse são passageiros e por perdoá-los sempre.

Aos familiares, irmãos, cunhadas e sobrinhos, por entenderem a minha ausência.

Aos amigos, por alegrarem os meus dias e sempre me fazerem sentir bem, por me mostrarem um sorriso a cada encontro, pelo abraço de saudade e pelas palavras que sempre consolam, pelo “até logo” com a certeza de que sempre estaremos juntos.

Aos meus colegas de trabalho, pelas trocas de turnos, amizade e lealdade.

(7)

“Tenho a impressão de ter sido uma criança brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita que as outras, enquanto o imenso oceano da verdade continua misterioso diante de meus olhos”.

(8)

RESUMO

Esse estudo teve como proposta investigar como os pais moradores da Bocaina, uma pequena localidade da cidade de Ouro Preto-MG, desenvolvem suas práticas de apoio familiar aos filhos em situação de mudança de espaço escolar ao ingressarem em uma escola pública localizada em outro distrito. A pesquisa seguiu o aporte analítico da Sociologia da Educação com aproximação da Sociologia da Família. Dentre o referencial teórico, destacam-se os autores Lahire (1994;1997) e Thin (1998; 2006; 2010), e brasileiros, como Portes (1998), D’Ávila (1998), Viana (1998), Nogueiraet al. (2011), Nogueira e Nogueira (2007), Nogueira (1998; 2004). Trata-se de uma investigação de caráter qualitativo e quantitativo e para a coleta de dados, foram aplicados 134 questionários a todas as turmas do turno matutino, que no momento do trabalho de campo cursavam o 1º ano do Ensino Médio da escola selecionada. A partir da análise dos questionários foram escolhidas cinco famílias de estudantes que vivem em Bocaina e realizadas entrevistas semiestruturadas com os responsáveis por estes jovens, a fim de analisar através do perfil de configuração e histórias de vida, as práticas educativas desenvolvidas por elas. As categorias de análise foram estruturadas de acordo com os eixos temáticos: Estratégias familiares no processo de escolarização dos filhos, a importância da escola para a família e representação do local de moradia para as famílias. Os principais resultados demonstram que as famílias pesquisadas possuem baixo capital escolar e econômico e as profissões dos chefes familiares se caracterizaram por ocupações de pouco prestigio e remuneração. Também foi possível identificar que, embora tenham pouca escolaridade, existe um forte desejo e mobilização das famílias para que os jovens alcancem a longevidade escolar. Em todos os depoimentos observou-se que os jovens vivenciaram alguma ruptura familiar, seja através de casos de viuvez, separação ou reconstituição de famílias, ou ainda, casos de doenças graves. Foi constatado também, que os pais têm uma relação de afetividade com o local de moradia, embora reconheçam que a distância dos centros urbanos dificulta a socialização e o processo de escolarização dos jovens. Espera-se contribuir, com esse estudo, para a compreensão das práticas familiares que propiciam a longevidade escolar das camadas populares, de modo a ampliar os conhecimentos e a literatura sobre a temática dentro da perspectiva da Sociologia da Educação e da Sociologia da Família.

(9)

ABSTRACT

This study aimed to investigate howthose resident parents of a small town in the city of Ouro Preto develop as a manner of family support practice to their children in school changing situation as the children join a public school located in another district. The research followed the analytical contribution of Education Sociology approaching Family Sociology. Among the theoretical framework, we highlight the authors, Lahire (1994; 1997), Thin (1998; 2006; 2010), and Brazilians such as Portes (1998), D'Ávila (1998), Viana (1998), Nogueira et al . (2011), Nogueira and Nogueira (2007), Nogueira (1998, 2004). This study is a qualitative research, and for data collection were applied 134 questionnaires to all classes of the morning shift, which at the time of the field work, were enrolled in 1st year of the selected high school. From the analysis of the questionnaires, five families of students living in Bocaina were chosen, and semi-structured interviews were conducted with those responsible for the children in order to look through the profile configuration and life stories and school practices. The analysis categories were structured according to the themes: "family strategies in the children learning process ", "the importance of school for the family", and "the importance of the place of residence to the family". The main results show that the surveyed families have low educational and economic capital from their ascendants, and the occupations of the family heads were characterized as occupations of little prestige and remuneration. It was also possible to identify that although the school base is low, there is a strong desire and family mobilization so that the chindren reach school longevity. In all analyzed school stories, young people experienced some kind of family breakdown, either through cases of widowhood, separation or family reconstitution, and even cases of serious diseases. It has also been found that the change in school environment for these youngsters was a remarkable transition in their lives, because at this stage they initiated a new network of relationships in an unknown space, which required a redistribution of schedule and greater attention from their parents. This study's expectation is to contribute to the understanding of the family practices that promote school longevity of the popular layers of society, in order to expand the knowledge and literature on the subject within the perspective of Education Sociology and Family Sociology.

(10)

LISTA DE SIGLAS

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IVF: Índice de Vulnerabilidade das Famílias

(11)

LISTA DE GRÁFICOS

(12)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa político do município de Ouro Preto e seus distritos com as relações de distância entre os distritos e da sede ... 33

(13)

LISTA DE TABELA

(14)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1 FAMÍLIAS POPULARES E A ESCOLA ... 20

1.1 Breve histórico sobre a relação família-escola no campo da Educação... 20

1.2 Mudanças das configurações da relação família-escola ... 24

1.3 Entendendo a importância das práticas educativas familiares... 28

2 BOCAINA, QUE LUGAR É ESSE?... 32

2.1. Os distritos, a infraestrutura e a (não) presença do poder público ... 36

2.2 Percursos metodológicos ... 38

2.2.1 O perfil geral dos jovens que estudam no 1º ano em Cachoeira do Campo ... 43

2.2.2 O espaço em que vivem os sujeitos da pesquisa ... 48

2.2.3 O perfil dos 39 jovens que vivem em territórios afastados da escola ... 51

3 MORANDO NO INTERIOR: REFLEXÕES SOBRE A VIDA DOS JOVENS ESTUDANTES DE BOCAINA ... 60

3.1 A visão dos moradores de bocaina: quem somos nós?... 61

3.1.1 Entrevista da Família 1: Iraci, a avó da jovem Raiara... 62

3.1.2 Entrevista da Família 2: Rosana, mãe de Poliane, cunhada de Raiara ... 66

3.1.3 Entrevista da Família 3: Mariana, a irmã mais velha ... 69

3.1.4 Entrevista da Família 4: Ana, a mãe protetora de Raissa e Renato ... 70

3.1.5 Entrevista da Família 5: Geralda, o trauma de infância ... 72

4 ANÁLISE DOS DADOS: A mobilização familiar ... 75

4.1 Esforços familiares no processo de escolarização dos filhos ... 76

4.2 A importância da escola para as famílias de Bocaina ... 84

4.3 A representação do local de moradia para as famílias de Bocaina ... 90

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 93

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 97

(15)

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos 1980 e 1990, houve um grande processo de reorientação no campo da Sociologia da Educação, com a emergência de novas formas de abordagem na discussão das relações entre a família e a escola. Esse processo foi caracterizado por um deslocamento do olhar sociológico, que deixou de focar as macroestruturas, nas quais a classe social transformava a família numa mera cadeia de transmissão, para se voltar para novos enfoques nas pequenas unidades de análises, como as práticas pedagógicas cotidianas e esforços individuais familiares (NOGUEIRA, 1998).

Foi nesse período que a Sociologia da Educação se ocupou mais intensamente de pesquisas sobre a trajetória escolar de indivíduos e sobre os esforços realizados pelas famílias no decorrer da escolarização. Assim, a posição social dos pais e a performance escolar dos filhos deixaram de ser o objeto principal das pesquisas e deram lugar também para o desejo dos pesquisadores de conhecer os processos e as dinâmicas educativas intrafamiliares, com novos olhares e instrumentos de pesquisas, como a abordagem antropológica, que utiliza os estudos etnográficos, a observação participante, e os estudos históricos realizados através da historia de vida familiar e de biografias escolares (NOGUEIRA, 1998).

Tais mudanças aproximaram a Sociologia da Educação e a Sociologia da Família. Esse diálogo trouxe significativos avanços para o campo da Educação, através do surgimento de novas produções originadas do pensamento de Bourdieu, como as de Singly (1987; 1993; 1996), Montadon (1987), Lahire (1997; 2008), Portes (1997; 1998; 2006), Nogueira e Nogueira (2007), Cunha (2007), Setton (2005), Viana (2003) e Nogueira et al. (2011), que tratam das desigualdades escolares e contribuem para novas análises sobre a escola, a família e a comunidade.

(16)

relações entre pais e filhos intermediadas por outras instituições, como a escola, por exemplo, seja no meio rural, seja no meio urbano.

Para as famílias do meio rural, a escola é um dos principais instrumentos de preparação para a ida à cidade e ao trabalho urbano, e as suas articulações no mundo social acontecem também de acordo com os bens materiais e sociais familiares, que favorecem o acesso aos conteúdos e, consequentemente, aos outros capitais, como o capital social1 e o escolar (RANGEL; CARMO, 2013). Segundo Portes (2006), os pesquisadores devem compreender as famílias rurais para além de uma oposição às famílias urbanas, levando em consideração os movimentos de expansão, processos culturais, políticos e tecnológicos que vêm se instalando no Brasil. O autor também destaca que é preciso considerar, nessas famílias, as suas simbolizações, formas de vida e as possibilidades do contato com a televisão, parabólica, rádio, telefone celular e internet, tendo em vista que o meio em que as famílias vivem também pode interferir em suas dinâmicas. Hoje, as fronteiras entre o urbano e rural não são tão demarcadas, pois a melhoria da disposição dos recursos, como transporte, possibilita a circulação dos sujeitos entre o rural e o urbano, completa Portes (2006).

Esta pesquisa se propõe a conhecer melhor a prática de escolarização de famílias populares que vivem em uma localidade de Ouro Preto-MG, denominada Bocaina, no qual os estudantes, assim como os de outras localidades da região de Ouro Preto, são levados a se deslocar para um distrito maior, Cachoeira do Campo, para cursar o Ensino Médio. Assim, inspirados nos estudos de Bourdieu e dos outros autores mencionados anteriormente, procuramos investigar as relações sociais que são tecidas entre os diferentes campos que compõem o mundo social, em específico no interior das famílias moradoras do distrito selecionado.

Vale ressaltar que não se propõe, neste estudo, demonstrar as diferenças entre o meio rural do urbano. Embora a localidade de Bocaina tenha fortes traços rurais, a mesma possui elementos urbanos, como, por exemplo, acesso à informação. Em relação à sociabilidade, no entanto, muitos moradores saem pouco da localidade e constroem sua rede de relações basicamente no local onde moram.

Tendo em vista a complexidade que compõe a vida social, seja em áreas urbanas ou rurais, e as mudanças do contexto familiar e escolar ao longo dos anos, nossa pesquisa tem como principal objetivo investigar quais são os esforços familiares adotados pelas famílias de

(17)

Bocaina para manter seus filhos na escola, mesmo diante de tantas dificuldades, como a distância da escola e o acesso restrito a bens públicos, como unidades de saúde, escolas e bibliotecas. Por sua vez, com os objetivos específicos, espera-se conhecer qual a relevância da escola para os pais que precisam matricular seus filhos em outro distrito e, também, investigar o perfil das famílias pesquisadas e dos jovens que estudam no 1º ano do Ensino Médio na escola selecionada.

Com objetivo de responder à questão principal desta pesquisa, procuramos compreender quais esforços são realizados pelas famílias que vivem distantes da escola para manter seus filhos estudando até a conclusão do Ensino Médio.

Trata-se de um estudo original, pois discute o processo de escolarização de jovens em um espaço distinto das grandes cidades, que se concentra em um espaço rural com fortes ligações com o espaço urbano. Além disso, a pesquisa contribui para a Sociologia da Educação, ao auxiliar na compreensão da reprodução da desigualdade social, um fenômeno mundial, e das características da educação familiar e escolar de jovens de camadas populares moradores da Região dos Inconfidentes, em específico de Bocaina, bem como das dificuldades vivenciadas por essas famílias no processo de transição para o Ensino Médio.

Embora existam inúmeros estudos sobre a relação família e escola, estes ainda são raros na região de Ouro Preto-MG. Sabemos que as duas instituições, família e escola, estão sujeitas a conflitos de diferentes ordens, principalmente em bairros ou localidades afastadas do centro urbano, que são espaços marcados, muitas vezes, pelo isolamento espacial e tecnológico, pela pobreza, pela falta de saneamento básico e mobilidade urbana.

Minha relação com o objeto de pesquisa surgiu a partir da minha vivência no distrito de Cachoeira do Campo, quando atuei como enfermeira na Unidade de Pronto Atendimento e professora na escola selecionada para este estudo, em anos anteriores à pesquisa, pude observar que os moradores de distritos afastados que recorrem a estas unidades enfrentam constantes dificuldades para se manter, principalmente na escola. Tais obstáculos estão relacionados, com frequência, a problemas de acesso, mobilidade, horários limitados de ônibus, ausência de meios de comunicação, como internet e telefone, e pouco contato com outras realidades, a não ser com o próprio local de moradia e vizinhança.

(18)

geográfica da escola e ao local de moradia das famílias. Essa pesquisa inicial foi feita por meio de documentos da prefeitura sobre os distritos de Ouro Preto e o transporte escolar. Tal mapeamento possibilitou caracterizar o campo de pesquisa e nos permitiu apresentar os caminhos percorridos no processo de seleção, coleta e análise dos dados. Acreditamos que conhecer o campo da pesquisa e aproximar-se dessas famílias nos permitiria compreender as especificidades vividas por elas, bem como os seus modos de ser e estar no mundo.

A coleta de dados baseou-se em quatro momentos: a) pesquisa bibliográfica e documental; b) aplicação de questionários com os jovens; c) observação do espaço de moradia dos jovens; e d) coleta de dados através de entrevistas semi-estruturadas com os pais, conforme detalhado no Capítulo 2.

Primeiramente, como ferramenta metodológica para a compreensão do perfil dos jovens e suas famílias, foi elaborado um questionário composto por 23 questões semi-estruturadas e aplicado aos 134 alunos na faixa etária de 15-18 anos, matriculados no 1º ano do Ensino Médio em uma escola pública de Cachoeira do Campo, do turno da manhã e que estavam presentes em sala de aula durante a segunda semana de junho de 2015. Os alunos do turno da noite (apenas nove) não participaram da pesquisa devido aos compromissos da turma com a realização de provas.

Este questionário permitiu verificar que existem 39 jovens que vivem em distritos e localidades rurais mais afastadas, distantes, pelo menos, sete quilômetros, da escola e que utilizam o ônibus escolar ou vans para ir estudar. Esse parâmetro de distante foi estabelecido através da percepção dos jovens. Entre esses 39 jovens, foram selecionadas cinco famílias da localidade de Bocaina para um estudo mais aprofundado, por meio de entrevistas e de uma observação mais detalhada.

Para melhor apresentação da discussão sobre a realidade investigada, esta dissertação foi estruturada em quatro capítulos, além da introdução. Optou-se por fazer dessa forma, para que, primeiramente, seja possível situar o leitor em relação à localização geográfica em que se insere a escola e o local de moradia das famílias, para, posteriormente, discutirmos as representações que estas famílias têm do local de moradia e quais são as práticas empreendidas pelas mesmas no processo de escolarização de seus filhos.

(19)

O Capítulo 2 trata da descrição e apresentação do campo de pesquisa e dos caminhos metodológicos percorridos para a elaboração da dissertação. Procuramos, neste capítulo, descrever onde vivem os sujeitos da pesquisa, conhecer qual é o perfil dos jovens que estudam na escola selecionada, principalmente daqueles que vivem em localidades ou distritos afastados e, por fim, apresentar a infraestrutura disponível para essas famílias.

(20)

1 FAMÍLIAS POPULARES E A ESCOLA

Este capítulo tem como objetivo apresentar dados teóricos sobre os temas norteadores desta pesquisa, que são as práticas educativas familiares e as camadas populares durante o processo de escolarização de jovens do Ensino Médio.

Inicia-se, na primeira seção, com um breve histórico sobre a relação entre família e escola no campo da Educação, seguido da apresentação de teorias de alguns autores que contribuíram para o tema ao longo dos anos. Assim, abordamos a importância da educação escolar, familiar e das gerações transmitirem suas heranças, através da influência intergeracional no seio familiar, o que consideramos importante para o clima educativo e a transmissão de um capital escolar.

Na seção 1.2, apresentaremos as principais mudanças e evoluções ocorridas nas configurações familiares e os impactos nos desdobramentos do percurso social e escolar dos jovens estudantes, pois estas duas instituições, família e escola, são fundamentais para o processo de constituições de identidades.

Finalizaremos o capítulo com a seção 1.3, cujo objetivo é nos permitir compreender a importância das práticas educativas familiares, principalmente nas classes populares, que são o foco de nossa pesquisa, a fim de nos preparar para a análise dos próximos capítulos, nos quais apresentamos o perfil dos jovens pesquisados e de suas famílias e as principais práticas de escolarizações empreendidas por elas para garantir o sucesso escolar desses jovens.

1.1 Breve histórico sobre a relação família-escola no campo da Educação

A temática família-escola vem sendo discutida há, pelo menos, cinquenta anos, mas, nas últimas décadas, inúmeras pesquisas no campo das Ciências Sociais e da Educação vêm sendo produzidas, resultando em uma ampla literatura que, hoje, demonstra as correlações entre a origem social dos alunos com o sucesso e o fracasso escolar.

(21)

transmitir aos seus sucessores o que é considerado fundamental. Esta também é uma forma de garantir a preservação e a continuidade da sua herança (TOMIZAKI, 2010).

De acordo com Thin (2006), a forma de educação escolar foi elaborada a partir dos séculos XVI e XVII, na França, e, hoje, passou por muitas transformações. No século XVII, os valores, conhecimentos e práticas já eram passados no interior da família através dos membros mais velhos, de forma que se garantiria a sobrevivência e a perpetuação dos costumes no grupo. Ainda naquela época, surgiu a necessidade desse método de educação familiar se associar com a educação escolar (CAMPOS, 2010). A educação propriamente familiar assegura a transmissão de um patrimônio simbólico, ao mesmo tempo em que regula as relações entre os membros do grupo familiar (GHEORGHIU et al., 2008).

A transmissão intergeracional vem ocorrendo desde a pré-História, porém os primeiros estudos nas Ciências Humanas sobre o tema ocorreram nos séculos XIX e XX (TOMIZAKI, 2010). Nesta época, os filósofos e homens de religião cristã no Brasil e no mundo já falavam sobre a Educação e as práticas educativas intrafamiliares. A partir do século XX, inseriram-se, nesse campo, as discussões teóricas promovidas pelos psicólogos, antropólogos e sociólogos, que passaram a investir maciçamente nos estudos sobre a natureza da educação parental e, principalmente, sobre as interações entre a família e a escola, por entenderem que estas são fundamentais para compreender o processo de socialização de crianças e jovens de diferentes camadas sociais (MONTANDON, 2005; CAMPOS 2011).

Ainda no século XX, o sociólogo francês Pierre Bourdieu trouxe inúmeras contribuições para as pesquisas do campo da Educação. Através de sua análise de como os indivíduos incorporam a estrutura social, legitimam e a reproduzem, e os conceitos de campo,

habitus e capitais, Bourdieu possibilitou a compreensão de fenômenos sociológicos e o entendimento de alguns episódios do meio escolar e familiar vivenciado pelos jovens.

Para Bourdieu (1998b), o processo educacional possui múltiplas interfaces que necessitam da interação entre diferentes capitais, como o capital econômico (riqueza material e bens e serviços a que ele dá acesso), o capital social (permeia as relações sociais estabelecidas pela família), o capital cultural institucionalizado (formado por títulos escolares), e o capital cultural em seu estado incorporado (elemento da herança familiar), sendo este último o elemento central e de maior impacto para a definição do destino escolar.

(22)

Ainda sobre o capital cultural, Cunha (2007) afirma que os espaços sociais são entendidos como espaços de luta em caráter de dominação e relações de poder de classes, por isso, o conceito de capital cultural não pode ser dissociado dos efeitos da dominação. O capital cultural presente nas famílias de camadas médias altas e altas, então, se destaca como um importante instrumento de legitimação de alguns grupos sobre os outros.

Nos espaços sociais onde se inserem as instituições família e escola, encontramos pessoas com diferentes habitus. Esses habitus estão enraizados nas histórias coletivas e sociais de grupos ou nas classes a que os indivíduos pertencem. Sendo assim, isso nos remete à ideia de que todas as pessoas que vivem em um determinado grupo possuem disposições que permitem pensar, sentir e agir de forma semelhante (habitus semelhantes). Através do habitus, o indivíduo possui a capacidade de progredir socialmente, ou produzir disposições para a manutenção da posição social ou ainda ter a ascensão social, através da ação ou práticas semelhantes aos de seu grupo, que de acordo com Bourdieu (2006), acontece como um sistema de disposição para a ação, porém de forma inconsciente.

O capital escolar e o clima educativo no qual as crianças e os jovens estão expostos no domicílio, por meio da influência dos pais e demais familiares, oferecem maiores ou menores recursos educativos e podem potencializar o posicionamento desses jovens na estrutura de oportunidades educacionais (CORRÊA; RODRIGUES, 2010). Sendo assim, algumas famílias são mais ou menos favorecidas do que as outras, tanto no contexto escolar quanto no mercado de trabalho e, consequentemente, a oportunidade de aprendizagem de seus filhos é experimentada diferentemente em casa, na escola e na sociedade.

De acordo com Thin (1998), nas instituições socializadoras família e escola existe uma confrontação desigual entre os modos de socialização, ou seja, entre o modo escolar e dominante e o modo popular e dominado. O autor evidencia que, para se conhecer as relações entre as famílias populares e a escola, deve-se considerar as diferenças de capitais, associando-as às posições sociais. Muitassociando-as vezes, nassociando-as famíliassociando-as populares, percebemos que os pais possuem baixos recursos culturais e escolares que podem influenciar no processo de escolarização dos filhos.

(23)

Portes (1998), D’Ávila (1998), Viana (1998), Nogueira et al. (2011), Nogueira e Nogueira (2007), Nogueira (1998; 2004) e Piotto (2014).

No caso das famílias de camadas populares brasileiras, Portes (2000) enfatiza que as práticas educativas ocorrem em um tempo próprio, sendo que, frequentemente, esses trabalhos são estabelecidos pelas condições materiais das famílias (capital econômico) e pela constituição histórica dos membros (capital cultural), além de serem marcados pela falta de conhecimento do sistema escolar e pelo baixo capital escolar dos membros familiares. O autor também afirma que o trabalho escolar é um importante fator de interação entre família-escola, mesmo quando a autonomia dos jovens e o empenho individual possa negar o trabalho escolar da família. Nesse sentido, Portes (2011, p. 63) define o trabalho escolar dos pais como:

As ações desenvolvidas e organizadas pelas famílias no sentido de assegurar a entrada e permanência dos seus filhos na escola, podendo, então, variar de família para família de acordo com os capitais existentes no seu interior e as circunstâncias atuantes na rede de seus entrelaçamentos concretos.

Ou seja, é justamente nos enfrentamentos e questionamentos que surgem no cotidiano dessas famílias que o trabalho escolar dos pais se encontra presente.

Portes et al. (2012) constatou, através de vários estudos com diferentes perfis de famílias, que as práticas intrafamiliares estão relacionadas com um conjunto de circunstâncias atuantes, como: Condições socioeconômicas da família; níveis de escolarização dos membros das famílias; relações sociais entre os membros da família e da família com outras pessoas; e o modo como a família conduz o processo de escolarização dos filhos, sendo essas representações positivas para uma comunidade ou povoado.

Os espaços formais de educação, como a escola, são fronteiras estabelecidas que podem incluir ou excluir os jovens. Muitas vezes, eles são recebidos na escola como dotados de uma educação legítima, sem considerar a realidade vivida na região. Por isso, o território é um elemento importante na Sociologia da Educação e deve ser considerado ao estudar as famílias de um determinado espaço, pois possibilita conhecer, para além do lugar, as transformações e as dificuldades que nele acontecem.

(24)

jovens e, consequentemente, influenciar na longevidade escolar através da transmissão de capitais, como o cultural e o escolar (LAHIRE, 1997; BOURDIEU, 2006).

1.2 Mudanças das configurações da relação família-escola

No século XIX, surgiu a necessidade da implantação de um novo modelo educativo baseado nas especificidades da infância e no conhecimento científico. Posteriormente, em meados das décadas de 1920 e 1930, o movimento da chamada Pedagogia da Escola Nova entrou em cena para redefinir as práticas educativas das crianças. Este movimento foi apoiado pela Associação Brasileira de Educação (ABE), no Rio de Janeiro e defendia melhorias no campo da Educação (CAMPOS, 2010; SAVIANI, 2014). Nesse momento, surgiram muitos questionamentos familiares, pois os pais não compreendiam as novas mudanças impostas e os novos métodos de ensino.

Outros movimentos estiveram presentes no campo da Educação do país, como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932, e o Movimento Sanitarista, que propunha a melhoria nos hábitos higiênicos da população, uma vez que eram elevados os índices de mortalidade infantil, destacando, além deles, a oferta de um curso ministrado pela Seção de Cooperação da Família, que abordavam temas para conscientizar as mulheres das famílias sobre como criar crianças entre 0-14 anos. Esse curso foi chamado de Curso Mãezinhas (CAMPOS, 2010).

Mediante a massificação da educação pública e dos programas de combate ao analfabetismo nas décadas de 1960 e 1970, o tema do fracasso escolar tornou-se uma das preocupações centrais de educadores e do Estado (LORDÊLO et al., 2009).

(25)

Sabe-se, contudo, que a LDB de 1996 não foi a única medida dos anos 1990 voltada para o bem-estar das crianças e dos jovens. A Lei nº. 8.069/1990, conhecida como o Estatuto da Criança e do Adolescente, garante a proteção integral dessa porção da população brasileira. Mais uma vez, nesta lei, é reforçado o dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público de assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além do direito à matrícula e acesso à educação (BRASIL, 1990).

Assim, com o crescimento acelerado do processo de urbanização, da crescente necessidade de proteção e educação das gerações mais novas e da formação para o mercado de trabalho cada vez mais exigente, a legislação brasileira se volta para as reformas no sistema de proteção e de ensino, como a elaboração do Plano Nacional de Educação na tentativa de reestruturar a oferta educacional do Brasil (LORDÊLO et al.; 2009).

As transformações recentes ocorridas no mercado de trabalho e na sociedade como um todo influenciaram diretamente a organização familiar. O conceito de família e de composição familiar sofreram algumas mudanças em relação àquela considerada, até então, como padrão. Ao longo das últimas décadas, houve muitas mudanças no interior das famílias ocidentais, influenciadas pelo declínio do casamento, pela baixa fecundidade (centrada na família nuclear) e pela aceitação do divórcio (SINGLY, 2007). Tais mudanças causaram efeitos importantes para a sociedade, principalmente na família nuclear, através de um intenso controle de natalidade, da inserção da mulher no mercado de trabalho e da queda da mortalidade, o que aumentou a expectativa de vida dos membros familiares (CAMARANO, 2014).

Ainda segundo Camarano (2014), embora pareça que essas mudanças tenham ocasionado um enfraquecimento da família contemporânea, o que ocorreu foi o surgimento de novos modelos familiares que, hoje, são caracterizados pela mudança das relações entre sexo e gerações. As relações passaram a ser menos hierarquizadas entre casais, pais e filhos, as atividades sexuais deixaram de ser regidas pelo matrimonio e os sujeitos passaram a ter mais autonomia referente à esfera conjugal, dentre outras transformações.

O modelo familiar, já há algumas décadas, vive transformações graduais, mas extremamente profundas, dado que a inserção da mulher no mercado de trabalho e o aumento dos níveis de separação de casais contribuem para a emersão de um novo padrão de convivência e referência identitárias (SETTON, 2005, p. 5).

(26)

escolaridade da população brasileira; ao incremento da participação da mulher no mercado de trabalho; às mudanças nos arranjos familiares, especialmente na nupcialidade e nos contratos tradicionais de gênero; à redução no número de cuidadores familiares; à diminuição do tempo passado pelas mulheres na maternidade; à menor duração das uniões conjugais; à redução nos diferenciais por gênero na vida privada e social; ao incremento da qualidade na criação dos filhos; ao secularismo; ao aumento do individualismo e do consumismo; às mudanças no perfil epidemiológico; e ao aumento da preocupação com o meio ambiente e com a finitude dos recursos naturais.

Nesse período, a entrada da mulher no mercado de trabalho veio a reorganizar o cotidiano e as configurações familiares. Da mesma forma, o crescimento econômico acelerado redefiniu o mercado de trabalho, gerando a necessidade da formação de mão de obra qualificada e uma maior aproximação com o ambiente escolar (SAVIANI, 2014).

Assim, observa-se que, com a introdução de novos costumes e valores, a internacionalização dos direitos humanos, a globalização e o respeito ao ser humano, impôs-se o reconhecimento de novas modalidades de família ou arranjos familiares (MALUF, 2010). Nesses novos arranjos, percebe-se inúmeras variações de composição familiar, como as mulheres que vivem sozinhas, as viúvas, separadas, as famílias reconstituídas, monoparentais, uniões consensuais, uniões formais, a homofetividade, dentre outras, respeitando-se as intrínsecas diferenças que compõem os seres humanos (CAMARANO, 2014).

Complementando o pensamento de Camarano (2014), Maluf (2010) ressalta a importância das últimas décadas para o reconhecimento legal das novas organizações familiares. Segundo a autora, embora a constituição básica da família moderna tenha se baseado no modelo nuclear (marido, esposa, filhos), as transformações ocorridas em seu interior provocaram deslocamentos dos modelos que se julgavam fixos e contribuíram para efeitos no campo social da vida e no campo simbólico. Desta forma, através dos princípios constitucionais e da interferência legislativa, são reconhecidos os direitos familiares a todos os cidadãos, levando-se em consideração a rica diversidade nessas novas configurações.

(27)

Nesse sentido, Lahire (2008, p. 26) aponta para a importância das formas de autoridade impostas pelos pais (ou pessoas encarregadas da educação das crianças) no desenvolvimento escolar dos estudantes.

São importantes elementos da composição familiar a moral doméstica e as formas de autoridade impostas pelos pais, pois as crianças constituem os seus esquemas comportamentais através das formas que assumem relações de interdependência com as pessoas que convivem, além de ser na primeira infância a construção da sua personalidade através das configurações familiares e convívio social.

Sendo assim, acredita-se que através do simbólico da ordem material doméstica a família consegue organizar uma estrutura que facilita o processo cognitivo e, consequentemente, a trajetória de escolarização dos filhos. Com base nestas considerações, Setton (2005) afirma que a existência de uma figura de autoridade no ambiente familiar, seja materna ou paterna, pode proporcionar um aprendizado familiar através da legitimidade da autoridade, o que, futuramente, poderá se refletir em uma aceitação das autoridades escolares pela criança, que será capaz de decifrar os códigos aprendidos no ambiente familiar.

De acordo com Bourdieu (1998, p.48):

É o nível cultural global do grupo familiar que mantém a relação mais estreita com o êxito escolar da criança. Ainda que o êxito escolar pareça ligado igualmente ao nível cultural do pai ou da mãe, percebem-se, ainda, variações significativas no êxito da criança quando os pais são de nível desigual.

Nota-se, nas colocações de Lahire a importância da família no processo de escolarização dos jovens e de construção de sua personalidade durante a primeira infância, sobretudo por meio da regulação dos pais. Para o autor, a instituição familiar é responsável pelo sucesso escolar dos filhos e a interação com as diferentes redes sociais, como a proximidade com a escola, por exemplo, possibilita aos familiares compreenderem a importância da escola para a vida dos jovens.

Já nas colocações de Bourdieu, percebemos a valorização da escola como um dos meios de um sujeito se sobressair em relação aos níveis sociais. A escola é considerada, pelo autor, como uma das formas da criança obter o capital cultural.

(28)

do desdobramento do seu próprio percurso social, seja na escola, na família ou em qualquer campo de socialização e interações (ZAGO, 2003).

1.3 Entendendo a importância das práticas educativas familiares

Conforme mencionado anteriormente, a partir principalmente da segunda metade do século XX, as sociedades ocidentais passaram por constantes transformações em diferentes campos e setores, com o fenômeno da globalização, as oscilações da economia mundial, a aceleração nas criações tecnológicas, a diversificação da produção, dentre outras, o que levou a uma intensa luta pelo poder e por um espaço social consolidado. Assim sendo, quanto mais industrializado é o país, maior a exigência na formação de jovens para um mercado de trabalho extremamente seletivo. Nesse contexto, a escola tem ocupado posição cada vez mais importante na vida das gerações mais novas, porém nem todos conseguem ter um percurso escolar de sucesso.

A Sociologia da Educação vem discutindo os modos de constituição das desigualdades educacionais e o peso da vantagem cultural no destino acadêmico. Acredita-se que esforços familiares, como a ajuda nos deveres de casa, a organização do espaço doméstico e do tempo aliados à transmissão de capitais familiares e escolares em condições adequadas, podem influenciar os resultados escolares dos seus descendentes juntamente com um intenso trabalho de apropriação do herdeiro (NOGUEIRA et al.; 2011).

O capital cultural se configura, no ambiente escolar, como um elemento de herança familiar com grande potencial para a definição do destino escolar de alunos de diferentes camadas sociais, visto que possibilita a interação social e a decifração dos códigos impostos pela escola e sociedade contemporânea (CUNHA, 2007).

(29)

Nesse sentido, segundo Lahire (1997), as instituições família e escola se destacam como redes de interdependência estruturadas por formas de relações sociais específicas. De acordo com o autor, ainda na primeira infância, as crianças assumem seus esquemas comportamentais, cognitivos e de avaliação de acordo com as relações de interdependência estabelecidas com as pessoas que os cercam com mais frequência e, normalmente, essas pessoas são as do seio familiar. No entanto, a tendência dessas crianças não é de reproduzir os comportamentos e as formas de agir da família, mas, sim, através do convívio familiar, tornarem-se capazes de encontrar a sua própria modalidade de comportamento.

Sendo assim, para dar conta das desigualdades escolares de crianças de diferentes camadas sociais, é preciso reconhecer que as práticas de escolarização familiares são fundamentais para a compreensão do sucesso e da longevidade escolar. Lahire (1997) ressalta também que, para compreender os resultados e as relações escolares dos jovens, é preciso reconstruir as redes de interdependência familiares nas quais as crianças constituíram seus esquemas de julgamentos.

Para Lahire (2008), a moral doméstica e as formas de autoridade exercidas pelos pais são importantes elementos da composição familiar, pois as crianças constituem os seus esquemas comportamentais através das relações de interdependências que estabelecem com as pessoas em que convivem. Nesse contexto, segundo o autor, são importantes elementos da composição familiar, além da moral doméstica, as formas familiares adotadas na cultura escrita, as disposições econômicas e também as formas de esforço pedagógico no seio familiar, pois é na primeira infância que acontece a construção da sua personalidade, através das configurações familiares e do convívio social.

Com base nas constatações de Lahire (2008) e de outros autores que orientaram esta dissertação, percebe-se que a organização moral e material da família reflete-se na escolaridade das crianças e dos jovens, por serem fatores cognitivos indissociáveis. Neste sentido, Setton (2005) afirma que, através da existência de uma figura de autoridade no ambiente familiar, seja materna ou paterna, será proporcionado um aprendizado familiar por meio da legitimidade, que, futuramente, poderá se refletir na aceitação, pela criança, das autoridades escolares impostas, pois as mesmas já serão capazes de decifrar os códigos aprendidos no ambiente familiar.

(30)

condições sociais em que as famílias se inserem e as formas de relações que as mesmas estabelecem com a escola, pois tais relações não podem ser vistas de forma dissociada das condições socioculturais.

Apesar de existirem variações, como as financeiras, escolares e sociais entre as classes populares, médias e altas, é importante verificar a realidade social em que as mesmas se encontram e estabelecer estratégias para a continuidade do processo educacional de forma igual. Então, para que ocorra a transmissão de capitais familiares, deverá haver um processo de apropriação do herdeiro sem que haja interrupções (NOGUEIRA et al., 2011).

Percebe-se, então, que as práticas familiares de escolarização e a organização familiar podem levar aos casos de sucesso ou fracasso escolar. Alguns fatores, como a escolha do ambiente escolar, critérios de escolhas, relações extraescolares e interações culturais, podem influenciar muito no desenvolvimento escolar dos alunos.

Hoje, verifica-se o aumento da procura pela educação formal e elevação do nível escolar para responder aos processos de transformações do país e do mercado de trabalho (ZAGO, 2003). Contudo, no cenário educacional, a escola tem sido um dos maiores campos produtores de desigualdades, visto que os professores reproduzem conceitos “códigos” que não são entendidos por todos os alunos. Nesta mesma linha de pensamento, Setton (2005) aponta para os mecanismos perversos presentes na escola, responsáveis pelas desigualdades de estudantes de diferentes grupos sociais. Apoiando-se, principalmente, na discussão sobre o capital cultural, Setton (2005) elucida vários fatores que implicam diretamente no desempenho escolar, como o perfil da família, a formação cultural dos antepassados, o local de residência, a trajetória social familiar, dentre outros fatores extraescolares, econômicos e culturais associados.

Assim, em um país de grande desigualdade social e escolar, os filhos de famílias de camadas populares têm chances muito menores dos que os das camadas média e alta de ingressar na universidade e concluir os estudos. Contudo, isso não significa que não existam exceções. Viana (2003) assinala, a partir de seus estudos empíricos baseados em Lahire (2008), que os alunos de camadas sociais populares e médias também podem alcançar o sucesso escolar e chegar à universidade, mas isso dependerá de algumas condições particulares, como dos esforços familiares e de fatores cognitivos do aluno progressivamente construídos para isso.

(31)

(família) ou tardio na escola. Sendo assim, a aquisição de cultura por familiaridade é considerada como a cultura legítima e, devido a esta distinção provável, alunos que têm contato com tal cultura apenas na escola têm mais dificuldades em relação aos outros para decodificarem situações cotidianas (SETTON, 2005).

A desigual distribuição de capitais configura-se na luta pela dominação do poder entre os sujeitos de diferentes campos, seja na vida cotidiana, social ou escolar. Para compreender as lutas pela legitimação de diversas classes sociais em termos de práticas sociais e culturais, ao longo dos anos, inúmeras pesquisas, como as de Nogueira (2005), Coutrim (2007) e Coutrim et al. (2011), vêm sendo realizadas em relação às influências das gerações precedentes na vida dos jovens, tanto em suas escolhas no contexto social, quanto escolar e acadêmico.

Assim, cada indivíduo está caracterizado por uma bagagem socialmente herdada através de componentes externos a ele e que podem ser mediadores do sucesso escolar. A escola traz mecanismos de legitimação da cultura dominante, como é o caso da avaliação. A avaliação e o desempenho escolar vão muito além das questões de verificações de aprendizagem. Em outras palavras, ao avaliar o aluno, a escola também avalia sua família e a cultura trazida por ele, por meio dos valores morais, sociais e de convívio familiar.

(32)

2 BOCAINA, QUE LUGAR É ESSE?

Este capítulo possibilitará ao leitor conhecer a localização de Bocaina, local de moradia dos sujeitos desta pesquisa. Além da Bocaina, apresento os distritos vizinhos, a localização da escola em que esses jovens estudam, em Cachoeira do Campo, e a cidade de Ouro Preto, que é o município desses distritos.

O objetivo deste capítulo também é apresentar os percursos metodológicos utilizados para chegar aos principais sujeitos da pesquisa, traçando o perfil destes jovens e, assim, demonstrar a realidade em que vivem.

Este capítulo foi dividido em cinco partes. Iniciamos com uma breve apresentação dos distritos, a infraestrutura e a (não) presença do poder público, pois foi evidenciada a precariedade das condições de moradia e manutenção do acesso das vias e aos bens públicos. Em seguida, apresenta-se a metodologia de pesquisa, que visa englobar as três categorias de análises propostas: a) Esforços familiares no processo de escolarização dos filhos; b) A importância da escola para a família; e c) A representação do local de moradia. Estes primeiros dados, conforme mencionado na metodologia, foram coletados através de questionário aplicado aos jovens que estudam no Ensino Médio em Cachoeira do Campo. Em seguida, apresenta-se Bocaina, local de moradias das cinco famílias entrevistadas. Depois disso, será apresentada a realidade dos jovens que estudam no Ensino Médio, em Cachoeira do Campo, incluindo os jovens que moram neste distrito e aqueles vivem nos distritos vizinhos, e, por fim, o espaço em que vivem os sujeitos da pesquisa: os jovens que vivem em distritos ou localidades afastados de Cachoeira do Campo e o perfil destes 39 jovens que responderam os questionários. O perfil das famílias será apresentado no Capítulo 3.

Para situarmos a localidade de Bocaina, na qual se encontram as famílias pesquisadas, precisamos compreender as suas dimensões socioespaciais. Para isso, a partir de agora, apresentaremos brevemente a cidade de Ouro Preto, o distrito de Cachoeira do Campo (local da escola) e a localidade de Bocaina, que se situa no distrito de Rodrigo Silva.

A proposta é facilitar a compreensão do caráter histórico em que estão envolvidas essas famílias e, assim, possibilitar ao leitor conhecer melhor as proximidades e distanciamentos entre a sede, a escola e o local de moradia dos jovens.

(33)

Fonte: Portal de Turismo de Ouro Preto (2014)

Conforme demonstrado na Figura 1, Cachoeira do Campo faz fronteira com vários distritos. A região em que as famílias estudadas moram subdivide-se em Bocaina de Cima e Bocaina de Baixo, uma pequena localidade com fortes traços rurais. Como mencionado anteriormente, a localidade pertence ao distrito de Rodrigo Silva, que também sofre com a distância do centro urbano, pois, embora a distância em quilômetros não seja muito grande, a população não possui horários regulares de ônibus durante todo o dia. Cachoeira do Campo, devido ao crescimento econômico e populacional, se sobressai em relação aos demais distritos e conta com facilidades para o acesso às escolas e maior oferta de transporte, meios de comunicação, biblioteca e meios de sociabilidade mais facilitado.

O caso da maioria dos distritos de Ouro Preto não é único. No Estado de Minas Gerais existem muitas cidades que apresentam elevados índices de desproteções e privações sociais, principalmente quando se trata do Índice de Vulnerabilidade das Famílias, IVF (MINAS GERAIS, 2013).

A partir da análise do Censo 2000-2010, o Índice de Vulnerabilidade das Famílias revelou que, embora tenha havido uma redução média de 19,3% da vulnerabilidade no Brasil, e em Minas Gerais, de 21,5%, os piores desempenhos do Estado foram em relação ao acesso ao

entre os distritos e da sede

(34)

conhecimento (educação), com índices de (-11,7%), e em relação à vulnerabilidade (-10,7%); em seguida, as condições habitacionais (-17%) e o desenvolvimento infanto-juvenil (-18,9%). Os seis índices analisados foram condições habitacionais, desenvolvimento infanto-juvenil, escassez de recursos, acesso ao trabalho, acesso ao conhecimento e vulnerabilidade social (MINAS GERAIS, 2013).

Ouro Preto se caracteriza por ser uma cidade de origem colonial de grande relevância para a memória nacional. Alguns de seus distritos, mesmo considerados urbanos, possuem uma ruralidade enraizada, e as pequenas localidades são consideradas como rurais, mesmo nem sempre tendo características fortes para isso. Nesses locais existe uma variada carga cultural e tradições. Em alguns distritos, tais características são menos evidentes, mas podem ser percebidas através das relações sociais da população, da gastronomia e nas festividades, no estilo de trabalho adotado e nas relações familiares com os jovens.

Atualmente, o município de Ouro Preto possui doze distritos com características bastante heterogêneas entre si e se percebe a presença do urbano e do rural. Destacam-se, com origens coloniais, os distritos de Cachoeira do Campo, São Bartolomeu, Glaura (Casa Branca), Amarantina, Antônio Pereira e Lavras Novas2.

Além desses distritos e subsdistritos, Ouro Preto possui pequenas localidades como Maciel, Arrozal, Soares, Serra do Siqueira e Bocaina, que se fizeram importantes nesta pesquisa, pois são as localidades de moradia de muitos estudantes sujeitos da pesquisa.

Segundo a Lei Complementar da Prefeitura Municipal de Ouro Preto, Lei nº. 93, de 20 de janeiro de 2011, as áreas externas aos perímetros urbanos e de expansão urbana são consideradas áreas rurais não sendo admitido o uso e a ocupação para fins urbanos. O município se caracteriza por estar em uma região montanhosa, com a presença de ocupações irregulares. Nos distritos, encontramos um perfil diferenciado de limitações geográficas, como rios, córregos, uma extensa mata e estradas sem pavimentação.

Conforme mencionado anteriormente, os sujeitos desta pesquisa são provenientes da localidade de Bocaina e, para estudar no distrito de Cachoeira do Campo, utilizam o transporte público oferecido pela prefeitura. Sendo assim, para conhecermos melhor a distribuição geográfica e populacional de Ouro Preto, foi elaborada a tabela a seguir.

(35)

Tabela 1 –Relação da população do município de Ouro Preto e distritos/ localidades envolvidos na pesquisa com famílias de Bocaina

População da cidade de Ouro Preto e dos distritos/localidades envolvidos na pesquisa (Censo IBGE/2010)

Município População

Ouro Preto Município 40.583

Distritos Localidade População

Amarantina Coelhos 3.545

Cachoeira do Campo (sede da escola)

--- 8.857

Engenheiro Correia 380

Glaura Soares 1373

Miguel Burnier 779

Rodrigo Silva Bocaina de cima e Bocaina de baixo (local de moradia das famílias investigadas)

1070

Santo Antônio do Leite Chapada 1.683

São Bartolomeu Maciel 729

Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do Censo IBGE (2010)

As localidades da Chapada, da Bocaina e Serra do Siqueira estão afastadas do centro urbano e seus moradores sofrem com o isolamento espacial, tecnológico, de comunicação, de transporte e de acesso aos equipamentos urbanos e públicos. São espaços que, muitas vezes, não possuem serviços de assistência à saúde, segurança e acesso a serviços de mobilidade urbana, o que pode acarretar dificuldades aos moradores para assegurarem seus direitos básicos.

A localização dos distritos distantes da sede tende a desafiar o dia a dia dos jovens e chama a atenção para a conexão que existe entre as pessoas e os lugares (ROBERTSON, 2013). A moradia em distritos mais afastados e a distância social dos jovens podem desempenhar um papel de reprodução de desigualdade, pois alunos com baixo capital cultural, econômico e social, ao conviverem com os demais alunos, podem sentir constrangimento ou um sentimento de orgulho por morar em uma área rural privilegiada (NOGUEIRA; NOGUEIRA, 2007).

(36)

campo da Educação. Esse índice coloca a cidade em 316º lugar em uma escala de 1 a 853 no mapa de pobreza e das desigualdades brasileiras, embora a cidade possua um patrimônio cultural riquíssimo (IBGE, 2003). Em relação ao padrão de Gini3, cálculo utilizado para medir a desigualdade, esse dado representa, em média, que cerca de 20.052,2 moradores se enquadram em situação de pobreza em Ouro Preto.

Em relação aos riscos e ocupação do solo, a população do município vive em situação de vulnerabilidade quando se trata das condições de moradia, exposição a inundações, escorregamentos e à ação de esgotos a céu aberto em algumas áreas, devido à ocupação desordenada e indevida em encostas (ZANIRATO, 2010).

Em 2015, a Escola, localizada em Cachoeira do Campo, tinha 875 alunos matriculados durante os turnos da manhã, tarde e noite. Desses, 209 estavam matriculados no 1º ano do Ensino Médio. No entanto, apenas alunos do 1º ano do Ensino Médio utilizam o transporte escolar, o que equivale a 33,14% dos alunos matriculados neste ano.

2.1. Os distritos, a infraestrutura e a (não) presença do poder público

Na realidade brasileira, observa-se a formação de extensas periferias urbanas, o que, até trinta anos atrás, era considerado um fenômeno restrito apenas às grandes cidades. A população da região sudeste de Minas Gerais tende a se concentrar nas aglomerações urbanas e, muitas vezes, em áreas rurais próximas às áreas urbanas (SILVA, 2011).

O rural e o urbano estão cada vez mais próximos, embora observemos que as condições de moradia nas áreas rurais continuem precárias devido à dificuldades estruturais, econômicas e sociais (GUARANÁ, 1999). Na região de Ouro Preto, onde foi realizada esta pesquisa, mais especificamente na localidade de Bocaina, nos deparamos com o desejo dos familiares em que seus filhos estudem, embora os esforços não tenham sido muito visíveis.

De acordo com Guaraná (1999), ao pensarmos nas distâncias entre o rural e o urbano, no que tange à educação, o contexto e a localização onde o espaço rural esta inserido deve ser levado em consideração, pois uma das principais limitações e tensões encontradas pelas famílias que vivem em áreas rurais é a inexistência de escolas que ofereçam para além do

(37)

ensino fundamental. Observamos também, que a integração estabelecida com o município é muito importante para essas famílias, tendo em vista que nos dias de hoje a população é muito dependente da infra estrutura urbana, quando se trata de troca comercial e de lazer.

Hoje, em cidades pequenas e médias, como Ouro Preto, já se evidencia um processo de periferização, presente em todo o território nacional. Denota-se, em seus distritos, a precariedade, a ausência do Estado e de políticas públicas que auxiliem no desenvolvimento da infraestrutura, de equipamentos e serviços, como saneamento básico, habitação, mobilidade, saúde e educação.

A qualidade de vida, seja no campo ou na cidade, está intimamente ligada às políticas públicas voltadas para o bem-estar social, ou seja, o levantamento de necessidades básicas da população que habita a localidade em questão e o estabelecimento de prioridades de infraestrutura, equipamentos e serviços a serem instalados, dentre outros (SILVA, 2011).

A cidade e o processo de urbanização são elementos essenciais na reestruturação e reterritoriarização do espaço, além de se classificarem como elementos centrais nas políticas de desenvolvimento regional, pois é na cidade em que se concentram o comércio, os hospitais, as escolas e os equipamentos de lazer. Os moradores de distritos e regiões afastadas do centro urbano sofrem com o peso do isolamento espacial, tecnológico, de transporte e de acesso à escola (SILVA, 2011).

Esse isolamento dos meios de comunicação e a dificuldade de acessibilidade aos recursos tecnológicos, muitas vezes, acarretam uma desigualdade de oportunidades e a seleção de posições sociais. Segundo Bartholo e Costa (2014), a pobreza se caracteriza como importante tema no campo da Educação e da justiça social e, para superar as desvantagens educacionais de segregação escolar, é necessário reduzir a distância entre os estudantes em condições de pobreza e o restante da população.

Muitas vezes, o retraimento das oportunidades de inclusão social se manifesta sobre os alunos que se encontram em maiores desvantagens, no entanto, é importante levar em consideração o condicionante no plano das oportunidades educacionais, as características e as experiências vividas por cada um e o estilo de vida familiar (COSTA; KOSLISNSKI, 2006).

(38)

materializado por redes (integrantes de comunidades, rede de moradores), escalas, territórios sobrepostos e relações espaço-tempo (ROBERTSON, 2013).

É nesse “lugar”, do qual fala Robertson (2013), em que as famílias estudadas se situam e do qual se apropriam. Constroem suas moradias e tecem suas relações de vizinhança e de trabalho. Esse espaço faz parte da história de cada uma delas, pois várias gerações criaram e criam seus filhos, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelos problemas de deslocamento para o centro urbano mais próximo.

2.2 Percursos metodológicos

A escola estadual de Cachoeira do Campo4, selecionada para a pesquisa, está localizada

em região urbana, no centro do distrito de Cachoeira do Campo, um distrito da cidade de Ouro Preto-MG, cujo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), no ano de 2013, foi de 5,1. Esta escola se caracteriza por receber alunos de vários pequenos distritos e localidades do município, prevalecendo, em alguns deles, características rurais5.

Esta escola recebe, diariamente, jovens moradores dos distritos de Engenheiro Correia, Glaura, Rodrigo Silva, Santo Antônio do Leite, São Bartolomeu, do subdistrito de Serra do Siqueira, e das localidades de Arrozal e Bocaina.

A seleção desses jovens para responder os questionários foi realizada através da análise do cadastro de alunos que utilizam o transporte escolar, disponível no Sistema Mineiro de Administração Escolar (SIMADE) e do número de alunos matriculados no 1º ano do Ensino Médio. Esta busca foi realizada com a autorização da gestão escolar.

Antes da aplicação dos questionários aos jovens, foram feitas visitas devidamente agendadas e autorizadas pelo diretor na escola selecionada, sendo realizada, por ele, uma análise prévia do questionário, a fim de verificar se as perguntas poderiam causar algum constrangimento aos alunos. A vice-diretora acompanhou a pesquisadora na aplicação dos

4 Em 2015, constatou-se, através de busca ativa na escola estadual de Cachoeira do Campo, que 875 alunos estão matriculados durante os turnos da manhã, tarde e noite. Desses, 209 estão matriculados no 1º ano do Ensino Médio. No entanto, apenas alunos do 1º ano do Ensino Médio utilizam o transporte escolar o que equivale há 33,14% dos alunos matriculados nesta série.

(39)

questionários nas salas das sete turmas de 1º ano6, após a apresentação da proposta da pesquisa para cada uma das turmas do turno matutino. Todos os 134 jovens presentes nos dias de visitas aceitaram responder os questionários, sendo que um não se identificou. O critério de seleção dos jovens para responder os questionários não fez distinção de gênero, raça, cor ou idade. Através da aplicação desses questionários foi possível identificar os jovens que vivem em regiões afastadas do distrito no qual se localiza a escola, totalizando 39 alunos. Desses, cinco jovens são moradores da localidade de Bocaina.

A escolha do uso do questionário se deu pela sua versatilidade em situações em que o pesquisador se propõe a fazer um perfil, ou conhecer algumas características mais gerais de uma população ou de uma amostra. Assim, questionários semiestruturados permitem atingir várias pessoas ao mesmo tempo, obtendo maior número de dados, respostas rápidas e precisas (BONI; QUARESMA, 2005). A partir da sua aplicação foi possível traçar o perfil dos jovens que vivem em distritos da Região dos Inconfidentes, selecionar aqueles que atendem aos critérios estipulados pela pesquisa para a aplicação da entrevista, além de demonstrar a composição familiar, renda e redes de relações.

O questionário coletou dados em relação à composição familiar, características sociodemográficas, socioeconômicas, socioculturais e em relação ao acesso a informações que permitiram refletir sobre a estrutura das famílias pesquisadas em termos de composição, localização de moradia, escolaridade dos membros (capital escolar), renda familiar média, mobilidade, formas de sociabilidade (redes de relações) e recursos culturais disponíveis.

Nesse questionário também foram abordadas perguntas estruturadas de múltipla escolha ou de respostas curtas, como: nome, sexo, local de moradia, se possuem vizinhos, renda familiar, número de pessoas que vivem na mesma casa, escolaridade dos pais, tipo de formação familiar, tempo de residência na comunidade, se os irmãos frequentam a escola, se a casa é própria, se alguém da família possui algum meio de transporte, meios de comunicações disponíveis.

Após análise dos questionários, na segunda fase da pesquisa, foram realizadas entrevistas com os pais (pai ou mãe) ou familiares dos alunos, com o objetivo de conhecer, com maior profundidade, as práticas educativas familiares e o que representa, para essas famílias, morar nesse distrito.

(40)

Para dar continuidade à pesquisa e formalizar o convite para participação das entrevistas, um Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE) foi apresentado em duas vias idênticas e assinados pelos pais dos jovens, pela pesquisadora e pela orientadora da dissertação. Neste documento estavam contidos dados relevantes à pesquisa, seus objetivos e critérios, além de dados referentes à ética e ao sigilo das informações com dados pessoais dos jovens e das suas famílias.

A aplicação de entrevistas se restringiu a uma amostra de cinco famílias da localidade de Bocaina, selecionadas a partir dos seguintes critérios:

a) Estar cursando o Ensino Médio;

b) Não ter acesso à internet e outros meios de comunicação em casa; c) Que se desloque para a escola a pé ou pelo transporte público;

No Gráfico 1, a seguir, podemos visualizar as localidades e distritos que atenderam aos critérios propostos na pesquisa, as barras em vermelho indicam estas localidades.

Gráfico 1 – Número de jovens por local de residência que atendem aos critérios de seleção para os familiares participarem das entrevistasna escola pesquisada de Cachoeira do Campo, 2015

(41)

Bocaina foi selecionada para a aplicação das entrevistas por apresentar um número maior de famílias populares que moram em uma mesma localidade e por este grupo sofrer diariamente com o deslocamento para Cachoeira do Campo para estudar devido a oferta restrita de horários de ônibus em comparação com as demais localidades. As entrevistas possibilitaram levantar dados relevantes sobre a história de vida dos pais e alunos, as formas de transmissão do capital cultural e escolar, bem como permitiu conhecer os costumes das famílias e dos jovens na localidade, fornecendo um material para a análise do cotidiano e da relação das famílias com o espaço.

Através da aplicação de entrevistas com o responsável pela educação dos jovens selecionados pretendeu-se conhecer as rotinas domésticas e os esforços educacionais das famílias populares que moram em Bocaina, além dos projetos e dificuldades vividas e as diferentes práticas adotadas no interior dessas famílias em busca da escolarização.

As entrevistas foram efetuadas em situações informais e previamente agendadas com os familiares. Foram feitas visitas prévias à localidade para conhecer o espaço. Os depoimentos coletados foram gravados em forma de áudio e posteriormente transcritos, tendo como informação complementar o diário de campo.

O roteiro da entrevista se configurou a partir dos seguintes eixos temáticos: a) composição familiar; b) cotidiano da família; c) redes de relações; d) vínculo com a vida escolar do filho; e) o que pensa a família em relação à escola de Cachoeira do Campo; f) representação do local de moradia (o que pensam de Bocaina).

Como recurso periférico complementar, foram realizadas pesquisas bibliográficas em base de dados científicas, como artigos, teses e demais publicações que envolvam o tema família-escola e que sejam capazes de fornecer dados relevantes e atuais (BONI; QUARESMA, 2005).

A pesquisa documental foi realizada no sistema de cadastro de transporte escolar e no arquivo escolar.

A observação do campo também foi uma importante técnica de coleta de dados utilizada na pesquisa, e ela pode ser denominada também de observação assistemática, segundo a qual o pesquisador procura recolher e registrar os fatos da realidade sem a utilização de meios técnicos especiais, ou seja, sem planejamento ou controle (BONI; QUARESMA, 2005).

Imagem

Figura 1 - Mapa político do município de Ouro Preto e seus distritos com as relações de distância entre os  distritos e da sede
Tabela 1 – Relação da população do município de Ouro Preto e distritos/ localidades  envolvidos na pesquisa com famílias de Bocaina
Gráfico 1  –  Número de jovens por local de residência que atendem aos critérios de seleção para  os familiares participarem das entrevistas na escola pesquisada de Cachoeira do Campo, 2015
Gráfico 2 – Número de irmãos mencionados pelos jovens estudantes do 1º ano do Ensino  Médio em uma escola pública de Cachoeira do Campo (2015)
+7

Referências

Documentos relacionados

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o

Se você vai para o mundo da fantasia e não está consciente de que está lá, você está se alienando da realidade (fugindo da realidade), você não está no aqui e

Não obstante a reconhecida necessidade desses serviços, tem-se observado graves falhas na gestão dos contratos de fornecimento de mão de obra terceirizada, bem

Esta dissertação pretende explicar o processo de implementação da Diretoria de Pessoal (DIPE) na Superintendência Regional de Ensino de Ubá (SRE/Ubá) que conforme a

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

Para Oliveira (2013), a experiência das universidades a partir da criação do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras – PAIUB e mais

Em termos de atividades humanas importa fazer a distinção entre a área marinha e a área terrestre da área de intervenção e, ainda as áreas abrangidas pela Reserva Natural